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Filosofia  | 10.

º ano  José Ferreira Borges · Marta Paiva · Orlanda Tavares

Ensaio Filosófico

Oo
Índice
O ensaio filosófico no contexto das
Aprendizagens Essenciais – para o professor 5
Introdução 6
1. O que é um ensaio filosófico? 7
2. O que se avalia num ensaio filosófico? 7
3. Que tipo de exercícios pode ajudar à conceção
de um bom ensaio filosófico? Que “treino” há a efetuar? 8
4. Prazos, planificação e critérios de avaliação 11
5. Preparar a redação do ensaio filosófico 12
6. Redigir o ensaio filosófico: sua estrutura e aspetos
a que cada parte atende 13
7. Questões de estilo e apresentação e o que o ensaio não é 15
8. Avaliar o ensaio filosófico: uma proposta de grelha 15

Como fazer um ensaio filosófico? – para o aluno 19


1. O que é um ensaio filosófico? 21
2. Estrutura do ensaio filosófico 22
3. Exemplos de ensaios filosóficos elaborados por alunos 23

Bibliografia 30

3
O ensaio filosófico
no contexto das
Aprendizagens
Essenciais
Para o professor
Ensaio Filosófico

Introdução
O Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória
estabelece, entre outras, as seguintes competências-chave:

1. autonomia;
2. desenvolvimento pessoal;
3. pensamento crítico;
4. pensamento criativo;
5. raciocínio e resolução de problemas.1

Dificilmente se aceitará que o labor filosófico não tem tra-


dicionalmente como preocupação sua o desenvolvimento de
todas elas. Até mesmo aquela que é, porventura, a de mais
problemático consenso – o pensamento criativo – encontra
assentimento na filosofia. Como afirma Anthony Weston na
sua Ética para o Dia a Dia:

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Muitas vezes sentimo-nos encurralados, quando confrontados com um problema moral.
Poucas opções nos ocorrem e nenhuma delas é apelativa. Na realidade, associamos de ime-
diato a palavra “moral” à palavra “dilema”. Dilemas morais. É suposto termos duas e apenas
duas escolhas – ou de qualquer forma poucas – e frequentemente nenhuma das escolhas é
muito boa. Podemos escolher só o “menor de dois males”. Mas enfim, é a vida, é o que dizem.
Será? Com toda a seriedade: será? Quantos alegados dilemas são, na verdade, apenas
aquilo que os estudiosos da lógica designam de “falsos dilemas”? Quantas vezes, quando es-
tamos bloqueados, precisamos apenas de um pouco mais de imaginação? Em primeiro lugar,
não poderiam existir algumas formas imediatas de multiplicação de opções: formas que per-
mitissem simplesmente encontrar outras possibilidades, outras opções que não tenhamos
considerado? Porque não repensar o próprio problema, de forma a que seja evitado, no fu-
turo, ou transformado em algo mais facilmente resolúvel? Quão longe poderíamos chegar no
campo da ética, se a abordássemos com um pouco mais de criatividade?
Anthony Weston (2002), Ética para o Dia a Dia, Lisboa, Ésquilo, p. 57.

Por outro lado, as Aprendizagens Essenciais da Filosofia têm também como um dos seus pro-
pósitos o elenco de um mínimo denominador comum em termos de aquisições a efetuar na disci-
plina, uma espécie de condição necessária a um ensino efetivo de filosofia no ensino secundário.
Ora, numa analogia com o bem conhecido movimento minimalista nas artes, parece estar-se agora,
no ensino da disciplina em análise, diante do Less is More. Por outras palavras, parece atender-se
imperativamente a menos do que o programa estipula para se poder obter mais: aprendendo
menos obrigatoriamente, em termos de quantidade de itens programáticos, pode porventura ob-
ter-se mais autonomia, mais desenvolvimento pessoal, mais pensamento crítico, mais pensamento
criativo, melhor raciocínio e maior capacidade de resolução de problemas.

1 Guilherme d’Oliveira Martins (coord.) (2017), Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória, Lisboa, Ministé-
rio da Educação, p. 11.

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O ensaio filosófico no contexto das Aprendizagens Essenciais

Ora, um dos elementos que figura como um bom teste à aquisição destas competências é
precisamente o ensaio filosófico.

1. O que é um ensaio filosófico?


Um ensaio filosófico é uma defesa sustentada de uma determinada posição, com a forma de
um texto argumentativo. Face a um determinado problema filosófico, nele defende-se uma deter-
minada tese, alicerçada em argumentos.

2. O que se avalia num ensaio filosófico?


É imperativo ter este aspeto em atenção: um ensaio filosófico não avalia o que se defende,
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mas a forma como se defende o que se defende. O que está sob escrutínio não é a posição em si,
mas os alicerces dessa posição, a sua sustentação. Perante isto, não há que temer não ser “politi-
camente correto”. Pelo contrário, o que é preciso é ser-se “intelectualmente honesto”. Raciocinar
bem é, neste contexto, central.

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Ensaio Filosófico

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3. Que tipo de exercícios pode ajudar à conceção de um
bom ensaio filosófico? Que “treino” há a efetuar?
Um bom domínio da lógica, com as principais regras que a constituem, é naturalmente funda-
mental. Pressuposto o seu domínio, há ainda algumas tarefas prévias que podem ajudar quem
vai redigir um ensaio filosófico a familiarizar-se com o tipo de trabalho a realizar. Sugerimos aqui
três tipos de exercício:

1) Trabalhar com textos argumentativos, formulando problemas, identificando teses,


reconstituindo argumentos, assumindo posições pessoais.
2) Garantir a correção (validade, força, etc.) dos nossos argumentos e refutar a falta de correção
dos argumentos alheios (aqueles cuja tese estamos a contestar).
3) Exercitar o pensamento consequente (E se…?).

Trabalho com textos argumentativos


Começamos pelo 1) trabalho com textos argumentativos. Saber identificar a tese defendida,
não a confundindo com os argumentos que a suportam, e reconstituir os argumentos que lhe ser-
vem de alicerce, além de formular com precisão o problema a que se está a responder com aquela
tese, é fundamental. Ter sempre presente o seguinte:
■■ Uma tese é uma ideia que se está a defender, e funciona em termos práticos como a conclu-
são de um argumento (pode, e é habitual, recorrer-se a vários argumentos para defender uma
determinada tese, mas todos têm nessa mesma tese a sua conclusão, é ela o seu denomina-
dor comum, a ideia para que todos apontam ou que de todos se infere).
■■ Um argumento é uma razão que alicerça uma determinada tese, que lhe serve de fundação,
que a sustenta e por isso a impede de ser uma “afirmação avulsa” ou uma mera opinião.

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O ensaio filosófico no contexto das Aprendizagens Essenciais

■■ Uma objeção é um argumento de contestação, uma razão que se apresenta para refutar ou
impugnar a tese que não se está a defender.
■■ A anteceder todos estes elementos está o problema, e um problema é uma questão, uma
dúvida que se quer resolver; é a interrogação a que a tese enquanto afirmação responde, a
qual, por seu turno, tem argumentos a sustentá-la, além de objeções a contraditá-la.

Garantir a correção dos nossos argumentos e refutar


a falta de correção dos argumentos alheios
Dissemos também que é importante 2) garantir a correção dos nossos argumentos e refutar
a falta de correção dos argumentos alheios (aqueles cuja tese estamos a contestar). Como afir-
mam Baggini e Fosl:

Há duas maneiras básicas de fazer uma refutação […]. Pode-se mostrar que o argumento
é inválido: a conclusão não pode ser deduzida das premissas […]. Pode-se mostrar que uma
das premissas (ou mais de uma) é falsa.
J. Baggini, P. S. Fosl (2012), As Ferramentas dos Filósofos, São Paulo, Loyola, p. 41.

