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THE SOCIAL HISTORY OF BRAZILIAN PORTUGUESE

PARTE I1
Tânia Lobo
Universidade Federal da Bahia

INTRODUÇÃO
Este capítulo dedica-se à história social linguística do Brasil, focalizando o
português brasileiro (doravante, PB), com o objetivo de delinear um sistema de
coordenadas fundamentais potencialmente articuláveis à chamada história interna da
língua. No traçado desse sistema, abordam-se, nesta primeira parte, mudanças globais
e profundas que, na longa duração, ocorreram principalmente em dois níveis. O
primeiro refere-se à “articulação entre fatos de ocupação territorial, fatos das
sucessivas distribuições demográfico-linguísticas e fatos das prevalências e
desaparecimento das línguas” (Houaiss 1985, 31-32.). A justificativa para tal está em
ser o PB uma língua que emergiu em contexto multilíngue, sendo, pois, o contato
linguístico um dos aspectos constitutivos da sua formação. O segundo diz respeito à
questão da distribuição social da escrita no Brasil. Juntamente com a história do
contato, é uma questão-chave para a análise das variedades do PB que configuram a
complexa teia sociolinguística do Brasil contemporâneo, definida por um continuum,
em cujos extremos se situam, por um lado, normas linguísticas socialmente mais
prestigiadas – urbanas, supostamente mais unitárias e supostamente descendentes
diretas do português europeu, além de moldadas sob o influxo do padrão normativo
de escrita difundido via escolarização – e, por outro lado, normas linguísticas
socialmente mais estigmatizadas – rurais, supostamente mais diversificadas e
supostamente descendentes diretas do português falado como segunda língua por
índios e negros, os quais, juntamente com seus descendentes, do século XVI a meados
do XIX, sempre constituíram o segmento maioritário da população brasileira e até
aproximadamente meados do século XX estiveram, em sua maioria, à margem do
sistema formal de escolarização.

1
Agradeço a Alan N. Baxter, José Amarante, Ana Sartori Gandra e André Moreno a leitura crítica do
texto.
1. AS ORIGENS DA DIFUSÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO TERRITÓRIO BRASILEIRO
1.1. O SÉCULO XVI
A expansão da língua portuguesa para áreas extraeuropeias inicia-se no século
XV, sendo indissociável, portanto, da aventura das grandes navegações. Em março de
1500, uma frota de navios comandados pelo fidalgo Pedro Álvares Cabral parte de
Lisboa, com destino às Índias. Afastando-se, todavia, da costa africana, avista, em abril,
a terra que será designada de Vera Cruz, Santa Cruz e, finalmente, Brasil.
Há consenso entre os estudiosos da paleodemografia brasileira quanto à
dificuldade de calcular a população autóctone no momento em que se iniciou seu
contato com os europeus. Tal dificuldade explica-se pela fragmentariedade dos restos
arqueológicos e também dos poucos registros remanescentes, feitos por funcionários
da coroa portuguesa ou por religiosos nas últimas décadas do século XVI2. Igualmente
difícil é o cômputo das línguas então faladas pelos nativos. A estimativa hoje
correntemente aceita é de que haveria 1.175 línguas no Brasil antes do começo da
colonização (cf. Rodrigues 1993).
As populações indígenas litorâneas com que os portugueses entraram
inicialmente em contato eram falantes, sobretudo, de línguas integradas à família tupi-
guarani, do troco tupi, o maior grupo de línguas indígenas brasileiras, seguido do
tronco macro-jê e das famílias aruák, karíb e páno3. O mapa a seguir indica como se
teriam distribuído as “nações”4 tupi-guarani na costa, apontando ainda os pontos
marcados pela presença de grupos etnolinguisticamente distintos, ditos tapuias5:

2
Sobre as discrepantes avaliações existentes, confrontem-se, por exemplo, Marcílio (1999, 312-313),
que menciona cálculos de 1.000.000 a 2.431.000 índios, e Andreazza/ Nadalin (2011, 60), que se
referem à ampliação do número para 8.000.000.
3
Grupos menores são as famílias tucano, arawá, makú, katukína, yanomámi, txapakúra, nambikwára,
mura e guaikurú. Há ainda 10 línguas classificadas como isoladas, isto é, como tipos linguísticos únicos
(cf. Rodrigues 1986/1994).
4
Cf. Fausto (1992) para a discussão do conceito de “nação”, empregado pelos colonizadores para
distinguir grupos indígenas.
5
Tapuia era o termo genérico usado pelos tupis, e adotado pelos colonizadores, para designar grupos
etnolinguísticos distintos, habitantes, sobretudo do interior.
Mapa 1: Distribuição das “nações” tupi-guarani ao longo do litoral brasileiro,
no início do século XVI

Fonte: Fausto 1992

Na passagem abaixo, extraída do Tratado da Província do Brasil (1965, 179), de


Pero de Magalhães de Gândavo, que esteve no Brasil entre 1558 e 1572, não apenas se
faz referência ao catastrófico declínio dos índios do litoral – os quais, devido às guerras
e à disseminação de novas doenças, teriam sido reduzidos a um terço já no final de
Quinhentos (cf. Marcílio 1999, 315; Andreazza/Nadalin 2011, 60) –, como também à
homogeneidade linguística que os teria caracterizado:

Havia muitos destes índios pela costa junto das capitanias; tudo enfim estava cheio
deles quando começaram os portugueses a povoar a terra: mas, porque os mesmos
índios se levantavam contra eles e faziam-lhes muitas traições, os governadores e
capitães da terra destruíram-nos pouco a pouco e mataram muitos deles. Outros
fugiram para o sertão e assim ficou a costa despovoada de gentio ao longo das
capitanias. Junto delas ficaram algumas aldeias destes índios que são de paz e
amigos dos portugueses. A língua deste gentio toda pela costa é uma, carece de
três letras – scilicet – não se acha nela f, nem l, nem r, coisa digna de espanto,
porque assim não tem fé, nem lei, nem rei, e desta maneira vivem sem justiça e
desordenadamente.

Esta língua generalizadamente falada na costa – designada de tupinambá, mas,


no passado, comumente chamada de tupi (antigo) – é uma das principais línguas da
história colonial brasileira e foi descrita pelo jesuíta José de Anchieta, na Arte de
gramática da língua mais usada na costa do Brasil, a primeira gramática de uma língua
indígena brasileira, impressa em Coimbra em 1595. Tal gramática atesta a prática
recorrente entre os jesuítas de catequizar nas línguas dos povos subjugados. Quanto a
esta “língua mais usada na costa do Brasil”, é relevante indagar até que ponto a dita
homogeneidade linguística da costa não teria resultado do genocídio que vitimou os
índios do litoral. Além disso, sendo esta língua geralmente chamada de “língua geral
da costa”, é também relevante atentar para a observação de que a institucionalização
de línguas indígenas como “gerais” – no sentido de línguas veiculares interétnicas –
teria sido parte de uma política indigenista colonial que, desconsiderando as
diferenças, inclusive linguísticas, entre os grupos, instituiu a categoria supraétnica e
niveladora “índio” (cf. Barros/Borges/Meira 1996, 195-196).
O período compreendido entre 1500 e 1530 foi marcado pela implantação
efêmera de feitorias e pelo escambo de pau-brasil. Foi só na década de 30 do século
XVI, no reinado de D. João III, que Portugal, cuja população girava então entre
1.000.000 e 1.500.000 habitantes (Andreazza/Nadalin 2011, 57-58), decidiu começar a
colonizar o seu quinhão na América: a primeira iniciativa deu-se com o envio da
expedição exploratória de Martim Afonso de Souza (1530-1533), que estabeleceu em
São Vicente, no atual Estado de São Paulo, um núcleo de povoação portuguesa; a
seguir, o território foi divido, de norte a sul, desde o litoral até o meridiano de
Tordesilhas, em quinze capitanias hereditárias e estendeu-se para o Brasil,
particularmente para o Nordeste, a experiência, já testada e bem sucedida nos
arquipélagos de São Tomé e Príncipe, Madeira e Açores, de desenvolvimento da
indústria açucareira.
Mapa 2: Capitanias hereditárias

