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Lusíadas: Inês de Castro

Resumo
Esquematização do Episódio  

Estrutura
Est. Resumo Interpretação
interna

O poeta depois de ter cantado a bravura de D.


Afonso IV na vitória de Salado, volta-se para um caso
com carga socio trágica de um amor infeliz da
Conclusão do episódio da Batalha do Salado
118   "misera e mesquinha / que despois de morta foi
e introdução do episódio de Inês de Castro.  
rainha". É após esta referência histórica que é
"desenterrado" o caso "triste e dino" de D. Inês. de
Castro.
Exposição:

O poeta apresenta-nos o Amor como o grande


culpado da morte de Inês, como se fosse a sua pior
Identificação e caracterização do culpado do
119 inimiga. Dizem que a sede de amor nem com
fim trágico de Inês  
lágrimas se satisfaz: ela exige sacrifícios humanos
nos seus altares.

Conflito 120 e Amor despreocupado de Inês. (há indícios Inês estava a viver tranquilamente os anos da sua
121 trágicos como sinais de alerta - 120, vv. 3, 4 juventude e o seu amor por Pedro nos saudosos
e 121, vv. 5, 6)   campos do Mondego onde confessava à natureza o
amor que pelo dono do seu coração. Na ausência do
seu amado socorre-se das lembranças: de noite em
sonhos; de dia em pensamentos. Para ele isto eram
memórias de alegria.

Pedro recusa-se a casar com outras belas senhoras


e princesas porque o seu amor por Inês fá-lo
122 (vv. desprezar os outros. Vendo esta conduta apaixonada
Amor de D. Pedro  
1-4) e estranha, o pai, D. Afonso IV, considerando o
murmurar do povo e a atitude do filho que não se
queria casar...

... decide a morte de Inês para desse modo libertar o


filho, preso pelo amor, julgando que o sangue de uma
. 122 (vv. Reação de D. Afonso IV (note-se a influência
morte infamante apagasse o fogo desse amor. Que
5-8) e do povo - 122, e a pergunta de retórica do
loucura foi essa, que permitiu que a mesma espada
123 poeta - 123, vv. 5-8)  
que combateu os Mouros se levante contra uma
dama delicada?

O rei inclina-se a perdoar a Inês quando é levada


pelos carrascos à sua presença, mas o povo, com
razões falsas e firmes, exige a morte. Ela, com
palavras inspiradas mais pela por de deixar os filhos
 124 e Inês é levada à presença do rei. (repare-se
e o seu príncipe que pelo receio da própria morte... ..
125   nos sentimentos que o texto transmite)  
levanta os olhos (as mãos estavam a ser atadas
pelos carrascos) e depois de olhar comovidamente os
filhinhos que estavam junto de si, disse para o rei e
avô:

. 126 a Discurso de Inês perante o rei. 126- Se até os animais ferozes, que a natureza fez cruéis,
129   referência à piedade que animais selvagens e nas aves selvagens que só pensam em caçar,
já demonstraram com seres humanos 127- vimos haver piedade para com crianças pequenas
como aconteceu com a mãe de Nino e com Rómulo e
Remo, ... tu que és humano (se é humano matar uma
donzela fraca e sem força, só por amar quem a ama),
tem em consideração estas criancinhas. Decide
compaixão delas e minha pois não te impressiona a
minha inocência. E se na guerra contra os Mouros
Inês pede ao rei que tenha o mesmo
mostraste saber dar a morte, sabe, agora, dar a vida
sentimento pelos seus filhos (netos dele)
a quem não cometeu nenhum erro para a perder.
128- 1ª- apelo à capacidade do rei de
Mas mesmo assim se achas que a minha inocência
perdoar 128 (2ª) e129- alternativa à morte de
merece castigo, desterra-me para a fria Cítia ou a
Inês  
Líbia ardente onde viverei em sofrimento para
sempre. Manda-me para onde haja tigres e leões
(animais selvagens) e verei se encontro entre eles a
piedade que não encontrei entre humanos; e aí
criarei estas criancinhas, a minha única consolação, a
pensar em Pedro que amo.