Significa isto que atender à forma lógica de um argumento é apenas uma das maneiras possí-
veis de o refutar. Pode (e deve) ter-se também em atenção a verdade das suas premissas (só ela
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confere solidez a um argumento válido). Num tempo em que as fake news proliferam, este aspeto
parece ser da maior importância. Há que verificar, por exemplo, em que estudo científico se sus-
tenta uma determinada premissa e qual a sua idoneidade, se o facto histórico invocado e que serve
de premissa num argumento é falso ou verdadeiro, etc.
Ensaio Filosófico

Exercitar o pensamento consequente


Por último, há que 3) exercitar o pensamento consequente. Se no início do ano letivo se escla-

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receu que a filosofia é um pensamento consequente, estando, portanto, o filósofo na inevitável
condição de submeter as suas conclusões à análise crítica de terceiros, de, se necessário, mudar
de posição por força das objeções, então há que treinar esta capacidade de pensar “à frente”.
Assim, podem retomar-se algumas perguntas efetuadas ao longo do ano (ou outras, filosóficas,
que também se poderiam agora fazer):
■■ E se o relativismo fosse a única solução possível para todos os problemas das sociedades
multiculturais?
■■ E se vivêssemos num estado de natureza?
■■ E se, tendo uma oportunidade de delinearmos uma sociedade justa, nos imaginássemos
numa situação de desconhecimento face a nós mesmos? Como a delinearíamos? Que prin-
cípios a configurariam?

Deste modo, o aluno familiariza-se com a capacidade de antecipar objeções, sendo este exer-
cício fundamental para começar em si o teste à resistência da sua tese. Evita-se, assim, a impreci-
são ou o contrassenso, que podem ocorrer por precipitação.

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O ensaio filosófico no contexto das Aprendizagens Essenciais

4. Prazos, planificação e critérios de avaliação


As Aprendizagens Essenciais estipulam, relativamente ao item de final de ano letivo, “Temas/
Problemas do mundo contemporâneo”, que “o desenvolvimento do tema deve ter por horizonte a
elaboração de um ensaio filosófico”, acrescentando depois que “a sua extensão e o grau de apro-
fundamento deverão ter em consideração a maturidade dos alunos (possível área de trabalho
transversal com outras disciplinas)”2. Daqui se inferem, pelo menos, dois aspetos:

1) há um momento específico do ano letivo para se efetuar o ensaio filosófico, que é
presumivelmente o terceiro período;
2) a extensão do respetivo documento e o seu grau de profundidade devem pautar-se pela
razoabilidade: adequado fundamentalmente ao desenvolvimento dos alunos.

Perante isto, o terceiro período perfila-se como o momento ideal para a realização deste tra-
balho. Face ao exposto, porque há um estudo prévio que deve ser efetuado para alicerçar idonea-
mente a posição a tomar, e porque a precipitação no juízo não é boa conselheira, sugere-se o se-
guinte calendário:

1) Início do terceiro período (se possível, na primeira aula): apresentação do tema/problema a


tratar no ensaio ou simplesmente da tarefa em si, no caso de se tratar de um tema/problema à
escolha do aluno, além de toda a metodologia que lhe é inerente.
2) Uma semana/Quinze dias depois: avaliação da informação recolhida, preferencialmente em
aula, que suportará o juízo final.
3) Durante o terceiro período, ainda que sempre antes da redação do documento final: realização
de exercícios de análise de textos filosóficos, a fim de se identificar o problema, descobrir a tese
e explicitar os argumentos usados para a defender; troca de impressões entre alunos e
professor, com o intuito de testar a resistência de alguns dos argumentos a mobilizar (verificar,
por exemplo, se ocorre alguma falácia); apresentação ao professor de um esboço ou de um
esquema do trabalho no qual já se possa entender qual irá ser a estrutura do ensaio.
4) Duas/Três semanas antes do final do período: entrega dos ensaios, de modo a garantir o
tempo necessário à sua avaliação.

Uma semana/
Início do terceiro
Quinze dias depois:
período:
avaliação
apresentação
da informação
do tema/problema
recolhida

Antes da redação Duas a três


do ensaio: semanas antes
exercícios de análise do final do período:
de textos filosóficos entrega dos ensaios
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2 Ministério da Educação (2018), Aprendizagens Essenciais | Filosofia 10.°, p. 13.

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Ensaio Filosófico

De referir, por último, um aspeto a não esquecer: incorporar na planificação da disciplina e

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nos seus critérios de avaliação o ensaio filosófico. Nada impede que possa valer tanto como um
teste de avaliação sumativa, embora, nesse caso, se deva especificá-lo, nomeá-lo enquanto tal,
de modo que não se confunda com outros trabalhos escritos.

5. Preparar a redação do ensaio filosófico


Estabelecido o problema filosófico a que o ensaio irá dar resposta, há que começar por “es-
tudar” o problema, fazendo as leituras que se afigurarem pertinentes. Apesar de o problema em
análise ser filosófico, nem todas as leituras a efetuar terão de ser oriundas do território específico
da filosofia, isto é, livros ou artigos filosóficos.
Atente-se, por exemplo, num problema de ética prática ou aplicada como este: “Que legitimi-
dade ética tem um Estado de geolocalizar os seus cidadãos para controlar uma pandemia?” Para
o efeito, é importante saber-se, por exemplo, quais são as tecnologias disponíveis, qual o seu
efetivo poder ou quais os riscos de “controlo” a elas associados, e para isso é muito provável
que não baste a consulta de obras de filosofia. Poderão então recolher-se dados na comunica-
ção social ou na literatura especializada sobre a proteção de dados.
Recolhidos esses elementos e avaliada a sua pertinência, há então que os dispor numa es-
trutura. Estamos a falar de um esboço do ensaio, que é da máxima importância para se perceber
o que ainda falta clarificar para melhor informar a posição, preferencialmente do tipo “sim” ou
“não”, que se irá tomar. É um momento de ponderação. E, caso se conclua que a informação
existente não é razão suficiente para inferir uma resposta afirmativa ou negativa ao problema a
que se refere o ensaio, assume-se, sempre com justificação, essa mesma posição: a da impos-
sibilidade de chegar “seguramente”, ou sem precipitação, a uma conclusão afirmativa ou nega-
tiva. Um erro em que não se deve cair, seja em que circunstância for, é o da falta de justificação,
patente no “sim porque sim” ou no “não porque não”.
O ensaio filosófico no contexto das Aprendizagens Essenciais

6. Redigir o ensaio filosófico: sua estrutura e aspetos a


que cada parte atende

Título
O título deverá, tanto quanto possível, ter a forma de uma questão: assim se percebe clara-
mente tratar-se de um problema, cujo conteúdo, expresso na questão, revelará ser um problema
especificamente filosófico. Ter também em atenção que o título deverá ser o mais claro possível,
para desse modo se perceber mais facilmente o tipo de resposta que se aceitará, que já dissemos
ser preferencialmente do tipo “sim” ou “não”. Assim, entre os títulos “Justiça e liberdade” e “Bastará
a uma sociedade justa que nela haja liberdades iguais?”, é preferível o segundo.

Bastará a uma sociedade


justa que nela haja
liberdades iguais?

