Você está na página 1de 16

METODOLOGIA DE PESQUISA EM FILOSOFIA

INTRODUÇÃO

Escrever, em filosofia, é diferente do que se pede ao estudante para redigir noutros


cursos. A maior parte das estratégias descritas abaixo serão úteis também quando o
estudante precisar de escrever ensaios noutras disciplinas, mas não se deve
presumir automaticamente que o seja, nem que as orientações dadas por outros
professores serão necessariamente úteis quando se escreve um ensaio de filosofia.

Para os cursantes de filosofia há perguntas frequentes quando a matéria é


metodologia de investigação científica. Perguntas como estas (ver abaixo) não
escapa ao crivo de um estudioso iniciante de filosofia:

· Como se faz uma pesquisa em filosofia? Como é que se escreve em filosofia?

· Será que as pesquisas em filosofia são como as das outras ciências como:
Educação, Psicologia, Estatística, Sociologia?

· Como é que se organiza uma pesquisa em filosofia? Quais os métodos a usar?


Como abordar um problema filosoficamente etc?

· Que tipo de pesquisa são as filosóficas?

· Como se abordam e arrumam os argumentos? Etc… etc…

Responder a estas perguntas é o que pretendemos fazer no estudo que se segue.


Falo-e-mos seguindo a risca os conselhos metodológicos dos Professores James
Pryor da Universidade de Princeton (EUA), Umberto Eco Professor emérito da
Universidade de Milão e alguns conselhos metodológicos do professor José Castiano
vice-reitor da Universidade Pedagógica de Moçambique, entre outros. Também
recomendamos as leituras dos estudos dos escritores brazileiros Maria e De Sousa
(1995) no Filosofia: um outro olhar.

1
Não queremos atribuir créditos falsos a este trabalho. A nossa contribuição
consistiu, na sua maior parte, em coleccionar e organizar sugestões das outras
pessoas. Boa parte dos conselhos que apresentamos aqui fora tomadas de
empréstimo dos apontamentos dos nossos professores e colegas de escritório. Não
podemos esconder que também tenhamos encontrado alguns destes conselhos ao
ler alguns guias deste género na Internet, foi inevitável mas o trabalho foi assaz
laborioso. Lamentamos de não ter registrado os endereços onde nos longínquos
anos coleccionamos essas notas nos nossos dispositivo de informação. Um conselho
metodológico pode ser encontrado e consultado também nos estudos da Prof.
Catarina Cuambe (2012) com o título: Indicações Metodológicas para Trabalhos de
Tese em Filosofia e Ética, assim como os estudos da prof. Olívia Matusse (2013)
Metodologia de Investigação científica.

Tema e delimitação do tema:

É o assunto que se deseja desenvolver é a delimitação conceitual, geográfica,


temporal e espacial da realidade, do tema que se quer pesquisar ou conhecer. Seja
ela a ideia de um ou vários autores, seja ela o contexto de uma determinada época
histórica, ou mesmo o conceito que se tem ou se tinha sobre algo em determinada
época.

Exemplo: Contribuição de Aristóteles na sistematização da lógica como disciplina


filosófica.

Formulação do Problema Pesquisa:

Problema de Pesquisa é o se pretende analisar, ou precisamente o que se quer


saber da realidade pesquisada. Pode ser elaborado em forma de pergunta ou
mesmo uma afirmação. Segundo o endereço www.pedagogiaemfoco.pro.br -
acessado em Agosto de 2005:

“O problema é a mola propulsora de todo o trabalho de pesquisa. Depois de


definido o tema, levanta-se uma questão para ser respondida através de uma
hipótese, que será confirmada ou negada através do trabalho de pesquisa. O
Problema é criado pelo próprio autor e relacionado ao tema escolhido. O autor, no
caso, criará um questionamento para definir a abrangência de sua pesquisa. Não há
2
regras para se criar um Problema, mas alguns autores sugerem que ele seja
expresso em forma de pergunta.”

