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Será que o determinismo moderado é verdadeiro?

Será que há livre-arbítrio?

Neste ensaio irá ser discutido o problema do livre-arbítrio, se efetivamente o temos, ou se é


uma mera ilusão. Antes de mais irei esclarecer o que é o livre-arbítrio. Na sua concessão, o
livre arbítrio é a faculdade que um agente tem de controlar as suas ações e escolher uma
determinada ação.

O objetivo pretendido neste ensaio é fornecer argumentos que defendam a tese compatibilista
no qual há determinismo e há livre-arbítrio. Agora que está definido o problema, por que razão
devemos preocuparmo-nos em saber se as nossas ações são livres ou determinadas? Se nós
não tivermos consciência se somos responsáveis ou não pelas nossas ações não podemos
saber se estamos no direito de responsabilizar os que cometem crimes.

Para responder este problema há três teses concorrentes. O determinismo radical, o


libertismo e o determinismo moderado. O primeiro consiste em afirmar que todos os
acontecimentos dependem causalmente de acontecimentos anteriores e das leis da natureza
e, portanto, perante as mesmas ideias causais, o sujeito não poderia ter agido de maneira
diferente. O segundo consiste em afirmar que não há determinismo e há livre arbítrio, ou seja,
que há ações que não dependem de acontecimentos anteriores e, perante as mesmas ideias
causais, o sujeito poderia ter agido de forma diferente. E por fim, o último defende que ambos,
o determinismo radical, e o libertismo, são verdadeiros.

A posição adotada neste ensaio é a favor da tese compatibilista que defende: Mesmo que as
nossas ações sejam determinadas, há ações livres. Ou seja, quando praticamos uma ação
consciente estamos a praticar a ação segundo as nossas crenças e desejos e, por isso, estamos
a agir livremente e podemos ser responsabilizados moralmente.

Para defender esta proposição podemos utilizar a forma de inferência válida do silogismo
disjuntivo em que só uma destas teorias é plausível: O libertismo, o determinismo radical, ou o
determinismo moderado. O libertismo não é plausível, na medida em que, não é possível que
possa haver ações que não se baseiam em nada. O determinismo radical não é plausível, pois
não é verdade que tudo na nossa vida está determinado, e que não podemos responsabilizar
moralmente as pessoas pelas suas ações. O determinismo moderado é plausível, pois é
consistente com a tese determinista, e com a ideia de responsabilidade moral. Vou dar o
seguinte exemplo:

Imaginemos que a Joana chegou atrasada ao trabalho porque foi assaltada. Neste caso, de
acordo com ambas as teses deterministas , a Joana não foi livre, visto que não teve controlo
sobre o facto de ter sido assaltada.

Agora imaginemos outro exemplo em que a Joana chega atrasada ao trabalho porque decidiu
acabar de ver um filme. De acordo com os deterministas radicais, a Joana também não foi
livre, dado que a determinação dos seus atos não dependeu da sua vontade, mas de certas
causas internas ou externas anteriores.

Margarida Silva Sequeira, nº 16, 10º J pág. 1 de 4


Ora, os filósofos que defendem o determinismo moderado e, perante estes dois exemplos, não
concordam com o segundo, porque no seu ponto de vista a Joana teve livre- arbítrio, ou seja,
teve a opção de agir de outra forma e, em vez disso, não o fez devido ao seu desejo de acabar
de ver o filme.

Mesmo que o determinismo seja verdadeiro, ainda assim faz sentido fazer a distinção de
ações, as que são livres, e as que não são livres. Perante estas situações observa-se que são
muito diferentes. Na primeira não fomos livres, na segunda habitualmente dizemos que somos
livres.

A joana decidiu ir ver o filme apesar de saber que ia chegar tarde ao trabalho, logo foi livre. O
facto de a Joana estar determinada a querer ver o filme não significa que a sua ação não tenha
sido livre: Ela fez aquilo que queria fazer, mesmo que não pudesse querer fazer outra coisa,
dadas as crenças e desejos que tinha, afinal, ninguém a obrigou a ver o filme.

A ideia do determinismo moderado é apresentar uma teoria que mostre que estas duas ações
não são iguais. Fazendo a distinção entre ações livres, que são causas internas, pois resultam
das nossas crenças e desejos. E as ações não livres, que são causas externas, caso fossemos
forçados a fazermos o que não queremos. Esta tese tem, portanto, esta vantagem de fazer a
distinção entre as duas ações, e por outro lado não cair no extremo do determinismo.

Como o conceito do determinismo é consensual para deterministas e libertistas, e, portanto,


decidiu-se mudar o conceito de livre- arbítrio de modo a compatibilizar ambos os conceitos. De
acordo com David Hume o sujeito é livre se estiverem reunidas as seguintes condições: Se o
sujeito pudesse ter agido de outra forma, caso tivesse querido, e se as ações do sujeito
estiverem sobre o controlo da sua vontade, crenças e desejos.

As objeções que se podem colocar ao determinismo são as seguintes: A primeira é a objeção


da sala fechada de Locke. Que consiste em afirmar que podemos praticar uma ação livremente
sem que tenhamos a liberdade para agir de outro modo. Contrariando a teoria de Hume, que
consiste em afirmar que um sujeito é livre se tiver mais que uma opção de escolha, pois, para
Locke a única coisa que o sujeito necessita é a sua vontade. Para afirmar esta teoria, Locke deu
o exemplo da sala fechada em que um individuo entra numa sala para conversar com um
amigo e a porta é fechada sem que ele tenha conhecimento. Apesar de estar privado de
qualquer outra opção, o sujeito mantém-se na sala de livre vontade.

