Este documento resume a estrutura e os principais elementos da epopeia Os Lusíadas de Camões. Apresenta três planos estruturais da obra: o Plano da Viagem, o Plano Mitológico e o Plano da História de Portugal. Também discute como Camões usa a mitologia para mitificar os heróis portugueses, elevando-os ao status divino.
Este documento resume a estrutura e os principais elementos da epopeia Os Lusíadas de Camões. Apresenta três planos estruturais da obra: o Plano da Viagem, o Plano Mitológico e o Plano da História de Portugal. Também discute como Camões usa a mitologia para mitificar os heróis portugueses, elevando-os ao status divino.
Este documento resume a estrutura e os principais elementos da epopeia Os Lusíadas de Camões. Apresenta três planos estruturais da obra: o Plano da Viagem, o Plano Mitológico e o Plano da História de Portugal. Também discute como Camões usa a mitologia para mitificar os heróis portugueses, elevando-os ao status divino.
A epopeia é um género narrativo em verso que remonta á
antiguidade clássica. A epopeia, marcada pelo estilo grandioso e solene, canta um facto heroico de interesse nacional e universal que assegura a unidade de ação (em Os Lusíadas, a viagem à Índia); os episódios retrospetivos e as profecias dão extensão e riqueza à obra.
ESRUTURA EXTERNA
O poema Os Lusíadas, escrito em versos decassilábicos, apresenta
dez cantos; as estrofes organizam-se geometricamente em oitavas, com esquema abababcc; o poema tem 1102 estrofes.
ESTRUTURA INTERNA
Partes Constituintes de Os Lusíadas
O poema está organizado em quatro partes: Proposição (I, 1-3);
Na Proposição, o poeta enuncia um projeto narrativo audaz e
vasto: glorificar os heroicos realizadores das grandes navegações e descobertas, as armas e os barões assinalados (est. 1, v. 1), a evocação dos reis que foram dilatando / A Fé, o Império (est.2, vv.2-3) e, finalmente, todos os que por obras valerosas / Se vão da lei da morte libertando (est.2, vv.5-6), ou seja, os que se tornaram imortais devido à grandeza dos seus atos, na perspetiva do poeta. Enfim, canta o peito ilustre lusitano / A quem Neptuno e Marte obedeceram (est.3, vv.5-6).
Na Invocação, define o estilo que acompanha o canto do
engrandecimento do povo luso, um discurso marcado pelo som alto e sublimado, / Um estilo grandíloco [grandioso] e corrente (est.4, vv. 4-5), e adequado à matéria narrada.
Na Dedicatória, que apresenta dois momentos, no canto I e no
canto X, a fechar a obra, o poeta oferece o poema ao rei D. Sebastião, tece-lhe elogios, mas também o exorta a governar bem, olhando para todos os que contribuem para o desenvolvimento da pátria, onde o próprio se inclui, como pede na estância 150 do canto X: Todos favorecei em seu ofício / Segundo têm das vidas seu talento.
A Narração, que constitui o desenvolvimento da obra e se inicia
in media res, compreende diversos planos narrativos, sendo que o acontecimento de relevo é a viagem de Vasco da Gama à Índia, núcleo central da ação. A História de Portugal (episódios passados e futuros), a intervenção mitológica, e as considerações e reflexões do poeta conferem uma composição variada e complexa à textura narrativa.
PLANOS ESTRUTURAIS DA EPOPEIA OS LUSÍADAS
O Plano da Viagem constitui a ação central do poema. Compreende
a narração da viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, que se iniciou em julho de 1497, chegada a Calecut, em maio de 1498, e regresso a Portugal em 1499. Com início da narração em in media res, a ação dos ousados navegadores é cantada pelas vozes heterodiegética (narrados/poeta) e autodiegética (Vasco da Gama).
O Plano Mitológico é dado pela intervenção dos deuses pagãos na
ação, simbolizando por um lado, as diversas adversidades superadas pelos heróis, por outro, o estatuto do herói português a quem Neptuno e Marte obedeceram.
O Plano da História de Portugal é assegurado por diversas vozes
(Vasco da Gama, Paulo da Gama, figuras mitológicas) e encaixado por analepses e prolepses em diversos momentos da ação. São narrativas secundárias que se inserem no propósito inicial do poeta sem perder a unidade de ação: o louvor dos feitos valorosos dos portugueses.
O Plano das Considerações do Poeta revela-nos um autor atento ao
seu tempo e com uma intenção pedagógica e cívica que acompanha os diversos relatos. Assim, maioritariamente nos finais dos cantos, a narração é interrompida e o poeta lança críticas, tece lamentos e desabafos ou exorta os portugueses a seguirem o exemplo dos verdadeiros heróis, o caminho da imortalidade, que é, como afirma, o Caminho da virtude, alto e fragoso / Mas, no fim, alegre e deleitoso (VI, 90).
PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES DO POETA AO LONGO DA EPOPEIA
Nestas reflexões do poeta, destacam-se duas perspetivas
diferentes.
Por um lado, constituem a visão do poeta renascentista
relativamente à própria condição humana, o que está, por vezes, ao serviço da construção do herói do poema, que ultrapassa todas as dificuldades e será premiado pelo seu esforço e valentia, na Ilha dos Amores, espaço simbólico de recompensa pela conclusão de um percurso heroico e glorioso.