O rei queria perdoar-lhe, impressionado com aquelas


palavras, mas o pertinaz povo e o Destino não
O rei vacila, mas o povo e o Destino (Fado)
perdoam. Os que aconselharam a morte e julgando
. 130   não deixam (pergunta de retórica do poeta -
que estavam a fazer um grande feito
vv. 7-8)  
desembainharam as espadas. É contra uma dama
indefesa que vos amostrais valentes e cavaleiros?

131 - 132 Morte de Inês comparada à de Policena   Do mesmo modo que Pirro prepara o ferro para matar
a jovem Policena, que se oferece ao sacrifício, com
os olhos postos em sua mãe, de quem era a sua
única consolação... ... assim os algozes de Inês, sem
se preocuparem com a vingança de D. Pedro, se
encarniçavam contra ela, espetando as espadas no
colo de alabastro, que sustinha as obras que fizeram
Pedro apaixonar-se por ela, e banhando em sangue o
colo de alabastro já regado com lágrimas suas.

      Bem puderas, ó Sol, não ter brilhado naquele dia,


como aconteceu com o sinistro banquete em que
      Reação do Sol - comparação com outro Atreu deu a comer a Tiestes os filhos deste. E vós,
      133  
caso hediondo   côncavos vales, que ouvistes o nome de Pedro, na
sua voz agoniante, por muito tempo fizestes eco do
nome.

  Desenlace Assim como a bonina que é cortada antes do tempo


por uma menina descuidada fazendo com que a flor
134   Comparação de Inês morta com a bonina  
murche rapidamente, também aconteceu o mesmo a
Inês que perdeu a cor e a vivacidade da pele.

A natureza e as mulheres de Coimbra choraram


135   Reação da Natureza à morte de Inês   durante muito tempo a sua morte e quis eternizá-la
na fonte das lágrimas que ainda existe.

D. Pedro após ter subido ao torno decidiu vingar-se


fazendo um acordo com D. Pedro de Castela para
recuperar os algozes de Inês que aí se tinham
  136 - 137 Vingança de D. Pedro
refugiado. A partir daí D. Pedro foi imperdoável com
aqueles que fizessem qualquer tipo de crime,
aplicando a justiça.

Plano narrativo em que se insere o episódio: plano da história de Portugal


Narrador: Vasco da Gama
Contextualização: Vasco da Gama  conta a história de Portugal ao rei de Melinde
Características das personagens (Inês de Castro e D. Afonso IV) : modeladas ou dinâmicas
Características da tragédia clássica que se encontram presentes no episódio:
. Estrutura interna (exposição, conflito e desenlace)
. Lei das três unidades -(ação - morte de Inês; tempo - menos de um dia e espaço - Coimbra)
. Sentimentos trágicos (terror e piedade)
. Presença dos destino que se verifica ao longo da peça.
. Coro (que neste caso são as considerações do poeta)
. Catástrofe – (morte de Inês)
Caraterização de Inês

Física Psicológica Estrofe

Bela: "linda Inês"; "fermosos olhos"   Perturbada e receosa 125, v. 7

Jovem: "De teus anos colhendo doce fruito." Triste e suplicante 124, v. 5

  Pesarosa e saudosa 124, v. 6

Evolução psicológica do rei


. No início toma a decisão de mandar matar Inês, devido ao “murmurar do povo”;
. Quando os “horríficos algozes” trazem Inês à sua presença, já está inclinado a perdoar (“já movido a piedade”);
. Mas o povo incita-o a matá-la;
. No fim do discurso de Inês, comovido pelas suas palavras “ Queria perdoar-lhe o rei benigno”, mas o povo e o destino não o deixaram.
Recursos estilísticos
As figuras de estilo são recursos que tornam a linguagem mais expressiva, permitindo condensar múltiplas ideias em poucas palavras. Deste modo, o
escritor /o poeta, sugere ao leitor várias interpretações para os seus textos / poemas e leva-o, por vezes, a associá-los a outros textos ou temas do
conhecimento geral.

