Você está na página 1de 365

1

2/16/2023

História do Direito Português


(elementos de apoio)

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2
2/16/2023

1. Introdução

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
3

1. Definição
História do Direito – disciplina que estuda as instituições e a vida jurídica do passado,
nos seus múltiplos aspetos normativos, práticos, científicos e culturais:
⎯ História das fontes do direito
⎯ História das instituições jurídicas
⎯ História do pensamento jurídico
⎯ História política e constitucional

Método cronológico e método monográfico.


J. Domingues
2/16/2023
4

2. Estatutos pombalinos 1772


Face ao «abuso com que se ensinou sempre, como principal, o direito
civil romano, que só era acessório e subsidiário, não tendo havido até
agora cadeira nem professor privativo e próprio para as lições das leis
pátrias, que eram só as principais e dominantes do foro e auditórios de Portugal»
[Estatutos, Tít. III, Cap. IX, p. 163]:

1. Foi criada a disciplina da História do Direito Português;

2. E o professor dessa nova disciplina incumbido de preparar um manual.


J. Domingues
2/16/2023
5

2. Estatutos pombalinos 1772


1772, Estatutos, Tít. III, Cap. IX: «Será o professor obrigado a
formar um compêndio elementar da dita história do direito e de
todas as suas partes, próprio e acomodado para as lições anuais
desta cadeira, formando-o com todas as circunstâncias e qualidades
que devem concorrer em semelhantes compêndios e aplicando-se,
para a composição dele, com muito fervor, atividade e diligência,
para poder ordená-lo com a maior brevidade possível
Pelo sobredito compêndio, depois de haver sido bem examinado pela Congregação da
Faculdade e de ser aprovado por mim [rei], se farão as lições desta cadeira» (pp.
166-167)
J. Domingues
2/16/2023
6

2. Estatutos pombalinos 1772


Tít. III, Cap. IX, pp. 157-161 – Fontes de direito a ensinar:
1. Leis e costumes dos povos anteriores à nacionalidade;
2. Leis gerais de D. Afonso II e dos monarcas sucessores;
3. Capítulos das Cortes gerais, inclusive, a «natureza das Cortes e das decisões que nelas
estabeleciam os reis» – as Cortes eram um órgão consultivo ou deliberativo?;
4. Assentos dos tribunais superiores, a partir de D. Manuel I;
5. Leis municipais (forais, foros locais, posturas, estatutos, etc…);
6. Compilações das leis pátrias (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas).
J. Domingues
2/16/2023
7

2. Primeiros compêndios
Pasqual José de Melo Freire dos REIS – Historia Juris Civilis Lusitani,
1788 (1.ª edição)
Francisco Coelho de Sousa e SAMPAIO – Prelecções de Direito Patrio
Publico e Particular, Offerecidas ao Serenissimo Senhor D. João
Principe do Brasil. Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1793.

Ricardo Raimundo NOGUEIRA – Prelecções de Direito Público Interno


de Portugal (Anno Lectivo de 1795 a 1796), Coimbra, Imprensa da
Universidade, 1858.

J. Domingues
2/16/2023
8

Fim
J. Domingues
9
2/16/2023

I – Direito Peninsular
(antecedentes do direito português)

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
10

I – Direito Peninsular
Sumário:
1. Direito primitivo ou pré-romano (Séc. V ao Séc. III a. C.)
2. Direito romano vulgar (Séc. I a. C. ao Séc. V)
3. Direito germânico (Séc. V ao Séc. VIII)
4. Direito muçulmano (711- invasão islâmica da Península Ibérica)
5. Direito da Reconquista Cristã (718 / 1492, conquista de Granada): o
direito franco
J. Domingues
2/16/2023
11

1. Direito Ibérico Primitivo

Direito primitivo ou celtibérico – direito dos povos primitivos (Iberos, Celtas,


Lígures, Tartéssios, Lusitanos, etc.) que habitaram a Península Ibérica, antes da
conquista romana da Península Ibérica, de base consuetudinária.

ENTRAR ÀS VARAS – composição corporal ou por açoites, estabelecida para


delitos não graves. O agressor recebia do ofendido ou de quem este indicasse, o
número de varadas fixado na sentença. Se a pena tivesse de ser aplicada a mulher
casada, o executor seria o marido, em homenagem à autoridade familiar.
J. Domingues
2/16/2023
12

1. Direito Ibérico Primitivo

(i) «os povos do sul da Península possuíam leis escritas em verso, com
seis mil anos (versos?) de antiguidade», prova de um direito oral/escrito.

(ii) entre os povos do Ocidente peninsular os condenados à morte (crimes


graves) são «lançados do alto dos rochedos» e os parricidas são
«apedrejados diante das fronteiras» (Geografia da Ibéria, Liv. III, Tít. 3).
Justiça de Montemor – aquela em que os criminosos eram Estrabão (Séc. I a. C)
despenhados de um rochedo (referida nas Ordenações Afonsinas,
1446).
J. Domingues
2/16/2023
13

1. Direito Ibérico Primitivo


ORDÁLIO OU JUÍZO DE DEUS:
 Prova judiciária usada para se apurar a culpa ou inocência do acusado, invocando uma
intervenção divina através de um procedimento específico – a justiça divina ao
serviço da justiça humana.
 Remete a decisão para o juízo de Deus, na crença de que este não iria favorecer o
culpado ou deixar condenar um inocente (milagre judicial).
 Era vulgar, entre as comunidades primitivas, recorrer-se às divindades para apurar a
verdade sobre determinado litígio jurídico.
 Fusão e complementaridade entre as duas ordens: jurídica e religiosa.
J. Domingues
2/16/2023
14

1. Direito Ibérico Primitivo

DUELO – Forma de prova judiciária, característica dos


povos primitivos. Remete a decisão para o juízo de Deus,
na crença de que este não iria favorecer o culpado.

 Cerâmica celtibérica – o “vaso de los guerreros”


representa um possível duelo.

 O duelo é referido nos forais portugueses de Freixo


de Numão (1152), Urros (1182) e Santa Cruz (1215).
J. Domingues
2/16/2023
15

2. Direito Romano Vulgar


Elemento romano – a Espanha romana devia reger-se pelo direito do Império, no
entanto, vários fatores levam à origem de um direito romano vulgar…

Direito romano vulgar – «a falta de cultura jurídica dos povos das províncias e a
ausência de jurisconsultos especializados, que pudessem atingir a subtileza das
doutrinas romanas e facilitar a respetiva aplicação prática, conduziram à sua
incompreensão. Assim, as obras de direito clássico deixaram de ser utilizadas
diretamente e viam-se substituídas por comentários, resumos ou antologias, que delas
faziam juristas mais ou menos hábeis e preparados» (Almeida Costa, HDP, p. 98).
J. Domingues
2/16/2023
16

2. Direito Romano Vulgar

DOTE (romano) – conjunto de bens que a mulher levava para o casamento para que,
através dos seus rendimentos, ajudasse o marido nas despesas da família e, ainda, para
que à morte do marido, a mulher dispusesse de bens para sobreviver. Estes bens eram-
lhe dados pelo seu pai, por algum amigo ou pela própria mulher.

De salientar, as tábuas de Aljustrel (do tempo de Adriano, 117-138) – dois


fragmentos epigráficos romanos, em cobre, com a legislação imperial sobre a
exploração mineira no Vicus Metallum Vipascense (Vipasca, Aljustrel).
J. Domingues
2/16/2023
17

3. Direito Germânico
Elemento germânico – surge na sequências das chamadas invasões bárbaras, de povos como
os Alanos, Vândalos, Suevos e Visigodos.

Principais fontes de direito:

 Código de Eurico (c. 475/476) – primeira coletânea sistemática de direito visigótico.

 Breviário de Alarico ou Lex Romana Visigothorum (506)

 Código revisto de Leogivildo (c. 580)

 Código Visigótico ou Liber iudicum (654)


J. Domingues
2/16/2023
18

3. Direito Germânico

Código Visigótico ou Liber iudicum (654):


 Iniciado por Chindasvindo; publicado por Recesvindo; dividido em 12 livros;
passou a ser o direito geral da Península Ibérica.​

 Fuero Juzgo (1241) – tradução para Castelhano, por Fernando III.​

 O Fuero Juzgo mantêm-se como direito vigente até ao séc. XIX, com a
aprovação do Código Civil Espanhol.​

 Em Portugal não foi traduzido e desaparece no final do séc. XII. Porquê?


J. Domingues
2/16/2023
19

3. Direito Germânico
ORDÁLIO DO FERRO EM BRASA (Foro de Cuenca, Espanha):
 Aquece-se o ferro até ficar em brasa;
 O acusado lava a mão e enxuga-a perante todos;
 Pega no ferro, caminha 9 passos e pousa-o devagar;
 O sacerdote abençoa-lhe a mão;
 O juiz cobre-lhe a mão com cera e envolve-a com um pano de linho.
 Três dias depois examinava-se a mão;
 Se não apresentasse sinais de cicatrização, era condenado

J. Domingues
2/16/2023
20

3. Direito Germânico
CASAMENTO DE JURAS – é a forma não solene de casamento, também designada a furto e carateriza-se
pela troca de recebimentos ou palavras de presente efetuada fora da igreja e em qualquer lugar,
embora, por via de regra, na presença de testemunhas e, muitas vezes, na presença de um clérigo que
desempenhava as funções de testemunha qualificada e, porventura, até as de oficial público. O
casamento formal era designado casamento de bênção.

Casamento de juras é «uma espécie de casamento médio entre o de bênção e o de fama pública (...) em
que o mútuo consenso dos contraentes era firmado com juramento perante qualquer ministro de
culto (in manu clerici) mas em que não se dava o sacramento, porque, nesses foros, é considerado
diverso e inferior ao de bênção» (Alexandre Herculano).
J. Domingues
2/16/2023
21

3. Direito Germânico

DOTE (germânico) – é um conjunto de bens que o noivo dá à noiva antes do


casamento. Visa, sobretudo, dar-lhe meios de sobrevivência na eventualidade de
ficar viúva. Entretanto, permite que a mulher contribua, com os seus rendimentos,
para as despesas da família.

J. Domingues
2/16/2023
22

4. Direito Muçulmano

O direito muçulmano era, sobretudo, um direito de índole confessional.

Fontes: o Alcorão e a Sunna.

TERÇA – é a quota (1/3) que o testador pode livremente dispor. Persistiu, no direito
português, até à reforma republicana de 31 de outubro de 1910.

J. Domingues
2/16/2023
23

5. Direito da Reconquista Cristã


POSSE DE ANO E DIA – esta figura jurídica, de origem franca, tem sido objeto de
controvérsia entre quem entende que:
a) determina a prescrição da ação de reivindicação do proprietário quando o
demandado tivesse a posse da coisa reivindicada há, pelo menos, um ano e um dia.
b) determina a perda da posse (do antigo possuidor) quando o novo
possuidor a tivesse, pelo menos, há um ano e dia. É com este sentido que o nosso
atual Código Civil consagra esta figura (art.º 1267º, nº. 1, al. d).

J. Domingues
2/16/2023
24

5. Direito da Reconquista Cristã


DIREITO DE AVOENGA – é o direito de os parentes do vendedor preferirem na compra
e venda de bens de proveniência familiar. Também denominado retrato familiar, a sua
ratio era evitar que tais bens fossem cair nas mãos de estranho.

Lei de D. Afonso II (1211) – estabelece que se alguém quiser vender os seus bens
de avoenga (dos avôs), estes sejam, preferencialmente, vendidos aos irmãos ou aos
parentes mais chegados, de forma a resguardar o património familiar.

J. Domingues
2/16/2023
25

Fim
J. Domingues
26
2/16/2023

II – Individualização do direito português


(Séc. XII – Séc. XIII)

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
27
II – Individualização do Direito Português

Sumário:
1. Localização temporal
2. Caracterização
3. Fontes de direito
4. Regime senhorial
5. Contratos de exploração agrícola e de crédito
6. Direitos banais
7. Vindicta privata.
J. Domingues
2/16/2023
28

1. Localização temporal
Data de início – independência do reino de Portugal (Séc. XII):
 1128 – Batalha de S. Mamede.
 1140. 22 de março – primeiro documento escrito que prova o uso do título de rei por
parte de D. Afonso Henriques.
 1143. 5 de outubro – Tratado de paz de Zamora.
 1143. 13 de dezembro – Carta Claves regni de D. Afonso Henriques ao Papa Inocêncio
II.
 c. 1143 – Leis das Cortes de Lamego (1.ª Lei Fundamental do reino).
 1156. 1 de dezembro – decisão consensual entre Afonso VII e Afonso Henriques
 1179. 23 de maio – Bula manifestis probatum.
Data de fim – reinado de D. Afonso III (1248-1279), no qual se iniciou a receção do direito
comum (romano-canónico) em Portugal.
J. Domingues
2/16/2023
29

1. Localização temporal
O processo de independência do reino de Portugal (Séc. XII):
1128. 24 de junho – Após a vitória na batalha de S. Mamede, D. Afonso
Henriques toma conta do governo do Condado Portucalense, afastando sua mãe,
a condessa D. Teresa.
1140. 22 de março – Na doação da Albergaria das Gavieiras, feita por
Beneditino à Sé de Braga, D. Afonso Henriques consta oficialmente com o título
de rei (rex), dando um sinal evidente das suas intenções autonomistas; até à data,
este é o primeiro documento escrito que prova o uso do título de rei por parte de
D. Afonso Henriques.
J. Domingues
2/16/2023
30

1. Localização temporal
O processo de independência do reino de Portugal (Séc. XII):
 1143. 5 de outubro – No tratado de paz de Zamora, entre D. Afonso VII de Leão e D.
Afonso Henriques, assinado na presença do cardeal Guido de Vico, legado pontifício, o
primeiro reconhece o título de rei ao segundo, o que, no entanto, não implica um total
reconhecimento da independência de Portugal.
 1143. 13 de dezembro – Carta Claves regni de D. Afonso Henriques ao Papa Inocêncio
II, com um juramento de fidelidade e de enfeudamento do reino de Portugal à Santa Sé,
para obter a chamada «liberdade romana», em que o monarca assume, em seu nome e
dos seus sucessores, o pagamento de um tributo anual de quatro onças de ouro, em
contrapartida da defesa e auxílio a prestar pela Santa Sé ao novo reino cristão.
J. Domingues
2/16/2023
31

1. Localização temporal
O processo de independência do reino de Portugal (Séc. XII):
 [c. 1143] – Ter-se-iam reunido as Cortes em Lamego, que, além da aclamação
da independência do Reino, teriam aprovado leis sobre a sucessão da coroa
portuguesa, leis da nobreza e leis de âmbito criminal. A ser verdadeira na sua
génese, esta seria a lei fundacional do Estado, aprovada em verdadeiras Cortes
constituintes, sendo o primeiro documento constitucional formal do novo país. A
partir de 1640 a “Lei de Lamego” passaria a ser assumida oficialmente como Lei
Fundamental do Reino em matéria sucessória, tendo estado em vigor quase dois
séculos, até ser “recebida” pela Constituição de 1822.
J. Domingues
2/16/2023
32

1. Localização temporal
O processo de independência do reino de Portugal (Séc. XII):

 1156. 1 de dezembro – Ao confirmar a divisão de propriedades entre o arcediagado e o cabido de Tui,


que incluía terras a norte e a sul do rio Minho, D. Afonso VII invoca que a sua decisão foi tomada «ex
consensu domini Adefonsi Regis Portugalie» (com o consentimento de D. Afonso rei de Portugal). Ao
dispensar um tratamento de igualdade e de chefe de Estado a D. Afonso Henriques, D. Afonso VII
reconheceu definitivamente a soberania e independência do reino de Portugal.

 1179. 23 de maio – A bula Manifestis probatum, do Papa Alexandre III, reconheceu formalmente a
independência do reino de Portugal, ficando subjacente uma certa subordinação de Portugal a Roma,
no quadro de então da suserania do Papa sobre os reinos cristãos. É o reconhecimento definitivo do
Estado português no seio da comunidade internacional.

