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Será o livre-arbítrio uma ilusão?

Escola Básica e secundaria Dr. Machado Matos, Felgueiras


Filosofia, 10.ºB
Letícia Menezes
Neste ensaio vou discutir o problema central da filosofia da ação: “Será o livre-arbítrio
uma ilusão?”.
A posição pessoal defendida é que o livre-arbítrio não é uma ilusão. Pretendo analisar as
teorias que dão resposta a este problema e explicar claramente a minha tese.
//Existem três correntes filosóficas distintas que caracterizam a ação humana quanto à
sua liberdade: a teoria determinista, a teoria libertista e a teoria compatibilista. A teoria
determinista afirma que, sob o efeito da mesma cadeia causal, há apenas um curso de
ação possível, ou seja, que não temos possibilidade de escolha, pois tudo o que fazemos
foi previamente determinado por causas anteriores. Por isso, segundo os defensores do
determinismo, não temos livre-arbítrio. Esta é, na minha ótica, uma teoria falsa, e que,
não serve como solução do problema. Não estou com isto a afirmar que nada é
determinado, mas sim que nem tudo é determinado. Se tudo fosse determinado não
haveria responsabilidade moral e não seria possível imputar culpas ou méritos às
pessoas. Seríamos meras peças de xadrez no tabuleiro da mãe natureza. Ora, acredito
vivamente que os filósofos e psicólogos que defendem o determinismo são os primeiros
a punir os seus filhos quando estes mentem ou desobedecem, e a condenar o homem que
rouba ou que mata. Mas aqui surge uma contradição: se tudo é determinado, então não
temos o direito de punir a criança que mente ou que desobedece, nem o homem que
rouba ou que mata, pois não podemos punir as pessoas por atos que estas não podem
evitar. Então, para mim, esta teoria é falsa, até porque nos obrigaria a aceitar que a
liberdade que experimentamos não passa de uma ilusão. Vejamos então um exemplo
que nega esta teoria: tomemos como primeiro exemplo o próprio facto de eu estar neste
momento a redigir este ensaio. Poderá alguém afirmar que eu não poderia ter escolhido
fazer outra coisa? Muito dificilmente, pois eu poderia perfeitamente ter optado por ler
um livro, ir dar um passeio de bicicleta, ou até escrever um ensaio sobre algo
completamente diferente. Mas não fiz nenhuma dessas coisas. Estou a escrever este
ensaio porque assim o quero, de livre vontade.
//No campo exatamente oposto, surge a teoria libertista. Segundo esta teoria, somos
produtores de ações, escolhemos e determinamos aquilo que fazemos, pensamos e
sentimos, ou seja, temos livre-arbítrio. No entanto, somos absolutamente responsáveis
pelas nossas ações, o que nos pode levar a sofrer as consequências das mesmas caso não
sejam acertadas. Comecemos por esclarecer o conceito em questão. É corrente definir
ação livre como ato não condicionado por causas. Para mim, esta definição parece-me
incorreta e fonte de muitos equívocos na discussão deste problema. Se esta definição
fosse correta, então acabar-se-ia a discussão deste problema, a não ser que alguém
conseguisse provar que o passado não existe e é uma mera ilusão. Tentemos então
encontrar definições corretas de livre-arbítrio e de ação livre. Ter livre-arbítrio é ter
possibilidade de escolher entre diferentes cursos de ação, apesar das causas existentes
sobre o agente, e ação livre é um ato que procede da vontade livre do agente. Ora,