Figura de estilo Exemplo Expressividade

Tu, só tu, puro Amo r(est. 119, v1) Realçar o significado de amor.
Personificação - atribuição de características
humanas, a animais, coisas ou ideias    
Dar-nos uma ideia de como eram os
Nos saudosos campos do Mondego
“campos do Mondego”

Adjetivação expressiva áspero e tirano Caracterizar.

A morte sabe dar com fogo e ferro / Sabe


Antítese - Apresentação de uma oposição ou contraste
também dar vida, com clemência (est. 128, vv. 2-  
entre duas ideias ou coisas
3

Destaca a crueldade da decisão de


Eufemismo - suavizar uma ideia ou expressão Tirar Inês ao mundo determina
D. Afonso IV de matar Inês

Que do sepulcro os homens desenterra (est. 118 Dar-nos uma ideia mais clara da
Hipérbole – exagero de uma expressão
v. 6) realidade.

Apóstrofe - Interpelação de uma pessoa, entidade ou "Tu só, tu, puro Amor, com força crua, (est. 119,
 
coisa personificada, no meio de uma narração v1)

Comparação – relação de semelhança por meio de Como se fora pérfida inimiga. (est. 119, v 4) O amor é comparado a uma "pérfida
uma palavra ou expressão comparativa   inimiga".

Perífrase - Uso de um número de palavras maior do As obras com que Amor matou de amores Aquele Tudo isto para nos dizer que era D.
que o necessário para exprimir determinada ideia. que despois a fez Rainha (est.132, v3-4) Pedro.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A história e a lenda
O Infante D. Pedro (1230-1367) era casado com D. Constança, mantendo, no entanto, uma ilícita relação amorosa com D. Inês, de quem tinha três filhos.
Dada a ascendência castelhana de D. Inês, o Rei D. Afonso IV e os seus conselheiros viam, nesta relação, um potencial perigo para a independência
nacional.
Inicialmente, o rei D. Afonso IV tentou pôr fim a tal relação, expulsando D. Inês de Castro do reino. Esta, no entanto na fronteira espanhola, continuando a
manter contacto com D. Pedro. A situação agravou-se quando D. Constança morreu. D. Pedro, agora viúvo, fez regressar D. Inês à corte, contra ordem
expressa de seu pai, D. Afonso IV.
O Rei Afonso IV temendo pela sucessão do trono que seria seu neto, filho de Constança e pela influência dos nobres que temiam uma influência castelhana,
tenta resgatar o filho e conduzi-lo a um casamento que obedecesse não aos caprichos de cupido, mas às conveniências políticas de Portugal. Para isso,
vendo como única saída, o Rei manda vir Inês para que seja executada. Aproveitando a ausência de D. Pedro numa caçada, D. Inês foi morta pelos
conselheiros (Diogo Lopes Pacheco, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves), por ordem do Monarca.
Mais tarde, quando D. Pedro I subiu ao trono, mandou matar aqueles conselheiros, vingando a morte de D. Inês, executando de modo cruel os ex-
conselheiros do seu pai, na altura refugiados em Espanha. Diz a lenda que retirou o coração, a um, pelas costas, a outro, pelo peito. O terceiro conseguiu
refugiar-se em Castela. Reza, ainda, a lenda que D. Pedro coroou D. Inês rainha depois de morta.
A reabilitação da figura de D. Inês completou-se com a transferência do seu cadáver, de Coimbra para o mosteiro de Alcobaça, numa cerimónia que se
revestiu de uma imponência nunca presenciada em Portugal.
A trágica história de D. Pedro e D. Inês inspirou poetas, dramaturgos, compositores e artistas plásticos, em Portugal e no estrangeiro. Camões foi um dos
escritores a celebrar a lenda, referida em Os Lusíadas.

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