J. Domingues
2/16/2023
33

2. Caraterização
 Direito de índole consuetudinária
 Predomínio do direito foralengo
 Surgimento das primeiras leis gerais portuguesas
 Direitos banais, de base feudal
 A justiça de vindicta privata (vingança privada)
 Chegada a Portugal dos primeiros testemunhos do direito romano
“renascido” (fase da introdução ≠ da fase de receção)
J. Domingues
2/16/2023
34

3. Fontes de direito
Fontes de direito oriundas do reino de Leão:
1. O costume
2. Os forais outorgados pelos monarcas anteriores
3. As leis das Cúrias e Concílios leoneses
4. O Código Visigótico
Fontes de direito dos monarcas portugueses:
1. Os forais outorgados pelos reis de Portugal
2. As leis gerais dos monarcas portugueses
3. Concórdias e concordatas
J. Domingues
2/16/2023
35

3. Fontes de direito – alheias


Costume – usado num sentido amplo ou residual, abrangendo todas as fontes de
direito tradicional que não tenham caráter legislativo, incluindo:

 Sentenças da Cúria régia (costumes da Corte)

 Sentenças de juízes municipais e de juízes arbitrais

 Pareceres de juristas consagrados

[Almeida COSTA, HDP, pp. 190-191]

J. Domingues
2/16/2023
36

3. Fontes de direito – alheias


Foral – corresponde ao estatuto concelhio outorgado pelo rei ou por um senhorio laico ou
eclesiástico a uma determinada terra. O foral é o «documento fundacional ou carta constitutiva
do concelho recetor, onde ficava resumido o essencial do direito público aplicável, incluindo o
que chamaríamos hoje direito constitucional, direito penal e direito administrativo e direito
fiscal, por exemplo, fixando os direitos e deveres coletivos dos povoadores, as relações com a
entidade outorgante, tributos, composições pecuniárias por crimes e contravenções, serviço
militar, liberdades e garantias pessoais e patrimoniais, utilização e aproveitamento de espaços
comuns, normas de procedimento judicial, limites territoriais, etc.» [V. MOREIRA e J.
DOMINGUES, HCP – I, 2020]

J. Domingues
2/16/2023
37

3. Fontes de direito – alheias


 «Cada monarca, no início do seu reinado, jurava respeitar os foros privativos dos
concelhos do seu reino, reconhecendo e renovando o seu caráter de supremacia
constitucional, garante da autonomia do poder local e freio limitativo do poder
político central» [V. MOREIRA e J. DOMINGUES, HCP – I, 2020]
 Os forais outorgados durante a Idade Média (antes e depois da autonomia de
Portugal) formam um «volumoso conjunto de microconstituições locais – os
“centenares pactos constitucionais” a que se refere Alexandre Herculano» [V.
MOREIRA e J. DOMINGUES, HCP – I, 2020]

J. Domingues
2/16/2023
38

3. Fontes de direito – alheias


Forais anteriores à nacionalidade:
 forais outorgados por D. Fernando I de Leão, o Magno, a S. João da Pesqueira,
Penela, Paredes, Linhares e Ansiães (segunda metade do séc. XI)
 forais outorgados pelos condes portucalenses, D. Teresa e o infante D. Afonso
Henriques: Datas Reinados Forais
1037-1065 D. Fernando I de Leão 5
1095-1112 Condes Portucalenses (Henrique e Teresa) 8
1112-1128 D. Teresa 3
1128-1140 Infante D. Afonso Henriques 5
J. Domingues
2/16/2023
39

3. Fontes de direito – alheias


Leis das Cúrias e Concílios:
 Cúria de Leão (1020) – chegou aos nossos dias através do cartulário da Sé de Braga (o
chamado Liber Fidei), mas terão existido outras versões portuguesas diferentes, como se
pode deduzir a partir da legislação de D. Afonso II (1211)
 Concílio de Coiança (1055) – surgem trasladadas em cartulário da Sé de Coimbra (o
chamado Livro Preto)
 Cúria de Oviedo (1115) – teriam sido juradas por D. Teresa e D. Afonso Henriques
 Influência de leis leonesas em 8 leis de D. Afonso II: as leis 1 e 20, com a cúria de 1020; as
leis 6, 7, 14, 22 e 27 com a cúria de 1188; e a lei 13 com a cúria de 1208. Sem dúvida que
«a importância das leis de 1188 parece ser claramente superior à das leis das demais cúrias»
(Duarte NOGUEIRA, Lei e Poder Régio, p. 382).
J. Domingues
2/16/2023
40

3. Fontes de direito – alheias


Código Visigótico (654) – Fonte de direito da época germânica que, em Portugal, deixa de se
aplicar a partir do final do século XII. Porquê?
 Por causa do acentuar do Direito foralengo
 Por causa do incremento da legislação régia, em paralelo com o fenómeno da receção
do Ius commune
No entanto,
 a segunda metade do séc. XII, fica muito além dos primeiros forais em território
português (séc. XI) e muito aquém do big bang da legislação geral dos monarcas
portugueses (séc. XIII, com D. Afonso II e D. Afonso III).
 O foral de Covas (1166) e os foros extensos de Alfaiates (confirmados em 1297) são
comprovativo de uma complementaridade entre os forais e o Código Visigótico.
J. Domingues
2/16/2023
41

3. Fontes de direito – alheias


Código Visigótico (654) – Em Castela:
 Fuero Juzgo (1241) – tradução do Código Visigótico para Castelhano, por D.
Fernando III, que se manteve como direito vigente até ao séc. XIX, com a
aprovação do Código Civil Espanhol.
 Verificou-se uma complementaridade do Código Visigótico com os forais e com
a legislação régia
 Por exemplo, no foral de Milmanda (1199) impunha-se o recurso ao Librum
Iudicialem para a resolução dos conflitos judiciais

J. Domingues
2/16/2023
42

3. Fontes de direito – alheias


Código Visigótico (654) – o tribunal superior de apelação das sentenças em que eram
aplicadas as normas do Liber situava-se em Leão (e Santiago de Compostela?):
 Após a independência de Portugal, a última instância de recurso para as eventuais
dúvidas suscitadas pela aplicação das leis do Liber passou a situar-se no reino vizinho
 Catedral de León, “Locus Appellacionis” (Lugar de Apelação)
 Antes da unificação, Castela também se insurgiu contra o tribunal de Leão e o Liber
Iudicum (prólogo do Juicio de Albedrío)
 Burgos – ter-se-á feito uma queima pública dos exemplares do Fuero Juzgo
J. Domingues
“Locus Appellacionis” (Lugar de Apelação) 43
2/16/2023

J. Domingues
2/16/2023
44

3. Fontes de direito – próprias


Forais – após a autonomia de Portugal, surgem os forais outorgados pelos reis
portugueses [Cf. os forais publicados nos PMH – https://purl.pt/12270 ].
 O foro do concelho incluía a carta de foro ou “foro restrito” e os chamados
costumes ou “foro extenso” – Alfaiates, Castelo Rodrigo, Castelo Bom, Castelo
Melhor, Portel, Garvão, Terena, Alcáçovas, Vila Nova de Alvito, Oriola, Borba,
Santarém, Salvaterra de Magos, Beja, Guarda, Porto de Mós, Figueira, São
Martinho de Mouros, Torres Novas, Porto, Arruda e Aveiro – a maioria dos quais
nunca chegaram a ser transcritos, mantendo-se como direito consuetudinário.

J. Domingues
2/16/2023
45

3. Fontes de direito – próprias


Leis gerais portuguesas:
 D. Afonso Henriques (1140-1185) terá feito uma lei sobre as barregãs dos clérigos
 D. Sancho I (1185-1211) promulgado uma provisão com características de lei geral
 D. Afonso II (1211-1223) vai promulgar um conjunto de vinte e nove diplomas
legislativos, na Cúria de Coimbra de 1211, e duas no final do reinado
 D. Sancho II (1223-1245) não terá feito quaisquer leis, limitando-se a confirmar e
ampliar a lei da desamortização de seu pai
 D. Afonso III (1248-1279), o valor exagerado de mais de três centenas de leis (PMH)
deverá ser atualizado para cerca de três dezenas
J. Domingues
2/16/2023
46

3. Fontes de direito – próprias


Concórdias e concordatas – acordos efetuados entre o rei e as autoridades
eclesiásticas, com intervenção do papa nas primeiras.
 D. Sancho I (1185-1211)
 D. Afonso II (1211-1223)
 D. Sancho II (1223-1245)
 Incremento desta fonte no período seguinte

J. Domingues
2/16/2023
47

4. Regime senhorial

Regime senhorial – este regime pressupunha descentralização, o rei


partilhava o poder político com senhorios laicos e eclesiásticos, que
exercem funções de soberania;
 Cobrar impostos e tributos;

 Administrar justiça;

 Proceder ao recrutamento militar.

J. Domingues
2/16/2023
48

4. Regime senhorial
Regime senhorial – Tipologias:
 Couto – era um senhorio concedido por um documento (carta de couto) que
delimitava a terra com a colocação de marcos ou padrões, geralmente, a um
senhorio eclesiástico.
 Honra – era um senhorio delimitado a favor de um fidalgo, passando a terra a
ser privilegiada e a não pagar tributo a el-rei.
 Beetria – povoações que sacudiram o jugo sarraceno sem qualquer auxílio do
rei de Portugal ou de Leão, ficando assim com o privilégio de escolher o seu
próprio senhor.
J. Domingues
2/16/2023
49

5. Contratos de exploração agrícola


 Enfiteuse (aforamento ou emprazamento) – contrato pelo qual se operava a
repartição do domínio direto e do domínio útil, entre os contratantes: o primeiro
pertencia ao senhorio e o segundo ao enfiteuta ou foreiro; este pagava uma pensão
anual ao senhorio, chamada foro ou cânon, em regra uma percentagem dos frutos
produzidos; e podia alienar a sua posição de enfiteuta a terceiro, dando preferência
ao senhorio ou pagando o laudémio (normalmente, 2,5% do preço); em caso de
sucessão o sucessor do enfiteuta estava obrigado a pagar a lutuosa (também 2,5%).
 Complantação – o proprietário de um terreno cedia-o a um agricultor para que o
cultivasse, em regra, plantando espécies duradouras (vinhas, oliveiras…); no final
do prazo acordado procedia-se à divisão entre ambos, geralmente em partes iguais
J. Domingues
2/16/2023
50

5. Contratos de exploração agrícola


 Compra e venda de rendas – o proprietário de um prédio, carecido de capitais, cedia
a uma pessoa que deles dispusesse, em compensação de uma soma vitalícia, o
direito a uma prestação monetária anual, imposta como encargo sobre esse prédio.

 Penhor imobiliário – que pressupunha a transmissão do prédio pelo proprietário-


devedor ao seu credor. Evoluiu para a hipoteca de moldes romanos.

J. Domingues
2/16/2023
51

6. Direitos banais
Extintos por decreto de 20 de março de 1821:
 Tributos devidos ao senhor pelo uso de determinados espaços agrícolas (os direitos sobre os
fornos, moinhos e lagares);
 Privilégios comerciais (exclusivos de boticas e estalagens ou o privilégio de relego, que era
o exclusivo da venda do vinho do senhor durante grande parte do ano);
 Obrigações pessoais (prestações em frutos, dinheiro, aves ou curazis [carne de porco]
impostas aos habitantes de qualquer povoação ou distrito a favor de algum senhorio, pelo
simples facto de viverem naquela terra, por terem nela casa ou eira, por casarem, por irem
buscar água às fontes públicas ou a elas levarem seus gados, por acenderem fogo, por terem
animais, etc…
 Serviços com animais.
J. Domingues
2/16/2023
52

7. Vindicta Privata
 A vindicta privada (autotutela) consiste numa forma arcaica de tutela
privada em que, sobretudo em caso de morte ou desonra, o próprio
ofendido ou os seus parentes podiam fazer justiça pelas próprias mãos,
ou seja, «o próprio ofendido, ou os seus parentes, retribuem o mal
recebido por um mal equivalente».
 A ação individual de repor o mal sofrido dava azo a imensas injustiças e
punha em causa o princípio da proporcionalidade das penas

J. Domingues
2/16/2023
53

7. Vindicta Privata
Vindicta privada:
 1211 – Lei de D. Afonso II contra a vindicta privada, aplicando uma coima de quinhentos soldos de
ouro aos prevaricadores.
 1318.31 de julho – Lei de D. Dinis sobre a vindicta privada, proibindo que esta se praticasse sob a
forma de duelo nos locais onde estivesse a corte ou no âmbito de duas léguas ao redor.
 1325. 11 de abril – Lei de D. Afonso IV contra a vindicta privada, invocando uma lei de seu avô (D.
Afonso III) e outra de seu pai (D. Dinis) e aplicando pena de morte aos transgressores da sua lei.
 1327. 17 de março – Lei de D. Afonso IV sobre a vindicta privada, aplicável aos fidalgos do reino,
mas ressalvando-lhe o que por direito estivesse estabelecido para os duelos.
 1521 – Título das Ordenações Manuelinas que estabelece a pena contra aqueles que fizessem justiça
pelas suas mãos.
J. Domingues
2/16/2023
54

7. Vindicta Privata
“Constituição penal” da Idade Média portuguesa:

 «De salientar o grande esforço dos monarcas medievais portugueses no combate à


vindicta privada ou autotutela do direito, que significa “fazer justiça pelas próprias
mãos”. Esta luta contra a tutela privada do direito deu origem a uma proibição
expressa de quaisquer manifestações de justiça privada não institucionalizadas por
lei (art.º 202º, n.º 4 da CRP), com a consequente reserva constitucional da
administração da justiça para os tribunais (art.º 202º, n.º 1 da CRP)» [V. MOREIRA e
J. DOMINGUES, HCP – I, 2020].
J. Domingues
2/16/2023
55

Fase de Introdução do Direito Romano

Os primeiros indícios do novo direito, formado a partir de Bolonha,


revelam-se através dos seguintes mecanismos:
 Livros de Direito em Portugal
 Peregrinação académica
 Praxis no foro eclesiástico

J. Domingues
2/16/2023
56

Livros de Direito em Portugal


Os primeiros livros da romanística em Portugal:
1185.Nov.08 – O bispo do Porto, D. Fernando Martins, deixou à Sé do Porto e à Sé
de Braga: Decreto de Graciano, Instituta, Novelas , Autêntico, Código, Digesto
Velho, Digesto Novo, Digesto Esforçado, Sumas ao Decreto, à Instituta e ao Código.
 Elevado valor pecuniário – no século XIII, a venda dos livros do Corpus Iuris
Civilis era suficiente para se comprar um olival.
 Hoje estão inventariados mais de 400 livros de Ius commune na Idade Média (séc.
XII a séc. XV), em Portugal.
J. Domingues
2/16/2023
57

Peregrinação académica
Os juristas portugueses versados em Ius commune:

 Mestre Alberto, chanceler de D. Afonso Henriques, Mestre Julião, chanceler


de D. Afonso Henriques, D. Sancho I e D. Afonso II e Mestre Vicente,
chanceler de D. Sancho II.

 Em documento de 1195, no reinado de D. Sancho I, surge referência a


um magister decretista.

 Aumento exponencial no reinado de D. Afonso III (1248-1279).


J. Domingues
2/16/2023
58

Praxis no foro eclesiástico


A receção canónica:

 Inexistência de barreiras políticas, numa sociedade em que os seus membros


professam o mesmo culto e obedecem aos mesmos preceitos legais
estabelecidos pelo sumo líder espiritual;

 O novo Direito da Igreja mantém-se na senda da tradição canónica anterior;

 O facto de ser um Direito universal e pontifício, que a Igreja pretendeu que


fosse superior a qualquer Direito nacional.
J. Domingues
2/16/2023
59

Praxis no foro eclesiástico


A receção canónica e a praxis no foro eclesiástico:

1182-1187 – Processo judicial canónico entre o arcebispo de Braga e o de


Compostela, são aplicados textos justinianeus do Código, do Digesto e
do Decreto de Graciano.

 1237 – Processo entre D. Sancho II e o bispo do Porto, com copiosas referências a


fontes do Ius commune.

J. Domingues
2/16/2023
60

Textos jurídicos medievais glosados

J. Domingues
2/16/2023
61

Fim
J. Domingues
62
2/16/2023

III – Renascimento do direito romano


(Séc. XII)

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
63

III – Renascimento do direito romano

Sumário:
1. A expressão “renascimento do direito romano”
2. O pré-renascimento e os fatores determinantes do “renascimento”
3. “Renascimento” do direito romano:
3.1. Escola dos glosadores
3.2. Escola dos comentadores

J. Domingues
2/16/2023
64

1. “Renascimento do direito romano”

 A expressão “renascimento do direito romano” não corresponde totalmente à


realidade, porque o direito romano nunca despareceu completamente:
 manteve-se vigente no Império Romano do Oriente, até à queda de Constantinopla,
em 1453 (final da Idade Média);
 embora com menos intensidade, nunca despareceu no Ocidente e manteve-se
latente, sobretudo na região de Itália, onde se viria a iniciar o renascimento jurídico.