Uma das atribuições da coroa e dos titulares das capitanias hereditárias era a
distribuição de sesmarias – lotes de terras com dimensões variadas, destinados desde
a agricultura de subsistência a latifúndios agroexportadores. Assim, embora se tenha
afirmado que a plantation – grande propriedade agrícola, baseada na monocultura de
exportação e sustentada pela mão de obra escrava – foi a forma básica de colonização
do Brasil, a Metrópole sempre buscou garantir condições para a produção de
alimentos na própria Colônia. Tal constatação aponta para o fato, relevante na
perspectiva de uma história linguística, de que a estrutura social, mesmo nas áreas
rurais, não se reduziu exclusivamente à polarização senhores X escravizados, sendo
uma parcela significativa da população constituída por pequenos camponeses brancos
pobres (Fausto 1995, 58-59).
No início da colonização, o movimento migratório oriundo da Europa
caracterizou-se por ser espontâneo, porém seletivo: predominaram homens adultos
de distintos estratos sociais, vindos, sobretudo, do Noroeste de Portugal e das ilhas
atlânticas, sendo ainda considerável uma parcela de cristãos-novos (judeus
compulsoriamente “convertidos” ao cristianismo). A presença quase exclusiva de
homens favoreceu, desde o início, intensa miscigenação, característica fundamental do
processo de constituição da população brasileira, também relevante na perspectiva de
uma história linguística, já que são os mestiços um elo entre mundos linguisticamente
distintos.
A década de 30 do século XVI atestou outro movimento migratório, também
seletivo – com predominância masculina –, porém não espontâneo: a chegada de
negros africanos escravizados. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão no
Ocidente, só o fazendo em 1888. O tráfico de escravizados estendeu-se oficialmente
até 1850 e, embora não seja possível precisar quantos foram importados, estima-se
que entre 8.000.000 e 11.000.000 de negros tenham sido trazidos às Américas, tendo
aproximadamente 4.900.000 do total se destinado ao Brasil (cf. Schwarcz/Starling
2015, 82). No século XVI, foi corrente, entre os traficantes portugueses, o uso da
expressão “negro da Guiné” para designar os africanos. Ao indagar sobre o que era a
Guiné nos primeiros tempos do tráfico, Oliveira (1997) informa que toda a África
Ocidental ao norte do Equador, do Rio Senegal ao Gabão, era então conhecida como
Guiné; além disso, informa que o termo também chegou a ser aplicado a populações
subequatoriais. Conclui-se, assim, que, já desde o início, se transplantaram línguas das
duas regiões subsaarianas que vão caracterizar toda a história do tráfico ao Brasil: a
oeste-africana, que abrange línguas que vão do Senegal à Nigéria, e a banta, com
línguas que cobrem toda a extensão sul da linha do Equador. As línguas do continente
africano classificam-se em quatro troncos: o congo-cordofaniano, o nilo-saariano, o
afro-asiático e o coissã; o congo-cordofaniano subdivide-se, por sua vez, em duas
famílias: a níger-congo e a cordofaniano6. Os escravizados que chegaram ao Brasil

6
cf. Greenberg, Joseph (1966), The languages of Africa, Bloomington, Indiana University apud Castro
2001.
eram falantes de línguas da família níger-congo, predominantemente dos grupos
banto e kwa (cf. Castro, 2001).

Mapa 3: Regiões de concentração do tráfico

Fonte: Castro 2001, 46


Motivado por fatores internos – a precária administração de várias capitanias –
e externos – o início da crise no comércio com o Oriente, as derrotas sofridas na África,
para além da descoberta pelos espanhóis, em 1545, de grande mina de prata em
Potosí, na Bolívia (cf. Fausto 1995, 46) –, D. João III decidiu instalar, em 1549, o
governo geral no Brasil, enviando o fidalgo Tomé de Sousa como primeiro governador,
o qual funda Salvador, a primeira capital colonial. Em sua comitiva, estavam cinco
jesuítas, liderados pelo padre Manuel da Nóbrega. De 1549 até 1759, quando ocorrerá
sua expulsão do vasto império português, os jesuítas terão o monopólio da educação
no Brasil7. Coube a Nóbrega formular o primeiro plano de ensino da Colônia, dirigido
não só aos filhos dos portugueses, mas também às crianças indígenas:

O plano iniciava-se com o aprendizado do português (para os indígenas);


prosseguia com a doutrina cristã, a escola de ler e escrever e,
opcionalmente, canto orfeônico e música instrumental; e culminava, de um
lado, com o aprendizado profissional e agrícola e, de outro lado, com a
gramática latina para aqueles que se destinavam à realização de estudos
superiores na Europa (Universidade de Coimbra). (Saviani 2013b, 43)

Apesar do cuidado de idealizar a implantação do seu plano a partir de uma rede


de colégios e também de ter lançado mão da estratégia de trazer meninos órfãos de
Lisboa como forma de “atrair meninos índios e, por meio deles, agir sobre seus pais,
em especial os caciques, convertendo toda a tribo para a fé católica”, o plano de
Nóbrega teve pouco sucesso, encontrando opositores entre os próprios jesuítas (cf.
Saviani 2013b, 41) e sendo suplantado, em 1599, pelo Ratio atque Institutio Studiorum
Societas Jesu:

O Plano contido no Ratio era de caráter universalista e elitista. Universalista


porque se tratava de um plano adotado indistintamente por todos os
jesuítas, qualquer que fosse o lugar onde estivessem. Elitista porque acabou
destinando-se aos filhos dos colonos e excluindo os indígenas, com o que os
colégios jesuítas se converteram no instrumento de formação da elite
colonial. Por isso, os estágios iniciais previstos no Plano de Nóbrega
(aprendizado de português e escola de ler e escrever) foram suprimidos. (cf.
Saviani 2013b, 56)

7
Outras ordens religiosas desenvolveram atividades educativas no Brasil colonial, contudo “operaram
de forma dispersa e intermitente, sem apoio e proteção oficial (...)” (Saviani 2013b, 41).
Uma questão instigante é saber em que medida estaria difundida a escrita na
diminuta sociedade colonial de final do século XVI, na altura da implantação do Ratio
Studiorum. À falta de números oficiais, tentativas de aproximação sobre aspectos
censitários da alfabetização em sociedades do Antigo Regime têm sido realizadas
através do método do cômputo de assinaturas. Analisando os depoimentos prestados
e assinados perante o Santo Ofício na sua primeira visitação ao Brasil, feita às
capitanias da Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, entre 1591 e 1595, Lobo e
Oliveira (2013) e Sartori (2015) chegaram aos seguintes resultados gerais: em um
universo de 686 depoentes, 492 (71%) assinaram seus testemunhos e 194 (28%) não o
fizeram. A surpreendente taxa de 71% de assinaturas pode ser melhor interpretada
com a repartição da amostra em variáveis, sendo o sexo e a etnia, duas das mais
relevantes:

Tabela 1: Taxas de assinaturas versus sexo e etnia

Assinantes Não assinantes Total


Brancos Homens 424 – 92,8% 33 – 7,2% 457 – 100%
Mulheres 18 – 13,7% 113 – 86,3% 131 – 100%
Índios Homens - 2 – 100% 2 – 100%
Mulheres - 2 – 100% 2 – 100%
Negros Homens - 1 – 100% 1 – 100%
Mulheres - 3 – 100% 3 – 100%
Mamelucos Homens 32 – 100% - 32 – 100%
Mulheres 4 – 17,4% 19 – 82.6% 23 – 100%
Mulatos Homens 4 – 80% 1 – 20% 5 – 100%
Mulheres - 6 – 100% 6 – 100%
Cafuzos Homens 2 – 67% 1 – 33% 3 – 100%
Mulheres - 2 – 100% 2 – 100%
Ciganos Homens - 1 – 100% 1 – 100%
Mulheres - 7 – 100% 7 – 100%
Não identificados Homens 8 – 100% - 8 – 100%
Mulheres - 3 – 100% 3 – 100%
Total Homens 470 – 93,3% 39 – 7,7% 509 – 100%
Mulheres 22 – 12,4% 155 – 87,6% 177 – 100%