Justiça e liberdade

Introdução
Na introdução, deverá formular-se claramente o problema a que se irá dar uma resposta, mas
não só. É também importante dar conta da sua relevância, e para isso poderá mostrar-se, por exem-
plo, o que pode (ou já está a) acontecer se não o enfrentarmos, designadamente, o que se pode (ou
já se está a) perder e o quanto há a ganhar se o enfrentarmos.
Dizer ainda, por exemplo, “Este ensaio tem como objetivo…”, especificando com precisão que
objetivo se pretende atingir, é também uma forma de o leitor melhor perceber o que vai encontrar
com o texto que tem em mãos, sendo esse, por isso, um aspeto a também contemplar na introdu-
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ção. Deve dizer-se já a conclusão a que se pretende chegar, isto é, a tese que se defenderá, porque
tal evita, por um lado, que o leitor se perca em “adivinhações” e, por outro, que salte para a conclu-
são do ensaio, que, em rigor, aparece no final, devendo, por isso, ser lida em último lugar.

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Ensaio Filosófico

Informar o leitor das partes em que se divide o desenvolvimento que se segue à introdução,

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com expressões como “Começo por” ou “Em primeiro lugar”, “Seguidamente” ou “Apresento num
segundo momento”, e “A concluir” ou “Por fim”, é também uma forma de lhe facilitar a leitura. Deve-
-se fazê-lo também na introdução.
É de notar, por último, que a introdução pode ser redigida (ou, talvez melhor, finalizada) apenas
no final da redação de todas as partes do ensaio. Sendo ela, grosso modo, uma visão panorâmica
do ensaio no seu todo, redigi-la retrospetivamente viabiliza uma melhor adequação entre o que no
início se pretendeu e aquilo a que no fim se chegou.

Desenvolvimento
O desenvolvimento é o corpo do texto. Nele apresentam-se as teses em confronto, escla-
rece-se em que se distinguem e expõem-se os argumentos em que cada uma se sustenta. Deve
dar-se particular importância às objeções que se fazem à “nossa” tese e, tanto quanto possível, à
sua refutação. Admitindo que “a melhor defesa é o ataque”, criam-se aqui condições para que a
nossa tese saia reforçada. Precisamente por isso, para que esse esforço não tenha sido em vão,
há então que passar em revista os argumentos que alicerçam a nossa tese e mostrar que são
bons ou, pelo menos, que são válidos ou fortes.
Um aspeto que convém ter em atenção é evitar caricaturar teorias diferentes daquela que
estamos a defender, “escondendo”, por exemplo, argumentos bons que lhes sirvam de fundações.
O mesmo se aplica à nossa tese, ainda que em sentido inverso: devem evitar-se os elogios.

14
O ensaio filosófico no contexto das Aprendizagens Essenciais

Conclusão
Chegamos então à conclusão. Reitera-se agora qual é a nossa tese, explica-se porque é que
saiu reforçada com este ensaio, e, se na introdução se esclareceu a importância do problema a
que a nossa tese dá resposta, agora esse procedimento aplica-se à nossa resposta em particular,
designadamente que consequências dela relevam para, por exemplo, um melhor entendimento
do mundo e de nós mesmos.

7. Questões de estilo e de apresentação e o que o ensaio


não é
Há algo que o ensaio não é: não é um texto literário, no qual se exprimam emoções ou se par-
tilhem impressões pessoais acerca de um determinado tema, mesmo que presumivelmente filosó-
fico. Isto significa que clareza, frases curtas, bons exemplos, indicadores de premissa e de con-
clusão e adjetivos q.b. são aspetos a ter em conta na redação. Há que pensar, quando se está a
escrever, como se quem vier a ler fosse alguém não especializado no tema, e precisamente por
isso há que simplificar.
O ensaio também não é uma compilação de textos de outros autores. Isto significa que o re-
gisto pessoal é inevitável. Como afirma Fernando Savater, “no ensaio, o conhecimento, e sobretudo
a busca do conhecimento, tem sempre voz pessoal […]. O ensaio expõe um ponto de vista”3. O uso
de expressões como “Irei defender que…” ou “Considero …” é, à partida, uma boa opção.
Daqui resulta que o ensaio filosófico não é um trabalho como aqueles que se fazem, por exem-
plo, numa cartolina com alguns recortes ou um vídeo com uma entrevista. Um ensaio é um texto, e
um texto argumentativo. Deve ser escrito em folhas brancas, sem capa, com páginas em número
razoável (nem de mais nem de menos), numeradas, só com imagens quando o tema o exige (filo-
sofia da arte, por exemplo), e com espaçamento, tipo e tamanho de letra adequados ao texto (por
exemplo, Arial ou Times New Roman, justificado, tamanho 12).

8. Avaliar o ensaio filosófico: uma proposta de grelha


Atente-se nas seguintes perguntas que apareceram em alguns dos últimos exames nacionais
de filosofia:

Exame Nacional de Filosofia, 2018 | 1.a Fase

De acordo com a análise tradicional do conhecimento, o conhecimento é crença verda-


deira justificada. Será que as conclusões dos argumentos indutivos fortes são conhecimento?
Na sua resposta, deve:
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■■ clarificar o problema apresentado;


■■ apresentar inequivocamente a posição que defende;
■■ argumentar a favor da posição que defende.

3  Fernando Savater (2008), A Arte do Ensaio, Lisboa, Temas & Debates, pp. 12-13.

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Ensaio Filosófico

Exame Nacional de Filosofia, 2019 | 1.a Fase

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Considere o caso seguinte.
A Maria sempre gostou muito de crianças e chegou a pensar em trabalhar como voluntária
numa associação de apoio a crianças doentes, mas acabou por concluir que seria muito difícil
conciliar esse trabalho com os estudos.
Entretanto, ela soube que o voluntariado era muito valorizado nas entrevistas de emprego.
Por essa razão, decidiu contactar uma conhecida associação de apoio a crianças doentes e
conseguiu ser admitida, passando a conciliar o trabalho de voluntariado com os estudos. Pela
sua dedicação e pela sua simpatia, a Maria destacou-se desde o primeiro momento como uma
das voluntárias favoritas das crianças e das famílias.
O apoio dado pela Maria às crianças doentes e às suas famílias tem valor moral? Na sua
resposta, deve:
■■ clarificar o problema filosófico inerente à questão formulada;
■■ apresentar inequivocamente a sua posição;
■■ argumentar a favor da sua posição.

Exame Nacional de Filosofia, 2019 | 2.a Fase

Alguns filósofos defendem que a sensação interior de liberdade se opõe à conceção


determinista do universo.
Será que essa sensação é uma razão forte para aceitarmos que o livre-arbítrio existe?
Na sua resposta,
■■ clarifique o problema do livre-arbítrio;
■■ apresente inequivocamente a sua posição relativamente à questão proposta;
■■ argumente a favor da sua posição.

Todas estas questões têm em comum três aspetos: a clarificação de um determinado pro-
blema, a apresentação inequívoca de uma posição pessoal face a essa questão e a argumenta-
ção a favor dessa posição. Ora, observando retrospetivamente o que já se afirmou relativamente
ao ensaio filosófico, verifica-se que nada há de significativamente diferente face ao que nele se
pede.
Como a grelha habitualmente usada para corrigir estas questões do exame tem a vantagem
de estar já sobejamente testada (por professores de todo o país e ao longo de vários anos) e ser
pouco ou nada contestada, sugere-se aqui a sua utilização para avaliar os ensaios filosóficos.
A versão aqui apresentada tem já os valores proporcionalmente traduzidos para uma escala de
200 pontos/20 valores.
Outro ganho (indireto) que se pode retirar da utilização desta grelha é, a manter-se o atual es-
tado de coisas, a familiarização dos alunos com um instrumento com que, entretanto, serão
avaliados, caso venham a realizar exame nacional. De referir ainda, por último, um aspeto a ter
em atenção: esta grelha emana diretamente do órgão máximo da educação a nível nacional, o
Ministério da Educação.

