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Falácias Informais:

Apelo à ignorância

A falácia do apelo à ignorância consiste em tentar provar que uma proposição é verdadeira
porque ainda não se provou que é falsa, ou que é falsa porque ainda não se provou que é
verdadeira.

Por exemplo:
(1) Até hoje ninguém conseguiu provar que temos liberdade.
(2) Logo, a liberdade é uma ilusão.

Este tipo de argumento é falacioso, pois pelo facto de não se conseguir determinar o valor
de verdade de uma dada proposição em consideração daí não se segue que tal proposição
seja falsa.

Ataque à pessoa - ad hominem

Numa falácia do ataque à pessoa (ad hominem), procura-se descredibilizar uma


determinada proposição ou argumento atacando a credibilidade do seu autor.
Por exemplo:
(1) Defendes que Deus não existe porque apenas estás a seguir a moda.
(2) Logo, Deus existe.

Nesta falácia procura-se mostrar a verdade de uma determinada proposição ao atacar-se


quem defende o seu oposto, criticando-se a pessoa em vez daquilo que ela defende.

Derrapagem

A falácia da derrapagem (bola de neve) consiste em tentar mostrar que uma determinada
proposição é inaceitável, porque a sua aceitação conduziria a uma cadeia de implicações com
um desfecho inaceitável, quando, na realidade, ou um dos elos dessa cadeia de implicações é
falso, ou a cadeia no seu todo é altamente improvável.

(1) Se permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não tarda estaremos a
permitir a poligamia, o incesto e até a pedofilia.
(2) Mas isso é claramente intolerável, dado que conduzirá ao fim da civilização.
(3) Logo, não devemos permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Estamos perante uma falácia, uma vez que as premissas sustentam relações causais muito
duvidosas. Ou seja, do casamento homossexual não se segue causalmente coisas como a
pedofilia nem sequer o fim da civilização.
Espantalho

Através da falácia do espantalho pretende-se mostrar que se refutou um determinado


argumento, ou teoria, através da refutação de uma versão distorcida e enfraquecida do(a)
mesmo(a).

Por exemplo:
(1) Os defensores dos direitos dos animais sustentam que é tão errado matar um animal
como matar um humano.
(2) Mas isso é obviamente falso.
(3) Logo, os defensores dos direitos dos animais estão errados (ou seja, os animais não têm
direitos).

Falsa relação causal

A falácia da falsa relação causal, também conhecida pela expressão latina como “post hoc
ergo propter hoc” (“depois disso, logo causado por isso”), é um erro indutivo que consiste
em concluir que há uma relação de causa-efeito entre dois acontecimentos A e B que
ocorrem sempre em simultâneo ou em que A ocorre imediatamente após B.

Por exemplo:
(1) Sempre que o José entra com o pé direito na sala de aula tira positiva no teste de
filosofia. (2) Logo, a positiva que o José tira no teste é causada por entrar com o pé
direito.

Ad populum

A falácia ad populum consiste em apelar à opinião da maioria ou “ao povo” para se sustentar
a verdade de alguma afirmação. A estrutura do argumento é a seguinte: a maioria das
pessoas afirma que P; logo, P é verdadeiro. O problema desta inferência é que a maioria das
pessoas pode estar equivocada. Uma ilustração desta falácia pode ter esta forma:

(1) As sondagens indicam que os socialistas vão ter maioria no parlamento.


(2) Logo, deves votar nos socialistas.
Exercícios:

1. Considera os argumentos a seguir apresentados e depois seleciona a alínea que os


identifica corretamente.

i) Os seres humanos que existem atualmente (e também os que já existiram)


são incapazes de respirar (de modo natural, sem usar aparelhos) debaixo de
água. Por consequência, pode-se dizer que pelo menos as próximas gerações
de seres humanos não conseguirão respirar naturalmente debaixo de água.

ii) Os seres humanos e os chimpanzés têm muitas semelhanças de carácter


biológico: são mamíferos, primatas, partilham noventa e tal por cento dos
genes, muitas das suas estruturas cerebrais são parecidas, etc. Os seres
humanos, quando são alvo de choques elétricos, sentem dor e medo. Pode-se,
portanto, afirmar que os chimpanzés quando apanham choques elétricos
sentem dor e medo.

iii) Diversas equipas de astrónomos, nomeadamente da Agência Espacial


Europeia, declararam ter observado planetas fora do Sistema Solar. Como
tal, podemos afirmar que existem planetas fora do Sistema Solar.

iv) Até à atualidade os seres humanos têm-se revelado mortais.


Consequentemente, todo e qualquer ser humano é mortal.

