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UNIDADE TEMÁTICA: Racionalidade argumentativa da filosofia e a

dimensão discursiva do trabalho filosófico

Unidade temática: Tese, argumento, validade, verdade e solidez

Sumário:
 Nota prévia
 Levantamento de questões sobre o conteúdo a aprender
 Levantamento de questões sobre o processo de aprendizagem (metacognição)
 Exploração de textos e de argumento:
Texto de J. Schand
Texto de A. Weston
Texto de Maura Iglesias
Argumento sobre o valor da Filosofia
 Atividades de consolidação da aprendizagem
 Sugestões de resposta

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano1


© Raiz Editora, 2018. Todos os direitos reservados.
Nota prévia

Os materiais a seguir apresentados têm apenas como objetivo ajudar o professor/professora


na abordagem do tema. De modo algum, por si só , sã o suficientes para a sua exploraçã o, nem é
essa a sua pretensã o.

Os textos escolhidos, particularmente o A e o C, bem como o argumento D, permitem


estabelecer linhas de continuidade entre esta nova unidade temá tica e a anterior.

Levantamento de questões sobre o conteúdo a aprender


1. Que objetivo se pretende atingir quando se recorre à argumentaçã o?
2. Que meios se utilizam para atingir esse objetivo?
3. Quais sã o os elementos que constituem um argumento? O que é que o distingue de um nã o
argumento?
4. Quando é que um argumento é vá lido? Porque é que é importante que um argumento seja
vá lido?
5. Quando é que um argumento é só lido/consistente? Porque é que é importante que um
argumento seja só lido?
6. O que é um argumento?

Levantamento de questões sobre o processo de aprendizagem


(metacognição)
1. Como é que posso saber se um texto/discurso/enunciado é argumentativo?
Que perguntas devo fazer para «descobrir»?
2. Como é que posso perceber bem as diferenças entre um argumento e um nã o argumento?
3. O que preciso de saber para decidir da validade ou nã o validade de um argumento?
4. O que preciso de saber para decidir da consistência ou nã o consistência de um
argumento?
5. Que estratégia posso usar para identificar o tema abordado num texto?

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano2


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Exploração de textos e de argumento

A.

«A filosofia não é um luxo; de facto, torna-se mesmo uma necessidade a partir do momento em
que as pessoas têm capacidade e vontade para examinarem livremente as suas crenças. As
terríveis consequências que no decurso da história da humanidade decorreram de crenças
assumidas dogmaticamente testemunham suficientemente a necessidade de se filosofar: Quem
quer que examine de mente aberta e crítica ideias fundamentais, em vez de simplesmente as
aceitar, começou a fazer Filosofia.»
J. Shand, Philosophy and Philosophers: An Introduction to Western Philosophy, 2014.
No excerto aqui apresentado:
1. Destaque o enunciado verbal que formula a tese defendida.
2. Destaque as premissas em que a tese se alicerça.
3. Procure dar forma padronizada a este argumento.
4. Aprecie a sua solidez/consistência.
5. Defina argumento, destacando os elementos que precisam de estar presentes (mesmo que
apenas implicitamente) para se estar perante um discurso argumentativo.

B.

«Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar porque constituem uma forma de tentarmos
descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas
conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras com razões menos boas. No entanto
não sabemos, na maioria das vezes, quais são as melhores conclusões. Precisamos por isso de
apresentar argumentos para sustentar diferentes conclusões e depois avaliar tais argumentos
para ver se são realmente bons. Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação.»
A. Weston, A Arte de Argumentar, 1996.
1. Qual é o tema abordado no texto?
2. Qual é a tese defendida?
3. Qual é a expressã o/termo/conceito que o autor usa para designar a tese?
4. Que premissas/proposiçõ es/asserçõ es sustentam a tese?
5. Qual é a expressã o/termo/conceito que o autor usa para designar as premissas
(proposiçõ es que antecedem a conclusã o)?
6. Quando é que um ponto de vista (tese/conclusã o) é preferível a outro?
7. Que requisitos terã o de estar presentes para os argumentos serem bons/só lidos?
Quais sã o os principais critérios para avaliar os argumentos?

