Discente: Alice Negreiros Disciplina: Mestrado PRIMEIRO FICHAMENTO MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Fatores sócio-históricos condicionantes na formação do português brasileiro: em questão o propalado conservadorismo da língua portuguesa no Brasil. In: SÁNCHES CORRALES, Víctor Mi. XIII Congresso Internacional Asociación de Lingüística y Filología de América Latina (Alfal),13, Actas v. 1. San José de Costa Rica: Universidad de Costa Rica, 2004, p. 81-94. Disponível em: https://43f732ad-b5b4-4926- ad06-b21be791f1d4.filesusr.com/ugd/c8e334_526096a134a54144a01931daed595dd4.pdf
PAG TRANSCRIÇÃO COMENTÁRIO
2 “[...] que a formação do português brasileiro O contexto sócio-histórico é o deve ser compreendida no contexto sócio- mais importante para histórico do Brasil. [...] Herbert Parentes Fortes, entender como se deu a filólogo e político baiano [...]uma série de formação do PT-BR. Por essa artigos, reunidos no livro A questão da língua razão Parentes Fortes e Serafim da Silva Neto brasileira e, no artigo inicial, que dá o título ao escrevem em suas obras que a livro, diz: língua se molda por meio da O fato lingüístico da língua brasileira não nasceu de nenhuma deliberação pessoal, de nenhum fato político, de sociedade. nenhum ideal literário. A sua explicação é de ordem sociológica. (1945: 7) O outro é Serafim da Silva Neto, filólogo- lingüista, que dominou a cena da filologia e da lingüística no Brasil, entre as décadas de 40 e 60, [...] Em artigos reunidos em 1960 no livro Língua, cultura e civilização diz, no trabalho Problemas do português da América, constituído de escritos da década de 40: A linguagem falada em nossa terra, em virtude de múltiplos fatôres, tomou cunho próprio... o modo de viver modifica-se e transforma-se. E a língua, instrumento social, foi-se adaptando à nossa sociedade pois, como sabemos, ela caminha lado a lado com a história social (p. 248 e 258,)” 4 “[...]considerando os grupos étnicos e Entender a quantidade de lingüísticos que nesses dois quadros se pessoas nesse período é visualizam: esses dados mostram que, durante o importante. Segundo os dados período colonial (1530 a 1822) e até o pós- Alberto Baeta Neves Mussa, colonial, predominam etnias não-brancas, numa posteriormente sintetizados por Tânia Lobo, no início do média aproximada de 70% para as não-brancas séc. XVI 70% da população e de 30% para a etnia branca. Ressalte-se que era de etnias não-brancas e até meados so século XIX a etnia branca estava 30% de brancos. O que muda representada, quase que exclusivamente, pelos ao decorrer dos anos, as portugueses e luso-descendentes.” etnias não brancas passam a diminuir, chegando 59% no séc XIX e as etnias brancas aumentam, chegando a 41%. 4 “Especialistas na história lingüística do Brasil Não há como ter dados apresentam cálculos díspares quanto ao número concretos sobre a quantidade de línguas indígenas em uso ao iniciar-se a de línguas indígenas faladas colonização: de 360 a 1.175 até 1.500 línguas no período da colonização, [...]Em trabalho recente Bruna Franchetto apenas estimativas. (2000: 84) afirma que persistem 180 línguas, extintas 85%, nos nossos 500 anos de história [...]” 4 “[...]indígenas falantes do que hoje os Os colonizadores tiveram especialistas designam de línguas do tronco contato com as línguas do lingüístico tupi e da família tupi-guarani, sendo tronco linguístico tupi, as mais conhecidas o tupinambá no litoral família tupi-guarani, sendo baiano, o tupiniquim ao Sul da Bahia e no elas o Tupinambá e Tupiniquim no litoral da litoral paulista e o tamoio, na área do atual Rio Bahia até o Rio de Janeiro e de Janeiro. É, portanto, com as línguas tupi- interior do Sudeste e Sul. guarani – o guarani na bacia do Prata e em áreas interioranas do Sudeste e Sul do Brasil – que os falantes de português entrarão em contacto imediato no processo de colonização.” 4 “Terá sido pela Gramática da língua mais A gramática escrita pelo usada na costa do Brasil, escrita pelo jesuíta Padre José de Anchieta deve Padre José de Anchieta [...]a intermediadora no ter servido para a processo comunicativo entre portugueses e comunicação entre os indígenas. Certamente ela serviu e serve para o colonizadores e indígenas. conhecimento do que hoje se designa de tupi antigo.” 4 “[...]Aryon Rodrigues (1986) informa que a A língua geral é dividida em designação língua geral é do século XVIII e duas: que não formaria uma unidade. Distinguindo LG Amazônica, de base ele a língua geral amazônica, de base tupinambá, usada para a tupinambá e que serviu à colonização da colonização da Amazônia e a LG Paulista, de base Amazônia, cujo remanescente é o nheengatu do tupiniquim e guarani, usada Vale do Içana, no Rio Negro, nas fronteiras pelos bandeirantes no interior com a Venezuela. A língua geral do Sul ou do país. paulista, de base tupiniquim e guarani, terá sido a língua dos bandeirantes, na conquista dos interiores paulistas e do centro-oeste. [...]” 4 “Note-se que a bibliografia que trata das As primeiras marcas de chamadas “influências das línguas indígenas”, contato linguístico se deu no português, tem se centrado nos empréstimos com os empréstimos lexicais lexicais tupi, os tupinismos, [...]. De fato, é no do tupi. léxico que a marca lingüística ficou, distinguindo o português europeu do brasileiro, e se generalizam como tupi os chamados “indigenismos” lexicais do português brasileiro. 