 Há quem prefira a expressão alternativa “ressurgimento do direito romano” ou


“ressurgimento jurídico medieval”.
J. Domingues
2/16/2023
65
2. Pré-renascimento: Fatores determinantes

Pré-renascimento do direito romano:


 Fatores políticos, v. g., a restauração do Império do Ocidente, o chamado Sacro
Império Romano-Germânico (Séc. IX), e a disputa pela supremacia do poder
político, entre a Igreja e o Império (e os reis medievais)
 Fatores religiosos, v. g., o papel da Igreja e as obras canónicas do séc. XI [Ivo de
Chartres, (bispo, 1090-1115): o Decretum, a Tripartita e a Panormia)
 Fatores culturais, progresso geral da cultura e, sobretudo, o ensino da dialética e da
retórica em escolas de mosteiros e catedrais, que incluíam o direito
 Fatores económicos, v. g., aumento da população, êxodo do campo, a emergência da
economia citadina…
J. Domingues
2/16/2023
66

3. Renascimento do direito romano


O direito medieval renascido é um novo direito (≠ do direito romano originário), onde
a glosa chegou a sobrepor-se ao texto legal e se alterou o sentido originário de muitos
fragmentos legais, por exemplo:
 Q.O.T ou princípio do consentimento romano [quod omnes tangit ab omnibus aprobari
debet (Cod. 5.59.5.2) = o que a todos toca por todos deve ser aprovado] –
originariamente direito privado, aplicado ao regime jurídico da tutela pessoal, passou a
servir de fundamento aos parlamentos medievais, convertendo-se «numa poderosa
alavanca de participação política e de limitação do poder político. No
constitucionalismo medieval, ele fundava doutrinariamente a intervenção das Cortes e
a reivindicação do seu poder legislativo, ou pelo menos, codecisório» [V. MOREIRA e J.
DOMINGUES, HCP 1, 2020, p. 46].
J. Domingues
2/16/2023
67

3. Renascimento do direito romano


O renascimento jurídico medieval está associado a duas escolas:
 Escola dos glosadores, escola irneriana ou escola de Bolonha (Séc. XII) – fundada em
Bolonha (Itália) por Irnério(† ca. 1125), usava a glosa como principal instrumento de
trabalho.
 Escola dos comentadores (Séc. XIII-XIV) – sucessora da escola dos glosadores,
carateriza-se, sobretudo, por usar uma metodologia mais avançada e desprendida da
letra dos textos do CIC.
Deu origem ao o ius commune – direito comum, em contraposição aos iura propria ou
direitos próprios de cada reino –, que consiste numa síntese dos direitos romano,
canónico e feudal e a sua árdua adaptação às realidade jurídicas medievas emergentes.
J. Domingues
2/16/2023
68

3.1. Escola dos Glosadores


 Escola dos glosadores (Séc. XII), segundo ODOFREDO de Denaris († 1265):
 “quidam dominus Pepo coepit auctoritate sua legere in legibus; tamen quidquid fuerit de
scientia sua nullius nominis fuit. Sed dominus Irnerius dum doceret in artibus in civitate ipsa,
cum fuerunt deportati libri legales, coepit per se studere in libris nostris, et studendo coepit
docere in legibus et ipse fuit maximi nominis et fuit primus illuminator scientiae nostrae; et quia
primus fuit qui fecit glossas in libris vestris, vocamus eum lucerna iuris”.
 A chegada dos livros do CIC à escola de artes de Bolonha permitiu a Pepo ou Pepone começar a
ensinar direito. No entanto e apesar da sua ciência, terá sido Irnério, que ensinava artes liberais
nessa cidade e começou a estudar direito a expensas suas, a alcançar grande fama (maximi
nominis), convertendo-se na primeira luz (primus illuminator) da ciência jurídica. Uma vez que
foi o primeiro a fazer glosas aos livros de Justiniano passou à posteridade como a candeia do
Direito (lucerna iuris).
J. Domingues
2/16/2023
69

3.1. Escola dos Glosadores


 Pepo ou Pepone:
 Radulfo Negro, no seu Moralia Regum (ca. 1180) identifica-o como aurora do direito
romano (clarum Bononiensium lumen) e como bom conhecedor do Código e das
Institutas de Justiniano (Codicis Iustiniani et Institutionum baiulus)
 1076 – julgamento de Marturi: O juiz delegado da condessa Beatriz, Nordilo, decide a
causa com base numa citação do Digesto – «Lege digestorum libris inserta considerata,
per quam copiam magistratus non habentibus, restitutionem in integrum pollicetur» –
estando presente Pepo legum doctor.
Mas o conhecimento particular de direito romano não implica necessariamente a
existência de uma escola de ensino ao público, por isso, surgiu uma corrente
contestatária à fundação do Studium de Bolonha no tempo de Irnério.
J. Domingues
2/16/2023
70

3.1. Escola dos Glosadores

 Prova que o Studium de Bolonha foi fundado por Irnério († ca. 1125):
 No ano 1125, advogados, assessores da cúria papal, e talvez até os juízes papais
revelam uma preparação em direito romano que não é compatível com estudo
privado, este conhecimento só poderia ter sido alcançado numa escola de direito.
 As referências constantes ao Digesto e ao Código não se compatibilizam com
um mero ensino privado.
 O único lugar onde sabemos que a lei romana foi ensinada, na primeira metade
do século XII, é em Bolonha. Consequentemente, o Studium de Bolonha deve
ter nascido antes de 1125, no tempo de Irnério.
J. Domingues
2/16/2023
71

3.1. Escola dos Glosadores


Sistematização medieval do Corpus Iuris Civilis:
 Digesto velho (Digestum vetus) – Livs. I a XXIII e os dois primeiros títulos do Liv.
XXIV
 Digesto esforçado (Digestum infortiatum ou Infortiatum) – Liv. XXIV a XXXVIII
 Digesto novo (Digestum novum) – Livs. XXXIX a L
 Código (Codex) – nove primeiros livros do Código
 Volume pequeno (Volumen parvum ou Volumen) – últimos 3 livros do Cód. (Tres Libri),
as Instituições e uma coletânea de Novelas designada Authenticum; mais tarde foram-
lhe acrescentados os Libri Feudorum, constituições de imperadores do Sacro Império
Romano-Germânico e o Tratado de Paz de Constança.
J. Domingues
2/16/2023
72

3.1. Escola dos Glosadores


Método de trabalho (exegético):
 Glosa – explicação gramatical, de caráter exegético, de palavras
ou frases que suscitavam dificuldades de interpretação (não esquecer
que os textos em latim tinham sido redigidos há séculos)
 Interlineares – notas entre linhas
 Marginais – notas à margem do texto (apparatus)
 Tancredo de Bolonha († ca. 1234/36) terá sido o primeiro glosador a alterar a metodologia
das glosas, separando as da sua própria autoria em relação às alheias, que passou a reportar
com a sigla ou o nome do autor genuíno – revela respeito pela propriedade intelectual.
J. Domingues
2/16/2023
73

3.1. Escola dos Glosadores


Tipologia dos trabalhos produzidos:
 Apparatus – conjunto de glosas sistematizadas
 Lectura – reprodução da lição do professor (ou aluno)
 Summae – exposição pessoal sobre um tema jurídico
 Ainda foram produzidas outras formas literária como: Distinctiones, Consilia (conselhos ou
pareceres jurídicos), Casus (hipóteses práticas), Brocarda / regulae iuris (máximas e
princípios de direito), Tractatus, etc…

J. Domingues
2/16/2023
74

3.1. Escola dos Glosadores


Alguns autores (legistas e canonistas) e principais obras:

 Irnério († ca. 1125)


 Os “quatro doutores”: Búlgaro, Martinho, Hugo e Jacob

 Azo († ca. 1220) – obra principal, Summae de Azo (aos livros do CIC).

 Tancredo († ca. 1234/36) – obra principal, Ordo iudiciaris (1214-1216).

 Henrique de Susa, o Hostiense († 1271) – obra principal, Summa às Decretais de Gregório IX,
Summa Aurea ou Summa Hostiense ou Copiosa (c. 1253)

 Acúrsio († 1260/1263) – obra principal, Magna Glosa, Glosa Magistral, Glosa Ordinária, Glosa ou
Glosa de Acúrsio (1222-d.1234) [marca o expoente máximo e o declínio da Escola dos Glosadores]
J. Domingues
2/16/2023
75

3.2. Escola dos Comentadores


 A partir da segunda metade do séc. XIII, estando a letra dos textos legais
suficientemente trabalhada e esclarecida, os juristas passaram a orientar a sua
atividade para o espírito da lei.
 Assim, o jurista deixa de glosar e passa a fazer comentários, o comentário sucedeu à
glosa, por isso, o novo movimento passou a designar-se Escola dos Comentadores.
 No entanto, esta passagem é um processo ao longo do tempo e não algo que tenha
acontecido num determinado momento.
 Por isso, há quem entenda que nesta transição existiu o período pós-acursiano.

J. Domingues
2/16/2023
76

3.2. Escola dos Comentadores


Método dialético ou escolástico:
 Lectio literae – leitura do texto legal
 Divisio legis – separam-se as partes distintas do texto legal
 Expositio – explica-se a lei, no seu conjunto
 Positio casuum – apresentam-se os casos concretos a que a lei seria aplicável
 Collectio notabilium – exposição das anotações mais importantes ao texto
 Oppositiones – argumentos contra a solução proposta
 Quaestiones – os problemas controversos levantados pela interpretação proposta
J. Domingues
2/16/2023
77

3.2. Escola dos Comentadores


Ars inveniendi – técnica utilizada pelos Comentadores no alargamento do ius commune:
 Leges: interpretação dos textos do CIC (e Canonici);
 Rationes: apurar os argumentos fornecidos por essa interpretação;
 Auctoritates: apurar a opinião que goza de maior auctoritas
 Critério quantitativo: opta pela solução defendida pelo maior número de doutores;
 Critério qualitativo: opta pela solução defendida pelos juristas mais renomados;
 Critério misto: distingue, dentro dos jurisconsultos ilustres, os que se ocuparam ex
professo do problema, considerando que só a sua opinião se deve impor.

J. Domingues
2/16/2023
78

3.2. Escola dos Comentadores


Alguns autores (legistas e canonistas) e principais obras:

 Cino de Pistóia († 1336) – obra principal, Lectura Codicis (1314).

 Bártolo de Sassoferrato († 1357) – obra principal, Consilia e Lectura aos livros do CIC
[ficou célebre o brocardo «nemo bonus jurista nisi bartolista» = ninguém é bom jurista se
não for bartolista].

 Baldo de Ubaldis († 1400) – obra principal, Comentários aos livros do CIC.

 Jasão de Maino († 1519) – obra principal, De Actionibus, tratado de direito processual


[Considerado o último grande nome da Escola dos Comentadores].
J. Domingues
2/16/2023
79

Juristas Medievais Portugueses


 Silvestre Godinho († 1244) – Glosas ao Decreto.
 Pedro Hispano Portugalense († 1247) – Notabilia à quarta Compilatio Antiqua (c.1220) [foi
professor em Bolonha e Pádua].
 Vicente Hispano († 1248) – Glosas ao Decreto.
 João de Deus († 1267) – Summa super quattuor causis decretorum (causas 23-26 do Decreto de
Graciano que Hugguccio não comentara) [foi professor em Bolonha].
 Egas de Viseu († 1313) – Summa de libertate ecclesiastica (1311).
 André Dias de Escobar († 1450/51) – Canones poenitentialis (1415, com nova redação em 1416).
 João de Idanha – Lectura Arborum Consaguinitatis et Affinitatis Magistri Ioannis Egitaniensis.
J. Domingues
2/16/2023
80

Fim
J. Domingues
81
2/16/2023

IV – Renovação do direito canónico


(Séc. XII)

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
82

IV – Renovação do direito canónico


Sumário:
1. Coletâneas de direito canónico anterior ao Séc. XII
2. Movimento renovador do direito canónico (Séc. XII)
2.1. Novas coletâneas de direito canónico
2.2. Coletâneas privadas de direito canónico
2.3. Aplicação do direito canónico e a lei de Afonso II
3. Penetração do direito canónico em Portugal
J. Domingues
2/16/2023
83

1. Direito canónico anterior ao Séc. XII


 Denomina-se de período do direito canónico antigo,
o que decorre desde o seu aparecimento até meados
do século XII.

 Coletâneas de direito canónico (preceitos pontifícios


e decisões conciliares).

 O “renascimento” do direito romano levou à divisão


entre civilistas e canonistas.
Concílio de Trento – 1545-1563
J. Domingues
2/16/2023
84

1. Direito canónico anterior ao Séc. XII

Coletâneas de direito canónico (preceitos pontifícios e decisões conciliares):

 Capitula Martini (563) – organizada por São Martinho de Dume

 Collectio Hispana ou Collectio canonum ecclesiae Hispaniae (633) – foi a mais completa e
difundida compilação canónica divulgada na Península durante o período visigótico.

 Existem dois fragmentos, um no AD de Viseu e outro no AD de Bragança

 A Hispana existiu em Portugal em tradução árabe, em 1087 fazia parte dos bens do
bispo de Coimbra, D. Paterno (existem dois fragmentos na Torre do Tombo)
J. Domingues
2/16/2023
85

2. Movimento renovador canónico

A renovação do direito canónico está relacionada com o “renascimento” do direito


romano, dando origem ao Ius commune e aos juristas formados in utroque iure (nos
dois direitos, civil e canónico), sem embargo da divisão entre civilistas e canonistas.

 surgiram novas coletâneas de direito canónico, que deram origem ao Corpus


Iuris Canonici

 assistiu-se a uma reelaboração científica do direito canónico.

J. Domingues
2/16/2023
86
2.1. Novas coletâneas do direito canónico

 Decreto de Graciano – O Decreto de Graciano é uma colecção


privada feita pelo monge Graciano, cuja redação vulgata terminou
por volta do ano 1140. Também chamado Concordia Discordantium
Canonum, Decreta ou Decretum. Embora nunca tivesse sido
aprovada como coleção autêntica, foi usada publicamente nas escolas
e nos tribunais e passou a integrar o Corpus Iuris Canonici (1500).

Imagem: Incunábulo (1476) do Decreto de Graciano com o apparatus


de Bartolomeu de Brescia, Biblioteca da Universidade de Coimbra.

J. Domingues
2/16/2023
87
2.1. Novas coletâneas do direito canónico

 Decretais de Gregório IX (1234) – Conjunto de decretos


pontifícios dos séculos XII e XIII, reunidos sob o pontificado de
Gregório IX e recolhido em texto oficial por S. Raimundo de
Peñafort. Coleção autêntica promulgada por este Pontífice pela
bula Rex pacificus, de 5 de Setembro de 1234.

 Usualmente identificada como X = Extra (em relação ao Decreto)

Imagem: Decretais de Gregório IX na Torre do Tombo

J. Domingues
2/16/2023
88
2.1. Novas coletâneas do direito canónico

 Livro Sexto (1298) – Nova compilação de decretais


ordenada por Bonifácio VIII. Foi promulgada pela bula
Sacrosantae, de 3 de Março de 1298, e pretende ser um
complemento dos cinco livros das Decretais de Gregório
IX. Aparece sobre a designação de Liber Sextus
Decretalium, Liber Sextus ou apenas Sextus

Imagem: Liber sextus Decretalium, na BN Portugal


J. Domingues
2/16/2023
89
2.1. Novas coletâneas do direito canónico

 Clementinas (1312-1317) – Recolha de decretais


subsequentes, iniciada no Concílio de Viena (França) em
1312, por ordem do Papa Clemente V, mas que só foi
promulgada pelo sucessor João XXII, pela bula Quoniam
nulla, de 25 de Outubro de 1317. Também aparecem sob a
designação de Sétimo ou Livro Sétimo.

J. Domingues
2/16/2023
90
2.1. Novas coletâneas do direito canónico

 Corpus Iuris Canonici (edição de 1500):


 Decreto de Graciano (c. 1140)
 Decretais de Gregório IX (1234)
 Livro Sexto de Bonifácio VIII (1298)
 Clementinas de Clemente V (1312-1317)
 Extravagantes (o editor acrescentou-lhe as decretais
posteriores a 1317):
 Decretais de João XXII
 Decretais dos papas subsequentes (extravagantes
comuns)
J. Domingues
2/16/2023
91

2.2. Coletâneas privadas


 Quinque Compilationes Antiquae (1191-1226) – coleções de decretais que surgem
entre a elaboração do Decreto de Graciano (1140) e as Decretais de Gregório IX
(1234):
 Compilatio prima (Breuiarum extrauagantium) (1189/92 – Bolonha) – Bernardo
de Pavia
 Compilatio secunda (1210/15 – Bolonha) – João Galense
 Compilatio tertia (1209/10 – Roma?) – Pedro Benavento
 Compilatio quarta (1216 – Bolonha) – João Teutónio
 Compilatio quinta (1226 – Bolonha) – Tancredo de Bolonha
J. Domingues
2/16/2023
92

2.3. Aplicação do direito canónico


 O direito canónico é o ordenamento jurídico dos tribunais eclesiásticos e só supletivamente
seria usado nos tribunais civis (v. g., a ordem das fontes de direito nas Ordenações)
 Lei de D. Afonso II: «estabeleceu que as suas leis sejam guardadas e os direitos da Santa
Igreja de Roma, convém a saber, que se forem feitas ou estabelecidas contra eles ou contra
a Santa Igreja não valham»
 Impõe o respeito pelas liberdades eclesiásticas (inclusive, o direito canónico), o ideal
político que predominava em toda a Europa cristã daquele tempo
 «A libertas ecclesiae funcionava, assim, como um limite constitucional ao poder
legislativo do Rei. Este limite deve, no entanto, ser interpretado com alguma precaução, não
implicando propriamente um reconhecimento da superioridade do direito canónico em
relação ao direito estadual» [V. MOREIRA e J. DOMINGUES, HCP I, 2020] J. Domingues
2/16/2023
93

3. Penetração em Portugal
 A receção canónica foi muito precoce, uma vez que a Igreja adotou de imediato o novo
direito, o que influenciou a sua receção em todos os reinos cristãos (inclusive Portugal)

 1182-1187 – Processo judicial canónico entre o arcebispo de Braga e o de Compostela, são


aplicados textos justinianeus do Código, do Digesto e do Decreto de Graciano.

 1211 – Lei de D. Afonso II

 1237 – Processo entre D. Sancho II e o bispo do Porto, com copiosa referência a fontes
do Ius commune, por parte dos juízes delegados do papa.

J. Domingues
2/16/2023
94

Fim
J. Domingues
95
2/16/2023

V – Receção do direito comum em Portugal


(Séc. XIII-XIV)
s

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
96

V – Receção do direito comum


Sumário:
1. A difusão do ius commune pela Europa
2. A chegada e receção do ius commune em Portugal:
2.1. Fase de Introdução
2.2. Fase da primeira receção
2.3. Fase da segunda receção
2.4. Fase do vernáculo jurídico
3. A fundação da Universidade portuguesa
J. Domingues
2/16/2023
97

1. Difusão do ius commune pela Europa

A partir de Bolonha, o ius commune espalhou-se por toda a Europa. No entanto, esta difusão
não ocorreu em simultâneo em todos os reinos e regiões. Por isso, cada país tem a sua própria
história de receção do ius commune. Todavia, são fatores comuns de difusão:

 Os livros

 Os homens

 As universidades

 Para além do contexto político, religioso, económico, social, cultural…


J. Domingues
2/16/2023
98

2. Chegada do ius commune a Portugal


Em Portugal, existem três fases distintas de receção:

 Fase de introdução

 Fase da primeira receção

 Fase da segunda receção, receção plena ou receção prática

Não se trata de fases estanques e sucessivas, antes pelo contrário, existe uma certa
coincidência de fatores e uma inter-relação que faz com que cada fase surja imbrincada e
como complemento de outras fases. Por exemplo, o surgimento de livros de direito que
carateriza a fase de introdução vai-se repercutir em todas as fases seguintes.
J. Domingues
2/16/2023
99

2. Chegada do ius commune a Portugal

 Fase de introdução – surgem os primeiros indícios escritos da chegada da


Romanística a Portugal, mas ainda não é possível falar em receção porque não há
qualquer comprovativo de que o ius commune faça parte do ordenamento jurídico
português, a título subsidiário ou a título principal, nem há qualquer prova da sua
aceitação, tácita ou expressa, por parte do sumo titular do poder político.