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O ensaio filosófico no contexto das Aprendizagens Essenciais

Grelha de Avaliação do Ensaio Filosófico4

A classificação final da resposta resulta da soma das pontuações atribuídas a cada parâmetro
A − Problematização: ................................................................................................................................. 40 pontos
B − Argumentação a favor de uma posição pessoal: .................................................................... 80 pontos
C − Adequação conceptual e teórica: ................................................................................................. 50 pontos
D − Comunicação: ...................................................................................................................................... 30 pontos

Parâmetros Níveis Descritores de desempenho Pontuação

Clarifica adequadamente o problema filosófico


2 40
apresentado.
A
Problematização
Clarifica com imprecisões, ou de modo implícito,
1 15
o problema filosófico apresentado.

Apresenta inequivocamente a perspetiva defendida.


Evidencia um bom domínio das competências
argumentativas:
■■ articula adequadamente os argumentos ou as
3 razões ou os exemplos apresentados; 80
■■ apresenta, com clareza e correção, argumentos
persuasivos, razões ponderosas ou exemplos
adequados e plausíveis a favor da perspetiva
defendida ou contra perspetivas rivais da defendida.

Apresenta inequivocamente a perspetiva defendida.


B
Evidencia um domínio satisfatório das competências
Argumentação
argumentativas:
a favor de uma
posição pessoal ■■ elenca argumentos ou razões ou exemplos;
2 55
■■ apresenta, com imprecisões, argumentos
persuasivos, razões ponderosas ou exemplos
adequados e plausíveis a favor da perspetiva
defendida ou contra perspetivas rivais da defendida.

Apresenta a perspetiva defendida, ainda que de modo


implícito. Evidencia uma intenção argumentativa, mas
os argumentos ou as razões apresentados a favor da
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1 25
perspetiva defendida, ou contra a perspetiva rival da
defendida, são fracos ou claramente falaciosos, ou os
exemplos selecionados são inadequados.

4  E
 laborado a partir da grelha utilizada no Exame Nacional de Filosofia. Encontra esta proposta de grelha em
formato editável na página do projeto, na Escola Virtual, capítulo “Grelhas de avaliação”.

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Ensaio Filosófico

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Parâmetros Níveis Descritores de desempenho Pontuação

Aplica corretamente conceitos relevantes para a


discussão do problema. Mobiliza (uma) perspetiva(s)
2 teórica(s) adequada(s) à discussão do problema 50
apresentado, mostrando compreensão dessa(s)
C perspetiva(s).
Adequação
conceptual Aplica com imprecisões conceitos relevantes para a
e teórica discussão do problema apresentado. Mobiliza com
imprecisões (uma) perspetiva(s) teórica(s)
1 25
adequada(s) à discussão do problema apresentado,
mostrando uma compreensão parcial dessa(s)
perspetiva(s).

Apresenta um discurso fluente. Escreve com sintaxe,


2 ortografia e pontuação corretas, podendo apresentar 30
falhas pontuais.
D
Comunicação
Apresenta um discurso pouco fluente. Escreve com
1 incorreções sintáticas, ortográficas ou de pontuação 10
que não afetam a inteligibilidade do discurso.

18
Como fazer um
ensaio filosófico?
Para o aluno
Como fazer um ensaio filosófico?

Como fazer um ensaio filosófico


1. O que é um ensaio filosófico?* 1

É muito provável que o seu professor lhe venha a pedir para redigir um ensaio filosófico no ter-
ceiro período, podendo até solicitar-lho noutra altura do ano letivo. Para ajudar nesse trabalho, deve
ter em atenção o que se segue.
■■ Um ensaio filosófico é uma defesa sustentada de uma determinada posição, com a forma
de um texto argumentativo. Face a um determinado problema filosófico, nele defende-se
uma determinada tese alicerçada em argumentos.
■■ Um ensaio filosófico não se avalia pelo que se defende, mas pela forma como se defende
o que se defende. O que está sob escrutínio não é a posição em si, mas os alicerces dessa
posição, a sua sustentação.
■■ Comece por “estudar” o problema, fazendo as leituras que se afigurarem
pertinentes. Apesar de o problema em análise ser filosófico, nem todas
as leituras a efetuar terão de ser oriundas do território específico da filo-
sofia, isto é, livros ou artigos filosóficos.
■■ Faça um esboço do ensaio, que é da máxima importância para perceber
o que ainda falta clarificar para melhor informar a posição, preferencial-
mente do tipo “sim” ou “não”, que irá tomar. É um momento de ponderação.
■■ Se concluir que a informação existente não é razão suficiente para inferir uma res-
posta afirmativa ou negativa ao problema a que se refere o ensaio, assuma, sempre
com justificação, essa mesma posição: a da impossibilidade de chegar, “seguramente” ou
sem precipitação, a uma conclusão afirmativa ou negativa. Um erro em que não se deve cair,
seja em que circunstância for, é o da falta de justificação, patente no “sim porque sim” ou no
“não porque não”.
■■ Um ensaio filosófico não é um texto literário, no qual exprima as suas emoções acerca de
um determinado tema. Isto significa que clareza, frases curtas, bons exemplos, indicado-
res de premissa e de conclusão e adjetivos q.b. são aspetos a ter em atenção na redação.
Quando estiver a escrever, pense como se o leitor fosse alguém não especializado no tema.
Simplifique.
■■ O ensaio também não é uma compilação de textos de outros autores. Isto significa que o re-
gisto pessoal é inevitável. O uso de expressões como “Irei defender que...” ou “Considero...” é,
à partida, uma boa opção.
■■ O ensaio filosófico não é um trabalho como aqueles que se fazem, por exemplo, numa carto-
lina com alguns recortes ou um vídeo com uma entrevista. Um ensaio é um texto, e um texto
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argumentativo. Deve ser escrito em folhas brancas, sem capa, com páginas em número ra-
zoável (nem de mais nem de menos), numeradas, só com imagens quando o tema o exige
(filosofia da arte, por exemplo), e com espaçamento, tipo e tamanho de letra adequados a
um texto (por exemplo, Arial ou Times New Roman, justificado, tamanho 12).

* Estes materiais encontram-se disponíveis para os alunos no Caderno de Atividades, nas páginas 80 e 81.

