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Lírica camoniana

Medida velha (poesia tradicional ou poesia em redondilha)


A poesia lírica composta em versos de 4 ou 7 sílabas métricas. No plano temático, é possível
organizar a poesia tradicional de Camões em torno de quatro grandes grupos: tópicos de
circunstância, o desconcerto do mundo, o desengano e o amor.

Formas da medida velha


Vilancete: poema constituído por um mote, de dois ou três versos, e por voltas, de sete, sendo o
último a repetição total, com ou sem variante, do verso final do mote.
Cantiga: poema composto por um mote de quatro ou cinco versos e glosas de oito, novo ou dez
versos, com a repetição total ou parcial do último verso do mote no final de cada volta.
Esparsa: composição de uma única estrofe, que varia entre oito e dezassete
Endecha: poema formado por um número variável de estrofes (quadras ou oitavas), com versos
de 5/6 sílabas.

Medida nova
Sonetos, canções, elegias, éclogas, odes, oitavas e uma sextina...
Camões aborda temas de natureza sentimental- o Amor, a mulher amada, a morte da amada, o
desconcerto sentimental, etc- e temas autobiográficos e filosóficos- o desconcerto do mundo e a
mudança.

Formas da medida nova


Soneto: poema constituído por 2 quadras e 2 tercetos de versos decassilábicos, geralmente de
esquema rimático abba/abba, nas quadras, e cde/cde ou cde/dce ou cdc/dcd, nos tercetos; a
estrutura interna desta forma poética tende a aplicar a “chave de ouro”, ou seja, a chave do
significado do soneto (normalmente um pensamento elevado), no segundo terceto.

Leva na cabeça o pote


Neste poema, Leanor revela-se insegura, ansiosa, em relação ao seu encontro com o amado na
fonte.
O uso de diminutivos traduz, para além, de um valor afetivo, a elegância de Leanor; as cores
conferem maior vivacidade á descrição. Ambos os recursos permitem visualizar objetivamente
Leanor.

Posto o pensamento nele


O tema deste poema é o amor e a inquietação.
O poema pode ser divido em duas partes:
A primeira constituída pelo mote, pelas duas primeiras voltas e pelos primeiros quatro versos da
última volta, temos expressa a intensidade de sofrimento da Leanor, que não sabe do paradeiro
do seu amado.
Na segunda parte constituída pelos últimos quatros versos da terceira volta), Leanor tem
finalmente notícias do seu amado, o que lhe provoca ainda mais choro.
Leanor, apaixonada pelo seu amado, de quem não tem notícias, pensa nele (v5) e sofre
intensamente (v20), chora (v2) e sente saudade (v8). Cansada, por vezes deixa de chorar (v15-
16) e suspende as lágrimas porque “seca as lágrimas com a mágoa”. Por fim, volta a chorar
quando fica a saber novas do seu amor (v27).
A exclamação final sintetiza a reação de choro de Leanor como “ extremos de dor”, após ter tido
notícias do seu amado, superando, portanto, a contenção das lágrimas referidas nos versos 17-
20. A exclamação é feita perante o quadro de sofrimento traçado. O sujeito lírico comenta-o,
dirigindo-se ao leitor e mostrando a sua simpatia e solidariedade.
A fonte é o local de encontro social entre os habitantes de uma localidade, mas também é local
privilegiado de encontros amorosos. Neste caso, Leanor encontra-se com as amigas para saber
novidades sobre o seu namorado.

A verdura amena

Se helena afastar os olhos do campo (condição), nascerão espinhos (consequência).


O poder transformador relaciona-se com os olhos de Helena, sinédoque que de toda a sua beleza
interior e exterior.
As voltas podem ser divididas em duas partes:
1ª parte: o sujeito lírico refere-se ao poder dos olhos sobre a natureza.
2ª parte: abordam-se os efeitos nas vidas humanas
Na natureza, os olhos de Helena acalmam os ventos, transformam os espinhos em flores, fazem
florescer as serras e purificam as fontes. Nos humanos, prendem os corações e trazem-nos
suspensos, isto é, apaixonados.
Os 3 últimos versos concluem que até o próprio amor, personificado, se rende aos olhos de
Helena, exaltando a sua extraordinária beleza.