Os dados são exíguos e indiciários, mas permitem algumas observações: 1)


como esperado, as taxas de assinaturas entre homens e mulheres foram praticamente
inversas: enquanto 93,3% dos homens assinaram, 87,6% das mulheres não o fizeram;
2) a amostra masculina é basicamente constituída por brancos (89,7%) e mamelucos –
filhos mestiços de homens brancos e mulheres indígenas – (6,3%); entre os homens
brancos, 92,8% eram assinantes e, entre os mamelucos, 100%; 3) apesar da
necessidade de discutir a representatividade da amostra e apesar dos sabidos limites
do método do cômputo de assinaturas, os dados permitem levantar a hipótese de que,
nas origens da colonização, sobretudo na Bahia e em Pernambuco, homens brancos
portugueses e seus descendentes brancos e mamelucos compunham um seleto grupo
de indivíduos com familiaridade com a tecnologia da escrita, indispensável, inclusive,
para a comunicação com a distante Metrópole. Aqui se fundam, pois, as bases da
“dualidade” linguística, que será uma das marcas da sociedade brasileira colonial e
imperial (cf. item 3.1).
No final do século XVI, pouco mais da metade das quinze capitanias iniciais
estava em funcionamento. Embora os números nela apresentados sejam “estimativas
grosseiras de caráter meramente indicativo” (Couto 1998, 277), a tabela abaixo
permite uma aproximação do perfil da população quinhentista, bem como algumas
inferências linguísticas:

Tabela 2: Evolução da população do Brasil no século XVI, por capitanias


C. 1546 C. 1570 1585 1590
PORT IND AFR PORT IND AFR PORT IND AFR PORT IND AFR
8
Paraíba - - - - - - - - - 825 - 400
Itamaracá - - - 550 - - 275 495 - 250
Pernambuco 3025 500 5500 - - 8000 2000 10000 11.000 2000 18.000
Bahia 1100 260 6050 - - 11000 8000 3000 8250 3600 18.000
Ilhéus 330 80 1100 - - 825 - - 1650 2000 400
P. Seguro - - - 1210 - - 550 - - 1595 3000 3000
E. Santo 1650 300 1100 - - 825 4500 - 2200 9000 700
Rio de - - - 770 - - 825 3000 1540 3000 700
Janeiro
S. Vicente/ 3300 500 - 2750 - - 1650 - - 3300 6000 800
S. Amaro
TOTAL 9405 1640 - 19030 - - 23950 17500 13000 30855 28600 42250
FONTE: Couto 1998, 276-277.

No ano de 1590 – o que apresenta dados menos fragmentários –, a população


brasileira teria atingido 101.705 habitantes, distribuídos desigualmente em nove
capitanias. Pernambuco e Bahia equivaliam-se e apresentavam forte concentração
demográfica, abarcando juntas 60% da população colonial. Do total, 30.3% eram
portugueses, 28.1% eram índios e 41.5%, africanos. O primeiro aspecto a se destacar
aqui é o contraste entre aproximadamente 30% de “brancos” e 70% de “não brancos”

8
A conquista da Paraíba aos franceses ocorreu em 1585, razão por que tal capitania só figura na tabela
no ano de 1590.
– uma das constantes da história demográfica brasileira até meados do século XIX –,
evidenciando que a compreensão do processo de difusão da língua portuguesa no
Brasil não pode desconsiderar o papel exercido por índios e negros que, em graus
diferenciados de proficiência, adquiriram a língua do colonizador como segunda língua
e a transmitiram a seus descendentes.
Os africanos, presentes já em todas as capitanias, constituem o segmento
maioritário da população, 41.5%, destacando-se em Pernambuco e na Bahia, onde
correspondem, respectivamente, a 58.1% e 64.2% do total. Por que nenhuma língua
africana permaneceu sendo falada até os dias atuais e por que, apesar de processos
seguramente endêmicos de pidginização, nenhuma língua crioula se estabeleceu no
Brasil são duas questões fundamentais a ser abordadas posteriormente (cf. item 2).
Por fim, chama a atenção o fato de, na tabela, a miscigenação não estar
representada, já que são recorrentes, no período, solicitações à Metrópole de envio de
mulheres órfãs e de homens degredados não ladrões, para frear ou minimizar a
mestiçagem. Quanto aos mamelucos, segundo Couto (1998, 275), eles estariam, na
maioria das fontes, incluídos entre as famílias portuguesas9, constituindo, assim, uma
parcela de “não europeus” que não se pode contabilizar. Identifica-se, pois, aqui, o que
se tem chamado de “branqueamento” de mestiços, e, como se viu, no século XVI, o
“branqueamento” de uma parcela de mamelucos, na Bahia e em Pernambuco, terá
passado não só por falar a língua dos pais europeus, mas também por escrevê-la.

1.2. O SÉCULO XVII


Enquanto o século XVI se caracterizou pela ocupação das áreas centrais do
litoral, o XVII será marcado pelo progressivo avanço para o interior – o sertão – e pela
ocupação de faixas periféricas da costa – ao norte, áreas do Maranhão e do Pará, a
partir de onde se iniciará a colonização da Amazônia e, ao sul, áreas dos atuais estados
do Paraná e de Santa Catarina. Duas distintas colônias, com pouco contato entre si e
com histórias linguísticas também distintas, definem-se, então, na América: o Estado
do Brasil – abrangendo áreas do Nordeste, do Sudeste e do Sul – e o Estado do Grão-
Pará e Maranhão – separado do Estado do Brasil e tornado efetivo em 1624,

9
Uma das exceções são as fontes inquisitoriais, como visto acima.
correspondendo aos atuais Estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Pará,
Maranhão e ainda toda a Amazônia. É só no ano de 1823, após a Independência do
(Estado do) Brasil, ocorrida em 1822, que o Estado do Grão-Pará e Maranhão vai
incorporar-se ao Brasil imperial.

Mapa 4: Estado do Brasil e Estado do Grão-Pará e Maranhão

O movimento migratório da Europa em direção ao Brasil continuou sendo, de


modo geral, oriundo de Portugal, espontâneo e seletivo, tendo havido, contudo, três
situações que fugiram à regra (cf. Marcílio 1999, 320-321): a vinda organizada de
famílias dos Açores e da Madeira, que se instalaram na costa do Maranhão e do Pará,
para protegê-la contra invasões; a maior liberdade de entrada de europeus de
quaisquer nacionalidades, desde que católicos, durante o período de dominação
espanhola (1580-1640), do que decorreu o estabelecimento de espanhóis em áreas
periféricas do Sul; por fim, em decorrência de invasões, a presença de holandeses nas
principais zonas de produção açucareira – Bahia e Pernambuco – nos períodos de
1624-1625 e 1630-1654. Nenhuma das três situações teve consequências linguísticas
relevantes, certamente pelo fato de nenhum dos três grupos referidos ter tido impacto
demográfico.
Quanto aos negros, nos anos Seiscentos, o tráfico concentrou-se, quase
exclusivamente, no Congo e em Angola. Da esmagadora predominância de falantes de
línguas bantas que, então, se verificou, resultou a escrita, na Bahia, de uma gramática
do quimbundo, de autoria do jesuíta Pedro Dias – A arte da língua de Angola –,
publicada, em Lisboa em 1697. O jesuíta Antônio Vieira atestou a amplitude do uso do
quimbundo – por ele designado de língua “etiópica” –, ao dizer ter sido a língua “com
que só nesta cidade [Salvador] se doutrina[vam] e catequiza[vam] vinte e cinco mil
negros, não falando no infinito número dos de fora (...)” (cf. Silva Neto 1950/1986, 75).
Contudo, os 25.000 ou mais negros referidos por Vieira não falariam apenas
quimbundo, já que seriam originários de várias regiões de Angola, inferindo-se daí o
papel desempenhado pelo quimbundo como língua veicular (cf. Castro 2001, 55). As
três línguas do grupo banto mais expressivamente representadas no Brasil foram o
quimbundo, o quicongo e o umbundo, sendo possível a intercomunicação entre seus
falantes. A partir do século XVII, a presença dos bantos será sempre maioritária: de
1580 a 1690, corresponderam a 93% do total de escravizados; de 1691 a 1750, a 55%;
de 1751 a 1808, a 68% e, finalmente, de 1808 a 1850, a 71% (cf. Almeida 2014, 353-
355). Assim, vale destacar, no que tange ao contato do português com línguas
africanas, a observação de que, em razão da sua antiguidade no Brasil, da sua
densidade demográfica e da amplitude geográfica por eles alcançada, os bantos, no
geral, tiveram uma influência linguística muito mais profunda que os demais grupos
etnolinguísticos (Cf. Castro s/d, 2).
Mapa 5: Esboço de mapa etnológico africano no Brasil

