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CANTO I

PROPOSIÇÃO (ESTÂNCIA 1 A 3)

A Proposição situa-se no canto I, entre as estâncias 1 e 3, onde o Poeta enuncia o seu


propósito ("Cantando, espalharei por toda a parte os feitos dos Portugueses"). Os portugueses
são apresentados como um herói coletivo, ao invés de um herói individual, como nas epopeias
antigas. Neste contexto "cantar" signigfica exaltar, celebrar, enaltecer. Assim o Poeta exalta
três grandes grupos de portugueses:

”As armas e os barões assinalados”, devido a terem ousado navegar nos mares deconhecidos,
enfrentaram vários perigos e guerras e construírem um novo império em terras remotas.

"[...] as memórias gloriosas/ Daqueles Reis” que expandiram o território português além-
fronteiras e a fé cristã.

”[...] aqueles que [...] / Se vão da morte libertando”, porque realizaram grandes e “valerosas”
obras.

Em conclusão:

- “As armas e os barões assinalados”,

ou seja, todos aqueles homens cheios de coragem que descobriram, “por mares nunca dantes
navegados”, novas terras, indo mais longe do que aquilo que alguém podia esperar de seres
não divinos, “Mais do que prometia a força humana”.

- “Daqueles Reis”,

ou seja, os reis que contribuíram para que a fé cristã se espalhasse por terras que foram sendo
descobertas, alargando assim o Império Português.

- “E aqueles que por obras valerosas/ (...) se vão da morte libertando”,

ou seja, todos os que são dignos de serem recordados pelos feitos heroicos cometidos em
favor da pátria e que, por isso, nem mesmo a morte os pode votar ao esquecimento, “Se vão
da lei da Morte libertando” pois foram imortalizados.

Para tal, compara os feitos dos portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero, e aos
de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma.

A proposição funciona como uma apresentação geral da obra, é uma síntese daquilo que o
poeta se propõe fazer. Propor significa precisamente apresentar, expor, anunciar, mostrar.

O poeta mostra aquilo que pretende ao escrever a epopeia: “Cantando espalharei por toda a
parte”. O verbo cantar tem aqui o sinónimo de exaltar, enaltecer ou celebrar.

O poeta enuncia um projeto narrativo audaz e vasto: glorificar os heroicos realizadores das
grandes

navegações e descobertas.

- “as armas e os barões assinalados”, isto é, os feitos bélicos e quem os executou (conquistas
marinhas e
terrestres, alargamento da fé cristã), os homens ilustres e notáveis. Esses homens partiram de
Portugal, da

“ocidental praia lusitana” e após perigos e guerras conseguiram alcançar territórios para lá da
ilha da

Ceilão, “passaram para além da Taprobana”.

- Os “Reis que foram dilatando/ A fé, o império”, que andaram a devastar as terras
desconhecedoras da

religião cristã, “as terras viciosas/ De África e de Asia”.

- Aqueles que por obras valerosas/ Sevão da lei da Morte libertando, isto é, todos os que, por
causa das

suas ações magnificas merecem ser louvados e imortalizados.

Os portugueses são então o herói da epopeia (herói coletivo) e são os seus feitos que o poeta
espalhará

cantando. Sobre os portugueses diz-nos ainda que os seus feitos superam os de figuras míticas
(Ulisses e

Eneias) e os de figuras históricas (comparação dos feitos dos portugueses comos de outros
grandes povos),

que esses feitos são tão gloriosos que até os deuses do mar e da guerra - Neptuno e Marte - se

submeteram aos Portugueses e que representam um “valor mais alto”. Na proposição são
indicados os 4

planos estruturais da narração (plano da viagem, da história de Portugal, do Poeta e da


mitologia).

