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Paris, 1929, R E A A

Foi em uma segunda O uso de insígnias maço-


feira, 29 de abril de nicas ficou restrito à Ses-
1929, que, na rua são Solene da manhã de
Puteaux, nº 8, em Paris, sábado (4 de maio de
França, teve início à 1929), data do encerra-
mento da Conferência.
“Quarta Conferência In-
Obviamente, nos estreitos
ternacional dos Supre-
limites deste minúsculo tra-
mos Conselhos do Grau balho, desbordam conside-
33 do Rito Escocês Na- rações pertinentes aos vá-
tigo e Aceito”, cuja Pré- rios assuntos que foram
sidência, por indicação colocados em foco. O de-
unânime, coube ao Ir. siderato deste articulista é
René Ray-mond, So- o de elucidar uma contro-
berano Grande Comen- vérsia que atinge os Altos
dador do Supremo Con- Graus do Rito Escocês An-
selho da França. tigo e Aceito de nossa
Também, ocuparam pó- Pátria.
sições relevantes o Ir. Quem não possuir duas
Jacques Marechal mãos, não poderá ser pia-
(Grande Secretário Ge- nista. Quem não possuir
ral do Supremo Conse- serenidade, não poderá
lho da França e um dos ser historiador. Sejamos
refratários às análises
Três Secretários da
tenden-ciosas.
mencionada Conferên-
Acautelemo-nos contra po-
cia), Ir. Armand Ans-
sições proteiformes.
pach-Puissant (Sobe- Repudiemos argumentos
rano Grande Comenda- ditados pelo influxo de
dor do Supremo Con- exacerbadas paixões. Fa-
selho da Bélgica e Pré- çamos o estudo, honesto,
sidente da Comissão das provas documentais,
Préparatória da Verifi- onde avulta, indubitável-
cação de Poderes), Ir. mente, o precioso (e hoje
John Cowles (Sobe- raríssimo) “Compte Rendu
rano Grande Comenda- de la Quatrième Confé-
dor do Supremo Conse- rence Interna-tionalde dês
lho da Jurisdição Sul Suprêmes Conseils du 33º
dos Estados Unidos da degré du Rite Ecossais
América, que viria a ser Ancien Accepté”.
o primeiro nome da Co- Anteriormente, em nosso
missão de Legislação e País, durante histórica
sessão, que se realizou em
Regularidade dos Su-
17 de junho de 1927, em
premos Conselhos) e Ir.
um salão profano (Centro
Albert Junod (Sobe- Galego) situado na Rua da
rano Grande Comenda- Quitanda, nº 32, 1º andar,
dor do Supremo Conse- Rio de Janeiro, o Ir. Mário
lho da Suíça e Presi- Behring (no cargo de
dente da Comissão Pre- Soberano Grande Comen-
paratória da Organiza- dador), desvinculou, do
ção dos Trabalhos). Grande Oriente, o Supre-
Ficou decidido que as reu- mo Conselho do Rito Es-
niões fossem realizadas cocês Antigo e Aceito,
em traje de passeio, porém asseverando que só o refe-
com a exigência de traje a rido Supremo Conselho
rigor na terça feira (30 de possuía o direito de esco-
abril de 1929) e na sexta lher sua própria Admi-
feira (3 de maio de 1929). nistração.