Aquela cativa
Trocadilho nos versos 3 e 4:
“cativa” porque Bárbara é escrava; “cativo” porque o sujeito poético se encontra aprisionado pelo
seu amor. Apesar de o eu lírico ser superior socialmente, em termos amorosos, a escrava
subjuga-o.
As comparações contribuem para a supervalorização das qualidades da escrava.
Fisicamente, Bábora é caracterizada de forma objetiva: aparência invulgar e exótica (v16-
17;23;27)

Tanto de meu estado me acho incerto


o tema deste poema é a experiência amorosa e o desconcerto sentimental.
Pode ser dividido em duas partes:
1ª parte: (as duas quadras e o primeiro terceto) conflito interior do sujeito poético
2ª parte: (último terceto) causa do tumulto, visão da amada
Existe um discurso pessoal: o eu lírico reflete sobre o amor, a sua vivência amorosa e os seus
sentimentos
Motivo para o estado de espírito do sujeito poético: a visão da amada

Pede o desejo, Dama, que vos veja


o tema deste poema é a experiência amorosa e a reflexão sobre o amor
Pode ser dividido em duas partes:
1ª parte: (duas quadras) descrição do conflito interior do sujeito poético.
2ª parte: (dois tercetos) oposição entre a anterior defesa da espiritualidade e a realidade humana
que deseja fisicamente a sua amada
Existe um discurso pessoal: o eu lírico reflete sobre o amor, a sua vivência amorosa e os seus
sentimentos
Motivo para o estado de espírito do sujeito poético: desejar “ver” a sua amada, apesar de saber
que, racionalmente, deveria contentar-se com o amor “tão fino e tão delgado” (v3)
Há um confronto espiritual versus amor carnal- o sujeito poético acaba por admitir a sua
humanidade e desejar o objeto amado.

Alegres campos, verdes arvoredos


A temática é o “locus amoenus” e a influência da ausência da amada no estado de espírito do
sujeito poético, que conduz 9ao desaparecimento da beleza e da alegria da natureza
Tipo de natureza: “locus amoenus”
O poema pode ser dividido em três partes:
1ªparte: (primeira quadra e dois primeiros versos da segunda) o sujeito lírico procede á descrição
de uma natureza vária, alegre, bela e harmoniosa. Personificando-a, na segunda parte (os dois
últimos versos da segunda quadra e o primeiro terceto), o sujeito poético diz-lhe que ela já não o
consegue fazer sentir feliz no presente como acontecera no passado, dado ser invadido pelo
”mal”, pela desventura. Por fim, no segundo terceto (3ª parte), o eu lírico declara que agora será
ele a tornar a natureza triste (“lembranças tristes”) e as suas lágrimas, saudosas do bem perdido (
a amada, a felicidade)
Erros meus, má fortuna, amor ardente
O sujeito manifesta o desejo de vingança, pela dor sofrida ao longo de toda a sua vida (2º terceto)
Motivos que conduziram á sua infelicidade: os seus próprios erros, a má sorte e o amor
excessivo.
Uma vez que ainda não esqueceu o sofrimento passado, decidiu não desejar ser feliz, de forma a
evitar ilusões.

O dia em que eu nasci, moura e pereça


O sujeito poético apresenta o desejo de não se voltar a repetir o dia do seu nascimento que o
atirou para a maior desventura humana (v1-2)
O sujeito amaldiçoa o dia do seu nascimento.
Eclipse do sol; sinais apocalípticos; partos monstruosos; desconhecimento dos filhos pelas mães;
chuva de sangue; lágrimas universais por cuidarem que é destruição do mundo. Com estas
imagens, o sujeito poético projeta o seu infortúnio pessoal a nível universal.
No segundo terceto, o sujeito poético justifica a razão pela qual rejeita a repetição do dia do
nascimento. E caso ele se repita, que seja um dia de extrema violência, pois terá nascido o
homem mais desgraçado de todos, ele próprios.