21
Ensaio Filosófico

2. Estrutura do ensaio filosófico*


Vamos ver agora qual deve ser a estrutura do ensaio e que aspetos devem ser incorporados

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em cada um dos itens.
Título
■■ O título deverá, tanto quanto possível, ter a forma de uma questão.
■■ Deverá ser o mais claro possível, para desse modo se perceber mais facilmente o tipo de
resposta que se aceitará, que já dissemos ser preferencialmente do tipo “sim” ou “não”.
■■ Assim, entre os títulos “Justiça e liberdade” e “Bastará a uma sociedade justa que nela haja
liberdades iguais?”, é preferível o segundo.
Introdução
■■ Na introdução deverá formular-se claramente o problema a que se irá dar uma resposta, mas
não só.
■■ É também importante dar conta da sua relevância, e para isso poderá mostrar-se, por exem-
plo, o que pode (ou já está a) acontecer se não o enfrentarmos, designadamente, o que se
pode (ou já se está a) perder e o quanto há a ganhar se o enfrentarmos.
■■ Convém dizer ainda, por exemplo, “Este ensaio tem como objetivo…”, especificando com pre-
cisão que objetivo se pretende atingir.
■■ Deve dizer-se já a conclusão a que se pretende chegar, isto é, a tese que se defenderá, porque
isso evita que o leitor se perca em “adivinhações”.
■■ Informar o leitor das partes em que se divide o desenvolvimento que se segue à introdução,
com expressões como “Começo por” ou “Em primeiro lugar”, “Seguidamente” ou “Apresento
num segundo momento” e “A concluir” ou “Por fim”, é uma forma de lhe facilitar a leitura. Deve-
-se fazê-lo na introdução.
■■ A introdução pode ser redigida (ou, talvez melhor, finalizada) apenas no final da redação de
todas as partes do ensaio.
Desenvolvimento
■■ O desenvolvimento é o corpo do texto.
■■ Apresenta as teses em confronto, esclarece em que se distinguem e expõe os argumentos
em que cada uma se sustenta.
■■ Dê importância às objeções que se fazem à “sua” tese e, tanto quanto possível, refute-as. Ad-
mitindo que “a melhor defesa é o ataque”, criam-se aqui condições para que a “sua” tese saia
reforçada.
■■ Passe em revista os argumentos que alicerçam a sua tese e mostre que são bons ou, pelo
menos, que são válidos ou fortes.
■■ Evite caricaturar teorias diferentes daquela que está a defender, “escondendo”, por exemplo,
argumentos bons que lhe sirvam de fundações. O mesmo se aplica à sua tese, ainda que em
sentido inverso: evite os elogios.
Conclusão
■■ Relembre agora qual é a “sua” tese.
■■ Explique por que motivo é que a “sua” tese saiu reforçada com o seu ensaio.
■■ Deixe bem claras as consequências que relevam da “sua” tese para, por exemplo, um melhor
entendimento do mundo e de nós mesmos.1

* Estes materiais encontram-se disponíveis para os alunos no Caderno de Atividades, nas páginas 80 e 81.

22
Como fazer um ensaio filosófico?

3. Exemplos de ensaios filosóficos elaborados por alunos

Texto 1
“Que legitimidade ética tem um Estado de geolocalizar os seus cidadãos
para controlar uma pandemia?”
Clara Martins1
Introdução
Vivemos um período de pandemia, marcado pelo medo e pela insegurança. Com o
aparecimento da COVID-19, governos de todo o mundo tiveram de implementar medi-
das que garantissem a proteção e assegurassem a saúde de toda a população dos seus
países. Agora, depois de um período de quarentena, estes questionam-se sobre as
medidas mais eficazes de modo a realizar um desconfinamento seguro.
Para além das medidas de segurança implementadas pela DGS, surgiu uma nova
ideia para prevenir e combater o coronavírus. Como sabemos, este pode provocar infe-
ções semelhantes a uma gripe comum ou apresentar-se como uma doença mais grave,
como pneumonia. O principal problema é que se alastra muito rapidamente e as pes-
soas que estão infetadas podem demorar até 14 dias para demonstrarem sintomas,
podendo, nesse espaço de tempo, infetar alguém.
Esta nova ideia, o contact tracing, tem sido discutida por grandes empresas, gover-
nos e inclusivamente pela União Europeia. Consiste na criação de aplicações móveis
que ajudem a identificar os cidadãos que podem ou não estar contaminados e aqueles
que, com receio de contraírem o vírus, pretendem ser avisados da hipótese de terem
estado em contacto com o mesmo. Estas aplicações funcionam através do Bluetooth.
Os telemóveis vão registando a proximidade de uns com os outros num intervalo de
vários dias, e assim, quando a um doente é diagnosticada a COVID-19, ele indica essa
informação à aplicação e é “marcado” como infetado. Nesse instante, os utilizadores
que registaram proximidade com o doente são notificados e deverão realizar testes de
despiste e/ou proceder ao isolamento social.
Posto isto, colocam-se inúmeras questões. Afinal, será esta medida eficaz e segura
ou as desvantagens sobrepõem-se às vantagens? Devemos abdicar da nossa privaci-
dade? Da nossa liberdade? E acima de tudo: “Que legitimidade ética tem um Estado de
geolocalizar os seus cidadãos para controlar uma pandemia?”
Neste ensaio vou analisar as vantagens e as desvantagens do uso das aplicações
que pretendem combater o coronavírus através do rastreamento de contactos. Vou
também apresentar a minha opinião sobre o problema, sustentando-a com os devidos
argumentos e refutando possíveis objeções à minha tese.
Não podia deixar de chamar a atenção para a importância deste problema. A imple-
mentação desta medida pode ser fulcral no combate ao coronavírus. Para além disto,
tal como todos os problemas da filosofia, o importante é gerar discussões pertinentes
sobre os temas em questão, mesmo que, por vezes, não exista solução para os mes-
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mos. Deste modo, somos obrigados a refletir e a desenvolver o nosso espírito crítico e
capacidade de argumentação.

1 Aluna do ensino secundário. Este texto foi revisto ortograficamente.

23
Ensaio Filosófico

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Desenvolvimento
Em resposta a este problema surgem duas teses concorrentes: o “sim” e o “não”.
Para certas pessoas, não devemos adotar a utilização de aplicações que usem o con-
tact tracing, porque estas conduzem ao fim da privacidade, ou até mesmo da liberdade.
Esta é a posição defendida por Kant. Este acredita que a utilização destas seria moral-
mente impensável, uma vez que, para Kant, há coisas que estão intrinsecamente erra-
das, como pôr em causa o direito à privacidade e liberdade de cada um de nós. Para
outros, sim, devemos utilizar estas aplicações e, sim, um Estado tem toda a legitimidade
ética para geolocalizar os seus cidadãos, de modo a controlar uma pandemia. Esta é a
tese defendida pelos utilitaristas, como Stuart Mill. Para um utilitarista, importam ape-
nas as consequências das ações e, deste modo, rastrear os contactos seria o moral-
mente correto, uma vez que geraria um bem maior para a população, preservando a
saúde pública e, consequentemente, gerando uma maior felicidade.
Eu defendo a tese apoiada pelos utilitaristas. Para mim, sim, um Estado tem toda a legi-
timidade ética para geolocalizar os seus cidadãos, de modo a controlar uma pandemia.
Na minha opinião, todas as medidas que possam ser adotadas para a prevenção do
vírus devem ser implementadas, independentemente de não serem 100% eficazes.
Cientistas, governos e especialistas de todo o mundo estão numa luta contra o tempo
para arranjarem soluções que permitam controlar o vírus, e por isto não devemos deixar
nenhuma possibilidade de fora, mas sim pensar de que modo é que podemos tirar o
melhor proveito destas. Para além disto, estas aplicações, acima de tudo, informam a
população, e todos nós sabemos que conhecimento é poder. Uma vez que as pessoas
tomem conhecimento de que estiveram em contacto com um portador do vírus, estas
irão imediatamente proceder a testes de despiste e/ou ao isolamento social. Desta
maneira, o contact tracing promove a saúde individual e pública, evitando também a
propagação do vírus, podendo ser um elemento fulcral no tempo de combate à pande-
mia. Estas aplicações são uma das imensas vantagens que a tecnologia nos propor-
ciona, e nós devemos tirar o maior proveito destas.
Apesar de todas estas vantagens, surgem certas objeções relativas à utilização de
aplicações que utilizam o contact tracing. A maior parte das pessoas questiona-se
sobre a eficácia destas aplicações e receia perder a privacidade dos seus dados. Para
além disto, questiona-se sobre a segurança proporcionada por estas e especialmente
pela possível violação dos seus direitos.
Em primeiro lugar, quanto às questões que se colocam sobre a privacidade e a
segurança que estas aplicações proporcionam, uma vez que muitos utilizadores temem
que os seus direitos sejam violados, não me parece que esta objeção tenha de ser um
problema para os utilizadores. Todos nós utilizamos a Internet com a consciência de
que, ainda que a privacidade dos nossos dados possa ser afetada, os benefícios da sua
utilização, como a liberdade que adquirimos para fazer certas atividades a partir desta,
transcendem qualquer tipo de problemas. Temos de pensar que, em troca de alguma
privacidade, o que estas aplicações oferecem, na verdade, é mais liberdade e mais
segurança, relativamente à nossa saúde.