Veja os seguintes exemplos abaixo:

Exemplo 1:

Nietzsche, ao pregar o aniquilamento da consciência moral vigente de toda


compaixão humana, concebe o homem como um ser que cria valores. Como um
destruidor de crenças, mitos, do cristianismo, da massificação das artes e dos
valores morais, torna-se uma voz quase solitária na defesa do restabelecimento de
uma ordem original das coisas.

Exemplo 2:

A história do pensamento metafísico se preocupou largamente com a questão: o


que é o ser, sobretudo em defini-lo. E a própria História da Metafísica nos mostrou
que a multiplicidade das respostas não satisfazem o espírito humano, um exemplo
claro é a confusão que se instalou entre a noção de Ente, Essência e Substância. Para
Heidegger, Parménides descobriu o ser, já Platão o teria ocultado por buscar o
sentido do Ser nos Entes. É nesse sentido que Heidegger se propõe esclarecer, não a
definição, mas o sentido do Ser, pois para ele enquanto não compreendermos a
temporalidade, esquecida pela metafísica tradicional, de que ela pertence por
essência ao sentido do ser, como o tempo é o fundamento da manifestação e da
apreensão do ser, continuaremos prisioneiros da ilusão metafísica. Falaremos do ser
mas não compreendermos o que estamos a dizer, diz ele em Ser e Tempo: o ser que
estamos a falar somos nós próprios, e o fundamento deste é o tempo (Heidegger,
2005).

Exemplo 3:

Será que Aristóteles teve êxitos na sistematização da lógica como disciplina


filosófica no percurso da história? Até que ponto podemos considerar o papel de
Aristóteles na contribuição, daquilo que hoje é considerado instrumento de
pensamento ou de argumentar? Ou será que Aristóteles condicionou o percurso da
existência da lógica?

3
A tarefa do pesquisador será daqui em diante buscar os pilares principais em que os
autores se pautam, e como eles constroem os seus conceitos buscando demonstrar
os caminhos em que formulam suas polémicas teorias e soluções dos seus
problemas. Regra geral não existe uma fórmula específica de formular um problema
de pesquisa.

Objectivos

Um ensaio de filosofia como qualquer outro trabalho pode ter vários objectivos.
Geralmente começamos por apresentar algumas teses ou argumentos para
consideração do leitor, passando de seguida a fazer uma ou duas das coisas
seguintes:

Criticar o argumento, ou demonstrar que certos argumentos em defesa da tese não


são bons.

Defender o argumento ou tese contra uma crítica.

Oferecer razões para se acreditar na tese.

Oferecer contra-exemplos à tese.

Contrapor os pontos fortes e fracos de duas perspectivas opostas sobre a tese.

Dar exemplos que ajudem a explicar a tese, ou a torná-la mais plausível.

Argumentar que certos filósofos estão comprometidos com a tese por causa dos
seus pontos de vista, apesar de não a terem explicitamente afirmado ou endossado.

Discutir que consequência a tese teria, se fosse verdadeira.

Rever a tese à luz de uma objecção qualquer.

Abrir caminhos de reflexão sobre uma determinada tese.

É necessário apresentar explicitamente as razões que sustentam as nossas


afirmações, independentemente de quais destes objectivos tenhamos em mente. Os
pesquisadores geralmente sentem que não há necessidade de muita argumentação
4
quando uma dada afirmação é para eles evidente; mas é muito fácil sobrestimar a
força da nossa própria posição. Afinal de contas, já a aceitamos. O pesquisador deve
presumir que o leitor ainda não aceita sua posição e tratar o ensaio como uma
tentativa de persuadir o leitor. Por isso, não se deve começar um ensaio com
pressupostos que quem não aceita a nossa posição vai com certeza rejeitar. Se
queremos ter alguma hipótese de persuadir as pessoas, temos de partir de
afirmações comuns, com as quais todos concordam.