INVOCAÇÃO (ESTÂNCIAS 4 A 5)

 Na invocação o poeta invoca as Tágides, Ninfas do Tejo, e pede-lhes um estilo e uma
eloquência que estejam à altura do herói d’Os Lusíadas, ao contrário do estilo rude e simples
da poesia lírica.
- Até os instrumentos musicais associados a cada um dos tipos de poesia são
significativos: à simplicidade da flauta, que associa à lírica, contrapõe a sonoridade guerreira
da tuba, própria da epopeia.

- O estilo épico exerce sobre o leitor um intenso efeito emotivo, semelhante à exaltação
sentida pelos próprios heróis que vai cantar. A forma verbal “dai-me”  Utilizada ao longo das
duas estrofes esta no modo imperativo e é utilizado pelo poeta para reforçar e explicitar o
pedido. E termina, insinuando que os feitos dos portugueses são tão espantosos que,
possivelmente, nem com o auxílio das Tágides poderão ser transpostos, com a devida
dignidade, para a poesia.

Que se espalhe e se cante no Universo,

Se tão sublime preço cabe em verso.


Nestas duas estrofes o poeta evidencia a importância do assunto a tratar e assim pede auxílio
às ninfas do Tejo para o ajudarem nesta tarefa tão grandiosa (‘’ Dai-me agora um som alto e
sublimado, / Um estilo grandíloco e corrente’’) (canto I est. 4 versos 4 e 5).

Camões, sendo um poeta cristão, não acreditava nestas entidades pagãs. No entanto utiliza-as
como um simples recurso poético. Este usa a sua invocação como uma maneira de
engrandecer o herói. Este precisa agora de ‘’ um som alto e sublimado’’. Camões chega mesmo
a ‘’confessar’’ que nem o apelo das Tágides irá ser suficiente para transpor em verso, com a
devida dignidade, os feitos dos portugueses (" Que se espalhe e se cante no Universo, / Se tão
sublime preço cabe em verso.") (canto I est. 4 versos 7 e 8).

Podemos também observar o carácter patriótico de Luís de Camões, pois este não irá suplicar
às ninfas greco-latinas mas às ninfas do Tejo, as Tágides. Através da análise do verso ‘’Tágides
minhas’’ (Canto I, est. 4, verso 1), é sugerida uma relação afectiva entre o poeta e as ninfas,
particularmente pelo uso do determinante possessivo.

Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo, onde


predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características desse tipo de discurso:
o vocativo e os verbos no modo imperativo.

Estão presentes também, de modo a persuadir mais facilmente o leitor, argumentos como por
exemplo: ‘‘ pois criado / Tendes em mi um novo engenho ardente’’ (canto I, est. 4, versos 1 e
2), ou seja, uma vez que as ninfas concederam ao poeta uma nova inspiração, então devem
também conceder-lhe o estilo e a eloquência necessários para narrar a história. O segundo
argumento faz-se através da comparação das ninfas to Tejo com a fonte de Hipocrene
insinuando que estas ninfas tinham igual ou superior poder às das águas da mesma ("Por que
de vossas águas Febo ordene / Que não tenham enveja às de Hipocrene." (canto I, est.4,
versos 7 e 8)). O terceiro argumento encerra o pedido: "Que se espalhe e se cante no
Universo" (canto I, est.5, verso 7). Para que os feitos dos portugueses possam ser admirados
no mundo inteiro, é necessário que as ninfas atendam o seu pedido. Neste caso, recorre a uma
argumentação finalística: pressupõe-se que esses feitos são dignos de serem apreciados, mas
para o serem é necessário um estilo extremamente elevado. Aliás, o último verso sugere a
ideia de que os feitos dos portugueses são tão grandiosos que dificilmente poderão ser
traduzidos em verso de forma adequada. Como se vê, a estratégia de engrandecimento do
povo português, iniciada na Proposição, é retomada aqui, quase nos mesmos termos.
Comparem-se estes dois últimos versos com aqueles com que encerra a primeira parte da
invocação.