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano3


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C.

«Quando se examina a história das civilizações até um passado muito recente, um aspeto que
chama a atenção é o do dinamismo das sociedades ocidentais, em comparação com as orientais.
A civilização ocidental não só elaborou as teorias físicas que resultaram na tecnologia moderna,
mas também todas as grandes teorias no campo da biologia, da psicologia, da política, da
economia, etc. que revolucionaram a visão tradicional sobre os homens e as suas instituições.
Com os seus méritos e deméritos, vantagens e desvantagens, todo esse dinamismo tem a ver
com o tipo de pensamento desenvolvido no Ocidente, isto é, com a filosofia.»
Maura Iglesias, in A. Resende, Curso de Filosofia, 1986.
1. Explicite a tese defendida pela autora.
2. Identifique a premissa que fundamenta a tese.
3. Identifique a evidência aduzida para reforçar a premissa.
4. Procure exemplos que conheça que ilustrem as razõ es aduzidas pela autora (no domínio
da ciência e da tecnologia, no domínio da prá tica política, no domínio da justiça social, ou
outros.

D.

Considere o seguinte argumento:


Só tem valor o que tem utilidade prática;
A Filosofia não tem utilidade prática;
A Filosofia não tem valor.

1. Identifique as premissas (razõ es) e a conclusã o (tese).


2. Nas premissas, dos três termos – «valor», «utilidade prá tica» e «Filosofia» –, identifique o
termo médio, isto é, o termo que permite que exista relaçã o entre as premissas.
3. Analise o argumento do ponto de vista da sua validade ló gica.
4. Analise o argumento do ponto de vista da verdade das premissas.
5. Avalie se este argumento é consistente.

[Pistas de reflexã o: Para decidir acerca da validade de um argumento é preciso verificar se a


conexã o entre as premissas e a conclusã o está bem estabelecida: se nã o há contradiçã o, se nã o
se afirma mais na conclusã o do que se afirma nas premissas (isto é, se nenhum termo está
tomado na conclusã o numa extensã o maior da que é a considerada nas premissas). Nã o
esqueça que um argumento vá lido apenas nos assegura que, se as premissas forem
verdadeiras, a conclusã o será verdadeira (como se diz, num argumento vá lido, a conclusã o
preserva a verdade das premissas).]

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano4


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Atividades de consolidação da aprendizagem
Tarefa 1. Propor a grupos de alunos(as) que construam um texto argumentativo no qual vã o
defender a necessidade da Filosofia, enquanto outros grupos terã o a tarefa de
construir um texto contra-argumentativo.
Depois de produzidos os textos, avaliar e decidir da respetiva validade ló gica e
consistência/solidez.
Tarefa 2. Responder à s questõ es sobre o tema inicialmente levantadas.

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano5


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Sugestões de resposta

Processo de aprendizagem (metacognição)


1. Para decidir se estou perante um texto argumentativo, devo perguntar: querem persuadir-me/convencer-
me de alguma coisa? Apresentam-me motivos/razõ es para eu aceitar aquilo de que me querem persuadir?

2. Para perceber bem e nã o esquecer a diferença entre um argumento e um nã o argumento, devo obter
exemplos destes dois tipos de enunciados. Partir do exemplo para o conceito, do concreto para o abstrato,
do particular para o geral é a metodologia correta para aprender porque permite perceber porque é que as
coisas sã o de uma maneira e nã o de outra.

3. Obviamente, tenho de conhecer as regras que governam o pensamento ló gico e, depois, tenho de procurar
aplicá -las ao caso em aná lise.

4. Quanto à consistência, além da validade, tenho de verificar a situaçã o de verdade ou de falsidade das
proposiçõ es.

5. Uma possível estratégia para identificar o tema abordado num texto é observar o termo/expressã o (e os
equivalentes) que ocorre com maior frequência; normalmente é suficiente para a identificaçã o.

Consolidação da aprendizagem
Texto A.

1. O enunciado verbal que formula a tese aqui defendida é: «A filosofia nã o é um luxo, de facto trata-se mesmo
de uma necessidade.»