J. Domingues
2/16/2023
100

2. Chegada do ius commune a Portugal

 Fase da 1.ª receção – fase em que os textos jurídicos da romanística começam a ser
utilizados pelo rei e pelos juristas cultos da Corte, nomeadamente na tomada de
decisões legislativas gerais. Apesar do incontestado interesse suscitado pelo acervo
legislativo de D. Afonso II, produzido na Cúria de Coimbra de 1211, tudo leva a crer
que a fase de uma primeira receção do ius commune terá começado durante o
reinado de Afonso III, no curso da segunda metade do século XIII.

J. Domingues
2/16/2023
101

2. Chegada do ius commune a Portugal

 Fase da 2.ª receção, receção plena ou receção prática – Em consequência do acolhimento


por parte do poder político central, vai-se disseminar o uso das fontes da romanística numa
praxis jurídica para fora do âmbito da Corte, ou seja, alargando-se a sua vigência a todo o
território do reino, com uma aplicação a casos concretos por parte dos profissionais e
letrados da justiça (corregedores, juízes, tabeliães, escrivães, advogados, etc.).

 De salientar o aproveitamento das fontes do ius commune para a preparação da compilação


de leis próprias do reino, as Ordenações de D. Afonso V (1446).

J. Domingues
102
2/16/2023

2.1. Fase de introdução

J. Domingues
2/16/2023
103

2.1. Fase de introdução

Primeiros indícios do ius commune em Portugal:

 Livros de direito

 Peregrinação académica

 Praxis no foro eclesiástico

J. Domingues
2.1. Fase de introdução 10
4

2/16/2023
 1185. 8 de novembro – O bispo do Porto, D. Fernando Martins deixou à
Sé do Porto e à Sé de Braga: Decreto de Graciano, Instituta, Novelas , Autêntico,
Código, Digesto Velho, Digesto Novo, Digesto Esforçado, Sumas ao Decreto, à
Instituta e ao Código.
 1188. outubro – No inventário dos bens do tesouro da Sé de Viseu
consta um Decreto.
 1228. 5 de agosto – Testamento do arcebispo de Braga, D. Estêvão
Soares: Decreto, Código, Instituta e as Decretais antigas.
 Elevado valor pecuniário – no século XIII, a venda dos livros do Corpus
Iuris Civilis era suficiente para a compra de um olival.
 Hoje estão inventariados mais de 400 livros de Ius commune na Idade
Média, em Portugal.
2.1. Fase de introdução 10
5

2/16/2023
Os juristas versados em Ius commune:
 Mestre Alberto, chanceler de D. Afonso Henriques, Mestre Julião,
chanceler de D. Afonso Henriques, D. Sancho I e D. Afonso II e
Mestre Vicente, chanceler de D. Sancho II.

 Em documento de 1195, no reinado de D. Sancho I, consta a


referência a um magister decretista.

 Aumento exponencial no reinado de D. Afonso III (1248-1279).


2.1. Fase de introdução 10
6

2/16/2023
A receção canónica:
 Inexistência de barreiras políticas, numa sociedade em que os seus
membros professam o mesmo culto e obedecem aos mesmos
preceitos legais estabelecidos pelo sumo líder espiritual;
 O novo direito da Igreja mantém-se na senda da tradição canónica
anterior;
 O facto de ser um direito universal e pontifício, que a Igreja
pretendeu que fosse superior a qualquer direito nacional.
2.1. Fase de introdução 10
7

2/16/2023
Indícios do foro canónico – trata-se de testemunhos que não garantem o
reconhecimento como fontes de direito, por parte do poder político régio:

 1182-1187 – Processo judicial canónico entre o arcebispo de Braga e o de


Compostela, são aplicados textos justinianeus do Código, do Digesto e do
Decreto de Graciano.

 1237 – Processo entre D. Sancho II e o bispo do Porto, com copiosa


referência a fontes do Ius commune.
108
2/16/2023

2.2. Fase da primeira receção

J. Domingues
2/16/2023
109

2.2. Fase da primeira receção

Fase de receção do ius commune em Portugal – começa no reinado de D. Afonso III


(1248-1279):

 Cláusulas de exclusão

 Influência em leis de monarcas portugueses

 Fundação da Universidade

 Sete Partidas de Afonso X (o Sábio) de Castela

J. Domingues
110
2.2. Fase da primeira receção
Conforme acima dito, a receção do Ius commune exige um
reconhecimento tácito ou expresso por parte do poder político central,
não sendo suficientes os indícios referidos, quanto a:

 Referências a obras jurídicas em legados mortis causa ou em


inventários de bibliotecas medievais;

 Referências à praxis canónica;

 Referência a juristas letrados.

2/16/2023
111
2.2. Fase da primeira receção
D. AFONSO III (1248-1279):
 Cláusula de exclusão do fragmento "si quis in tantum"
do Código (Cód. 8.4.7): “Custume he en casa
delRey que aquela constituçom do Codigo que diz
unde uy siquys in tantum nom seja guardada”
 Ressalvar da posse violenta "aquelles casos em que o
direito diz vim vi repelere licet. Que quer dizer: força per
força se tolheo" (Dig. 43.16.1.27)
 Que não se alegue título de posse contrário ao
Direito comum: que "nenhuum seia theudo de alegar nem
a dizer o titolo da possissom ergo sse for en contrayro o
dereyto comum/Jus comune" (Cód. 8.4.7)

2/16/2023
112
2.2. Fase da primeira receção

D. DINIS (1279-1325):
 Na concordata (1289) e na concórdia (1309) do reinado
de D. Dinis abundam as referências ao Ius commune.
 [1279-1325] – Na lei sobre os casos em que os clérigos
são de jurisdição régia e devem responder perante ele ou
seu juiz encontram-se várias referências ao Decreto, às
Decretais e ao Digesto.
2/16/2023
113
2.2. Fase da primeira receção
D. AFONSO IV (1325-1357):
 1352. 17 de dezembro – Na lei de D. Afonso IV sobre os
castigos dos clérigos existem referências constantes e
precisas a fragmentos canónicos das Decretais, do Livro Sexto
e das Clementinas.
 1352. 3 de novembro – Cláusula geral de exclusão numa lei
de D. Afonso IV: “que nom deuemos de guardar os dictos dereytos
escriptos se nom enquanto ssom fundados em boa Razom e em prol dos
nossos ssubjectos”.

2/16/2023
114
2.2. Fase da primeira receção

FUNDAÇÃO DE UNIVERSIDADES:
 Universidades consuetudinárias – surgiram espontaneamente, a partir da
evolução de escolas pré-existentes (monásticas, diocesanas ou
municipais).
 Universidades de sucessão – formadas a partir do desmembramento ou
separação de outra universidade.
 Universidades de privilégio – criadas por iniciativa régia, que
pressupunham o reconhecimento papal.
2/16/2023
115
2.2. Fase da primeira receção

FUNDAÇÃO DA UNIVERSIDADE PORTUGUESA (1288-1290):

 1290. 1 de março – Bula fundacional que refere expressamente


o ensino do direito canónico e do direito civil, bem como a
existência de um doutor em decretos e um mestre em decretais.

 1309 – Carta de privilégios outorgada por D. Dinis, para além dos dois
mencionados professores de direito canónico, prevê-se também um
professor de direito romano.

2/16/2023
116
2.2. Fase da primeira receção

Obras de AFONSO X traduzidas para português:

 Nove Tempos dos Pleitos – obra doutrinária de processo civil

 Flores do Direito – obra doutrinária de processo civil

 Foro Real – destinado às cidades e vilas que não tivessem compilação


própria

 Sete Partidas – teve uma enorme influência como fonte de direito em


Portugal
2/16/2023
117
2.2. Fase da primeira receção

Sete Partidas de AFONSO X (das bibliotecas à receção prática na Idade Média


em Portugal):
 Inventários de bibliotecas medievais
 Vigência na ordem jurídica portuguesa
 Legislação régia
 Cláusulas de exclusão
 Glosa marginal
 Vestígios materiais existentes

2/16/2023
118
2.2. Fase da primeira receção
Sete Partidas de AFONSO X (Inventários de bibliotecas medievais):
 1433-1438 – Biblioteca D. Duarte – Partida I.
 1437 – Mosteiro de Santa Maria de Bouro – “Item huum liuro da primeira
partida per lingoajem”.
 1462.maio.29 – Santa Maria do Olival (Tomar) – “Jtem outro liuro per lingoaJem
da primeira partida”.
 1474 – Colegiada de Santo André de Mafra – “Item (…) da partida”.
 1538 – Igreja de Santiago de Torres Novas – “Item huma Partida, a primeira”.

2/16/2023
119
2.2. Fase da primeira receção

Sete Partidas de AFONSO X (em leis portuguesas):

 Lei de D. Dinis de 4 de março de 1295.

 Lei de D. Dinis de 4 de maio de 1305.

 Concórdia de D. Dinis de 9 de agosto de 1309.

 Lei de D. Dinis, sem data, que veda em determinados


casos o direito de asilo em território sagrado.

 Lei de D. Afonso IV de 29 de abril de 1325.


2/16/2023
120
2.2. Fase da primeira receção

Sete Partidas de AFONSO X (lei de D. Dinis):

 Lei de D. Dinis sobre o direito de asilo nas igrejas: «com estas sentenças
sobreditas acordam mujtos direitos E outrosy a lley iiijº da primeira
partida Titollo xb (P1 11.4) ¶ E diz assy homes hi a que nom deuem
seer enparados em-na igreia E os podem ende sacar sem coima nhuma ./
assy como os ladroões manefestos E púbricos que teem os camjnhos E
matam os homens E os Roubam».

2/16/2023
121
2.2. Fase da primeira receção
Sete Partidas de AFONSO X (cláusulas de exclusão):
 1382.julho.01 –carta de legitimação: “nom embargando as leys e
parrafos que falam em maneira dos Retos e desafiamentos nos liuros
das partidas no titollo dos Retos” (P7 3).
 1430.dezembro.15 – Carta de quitação: “todos liuros de partida”;
 1456.março.06 – Carta de quitação “todollos liuros de partida”;
 1460.outubro.20 – Carta de quitação: “todollos liuros da
partida”.
2/16/2023
122
2.3. Fase da segunda receção
Sete Partidas de AFONSO X:
Aplicação no foro notarial (cláusula de exclusão).
 1478.16 de novembro – Doação feita no burgo
de Alfena, com uma cláusula geral de exclusão:
«os ditos senhores doadores renumciaram quaees
quer lex e direitos canonicos e ciujes grosas e
openiõees de doutores foros façanhas
hordenaçoees custumes constituiçõees capitollos
de cortes jeraees ou especiaees partidas ou
hordenamentos ou outros quaees quer
estabelicimentos que em contrairo desto seja».
2/16/2023
123
2.2. Fase da primeira receção
SETE PARTIDAS – CÓDICES (2):
• Primeira Partida (BN Portugal).
• Terceira Partida (TT – Torre do Tombo).
SETE PARTIDAS – FRAGMENTOS (36):
• Primeira Partida – 4 fragmentos.
• Segunda Partida – 7 fragmentos.
• Terceira Partida – 17 fragmentos.
• Quinta Partida – 3 fragmentos.
• Sexta Partida – 3 fragmentos.
• Sétima Partida – 2 fragmentos.
2/16/2023
124
2.2. Descoberta recente (2022)

2/16/2023
125
2/16/2023

2.3. Fase da segunda receção

J. Domingues
2/16/2023
126

2.3. Fase da segunda receção

Fase da segunda receção do ius commune em Portugal:

 Praxis do direito romano-canónico

 Praxis das Sete Partidas de Afonso X de Castela

 Os fragmentos do ius commune na reforma das Ordenações Afonsinas

J. Domingues
127
2.3. Fase da segunda receção

As Cartas de Legitimação:
 1292. 11 de março – Carta de D. Dinis:
«E se alguma ley ou dereyto ou custume hy a que contra esta
mha legitimaçom seja mando que lhy nom empeesca. E aynda
mando que lhy nom eempeesca aquela ley do Codigo que
fala en o titulo dos testamentos que nom som beym
feytos a qual ley se começa Conqueritur (Cód. 3.28.6) e o
autentico que se começa Novissima (I. 3.4.3)».
128
2.3. Fase da segunda receção

AS CARTAS DE LEGITIMAÇÃO:
 1338. 6 de junho– Carta pela qual el-rei D. Afonso IV legitimou Vasco Martins Leitão:
“nom enbargando a ley generaliber Spuries (Dig. 50.2.3.2) e a lex spurij que som no digesto
Titulo de Decurionibus (Dig. 50.2.6.pr.) E muytas outras que deffendem e enbargam as onrras
aos assy nados (…) nom enbargando a ley que he no liuro dos feudos no Titolo de paçe
tenenda et eius uiolatoribus. no Capitolo primeiro similles. aduerssus militem (LF. 2.27)
nom enbargando a ley que e no Liuro dos Autenticos no Titolo quibus modis naturales.
Efficiuntur suj vltiam si quidem pers na siptiam collaçom (N. 89.XV) et autentica licet. que
he no Codigo no Titolo de Naturalibus liberis (Cód. 5.27.11.3) E o que dizem os doutores pela
ley si quis incesti que e no Codigo Titulo de incestijs (Cód. 5.5.6) E pela ley primeira no
Codigo no Titolo de Naturalibus liberis (Cód. 5.27.1) (…) nom enbargando o dicto. vltiam
sim quandem e a dicta Autentica licet com ssas grosas (I. 3.4.3)”.
129
2.3. Fase da segunda receção
PROCESSOS JUDICIAIS:
✓ 1416/1417 – Contenda judicial entre o rei D. João I e a Ordem do Hospital:
“ per dereito commum som seus in l. ulti(ma) C. ‘uel uela regalia’ (Cód.
2.15.2) e nom se pode nenhuum amdar contra el per presajem do tenpo nem
se pode chamar forçado in l. i. C. ‘de procu(ratoribus) et conducto(ribus)’
li(bro) XIº (Cód. 11.72.1) ……… em elle os reis fundon sua tençon per
dereito comum elles per sua actoridade podem mandar deribar qualquer
quanal que se em elle faça sem sua lecença e fazendo esto nom fazem força in
l. i. C. ‘de conducto(ribus)et procu(ratoribus)’ li(bro) XIº ” (Cód.
11.72.1).
130
2.3. Fase da segunda receção

PROCESSOS JUDICIAIS:
✓ 1420 – Contenda judicial sobre os foros régios de Ferreiros
(Vila Real): «e diz que Direito Comum he, que depois que o
homem, ou molher está em posse da couza por trinta annos
continoadamente, que nom he teudo de responder por ello»
(Cód. 7.39.3).
«…l(ege) i. § Heres (Dig. 36.1.1.16) et l(ege) Cogi § Inde
queritur (Dig. 36.1.16.3) ff. Ad Trebel(lianum)»
131
2.3. Fase da segunda receção
Sete Partidas de AFONSO X (vigência):
José AZEVEDO FERREIRA: “Teria tido este texto aplicação em Portugal?”
 1361 – Concórdia: o clero queixa-se a el-rei contra os juízes régios que
aplicavam o direito das Sete Partidas em detrimento do direito canónico
 1361.Abril.13 – os estudantes queixam-se do uso excessivo das Partidas no
foro judicial do Estudo Geral
 A falta de fundamentação de direito nas sentenças judiciais é uma das causas
principais que justifica a escassez de referências às fontes legais
2/16/2023
132
2.3. Fase da segunda receção
Sete Partidas de AFONSO X (marginalia):

 Livro das Leis e Posturas – Glosa marginal com


referência expressa às Partidas: «no liuro branco 127 /
no bº liuro da Partida titulo bº l. xxxij Qujte e liure e a lei
seguinte. E esta ley quite e liure diz simpresmente a cousa
uenduda e nom diz mais moujl que rraiz senom fala
geeral / ca assy o entende o derecto por qualquer
cousa que seia uendida quer seia moujll quer rraiz».

2/16/2023
133
2.3. Fase da segunda receção
Sete Partidas de AFONSO X (vigência):
Aplicação no foro judicial: 1396/97 – Processo de Alcácer do Sal (P3 7.15).
 «he dirreito em na terceira partida e no titulo dos
emprazamentos Ley que se começa huum dos avisos do mundo e
etc em que diz que se alguum homem suspeitando que alguum outro o
queriia emprazar per razom d'algua cousa de que era theedor ou
emalheasse ante que fosse emprazado sobr'ella enganosamente a outro
que fosse mais poderoso de sy ou doutro senhoriio ou homem que
fosse mais escatimoso ou revoltoso mais que el por razom que ao outro
fosse mais enbargado o seu dirreito aguisando lhe que ouvesse
averssairo mais forte que assi. Em tal caso o que tal engano fezer que
nom valha e que seja em escolhença do demandador pera poder
demandar a el aquella cousa bem assy como se fosse em seu poder ou
ao outro a que fosse em alheada e que esta demanda pode fazer com
todollos danos e mazcabos que fezerem por esta razom».
2/16/2023
134
2.3. Fase da segunda receção
Sete Partidas de AFONSO X (vigência):

Aplicação no foro judicial: (1401?) – Processo que correu termos perante o


alvazil de Leiria, sendo partes neste processo, por um lado, o mosteiro de
Alcobaça, e, por outro lado, Lourenço Domingues, morador em Leiria,
estando em causa o emprazamento de um moinho.