Fonte: Castro 2001, 47

Ultrapassado o impacto da fase inicial do contato, a história das populações


indígenas – e, consequentemente, das suas línguas – passou a ser identificada por um
signo complexo e mais que ambivalente: o extermínio – que não ficou confinado ao
século XVI e estende-se dramaticamente aos dias atuais –, a subjugação – quer na
condição de escravizados que trabalhavam em fazendas ou roças10, quer na condição
de “livres” nas aldeias aliadas ou em aldeamentos dirigidos pelos jesuítas –, a dita

10
A escravidão indígena foi oficialmente abolida no Estado do Grão-Pará e Maranhão pela Lei de 6 de
junho de 1755, cujos dispositivos foram ampliados para o Estado do Brasil pelo Alvará de 8 de maio de
1758.
“integração” – por ampla mistura racial – e ainda as múltiplas formas de resistência –
tanto pela fuga para o interior, quanto também, como o tem demonstrado uma
renovada historiografia da América indígena, por constantes e complexos processos de
redefinição identitária.
A expansão territorial foi motivada por vários fatores, dentre os quais se
destacam a busca de metais e pedras preciosas – cujas primeiras jazidas serão
localizadas apenas na década de 1690 –, a expansão da agropecuária e a captura de
índios como mão de obra escrava. São Paulo, ao sul, e Maranhão e Pará, ao norte,
foram dois dos principais pontos a partir dos quais se deu o movimento de expansão,
cujo sustentáculo foram, em especial, mas não apenas, “os mamelucos, que,
regionalmente, se aliavam a determinadas nações indígenas para usufruírem seus
conhecimentos acerca do território.” (Andreazza/ Nadalin 2011, 62-63).
Distintas expedições passaram a devassar o território e, consequentemente, a
ampliar o contato com populações falantes de línguas pertencentes, principalmente,
ao tronco macro-jê, ao qual se filia a maior parte das línguas indígenas dos sertões do
Brasil. Data do ano de 1699, a publicação da primeira gramática de uma língua do
tronco macro-jê, falada no interior do Nordeste, a Arte de gramática da língua
brasílica da nação cariri, do jesuíta Luís Vicêncio Mamiami. Tal publicação corrobora a
hipótese de que “o fenômeno de emergência de uma “língua geral” [no sentido de
língua veicular] tenha ocorrido em mais de um ponto do território brasileiro” (cf.
Houaiss 1985, 37), sendo, no que tange às línguas indígenas, o tupinambá e o cariri os
dois casos documentados no período colonial.
Cabe agora indagar que línguas acompanharam os expedicionários que saíram
de São Paulo e do Maranhão/Pará. A partir de Rodrigues (1986, 1996), pode-se
responder a esta questão: não foi a língua do colonizador; junto com eles, foram
difundidas, principalmente, duas línguas de “base” indígena: a língua geral paulista e a
língua geral amazônica. De São Paulo, a língua geral paulista expandiu-se até Minas
Gerais, sul de Goiás, Mato Grosso e norte do Paraná. Do Maranhão/Pará, a língua geral
amazônica avançou pela Amazônia brasileira; subindo pelo Rio Negro, alcançou ainda a
Amazônia venezuelana e a Amazônia colombiana.
Língua geral e lengua general foram expressões utilizadas por colonizadores
portugueses e espanhóis para designar línguas de povos subjugados faladas em grande
extensão territorial, muitas das quais indo além da sua base geográfica original e
estabelecendo comunicação entre grupos etnolinguisticamente distintos e habitantes
de diferentes territórios. Afastando-se de uma historiografia mais tradicional, que
utiliza a expressão sempre no singular e muitas vezes apenas associada “à língua mais
usada na costa do Brasil” (cf. item 1.1), Rodrigues propôs a distinção diatópica,
diacrônica (1986) e linguística (1996), entre dois referentes: um que designou de língua
geral paulista, com origem em São Paulo, no século XVI e de “base tupiniquim”, e
outro que chamou de língua geral amazônica, com origem no Maranhão/Pará, no
século XVII e de “base tupinambá”. Diz-se “de base,” porque ambas as línguas
sofreram mudanças, à proporção que foram deixando de ser faladas exclusivamente
por índios tupiniquins e tupinambás e por seus primeiros descendentes mamelucos e
foram sendo adquiridas por índios falantes de outras línguas, portugueses e negros.
Tais línguas teriam, nas suas respectivas áreas de abrangência, sobrepujado a língua
dos colonizadores – a paulista, por cerca de 250 anos, e a amazônica, por mais de
30011. A partir da segunda metade do século XIX, justamente quando se torna língua
minoritária, devido à dizimação de grande parte dos seus falantes durante a Revolta da
Cabanagem (1835-1840), a língua geral amazônica passa a ser chamada de nheengatu,
‘língua boa’, sendo falada, ainda hoje, no vale do Rio Negro.
Sem discriminar os diversos grupos étnicos que a compunham, Wehling e
Wehling (1994, 142) informam que, no ano de 1700, a população colonial seria de
350.000 habitantes. Um quadro aproximativo da sua realidade linguística pode ser
desenhado nos seguintes termos:

Quando as primeiras minas de ouro foram descobertas nos sertões das


Minas Geraes, entre 1693 e 1695, a implantação da língua portuguesa no
Brasil ainda era relativamente precária e refletia o traçado da própria
colonização portuguesa na época, que configurava, no território brasileiro,
uma espécie de arquipélago com ilhas relativamente isoladas umas das
outras. Concentrada nos dois grandes centros dinâmicos da economia
colonial – as Províncias da Bahia e de Pernambuco –, a língua portuguesa
enfrentava uma forte rivalidade da língua chamada geral, que em matizes
diferentes predominava nas Províncias de São Paulo e do Maranhão, as
quais ocupavam uma posição marginal dentro do projeto colonial da época.

11
Para a discussão do desaparecimento/declínio dessas línguas, remete-se a Vitral (2001) e a Bessa
Freire (2004); para uma aprofundada introdução à complexa questão das línguas gerais, remete-se a
Nobre (2011).
Além disso, o caráter de plantation, que marcava a estrutura sócio-
econômica da Bahia e de Pernambuco, favorecia a emergência de
variedades pidginizadas e crioulizadas do português, além do uso de línguas
gerais africanas, entre os escravos que formavam o grosso da mão de obra
do empreendimento agro-exportador. (cf. Lucchesi 2006, 351)