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Todavia, por outro lado, em sessão, também histórica, realizada três dias após (20 de junho de 1927),
no Palácio Maçônico situado na rua do Lavradio, nº 97, Rio de Janeiro, o Ir. Octávio Kelly, Grão
Mestre Adjunto do Grande Oriente do Brasil, mas no exercício do Grão Mestrado Geral (em face da
renúncia do Ir. João Severiano da Fonseca Hermes), ponderou que não concordava com o
pensamento esposado pelo Ir. Mário Behring.
A discordância baseava-se no fato de que, segundo a Constituição do Grande Oriente do Brasil
(daquela época, porque hojé é diferente), o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito era
subordinado ao referido Grande Oriente. Em sentido constrário, o Ir. Mário Behring afirmava que as
Leis Internacionais do Rito prevaleciam sobre a citada Carta Magna, e que, de acordo com aquelas
Leis, o Supremo Conselho era soberano.
Ora, quem não examinar, cui- pelo Ir. Octávio Kelly, era su-
dadosamente, por inteiro (e bordinado ao Grande Oriente
não por transcrição frag- do Brasil. Cada um desses
mentadas), a Ata da reunião Supremos Conselhos pré-
de 17 de junho de 1927, tendia ser o legítimo, o mes-
realizada pelo Supremo Con- mo que havia sido fundado
selho, nem a ata da reunião pelo Ir. Francisco Gê Aça-
da 20 daquele mês, realizada yaba Montezuma (discutível-
a partir de 29 de abril até 4 de mente em 12 de março de
maio de 1829, não terá con- 1829 ou 12 de novembro de
dições indispensáveis à aná- 1832).
lise dos acontecimentos em Por um excesso de zelo, em
foco. comentário supletório, agora
Considerando que o Ir. Mário elaborado, mencionemos a
Behring desvinculou, do Gran- existência do Supremo Con-
de Oriente do Brasil, o Su- selho do Rio Grande do Sul,
premo Conselho do Rito Es- fundado pelo Ir. Antônio An-
cocês Antigo e Aceito (con- tunes Ribas, em 14 de ou-
forme já ficou esclarecido), o tubro de 1893. Basta a sim-
Ir. Octávio Kelly organizou um ples menção, pois o citado Al-
Supremo Conselho com vin- to Corpo do Rito Escocês An-
culação, em consonância com tigo e Aceito não disputava
as diretrizes exigidas pela posição hegemônica e não
Carta Magna do referido possui qualquer liame com os
Grande Oriente. aconte-cimentos de 1929, em
Fê-lo em 1º de agosto de Paris.
1927, após as malogradas Fac simile de Compte Rendu de la Defendamo-nos dos paralo-
tentativas de 18, 21 e 26 de Quatrièrence Internationale des gismos e aspiremos, a largos
junho daquele ano. Suprêmes Conseils du 33º degré du rastos, o vivificante oxigênio
Portanto, em nossa Pátria, Rite Escossais Ancien Accepté. da Verdade.
dois Supremos Conselhos dis- Este documento, hoje raríssimo, Este articulista leu e releu,
putavam posição hegemônica. permite entender questões sobre sem pressa, a convocação (o
Já vimos que um presidido controvérsias que grassam ainda próprio original, e não uma
pelo Ir. Mário Behring, era so- hoje. cópia xerográfica) remetida ao
berano, e que outro, presidido nosso País pelo Supremo
Conselho da França, em 10 de setembro de 1928, e pode afirmar que o destinatário foi o Grande
Oriente do Brasil, e não um dos Supremos Conselhos. Essa importante destinação levou o Ir. Octávio
Kelly a acreditar que o Supremo Conselho por ele presidido seria considerado o legítimo pela referida
Quarte Conferência Internacional.
Paris, segunda feira, 29 de abril de 1929, eis o tão aguardado momento. Os Ilr. Mário Behring e
Octávio Kelly não compareceram. O Supremo Conselho presidido pelo primeiro foi representado
pelos IIr. Joaquim Moreira Sampaio, Hugo Martins Ferreira e Esculápio César de Paiva. O
Supremo Conselho presidido pelo segundo foi representado pelos IIr. Lourival Jorge Mazaredo
Souto, Hypolito Hermes de Vasconcelos e José Maria Moreira Guimarães.
Contrariando as esperanças do Ir. Octávio Kelly, a Comissão de Verificação de Poderes reconheceu,
por votação unânime, ser regular o Supremo Conselho presidido pelo Ir. Mário Behring. Os três
representantes do Supremo Conselho rejeitado enviaram um protesto à Conferência, no dia seguinte
(30 de abril de 1929, terça feira). Não obtiveram sucesso. O assunto só foi laconicamente
mencionado na Sessão Plenária de sexta feira, 3 de maio de 1929.
Apesar de não haver essa exigência nas três anteriores Conferências Internacionais do Rito Escocês
Antigo e Aceito, pesou contra o Supremo Conselho do Grande Oriente do Brasil o fato de não ser
soberano. Tal soberania só foi alcançada vinte e dois anos depois, em 23 de maio de 1951. No
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entanto, a efetiva separação contábil-fianceira viria a ocorrer em 15 de junho de 1963. Ambas as
datas foram extemporâneas.