Os bons vi sempre a passar


I sujeito lírico, apesar de ter consciência de que o “bem” está mal ordenado, quer atingi-lo e, por
isso, decidiu ser mau.
Através do conector “assi que” o sujeito poético conclui o poema, destacando que só para ele é
que o mundo anda concertado, visto que o castigo má sorte se segue sempre ao seu mau
comportamento, realidade que não acontece com os outros “maus”.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


O texto divide-se em 2 partes:
1ª parte( duas quadras e o primeiro terceto): referencia á mudança no mundo, nos sentimentos,
na natureza e no eu
2ª parte ( último terceto):constatação do espanto que provoca o facto de a própria mudança já
não se processar da mesma maneira.
Na natureza, a mudança opera-se de forma cíclica, natural e positiva, enquanto na vida do sujeito
poético se concretiza de modo negativo. Ou seja, ao inverso (“neve fria”) sucede-se naturalmente
e alegremente a primavera (“de verde manto”); para o sujeito poético a mudança converte a
alegria (“doce canto”) em tristeza (“choro”).

Temáticas Medida Velha Medida Nova


Influências e formas Poesia na esteira da lírica Influencia da poesia renascentista
tradicional: trovadoresca e italiana (Petrarca, Dante) e ainda de
palaciana (existente nos teorias neoplatónicas e aristotélicas
cancioneiros peninsulares ao (presentes em Portugal desde a
longo de todo o século XV e terceira década de Quinhentos).
grande parte do século XVI).

Vilancetes, cantigas, esparsas e


Sonetos.
endechas

Representação da amada Menina descrita objetivamente em Mulher inalcançável, divina,


quadros do quotidiano (fonte, etérea...
natureza). Retrato estereotipado da mulher
Porém há personagens femininas ideal: pele alva, cabelos e olhos
dissimuladas que conduzem ao claros (retrato clássico da mulher).
engano amoroso. Descrição subjetiva e indefinida.
Características físicas e psicológicas
em equilíbrio.

Experiencia amorosa e Correspondência amorosa: plano de Complexidade do sentimento


reflexao sobre o amor igualdade entre o sujeito poético e amoroso que tenta definir.
amada. Amar é causa de: confusão,
Alegria de amar. questionamento, conflito (amor
Perspetiva leve e harmónica do carnal e espiritual), saudade,
sentimento amoroso. dúvida, dor, ansiedade.
Mas também exaltação da força do
amor, para além de todos os
códigos.
Denúncia da subversão do
sentimento amoroso, através da
mentira da amada ou do seu
preterimento perante interesses
materiais.

Representação da natureza Locus amoenus Locus amoenus


Natureza bela, serena, cheia de Subjetividade da perspetiva lírica,
cores e cheiros... dependente da presença/ausência
Transfigurada pela beleza da da amada; é testemunha e alegoria
amada. das vivências.
Em harmonia ou confronto com o
estado de espírito do sujeito
poético.

Reflexão sobre a vida pessoal Exame de vida. Poemas autobiográficos.


Tópicos de circunstância tornam-se, Papel do destino cruel.
por vezes, questões de Vida infeliz resultante dos erros, má
interpretação existencial. sorte e amor excessivo.
Autoinimizade. Sentimentos de revolta, cansaço e
Protesto ou notação de remoroso.
incongruências de caráter ético ou Morte da amada.
metafísico.

Desconcerto do mundo Perspetiva que demonstra:


Incompreensão do mundo que o rodeia; prémios e castigos distribuídos
injustamente; violação da ordem dos valores e vida feita de sucessão de
males.

Mudança A vida muda sempre para pior.


A mudança traz a tristeza (presente) e elemina a felicidade (passado).

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