 «huma lex que era scripta no quinto liuro da partida (P5 8.28) da
qual o theor tal he: Contractus infiteoticus em latin tanto quer dizer em
linguajem como pleito ou postura que he feita sobre cousa de raiz
que…»
2/16/2023
135
2/16/2023

Ordenações Afonsinas Sete Partidas


Livro I – 13 títulos 33 fragmentos
Livro III – 3 títulos 8 fragmentos
Livro IV – 10 títulos 15 fragmentos
Livro V – 3 títulos 5 fragmentos

Nota 1 – As OA devem ter surgido em oposição às Partidas (c. 1385).


Nota 2 – Não há qualquer referência nas OA às Partidas.
136
2/16/2023

2.4. Fase do vernáculo jurídico

J. Domingues
137
2.4. Fase do vernáculo jurídico

DOIS REGISTOS:

 Tradução do Ordo iudiciarius de Tancredo de Bolonha (2


fragmentos);

 1426.18 de abril – diploma de D. João I que testemunha essas


traduções.

2/16/2023
138

Ordo
iudiciarius de
Tancredo
(Fragmentos)

2/16/2023
139
2.4. Fase do vernáculo jurídico

Carta de 18 de abril de 1426.

1. [a. 1404] – Tradução do Código, Glosa e Opinião de


Bártolo (Doutor João das Regras? †1404).

2. [a. 1426] – Declaração à Opinião de Bártolo.

3. [ca. 1426] – Declarações ao Código e Glosa,


seguindo-se as feitas à Opinião de Bártolo.

2/16/2023
140
2.4. Fase do vernáculo jurídico

Carta de 18 de abril de 1426.


1. [a. 1404] – Tradução do Código, Glosa e Opinião.
 A passagem do latim para português resultou em textos extremamente difíceis de
entender, sobretudo, por parte dos menos letrados (“os tralados de tirar de latim em
linguajem nom som tam craros que os homens que muyto nom sabem os podessem bem entender”).
 Tendo em conta a segurança e certeza do Direito e uniformização das decisões
judiciais (“ca esta he nossa vontade de os fectos nom seerem desembargados senom per hüa
entençom e openyom”), entendeu el-rei que por estas leis, glosas e leitura vertidas em
romance se não devia sentenciar.

2/16/2023
2.4. Fase do vernáculo jurídico 141

Carta de 18 de abril de 1426.


1. [a. 1426] – Declaração à Opinião de Bártolo, referida.
 1425: “pena que he scripta no proemio do bartollo per que percam os beens os juizes e procuradores
se julgarem e precurarem fora daquello que ell hordena. (…) E no all que este o proemyo
em sua força afora naquello de que ell ffez decraraçom, per huma carta que sobrello enuyou a pero
annes lobato a quall uos podera mostrar”.
 1426 – Carta de Bruges: “pareçe me senhor que pera abreuyamento dos feitos aproueitaria
muito seguyr se a maneira que o Senhor rey ordenou sobre o bartolo contanto que o
liuro seja bem ordenado e corrydo por dous bons doctores afora aquele que o treladou” (só refere
o Bártolo!!).

2/16/2023
142
2.4. Fase do vernáculo jurídico

Carta de 18 de abril de 1426.

1. [ca. 1426] – Declarações ao Código e Glosa, seguindo-se as que já estavam feitas para a
Opinião de Bártolo.

 Por isso, mandou fazer uma declaração final para concordar o conteúdo da lei, das
glosas e da opinião de Bártolo (“por esto nos trabalhamos de fazer hüa decraraçom em cada
hüa ley e na grossa e no bartalo”);

 Sendo que para o Bártolo valia e se deveria seguir a conclusão concorde já


anteriormente feita (“que de sobr’ello he escripto”).

2/16/2023
143
2.4. Fase do vernáculo jurídico

carta de 18 de abril de 1426.

 [d. 1426] – A partir da data do documento (18 de Abril de 1426), el-rei impõe que os
seus desembargadores, nos pleitos submetidos a julgamento que fossem subsumíveis
às leis e títulos em questão (“que caibham nas leix e titolos”), decidam de acordo com a
nova declaração apensa (“que per aquella decraraçom façam livrar os fectos”); caso não exista
tal declaração final, deem sentença de acordo com o que estava escrito na lei, na glosa
e na opinião traduzidas (“o julgaae pella guissa que he escripto posto que em ellas nom seja outra
decraraçom”)

2/16/2023
144
2.4. Fase do vernáculo jurídico

 [a. 1404-1446] – Vigência efêmera: a acreditar que a primeira versão teria sido feita
pelo Doutor João das Regras (†1404), aliada ao facto de ser omitida na preleção de
fontes do Direito da Reforma das Ordenações de D. Afonso V (1446), é de crer
que tenha estado em vigor desde finais do século XIV até quase ao final da
primeira metade do século XV.

 Numa carta régia de 15 de Dezembro de 1430: “liuros de bartollos E grossas per nos
sobrello fectos”.

2/16/2023
2/16/2023
145
3. Fundação da Universidade portuguesa

Documentos fundacionais e sede da Universidade:


 1290. 1 de março – D. Dinis assina em Leiria o documento Scientiae thesaurus
mirabilis, que deu origem à primeira Universidade portuguesa, em Lisboa
 1290. 9 de agosto – o papa Nicolau IV reconheceu a Universidade portuguesa
através da bula De statu regni Portugalie
 1309 – primeiros estatutos ou Charta magna privilegiorum
 1290-1308 / 1338-1354 / 1377-1537 – sediada em Lisboa (quase 2 séculos)
 1308-1338 / 1354-1377 / 1537-até hoje – sediada em Coimbra
J. Domingues
2/16/2023
146
3. Fundação da Universidade portuguesa

 1597. 16 de setembro – a Universidade compra ao rei de Portugal, D. Filipe I, o


Paço Real da Alcáçova – que passou a designar-se Paço das Escolas – pela quantia
de 30.000 cruzados, dos quais 15.000, eram referentes a um empréstimo que a
Universidade tinha feito em 1584 à Coroa portuguesa.

Ver: História da Universidade de Coimbra, desde 1290

J. Domingues
2/16/2023
147

Fim
J. Domingues
148
2/16/2023

VI – Funções de soberania do Estado:


A Função Judicial

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
149

VI – A função judicial
Sumário:
1. Pluralismo judiciário
2. Controlo régio dos juízes
3. Tribunais superiores
3.1. Casa da Suplicação
3.2. Casa do Cível / Relação da Casa do Porto
3.3. Desembargo do Paço
4. Reforma liberal vintista

J. Domingues
2/16/2023
150
1. Pluralismo judiciário
Desde a Idade Média que a justiça estava muito fragmentada:
 pela justiça canónica e justiça civil
 pela justiça local (juízes ordinários e juízes de fora), justiça senhorial (laica e
eclesiástica) e justiça régia
 pelos diversos foros privativos:
 Foros confessionais: clérigos, mouros e judeus; Tribunal do Santo Ofício
 Foro dos moedeiros
 Foro da Universidade de Lisboa/Coimbra
 Foro da Companhia Geral dos Vinhos do Alto Douro
J. Domingues
2/16/2023
151
1. Pluralismo judiciário
Mecanismos de centralização régia da justiça e da administração:
 Instituição dos meirinhos (D. Afonso III) e dos corregedores de comarca (D. Afonso
IV)
 Envio de juízes de fora para diversos concelhos
 Progressivo estabelecimento do direito de recurso para os tribunais régios das decisões
dos tribunais locais e senhoriais (sobretudo nos casos de penas mais severas)
 Reserva do poder de correição para o rei, extensível aos domínios senhoriais
 Controlo régio do exercício das funções dos magistrados
J. Domingues
2/16/2023
152
2. Controlo régio dos juízes

Controlo e exigência de responsabilidade aos titulares do poder judicial:


 1245. 6 de setembro – no pacto constitucional de Paris surge uma primordial
referência à necessidade de se fiscalizar a administração da justiça: o conde de
Bolonha, compromete-se a administrar a justiça através de bons juízes, sobre os
quais «mandará tirar inquirição todos os anos (…) e se algum se achar
culpado, será castigado segundo suas culpas merecerem».
 Mecanismos de controlo feito no final do exercício dos cargos de justiça:
inquirições, devassas e residências dos corregedores dos juízes ordinários e dos
juízes de fora.
J. Domingues
2/16/2023
153

3. Tribunais superiores

Desde a Idade Mé dia até à reforma judiciária de 1582, os tribunais superiores eram os
seguintes:

 Casa da Suplicação (designação assumida no início da década de quarenta do


séc. XV)

 Casa do Cível (séc. XIV)

 Desembargo do Paço (séc. XVI)

J. Domingues
2/16/2023
154

3.1. Casa da Suplicação

Casa da Suplicação:

 inicialmente designada Casa da Justiça, Casa da Justiça de El-Rei, Casa da


Justiça da Corte ou Casa da Justiça na Corte de El-Rei

 As primeiras referências documentais à Casa da Suplicação são os documentos


de 30 de abril de 1440 e de 25 de agosto de 1441

 Este tribunal funcionava junto do rei, que o presidia, acompanhando-o na sua


itinerância pelo reino.
J. Domingues
2/16/2023
155

3.2. Casa do Cível / Relação do Porto


Casa do Cível:
 Tribunal supremo de cariz sedentário e vocacionado para a resolução dos
recursos das causas cíveis, daí a designação como Casa do Cível. A primeira
referência a este tribunal surge em 1362, no reinado de D. Pedro I. Antes de se
fixar definitivamente na cidade de Lisboa, na primeira metade do séc. XV, teve a
sua sede em Coimbra e em Santarém.
 1582. 27 de julho – a Casa da Suplicação passou a estar definitivamente
sediada em Lisboa, o que levou à extinção da Casa do Cível e à sua substituição
pela Relação da Casa do Porto.
J. Domingues
2/16/2023
156

3.3. Desembargo do Paço

Desembargo do Paço:
 Foi criado no reinado de D. João II, mas só no reinado de D. Manuel I é que se
oficializou como tribunal superior do reino, com a publicação de regimento
próprio nas Ordenações Manuelinas (Liv. 1, Tít. 3).

 Não era um tribunal de recurso em sentido estrito, mas antes um tribunal-


conselho, de natureza híbrida, onde se decidiam os casos da graça régia e onde a
intervenção contenciosa era residual, limitada ao recurso de revista.
J. Domingues
2/16/2023
157

4. Reforma liberal vintista

 Manuel Borges Carneiro (1774-1833), magistrado político e


deputado às Cortes Constituintes de 1821-1822, escreveu que:
no Antigo Regime «inventou-se uma infinidade de juízos
privativos e foros privilegiados, outras tantas infrações do
foro natural do domicílio, e obrigou-se os pacíficos
habitadores das províncias ir responder nos ditos juízos, onde
facilmente são oprimidos pela preponderância das pessoas
privilegiadas» (Portugal Regenerado, p. 34).
J. Domingues
2/16/2023
158

4. Reforma liberal vintista

 O princípio da igualdade perante a lei levou a que a Revolução Liberal de 1820


extinguisse os privilégios pessoais do foro judicial (tribunais privativos):
 Bases da Constituição (9 de março de 1821) – «A lei é igual para todos. Não
se devem, portanto, tolerar nem os privilégios de foro nas causas cíveis ou
crimes, nem comissões especiais» (art.º 11º)
 Constituição de 1822 (23 de setembro de 1822) – «A lei é igual para todos.
Não se devem, portanto, tolerar privilégios do foro nas causas cíveis ou crimes,
nem comissões especiais» (art.º 9º)
J. Domingues
2/16/2023
159

4. Reforma liberal vintista

 1821. 31 de março – decreto que extinguiu o Tribunal do Santo Ofício ou Tribunal da


Inquisição. Por a sua existência ser «incompatível com as Bases da Constituição», as Cortes
aboliram «o conselho geral do Santo Ofício, as inquisições, os juízos do fisco e todas as suas
dependências», restituindo à jurisdição episcopal as causas espirituais e meramente eclesiásticas,
bem como os processos pendentes, e reservando as outras causas para a jurisdição secular. Os
bens e rendimentos passaram para a administração do Tesouro Nacional e os livros, manuscritos,
processos findos e tudo o mais que existisse nos cartórios do mencionado Tribunal e Inquisições
foram mandados remeter para a Biblioteca Pública de Lisboa.
 Extinção do Tribunal do Santo Ofício e da Inquisição – Torre do Tombo
J. Domingues
2/16/2023
160

4. Reforma liberal vintista

 1821. 17 de maio – decreto das Cortes Constituintes que extinguiu os foros


privativos concedidos em favor das casas nobres ou de outras quaisquer pessoas
particulares, por serem incompatíveis com as Bases da Constituição já então em
vigor. As jurisdições extintas revertiam para os juízes competentes em razão da
matéria, passando também para eles «imediatamente os processos findos e
pendentes».

J. Domingues
2/16/2023
161

4. Reforma liberal vintista

 1822. 9 de julho – as Cortes Constituintes, «querendo fazer efetiva a extinção


dos privilégios pessoais de foro, sancionada no artigo 11º das Bases da
Constituição», decretaram extintos todo os privilégios de foro e todos os juízos
privativos concedidos a pessoas, corporações, classes ou terras com jurisdição
contenciosa, civil ou criminal, exceto aqueles que constassem expressamente
estipulados em tratados ou contratos da Fazenda Nacional, mas apenas enquanto
durassem «os atuais contratos e tratados».
J. Domingues
2/16/2023
162

4. Reforma liberal vintista

A organização judiciária:
 Fundação de um Supremo Tribunal de Justiça em Lisboa (art.º 191º)

 Fundação de um Supremo Tribunal de Justiça no Brasil, «no lugar onde residir


a Regência daquele reino» (art.º 193º)

 1822. 2 de novembro – extinguiu as Casas da Suplicação e a Relação do Porto


e criou cinco Relações: Lisboa, Porto, Mirandela, Viseu e Beja (este foi o último
ato legislativo das Cortes Constituintes vintistas, dissolvidas a 4 de novembro).
J. Domingues
2/16/2023
163

Fim
J. Domingues
164
2/16/2023

VII – Funções de soberania do Estado:


A Função legislativa

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
165

VII – A função legislativa


Sumário:
1. Da multiplicidade ao monopólio estadual do direito
2. Referência à:
2.1. Lei das sesmarias
2.2. Lei mental
3. Contributo manuelino
3.1. Assentos
3.2. Reforma dos forais
3.3. Extinção dos forais
4. A lei da boa razão
5. Nascimento do direito público
J. Domingues
2/16/2023
166

1. Monopólio estadual do direito


Ordem jurídica medieval:
 Multiplicidade de fontes
 Fragmentação territorial
 Prevalência do costume
 Reduzida relevância do poder legislativo do Rei e da legislação nacional
 Importância do direito romano-canónico ou “Direito Comum”
Ordem jurídica moderna:
 Centrada sobre a legislação régia
 Unificação jurídica territorial
 Secundarização do costume
 Retração do direito canónico e redução da influência do direito romano.
J. Domingues
2/16/2023
167

2. Poder legislativo dos monarcas


 O poder legislativo era exclusivo dos monarcas, as competências das Cortes antigas (séc. XIII-
XVII) resumiam-se a:
 Competências políticas – eleição do monarca (1385) e do regente (1438/39)
 Competências constituintes – aprovar as Leis Fundamentais do reino
 Competências fiscais – a principal competência deliberativa das Cortes era a de aprovar
impostos extraordinário – «no taxation without representation»
 A partir da Revolução de 1820, o parlamento passou a ser um órgão constitucional permanente
de competência genérica, sediado definitivamente na capital do reino, em Lisboa, reunindo por
direito próprio, e deixando de ser um órgão ocasional e itinerante, com competência para
assuntos determinados, normalmente sob convocação do rei.
J. Domingues
2/16/2023
168

2. Poder legislativo dos monarcas


Poder legislativo dos monarcas:

 Referência a uma lei de D. Afonso Henriques (sobre barregãs dos clérigos)

 D. Afonso II – leis da Cúria de Coimbra de 1211

 D. Afonso III – o primeiro rei-legislador

(…)

 D. Fernando – a lei das sesmarias

 D. João I / D. Duarte – a lei mental


J. Domingues
2/16/2023
169

2. 1. Lei das Sesmarias


 1375. 26 de maio: lei das sesmarias – esta lei insere-se numa política de combate à crise
económica, incrementando a agricultura e evitando o abandono de terras de cultivo:
 Obrigando os proprietários a cultivar as terras, sob pena de expropriação;
 Distribuindo terras pelos eventuais interessados em as cultivar;
 Impondo o trabalho na agricultura a todos os que fossem filhos ou netos de lavradores
e a todos os que não possuíssem bens avaliados até quinhentas libras;
 Incentivando à criação de gado para os trabalhos agrícolas e fixando-lhe o preço;
 Limitando e controlando a mendicidade e vadiagem;
J. Domingues
2/16/2023
170

2. 2. Lei mental
Princípios reguladores da transmissibilidade mortis causa dos bens da coroa:

 Indivisibilidade: os bens doados pela Coroa não podiam ser divididos entre os herdeiros;

 Primogenitura: os bens transmitem-se apenas ao filho mais velho ou aos seus


descendentes, na linha legítima, excluindo os bastardos, os outros filhos e os parentes
colaterais;

 Masculinidade: só herda o filho varão, salvo se, por mercê especial, o rei consentir em que
os bens da coroa sejam herdados pela filha.