A. i) generalização ii) previsão iii) argumento por analogia iv) argumento de


autoridade
B. i) generalização ii) argumento por analogia iii) argumento de autoridade iv)
previsão
C. i) generalização ii) argumento de autoridade iii) argumento por analogia iv)
previsão
D. i) previsão ii) argumento por analogia iii) argumento de autoridade iv)
generalização

2. Se, ao argumentar, concluirmos que qualquer guerra é injusta com base no exemplo
de uma única guerra, cometeremos a falácia da

A. amostra não representativa.


B. generalização precipitada.
C. falsa relação causal.
D. falsa analogia.

3. Os portugueses gostam de ler, já que 98% dos trinta mil clientes anuais da livraria
O MUNDO DOS LIVROS declarou gostar de ler. É inequívoco que neste argumento

A. a amostra não é representativa.


B. a amostra é demasiado pequena.
C. as semelhanças consideradas são irrelevantes.
D. não foram consideradas semelhanças em número suficiente.
4. Tal como Luís de Camões, Nuno Júdice é um bom poeta, uma pessoa inteligente e
dotada de espírito crítico. E, à semelhança do autor d’ Os Lusíadas, é culto e bem
informado. Ora, Nuno Júdice sabe navegar na Internet. Por isso, Luís de Camões
também sabia navegar na Internet.

Porque é que este argumento é uma falácia da falsa analogia?

5. Porque é que em filosofia os argumentos de autoridade são, geralmente, falaciosos?

6. Considera a seguinte frase:

A teoria de Karl Marx acerca do desenvolvimento histórico está errada.

6.1 Se a frase apresentada fosse a conclusão de um argumento, qual das


seguintes frases seria a premissa, de modo a este constituir uma falácia ad
hominem?

A. A doutrina de Marx acerca da evolução na história é muito inadequada.

B. Na opinião de quase todos os historiadores a explicação marxista da

história não corresponde aos factos.

C. Karl Marx não ganhava dinheiro suficiente para alimentar a família.

6.2 Se a frase apresentada fosse a conclusão, que falácia seria obtida se, como
premissa, fosse usada uma das duas frases não selecionadas na resposta à
questão 6.1? E se fosse usada a outra frase não selecionada na resposta à
questão 6.1?

7. Identifica as seguintes falácias informais.

A. Os alunos que defendem que é legítimo copiar nos exames estão errados, pois,
digam eles o que disserem, a verdade é que copiar nos exames não é lícito.

B. Nenhum filósofo conseguiu estabelecer inequivocamente que a ética é objetiva.


Por isso, a ética não é objetiva.

C. Se reconhecermos alguns direitos aos animais não humanos, por exemplo o


direito de não sofrerem desnecessariamente e de não serem torturados,
teremos de deixar de comer carne e… Bem, se calhar as coisas não ficarão por
aí e daqui a algum tempo seremos obrigados a conceder-lhes o direito de voto.

D. Bertolt Brecht defendia o comunismo e, portanto, as suas ideias acerca do


teatro só podem ser falsas.
E. Levei o meu cachecol da sorte e a pata de coelho que a minha avó me
ofereceu… Portanto, é claro que a seleção portuguesa ganhou o jogo!

F. Os seres humanos têm livre-arbítrio, pois são livres e podem fazer escolhas.

G. Sabias que quase 90 % dos seres humanos são religiosos? Que sentido tem, por
isso, o ateísmo? Nenhum!

H. O professor Júlio diz que ler livros é muito importante porque desenvolve a
inteligência. Mas eu sei que ele lê pouquíssimo. Por isso, não acredito no que ele
diz.

I. Quando, no parlamento inglês, foi discutida (e aprovada) uma proposta de lei


permitindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o deputado Roger Cale
criticou a proposta sugerindo que os defensores da legalização do casamento
homossexual a seguir até poderiam defender a legalização do incesto: «Se o
Governo estiver mesmo empenhado nisto, então que acabe com a lei da união
civil e crie uma lei que se aplique a todas as pessoas, independentemente da
sua sexualidade e dos seus relacionamentos. Isso significa irmãos com irmãos,
irmãs com irmãs e irmãos com irmãs.»

J. Quando, em 1858, Charles Darwin publicou o livro A Origem das Espécies houve
um aceso debate entre os defensores e os adversários das suas ideias. Estes
caricaturaram a ideia de que os seres humanos e outros primatas evoluíram a
partir de um antepassado comum dizendo «Darwin afirma que descendemos do
macaco» e eram frequentes ironias como «talvez os avós de Darwin fossem
macacos, os meus não».

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