Um bom ensaio de filosofia é modesto e defende uma pequena ideia, mas


apresenta-a com clareza e objectividade, e oferece boas razões em sua defesa.

Muitas vezes, as pessoas têm demasiados objectivos num ensaio de filosofia. O


resultado disto é, normalmente, um ensaio difícil de ler e repleto de afirmações
pobremente explicadas e inadequadamente defendidas. Portanto, devemos evitar
ser demasiado ambiciosos. Não devemos tentar chegar a conclusões extraordinárias
num ensaio de 5 ou 6 páginas. Feita adequadamente, a filosofia avança em
pequenos passos.

Justificativa:

Segundo Gil (2002, p. 162):

“Trata-se de uma defesa inicial do ensaio, que pode incluir:

· Factores que determinaram a escolha do tema, sua relação com a experiência


profissional ou académica do autor, assim como sua vinculação à área temática e a
uma das linhas de pesquisa do curso.

· Argumentos relativos à importância da pesquisa, do ponto de vista teórico,


metodológico ou empírico;

· Referência a sua possível contribuição para o conhecimento de alguma


questão teórica ou prática ou ainda não solucionada.”

5
Metodologia:

Neste item devem ser explicitadas as técnicas de colecta de dados ou instrumentos


de pesquisa, sujeitos e tipos de pesquisa, formas de análise dos dados. A
metodologia deve explicitar como vai ser desenvolvido o trabalho, se possível
elaborar um esquema explicativo tornara uma explicação mais clara, concisa e
ilustrativa.

A Metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exacta de toda acção


desenvolvida ao longo do trabalho de pesquisa.

a) Natureza das pesquisas em Filosofia

Em filosofia e suas áreas afins a natureza da pesquisa é qualitativa, pois há um


esforço para rastrear, analisar, contextualizar os pensamentos, valores, suposições e
informações a serem obtidas nos textos do autor e seus comentaristas.

b) Tipo de pesquisa

Quanto a tipologias as pesquisas filosóficas classificam-se em: é pesquisas puras, ou


teórica (as pesquisas filosóficas quanto ao tipo também pode ser designada de
analítica, filosófica ou pesquisa pura as denominações variam de acordo com os
autores), bibliográfica e documental. Teórica porque analisa uma determinada
teoria ou pensamento, e bibliográfica porque partimos do princípio de que todo
estudo que se queira científico deve ter esse pressuposto alicerçado em autores e
respectivas obras, documental porque referem-se a documentos oficiais, decretos,
leis, regulamentos e outros documentos normativos.

c) Métodos de pesquisa

Uma vez que a natureza destas investigações são teórica, analítica, pura ou
filosófica, os método adequados para estas são:

6
1. Análise do conteúdo do pensamento do autor: aqui recorre-se ao conteúdo do
pensamento, a obras originais ou pelo menos as traduções das originais,
correlacionando com as interpretações que este teve no pensamento filosófico. Faz
o esforço de apresentá-lo sem manipulá-los evitando no máximo comentários de
manuais, recorrendo a estes quando as circunstâncias assim o exigirem. Aqui o
pesquisador/estudante tem a possibilidade de pensar sobre os problemas
cotidianos a luz da perspectiva do pensador em estudo.

2. Método Sistemático: este consiste em coleccionar um conjunto de


conhecimentos previamente organizados e estruturados que privilegia a forma em
detrimento do conteúdo, repetem-se as teorias culturalmente consolidadas.

3. Método Histórico: procura evidenciar-se a maneira peculiar como cada homem


foi enfrentado os problemas apresentados no decurso da sua existência. Esse
método incita o pesquisador a encarar o acto de filosofar como resposta criativa aos
problemas e suas situação novas; ou seja, o pesquisador faz um recuo ao passado e
resgata a maneira encontrada pelos homens para enfrentar seus problemas ao
longo do tempo.