J. Domingues
2/16/2023
171

2. 2. Lei mental
 1393. 15 de maio – primeira referência documental.

 1434. 8 de abril – «D. Duarte pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve e
senhor de Ceuta, a quantos isto virem, fazemos saber que considerando nós em
como el-rei meu senhor e pai, cuja alma Deus haja, havia feito uma lei em sua
vontade sobre as terras da coroa do reino, a qual até gora nunca fora publicada
nem escrita e, por esta razão se metiam sobre ela muitas dúvidas e contendas em
nossa corte…»
J. Domingues
2/16/2023
172

2. 2. Lei mental
 1513 (OM, Liv. II, Tít. 17) – «A qual lei por não estar incorporada e assentada em cada
um dos cinco livros das nossas reformações (…) nós a mandamos incorporar em este
segundo livro desta nossa nova compilação das leis e ordenações de nossos reinos, que ora
fazemos.
El-rei D. Duarte (…) fez escrever e pôr em sua chancelaria uma lei que se diz mental, por
ser primeiro feita segundo a vontade e intenção de el-rei D. João o primeiro, seu pai, meu
visavô, que em seu tempo se praticou, ainda que não fosse escrita».

 Uma lei com quatro décadas de vigência, sem nunca ter sido formalmente escrita?
J. Domingues
2/16/2023
173

3. Contributo manuelino
Para além das Ordenações Manuelinas, D. Manuel mandou imprimir:

 Ordenação e Regimento dos Pesos (1502)

 Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos (1503/04)

 Artigos das Sisas (1512)

 Regimento dos Contadores das Comarcas (1514)

 Regimento das Ordenações da Fazenda (1516)

 Ordenações da Índia (1520)


J. Domingues
2/16/2023
174

3. 1. Assentos
Assentos (jurisprudência com força obrigatória geral):

 Lei de 10 de dezembro de 1518 [Ms. Duarte Nunes de Leão]

 D. Manuel I determinou que, havendo dúvidas entre os desembargadores da


Casa da Suplicação sobre o entendimento de algum preceito, o regedor desse
tribunal superior reunisse com os desembargadores para fixar a interpretação
mais adequada. As soluções tomadas seriam registadas no Livro dos Assentos e
passavam a ter força de lei para casos análogos futuros.
J. Domingues
2/16/2023
175

3. 1. Assentos
Assentos (jurisprudência com força obrigatória geral):
 «havemos por bem, que quando os desembargadores, que forem no despacho de
algum feito, todos ou algum deles, tiverem alguma dúvida em alguma nossa
ordenação do entendimento dela, vão com a dúvida ao regedor, o qual na Mesa
Grande, com os desembargadores que lhe bem parecer, a determinará, e
segundo o que aí for determinado se porá a sentença. [...] E a determinação que
sobre o entendimento da dita Ordenação se tomar mandará o Regedor escrever
no livro da Relação, para depois não vir em dúvida» [OM.1521 L. 5, T. 58, § 1]
J. Domingues
2/16/2023
176

3. 1. Assentos
Assentos (jurisprudência com força obrigatória geral):

 No prólogo das suas Ordenações, D. Manuel revogou todas as ordenações que


não constassem nos cinco livros das suas Ordenações, «salvo as que se acharem
escritas no Livrinho da nossa Relação, que agora mandamos fazer, que por nós
será assinado, porque, posto que sejam feitas antes desta impressão e nestes
livros não sejam incorporadas, mandamos que se guardem como nelas é
conteúdo» [OM, Prólogo].
J. Domingues
2/16/2023
177

3. 2. Reforma dos forais

Foral velho Foral novo J. Domingues


2/16/2023
178

3. 2. Reforma dos forais


Alguns passos do processo de reforma dos forais:
 1472/73 (Cortes Coimbra/Évora) – os procuradores dos concelhos queixam-se das
deficiências dos forais e insistem na necessidade de os reformar
 1481/82 (Cortes de Évora/Viana do Alentejo) – repetem-se as queixas
 1481. 15 de dezembro – D. João II determinou o envio à Corte de todos os forais, a fim
de se proceder à respetiva reforma
 1497 – D. Manuel exigiu a remessa dos forais que ainda não tinham sido entregues e
nomeou uma comissão revisora – Rui Boto, João Façanha e Fernão de Pina
J. Domingues
2/16/2023
179

3. 2. Reforma dos forais


Reforma manuelina dos forais, forais novos ou forais manuelinos:
 1500-1520 – os forais portugueses dos primeiros tempos da monarquia foram
reformados por D. Manuel I, dando origem aos chamados forais novos. A reforma
manuelina transformou os forais novos em meras «tabelas tributárias» (encargos
tributos devidos pelos concelhos ao rei e aos donatários das terras), espoliando-os das
primordiais funções jurídicas, políticas, de organização territorial e regulação das
relações entre a entidade outorgante e os moradores da terra.
 O primeiro foral a ser outorgado foi o da cidade de lisboa – 7 de agosto de 1500 – e o
último o de Terra Galega, termo de Coimbra – 25 de abril de 1520.
J. Domingues
2/16/2023
180

3. 3. Extinção dos forais


Extinção dos forais:

 1812. 17 de outubro – Foi criada a Comissão de Exame dos Forais e


Melhoramento da Agricultura.

 1822. 3 de junho – Decreto das Cortes Constituintes com profundas


alterações ao regime dos forais, que foram revogadas após a Vilafrancada,
em 1824.

 1832. 13 de agosto – Decreto de Mouzinho da Silveira que extinguiu


definitivamente os forais.
J. Domingues
2/16/2023
181

4. Lei da boa razão


Lei da boa razão (a que voltaremos à frente):
 Uniformização da jurisprudência sob a égide da Casa da Suplicação;
 Explicitação da primazia do direito nacional sobre o direito imperial romano;
 Restrição drástica do âmbito de reconhecimento do costume, através dos
requisitos de vigência de um século, de não contrariar a lei e de ser conforme à
boa razão;
 Punição da litigância de má-fé dos advogados;
 Proibição de recurso ao direito canónico, remetido exclusivamente para o foro
eclesiástico, pois «aos meus tribunais cabe o julgamento dos delitos e não dos
pecados».
J. Domingues
2/16/2023
182

5. Nascimento do direito público


 1772 - os Estatutos pombalinos da Universidade incluíram o ensino do direito
público pátrio no currículo da Faculdade de Leis
 1778. 31 de março – decreto de D. Maria I que criou uma Junta para o exame e
correção da legislação e para preparar um Novo Código, que incluiria as Leis
Fundamentais do Reino (debate entre P. Melo Freire e A. Ribeiro dos Santos).
 Ficou definitivamente estabelecida a distinção entre direito privado e direito
público, aquele regulando as relações “horizontais” entre particulares e este
regulando a organização do Estado e as relações “verticais” de poder.
J. Domingues
2/16/2023
183

Fim
J. Domingues
184
2/16/2023

VIII – Ordenações do Reino de Portugal

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
185

VIII – Ordenações do Reino


Sumário:
1. As Ordenações de D. Duarte e o Livro das Leis e Posturas
2. Os primeiros livros de Ordenações (c. 1390)
2.1. O Caderno da Justiça (1418?)
3. Ordenações Afonsinas (1446)
4. Ordenações Manuelinas (1521) DOMINGUES, Códices Medievais…, 2018
[DOI: https://doi.org/10.34628/pqfx-hh65 ]
5. Extravagantes de Duarte Nunes de Leão
6. Ordenações Filipinas (1603)
7. Legislação extravagante posterior às Ordenações Filipinas
J. Domingues
2/16/2023
186

1. Ordenações D. Duarte e LLP


As Ordenações de D. Duarte e o Livro das Leis e Posturas:
 Continuam a ser um grande enigma
 Faz pouco sentido considerar que sejam coletâneas privadas, quando já existem
livros de ordenações em vigor.
 Onde se podem encaixar estes dois códices?
 Como justificar a diferença material de conteúdo?
 Como justificar as constantes repetições de leis, nomeadamente no Livro de
Leis e Posturas?
J. Domingues
2/16/2023
187

2. Primeiros livros de Ordenações


Primeiros livros de Ordenações (1.ª fase das Ordenações do reino):
 Cartas testemunháveis (com selo régio), dirigidas a concelhos, ao arcebispo de
Braga, ao mestre da Ordem de Avis e outros célebre dignatários.
 Cerca de 59 referências documentais, desde o ano de 1390 em diante.
 O monarca, no exercício destas funções, não usa livros privados.
 O monarca faz interpretação autêntica de 2 ordenações, a partir do livro das
Ordenações (1396).
 Desse livro de Ordenações transcrevem-se leis, capítulos de cortes e a
concordata de D. João I, ou seja, fontes imediatas de Direito.
J. Domingues
2/16/2023
188

2. Primeiros livros de Ordenações


Primeiros livros de Ordenações (exemplo 1):

 1390. 7 de abril – D. João I envia ao arcebispo de Braga o traslado de uma lei de D.


Fernando sobre os excomungados:
«D. João pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve, a quantos esta carta virem
fazemos saber que D. Lourenço, arcebispo de Braga, nos disse que no Livro das Leis da
nossa Chancelaria era escrita uma lei que foi feita por el-rei D. Fernando, nosso irmão,
a que Deus perdoe, da qual o teor tal é…»
[Lei de D. Fernando sobre os excomungados e forçadores, de 1368].

 Será que a deliberação (de compilar as leis) foi tomada nas Cortes de Coimbra de 1385?
J. Domingues
2/16/2023
189

2. Primeiros livros de Ordenações


Primeiros livros de Ordenações (exemplo 2):

 1396. 18 de novembro – Carta de D. João I que faz uma interpretação autêntica


das leis de Afonso III e D. Afonso IV:
«D. João etc. a quantos esta nossa carta virem fazemos saber que perante nós, em
nossa Corte, eram e foram grandes dúvidas entre algumas pessoas de nossos
reinos sobre duas leis conteúdas em este nosso Livro das Ordenações do Reino,
uma feita por el-rei D. Afonso III, na qual é conteúdo (…) havendo conselho com
os da nossa Corte, interpretamos e declaramos as ditas leis e mandamos que…».
J. Domingues
2/16/2023
190

2. Primeiros livros de Ordenações


Primeiros livros de Ordenações (exemplo 3):

 1406. 12 de novembro – D. João I envia ao mestre da


Ordem de Avis, Fernão Rodrigues, e ao concelho de
Noudar, o traslado da lei dos coutos de homiziados
(1406.Agosto.30), que constava «em um dos Livros da
Lei e Ordenações que andam em a nossa chancelaria».

 Referência a um dos livros = seriam pelo menos 2 livros?


J. Domingues
2/16/2023
191

2. Primeiros livros de Ordenações


Primeiros livros de Ordenações (exemplo 4):

 1472. 14 de fevereiro – Sentença de apelação sobre o pagamento de jugada, no


pleito que correu termos perante Luís Jácome, ouvidor pelo almoxarife do celeiro
da vila de Santarém, entre Lopo Dias, como procurador da sua irmã Helena Dias,
mulher do finado rendeiro das jugadas, e os lavradores Afonso Eanes e Afonso
Gonçalves.
«…vistos nossos artigos e determinações que como lei andam em nossos Livros
das Ordenações e Novas Reformações…»
J. Domingues
2/16/2023
192

2. Primeiros livros de Ordenações


Primeiros livros de Ordenações – quem os preparou? Não podia ter sido João Mendes!

 Terá sido João das Regras, o famoso jurista das Cortes de Coimbra (1385)?

 Sugestão dos autores do século XVIII; José BARBOSA, Catalogo das Rainhas de
Portugal (1727); Diogo Barbosa MACHADO, Biblioteca Lusitana (1747); Estatutos
Pombalinos da Universidade de Coimbra (1772); Autores do Demétrio Moderno ou
Bibliógrafo Jurídico Português (1781).

Se não fosse o prólogo das Afonsinas, também não sabíamos o nome dos seus compiladores!

J. Domingues
2/16/2023
193

2.1. O Caderno da Justiça


O Caderno de Justiça de D. Duarte (2.ª fase das Ordenações do reino):

 1418 (Cortes Santarém) - D. Duarte terá produzido um Caderno de Justiça, que


se perdeu.

 [1419-1424] – carta do infante D. Duarte ao corregedor da Beira, Rui Salvado:


«el-rei D. Duarte … sendo infante fez um Caderno de Justiça, em o qual
mandou fazer em todos os lugares juízes por pelouros e mandou que se
chamassem por el-rei, do qual mandado o treslado é este que se adiante segue»
[transcreve parte do regimento dos corregedores de comarca de 1418].
J. Domingues
2/16/2023
194

2.1. O Caderno da Justiça


O Caderno de Justiça de D. Duarte:
 Um novo livro de Ordenações, que não revoga os anteriores (cf. o regimento dos
corregedores de comarca – 1332, rev. 1340, rev. 1361 + 1418 => OA).
 Caderno com regimentos, nomeadamente, do corregedor da comarca, do coudel e
dos oficiais dos municípios. Curiosamente, o caderno de justiça aparece sempre
em documentação concelhia.
 Regimento de Évora e Arraiolos (vestígio deste caderno de justiça?).
 Seria um precursor do livro I das Ordenações Afonsinas?
J. Domingues
2/16/2023
195

2.1. O Caderno da Justiça


Os primeiros Livros de Ordenações e o Caderno de Justiça de D. Duarte:

 1427. 30 de agosto – concórdia celebrada entre D. João I e o clero: refere um


costume que «é escrito no Livro das Ordenações antigas».

 1430 (Cortes Santarém) – um capítulo geral onde se impõe «que se guarde a


Ordenação antiga».

Conclusão: a referência aos Livros de Ordenações antigos (1.ª fase), pressupõe a


existência de um Livro novo, que poderá ser o tal Caderno de Justiça (2.ª fase).
J. Domingues
2/16/2023
196

3. Ordenações Afonsinas
A «reforma» ou «reforma nova» das Ordenações / os Livros da
Reforma das Ordenações:
3.1. Processo compilatório
- Início no reinado de D. João I
- Fase inconclusa no final do mesmo reinado
- João Mendes, retoma no reinado de D. Duarte
- Rui Fernandes, concluiu no reinado de D. Afonso V
3.2. A diferença de estilos redatoriais
3.3. Revisão e entrada em vigor
3.4. Hierarquia das fontes de direito
3.5. «Compromisso» de D. João II
J. Domingues
2/16/2023
197

3.1. Processo compilatória das OA


Início da compilação no reinado de D. João I [1385-1433]:
 Prólogo das Ordenações Afonsinas: «no tempo que o muito
alto e muito excelente príncipe el-rei D. João I, da gloriosa
memória, pela graça de Deus, reinou [1385-1433] em estes
reinos foi requerido algumas vezes em Cortes, pelos fidalgos e
povos dos ditos reinos que, para bom regimento deles,
mandasse prover as leis e ordenações feitas pelos reis que ante
ele foram».
J. Domingues
2/16/2023
198

3.1. Processo compilatória das OA


Fase inconclusa, no final do reinado de D. João I:
 D. João I «cometeu a reformação e compilação delas a João Mendes, cavaleiro
e corregedor em sua Corte, e não foram acabadas em seus dias por alguns
empachos [impedimentos] que se seguiram» (que desconhecemos).
 1426 - Carta de Bruges, do infante D. Pedro para o seu irmão, D. Duarte, para
que «as leis e ordenações do reino fossem providas e tituladas, cada uma
daquilo a que pertence. E se entre elas fossem achadas algumas que já fossem
revogadas, que as tirem, pois que delas não hão de usar; e as boas ordenações
se guardassem».
 Já estaria em marcha a compilação das Ordenações?
J. Domingues
2/16/2023
199

3.1. Processo compilatória das OA


Do início do reinado de D. Duarte (1433) até à conclusão (1446):
 D. Duarte «encomendou a dita obra ao dito corregedor (João Mendes), que
continuasse em ela, assim como fazia em tempo de el-rei seu pai»
 1433–1437 – João Mendes.
 «e porque o dito corregedor logo se finou (†1437), a poucos dias não as pôde acabar
e, portanto o dito senhor rei as encomendou ao Doutor Rui Fernandes»
 Infante D. Pedro: «logo em começo de seu regimento mandou ao dito Doutor que
prosseguisse … e não alçasse mão dela até que a pusesse em boa perfeição».
 1437–1446 – Rui Fernandes.
J. Domingues
2/16/2023
200

3.1. Processo compilatória das OA


Do início do reinado de D. Duarte (1433) até à conclusão (1446):

 Testemunho do cronista Rui de Pina:


«el-rei D. Duarte entendeu em mandar correger e abreviar as Ordenações do
reino e em seus dias não se acabaram. El-rei D. Afonso, seu filho, as mandou
depois reformar em cinco Livros».

J. Domingues
2/16/2023
201

3.1. Processo compilatória das OA


A substituição de compilador:

 Hipótese 1 – substituído por morte no início do reinado de D. Duarte?


Prólogo das OA: «e porque se o dito corregedor [João Mendes] logo finou, a poucos dias não
as pôde acabar e, portanto, o dito senhor rei as encomendou ao Doutor Rui Fernandes»

 Hipótese 2 – substituído por aposentação, uma vez que sobreviveu a D. Duarte?


Surge documentação sobre um corregedor João Mendes, ainda em exercício de funções no ano
de 1440.