24
Como fazer um ensaio filosófico?

Em Portugal, este problema nem se coloca. O primeiro-ministro António Costa já


assegurou que o Governo não irá impor a obrigatoriedade de qualquer mecanismo de
contact tracing, defendendo que são aplicações de uso voluntário, que não devem per-
mitir a georreferenciação e devem respeitar o regulamento europeu de proteção de
dados. Posto isto, sabemos que, através das aplicações que estão a ser desenvolvidas
que trabalham pelo Bluetooth, não são armazenados dados sobre os utilizadores e que
estes nunca são identificados, uma vez que elas trabalham com algoritmos. As aplica-
ções seguem o regulamento europeu de proteção de dados e é dada a liberdade de
escolha à população, quanto à adesão a estas aplicações.
Em segundo lugar, quanto à eficácia destas aplicações, está claro que estas não
funcionam a 100%. Porém, todas as medidas que se possam adotar são uma mais-valia.
Assim, tal como a utilização das máscaras foi alvo de várias críticas e mesmo sabendo
que estas também não garantem a proteção absoluta dos utilizadores, a Direção-Geral
da Saúde acabou por definir a sua utilização como indispensável, sem esquecer todas
as outras recomendações. Para além disto, não nos podemos esquecer de que a única
medida 100% eficaz será a vacina.
É também argumentado que nem todas as pessoas teriam hipótese de aceder a
estas aplicações, como crianças e a população mais idosa ou com dificuldades econó-
micas, podendo não ter telemóveis ou não saber trabalhar com estes. Considero que,
quanto às crianças, não será um problema, visto que estão sempre acompanhadas
pelos pais, que podem aceder a estas aplicações. Apesar disto, quando estas vão para
a escola ou creches, se os pais das restantes crianças acederem às aplicações, tam-
bém estas vão estar mais protegidas. Quanto à população impossibilitada de aceder a
estas aplicações, se a maioria, da restante população, as utilizar, não está apenas a con-
tribuir para a sua saúde, mas também para a saúde pública, protegendo, consequente-
mente, a população mais propícia à contração do vírus. Assim sendo, apela-se à adesão
destas aplicações e à entreajuda, especialmente à população mais idosa, que necessita
de apoio nas deslocações a serviços e realização de tarefas.

Conclusão
Para concluir, apesar de não podermos garantir que a privacidade dos utilizadores
destas aplicações será respeitada, até porque se coloca a possibilidade de serem víti-
mas de um ataque informático, a não adesão a estas aplicações poderá ter consequên-
cias bastante piores. Para além disto, não nos podemos esquecer de que qualquer
medida que beneficie o combate ao coronavírus deve ser, simultaneamente, com as
restantes recomendações, adotada. Depois de muita análise e reflexão, considero que
é um risco que devemos correr, uma vez que empresas como a Google e a Apple já têm
acesso aos nossos dados, e esta seria uma maneira de os usar para o bem de todos
nós.
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25
Ensaio Filosófico

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Referências:
https://executivedigest.sapo.pt/covid-19-trocava-a-sua-privacidade-por-mais-liber-
dade-seguranca-ou-saude/

https://observador.pt/opiniao/covid-19-e-o-nosso-direito-a-privacidade/

https://24.sapo.pt/tecnologia/artigos/sera-a-privacidade-a-ultima-vitima-da-covid-19

https://www.publico.pt/2020/04/23/tecnologia/noticia/covid19-mundo-segue-infecta-
dos-bluetooth-pulseiras-gps-1913633

https://www.noticiasaominuto.com/tech/1498410/costa-afasta-imposicao-de-qual-
quer- mecanismo-de-contact-tracing

https://www.cuf.pt/mais-saude/coronavirus-o-que-e-sintomas-e-como-prevenir

https://eco.sapo.pt/2020/05/08/o-que-e-o-contact-tracing-perguntou-ao-goo-
gle-nos-respondemos/

26
Como fazer um ensaio filosófico?

Texto 2
“Privacidade ou segurança? Devem ter acesso aos nossos dados para
nos protegerem da pandemia?”
Marta Matos2

Nos dias de hoje, muitos afirmam que a tecnologia é a solução para tudo. É verdade
que a tecnologia é uma das coisas mais confortáveis que a Humanidade já inventou,
porém, é este excesso de acessibilidade e facilidade que lentamente nos está a prender
numa bolha gigante de informação e muito pouco privada, sem sequer darmos conta
disso. Com o crescente avanço tecnológico, as nossas vidas estão cada vez mais
expostas e “registadas”; um simples aparelho eletrónico regista todos os aspetos da
nossa vida, desde simples chamadas telefónicas até à conversa que tivemos no café
com amigos, enquanto o dispositivo estava ligado. Por isso, registar mais outro dado
das nossas vidas, por mais inofensivo que nos pareça, é, a meu ver, o fim da privaci-
dade. Com este ensaio, pretendo mostrar que, ao registar a nossa vida desta maneira,
mais tarde ou mais cedo, vão usar esta tecnologia contra nós. Pode não ser da mesma
maneira que vemos nos livros, como em 1984, de George Orwell, ou nos episódios de
Black Mirror, mas perderemos a nossa liberdade. Ao termos necessidade de usar a tec-
nologia constantemente, quer seja por trabalho ou lazer, será muito mais difícil des-
prendermo-nos dela, de modo que acabaremos sempre por aceitar os “Termos e as
Condições” sem os lermos.
Então, deveremos deixar que, mais uma vez, nos invadam a privacidade e rastreiem
os nossos dados, de modo a conter a pandemia, ou não, e deixar que a responsabili-
dade e consciência de cada um tome uma decisão? Como é possível perceber, sou con-
tra a utilização e recolha de dados pessoais, para prevenir a pandemia.
Primeiramente, um sistema de rastreamento de dados seria um meio muito lento e
pouco eficaz para parar a pandemia, e, por conseguinte, não necessário. Até uma pes-
soa perceber que está infetada, já poderá ter contaminado outras tantas, e, embora
pareça eficaz, não o é, pois, com tantos infetados, é extremamente difícil ter o tempo e
o equipamento para prosseguir este sistema. Portanto, seria uma gravação de dados
totalmente desnecessária, pois acabariam por desistir desse sistema, devido à enorme
quantidade de números de dados para serem analisados, de tantas pessoas que o tele-
móvel detetaria. Para fundamentar este argumento, dou o exemplo da fábrica onde a
minha mãe trabalha: se uma rapariga está infetada, infeta outros tantos na fábrica, que
consequentemente infetam as suas famílias, cujos maridos trabalham em outras fábri-
cas e estabelecimentos, acabando por também infetar mais pessoas, e por aí fora. Tam-
bém não faria sentido ter uma aplicação à qual nem todos teriam acesso, como a
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população infantil ou idosa. Portanto, a melhor maneira de prevenir este vírus é a lava-
gem frequente das mãos e o cumprimento das outras regras estabelecidas.

