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Símbolos Alquímicos no R E A A

Introdução
Debate antigo e relativamente consolidado o referente à influência cultural da
alquimia na Maçonaria.
A Nova Enciclopédia de Franco-Maçonaria, de Arthur Edward Waite, o aponta em
vários verbetes, seja para sublinhar a influência Rosa-Cruz na origem da Ordem
Maçônica, seja para identificar a influência de Elias Ashmole sobre a mesma, já
agora tanto pelo seu passado possivelmente rosacruciano (vide parágrafo seguinte),
quanto por sua cultura e ação de alquimista, cristalizada em seu livro ´Theatrum
Chemicum Britannicum´, contendo assuntos relativos a mistérios herméticos e à
Pedra Filosofal. Centenas de outras citações estão contidas na Enciclopédia de
Waite, que confessa mesmo que, em seu entendimento, maçonaria é parte de uma
Divina Busca, que comunica tal conhecimento em termos de simbolismo. Portanto,
apelar para a autoridade de Waite leva-nos fatalmente a suas conclusões
rosacrucianas e alquímicas, considerando-se a alquimia a fonte fundamental da
cultura Rosa-Cruz.
Hervé Masson, em seu Dicionário Iniciático, no item dedicado a Franco-Maçonaria,
vai identificar a influência que esta recebeu de místicos e hermetistas, citando
diversas personalidades que haviam estudado com Robert Fludd (1574-1637),
médico e alquimista inglês, e com Michel Maier (1568-1622), alquimista alemão que
passou um largo período de sua vida na Inglaterra, de importância análoga à de
Paracelso. Hervé Masson acrescenta que Ashmole fora iniciado, em 1644, na
Ordem Rosa-Cruz por William Backhouse.
O livro de Bernard Roger, conhecido do estudioso francês de alquimia, intitulado
Descobrindo a Alquimia, abre um Capítulo específico, o VI, para estudar a Franco-
Maçonaria e a alquimia, com três subitens: (1) A construção do templo de Salomão e
a busca da Grande Obra; (2) O Cavaleiro Rosa-Cruz (Grau 18) e (3) O Cavaleiro do
Sol (Grau 28).
O Rito Escocês Antigo e Aceito, para quem teve a oportunidade de estudá-lo,
mantém diversos pontos de contato com a alquimia, cuja simbologia, aqui e ali,
busca ressaltar, como recapitularemos a seguir.

1. Os símbolos nos novos Diplomas, Breve e Patentes


Em sugestivo artigo, assim intitulado e publicado na Revista Astréia, órgão oficial do
Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para
República Federativa do Brasil. Balthazar Rebouças Feijó, 33º, MRA, descreve os
diplomas recentemente reelaborados pelo Supremo Conselho para os Graus
Iniciáticos do Rito.
A leitura mais atenta de cada um destes diplomas, à luz da interpretação alquímica,
permite avançar nesta direção, consolidando a idéia fundamental de que a
Simbologia Maçônica muito retira da Alquimia, independente de suas fontes de
origem, conforme as diversas pesquisas sugerem. Quero dizer que,
independentemente destas complicadas pesquisas históricas, que dificilmente darão
a medida exata das influências trocadas entre a Maçonaria e o esoterismo em geral,
a decodificação simbólica é, por si só, um exercício capaz de permitir uma
consistente introdução à Alquimia e, portanto á Ciência – tanto da matéria, como
atestam diversos historiadores, quanto da mente, como propôs em décadas
recentes o reconhecido autor de Psicologia, Carl Gustav Jung.

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2. Grau 4 – Mestre Secreto
No diploma deste Grau, a Chave se destaca em importância, significando que,
doravante, o iniciado estará de posse da chave (ou das chaves) que lhe auxiliará na
decodificação dos muitos símbolos a serem revisitados. Era comum, nos séculos
XVII e XVIII, a existência de linguagens e alfabetos cifrados, dependentes de uma
chave para seu pleno entendimento. A linguagem alquímica, também conhecida
como a linguagem dos pássaros, não se comunicava diferentemente, sempre
oferecendo dificuldades ao adepto para entender o caminho trilhado por um
determinado pesquisador que pretendesse seguir.
O poeta Mário de Andrade, em uma de suas poesias iniciais, ao explicitar sua
postura poética dirá, com curiosa propriedade: Não vou dar a ninguém a chave de
meus versos; quem for como eu tem esta chave.
No Dicionário dos Símbolos, de Jean
Chevalier e Alain Gheerbrant (DdS), no
verbete chave, além de relembrar os
poderes de ligar e religar, atribuídos às
chaves do Reino, conferidas a S. Pedro