Outra objeção que se pode colocar é o argumento da consequência. Em que, se o


determinismo é verdadeiro, então as nossas ações são a consequência das leis da natureza, e
de eventos que ocorreram num passado remoto. Como sabemos, não somos capazes de
alterar as leis da natureza nem os eventos que ocorreram num passado remoto. Se as nossas
ações são a consequência das leis da natureza, e de eventos que ocorreram num passado
remoto, e se não somos capazes de alterar as leis da natureza, nem os eventos que ocorreram
num passado remoto, então não temos possibilidades alternativas. Ao não termos
possibilidades alternativas, então não somos livres.

Se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres. A ideia central deste argumento são
as possibilidades alternativas. Vou dar um exemplo: Imaginemos que um sujeito chamado
Carlos é raptado, e obrigam-no a cometer vários crimes, dos quais vários assassinatos. Para sua
surpresa, depois do sucedido, é detido pela polícia, que o acusa de homicídio. Estará a polícia a
ser justa ao culpá-lo pelas mortes? Ora, à partida pensamos que não, pois ele não podia ter
feito nada para evitar o sucedido, ou seja, não tinha possibilidades alternativas.

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A última objeção que irei enunciar neste ensaio é que o determinismo moderado não explica
os comportamentos aditivos ou compulsivos. Observemos agora o exemplo de uma pessoa
com um transtorno mental que tem a compulsão para roubar. O sujeito quer roubar mesmo
sabendo das suas consequências, e de que a ação não é correta. Embora supostamente ao
fazê-lo esteja a seguir os seus desejos. Se ele não tivesse querido roubar não o teria feito. Ora,
se seguirmos a teoria de Hume, cuja definição de liberdade depende das nossas crenças e
desejos, está errada. Dado que o sujeito pode estar a desejar roubar, e a ter a crença de que
ele quer efetivamente realizar o roubo. Quem age compulsivamente age de acordo com os
seus desejos e crenças, mas a ação não é livre.

Para responder ao primeiro contra argumento podemos argumentar que, perante aquela
situação, o sujeito não estava sobre o controlo total, visto que estava condicionado, pois
possuía o conhecimento geral do sucedido. Ou seja, para se tomar uma decisão tem de existir
mais que uma opção viável. E talvez, se ele soubesse que a porta estava fechada, ele teria
tomado a decisão de sair.

Para responder ao segundo contra argumento podemos argumentar que, de acordo com a
terceira premissa que afirma que, só podemos ter livre-arbítrio, em termos da
responsabilidade moral, se pudermos agir de modo diferente daquele que agimos. Esta ideia
designa-se como PPA (princípio das possibilidades alternativas) que afirma que, só podemos
ter livre-arbítrio, em termos da responsabilidade moral, se tivermos mais que uma opção de
escolha diferente daquela que agimos. Ora, para negar essa premissa os compatibilistas usam
a forma de PPA condicional que é entendido como: Temos livre-arbítrio, no sentido relevante
para a responsabilidade moral, na medida em que poderíamos ter escolhido agir de modo
diferente daquele que agimos, se tivéssemos crenças e desejos diferentes daqueles que
efetivamente temos.

Podemos então afirmar que, embora que as nossas ações sejam causadas pelas nossas crenças
e desejos, e que por sua vez são determinados por causas anteriores, poderíamos ter agido de
um modo diferente daquele que agimos, caso tivéssemos crenças e desejos diferentes. Ou
seja, mesmo que as nossas ações sejam determinadas podemos ainda ter livre-arbítrio, no
sentido da responsabilidade moral, pois temos diferentes possibilidades de ação, e a opção de
escolhermos uma delas depende de nós, e da nossa vontade de o fazer. O Carlos podia
perfeitamente ter decidido outra alternativa e não o fez, como por exemplo não matar, e
preferir preservar a vida das outras pessoas em vez da dele.

Para responder ao terceiro contra argumento podemos argumentar que, embora que no
comportamento compulsivo a pessoa pareça agir de acordo com os seus desejos, não se pode
confundir determinismo com constrangimento, coação ou compulsão, ou seja, o
constrangimento, coação e compulsão atuam contra a nossa vontade, impedindo-nos de
escolher ou fazer o que queremos. Portanto, o sujeito não está efetivamente a agir sobre a
sua completa vontade, pois para agir de acordo com as suas crenças e desejos, não poderá ter
nenhuma limitação física ou biológica, e perante esta situação as duas condições de liberdade
de Hume não se cumprem.

Conclui-se com a ideia de que, ainda que as nossas ações sejam determinadas, poderíamos ter
escolhido agir de um modo diferente daquele que agimos, caso tivéssemos querido. E,
portanto, ao contrário das outras teorias apresentadas, ambas as proposições de que há
determinismo e há liberdade podem existir. Consequentemente podemos considerar as
pessoas moralmente responsáveis pela maior parte das suas ações. 

Margarida Silva Sequeira, nº 16, 10º J pág. 3 de 4


Biografia:

https://issuu.com/marinasantos/docs/teorias_livre_arbitrio

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https://criticanarede.com/eti_livrearbitrio2.html

https://criticanarede.com/met_savater.html

https://domingosfaria.net/slides/fes10ano/s5.pdf

Margarida Silva Sequeira, nº 16, 10º J pág. 4 de 4

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