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Apontamentos d’Os Lusíadas 10º ano

Camões: influências literárias e históricas


Fontes literárias: exerceram influência na estética do poema
- Odisseia, de Homero
- Eneida, de Virgílio
Fontes históricas: serviram de base ao conteúdo histórico
- Crónicas de Fernão Lopes e de Rui de Pina
- História do Desconhecimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, de
Fernão Lopes de Castanheda

Planos d’Os Lusíadas


- Plano da Viagem de Vasco da Gama à Índia
- Plano da História de Portugal
- Plano do Maravilhoso
- Plano do Poeta

Proposição – Canto I, Estâncias 1-3


A proposição funciona como uma apresentação geral da obra, uma síntese
daquilo que o poeta se propõe a fazer.
Propor → apresentar; expor; anunciar; mostrar;

[cantar...o quê?...v.1...porque…viajaram por mares nunca dantes navegados;


pelos perigos e guerras enfrentados; edificaram um novo império;]
‘‘As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana, = Portugal → Perífase e Sinédoque
Por mares nunca dantes navegados Plano da viagem
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram.

E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis que foram dilatando [...porque...aumentaram a fé e o império
A Fé, o Império, e as terras viciosas pela África e Ásia;]
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas [tornam-se imortais; são recordados;]
Se vão da lei da Morte libertando Plano de viagem
Cantando espalharei por toda a parte Cantar → exaltar; enaltecer; celebrar;
Se tanto me ajudar o engenho e arte. Plano do Poeta

Cessem do sábio gergo e do troiano → navegações (mar - Neptuno)


As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano → guerras (guerras - Marte)
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano, Herói coletivo de Os Lusíadas
A quem Neptuno e Marte obedeceram Plano da Mitologia
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.’’
[entidade mitológica que inspirava os poetas, escritores, historiadores da
Antiguidade; logo, tudo o que foi escrito na Antiguidade devia ser
esquecido...porque os feitos dos portugueses são superiores a todos os
cantados na Antiguidade;]

As formas verbais ‘‘cessem’’; ‘‘cale-se’’ e ‘‘cesse’’ apesar de estarem no


Presente do Conjuntivo, as três formas transmitem a ideia de ordem
(Imperativo). Para o poeta, os feitos dos outros heróis até agora venerados
não têm comparação com os dos portugueses que merecem, por isso, ser
dignificados → ‘‘Que outro valor mais alto se alevanta’’.

Através da poesia, se tiver talento para isso, tornarei conhecidos em todo o


mundo os homens ilustres que fundaram o império português do Oriente,
os reis, de D. João I a D. Manuel, que expandiram a fé cristã e o império
português, todos os portugueses dignos de admiração pelos seus feitos.

ANÁLISE EXTERNA
O texto é constituído por trÊs estâncias (oitavas);
Os versos são decassilábos com acentos na 6º e 10º sílabas: As-ar-mas-e
os-ba-rões-as-si-na-la
Estes versos decassilábos, com acentos rítmicos na 6º e 10º sílabas,
denominados versos heróicos, dão ao poema esse som alto e sublimado,
de tuba canora e belicosa, isto é, assinalam, no seu ritmo, um compasso de
marcha guerreira.
A rima é cruzada e emparelhada, conforme o esquema rimático
ABABABCC, esquema este que se repete invariavelmente em todas as
estrofes do poema.

Invocação – Canto I, Estâncias 4-5


Invocar → apelar; pedir; suplicar;
Nestas estrofes, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-
lhes que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma
sublime:
‘‘Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente’’

E vós, Tágides minhas, (…) Apóstrofe


Dai-me (…) A forma verbal ‘‘Dai-me’’ (modo imperativo)
Dai-me (…) surge repetido três vezes no início do
Dai-me (…) verso: trata-se da figura de estilo anáfora.
Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso
persuasivo, onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas
características desse tipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo
imperativo – determinam a estrutura do texto.

Como poeta experiente que é, sabe que a tarefa a que agora se propôs
exige um estilo e uma linguagem de grau superior, por isso estabelece ao
longo destas duas estâncias um confronto entre a poesia lírica, há muito por
ele cultivada, e a poesia épica, a que agora se abalança.

O poeta pede às Tágides o estilo elevado que a epopeia e a grandiosidade


do assunto requerem; o som ‘‘som alto e sublimado’’, exigido pelo ‘‘novo
engenho ardente’’ que as ninfas colocaram nele.

POESIA LÍRICA POESIA ÉPICA


verso humilde novo engenho ardente
agreste avena som alto e sublimado
frauta ruda estilo grandíloco e corrente
fúria grande e sonorosa
tuba canora e belicosa

Este confronto serve-lhe para marcar a superioridade relativa da poesia


épica sobre a lírica.

A Invocação, para Camões, é mais um processo de engrandecimento do


seu herói. De facto, é a grandiosidade do assunto que se propôs tratar que
exige um estilo e uma eloquência superiores.

Dedicatória – Canto I, Estâncias 6-18


A Dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões
inclui-a n’ Os Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião.
Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a
esperança da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do
império.
D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei antes do
domínio espanhol (1580-1640). O seu prematuro desaparecimento numa
manhã de nevoeiro na batalha de Alcácer Quibir deu origem ao mito
sebastianista, um sentimento muito português, que nasceu de uma lenda e
que tem povoado o imaginário coletivo do nosso povo, ao longo dos séculos.

‘‘E vós, ó bem nascida segurança


Da Lusitana antiga liberdade,…’’

A expressão ‘‘poderoso rei’’ exerce a função de modificador do nome


apositivo, pois surge a seguir ao pronome ‘‘Vós’’, adicionando-lhe uma
informação que o torna mais completo.
Na caracterização de D. Sebastião, o poeta usa frequentemente a sinédoque

‘‘Vós, ó novo temor da Maura lança,…’’

Embora só se refira à lança, o poeta pretende designar todo o exército de


mouros.