Até os instrumentos musicais associados a cada um dos tipos de poesia (lírica e épica) são
significativos: à simplicidade da flauta, que associa à lírica, contrapõe a sonoridade guerreira
da tuba, própria da epopeia.

E ao referir-se à " tuba canora e belicosa ", acrescenta: " que o peito acende e a cor ao gesto
muda ". Com esse verso pretende transmitir a ideia de que o estilo épico exerce sobre o leitor
um intenso efeito emotivo, semelhante à exaltação sentida pelos próprios heróis que vai
cantar. Note-se o recurso à metáfora "o peito acende", que sugere uma espécie de fogo
interior avassalador, reforçada pela inversão (colocação do complemento directo antes do
verbo).
Para além das ninfas do Tejo, ao longo da epopeia, Camões irá invocar inspiração divina à
musa Calíope, musa grega da poesia épica, da ciência e da eloquência, e de novo às ninfas do
Tejo e do Mondego. Estes apelos têm lugar no canto III, estrofes 1 e 2, com objectivo de dar ao
poeta inspiração para narrar correta e eloquentemente os factos a História de Portugal, no
canto X estrofes 8 e 9, quando Camões, após anos a escrever a sua epopeia, sente, finalmente,
o engelho concedido pelas musas a desvanecer (‘’os desgostos me vão levando ao rio/ Do
negro esquecimento e eterno sono. ‘‘(canto X, est. 9 versos 5 e 6)) e no canto VII estrofes 78-
87, nestas estrofes, Camões invoca novamente as ninfas do Tejo e agora também as do
Mondego queixando-se dos seus infortúnios.

Define o estilo que acompanha o canto do engrandecimento do povo luso. Camões tem plena

consciência da grandiosidade do que vai cantar e, por isso, sabe que o estilo do seu canto de
ser “grandíloco” e fluente. O poeta logo no início, pede ajuda e inspiração às ninfas do Tejo, só
estas

divindades poderiam fazer despertar no poeta “um novo engenho ardente”, um “som alto e
sublimado”,

que não se assemelha ao da poesia bucólica, mas é antes um som digno capaz de dar ânimo e
provocar

emoções.

DEDICATÓRIA (ESTÂNCIAS 6 a 18)

Análise da Dedicatória de Os Lusíadas

● A Dedicatória não era um elemento obrigatório do género épico. Camões, contudo, faz
questão de dedicar o poema a D. Sebastião, o rei que então governava Portugal e que o Poeta
vê como garantia da continuidade da grandeza de Portugal (dilatação da Fé do Império).

● Estrutura interna

A Dedicatória segue a estrutura típica do género oratório.

• Exórdio (est. 6 a 8) – O Poeta dirige-se a D. Sebastião declarando-o:

- o enviado providencial para assegurar a independência de Portugal, continuando a sua


grandeza através da dilatação da Fé e do Império (est. 6);

- o descendente de uma dinastia mais importante do que as mais importantes da Europa;

- o detentor de um império imenso e o baluarte contra os seus inimigos, os ismaelitas e os


turcos.

▪ A transmissão da mensagem da 1.ª parte assente nos seguintes recursos estilísticos:

- o uso da segunda pessoa do plural «vós»;

- a utilização de apóstrofes e perífrases:

. “ ó bem nascida segurança, / Da lusitana antiga liberdade, / E não menos certíssima


esperança / De aumento da pequena Cristandade…”;

. “… ó novo temor da maura lança, / Maravilha fatal da nossa idade…”;


- a metáfora: “Tenro e novo ramo” (I, 7, v. 1) – descendente muito jovem;

- a sinédoque: . “maura lança” (I, 6, v. 5) – o exército dos mouros;

. “Do torpe Ismaelita” (I, 8, v. 6) – os mouros, descentes de Ismael, filho de Abraão e Agar, daí
também o nome “agarenos”;