No último dia da Quarta Conferência Internacional (sábado, 4 de maio de 1929), o Ir. Joaquim Moreira
Sampaio (já vimos que ele ra membro da Comissão do Supremo Conselho soberano) escreveu, de
Paris, uma carta ao Ir. Mário Behring, contando-lhe, de modo insuspeito (obviamente), que o Ir. René
Raumond (já vimos que ele era o Soberano Grande Comendador da França e Presidente da referida
Conferência) recusou-se a ouvir as explicações do Ir. José Maria Moreira Guimarães (já vimos que
ele era membro da Comissão do Supremo Conselho subordinado ao Grande Oriente do Brasil) e
recusou-se a examinar os documentos que este último portava, de modo que ele e seus dois
companheiros (cujos nomes já vimos) não puderam ingressar no plenário e, assim, não puderam
apresentar suas razões aos congressistas. Essas razões, muito bem redigidas, haviam sido lavradas
um pouco antes, em 27 de abril de 1929. Porém, em sentido contrário ao daquelas razões, foi muito
eficiente uma carta escrita pelo Ir. Mário Behring, que o Ir. Joaquim Moreira Sampaio levou, daqui do
Brasil, e entregou, em mãos, ao influente Ir. John Cowles (já vimos que ele era o Soberano Grande
Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul e da Comissão da Regularidade dos Supremos
Conselhos).
Só os Estados Unidos foram recepcionados, normalmente, com dois Supremos Conselhos, um da
Jurisdição Sul, vanguardeiro, cujo Soberano Grande Comendador era o já citado John Cowles, e
outro, da Jurisdição Norte, cujo Soberano Grande Comendador era o Ir. Leon Abbott. Todos nós
sabemos que ambos os Supremos Conselhos norte-americanos são regulares, escorados em
fundamentos históricos.
Não é permitida outra duplicidade em todo o mundo. Cada país apenas pode ter um Supremo
Conselho, com os válidos reconhecimentos internacionais.
Ao todo, compareceram à focalizada Conferência vinte oito Supremos Conselhos. Deveriam ser vinte
e nove, se não houvesse a exclusão da Escócia (que ironia!).
Os Supremos Conselhos de Portugal e da Espanha enfrentaram problemas semelhantes ao do Brasil,
na segunda feira, 29 de abril de 1929, diante da Comissão de Verificação de Poderes. No problema
português, o Ir. Augusto Ferreira de Castro considerava-se, e foi reconhecido, Soberano Grande
Comendador, em detrimento do Ir. Gomes da Costa. No problema espanhol, o Ir. José Bárcia,
Soberano Grande Comendador, obteve êxito, ao contestar, com veemência, a acusação formulada
pelo Ir. Doucham Militchevitch, Lugar-Tenente Comendador do Supremo Conselho da Iugoslávia e,
também, representante oficial do Supremo Conselho do Egito, no sentido de que o Supremo
Conselho da Espanha não seria soberano, e sim subordinado ao Grande Oriente Espanhol.
Os pródromos, os corolários, e todos os acontecimentos concernentes à referida Conferência
Internacional comportam a elaboração de um atraente livro. Essa irrefragável possibilidade explica os
óbices surgidos durante a feitura deste minúsculo trabalho, tornando angustiante selecionar os dados
prioritários (porque, no caso, não os há desprovido de saliência), dentro das expressivas fontes de
pesquisa afiveladas no volumoso feixe documentativo que conseguimos reunir, gradativamente, ao
longo de quarenta e dois anos de nossa vida maçônica.
Mas para o enriquecimento do nosso acervo, contribuíram, de maneira primacial, as inestimáveis
doações do Ir. Kurt Prober (nosso dedicado mestre, que, demais dessas doações, abriu e mantém
abertas aos nossos estudos as portas de sua inaudita Biblioteca e as gavetas de seus
surpreendentes Arquivos).
Passaram-se já setenta e três anos, desde o evento objeto da presente
síntese. O Supremo Conselho então presidido pelo Ir. Octávio Kelly está
hoje localizado no Campo de São Cristóvão, nº 114, São Cristóvão, Rio de
Janeiro, RJ. Persiste a negativa que lhe foi imposta em 1929.
O Supremo Conselho então presidido pelo Ir. Mário Behring está hoje
localizado na Rua Barão, nº 1317, Praça Seca, Jacarepaguá, Rio de Janeiro,
RJ. Ele é o único no Brasil, que tem os reconhecimentos internacionais dos
Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito, seguidores do
prestigioso Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos da
América.
Seria uma indisfarçável deselegância encerrar este trabalho sem remeter,
juntamente com o tríplice e fraternal abraço, os sinceros agradecimentos ao
sempre fidalgo Ir. João Guilherme da Cruz Ribeiro, que nos cedeu o valioso
espaço gráfico de Engenho & Arte.•
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Autor: Irm. Joaquim da Silva Pires , M. I., publicado na Revista Cultural
Maçônica, ENGENHO & ARTE na Maçonaria Universal, nº 11, Primavera
2002, págs. 13 a 15.

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Notas:

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