2. As premissas que suportam a tese sã o: «As terríveis consequências que no decurso da histó ria da
humanidade decorreram de crenças assumidas dogmaticamente testemunham suficientemente a
necessidade de se filosofar»; «[A Filosofia implica] que se examine de mente aberta e crítica ideias
fundamentais».

3. Em forma padronizada, o argumento pode ser apresentado nos seguintes termos:

O exame aberto e crítico das nossas crenças fundamentais é necessá rio (para se evitarem
consequências terríveis);

A Filosofia faz um exame aberto e crítico das nossas crenças fundamentais;

A Filosofia é necessá ria (para se evitarem consequências terríveis).

4. Este argumento é consistente porque as premissas em que se baseia sã o plausíveis, aceites comummente e
suportadas por evidência histó rica; por outro lado, a ligaçã o entre as premissas e a conclusã o está em
conformidade com os princípios ló gicos.

Texto B.

1. O texto aborda o tema da argumentaçã o.

2. Defende a tese de que os argumentos sã o essenciais – sã o um recurso importante e imprescindível.

3. O autor nã o fala em tese mas sim em conclusã o/conclusõ es, que é uma expressã o equivalente, pois num
argumento há uma conclusã o (tese) que decorre da aceitaçã o de determinadas premissas.

4. A premissa que sustenta a tese/conclusã o é a de que: os argumentos permitem descobrir os melhores


pontos de vista (teses/conclusõ es).

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano6


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5. O autor nã o fala em premissas, mas sim em razõ es; ora, de facto, a funçã o das premissas é aduzirem razõ es
para se aderir à conclusã o.

6. Um ponto de vista (tese, conclusã o) é preferível a outro quando for suportado por melhores razõ es que nos
«obriguem» a aceitá -lo.

7. Um bom argumento tem de resistir ao teste da validade, da verdade e da solidez ou consistência. Ou seja, a
conexã o entre as premissas e a conclusã o tem de ter sustentaçã o ló gica (validade); as premissas devem ser
aceites como verdadeiras.

Texto C.

1. A tese (implícita) é a de que a Filosofia é uma atividade intelectual extremamente valiosa.

2. Assenta na premissa de que as civilizaçõ es que desenvolveram o pensamento filosó fico revelaram-se muito
mais dinâ micas do que aquelas em que este nã o conheceu um desenvolvimento significativo.

3. A autora lembra factos sobejamente conhecidos, nomeadamente o facto de nas civilizaçõ es ocidentais terem
surgido ciências e correntes técnicas que revolucionaram o modo de perceber os seres humanos e as
instituiçõ es sociais.

4. Alguns exemplos: Foi no Ocidente que surgiu a ciência moderna; foi no Ocidente que os homens foram à Lua;
foi no Ocidente que se implantaram os primeiros regimes democrá ticos; foi no Ocidente que se defenderam
os direitos das mulheres e das minorias e que se defenderam os direitos humanos enquanto direitos
universais.

Argumento D.

1. 1.ª premissa: «Só tem valor o que tem utilidade prá tica.»; 2.ª premissas: «A Filosofia nã o tem utilidade
prática.» Conclusã o: «A Filosofia nã o tem valor.»

2. O termo médio é o termo «utilidade prá tica».

3. Testando a validade do argumento: Observâ ncia das regras: Uma das premissas é negativa e a conclusã o
também é negativa. O termo médio nã o entra na conclusã o. O termo médio está tomado uma vez em sentido
universal. Nenhum termo tem maior extensã o na conclusã o do que a que tem nas premissas. Logo, o
argumento é vá lido.

4. Testando a consistência do argumento: A primeira premissa é falsa porque nã o corresponde à verdade: o


universo das «coisas» que têm valor é maior do que o universo das coisas que têm utilidade prá tica; logo,
nã o sã o equivalentes como se pretende fazer crer. Para perceber a sua falsidade, basta imaginar como um
pintor, um artista, um desportista, um religioso (entre outras pessoas) reagiriam à afirmaçã o contida na
primeira premissa.

5. Logo, o argumento, embora vá lido, nã o é consistente e o seu poder persuasivo é diminuto.

Adília Maia Gaspar | António Manzarra – Filosofia 10.º ano7


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