2. DE “BRASÍLICOS” A “BRASILEIROS”: A EMERGÊNCIA DE UMA PROTONAÇÃO E DE


UMA LÍNGUA PROTONACIONAL
O século XVIII é divisor não apenas do ponto de vista da consolidação do
projeto colonial português, mas também do ponto de vista da história linguística do
Brasil. Alencastro (2009, 17-18) propõe a distinção entre os termos “brasílico” e
“brasileiro” como forma de captar as mudanças que então se operaram. Enquanto
“brasílico” abrangeria a generalidade dos habitantes do arquipélago de ilhas
relativamente isoladas que seria a sociedade colonial da América portuguesa dos
séculos XVI, XVII e da primeira metade do XVIII, já distintos dos reinóis, mas ainda sem
a percepção de pertencimento a uma comunidade protonacional, “brasileiro”, a partir
da segunda metade do século XVIII, teria passado a designar indivíduos que – devido
ao primeiro grande movimento de migração interna da história demográfica brasileira,
motivado pelo ciclo da mineração – foram gradativamente se tornando conscientes de
filiação a uma comunidade e a uma cultura suprarregionais, falantes de uma mesma
língua e vivendo num mesmo território. No plano político, atestam, por exemplo, tal
consciência os dois principais movimentos separatistas ocorridos no final do século
XVIII, a Conjuração Mineira (1789-1792) e a Conjuração Baiana (1796-1799).
A compreensão da história dos Setecentos e dos seus desdobramentos
linguísticos requer a distinção entre dois períodos: um primeiro, que vai de 1690 a
1750, correspondente ao auge da mineração, e um segundo, que se inicia a partir das
décadas de 1760 e 1770, quando a produção de ouro entra em declínio, período este
coincidente com o aumento de poder de Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro
Marquês de Pombal (1699-1782), que se torna ministro plenipotenciário no reinado de
D. José I (1750-1777) e o principal responsável por um conjunto de mudanças
modernizadoras – as “reformas pombalinas” –, de inspiração iluminista, as quais
afetaram os mais diversos setores da vida portuguesa, na Europa e no além-mar.
A descoberta do ouro, além de deflagrar o primeiro grande movimento de
migração interna, pondo falantes de variedades diatópicas distintas do PB em gestação
em contato, vai também impactar as correntes migratórias portuguesas, que não só
passarão a afluir de todas as regiões da Metrópole, como também passarão a vir em
suas maiores levas. A população portuguesa, em 1700, giraria em torno de 2.000.000
de pessoas e, ao longo do século XVIII, cerca de 400.000 teriam partido para o Brasil, o
que, aliado ao seu crescimento natural, teria decuplicado a população branca no
decorrer do século (cf. Marcílio 1999, 323-324).
A descoberta do ouro também impactou significativamente o tráfico de
escravizados, destacando-se o século XVIII como o mais expressivo quanto à
importação de negros: de 1580 a 1690, 667.778 africanos teriam entrado no Brasil; de
1691 a 1750, 1.034.171; de 1751 a 1808, 1.371.489 e, finalmente, de 1808 a 1850,
1.831.648 (cf. Almeida 2014, 353-355). O comércio com o Congo e Angola mantém-se
predominante, mas passam a ser importados, também significativamente,
escravizados provenientes da África ocidental, sobretudo da Baía de Benin, falantes de
línguas ewe-fon, muito próximas entre si. Da sua significativa concentração na
principal cidade mineira de então, Vila Rica de Ouro Preto, decorreu a emergência de
mais uma língua veicular, registrada em 1731/41 por Antônio da Costa Peixoto
em Obra nova da língua geral de mina (cf. Castro 2002). Cabe também notar que, no
final do século XVIII, em consequência de guerras interétnicas, Salvador passou a
receber um grande contingente de povos procedentes da Nigéria atual, destacando-se,
desde então, como uma região em que os aportes do iorubá são mais aparentes,
sobretudo na esfera religiosa e na da alimentação (cf. Castro s/d, 2).
A questão que se impõe discutir agora é: por que, a partir da segunda metade
do século XVIII, começará a ocorrer a generalizada difusão do português no território
brasileiro, e não da língua geral paulista, da língua geral amazônica – difundidas ambas
em extensas áreas – ou de uma língua veicular africana? As respostas a esta pergunta
têm mobilizado diferentes linhas de argumentação que não são mutuamente
excludentes, embora se possa estabelecer uma hierarquia entre elas.
Em primeiro lugar, destaca-se uma tradição de historiadores da língua
portuguesa que imputa à massiva chegada de portugueses seduzidos pela descoberta
das minas de ouro e diamantes e, sobretudo, às políticas pombalinas a partir de
meados dos Setecentos a responsabilidade maior pela “vitória” da língua do
colonizador (cf., p. ex., Teyssier 1982/1997; Castro 1992). No âmbito de tais políticas,
chama-se a atenção para: 1) O Diretório dos Índios, que pôs fim ao trabalho
missionário dos jesuítas nos aldeamentos indígenas, elevando-os à condição de vilas a
ser administradas por um Diretor, cuja principal obrigação seria civilizar os índios,
devendo, para tal e primeiramente, extirpar-lhes as línguas de origem, fossem elas
quaisquer línguas indígenas, mas, em particular, a “língua geral”. O Diretório, datado
do ano de 1757, dispunha inicialmente sobre os aldeamentos do Estado do Grão-Pará
e Maranhão. Em 1758, um Alvará estendeu suas medidas ao Estado do Brasil12. 2) O
fechamento dos colégios dos jesuítas – por meio do Alvará de 28 de junho de 1759 –,
seguido da sua expulsão dos domínios portugueses – por meio da Lei de 3 de setembro
de 1759 –, estabelecendo-se o sistema de “aulas régias” para os estudos menores,
correspondentes aos níveis primário e secundário de ensino. No nível secundário, cujas
aulas eram avulsas, a ênfase foram as humanidades (gramática latina, grega, hebraica
e retórica, além de outras posteriormente acrescidas). No nível primário, encontra-se
uma das maiores inovações: a obrigatoriedade do início dos estudos gramaticais com
base na língua portuguesa, e não no latim (cf. Saviani 2013b).
A passagem a seguir, extraída do Diretório, embora longa, merece ser citada:

Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as Nações que


conquistaram novos Domínios introduzir logo nos Povos conquistados o seu
próprio idioma, por ser indisputável que este é um dos meios mais eficazes
para desterrar dos Povos rústicos a barbaridade dos seus antigos costumes;
e ter mostrado a experiência que, ao mesmo passo que se introduz neles o
uso da língua do Príncipe que os conquistou, se lhes radica também o afeto,
a veneração e a obediência ao mesmo Príncipe. Observando, pois, todas as
Nações polidas do Mundo este prudente e sólido sistema, nesta Conquista
se praticou tanto pelo contrário, que só cuidaram os primeiros
Conquistadores estabelecer nela o uso da Língua que chamaram geral,
invenção verdadeiramente abominável e diabólica, para que, privados os
Índios de todos aqueles meios que os podiam civilizar, permanecessem na
rústica e bárbara sujeição, em que até agora se conservavam. Para desterrar
este perniciosíssimo abuso, será um dos principais cuidados dos Diretores
estabelecer nas suas respectivas Povoações o uso da Língua Portuguesa, não
consentindo, por modo algum, que os Meninos e Meninas que pertencerem
às Escolas e todos aqueles Índios que forem capazes de instrução nesta
matéria usem da Língua própria das suas Nações ou da chamada geral, mas
unicamente da Portuguesa, na forma que Sua Majestade tem recomendado

12
Em 1798, o Diretório foi revogado, os índios aldeados foram emancipados e equiparados aos demais
habitantes livres.
em repetidas ordens, que até agora se não observaram com total ruína
Espiritual e Temporal do Estado.

A uma segunda linha de argumentação, filiam-se autores que defendem a tese


de que foram os africanos e seus descendentes os principais responsáveis não só pela
difusão da língua portuguesa no território americano, como também pela
“formatação” da sua variante social demograficamente maioritária, o chamado
português “popular” brasileiro (cf., p. ex., Castro 2001; Ribeiro 1995; Mattos e Silva
2000). Deste ponto de vista, enfatiza-se que a massa de africanos e de afro-brasileiros
foi sempre extremamente significativa na dinâmica da demografia colonial e pós-
colonial brasileira. Estiveram presentes nas grandes frentes da economia, não apenas
através das importações, mas também migrando, devido ao tráfico interno, entre as
várias regiões do Brasil. Além disso, desempenharam múltiplos, pequenos, mas
essenciais papeis no interior das famílias dos colonizadores e também no espaço
extradoméstico, tanto nos núcleos urbanos em formação, como nas áreas rurais. Não
sendo possível as suas línguas se estabelecerem no Brasil, os africanos adotaram o
português do colonizador – reestruturando-o, porque, de modo geral, já o adquiriram
adultos e sob o efeito da aquisição imperfeita de uma segunda língua – e difundiram-
no no território brasileiro. Quanto à questão de explicar por que nenhuma língua
africana permaneceu sendo falada, a desumanizante política do tráfico – que, desde a
África, teria separado os coétnicos e colíngues13, para impedir que reagissem contra o
bárbaro sistema escravista (cf. Houaiss 1985; Mattoso 1990; Mattos e Silva 2000) –, e a
não constituição plena de famílias de escravos (cf. Mussa 1991) têm sido apontados
como os principais fatores impeditivos da constituição de núcleos linguísticos africanos
duradouros. Acrescenta-se aqui um último fator, certamente também impeditivo da
constituição de tais núcleos14: o regime demográfico adverso verificado entre os
cativos, por mortes prematuras e baixa taxa de nascimento, levando-os a uma taxa de