4. Método de Análise Linguístico: este é um método complementar que auxilia a


leitura e análise dos textos filosóficos com a finalidade de determinar o significado
das palavras e outras expressões desconhecidas presentes no texto a ser usado,
servem também para reconstruir a etimologia de uma palavra, remontando à sua
origem.

Neste ponto preferimos usar a expressão métodos de pesquisa no lugar de


abordagem da pesquisa, para encontrar em conformidade com os restantes cursos e

7
no lugar de métodos preferimos referir que processos mentais; além de mais a
expressão processos mentais é mais adequada e clara. Mais do que isso, podemos
dizer que esses métodos não são o únicos existem uma vasta gama de métodos que
nos podem facilitar o estudo de textos filosóficos, o que referenciamos são apenas
exemplos. E muitas vezes é difícil usar um único método sem se valer dos outros.

d) Processo Mental

Tanto para o filósofo como para qualquer pesquisador se vale da indução quando,
após examinar através de várias técnicas a ocorrência sistemática de factos
singulares, percebe a regularidades desses factos, o que lhe permite fazer
generalizações. Ou seja, que nós como pesquisadores concluímos a partir da
regularidade de certos factos singulares, a sua constância; da constatação de certos
factos, a existência de outros ligados aos primeiros na experiência anterior. Então, a
indução nada mais é senão um raciocínio ou forma de conhecimento pela qual
passamos do particular ao universal, do específico ao geral, dos factos constantes as
leis ou teorias gerais.

Por Exemplo:

Se ponho três vezes minha mão dentro de um saco de feijão e todas as vezes tiro
um feijão preto. A frequência dos feijões pretos (constante K) me levará a concluir
que o saco é de feijões pretos!

Mas também o pesquisador pode se valer da dedução que lhe garante a verdade de
suas conclusões. Parte-se de afirmações comprovadamente correctas e verdadeiras,
aceites universalmente; o resultado obtido será também verdadeiro e correcto, ou
seja, aqui o pesquisador tira de uma ou varias proposições uma conclusão que delas
decorre logicamente, normalmente os processo mentais dedutivos não trazem nada
de novos e as margens de erro e novidade são quase que inexistentes.

No primeiro caso (indução) estamos aptos a novidade e surpresa a conclusão pode


ser totalmente nova, porque a frequência da repetitividade dos factos pode se
8
interromper e alterar o curso da pesquisa e suas conclusões, já no segundo caso,
não! A conclusão não traz nada de novo senão aquilo que sobejamente
conhecíamos.

Porém tanto num quanto noutros há limites excesso e perigos: a filosofia como as
outras ciências não é infalível. A ciência vive disso: da sua falibilidade, no dizer do
Prof. Brazão Mazula é este o pilar que lhe ajuda a manter-se e a degradar-se, é
contraditório porém interessante.

e) Análise do conteúdo da pesquisa

Para analisar as informações recolhidas podemos estruturar o nosso percurso dessa


forma:

Figura 1 – Fases de organização da pesquisa

Especificamente as fases 1 e 2 a Leitura - têm em vista a familiarização com os


textos; 3. A Análise e Interpretação - têm em vista o exame profundo dos textos. 4.
A Comparação e redacção após os processos anteriores far-se-á uma síntese síntese
das ideias organizadas, e far-se-á conclusões gerais redigindo os textos.

Cronograma:
O tempo previsto para cada etapa de pesquisa depende do tipo da sua finalidade.

ATIVIDADES / PERÍODOS Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abri Mai jun jul

1 Levantamento de literatura X X

2 Montagem do Projecto X

3 Colecta de dados X X X X

9
4 Tratamento dos dados X X X

5 Elaboração do Texto Final X X X

6 Revisão do texto X

7 Entrega do trabalho X

Orçamento

(Opcional)

Referências Bibliográficas:

Todos os livros e textos que foram utilizados para a elaboração do projeto, digitados
em ordem alfabética.

