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Na “Proposição”, o poeta pretende exaltar:

 “As armas e os barões assinalados”, isto é, todos aqueles homens cheios de coragem

(homens ilustres, guerreiros, marinheiros) que descobriram, “por mares nunca dantes

navegados”, novas terras, indo mais longe do que aquilo que alguém podia esperar de

seres não divinos (“Mais do que prometia a força humana”);

 “Daqueles Reis que foram dilatando”, ou seja, os reis que contribuíram para que a fé

cristã se espalhasse por terras “infiéis” que foram sendo descobertas, alargando assim

o Império Português;

 “E aqueles que por obras valerosas”, isto é, todos os que são dignos de serem

recordados pelos feitos heroicos cometidos em favor da pátria e que, por isso, nem

mesmo a morte os pode votar ao esquecimento (“Se vão da lei da Morte libertando”),

pois foram imortalizados.

O poeta mostra aquilo que pretende ao escrever a epopeia: “Cantando espalharei por

toda a parte” (universalidade e intemporalidade da obra). O verbo cantar tem aqui o sinónimo

de exaltar, enaltecer ou celebrar. Contudo, para esse objetivo ser alcançado, o poeta precisa

de talento e de inspiração: “Se a tanto me ajudar o engenho e a arte”.

Na última estrofe da “Proposição”, o poeta compara os feitos dos portugueses aos de

Ulisses, Eneias, Alexandre Magno e Trajano. O seu propósito é mostrar que os lusitanos são

melhores e que sempre se destacaram nos domínios do mar e da guerra. Por isso, até

Neptuno e Marte reconhecem o seu enorme valor, curvando-se perante os portugueses, em

sinal de respeito: “A quem Neptuno e Marte obedeceram”.

A “Proposição” funciona como uma introdução, uma apresentação geral da obra. É


uma síntese daquilo que o poeta se propõe fazer. Propor significa precisamente apresentar,
expor, anunciar, mostrar.
Na invocação o poeta invoca as Tágides, Ninfas do Tejo, e pede-lhes um estilo e uma
eloquência que estejam à altura do herói d’Os Lusíadas, ao contrário do estilo rude e simples
da poesia lírica.

 Os instrumentos musicais associados a cada um dos tipos de poesia são significativos: à


simplicidade da flauta, que associa à lírica, contrapõe a sonoridade guerreira da tuba,
própria da epopeia.

 O estilo épico exerce sobre o leitor um intenso efeito emotivo, semelhante à exaltação
sentida pelos próprios heróis que vai cantar.

 A forma verbal “dai-me” utilizada ao longo das duas estrofes esta no modo imperativo
e é utilizado pelo poeta para reforçar e explicitar o pedido feito pelo poeta. “E vós,
Tágides minhas, (...) Dai-me (...) Dai-me (...) Dai-me (...)”

 E termina, insinuando que os feitos dos portugueses são tão espantosos que,
possivelmente, nem com o auxílio das Tágides poderão ser transpostos, com a devida
dignidade, para a poesia. “Que se espalhe e se cante no Universo, Se tão sublime preço
cabe em verso.”

A Dedicatória não era um elemento obrigatório do género épico. Camões, contudo, faz
questão de dedicar o poema a D. Sebastião, o rei que então governava Portugal e que o Poeta
vê como garante da continuidade da grandeza de Portugal (dilatação da Fé do Império).

• Exórdio (est. 6 a 8) – O Poeta dirige-se a D. Sebastião declarando-o:

- O enviado providencial para assegurar a independência de Portugal, continuando a


sua grandeza através da dilatação da Fé e do Império (est. 6);

- O descendente de uma dinastia mais importante do que as mais importantes da


Europa;

- O detentor de um império imenso e o baluarte contra os seus inimigos, os ismaelitas


e os turcos.

• Exposição (est. 9 a 11) – O Poeta, recorrendo a verbos no imperativo (“inclinai”,


“ponde”, “ouvi”), pede ao rei que atente na obra que, desinteressada e patrioticamente,
elaborou e lhe dedica, na qual verá retratados os grandes feitos dos portugueses, reais e não
fingidos, bem superiores aos narrados nas antigas epopeias (esses sim “façanhas, / Fantásticas,
fingidas, mentirosas” ), de tal forma que o rei se pode julgar mais feliz como rei de tal gente do
que como rei do mundo inteiro.

• Confirmação (est. 12 a 14) – Camões concretiza o que disse anteriormente,


contrapondo a cada herói antigo um herói português (est. 12 e 13), e elogia os mais conhecidos
vice-reis da Índia e todos os que, pelos feitos cometidos “nos Reinos lá da Aurora” (Oriente),
atingiram a imortalidade.

• Peroração (est. 15-17) – O Poeta elogia o novo rei (“Sublime Rei”) e incita-o a
continuar a guerra contra os Mouros, na terra e no mar, na África e no Oriente, prevendo para
ele tais vitórias que encherão de júbilo as almas dos seus avós (D. João III e Carlos V), ao verem
as suas glórias renovadas.