Todavia, o poeta revela também a sua perspetiva disfórica em
relação a uma fase do Império Português e aos valores dominantes no país, num momento em que o brilho das grandes navegações começava a ser ofuscado pelo materialismo que dominava no reino, pela indiferença em relação à arte; o poeta manifesta ainda o seu desalento pelo desprezo a que a sua epopeia era votada.
CANTO I, 105-106: exclamações do poeta sobre a insegurança e os
perigos que envolvem a vida do ser humano. Na sequência da traição levada a cabo em Mombaça, o poeta utiliza a metáfora bicho da terra tão pequeno para evidenciar a frágil condição humana. Também acerca das situações e circunstâncias nefastas da vida se pronunciará o Velho do Restelo (IV, 95-97), que, na sua voz de experiência feita, alerta os navegadores para os perigos, crueldades, tormentas e mortes, ao desafiarem os espaços longínquos e desconhecidos.
CANTO V, 92-100: reflexão sobre a falta de cultura do povo
português e a falta de apoio à atividade artística. O poeta reconhece que, até ao seu tempo, os heróis portugueses eram, na sua maioria, rudes, ásperos e austeros. Consequentemente, advoga que é necessário libertar o país da ignorância. Um povo inculto não será capaz de potenciar heróis plenos.
CANTO VIII, 96-99: o poeta reflete sobre o poder do ouro e
procede à enumeração de atos de corrupção que percorrem todos os estratos sociais, de forma particular as elites. Este comentário apresenta uma estrutura argumentativa, pois defende-se uma tese inicial na estância 96, referindo que o dinheiro afeta negativamente as pessoas; em seguida, apresenta mitos, exemplificando a tese de que o ouro corrompe o ser humano; e, por fim, nas duas estâncias finais, comprova através de argumentos o que o vil metal consegue fazer às pessoas.
CANTO IX, 88-95: considerações sobre o conceito de imortalidade
e de mitificação do herói sobre o verdadeiro valor da glória e da fama, de acordo com a simbologia veiculada pelo episódio fantástico da Ilha dos Amores. O espaço mítico da Ilha dos Amores, prémio que permite ao ser humano atingi a condição divina através da imortalidade dos seus feitos, é um pretexto para o poeta exortar os seus contemporâneos a seguirem o exemplo dos navegadores, pondo de parte a indolência, a cobiça, a ambição.
CANTOS VII, 78-87, E X, 145-156: lamentos sobre a sua condição
de homem e de artista. Da sua vida, lamenta o infortúnio; de ser poeta, a incompreensão e falta de sensibilidade artística por parte de quem tem responsabilidades na condução do país, ignorando os seus elementos mais ilustres e letrados. Esta queixa é recorrente em outros momentos da obra, de forma implícita ou explícita. Deste modo, desiludido por cantar para gente surda e endurecida, adverte sarcasticamente que a pátria do seu tempo, a mesma que projetara heróis que deram novos mundos ao mundo, está mergulhada numa austera, apagada e vil tristeza.
IMAGINÁRIO ÉPICO: MATÉRIA ÉPICA E MITIFICAÇÃO DO HERÓI
Em estilo grandíloco e corrente (I, 4), o poeta enaltece, n’Os
Lusíadas, um herói coletivo, os Portugueses. Para isso, faz incluir na epopeia os feitos históricos, passados e futuros, encaixados na narrativa da viagem à Índia, cumprindo plenamente o que havia anunciado na Proposição. E é neste percurso pela história de um povo que emerge, traço a traço, a dimensão superior do herói lusíada, que culmina na Ilha dos Amores.
Com efeito, a mitificação do herói, nesta obra épica, resulta da
interação do plano da intriga dos deuses, da mitologia, com o plano da viagem dos portugueses à Índia. Depois de superarem todas as dificuldades de ordem natural e humana (Tromba marítima, Adamastor, Tempestade, oposição de deuses) e terem chegado à Índia, são conduzidos à Ilha dos Amores onde se unem às ninfas, adquirindo um estatuto divino.
Assim, os navegadores portugueses tornam-se iguais aos deuses,
pois venceram todas as dificuldades e obstáculos, aparentemente transcendentes e inultrapassáveis que impediam o seu conhecimento do mundo e da natureza. Através da mitologia, que culmina com a já referida união dos navegadores portugueses com as ninfas e a sua consequente «divinização» e mitificação desses mesmos heróis, Camões exprime um dos ideias mais profundos do Renascimento: a confiança na capacidade humana para se opor e suplantar a tradição (os deuses da Antiguidade), para afastar o obscurantismo e para dominar o mundo e a natureza.
Por outro lado, a epopeia apresenta não o retrato de um herói
concreto, mas sim um modelo de heroísmo, um ideal humano que se exprime pela heroicidade. O poeta sustenta que qualquer homem pode ser herói e o heroísmo, em teoria, é acessível a todos, porém, nem todos chegam a atingi-lo e estes, pela situação superior a que ascendem e pela sua elevação espiritual, isolam- se da maioria. O heroísmo resulta, deste modo, de um esforço individual.