Glossário:

Explicação dos termos técnicos usados pelo autor, contexto, etc.

Estrutura do trabalho

Na proposta da Cuambe (2012) propõe a seguinte estrutura que passamos expor


abaixo:

PRELIMINARES

a) Capa

b) Folha de aprovação

c) Declaração de Honra

d) Dedicatória

e) Agradecimentos

f) Lista de Abreviaturas

10
g) Índice

h) Resumo (deve ser de uma página no mínimo, contendo as palavras-chave que


serão no primeiro capítulo. Ex: Liberdade, valores, existencialismo)

INTRODUÇÃO

Na introdução deve constar o tema, o problema (é fundamental a sua


contextualização, ou seja a explicação clara que ditou sua identificação) (AA.VV.,
2006), justificativa, objectivos gerais e específicos, metodologia seguida e a
estrutura geral do trabalho.

DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento subdivide-se em capítulos cujos básicos, aqueles que não podem


faltar são:

Capítulo 1 – Ao longo deste capítulo, o pesquisador faz a definição de conceitos ou


palavras-chaves de forma objectiva e clara de modo a facilitar a delimitação do
campo de reflexão e a compreensão da abordagem particular desenvolvida pelo
estudante pesquisador.

Nota: As definições não podem ser feitas em geral, mas alicerçadas nas obras do
autor que se pretende analisar, ou mesmo para facilitar a compressão melhor seria
comparar do autores em estudo e seus contemporâneos ou outros autores
posteriores a ele.

Capítulo 2 – Constitui a parte central da tese onde o estudante apresenta de forma


clara, lógica e científica o pensamento do autor à volta do tema escolhido. Espera-se
que o estudante faça referência às obras do autor através de citações pontuais e
directas, mostrando ter lido e analisado o pensamento do autor, “bebendo-o”

11
directamente da fonte (das obras próprias do autor, demonstrando o
desenvolvimento de um debate particular à volta do seu pensamento).

Capítulo 3 – É de teor crítico. O estudante servindo-se e apoiando-se em outros


autores com/ou comentaristas tece uma crítica filosófica, mostrando os pontos
fortes e fracos do pensamento do autor em questão e seus reflexos na história da
filosofia. Entretanto, é nesta parte que se procede a avaliação ou comparação do
autor estudado com os demais, procurando assumir uma posição particular ou
demonstrar a nova visão.

Capítulo 4 – É de actualização; o estudante deve fazer um cruzamento entre o


pensamento do autor e a situação real da época (do país) na qual o estudante
desenvolve a sua pesquisa, evidenciando a sua relevância, os efeitos que pode
trazer a sua aplicação e as oportunidades de reflexão que se abrem para o futuro.

CONCLUSÃO

É uma das partes mais importante dum trabalho científico. Nela, o estudante deve
revisitar o seu trabalho e extrair dele os aspectos fundamentais ou as principais
conclusões (as ideias/argumentos chaves) para depois indicar novas pistas de
reflexão e aprofundamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Nesta parte deve-se fazer a apresentação de todos os autores consultados e citados


no trabalho com todos os dados complementares que possam facilitar a
identificação da obra consultada.

12
Nota: Num trabalho filosófico não se coloca a bibliografia geral. Nas referências
bibliográficas só se indicam obras, artigos ou fontes que constam no texto, a nível de
citações directas ou indirectas

ANEXOS

O estudante pode colocar o material que faz referência à vida e obras do autor
analisado ou em estudo, dado que esta parte não deve constar dentro do
desenvolvimento do trabalho.

CONSTRUÇÃO DOS ARGUMENTOS

Um ensaio de filosofia consiste numa defesa argumentada de uma afirmação. Os


estudantes ou pesquisadores devem oferecer um argumento a favor desse
argumento. Não podem consistir na mera exposição das suas opiniões, nem na mera
apresentação das opiniões dos filósofos discutidos. É preciso que o estudante
defenda as afirmações que faz e que ofereça razões para se pensar que são
verdadeiras.