Para além do elogio ao rei, Camões pretende convencê-lo a aceitar o seu


canto, por isso recorre a uma linguagem argumentativa, sendo a função de
linguagem predominante a apelativa. O poeta recorre a numerosos
vocativos, apóstrofes e ao uso frequente do modo imperativo. Há quem
considere que o discurso da Dedicatória segue a estrutura própria do
género oratório.
O poeta chama constantemente a atenção do seu destinatário, D.
Sebastião, para o que o poema vai celebrar.

REFLEXÕES DO POETA

Voz crítica da sua consciência


e da sua emoção
que, como os bons clássicos de
Roma e Grécia interrompe
o tom épico

Palavras de feição didáctica, Lamento e queixume de quem


moral e severamente crítica sente amargamente a ingratidão
ou os desconcertos do mundo

O poeta teve considerações e crítica a sociedade do seu tempo


- fragilidade da vida humana, face aos grandes perigos enfrentados no mar e
na terra (I, 105-106)
- desprezo a que as Artes e as Letras são frequentemente votadas pelos
portugueses (V, 92-100)
- valor das glórias e das honras, quando obtidas por mérito próprio (VI, 95-
99)
- os modos de atingir a imortalidade através dos valores elevados e genuínos
(IX, 92-95)
- mágoa causada pela ingratidão da sociedade (VII, 78-93)
- crítica ao materialismo, que corrompe (VIII, 96-99)
- decadência da pátria, a ‘‘austera, apagada e vil tristeza’’ (X, 145)
- pedidos de inspiração, não só às Tágides, mas também a Calíope
- dedicatórias e exortações ao Rei D. Sebastião

Reflexão sobre a fragilidade humana ou os limites da condição humana –


Canto I, Estâncias 105-106
Os perigos que espreitam o ser humano (o herói), tão pequeno diante das
forças poderosas da natureza (tempestades, o mar, o vento…), do poder da
guerra e dos traiçoeiros enganos dos inimigos. Camões interroga-se sobre a
possibilidade de um ‘‘bicho tão pequeno’’ encontrar um porto de abrigo sem
atentar contra a ira divina.

Grandes dificuldades que o


homem enfrenta:
- a dissimulação – Ser/Parecer Terrível insegurança
- adversidades no mar e na terra e fragilidade
- a fragilidade e a efemeridade
humanas

Valentia dos Portugueses, que,


mesmo pequenos, vencem os Exaltação
maiores desafios

Crítica ao desprezo das artes – Canto V, Estâncias 92-100


O poeta sente vergonha pelo facto de a nação portuguesa não ter capitães
letrados, pois quem não sabe arte também não a pode apreciar. Aqueles,
apesar de serem de terra de heróis, não reconhecem o valor da arte.

Crítica aos heróis portugueses:


- o cultivo das Letras pelos heróis
da Antiguidade Por isso, só o
- a rudeza dos heróis portugueses patriotismo e o ‘‘puro
- a ingratidão da pátria a quem gosto’’ motivam
a celebra o poeta

Advertências:
Se a nação portuguesa prosseguir no costume da ignorância não teremos
homens ilustres nem corajosos.
O embrutecimento dos espíritos desmotivará futuros cantores dos feitos
portugueses.
Reflexão sobre a Fama e a Glória – Canto VI, Estâncias 95-99
O homem será capaz de triunfar se desprezar as ‘‘honras e dinheiro’’ e
vencer os ‘‘apetites’’ pelas quais a fortuna o domina, subtraindo-lhe a
vontade.

Obstáculos à fama e glória (imortalidade):


Viver na sombra da glória dos antepassados (vv. 5-6, est. 95)
Os luxos e requintes supérfluos (vv. 7-8, est. 95)
Os manjares, os passeios, os apetites (est. 96)

Meios/atos para atingi-la:


A busca esforçada (vv. 1-2, est. 97)
A disponibilidade para a guerra (v. 3, est. 97)
As navegações árduas por regiões inóspitas, a custa
de sofrimento (vv. 3-8, est. 97)
A vitória sobre as limitações pessoais (vv. 1-4, est. 98)

Advertências:
Só a honra e a glória alcançadas por mérito próprio poderão ser valorizadas.
A virtude e a honra como os únicos meios de aquisição da experiência e do
conhecimento – Ideal Renascentista.

A mágoa causada pela ingratidão da sociedade – Canto VII, Estâncias 78-87


O poeta queixa-se da ingratidão de que é vítima.
Ele, que sonhava com a coroa de louros dos poetas, vê-se votado ao
esquecimento e à sorte mais mesquinha, não lhe reconhecendo, os que
detêm o poder, o serviço que presta à Pátria.
Esta reflexão pretende ser uma intervenção pedagógica: o poeta canta e
louva os Portugueses, embora os censure e acuse de ignorância e de
desprezo da cultura, alertando-os para os perigos resultantes do
menosprezo da cultura.
Mais do que a injustiça sentida, o poeta lamenta sobretudo a indifreença e
a insensibilidade daqueles que não dão valor ao reconhecimento que lhes é
feito n’Os Lusíadas.

Críticas ao exercício do poder – Canto VII, Estâncias 84-86

Acesso desonesto ao poder: Mau exercício do poder:


- a ambição - roubo do povo
- o interesse pessoal - pagamento injusto do trabalho
- a simulação

Advertências:
O homem deve exercer corretamente o poder em defesa do bem comum e
das leis divinas e humanas.
Críticas ao materialismo e ao poder do ouro – Canto VIII, Estâncias 96-99
Camões

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