J. Domingues
2/16/2023
202

3.1. Processo compilatória das OA


A substituição deu-se em 1437, por morte de João Mendes: no meu despretensioso
entendimento, o avanço da morte de João Mendes para o ano de 1440 é um lapso,
relacionado com a documentação paralela de um seu homónimo, que também surge
como corregedor na documentação, mas corregedor de comarca e não da Corte – dois
cargos de justiça totalmente distintos.
1437. 12 de dezembro – o corregedor da corte já é João Afonso;
1439. 23 de março – foi confirmada a carta de privilégio a Beatriz Pereira,
mulher que foi do corregedor da Corte João Mendes, enquanto fosse viúva.
J. Domingues
2/16/2023
203

3.2. Estilos redatoriais


As Ordenações dividias em 5 livros (influência das Decretais de Gregório IX?):
 Livro I – direito público (administrativo e constitucional)
 Livro II – clero e nobreza, tributos régios e estatuto dos mouros e judeus
 Livro III – processo civil
 Livro IV – direito civil substantivo
 Livro V – direito e processo criminal
Verificam-se dois estilos redatoriais diferentes:
 Livro I – estilo decretório ou legislativo
 Livros II a V – estilo compilatório
J. Domingues
2/16/2023
204

3.2. Estilos redatoriais


Qual a justificação para os dois estilos redatoriais diferentes:
 Tese clássica (deste o séc. XVIII) – cada compilador terá realizado uma parte da obra:
João Mendes fez o livro I e Rui Fernandes os restantes quatro (argumento cronológico).
 Tese do Prof. Martim de Albuquerque (1993/2002) – inverte a posição dos
compiladores e coloca Rui Fernandes como autor do livro I:
 Estilo legislativo, adequado um teórico Doutor em direito (Rui Fernandes).
 Estilo compilatório, adequado a um prático corregedor da Corte (João Mendes).
 Tempo médio de trabalho: João Mendes (18 anos) / Rui Fernandes (12 anos)
 O Infante D. Pedro (carta de Bruges, 1426) defende o estilo legislatório.
J. Domingues
2/16/2023
205

3.2. Estilos redatoriais


Qual a justificação para os dois estilos redatoriais diferentes:
 Minha tese (2008) – Trata-se de uma obra concluída por uma mão única, que só
poderia ser a de Rui Fernandes:
 Remissões de livro para livro, João Mendes não podia remeter para um livro
inexistente, redigido depois da sua morte (interpolações de Fernandes?).
 Os graus de parentesco referidos na obra são do reinado de D. Afonso V e João
Mendes já tinha falecido – D. Pedro (bisavô), D. João (avô) e D. Duarte (pai).
 Várias leis promulgadas durante a regência do infante D. Pedro constam no miolo
dos livros I a V.
 João Mendes é o autor dos regimentos de Évora/Arraiolos, em estilo legislativo.
J. Domingues
2/16/2023
206

3.2. Estilos redatoriais


Se Rui Fernandes foi o autor dos 5 livros, porquê a diferença redatorial?
 Porque o livro I trata de matéria ex novo, que ainda não existia para ser
compilada (cf. Espinosa Gomes da Silva). Também não é totalmente verdadeiro,
por exemplo:
 Regimento dos corregedores (tít. 23), existem várias versões (1332, 1340,
1361 e 1418).
 Leis de 1421 (tít. 11), lei de 1433 (tít. 49) e os títs. 25, 31 e 48.
 Vários títulos no Regimento de Évora/Arraiolos (5 títulos).
J. Domingues
2/16/2023
207

3.2. Estilos redatoriais


Se Rui Fernandes foi o autor dos 5 livros, porquê a diferença redatorial?
 Na minha perspetiva, a matéria do Livro I (direito público) exige um
tratamento diferenciado e justifica o estilo legislativo, a fim de evitar:
 Repetições desnecessárias de leis e parágrafos (corregedor de comarca
1332/1340/1361/1418).
 Diplomas que só interessam os que estão efetivamente em vigor, por
exemplo, o censo dos besteiros do conto (D. Dinis – D. João I) e os
emolumentos dos tabeliães (1305/1433/1440).

J. Domingues
2/16/2023
208

3.3. Revisão e entrada em vigor


Comissão revisora do trabalho de Rui Fernandes:
 Rui Fernandes
 Lopo Vasques, corregedor da cidade de Lisboa
 Luís Martins, desembargador
 Fernão Rodrigues, desembargador
1446. 28 de julho – foi acabada esta obra em vila de Arruda [dos Vinhos] aos 28 dias
do mês de julho de 1446, pelo Doutor Rui Fernandes (Liv. V das OA)

J. Domingues
2/16/2023
209

3.3. Revisão e entrada em vigor


Entrada em vigor:
 1447. 27 de agosto – Certidão ao alcaide-mor do castelo de Santarém, Rui Borges de
Sousa, com o traslado de várias ordenações extraídas a partir dos respetivos títulos: (i)
«primeiro livro da reformação das ordenações»; (ii) «terceiro livro da reformação das
ordenações».
 1447. 20 de setembro – ordenação sobre desamortização registada no final (em anexo)
do «segundo livro das nossas ordenações».
 1447. 2 de dezembro – Carta enviada à Colegiada de Guimarães, com dois títulos
traladados do «livro da reforma das ordenações».
J. Domingues
Códices das Ordenações 210
16/02/2023

Locais onde apareceram códices:


Porto (Séc. XVIII)
Santarém (Séc. XVIII)
Lisboa, Torre do Tombo (Séc. XVII)
Lisboa, Arquivo Municipal (séc. XX)
Mosteiro da Merceana (Séc. XVIII)
Mosteiro de Alcobaça (Séc. XVII)

Locais referidos em documentos:


Viseu/Lafões (1504)
Universidade de Coimbra (c. 1536)
Sé de Braga (1612)

Locais plausíveis:
Évora/Beja (séc. XV)
José Domingues
2/16/2023
211

Fragmentos em pergaminho
(únicos)

J. Domingues
2/16/2023
212

3.4. Hierarquia fontes de direito


(Liv. II, Tít. 9) Fontes de direito pátrio ou imediatas:
 Lei do reino – diploma emitido pelo rei (em alguns casos, com acordo das Cortes).
 Costume – prática social constante e reiterada acompanhada da convicção de obrigatoriedade
jurídica.
 Estilo da Corte – jurisprudência constante e uniforme dos tribunais superiores.
(Liv. II, Tít. 9) Fontes de direito subsidiário:
 Direito romano, salvo em matéria espiritual e pecaminosa;
 Direito canónico, que prevalece ao direito romano em matéria espiritual e pecaminosa;
 Glosa de Acúrsio;
 Opinião de Bártolo;
 Determinação do rei (que passava a ter valor de lei).
J. Domingues
2/16/2023
213

3.5. «Compromisso» de D. João II


Só muito tardiamente surge referência ao “Compromisso” de D. João II:
 Caetano de SOUSA, Provas da História Genealógica, 1739 – D. Duarte
«mandou também ordenar e abreviar as Ordenações do Reino que em seus dias
não acabou e veio a acabá-las seu filho D. Afonso V, o qual as mandou
recopilar em cinco volumes e depois el-rei D. João II, seu filho, tornou a
mandar abreviar as Ordenações dos cinco livros em um compromisso. Quem
por seu mandado as abreviou foi o Licenciado Lourenço da Fonseca que foi
algum tempo seu Corregedor da Corte».
D. João II tornou a mandar abreviar as Ordenações! Um reportório o índice?
J. Domingues
2/16/2023
214

3.5. «Compromisso» de D. João II


Possível referência contemporânea ao Compromisso de D. João II:
 Cortes de Évora/Viana do Alentejo (1481/82):
«que procedam contra eles segundo teor e forma de suas ordenações velhas
(OA.V.100) e nova (?)»;
«por ordenação velha (OA.V.100) e nova (?), as quais manda que se guardem
inteiramente»
«estreitamente executem as ordenações novas (?) e velhas (OA.V.41) sobre este
caso feitas»
«mandando sobre elo guardar vossas leis (?) e antigas ordenações (OA.II.)»
J. Domingues
2/16/2023
215

3.5. «Compromisso» de D. João II


Possível referência contemporânea ao Compromisso de D. João II:
 1498. 22 de fevereiro – D. Manuel revoga a lei sobre o achamento de tesouros
(OA 2.2.25), que estava nas «nossas ordenações antigas destes reinos».
 1503. 18 de julho – Carta de D. Manuel com o traslado de uma ordenação
recente (1502. 22 de março ) a partir do «livro novo das ordenações novas».
 1510. 22 de abril - Carta de D. Manuel com o traslado de uns capítulos do
clero (1501.Setembro.01), apresentados a Fernão de Pina, trasladados do «livro
novo das ordenações».
J. Domingues
2/16/2023
216

3.5. «Compromisso» de D. João II


Estou convicto que não se trata de um Repertório ou Índice alfabético das
Ordenações, porque na documentação da época:
 Desde 1481 existem Ordenações Novas e Ordenações velhas.
 Surgem umas Ordenações novas aplicada ao lado das Ordenações antigas.
 Se as Ordenações velhas são as Afonsinas, o que seria o tal “Compromisso” ou
Ordenação nova?
Recorde-se que, necessariamente, a Ordenação nova não revoga a velha (análogo ao
caderno de justiça)

J. Domingues
2/16/2023
217

4. Ordenações Manuelinas
Sumário:
4.1. O Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares
destes reinos (1503/04)
4.2.1. Data de início / processo de execução
4.2.2. Compiladores
4.3. As várias edições impressas das manuelinas
4.4. As reformas introduzidas
4.5. O alvará que mandou destruir as edições anteriores
4.6. Hierarquia das fontes de direito
J. Domingues
2/16/2023
218

4.1. Regimento dos Oficiais


Primeiro impresso jurídico de direito português:

 1504. 29 de março – Data no final do Regimento dos oficiais

 1504. 18 de Junho – Carta de D. Manuel I, dirigida ao corregedor de Entre-


Douro-e-Minho e aos juízes da cidade do Porto, isentando o concelho do
Porto do cumprimento do regimento novo:
«pelo regimento e ordenação que ora novamente fizemos».

J. Domingues
2/16/2023 219

4.1. Regimento dos Oficiais


 1503. 28 de maio – Carta de D. Manuel para que António de
Pinharanda, entregue o Regimento dos oficiais e o Regimento
dos pesos à vila de Viana da Foz do Lima:

«ordenamos de mandar a todas as cidades vilas e lugares


dos ditos nossos reinos os regimentos dos oficiais por que se
hão de reger e governar e, assim mesmo, o regimento dos
pesos que ora novamente ordenamos e mandamos fazer…»
J. Domingues
2/16/2023
220

4.2.1. Data de início

 1505 – «Mandou per homens doutos do seu conselho visitar e rever os cinco
livros das ordenações [...] nas quais mandou diminuir e acrescentar aquilo que
pareceu necessário pera bom regimento do reino e ordem da Justiça» [Damião
de GÓIS – Crónica de D. Manuel, Parte I, cap. 49].

J. Domingues
2/16/2023
221

4.2.1. Em fase de execução

 1506. 9 de fevereiro – «Chanceler-mor e licenciado Rui da Grã, amigos, e bacharel João Cotrim
corregedor dos feitos civis em nossa corte, havemos por bem que nas Ordenações de nossos
reinos, em que ora por nosso mandado entendeis, ponhais nos títulos e lugares a isso
convenientes quaisquer sentenças, acordos ou determinações que tenhamos passadas ou
aprovadas nos feitos dos forais, assim nas tomadias e serventias como aposentadorias e outras
coisas que entre nossos povos e os senhorios se tratassem, para nos tais feitos não ser necessário
tirar-se sentença nem outras mais despesa, somente remeterem-se as tais coisas às leis e
ordenações gerais de nossos reinos, as quais desejamos muito vermos acabadas,
encomendamos-vos muito a conclusão disso». [J. A. DIAS, FH 8, 2020].

J. Domingues
2/16/2023
222

4.2.1. Em fase de execução

1509. 16 de fevereiro – «Corregedor, nós el-rei vos enviamos muito saudar,


porquanto os livros das nossas ordenações que mandamos abreviar e delas em
algumas coisas limitar, como nos pareceu que se devia fazer por nosso serviço e
bem de justiça, não são ainda de todo acabados, para se haverem de imprimir
em letra de forma, como temos ordenado que se faça, para se poderem mais
levemente haver pelos letrados, como por quaisquer outras pessoas que as
quiserem ter» [Évora, AM – Livro de Vereações; J. A. DIAS, FH 8, 2020].
 Segundo Alves Dias, pode ser referência ao “Compromisso” de D. João II.
J. Domingues
2/16/2023
223

4.2.2. Compiladores

D. Manuel encarregou da obra:


 Rui Boto
 Rui de Grã
 João Cotrim
Início: «Aqui se começam os cinco livros das Ordenações corregidas e
emendadas pelo Doutor Rui Boto, do Conselho de el-rei e chanceler-mor destes
reinos e senhorios, com outros letrados do seu Conselho e Desembargo para tal
deputados. Por mandado do Invitíssimo e mui poderoso senhor el-rei D. Manuel,
nosso senhor, e por ele vistas e examinadas».

J. Domingues
2/16/2023
224

4.3. Ordenações Manuelinas – edições

As várias edições impressas:

 Edição de Valentim Fernandes, em 1512/13 – completa

 Edição de João Pedro Buonomini (ou de Cremona), em 1514 – completa

 Edição de [1518-1519] – só se conhecem alguns fólios

 Edição de Jacob Cromberger, em1521 – completa

J. Domingues
2/16/2023
225

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma

Reformas estruturais:

 Manteve-se a divisão em cinco livros herdada das Ordenações Afonsinas

 Adotou-se o estilo de redatorial decretório para todos os livros, ficando excluído o


estilo compilatório

 Reordenaram-se os cinco livros, transitando de uns para outros a legislação que melhor
se enquadrava à matéria de cada um

 O texto foi todo revisto e atualizado, em função da legislação extravagante publicada

J. Domingues
2/16/2023
226

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma

Matérias excluídas do Livro I:


 O Regimento da Guerra [OA, I, 51-72]
 Título do porteiro dos ouvidores nossos e do porteiro do ouvidor da rainha [OA, I,
21].
 Título do que pertence aos carcereiros da cadeia do corregedor da Corte e da Cadeia
dos ouvidores [OA, I, 22].
 Título da maneira que hão de ter os juízes que El-Rei manda a algumas vilas para seu
serviço e do poder que hão de levar [OA, I, 25].
J. Domingues
2/16/2023
227

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma


Matérias incluídas de novo no Livro I:
 Título do governador da justiça na Casa do Civil [OM, I, s/n.º].
 Título do chanceler da Casa do Civil [OM, I, 23].
 Título dos desembargadores dos agravos [OM, I, 24].
 Título dos sobrejuízesl [OM, I, 25].
 Título dos ouvidores do crime [OM, I, 26].
 Título do promotor de justiça [OM, I, 27].
 Título do escrivão que tem cargo de solicitador da justiça [OM, I, 29].
 Título dos escrivães que escrevem perante os desembargadores e sobrejuízes e ouvidores da dita Casa
[OM, I, 30].
J. Domingues
2/16/2023
228

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma

Matérias excluídas do Livro II:

 Legislação sobre as minorias étnicas, judeus e mouros, que foram expulsos do reino
pela lei de 1497

 As concórdias e concordatas (consideradas direito canónico). No entanto, manteve-se


título em que casos os clérigos e religiosos devem responder perante as justiças
seculares

 O título Das inquiriçom que ElRey Dom Donis mandou tirar per razom das honras e
coutos que os fidalgos fazião como nom deviam (OA, II, 65)
J. Domingues
2/16/2023
229

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma

Matérias incluídas de novo no Livro II:

 A célebre Lei Mental – «A qual lei, por não estar incorporada e assentada em
cada um dos cinco livros das nossas reformações e ser, para o que dito é, mui
proveitosa e necessária, nós a mandamos incorporar em este segundo livro
desta nossa nova compilação das leis e ordenações de nossos reinos, que ora
fazemos».

 Ordenações extravagantes
J. Domingues
2/16/2023
230

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma


Matérias excluídas do Livro III:
 Títulos que tratam matérias sobre a forma de se fazerem as cartas citatórias e sobre
porteiros e sacadores, por exemplo:
 Título Dos que podem ser citados perante os sobre-juizes da casa do Cível ou perante o
corregedor da Corte [OA, III, 6].
 Título Daquelle que nega o que razam ha de saber e lhe vem provado que lhe nom seja
recebida defesa alguma [OA, III, 35].
 Título Se o author que no libello faz menção dalguuma escriptura pubrica será theudo de a
mostrar amte da lide comtestada [OA, III, 37].
J. Domingues
2/16/2023
231

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma

Matérias excluídas e incluídas no Livro IV:

 Foram excluídos cerca de trinta título das Ordenações Afonsinas

 Em contrapartida, foram acrescentadas algumas extravagantes, como, por


exemplo, a declaração feita por D. Manuel ao valor da moeda, datada de 12 de
Junho de 1499

J. Domingues
2/16/2023
232

4.4. Ordenações Manuelinas – reforma

Matérias excluídas e incluídas no Livro V:

 Foram revogados muitos títulos das Ordenações Afonsinas

 Ao nível das extravagantes, foram acrescentados, por exemplo, a ordenação de


24 de Maio de 1503 e o regimento sobre o passar do gado, de 20 de Abril de
1503

J. Domingues
2/16/2023
233

4.5. Destruição das Ordenações


Alvará régio de 15 de março de 1521, que manda destruir as Ordenações
anteriores, sob ameaça de sanções severas para os contraventores:

 «…dentro de três meses, qualquer pessoa que tiver as Ordenações da


impressão velha a rompa e desfaça, de maneira que não se possa ler, sob pena de
pagar, qualquer pessoa a quem forem achadas, passado o dito tempo e as tiver,
100 cruzados, a metade para quem o acusar e a outra metade para os cativos, e
mais ser degredado por dois anos para além [além-mar]…»
J. Domingues
2/16/2023
234

4.6. Hierarquia fontes de direito


Fontes de direito pátrio:
 Lei – diploma emitido pelo rei (em alguns casos, com acordo das Cortes).
 Costume – prática social constante e reiterada acompanhada da convicção de obrigatoriedade
jurídica.
 Estilo da Corte – jurisprudência constante e uniforme dos tribunais superiores.
Fontes de direito subsidiário:
 Direito romano, salvo em matéria pecaminosa;
 Direito canónico, que prevalece ao direito romano em matéria de pecado;
 Glosa de Acúrsio (se não for contrária a opinião comum dos doutores);
 Opinião de Bártolo (se não for contrária a opinião comum dos doutores);
 Determinação do rei (que passava a ter valor de lei).
J. Domingues
2/16/2023
235

5. Extravagantes Duarte Nunes Leão


Leis Extravagantes de Duarte Nunes de Leão – tal como o nome
indica, trata-se de uma coletânea das leis que vigoravam fora das
Ordenações Manuelinas, feita por um particular (Duarte Nunes de Leão)
e à qual foi reconhecida autoridade oficial e vinculatividade geral – «fé e
crédito» – pelo alvará de 14 de fevereiro de 1569.