Por exemplo: o pesquisador não pode simplesmente dizer:

A minha opinião é que Heidegger revolucionou a História da Metafísica (P)

Porem deve antes dizer algo como:

A minha opinião é que Heidegger revolucionou a História da Metafísica (P).

Penso isto porque… pelas suas investigações e pelo retorno as fontes gregas, tornou
o Ser numa linguagem dizível que não seja metafísica e, portanto, mais
compreensível e real, para ele o ser não se encontrava na esfera superior como
queriam os escolásticos, o ser estava diante de nos, somos nos mesmos em cada
caso, o ser é physis no seu permanecer e desaparecimento.

13
ou:

Penso que as seguintes considerações apresentadas por Heidegger... (Q)

“Natureza” não é apenas o conjunto das coisas que há no Universo; “Natureza”


(physis) é o conjunto das coisas que há no Universo “enquanto que todas elas
“nascem” (phyo) dum único “princípio” (arkhé) universal” , natureza é presença,
vigência, estar presente ou actualidade.

Oferecem um argumento convincente em defesa de (P) …

“Os gregos definiam o ser como vigência do que está presente. A noção de vigência
lembra a de actualidade, a actualidade é um momento do tempo, a definição do ser
como vigência refere-se, pois, ao tempo.

Se tento, agora, determinar a vigência a partir do tempo e se busco, na história do


pensamento, o que foi dito sobre o tempo, descubro que desde Aristóteles a
essência do tempo é determinada a partir de um ser já determinado. E é por esse
motivo que tentei desenvolver, em Ser e tempo, um novo conceito do tempo e da
temporalidade no sentido da abertura.1[1]

Da mesma forma, o pesquisador não deve dizer simplesmente:

Descartes afirma que (Q)… “Penso logo existo”

1
[1] Martin Heidegger, .Entrevista concedida por Martin Heidegger ao Professor Richard Wisser., in: O que
nos faz pensar. Homenagem a Martin Heidegger por ocasião do vigésimo aniversário de sua morte,
Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. 1996, n. 10, vol. 1, p. 15-16)
14
Ao invés disso, terá de dizer algo como o seguinte:

Descartes afirma que (Q)…“Penso logo existo”; contudo, a seguinte experiência


mental demonstrada por Heidegger (de que primeiro existimos ou somos no
mundo) mostrará que não é verdade que (Q)... que o pensamento é a condição da
existência dos sujeitos”;

Ou:

Descartes afirma que (Q)… “penso logo existo”;.

Julgo que esta afirmação é plausível, pelas seguintes razões...

a) Remonta aos clássicos de que a essência precede a existência.

b) De que antes de os objectos vir a existência existe uma ideia (forma) sobre ela
como sustenta a metafísica de Aristóteles;

c) De que só quem pensa autonomamente existe.

d) E, por fim, para nos separar dos restantes seres vivos do reino animal.

(Isso é apenas um exemplo)

Originalidade

O objectivo dos ensaios é demonstrar que o estudante entende o problema e é


capaz de pensar criticamente sobre ele. Para que isto aconteça, o ensaio do
estudante tem de revelar algum pensamento independente.

Isto não significa que o estudante tem de apresentar a sua própria teoria, ou que
tenha de dar uma contribuição completamente original para o pensamento
humano. Haverá muito tempo para isso no futuro. Um ensaio bem escrito é claro e
directo, rigoroso ao atribuir opiniões a outros filósofos, e contém respostas
ponderadas e críticas aos textos que lemos. Não é necessário inovar sempre.

15
Mas, o estudante deve tentar trabalhar com os seus próprios argumentos, ou a sua
maneira de elaborar, criticar ou defender algum argumento que viu nas aulas. Não
basta simplesmente resumir o que os outros disseram.

16

Você também pode gostar