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Fernando J. b. martInHo
nemésio, por sua vez, no melhor da desenvoltura que pôs nos ver-
sos da velhice, em Limite de Idade, 1971, cita expressamente petrarca,
acompanhando-o do seu mais conhecido continuador entre nós, num
desenfadado devaneio estival entre “praia e pinho”:
[...]
enevoado lá fora, preocupado cá dentro, ainda mais dentro metabólico,
veraneando a taxímetro na saudade de ilhas pelágicas,
com a coroa asterídea dos meus oito netos na cabeça
e – sobre tudo isto – velho e tolo pela esperança:
Que não é sensato esperar de nada alguma coisa
mas só de morte fiar puro perdão de deus,
entre pinhas reais e afonso lv, dinis II,
com um búzio e uma vieira – or piango or canto – muito fina,
por conta de camões e um pouco de petrarca,
devendo aliás chorar muito mais do que canto
e calar a buzina!
à celebração da mais célebre das formas fixas. num dos 147 sonetos do
volume, o 113º, alude o poeta ao nascimento da forma na sicília e a um
dos poetas que tiveram um papel preponderante no seu surgimento,
Jacobo da lentini, e nesse mesmo texto sobressai um dos motivos que
mais associamos à tradição petrarquista, o da “chama”, do “fogo” do
amor, aquele que Gaspara stampa fixou na fórmula “arder amando”.
noutro poema, o 2º, o poeta toma como confidente da “tortura” causada
pela “ausência” do ser amado a terra natal de petrarca, arezzo:
eu procurava
[...] uma razão a única razão (e não sentimental como afinal o é)
a convenção que adopto de petrarquizar
neste meu verso aparentemente livre
mas no fundo apoiado no decassílabo
[...]