5 “[...]São díspares o número de escravos trazidos A estimativa de línguas para o Brasil – entre quatro e quatorze milhões africanas é de até 300 línguas, – variam as avaliações sobre o quantitativo segundo Émile Bonvini e dessa população aportada no Brasil. Quanto às Margarida Petter. Sendo as línguas africanas chegadas, os especialistas línguas da família Bântu a que mais emprestou léxico e Émile Bonvini e Margarida Petter (1998) morfologia ao português. estimam à volta de 200/300 línguas. Mais um fator marcante para [...]nenhuma língua africana teria se o distanciamento do PT-EU. estabelecido em áreas territoriais delimitadas; das 200/300 línguas, a grande maioria era da família Sul-equatorial bântu, logo seguida das línguas benuê-kwa, do Oeste africano. Outro consenso é o da constante bântu ao longo do tráfico escravista [...]Decorre disso o fato de que os estudos de africanistas brasileiros e estrangeiros afirmarem que os empréstimos lexicais das línguas bântu são os mais numerosos e os mais integrados morfologicamente no português (Pessoa de Castro 1980, 2001; Megenney 1998, 2001; Mussa 1991).” 5 “[...]os africanos e afro-descendentes estão no Os africanos e seus patamar de 60% da população do Brasil entre descendentes, bem como os séculos XVII ao XIX. Tendo de abdicar de alguns indígenas, aprenderam suas línguas de origem, como referido, não forçosamente o PT por meio tinham eles escolha: tiveram de aprender, num da transmissão linguística irregular, o que contribuiu, processo de transmissão lingüística irregular – posteriormente de acordo na designação da crioulística atual – a língua da com Mattos e Silva, a colonização. [...]são eles que vão dar forma ao formação do português português geral brasileiro, antecedente, como popular. penso eu, do português popular ou vernáculo brasileiro.” 5 “Só na segunda metade do século XIX, com a Na segunda metade do séc. política migratória do Império, a população XIX, o Brasil recebeu muitos branca cresce. Segundo o historiador Lúcio imigrantes europeus. Estes se Kreutz (2000: 351), a imigração tem o seu localizaram na região Sul e ápice em 1890, com um milhão e duzentos mil trabalharam nas camadas mais baixas da sociedade, por imigrantes europeus e asiáticos. Na sua grande essa razão também maioria, esses novos componentes étnicos e aprenderam o PT de maneira lingüísticos da sociedade brasileira vão se irregular, sem o controle localizar de S. Paulo para o Sul e, também na normativo escolar. sua grande maioria, se integraram, no princípio, em propriedades rurais e como trabalhadores urbanos, inserindo-se assim nas camadas mais baixas da sociedade brasileira. Adquiriram eles também, no princípio, o português na oralidade e sem o controle normativo da escola.” 5-6 “Nos séculos XVI e XVII se concentravam nas Aqui a autora descreve, de lavouras da cana-de-açúcar nas capitanias forma breve, a movimentação litorâneas de Pernambuco, Bahia e Rio de dentro do país nos séculos Janeiro. Nos séculos XVII e XVIII, transitou XVI até XIX. Reafirmando a grande parte para as áreas de mineração do sua ideia de que o português se espalhou e dominou as ouro e de diamantes, nos interiores paulistas, no outras línguas por causa dos centro e centro-oeste do Brasil. Do século escravos que viviam nesse XVIII para XIX, diminuindo a mineração fluxo migratório. Ainda aqui referida, em boa parte voltam para o litoral do ela usa como base para Rio de Janeiro e de São Paulo, onde ocorre afirmar, o que ela designa, de novo impulso açucareiro. No século XIX, português geral brasileiro. concentram-se no Vale do rio Paraíba do Sul, em áreas paulistas, do Rio e de Minas Gerais, locais em que se explorou o novo ouro, o café. Acompanhando seus senhores, seguem para o Maranhão, para a colheita do algodão e fumo, também para a Amazônia, para a exploração de especiarias. Desde o século XVI se dispersam os escravos e também os indígenas pelas imensas regiões pastoris interioranas, deslocando-se, a partir do século XVII, aos interiores nordestinos. Já no século XIX, deslocam-se segmentos da população para as charqueadas do Sul do Brasil.” 8 “A imprensa chega ao Brasil com a corte de D. A imprensa foi um ponto de João VI em 1808. [...] tendo sido fundamental partida para a difusão do para lutas políticas no Brasil de então: português para as camadas Independência, Abolição, República. Além mais baixas da sociedade. disso, a imprensa permitiu a difusão da documentação não-literária e literária que se produzia no Brasil, ressaltando-se o papel exercido pelos jornais, que proliferaram por todo o Brasil no século XIX (Guedes e Berlinck (Orgs.) 2000).” 8 “[...]que, ao longo do Brasil colonial, pode-se O cenário linguístico dizer que havia um multi/bilingüismo brasileiro era de generalizado, principalmente entre a população multilinguismo. africana e afro-descendente e a lusitana e luso- descendente, reduzidas, certamente, a certas comunidades as línguas indígenas.[...]” 8 “Outro aspecto lingüístico diz respeito ao Com o avanço da norma avanço da norma padrão lusitanizante – ponto padrão lusitana por meio da já referido – não só pelo crescimento da escolarização, visto que os escolarização no século XIX, mas também escavos, agora libertos, decorrente de que, depois da abolição da tinham direito de ir às escravatura, africanos e afro-descendentes escolas. puderam chegar à escola, antes proibida aos escravos. [...]”