. “Do Turco oriental e do Gentio” (I, 8, v. 7) – os bárbaros, os infiéis

• Exposição (est. 9 a 11) – O Poeta, recorrendo a verbos no imperativo (“inclinai”, “ponde”,


“ouvi”), pede ao rei que atente na obra que, desinteressada e patrioticamente, elaborou e lhe
dedica, na qual verá retratados os grandes feitos dos portugueses, reais e não fingidos, bem
superiores aos narrados nas antigas epopeias (esses sim “façanhas, / Fantásticas, fingidas,
mentirosas” – Orlando Enamorado, Orlando Furioso, Chanson de Roland), de tal forma que o
rei se pode julgar mais feliz como rei de tal gente do que como rei do mundo inteiro.

▪ Da mensagem transmitida pelo Poeta a D. Sebastião, conclui-se que Os Lusíadas são fonte de
glória tanto para Camões como para D. Sebastião. Por exemplo, nos primeiros quatro versos
da estância 10, Camões afirma que foi levado a escrever a obra não pelo desejo de um prémio
vil / material, mas de um prémio “alto e quase eterno”. Esse prémio é a fama de grande poeta
entre os portugueses (“ser conhecido por um pregão do ninho meu paterno”). A obra é
também fonte de glória para D. Sebastião, quando Camões afirma que aquele, ao ler nela os
grandes feitos dos portugueses, poderá julgar que é melhor ser rei dos portugueses do que do
mundo todo.

• Confirmação (est. 12 a 14) – Camões concretiza o que disse anteriormente, contrapondo a


cada herói antigo um herói português (est. 12 e 13), e elogia os mais conhecidos vice-reis da
Índia e todos os que, pelos feitos cometidos “nos Reinos lá da Aurora” (Oriente), atingiram a
imortalidade.

▪ A nível estilístico, é de salientar o recurso aos seguintes recursos:

- perífrase: “E aquele que a seu Reino a segurança / Deixou…” (I, 13 – vv. 5-6) – D. João I;

- hipérbole, prosopopeia e sinédoque: “… por quem sempre o Tejo chora” (I, 14 – v. 6).

• Peroração (est. 15-17) – O Poeta elogia o novo rei (“Sublime Rei”) e incita-o a continuar a
guerra contra os Mouros, na terra e no mar, na África e no Oriente, prevendo para ele tais
vitórias que encherão de júbilo as almas dos seus avós (D. João III e Carlos V), ao verem as suas
glórias renovadas.

• Conclusão (est. 18) – Camões renova o pedido inicial de aceitação da sua obra (“novo
atrevimento”), em que o Rei poderá observar a forma como os navegadores venceram os
mares e imaginá-los.

● NOTAS

1. Podemos concluir então que, nestas treze estâncias, o vocativo e a frequência do modo
imperativo centrados na pessoa do destinatário (o rei D. Sebastião) condicionam o predomínio
da função apelativa, sem dúvida a mais adequada à realização do principal desejo do emissor:
a oferta dos seus préstimos para cantar os heróis do seu povo, isto é, que o jovem soberano
aceite o seu canto heroico do “peito ilustre lusitano” como um contributo para a glória da
Pátria e como um estímulo para, sob o seu impulso, novos grandes feitos virem a ser
cometidos.

2. Por outro lado, novamente estabelece a comparação (a partir da estância 11) entre os
Portugueses e os heróis da Antiguidade, com o objetivo de enaltecer e engrandecer os feitos
lusos.

3. Também na estância 18 se pode constatar que a obra é fonte de glória para o poeta e para
D. Sebastião, quando Camões imagina o rei a ver no seu poema os novos argonautas
(=tripulantes), como se fossem já os seus. Esta estância, assim como a última d’ Os Lusíadas
(IX, 156), profetizam uma grande glória para D. Sebastião e uma nova grande epopeia para
cantar os seus feitos.