por Cristo, ainda vai mencionar o poder de coagular e dissolver, segundo a


terminologia alquímica.
O diploma deste Grau é cortado à esquerda por uma faixa azul, que corresponde, na
escala alquímica das cores, ao céu, plano superior ao qual o verdadeiro adepto se
devota. Vale acrescentar que cada estudioso é livre para escolher a chave que lhe
convém par decodificar os símbolos e as informações que os diversos Graus do Rito
trazem. Assim, alguns vão eleger a Bíblia como a chave referencial. Outros, um
segmento da história ou, ainda, o esoterismo. E assim por diante.
A mim me parece que a chave alquímica é a mais abrangente, capaz de explicar
diversos símbolos que, de outro modo, permaneceriam sem significado. Mas este
Grau, de uma maneira mais abrangente, abre o debate sobre a escolha de uma
chave decodificadora a todos os demais, vale dizer para todo o Rito.

3. Grau 9 – Cavaleiro Eleito dos nove


Além de uma acesa na escuridão, destaca-se uma
espada de múltiplo significado, segundo o DdS.
Símbolo guerreiro é também símbolo da luz, do
relâmpago e do fogo, todos caros à alquimia. Ensina-
nos o referido Dicionário que, em termos de alquimia, a
espada dos filósofos é o fogo do forno alquímico.
A vela acesa na escuridão relembra o gabinete de
estudos dos filósofos e dos alquimistas,
complementando a espada filosófica que lhe está
sobreposta. A cor preta, faixa que corta o diploma à
esquerda é atribuída pela alquimia à matéria e ao
oculto. Porque que esta matéria, para ser transformada,
precisa passar pelo fogo do forno alquímico, precisa ser sublimada para alcançar
novo estágio, sendo o vermelho a cor desta sublimação, contida nas rosetas apostas
à referida faixa preta, sugerindo línguas de fogo, simbolismo atribuível à própria
rosa.

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4. Grau 14 – Prefeito e Sublime Maçom
Seu símbolo principal é um compasso aberto a 45º sobre o Sol e encimado por uma
coroa. O Dicionário dos Símbolos, no verbete compasso, dirá que, segundo a
Maçonaria, aberto a 45º indica que a matéria não está plenamente dominada, o que
coincide com a cor vermelha da faixa do diploma à esquerda, significando, na
linguagem da Arte Real, o enxofre, o sangue, a paixão e a sublimação, estágio
intermediário da matéria em seu processo de purificação na Grande Obra.
Desnecessário dissertar sobre a coroa que se assenta sobre o referido compasso.

A iconografia alquímica, segundo o DdS, mostra os espíritos


dos planetas recebendo sua luz, sob a forma de coroa, das
mãos de seu rei, o Sol. Toda coroa participa do brilho e do
simbolismo da coroa solar.
O Sol, por seu turno, é um extenso verbete no DdS, presente
que está em todas as culturas do homem. Se não é o deus
em pessoa, junto a muitos povos é uma manifestação direta
da divindade. Portanto há um culto ao Sol como elemento
civilizador junto aos mais diferentes povos, Sol obviamente dotado de energia
própria, perseguida pelos alquimistas, no intuito de transformar a matéria através do
calor, de modo a alcançar o ouro alquímico, que também representa o Sol.
Poder-se-ia interpretar o símbolo do diploma como a possibilidade de, através do
trabalho, representado pelo compasso, chegar-se a extrair o calor do Sol e, por fim,
atingir-se a coroa de glória da transformação alquímica.
Hiram Abif, que foi um Perfeito e Sublime Maçom, ao lado de seu trabalho como
construtor, também sabia trabalhar com metais, o que o coloca como um proto-
alquimista há seu tempo, caso que apresentei em artigos anteriores nesta revista.
Ademais, lenda por lenda, vale a pena resgatar a de sua iniciação pelo fogo, como
ferreiro, e que integra o discutido texto de Gerard de Nerval em Viagem ao Oriente,
de meados do século XIX, que igualmente comentei.