2 Aluna do ensino secundário. Este texto foi revisto ortograficamente.

27
Ensaio Filosófico

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Em segundo lugar, apresento uma afirmação feita por um dos nomes que trabalham
com a questão da privacidade nestes meios. Snowden mostra-nos uma perspetiva que
poucos levam em conta: a pandemia é uma situação passageira, mas as decisões que
tomamos ficam para sempre. Mesmo quando a tecnologia de rastreamento não for mais
necessária, ela simplesmente não deixará de existir. Os nossos dados continuarão
registados e até, possivelmente, poderão continuar a registar. Portanto, se aprovarmos
o rastreamento, será o último passo até perdermos toda a privacidade da nossa vida,
pois é impossível, nos dias de hoje, não ter um único aparelho tecnológico, e perdere-
mos o direito de usufruir da tecnologia sem nos expormos completamente. Neste sen-
tido, é necessário ponderar seriamente, como Stuart Mill faria, e analisar qual das
opções, a longo prazo, nos proporcionaria maior felicidade.
Com isto, quero adicionar a perigosa possibilidade de que, mais tarde, poderemos
vir a utilizar a nossa tecnologia contra nós próprios. Comprometer a nossa privacidade
desta forma é uma maneira de perdermos outros direitos fundamentais, ou seja, com a
existência de “mapas de relações”, rastreamento de movimentos e outas tantas coisas,
perderemos a liberdade de circulação e expressão. Por mais que a prioridade neste
momento seja travar o vírus, ao perdermos o direito à privacidade, esta tecnologia pode
vir a servir para controlar a população e assim retirar-lhe a sua liberdade. A HRW afirma
que isto pode ser uma “medida de vigilância […] disfarçada de saúde pública”. Para
complementar este argumento, devemos ter em conta as palavras de Aldous Huxley,
sobre o seu livro Admirável Mundo Novo: “O Homem está a rumar a passos largos para
ser subjugado pelas próprias invenções […]. O preço da liberdade, e até da simples
humanidade, é a vigilância eterna.”
Em terceiro lugar, apresento um argumento contra a minha posição. Em diversos
artigos vemos empresas como a Google e a Apple a afirmarem que uma das suas prio-
ridades seria a segurança e privacidade dos utilizadores desta nova app. Então, a utili-
zação da app poderia até ser uma mais-valia, pois seria completamente segura. No
entanto, considero este argumento um pouco instável, pois, para este projeto ser
seguro, existem três parâmetros que precisam de ser 100% respeitados: a transparên-
cia, a garantia e a confiança; nenhum pode falhar. Porém, não há nada nem ninguém que
nos garanta que estes parâmetros serão assegurados e que a lei é cumprida, pois exis-
tem sempre problemas, tais como o vazamento de informação, a corrupção e a venda
de dados. Então, porque é que o povo, que já está familiarizado com este tipo de fraudu-
lência, voltaria a confiar novamente num mundo repleto de mentirosos?
Outro argumento contra a minha tese que pretendo refutar é “A privacidade pode
ser trocada por mais liberdade”. Acho este argumento bastante fraco, pois só comprova
a ignorância da sociedade dos dias de hoje. É verdade que, atualmente, a privacidade é
vista como “uma moeda de troca”, para aceder a diversas coisas, neste caso, a saúde.
Porém, a sociedade não repara naquilo que está a trocar, está tão cega pela necessi-
dade e comodismo que nem leva em consideração aquilo de que está a abdicar. Como

28
Como fazer um ensaio filosófico?

podemos observar, na China ou na Rússia, a privacidade chegou ao fim e a tecnologia


tomou conta da população, ao ponto que agora estes governos estão a usá-la para con-
trolarem e oprimirem o povo. Na China, os hábitos da população são controlados,
enquanto na Rússia utilizam as câmaras dos telemóveis para controlo. Temos de olhar
para estes países e perceber que um dia podemos ser nós a ser controlados.
Por último, quero refutar uma afirmação feita por uma colega, “o conhecimento é
poder”, e mostrar como este ditado tão comum se pode aplicar a ambas as teses. No
caso da minha colega, ela utilizou esta afirmação para constatar que os nossos dados
pessoais são um conhecimento poderoso no combate à pandemia. Porém, eu digo que
o conhecimento dos nossos dados pessoais é, sim, uma arma poderosa não contra o
vírus, mas contra nós mesmos.
Concluindo, não podemos deixar que um vírus venha acabar com uma coisa pela
qual a Humanidade lutou durante séculos: a liberdade. E não importa a situação: a liber-
dade é um dos bens mais preciosos conquistados, e não podemos deixar que no-la reti-
rem. É verdade que o problema do presente é a luta contra a pandemia, a corrida contra
o tempo que as notícias nos demonstram todas as noites. Porém, se não pensarmos no
futuro, um problema bem maior abater-se-á sobre o mundo – a falta de liberdade. Já
observei anteriormente as drásticas consequências e a gravidade da situação. Agora
cabe-nos a nós decidir. Após a leitura de diversos artigos, apercebi-me de que a situa-
ção é bem pior do que eu havia imaginado e que, brevemente, poderemos vir a “viver”
uma distopia que nunca foi descrita.

Ensaio
Filosófico
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29
Bibliografia
Bibliografia
BAGGINI, J.; FOSL, P. S. (2012), As Ferramentas dos Filósofos, São Paulo, Edições Loyola.

MARTINICH, A. P. (2002), Ensaio Filosófico: o que é, como se faz, São Paulo, Edições Loyola.

MARTINS, Guilherme d’Oliveira (coord.) (2017), Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória, Lisboa, Ministério
da Educação.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (2018), Aprendizagens Essenciais | Filosofia 10.°.

SAVATER, Fernando (2008), A Arte do Ensaio, Lisboa, Temas & Debates.

SINGER, Peter (1993), Ética Prática, Lisboa, Gradiva.

WESTON, Anthony (1996), A Arte de Argumentar, Lisboa, Gradiva.

WESTON, Anthony (2002). Ética para o Dia a Dia, Lisboa, Ésquilo.


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31
EQT10EFER-3
Escape room
Tema/Módulo: A ação humana e os valores
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Manual, páginas 212-213.


Subtemas:
■■ A ação humana – análise e compreensão do agir.
■■ A dimensão pessoal e social da ética.
■■ A necessidade de fundamentação da moral.
■■ O problema da organização de uma sociedade justa.
Objetivo: Compreender a ação humana, os valores e a dimensão ético-política.
Onde encontra a Escape room 2? No Manual Digital Em Questão 10, na página 213.
Sobre a Escape room 2
A Escape room 2 seguirá a mesma lógica dos enigmas da Escape room 1, mas à luz dos con-
teúdos dos capítulos 4, 5, 6 e 7.
16
Escape room 2:
A ação humana
e os valores
Escape room
Aprendizagens Essenciais abordadas
■■ Caracterizar a filosofia como uma atividade conceptual crítica.
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■■ Clarificar a natureza dos problemas filosóficos.