13
Nem sempre a intenção de separar colíngues teve sucesso, em razão da possibilidade de
intercomunicação entre falantes de distintas línguas africanas, destacando-se as do grupo banto.
14
Exceções seriam os quilombos, espaços que, com as constantes fugas de escravos em busca de
liberdade, foram sendo constituídos do século XVII ao século XIX. Dados os limites deste texto, esta
importante questão não será discutida.
crescimento negativo e à constante importação de mão de obra escrava da África (cf.
Schwarcz/Starling 2015, 79)15.
Com Pombal, teve início o período laico da educação pública, distinto do
anterior, em que a educação pública era de vertente exclusivamente religiosa. Trata-se
de um período de retrocesso, pois o esfacelamento do sistema escolar jesuítico não
deu lugar a um sistema alternativo e eficaz de ensino. Saviani (2013a, 121) aponta
como principais motivos do insucesso das reformas educacionais pombalinas a
escassez de mestres laicos, o fato de a formação dos mestres laicos ter estado
marcada pela ação pedagógica dos jesuítas, o fato de a Colônia não ter contado com
uma estrutura arrecadadora capaz de financiar as aulas régias, o retrocesso político
ocorrido quando, após a morte de D. José I, em 1777, D. Maria I assumiu o trono e,
finalmente, o temor de que, através do ensino, se difundissem na Colônia ideias
emancipacionistas. Assim, admitindo-se que, para ter sido eficaz, a política pombalina
de imposição do português devesse ter estado sob a tutela de um eficaz sistema
escolar, não será difícil concluir que o Diretório dos Índios teve seu alcance, mas
certamente menor do que inicialmente suposto. Comprova-o o fato de, no Estado do
Grão-Pará e Maranhão, a língua geral amazônica ter sido corrente até meados do
século XIX. Também não se pode imputar exclusivamente à massiva chegada dos
portugueses no século XVIII a “vitória” da língua portuguesa, já que, igualmente de
forma massiva, chegaram africanos, mantendo-se estável a proporção de 30% de
“brancos” e de 70% de “não brancos” no conjunto da população colonial, como se verá
a seguir.
A segunda metade do século XVIII inaugura a fase protoestatística dos estudos
demográficos no Brasil16. Em tese, portanto, a tabela abaixo já apresentaria
“estimativas menos grosseiras e de caráter menos indicativo” que as vistas para o
século XVI:

15
Veja-se Castro (2001, 76-78), que, além dos argumentos sócio-históricos, discute as similitudes entre
os sistemas linguísticos das línguas bantas e kwas e do português, como um fator desfavorecedor à
permanência de línguas africanas e também à emergência de crioulos no Brasil.
16
Não há dados gerais sobre a difusão social da escrita. Sem indicar as fontes em que se baseia, afirma
Houaiss (1985, 88-89) que, no correr dos séculos XVI a XVIII, o percentual de portugueses cultos,
letrados variaria entre 0,5% e 1% da população.
Tabela 3: Composição racial no Brasil no final do período colonial
Local Brancos Mulatos e negros Índios Total
Livres Escravos
Pará 23% 20% 80.000 - (3.9%)
Maranhão 31% 17,3% 46% 5% 78.860 - (3.8%)
Piauí 21,8% 18,4% 36,2% 23,6% 58.962 - (2.9%)
Pernambuco 28,5% 42% 26,2% 3,2% 391.986 - (19.1%)
Bahia 19,8% 31,6% 47,0% 1,5% 359.437 - (17.5%)
Mato Grosso 15,8% 3,8% 26.836 - (1.3%)
Goiás 12,5% 36,2% 46,2% 5,2% 55.422 - (2.7%)
Minas Gerais 23,6% 33,7% 40,9% 1,8% 494.759 - (24.1%)
Rio de Janeiro 33,6% 18,4% 45,9% 2% 229.582 - (11.2%)
São Paulo 56% 25% 16% 3% 208.807 - (10.2%)
Rio Grande do Sul 40,4% 21% 5,5% 34% 66.420 - (3.2%)
Média para 8 28,0% 27,8% 38,1% 5,7%
17
jurisdições
FONTE: Alden 1997, 535. Com adaptações na forma de apresentação.

No final do período colonial, a população brasileira teria atingido 2.051.071


habitantes, ainda bastante desigualmente distribuídos. Comparativamente aos séculos
século XVI e XVII, são notáveis o seu crescimento e a transformação da sua distribuição
geográfica. Mais da metade passa a concentrar-se no Centro-Sul, tendo sido esta
mudança no perfil da densidade demográfica um dos fatores favorecedores à
transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Na média geral,
28,0% dos habitantes eram brancos, 65,9% eram negros e mulatos, distribuídos entre
escravos e livres, e 5,7%, índios. O contraste entre aproximadamente 30% de
“brancos” e 70% de “não brancos”, evidenciado ao final do XVI, mantém-se, devendo-
se destacar, contudo, que, entre os “não brancos”, os negros e seus descendentes
mulatos se tornaram largamente preponderantes em relação aos índios e seus
descendentes; além disso, mesmo entre os ditos “brancos”, certamente havia um
número expressivo de mestiços – já agora predominantemente mulatos – que terá
passado pelo processo social de “branqueamento”. Cabe salientar que, no século XVIII,
já é expressiva – correspondendo a 27,8% do total – a população de mulatos e negros
livres, fator que também se pode considerar favorável à difusão da língua portuguesa,
língua da sociedade dominante.

17
Exceto Mato Grosso, Pará e Rio Grande do Sul, cujos dados são incompletos/deficientes.
3. INDEPENDÊNCIA, URBANIZAÇÃO E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL DO PB
Os séculos XIX e XX/início do XXI serão abordados a seguir, tendo como foco a
compreensão dos principais processos de mudança associados à configuração
sociolinguística do Brasil atual.

3.1. O SÉCULO XIX


Em razão das invasões napoleônicas a Portugal, a Família Real e a Corte de
Lisboa transferem-se para o Brasil, tendo o reinado americano de D. João VI durado de
1808 a 1821, período em que se alteram profundamente as relações com a Metrópole.
A elevação do estatuto político da Colônia – especificamente, do Estado do Brasil –
torna-se mais explícita em 1815, com a constituição do Reino Unido de Portugal, Brasil
e Algarves. Assim, diz-se que a Independência, ocorrida em 1822, terá muito mais o
caráter de transição que de grande ruptura. Independente, o Brasil constituiu-se, de
1822 a 1889 – quando ocorreu a Proclamação da República –, como um Estado
Nacional monárquico, o Império do Brasil.
Estima-se que, acompanhando a Família Real, embarcaram de 10 a 15.000
portugueses e que, nos treze anos de sua permanência, a população do Rio de Janeiro
tenha dobrado de 50.000 para 100.000 habitantes (cf. Fausto 1995, 121 e 125); daí,
falar-se da “relusitanização” da cidade, que, alçada à condição de capital do próprio
império português, se torna o espaço de gestação da norma linguística de maior
prestígio social, moldada com a presença dos integrantes dos mais altos estratos da
sociedade portuguesa. A questão, contudo, é mais complexa, como claramente o
revela a citação abaixo:

(...) a grosseira e solecística linguagem de D. Pedro I [filho de D. João VI],


aqui chegado, em 1808, nada tem que ver com o ambiente brasileiro em si.
É que Sua Alteza, sobre não ter estudos sérios, privava com a ralé colonial.
(...) Eram tantas as barbaridades da fala real que, em 1824, assim o
admoestava o pai: “Quando escreveres, lembra-te de que és um Príncipe e
que os teus escritos são vistos por todo o mundo e deves ter cautela não só
no que dizes, mas também no modo de te explicares (Luís Norton, A corte
de Portugal no Brasil, 1938 apud Silva Neto 1950/1986, 79)