5. Grau 15 e 18 – Cavaleiro do Oriente e Cavaleiro Rosa-Cruz


Inseridos no Capítulo Rosa-Cruz estes dois Graus, respectivamente o primeiro e o
último deste Capítulo, expressam uma revolução interna na estrutura do Rito. Assim,
se até o Grau 15, com a trolha de prata colocada à esquerda do diploma, há a
preocupação com a reconstrução simbólica do Templo de Salomão, tema recorrente
da cultura judaica até nossos dias – e elemento nucléico de disputas religiosas na
cidade de Jerusalém – na revolução introduzida no Capítulo Rosa-Cruz em seu Grau
18, desloca-se a preocupação da reconstrução do Templo para a conquista do
legado alquímico ou do ouro filosófico, também veiculado nos séculos XVII e XVIII
pela Sociedade Rosa-Cruz.

Revistos todos os Graus anteriores por este ângulo


alquímico do Grau 18 – ou, se quisermos rosacruciano
– deve-se concluir, efetivamente, que a construção do
Templo que está em jogo é a do Templo Interior, ou
ainda a do Templo da Ciência, como, por exemplo, vai
esboçar Francis Bacon em sua Nova Atlântida,
justamente o Bacon que é citado por alguns como um
dos elaboradores do pensamento maçônico.

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No Grau 18, temos novamente o compasso corado comentado no Grau 14 anterior,
aberto agora em 60º, indicando ainda que a matéria não esteja totalmente dominada
e que, portanto, o adepto não logrou ainda produzir o ouro alquímico em filosófico,
mas que está a caminho, pois tem a águia como um pássaro iniciador, símbolo
contido dentro do compasso. Como menciona o DsS: pássaro da luz e da
iluminação. Pássaro solar, imagem do Sol, do fogo, da altitude, da profundidade do
are da luz, representa o rei enquanto filho da luz.
O iniciado é também o rei.
A águia está presente nos mais diverso desenhos alquímicos. Em seu texto Arte e
Alquimia, diz o reconhecido autor Van Lennep: Os pássaros, quando se elevam ao
céu, representam à volatilização ou a sublimação das matérias encerradas no vaso.
Se descerem pra a terra, simbolizam a precipitação e a condensação destes
produtos. O pássaro por excelência é, sem dúvida, aquele de Hermes: a águia.
Perto dele se tem, com não menos importante, o pelicano e a fênix. (pág. 28)
O pelicano ensina Van Lennep, é o símbolo da pedra filosofal que pode se
multiplicar, retirando sua força dela mesma, como o pelicano que nutre sua ninhada
de seu próprio sangue. Como o pelicano foi associado ao Cristo pela religião, a
pedra [filosofal] que ele simboliza para os alquimistas, foi associada ao filho de
Deus. (pág. 28).

O pelicano compõe a outra face da jóia integrada pelo compasso coroado, fazendo
contraponto com a águia iniciática de Hermes, ambos os pássaros convergindo para
o caminho iniciático da busca alquímica da pedra filosofal, do ouro dos filósofos, que
não deve ser comparado ao ouro vulgar, como salientam os diversos estudiosos da
matéria.
A faixa à esquerda, preta e vermelha, demonstra que ainda se trabalha a matéria (o
preto) pelo fogo (vermelho) em busca de sua ulterior transformação.

6. Grau 19 – Grande Pontífice


A palavra pontífice, derivada de ponte (pons, pontis – latim) significa, no plano
iniciático, a capacidade do adepto de passar, do mundo inferior ou exterior, para o
superior ou interior, por caminhos ou pontes que já possui ou que sabe construir.
A faixa vermelha, à esquerda do diploma, representando o rubedo da alquimia,
indica o estágio em que a matéria é submetida ao fogo dentro do forno ou vaso
alquímico, no processo de transformação com vistas à obtenção da pedra filosofal.
As doze estrelas, alusivas ao zodíaco, podem indicar o transcurso do tempo durante
o que à obra alquímica transcorre. Raramente um texto alquímico deixa de fazer

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menção ao zodíaco. As placas douradas relembram o ouro filosofal a ser
conquistado ao final do processo, e na medida em que o ouro filosofal é uma pálida
idéia dos poderes do Criador, as letras Alfa e Omega, nelas inscritas, buscam
traduzir tal expressão de totalidade a Ele referente.

A jóia de ouro, apresentada à direita,


contendo pedras preciosas de diversas
cores, é uma alusão alquímica ao trabalho
da natureza, passível de ser reproduzida em
laboratório, quanto à produção de pedras
preciosas. Assim como a natureza engen-

drou o ouro em seu seio, a partir dos demais metais,


bem como as pedras preciosas, igualmente poderia o
alquimista recriá-los em seu laboratório, num processo
que, segundo alguns autores, seriam anterior à
obtenção da pedra filosofal. As diversas cores das
pedras preciosas relembram os diversos estágios da
obra alquímica, em cujo vaso diversas cores podem ser
vistas, durante o processo de transformação.