4. Nota-se uma estreita ligação entre o conteúdo das estâncias 11 a 14 e o conteúdo da


Proposição. Com efeito, Camões afirma, nas três primeiras estâncias da obra, que os feitos dos
portugueses trilham os dos maiores heróis da Antiguidade (“Cesse tudo o que a musa antiga
canta, / Que outro poder mais alto se alevanta”); também nas estâncias 11 a 14 da Dedicatória
considera que os feitos dos lusitanos ultrapassam as antigas, ainda que fossem verdadeiras,
contrapondo a cada herói antigo um herói português.

5. D. Sebastião é visto como monarca poderoso, como representante do povo predestinado a


realizar grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda, dilatando a Fé
Cristã e o Império.

O louvor de D. Sebastião está, portanto, em ser apresentado como um jovem rei de quem o
povo português tudo espera, rei que a providência faz surgir para retomar a grandeza dos
feitos portugueses. A ideia do jovem rei como salvador da pátria reflete a crise em que a nação
já se encontrava, mas estava tão implantada no povo que não desapareceu da sua alma nem
com a morte do rei. O sebastianismo é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente
destinado a ser salvador de uma nação em crise.

Luís de Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que
representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo cristão; pela ilustre
e cristianíssima ascendência e ainda pelo grandioso Império de que é senhor. Aos louvores,
segue-se o apelo. Referindo-se com modéstia à sua obra, que designa como “um pregão do
ninho (...) paterno”, pede ao Rei que a leia. Na breve exposição que faz do assunto d’Os
Lusíadas, o poeta evidencia um aspeto particularmente importante, a obra não versará heróis
e factos lendários ou fantasiosos, como todas as epopeias anteriores, mas matéria histórica.
Documenta-o nomeando alguns heróis nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras
epopeias. Apesar dos versos não estarem transcritos no livro de leitura, termina o seu discurso
incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos dos portugueses, nomeadamente,
combatendo os mouros, e renovando o pedido de que leia os seus versos. O discurso da
Dedicatória organiza-se, pois, segundo esta lógica — louvor, apelo de carácter pessoal e
argumentos que o fundamentem, incitamento/apelo de carácter nacional e, em jeito de
conclusão, breve reforço do apelo pessoal. Est. 6: o poeta dirige-se a D. Sebastião declarando-
o: o enviado providencial para assegurar a independência de Portugal, continuando a obra da
dilatação da fé e do império. O vocativo «vós» desdobra-se em rasgados elogios: D. Sebastião
é-nos apresentado como defensor nato da liberdade da Nação, como o continuador da
dilatação da Fé e do Império, como o Rei temido pelo Infiel, como o homem certo no tempo
certo, «dado ao mundo por Deus». Est. 10 e 11: o poeta pede a D. Sebastião que ponha os
olhos no poema que desinteressadamente fez e lhe dedica, no qual ele verá os grandes feitos
dos portugueses, reais e não fingidos, maiores do que os narrados nas antigas epopeias, de tal
forma que o jovem rei se poderia julgar mais feliz como rei de tal gente do que como rei do
mundo todo (hipérbole). Os Lusíadas são fonte de glória para Camões pode ver-se nos quatro
primeiros versos da estrofe 10, em que o poeta afirma que foi levado a escrever o seu poema,
não pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase eterno. Esse
prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses (ser conhecido por um pregão do
ninho meu paterno). O poeta exalta D. Sebastião como jovem rei destinado pelo Fado, a
grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda, dilatando a fé e o
império (“para do mundo a Deus dar parte grande”). O louvor de D. Sebastião está, pois, em
ser apresentado como um jovem-rei em que o povo português tudo espera, rei que a
providência faz surgir para retomar a grandeza dos feitos portugueses. A ideia do jovem rei
como salvador da pátria reflete a crise em que a nação já se encontrava, mas ela estava lá tão
arreigada no povo que não desapareceu da sua alma nem com a morte do rei. O sebastianismo
é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente destinado a ser salvador de uma nação
em crise.

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