A julgar pela acepção gramatical da palavra solecismo – “intromissão, na norma


culta de uma língua, de construções sintáticas alheias à mesma, geralmente por parte
de pessoas que não dominam inteiramente as suas regras (p. ex., os chamados “erros”
de concordância, de regência, de colocação, a má construção de um período composto
etc.)” (cf. Houaiss 2001, 2601) –, a fala e a escrita daquele que, em 1824, já era o
primeiro imperador do Brasil estariam eivadas de construções sintáticas contra as
quais a purista tradição gramatical brasileira que se estabelece a partir da segunda
metade do século XIX irá lutar. A citação é exemplar para demonstrar o impacto das
mudanças sociolinguisticamente definidas como “de baixo para cima” na conformação
das normas linguísticas dos falantes dos estratos socioeconômicos, e mesmo políticos,
mais altos do Brasil.
Apesar disto, não se pode refutar o quadro de “dualidade” linguística traçado
por Silva Neto (1950/1986, 80) na citação abaixo:

(...) dos princípios da colonização até 1808, e daí por diante com intensidade
cada vez maior, se notava a dualidade linguística entre a nata social, viveiro
de brancos e mestiços que ascenderam socialmente, e a plebe, descendente
dos índios, negros e mestiços da colônia.

Tal quadro, segundo Lucchesi (2015), só começará a ser modificado com a


Revolução de 1930, que porá fim à República Velha (1889-1930) – cujas características
fundamentais ainda eram as de um país rural, agroexportador, marcado pela
superexploração do trabalho braçal e por reduzido mercado consumidor interno –,
dando início a um acelerado processo de industrialização e de urbanização da
sociedade brasileira.
Das significativas transformações operadas no período joanino – citando-se, no
plano cultural, a instalação da imprensa, a fundação de cursos superiores, a criação da
Biblioteca Real e a promoção da vinda de missões artísticas estrangeiras –, aqui se
destaca o estabelecimento de políticas de colonização com imigrantes europeus,
ensejando a entrada de novos atores na cena linguística brasileira: as línguas de
imigração. Em 1818, estabelecem-se os primeiros imigrantes em Petrópolis e Nova
Friburgo (na Província do Rio de Janeiro) e Leopoldina e São Jorge dos Ilhéus (na
Província da Bahia). Nas plantações de café da colônia Leopoldina, onde a mão de obra
escravizada foi usada em larga escala e onde os colonos eram suíços falantes de
alemão e de francês, emergiu uma variedade crioulizada do português – o dialeto de
Helvécia –, registrado na década de 60 (cf. Ferreira 1984), certamente a ponta visível
de um iceberg de bases largas e profundas.
Após a Independência, ampliou-se o incentivo à imigração. Com isto, pretendia-
se ocupar espaços vazios e/ou sob disputa, promover o branqueamento da população
e, sobretudo, substituir a mão de obra escravizada pela mão de obra assalariada
europeia e, posteriormente, também asiática, à qual se associava a ideia de progresso
econômico, dada a crença na sua superioridade étnica e cultural. A partir de 1840, o
café, o novo grande catalisador da economia, torna-se o principal produto de
exportação; este fato – aliado à extinção oficial do tráfico em 1850, à abolição da
escravatura em 1888 e à forte industrialização do país já no século XX – impulsionará
enormemente a vinda de estrangeiros. Calcula-se que, de 1818 a 1970, mais de
5.500.000 imigrantes tenham ingressado no país. Calcula-se ainda que, dos 4.500.000
chegados entre 1850 e 1918, 2.500.000 dirigiram-se ao Estado de São Paulo
(Andreazza; Nadalin 2011, 66-69), que se converte no maior polo econômico do Brasil.
Os imigrantes e suas línguas não se distribuíram homogeneamente no território
brasileiro; marcaram presença no Sul e no Sudeste, destinando-se
predominantemente a zonas rurais – aos latifúndios cafeeiros ou a pequenas
propriedades agrícolas – e também a zonas urbanas – principalmente a cidade de São
Paulo. Em muitas áreas, formaram núcleos populacionais com pouco contato com a
população nacional e, consequentemente, com forte manutenção de características
étnico-culturais, dentre as quais se destacam as suas línguas (cf. Kreutz 2000).
Apresentam-se abaixo dados extraídos do recenseamento de 1872, que
inaugura a fase estatística das análises demográficas no Brasil:

Tabela 4: Distribuição da população em relação ao sexo, estado servil e à raça


Raça População
Sexo Total
Livre Escrava
Masculino Branco 1.971.772 (20%) 1.971.772 (20%)
Pardo 1.673.971 (17%) 252.824 (2%) 1.926.795 (19%)
Preto 472.008 (5%) 552.346 (6%) 1.024.354 (11%)
Caboclo 200.948 (2%) 200.948 (2%)
Feminino Branco 1.815.517 (18%) 1.815.517 (18%)
Pardo 1.650.307 (17%) 224.680 (2%) 1.874.987 (19%)
Preto 449.142 (4%) 480.956 (5%) 930.098 (9%)
Caboclo 186.007 (2%) 186.007 (2%)
Total 8.419.672 (85%) 1.510.806 (15%) 9.930.478 (100%)
Fonte: IBGE, Recenseamento de 1872
Em 1872, a população brasileira teria atingido 9.930.478 habitantes, estando
94,1% em área rural. Brancos e pardos (ou seja, mulatos) equivaliam-se,
correspondendo cada um desses grupos a um percentual de 38,0% do total. A seguir,
vinham os pretos, correspondendo a 20%, podendo-se atribuir a diminuição do seu
número à extinção oficial do tráfico, em 1850, ou à própria miscigenação. Finalmente,
bem abaixo, 4,0% de caboclos. Como caboclo é uma designação geral para mestiço de
índio, no censo de 1872, os índios são, portanto, “invisíveis”. O contraste entre
“brancos” e “não brancos” começa a esmaecer, devido à entrada dos imigrantes
europeus.
A partir da segunda metade do século XIX, o Brasil independente é palco para
as discussões sobre o processo de estandardização linguística, com desdobramentos
em duas esferas. Em uma, situam-se acirradas polêmicas entre escritores em torno da
“questão da língua brasileira”; em outra, o início da produção de gramáticas por
autores nascidos no Brasil. Enquanto escritores românticos buscavam afirmar a
identidade da nova nação a partir de uma língua literária a que se pudesse chamar de
“nacional”, gramáticos e mesmo um significativo grupo de intelectuais defendiam a
total subserviência à norma-padrão da ex-Metrópole colonial, que obviamente se
matinha indiferente mesmo aos solecismos da fala e da escrita do primeiro imperador
do Brasil. Em outras palavras, “a codificação [gramatical] que se fez aqui na segunda
metade do século XIX não tomou a norma culta/comum/standard (...) brasileira de
então como referência” (cf. Faraco 2008, 80).
Qual era a fotografia da distribuição social da escrita neste país recém-
independente, que começa a discutir o seu processo de estandardização linguística?