7. Grau 22 – Cavaleiro do Real Machado


Por que Real Machado, ao invés de simplesmente Machado? Porque estamos no
ambiente da Arte Real, sinônimo de alquimia.
No DdS, no verbete do machado, lembra-se que a deusa Atenas, da sabedoria, sai
do cérebro de Zeus aberto por um golpe de machado. Acrescenta ainda que se
compreendesse muito bem como a abertura do centro, do cofre, do secreto, do céu,
isto é como um ato supremo de iniciação, de tomada de consciência, que se
confunde com a iluminação.
Tal machado real seria igualmente útil para exterminar a
serpente de três cabeças, aposta na parte superior do
diploma, por sobre a fita colorida. Diz Van Lennep que
as serpentes podem, como o corvo, simbolizar a cor
negra da putrefação. São algumas vezes representadas
numa tríade que lembra as três matérias da arte: o
mercúrio, o enxofre e o sal. A serpente tricéfala revela
um simbolismo idêntico. (pág. 28).

E a fita colorida, lembrando o arco-íris, por que etária


aí? Ensina-nos Van Lennep: O pavão, com múltiplas
cores, representa as diversas cores que se manifestam
ao curso das operações [alquímicas]. Ele tem o mesmo
significado simbólico do arco-íris. (pág. 28).

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8. Grau 28 – Cavaleiro do Sol
Aqui, também, o próprio título do Grau faz uma referência alquímica direta. O Sol é o
astro principal da alquimia, pela luz e pelo calor que expande, ambos essenciais à
consecução da Grande Obra. O ´Mutus Liber´, reconhecida obra alquímica,
composta apenas de figuras, apresenta o sol em boa parte de suas pranchas,
sempre em posição de destaque. Na última prancha, o Sol contempla, do alto, a
coroação final do adepto, um filósofo recebendo a coroa de glória da mão de dois
anjos.
Símbolo equivalente ao Sol é o Olho-que-Tudo-
Vê, presente no diploma do Grau, na parte
superior esquerda, por sobre a fita branca. Esta
evoca, por seu turno, um estágio da obra
alquímica, o albedo, quando a matéria já se
apresenta purificada.
A estrela de cinco pontas, inscrita no diploma
duas vezes, se de um lado representa o
homem, o rigor: o homem transformado pela
iniciação, de outro lado representa a pequena
faísca de luz derivada do Criador, à qual pode o
homem ascender e conquistar, sobretudo
através deste trabalho mais íntimo sobre seu
universo interior,
Outra faceta do opus alquímico.
Conforme observa Van Lennep em sua obra, à
pág. 22: A alquimia foi um método de
aperfeiçoamento espiritual e da percepção de
Deus. “Foi, aliás, neste sentido – continua – que
George von Welling escreveu no prefácio de
seu Opus mago-cabbalisticum”... nossa
intenção não é ensinar como fabricar ouro, mas
algo mais elevado: a saber, como a Natureza
pode ser vista e reconhecida como derivando de Deus, e Deus visto na Natureza”.

9. Grau 30 – Cavaleiro da Águia Branca e Negra


Além da espada, já mencionadas no item 3, destaca-se uma águia bicéfala, branca e
negra. A águia foi igualmente mencionada no item 5. Restaria acrescentar que,
segundo o Dds, no extenso verbete sobre a mesma, tem-se a seguinte
interpretação: Segundo a tradição, a águia possui o poder de rejuvenescimento. Ela
se expõe ao sol e quando sua plumagem está queimando, mergulha na água pura e
reencontra, assim, uma nova juventude. O que pode ser comparado com a iniciação
e a alquimia, que compreendem a passagem pelo fogo e pela água. [...] Este
pássaro solar possui uma visão penetrante: é comparado ao Olho-que-Tudo-Vê, e
em conseqüência ao deus e ao rei.

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E acrescenta, no verbete águia bicéfala:
Segundo Frazer, este símbolo, de origem hitita,
teria sido retomado na idade Média pelos Turcos
seljúcidas, emprestados destes pelos Europeus
durante a época das Cruzadas, para chegar por
este caminho às armas imperiais da Áustria e da
Rússia. É símbolo armorial da casa imperial dos
Habsburgos, varrida da Europa pelas diversas
revoluções democráticas.