• Conclusão (est. 18) – Camões remove o pedido inicial de aceitação da sua obra
(“novo atrevimento”), em que o Rei poderá observar a forma como os navegadores venceram
os mares e imaginá-los como Argonautas e o que poderão vir a fazer sob o seu impulso.

O louvor de D. Sebastião está, portanto, em ser apresentado como um jovem rei de


quem o povo português tudo espera, rei que a providência faz surgir para retomar a grandeza
dos feitos portugueses. A ideia do jovem rei como salvador da pátria reflete a crise em que a
nação já se encontrava, mas estava tão arreigada no povo que não desapareceu da sua alma
nem com a morte do rei. O sebastianismo é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente
destinado a ser salvador de uma nação em crise.

Momentos de
Reflexão do Poeta
As reflexões não estão presentes em todo o momento, existindo alguns
momentos ao longo dos cantos da obra em que estas são mais evidentes. A seguir listam-se
aos principais momentos de reflexão assim como os seus assuntos:

Canto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
anto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
anto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
anto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
anto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
anto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
anto I
Chegada da armada portuguesa
a Mombaça, após algumas
peripécias e confrontos em
Moçambique, comandadas pelo
Deus Baco.
2. Momentos de Reflexão do Poeta

As reflexões não estão presentes em todo o momento, existindo alguns momentos ao


longo dos cantos da obra em que estas são mais evidentes.

Canto I (Chegada da armada portuguesa a Mombaça, após algumas peripécias e


confrontos em Moçambique, comandadas pelo Deus Baco.)

 Existe uma reflexão sobre a fragilidade da vida humana. Aqui, Camões reflete
sobre a forma como a vida humana é algo tão efêmero2 e tão passageiro, de
uma forma inevitável o destino que todos assombra é a morte. Esta reflexão
vem do simples facto de os portugueses passarem imensos perigos que
aparecem de forma inesperada.

Canto III (Durante a narração da História de Portugal aquando do episódio de Inês de


Castro e da paixão entre D. Fernando e Leonor Teles.)

 Camões é fiel a si mesmo neste momento de reflexão: o amor tudo domina.


Durante a narração destes episódios românticos e trágicos, o autor relembra o
poder do amor (reforçando o que escreve em outros poemas) como um
sentimento que é transversal a todo o ser humano e torna qualquer um capaz
de tudo. O amor é capaz de dominar e de trazer imensas felicidades, mas
também as maiores angústias.

Canto IV (Na partida da armada portuguesa das praias portuguesas para a sua viagem
– As Despedidas de Belém)

 Tal como o nome do episódio indica, aqui fazem-se despedidas entre


familiares, amigos, amados… A ambição humana e a insensata procura por
poder e fama levam os mais gananciosos a causar imensas amarguras em
quem os ama e fica para trás sem saber se alguma vez irão voltar a ver quem
mais amam.

Canto V (Final da narração da História de Portugal ao Rei de Melinde por parte de


Vasco da Gama)

 Neste contexto existe talvez das mais importantes reflexões da obra: o


desprezo da arte pelos seus contemporâneos. Aqui o sujeito poético faz uma
enorme crítica à sociedade portuguesa em geral por menosprezar a
importância dos poetas e artistas das mais variadas áreas para a preservação
da cultura e transmissão de valores entre gerações, por exemplo os valores
gloriosos do povo português.

Canto VII (A armada portuguesa encontra-se em Calecut)

 Neste capítulo as reflexões dão-se em duas vertentes: crítica às nações


contemporâneas de Portugal por não seguirem o exemplo de português de
espalhar a fé; e novamente, o desinteresse generalizado dos portugueses nas
suas obras e no mérito que Camões tem. Neste quase término da viagem dos
portugueses, Camões, faz uma reflexão sobre a forma como os portugueses
alcançaram grandes objetivos e expandiram a fé por todo o mundo, ao
contrário de outras potências.

Canto VIII (Sequestro de Vasco da Gama na cidade de Calecut por traidores)

 Esta é das reflexões mais intemporais que são apresentadas na obra, Camões
reflete sobre a corrupção do ser humano. Após ser sequestrado, bastou
simplesmente um pagamento monetário para devolver a liberdade de Vasco da
Gama, evidenciando a forma como o ouro/dinheiro corrompe facilmente todos
os Homens e ainda a forma como o dinheiro chega para comprar uma alma.

Canto IX (Episódio mitológico na Ilha dos Amores, onde Tétis explica a Vasco da Gama o
significado da ilha)

 Existe neste episódio, quase uma enumeração dos requisitos para alcançar a
fama e glória. Luís de Camões utiliza os navegadores portugueses como
exemplo para todos aqueles que desejam alcançar a glória eterna, os aspetos a
dominar são: controlo do ócio, abstenção da ambição e da ganância, busca
constante pela igualdade entre seres de uma forma justa e luta contra os
sarracenos.

Canto X (Chegada a Portugal da Armada de Vasco da Gama no regresso a casa)

 Camões reforça a mensagem que pretende mudar a mentalidade dos


portugueses, a falta de reconhecimento pátrio. O autor vai até mais longe e
dirige-se ao monarca, pedindo um incentivo e exemplo. Por fim, lamenta num
tom desinspirado pela decadência moral iminente da sua nação.

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