Tabela 5: Distribuição da população em relação ao sexo, estado servil e grau de instrução


Sexo Grau de instrução
Condição Total
Sabem ler e escrever Analfabetos
Livre Masculino 1.012.097 – 23,4% 3.306.602 – 76,6% 4.318.699 – 100%
Feminino 550.981 – 13.4% 3.549.992 – 86.6% 4.100.973 – 100%
Total 1.563.078 – 19% 6.856.594 – 81% 8.419.672 – 100%
Escava Masculino 958 – 0,1% 804.212 – 99.9% 805.170 – 100%
Feminino 445 – 0,1% 705.191 – 99.9% 705.636 – 100%
Total 1.403 – 0,1% 1.509.403 – 99,9% 1.510.806 – 100%
Fonte: IBGE, Recenseamento de 1872
Em 1872, o Brasil era predominantemente rural e sua população
predominantemente analfabeta: 76,6% dos homens livres eram analfabetos, 86,6%
das mulheres livres também o eram e, entre os escravizados, o analfabetismo era
praticamente universal, atingindo o índice de 99,9%, tanto entre homens, quanto
entre mulheres.
O sistema de aulas régias instituído por Pombal permaneceu até o Ato
Adicional à Constituição do Império, de 1834, que transferiu do governo central para
os governos provinciais a responsabilidade sobre o ensino primário e secundário,
deixando de promover, portanto, a criação de um sistema nacional de instrução
pública nos dois níveis mencionados (cf. Saviani 2013a, p. 122-124), situação que
praticamente se mantém inalterada até os dias atuais. A cargo do governo central,
ficaram a educação superior e a da capital. Os índices de analfabetismo acima
apontados traduzem fundamentalmente dois aspectos: quanto aos escravizados, a
proibição, até o ano de 1888, de que frequentassem escolas e, quanto aos livres, o
parco investimento em educação por parte do Império do Brasil: durante o reinado de
D. Pedro II, filho de D. Pedro I, que se estendeu de 1840 a 1889, “a média anual dos
recursos financeiros investidos em educação foi de 1,80% do orçamento do governo
imperial, destinando-se, para a instrução primária e secundária, a média de 0,47%” (cf.
Saviani 2006, 28-29).

3.2 O SÉCULO XX E OS PRIMÓRDIOS DO XXI


É no século XX que vão ser localizados os dois principais processos de
transformação associados à atual configuração sociolinguística do Brasil: a mudança do
país da condição de eminentemente rural-agrário à condição de eminentemente
urbano-industrial e, relacionado à urbanização e à industrialização, o crescimento dos
índices de escolarização-letramento da população.
Os dados abaixo permitem visualizar o crescimento populacional e o processo
de urbanização do país:
Tabela 6: Distribuição da população rural e urbana no Brasil de 1872 a 2010
Ano População População urbana População rural
total
1872 9.930.478 582.749 5,9% 9.347.729 94,1%
1890 14.333.915 976.038 6,8% 13.357.877 93,2%
1900 17.438.434 1.644.149 9,4% 15.784.285 90,6%
1920 30.635.605 3.287.448 10,7% 27.348.157 89,3%
1940 41.326.315 12.880.182 31,2% 28.448.133 68,8%
1950 21.944.397 18.782.891 36,2% 33.161.506 63,8%
1960 70.992.343 32.004.817 45,1% 38.987.526 54,9%
1970 94.508.583 52.904.744 56,0% 41.603.839 44,0%
1980 121.150.573 82.013.375 67,7% 39.137.198 32,3%
1990 146.917.459 110.875.826 75,5% 36.041.633 24,5%
2000 169.590.693 137.755.550 81,2% 31.835.143 18,8%
2010 190.755.799 160.925.792 84,4% 29.830.007 15,6%
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, apud Lucchesi 2015, 144

A presença maioritária de brasileiros nas cidades é um fenômeno bastante


recente. Torna-se sensível nas décadas de 1940 e 1950, quando, em consequência do
processo de industrialização iniciado a partir de 1930, atinge os patamares de 31.3% e
36.2% respectivamente, e consolida-se nas décadas de 1970 e 1980, principalmente
em decorrência do grande êxodo das populações rurais para os centros urbanos
industrializados. Hoje, aproximadamente 85% dos brasileiros vivem em centros
urbanos. Assim, como ressalta Bortoni-Ricardo (1985/2011), ao estudar o nascimento
do dialeto de Brazlândia, cidade-satélite de Brasília, tornada, em 1960, a nova capital
do Brasil, a primeira característica fundamental para a compreensão do PB
contemporâneo é a transformação das variedades linguísticas rurais (caracterizadas,
segundo a referida autora, por surpreendente alto grau de uniformidade) em
variedades urbanas não padrão, por ela designadas de variedades rurbanas, as quais,
no continuum dialetal, estariam adjacentes às variedades rurais isoladas e altamente
estigmatizadas, e seriam faladas não só nas cidades, por indivíduos não alfabetizados
ou semialfabetizados de classes mais baixas e, em sua maioria, com antecedentes
rurais, mas também nas áreas rurais cujos falantes se encontrem sob a influência
tecnológica e modernizadora emanada das cidades.
Não seria este, porém, o único aspecto a considerar. Assim, Bortoni-Ricardo
(1998/2002) propõe um modelo de três continua para a caracterização linguística do
Brasil contemporâneo18: o já mencionado continuum rural-urbano, destinado à análise
dos atributos sociológicos do falante, o continuum oralidade-letramento, referente à
análise das práticas sociais letradas em que o indivíduo toma parte, e o continuum de
monitoração estilística, atinente à análise dos processos psicológicos de planejamento
e atenção no momento da enunciação. Abaixo, apresentam-se dados que permitem
refletir sobre mudanças a partir do continuum oralidade-letramento:

Tabela 7: Taxa de analfabetismo no Brasil de 1920 a 2010, entre a população com mais de 15 anos de
idade
Ano População total Analfabetos %
1920 17.557.282 11.401.715 64,9%
1940 23.709.769 13.242.172 55,9%
1950 30.249.423 15.272.632 50,5%
1960 40.278.602 15.964.852 39,6%
1970 54.008.604 18.146.977 33,6%
1980 73.542.003 18.716.847 25,5%
1991 95.810.615 18.587.446 19,4%
2000 119.533.048 16.294.889 13,6%
2010 144.823.504 13.949.729 9,6%
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, apud Lucchesi 2015, 149

Como se vê, a quase erradicação do analfabetismo no Brasil é um fenômeno


bastante recente: até a década de 1950, metade da população era analfabeta. O
progressivo acesso de indivíduos originalmente inseridos em contextos rurbanos à
escolarização configura-se como fator responsável pela segunda característica
fundamental do PB contemporâneo, ou seja, um conjunto de mudanças que se podem
processar “de cima para baixo”, a partir da exposição dos falantes a padrões
linguísticos prestigiados pela cultura letrada. Como, porém, o avanço no continuum
oralidade-letramento é ainda profundamente desigual no país, identifica-se, entre os
polos da teia sociolinguística do Brasil contemporâneo, um conjunto complexo de
normas intermediárias, gradientes e interpenetrantes.
Finalizando...
Apesar de uma história de glotocídios, que redundou em predominante
monolinguismo, a ecologia linguística do Brasil, no início do século XXI, é rica. Em 2010,
o país atingiu a população de 190.755.799 habitantes. Destes, 896.900 são índios;
registram-se 274 línguas indígenas, faladas por 37,4% dos índios (cf. Censo 2010).
18
Cf. Lucchesi (2015) para a discussão da complementaridade entre o modelo da polarização
sociolinguística por ele proposto e o modelo de três continua.
Também na condição de línguas minoritárias existem aproximadamente 30 línguas de
imigração, dois crioulos – o karipuna e o galibi-marworno –, para além de duas línguas
de sinais, LIBRAS e kaapor (cf. Morello 2012, 13-14). Das 200 a 300 línguas africanas
que cruzaram o atlântico (cf. Petter 2006), nenhuma permaneceu sendo falada,
havendo, porém, marcas da sua presença em rituais religiosos e ainda as chamadas
“línguas secretas”, derivadas de línguas veiculares de base lexical banto (cf. Vogt/Fry
1996; Queiroz 1998).
Além do português e da LIBRAS19, não existe, no país, nenhuma outra língua de
abrangência nacional ou mesmo regional; há, porém, um conjunto expressivo de
municípios cujos habitantes são predominantemente falantes de línguas indígenas ou
de línguas da imigração, o que os converteu em “instâncias potentes para a gestão de
línguas” (cf. Morello 2012, 12). Assim, com base nesta visão, iniciou-se, em 2002 e no
município mais plurilíngue das Américas – o munícipio amazônico de São Gabriel da
Cachoeira, onde se falam 23 línguas –, a política de co-oficialização de línguas em
âmbito municipal, uma iniciativa inovadora no campo das políticas linguísticas no país.
Neste município, foram co-oficializadas duas línguas indígenas, o baniwa e o tukano, e
ainda o nheengatu, metáfora da história social linguística do Brasil: língua de
resistência, mas também, nas palavras de Mattos e Silva (2004), “fruto vivo da morte
de muitas línguas”.

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