A dupla cabeça lembra a dupla face da divindade Janus, permitindo-lhe olhar em


diversas direções, bem como ao passado e ao futuro.
As cores branca e negra estão diretamente relacionadas á obra da Arte Real,
envolvendo a purificação da matéria, motivo que se repete na fita negra com as orlas
prateadas.

10. Grau 33 – Grande Inspetor Geral


A águia, já comentada no item anterior, aqui reaparece, porém coroada, sugerindo
um estágio superior da iniciação, quando o adepto se unge com a coroa real.

A fita branca, à esquerda, orlada de dourado,


sugere que o trabalho sobre a matéria já foi
terminado, tendo sido a mesma purificada,
estando o adepto pronto a produzir o ouro
alquímico ou filosofal.
A jóia do Grau já vem descrita no artigo
publicado na revista Astréia, do qual recolhemos
os diplomas para esta análise. Vale salientar, na
referida jóia, a serpente Ouroboros, símbolo na
alquimia da transmutação da matéria.

11, Por que a alquimia está tão presente na simbologia maçônica?


Tendo surgido a Maçonaria nos séculos XVII e XVIII, é contemporâneo da fase
áurea da expansão da alquimia na Europa, oferecendo-se esta como um projeto
para a transformação da matéria fosse a ouro, fosse ao elixir da longa vida, ou na
pedra filosofal, capaz de transmutar o mundo exterior e interior.
Seus adeptos tomaram os diversos rumos da metalurgia, da farmácia e da química
experimental, até que o sábio Lavoisier, anos mais tarde, empreende a revolução
do edifício alquímico, dando início à química moderna, o que lhe valeu o ingresso na
Academia de Ciências, a eleição para deputado à Assembléia Constituinte da
Revolução Francesa e, por fim, aos seus 50 anos, a condenação à morte.
Portanto aquela alquimia, anterior a Lavoisier, era um vetor de renovação do mundo
à sua época, digna de integrar a cultura Maçônica que se propunha inovadora, para
além das preocupações apenas sócio-políticas que, ao propugnarem pela
democratização das sociedades, exigiam o aperfeiçoamento de suas elites, polindo
a pedra bruta no calor destas batalhas.
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Merece a Arte Real ser reestudada em nossos dias? Alguns autores sugerem que
sim, tanto para conhecer a evolução do pensamento científico do homem ao longo
da História, quanto para desvendar sua própria imaginação, presente em muito da
arte contemporânea – como na poesia e no surrealismo – ou mesmo presente em
nossos sonhos, matéria básica da monografia do psicólogo suíço Carl Gustav Jung
em seu texto intitulado Psicologia e Alquimia. Nele, procura correlacionar símbolos
oníricos de seus pacientes com aqueles apresentados e narrados nos textos
alquímicos, que demonstra conhecer em profundidade, como se fosse um inusitado
alquimista contemporâneo.
Capítulo extenso na história do pensamento humano, quisemos apenas enfatizar,
neste nosso despretensioso texto, como a alquimia está presente na simbologia dos
Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, havendo, por conseguinte, muito a se
pesquisar sobre tão extensa e fascinante matéria. Desde que se estabeleça o
entendimento de que a Arte Real é uma das chaves mais significativas para a
melhor compreensão e apreciação deste desafiante Rito.

Bibliografia citada
J. Van Lennep – Art & Alchimie – Editions Meddens, Bélgica, 1966
Hervé Masson – Dictionnaire Initiatique – Editions Pierre Belfont, 1970
Jean Chevalier e Alain Gheerbrant – Dictionnaire des Symboles – Editions Robert
Laffont, 1969
Arthur Edward Waite – A New Encyclopaedia of Freemasonry – Weathervane
Books, 1970
Bernard Roger – Descobrindo a Alquimia – Editora Pensamento, 1992
Le Triomphe Hermétique – Limojon de Saint Didier – Bibliotheca Hermética, 1971.
Coleção dirigida por René Alleau. Obra precedida do ´Mutus Liber´.
C. G. Jung – Psychologie et Alchimie – Editions Bucher/Chastel, 1970
Francis Bacom – Nova Atlântica – Os Pensadores. Editora: Victor Civita, 1984
Gerard de Nerval – Voyage en Oriente – Garnier-Flammarion, 1980

Autor: Irm. Paulo Guilherme Hostin Sämy, 33º, M.R.A., publicado na Revista Cultural
Maçônica “Engenho & Arte” na Maçonaria Universal, nº 11, Primavera 2002, págs.
18 a 22.

Colaboração: Roberto da Costa Gomes, MI, 33º, Cadastro SC 11.961.

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