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observando estas definições e a minha refutação ao determinismo, poder-se-ia concluir
que eu sou apologista da teoria libertista. No entanto, as aparências iludem. Esta solução
também não serve como resposta ao problema, pois, mesmo que todas as nossas ações
fossem livres, as ações livres sofrem condicionalismos e limitações. Por exemplo, eu
não posso escolher os meus pais, não posso escolher a cor da minha pele, etc. Todos
estes fatores estão de facto determinados e não há nada que eu possa fazer quanto a isso.
Por exemplo, imaginemos que o João queria ser alto, forte e ter os olhos azuis. O João
podia seguir um plano alimentar para crescer, e ir ao ginásio para ficar forte, mas não
podia alterar a cor dos seus olhos, visto que se trata de um facto hereditário, que foi
determinado pelos genes dos seus pais, que, por sua vez, foram determinados pelos dos
seus avós, e assim sucessivamente. Portanto, há, de facto, coisas que não podemos
escolher, pois são previamente determinadas. Até agora, as conclusões que podemos
tirar são que há ações livres e fatores que são determinados previamente, e que as ações
livres sofrem limitações e condicionalismos.
//Por fim a última teoria, o compatibilismo. O compatibilismo é uma tentativa de
conciliar o livre-arbítrio com o determinismo. Logo à partida, entende-se que algo não
bate certo, pois não é possível afirmar simultaneamente duas realidades tão distintas.
Defender esta teoria, seria afirmar que sob o efeito das mesmas causas só temos um
curso de ação possível e que sob o efeito dessas mesmas causas temos vários cursos de
ação entre os quais escolher. Ora, pelas regras da lógica, isto é impossível, uma vez que
são afirmações incompatíveis entre si. O erro que os apologistas desta teoria cometem é
usarem mal os conceitos, de certo modo manipularem o conceito de livre-arbítrio. Para
os compatibilistas, ser livre é agir sem sermos coagidos a tal. Portanto, para estes, as
nossas ações são determinadas, mas também são livres, desde que não sejamos
obrigados ou forçados a tal e sejamos nós a escolher o rumo da nossa ação. No entanto,
eu não aceito esta teoria como verdadeira, pois não passa de uma forma disfarçada de
determinismo; o conceito de liberdade dos compatibilistas não corresponde ao que,
geralmente, se entende por “livre-arbítrio”, o que torna esta teoria insustentável, visto
que não podemos mudar o conceito de liberdade como nos apetece. Ter livre-arbítrio
não significa apenas que, em determinadas circunstâncias, somos nós que escolhemos o
curso da nossa ação, mas ter a possibilidade de, nas mesmas circunstâncias, escolher
entre cursos alternativos de ação. Desfeita a confusão e rejeitado o conceito
compatibilista de liberdade, nem por isso deixamos de reconhecer que as ações resultam
da influência de causas e sofrem condicionalismos de diversa ordem.
//Portanto, a solução para este problema parece-me ser a seguinte: a partir do momento
em que somos dotados da capacidade de pensar, somos livres e temos possibilidade de
escolha. Vivemos, até certo ponto, num universo físico determinista em que as leis da
natureza e os acontecimentos anteriores determinam muitas das nossas ações. Por
exemplo, chumbar de ano é o resultado de uma cadeia causal de não se ter estudado, de
se ter falta de atenção ou até de se ter faltado às aulas. No entanto quando tomamos
genuinamente uma decisão, temos livre-arbítrio, pois podíamos ter escolhido outra coisa
para além daquilo que decidimos. Então, as nossas ações, apesar de livres, sofrem
condicionalismos, logo somos apenas moderadamente livres.
//A minha conclusão é, por conseguinte, que as nossas ações são moderadamente livres.

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Bibliografia: 
https://soundcloud.com/carloscafepodcast/para-escuta-e-pensa-temporada-2-episodio-1?
fbclid=IwAR2AJ1CZvJYUtO9kdyOEfbu4JL4RSNRG7-
ME4UIy_efyE9tNGUsVfq2jXkA (28/01/2021)

https://visao.sapo.pt/opiniao/2019-02-04-O-enigma-do-livre-arbitrio/?
fbclid=IwAR3oL_qmIa7RvMVAvPRtmJq3IKZf-
lfq3mBtVKbSFE7gYes_eNVlticZmp0 (27/01/2021)

Manual (18/02/2021)

Fontes de pesquisa:
https://criticanarede.com/hkahanelivre-arbitriodeterminismo.html (18/02/2021)

https://pensarmaisccm.blogspot.com/2020/03/sera-o-livre-arbitrio-uma-ilusao.html
(18/02/2021)

https://visao.sapo.pt/opiniao/2019-02-04-O-enigma-do-livre-arbitrio/?
fbclid=IwAR3oL_qmIa7RvMVAvPRtmJq3IKZf-
lfq3mBtVKbSFE7gYes_eNVlticZmp0 (20/02/2021)

Manual (18/02/2021)

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