■■ Explicitar os conceitos de tese, argumento, validade, verdade e solidez.
■■ Operacionalizar os conceitos de tese, argumento, validade, verdade e solidez, usando-os
como instrumentos críticos da filosofia.
■■ Aplicar o quadrado da oposição à negação de teses.
■■ Explicitar em que consistem as conectivas proposicionais de conjunção, disjunção
(inclusiva e exclusiva), condicional, bicondicional e negação.
■■ Aplicar tabelas de verdade na validação de formas argumentativas.
■■ Aplicar as regras de inferência do modus ponens, do modus tollens, do silogismo
hipotético, das Leis de De Morgan, da negação dupla, da contraposição e do silogismo
disjuntivo para validar argumentos.
■■ Identificar e justificar as falácias formais da afirmação do consequente e da negação do
antecedente.
■■ Clarificar as noções de argumento não-dedutivo, por indução, por analogia e por
autoridade.
■■ Construir argumentos por indução, por analogia e por autoridade.
■■ Identificar, justificando, as falácias informais da generalização precipitada, amostra não
representativa, falsa analogia, apelo à autoridade, petição de princípio, falso dilema, falsa
relação causal, ad hominem, ad populum, apelo à ignorância, boneco de palha e
derrapagem.
■■ Utilizar conscientemente diferentes tipos de argumentos formais e não formais na análise
crítica do pensamento filosófico e na expressão do seu próprio pensamento.
■■ Aplicar o conhecimento de diferentes falácias formais e não formais na verificação da
estrutura e qualidade argumentativas de diferentes formas de comunicação.
Soluções dos enigmas
Na página do projeto, na Escola Virtual, encontra o guia de exploração desta escape room
com as soluções de cada um dos enigmas.
14
Escape room 1: Introdução à filosofia e à lógica
Estamos trancados! Usa a lógica e descobre
Como vamos conseguir sair? o que esta sala encobre.
Como é que isto começou? Se daqui queres sair,
Porque estamos aqui? as portas eu terei de abrir!
Para às perguntas responder, E agora? Ajuda-nos, por favor!
a sala terás de explorar.
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Os elementos interativos
vão ficar disponíveis nesta
barra lateral.
Estamos trancados!
Como vamos conseguir sair?
Como é que isto começou?
Porque estamos aqui?
Para às perguntas responder,
a sala terás de explorar.
Usa a lógica e descobre
o que esta sala encobre.
Se daqui queres sair,
as portas eu terei de abrir!
E agora? Ajuda-nos, por favor!
13
Escape room
Cenário introdutório
Sala futurista com a porta fechada. O vídeo introdutório explica que só com a lógica será pos-
sível sair daqui.
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A sala tem visíveis – não particularmente evidentes – os objetos (elementos interativos) que
fazem parte dos desafios. O cenário é ainda composto pelo inventário e pelo temporizador .
A resolução dos enigmas é sequencial.
12
Escape room
Tema/Módulo: Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar
Subtemas:
■■ A filosofia e os seus instrumentos.
■■ Lógica proposicional clássica.
■■ O discurso argumentativo e os principais tipos de argumentos e falácias informais.
Objetivo: Apreender conceitos básicos da filosofia e alguns conceitos da lógica formal
e informal.
Onde encontra a Escape room 1? No Manual Digital Em Questão 10, na página 103.
Objetos da Escape room
Lanterna UV
Tablet Impressão digital
Smartphone
QR code
Cofre Letras Comando
de Pintura de O Pensador,
Livros Óculos de realida escultura de Rodin. Pens
virtual
Letras
Chave Computador Porta de saída

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11
Escape room
Escape room 1: Introdução à filosofia
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e à lógica
Manual, páginas 102-103.
10
Escape room 1:
Introdução à filosofia
e à lógica
Escape room
Integração das escape rooms
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na aprendizagem da filosofia
O raciocínio lógico é bastante requerido na resolução de cada um dos enigmas das
escape rooms. Elas podem ser usadas no sentido de desenvolver esse raciocínio lógico e
como parte de experiências de aprendizagem e/ou avaliação:
■■ Avaliação diagnóstica, a fim de testar as competências prévias dos alunos, antes de
começarem um novo tópico, para que o professor possa avaliar e identificar eventuais
lacunas que necessitem de uma abordagem mais centrada.
■■ Apresentação de novos conteúdos, conceitos ou ideias aos alunos de uma forma original
e desafiante como estratégia para a estimulação da curiosidade.
■■ Consolidação de conhecimentos e aplicação de competências já aprendidas naquela
unidade.
■■ Avaliação formativa, tanto para o professor como para os alunos, para avaliar o progresso
e áreas que precisam de atenção adicional.
■■ Avaliação sumativa no final de uma unidade de estudo, para verificar se os resultados da
aprendizagem pretendidos foram, ou não, alcançados.1
1 Adaptado de Using escape rooms in teaching, School Break Handbook 1, Co-funded by the Erasmus + Pro-
grammes of the European Union. Retirado de http://www.school-break.eu/wp-content/uploads/2020/03/
SB_Handbook_1_eER_use_in_teaching.pdf [Consult. 13 fev 2020]
8
Escape room
■■ Resolução de problemas: as escape rooms apresentam uma variedade de diferentes tipos
de enigmas com códigos, para permitir aos alunos encontrar e manipular objetos e
quebra-cabeças digitais complexos. Os alunos confrontam-se com uma série de enigmas,
desenvolvendo competências como as de pensar a partir de problemas e as de aplicar
abordagens alternativas para a sua resolução.
■■ Resiliência: os alunos fazem, persistentemente, várias tentativas para resolver os enigmas de
maneiras distintas e procuram ativamente soluções diferentes.
■■ Pensamento criativo: muitos dos problemas e quebra-cabeças que os alunos enfrentam nas
escape rooms exigem que eles pensem de forma flexível e combinem objetos e ideias de um
modo original. Este tipo de pensamento é, pois, um alicerce importante para a criatividade e
para a inovação.
■■ Gestão do tempo: está em jogo um desafio com tempo controlado. A par da colaboração,
o tempo limitado promove a gestão geral de recursos.
■■ Motivação: a natureza digital do jogo oferece uma experiência envolvente que é motivadora
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para muitos alunos.
7
Escape room
Escape rooms – o que são?
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As escape rooms constituem um fenómeno de entretenimento relativamente recente


que se tornou popular a partir de 2010. Normalmente, uma escape room é um jogo disputado
por uma pequena equipa de pessoas (geralmente de 4 a 8) que são “trancadas” numa sala e
têm de resolver um conjunto de enigmas, dentro de um tempo preestabelecido (aproximada-
mente uma hora), para conseguirem escapar. Atualmente, podem ser encontradas em muitas
cidades espalhadas pelo mundo, inclusive em Portugal.
Consideradas atividades de lazer bastante popula-
res, as escape rooms chamaram a atenção dos educa-
dores, que rapidamente perceberam o seu potencial
para a aprendizagem, convertendo-as, em muitos casos,
numa experiência digital. A razão pedagógica para o uso
de jogos educativos como as escape rooms, em formato
digital, é o facto de permitirem o desenvolvimento de
competências transversais:
■■ Comunicação e cooperação: as escape rooms
oferecem oportunidades para grupos de alunos
trabalharem em conjunto na resolução de enigmas,
obtendo os benefícios da colaboração e da troca de
ideias e perceções dos colegas. As escape rooms
podem ser desenhadas de modo que seja mais
vantajosa a resolução de enigmas a partir do
“pensamento coletivo”.
6
Escape room
Índic
Escape rooms 8
Escape rooms – o que são? 6
Integração das escape rooms na aprendizagem da filosofia 8
Escape room 1: Introdução à filosofia e à lógica
Escape room 1: Introdução à filosofia e à lógica 9
Objetos da Escape room 11
Cenário introdutório 12
Aprendizagens Essenciais abordadas 14
Soluções dos enigmas 14
Escape room 2: A ação humana e os valores
Escape room 2: A ação humana e os valores 15
3
Filosofia  | 10.º ano  José Ferreira Borges · Marta Paiva · Orlanda Tavares
Escape Room
Oo

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