 Com o objetivo de tornar a obra menos volumosa e mais prática,


os diplomas legais foram resumidos ou reduzidos a excertos, em
casos de dúvida, recorria-se à consulta dos originais.
J. Domingues
2/16/2023
236

6. Ordenações Filipinas
Foram preparadas dentro da tradição jurídica portuguesa:

 1583-1585 – início dos trabalhos

 1595 – conclusão das Ordenações, aprovadas pela lei de 5 de junho desse ano

 1603 – colocadas em vigor, pela lei de 11 de janeiro desse ano

 Compiladores: Jorge de Cabedo, Afonso Vaz Tenrreiro, Duarte Nunes de Leão


e, eventualmente, Pedro Barbosa.

J. Domingues
2/16/2023
237

6. Ordenações Filipinas
 1643. 29 de janeiro – As Ordenações do reino foram
confirmadas por D. João IV, através da lei de 29 de
janeiro de 1643. O rei anunciou uma reforma futura,
reivindicada pelas Cortes, que não se concretizou.

«Hei por bem de minha certa ciência, poder real e


absoluto de revalidar, confirmar, promulgar e de novo
ordenar e mandar que os ditos cinco livros das
Ordenações e leis que neles andam se cumpram e
guardem como se até o presente praticaram e
observaram, como se por mim novamente foram feitas e
ordenadas, promulgadas e estabelecidas». J. Domingues
2/16/2023
238

6. Ordenações Filipinas
 1695 – Edição das Ordenações do reino,
mandada imprimir por D. Pedro II

J. Domingues
2/16/2023
239

6.1. Filipismos
Filipismos – ausência de originalidade e outras lapsos cometidos na elaboração das
Ordenações filipinas:

 mantiveram normas que já tinham caído em desuso

 falta de clareza em algumas matérias

 contradição entre as normas aditadas e as anteriores que não foram revogadas

J. Domingues
2/16/2023
240

6.2. Hierarquia fontes de direito


Esta matéria passou do Liv. II para o liv. III das Ordenações.
Fontes de direito pátrio:
 Lei – diploma emitido pelo rei (em alguns casos, com acordo das Cortes).
 Costume – prática social constante e reiterada acompanhada da convicção de obrigatoriedade
jurídica.
 Estilo da Corte – jurisprudência constante e uniforme dos tribunais superiores.
Fontes de direito subsidiário:
 Direito romano, salvo em matéria pecaminosa;
 Direito canónico, que prevalece ao direito romano em matéria de pecado;
 Glosa de Acúrsio (se não for contrária a opinião comum dos doutores);
 Opinião de Bártolo (se não for contrária a opinião comum dos doutores);
 Determinação do rei (que passava a ter valor de lei).
J. Domingues
2/16/2023
241

Fim
J. Domingues
242
2/16/2023

IX – Renascença

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
243

IX – Renascença
Sumário:
1. Localização temporal e definição
2. Caracterização geral
3. Evolução do direito
4. Literatura jurídica
5. Humanismo jurídico
6. Ensino do direito em Portugal

J. Domingues
2/16/2023
244

1. Renascença
Renascença ou Renascimento (Séc. XVI) – movimento cultural que assinala o final
da Idade Média e a entrada na Idade Moderna, caraterizado pelo ressurgimento e
intensa revalorização da cultura da Antiguidade clássica (civilizações greco-romanas).
 Não existe um consenso geral quanto à data para o fim da Idade Média, uma das
datas prováveis é a queda de Constantinopla e do Império Romano do Oriente,
em 1453.
 As designações adotadas no Séc. XVI – “Renascença” e “Idade Média” –
pretendiam acentuar a ideia de que a Idade Média tinha sido a “Era das Trevas”
e do “obscurantismo” e que a Europa renascia de novo para uma época de
maior esplendor, a da civilização greco-romana.
J. Domingues
2/16/2023
245

2. Caracterização geral
Renascença, aspetos fundamentais:
 Centralização do poder nas mãos dos reis, que vai confluir no Estado
vestefaliano de meados do Séc. XVII (Paz de Vestefália, 1648)
 Teoria da soberania absoluta do rei (Jean Bodin)
 Formação de Estados absolutos
 Queda do sistema do feudalismo
 Desenvolvimento urbano e comercial
 Expansão ultramarina (Portugal e Espanha)
J. Domingues
2/16/2023
246

3. Evolução do direito
Surgimento de:
 Escola dos Juristas Cultos
 Escola dos Jurisconsultos Humanistas
 Escola Histórico-Crítica
 Escola Cujaciana

Jacques Cujas ou Cujácio

J. Domingues
2/16/2023
247

4. Literatura jurídica
Manteve-se a divisão medieval entre os civilistas e os canonistas, a que se veio juntar
a dos cultores do direito pátrio:

 Civilistas – que se dedicavam preferencialmente ao estudo do direito romano.

 Canonistas – que se dedicavam preferencialmente ao estudo do direito


canónico.

 Cultores do direito pátrio – jurisconsultos do direito português.

J. Domingues
2/16/2023
248

4. Literatura jurídica portuguesa


 Civilistas – (exs. Manuel da Costa, Aires Pinhel e Heitor Rodrigues; no campo do
direito comercial e marítimo, destaca-se o nome de Pedro de Santarém, autor
pioneiro de um tratado sistemático sobre seguros).
 Canonistas – o espanhol Martín de Azpilcueta, conhecido por Doutor Navarro, foi
um reputado canonista que lecionou em Coimbra (outros exs. Bartolomeu Filipe,
Fernando Pais, Pedro Afonso de Vasconcelos e Gonçalo Mendes de Vasconcelos
Cabedo).

J. Domingues
2/16/2023
249

4. Literatura jurídica portuguesa


 Comentadores – que se dedicam à interpretação das Ordenações e leis extravagantes (ex.
Manuel Barbosa, Agostinho Barbosa, Manuel Álvares Pegas)
 Casuístas – que reúnem e comentam casos concretos (ex. António da Gama, Álvaro Vaz,
Jorge de Cabedo, Gabriel Pereira de Castro, Belchior Febo, Miguel Reinoso)
 Praxistas – que se ocupam da prática forense e notarial (ex. Gregório Martins Caminha,
Manuel Mendes de Castro)
 Tratadistas – que desenvolveram estudos monográficos em torno de institutos de direito
pátrio (ex. Francisco Pinheiro, Domingos Antunes Portugal)
 Repertórios – permitiam uma rápida e eficaz identificação do respetivo tratamento nas
coevas fontes legislativas, jurisprudenciais e doutrinais, seguindo a ordem alfabética (ex.
Duarte Nunes de Leão, Manuel Mendes de Castro).
J. Domingues
2/16/2023
250

4. Literatura jurídica portuguesa


Comentador Casuísta Praxista Tratadista Repertório

Alvares Pegas António da Gama Martins Caminha Antunes Portugal Nunes de Leão

J. Domingues
2/16/2023
251

5. Humanismo Jurídico
Surge dos novos horizontes abertos pela cultura clássica e pela contestação ao método
jurídico dos comentadores:
 “Mos italicus iura docendi” – método jurídico italiano, assente na interpretação e na
aplicação do direito romano aos problemas contemporâneos, através do comentário aos
textos do direito romano (Cino de Pistoia e Bártolo de Sassoferrato)
 “Mos gallicus iura docendi” – método jurídico francês, que via com desconfiança o
método jurídico medieval dos comentadores e criou um novo método de ensino, que
privilegiou o expurgo das interpolações que tinham sido feitas aos textos originários do
Corpus Iuris Civilis, procurando alcançar a pureza primitiva do direito romano.

J. Domingues
2/16/2023
252

5. Humanismo Jurídico
“Mos gallicus”:

 Estuda o direito romano numa perspectiva filológica-histórica – denunciando


os erros, neologismos e anacronismos que os compiladores de Justiniano tinham
introduzido na adaptação das normas romanas à época da sua compilação.

 Busca as fontes originárias autênticas do direito romano primitivo

 Para além do direito romano, também tinha em conta outros direitos vigentes,
dando lugar ao surgimento dos direitos nacionais
J. Domingues
2/16/2023
253

5. Humanismo Jurídico
Duas vertentes doutrinárias:

 Vertente historicista – que criticou o método medieval de interpretar o direito


romano, por entender que este tinha sido feito há milhares de anos e estava
desenquadrado com a realidade da Europa moderna.

 Vertente racionalista – que se propõe aproveitar o que o direito romano tinha de


bom, apoiado numa presunção de racionalidade, e aplicá-lo com as
modificações necessárias à realidade que se vivia na Europa.
J. Domingues
2/16/2023
254

5. Humanismo Jurídico
Esta escola (ao contrário da dos Comentadores) teve início em Itália, mas atingiu o
seu maior desenvolvimento em França (Universidades de Bourges e Toulouse).
Principais representantes:
 Alciato (1492-1550), italiano, considerado o fundador da Escola
 Guillaume Budé (1467-1540), francês
 Zasio (1461-1535), alemão
 António de Gouveia (1510-1566), português, natural de Beja
 Jacques Cujas ou Cujácio (1522-1590), considerado o seu expoente máximo
J. Domingues
2/16/2023
255

6. Ensino do direito
Antes da Fixação da Universidade em Coimbra (1537):
 Desde o início da Universidade que o ensino do direito ocupa lugar de destaque
 A bula De statu regni Portugaliae, de 9 de Agosto de 1290, refere
expressamente o ensino do «iure Canonici ac Civili» e a existência de um doutor
«in decretis» e um mestre «in decretalibus»
 Na carta de privilégios, outorgada por D. Dinis no dia 15 de Fevereiro de 1309,
para além dos dois mencionados professores de direito canónico, prevê-se
também um professor «in legibus» (Direito romano).

J. Domingues
2/16/2023
256

6. Ensino do direito
Depois da Fixação da Universidade em Coimbra (1537):
 Com a mudança da sede da Universidade, grosso modo, só passaram para
Coimbra os professores com crédito científico
 Foram contratados professores estrageiros, ex. Martín de Azpilcueta ou Doutor
Navarro, Fábio Arcas de Narni e Ascânio Escoto
 Algumas cátedras foram confiadas a portugueses que tinham estudado no
estrangeiro, ex. Manuel da Costa, Aires Pinhel e Heitor Rodrigues, diplomados
em Salamanca e para onde voltariam mais tarde

J. Domingues
2/16/2023
257

6. Ensino do direito
Estatutos velhos:
 Estatutos Manuelinos (1503), sucessivamente
reformados AUC
 Estatutos Filipinos de 1591, revistos e confirmados por
Filipe II (1612) e de novo confirmados por D. João IV
(1653) AUC
Estatutos novos:
 Estatutos Pombalinos de 1772. AUC

J. Domingues
2/16/2023
258

6. Ensino do direito
Estatutos “velhos” da Universidade:
 Na sua génese, de acordo com a bula de Nicolau IV, datada de 9 de agosto de
1290, a Universidade portuguesa (com sede em Lisboa) era composta por quatro
faculdades: Faculdade de Artes, Faculdade de Leis Canônicas, Faculdade de Leis
Civis e Faculdade de Medicina.
Estatutos “novos” da Universidade (1772):
 A Universidade passa a comportar seis faculdades: Faculdade de Teologia,
Faculdade de Leis, Faculdade de Cânones, Faculdade de Matemática, Faculdade
de Filosofia e Faculdade de Medicina
J. Domingues
2/16/2023
259

6. Ensino do direito
Decreto de D. Maria II, 5 de dezembro de 1836:
 Homologou o plano de estudos apresentado por José Alexandre de Campos
(vice-reitor da Universidade de Coimbra) e assinado por Passos Manuel
(secretário de Estado dos Negócios do Reino), as Faculdades de Leis e Cânones
foram unidas numa só, que passou a designar-se Faculdade de Direito.

J. Domingues
2/16/2023
260

Fim
J. Domingues
261
2/16/2023

X – Segunda Escolástica
Francisco
de
Vitória

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
262

X – Segunda Escolástica
Sumário:
1. Caraterização geral
2. Autores mais representativos
3. O direito natural
4. Teoria da soberania popular:
4.1. O Assento dos três estados do reino de 1641
4.2. Direito de Resistência Coletivo da Nação
4.3. O pacto constituinte Liberal

J. Domingues
2/16/2023
263

1. Segunda Escolástica
A segunda Escolástica, Neoescolástica ou Escolástica Ibérica, também designada Escola de
Salamanca:
 Fundada por Francisco de Vitória na Universidade de Salamanca
 Trata-se de um movimento caraterizado por um enorme e multidisciplinar alcance
doutrinário
 Abordou temas da teoria política, direito natural, direito internacional público (ius
gentium), filosofia, teologia, direito, etc…
 Estendeu-se a Portugal e à Universidade de Coimbra, onde lecionaram alguns dos seus
maiores vultos (ex. Francisco Suarez)
 A sua teoria da soberania popular serviu de fundamento à legitimidade do poder
político na Revolução de 1640
J. Domingues
2/16/2023
264

2. Autores representativos
Autores espanhóis:
 Francisco de Vitória (1486-1546)
 Domingos Soto (1495-1560)
 Luís de Molina (1535-1600)
 Francisco Suarez (1548-1617)
Autores portugueses:
 Jerónimo Osório (1506-1580)
 Serafim de Freitas (1570-1633) (respondeu à tese de H. Grócio sobre o Mare Liberum).
 João Salgado de Araújo
J. Domingues
2/16/2023
265

3. O direito natural
Esta corrente também é designada por Escola Espanhola (ou Peninsular) de Direito
Natural:
 Conceção teocêntrica do Estado e do direito
 O direito natural provém da razão humana (humanismo jurídico) (ex. Fernando
Vásquez de Menchaca)
 Criação do direito internacional público moderno (ex. a liberdade dos mares e a
legitimidade de ocupação dos territórios descobertos e a condição jurídica dos seus
habitantes autóctones)
 Base doutrinária das modernas declarações de direitos humanos – Bartolomeu de las
Casas (1484-1566) deve ter sido dos primeiros autores a utilizar a expressão “direitos
humanos”, no sentido de direitos inalienáveis de todos os seres humanos.
J. Domingues
2/16/2023
266

4. Teoria da soberania popular


Teoria da soberania popular:
 O poder temporal ou político reside na comunidade política, que o delega ao rei
através do pacto constituinte (pactum subjectionis)
 No entanto, segundo uma passagem da Epístola de São Paulo aos Romanos,
«Non est enim potestas nisi a Deo» [não há poder que não venha de Deus]
 Por isso, em última instância, todo o poder político derivava de Deus
 Assim, o povo funcionava como um intermediário de Deus.
 Vindo de Deus, o poder é transferido ao rei através do povo.

J. Domingues
2/16/2023
267

4. Teoria da soberania popular


 Quentin SKINNER – The Foundations of Modern Political Thought, 1998, vol. II,
p. 114: «the sixteenth century not only witnessed the beginnings of absolutist
ideology, but also the emergence of its greatest theoretical rival, the theory that
all political authority inheres in the body of the people» [o século XVI, não só
testemunhou o início da ideologia absolutista, mas também o surgimento do seu
maior rival teórico, a teoria de que toda a autoridade política é inerente ao povo].
 Embora, o autor se estivesse a referir mais à corrente francesa dos
monarcómacos ou proto-liberais.
J. Domingues
2/16/2023
268

4.1. Assento das Cortes de 1641


O assento das Cortes de Lisboa de 1641 – princípio da representação da
comunidade política, através de uma assembleia representativa:
 «Assentaram que seria conveniente, para maior perpetuidade e
solenidade de sua feliz aclamação e restituição ao reino, que sendo
agora juntos tornem em nome do mesmo reino fazer este assento por
escrito, em que o reconhecem e obedecem por seu legítimo rei e
senhor e lhe restituem o reino, que era de seu pai e avô, usando nisto
do poder que o mesmo reino tem para assim o fazer, determinar e
declarar de justiça».
J. Domingues
2/16/2023
269

4.1. Assento das Cortes de 1641


O assento das Cortes de Lisboa de 1641 – teoria ascendente da transmissão do poder
político:

 «E pressupondo por coisa certa em direito que ao reino somente compete julgar e
declarar a legítima sucessão do mesmo reino, quando sobre ela há dúvida entre os
pretendentes, por razão de o rei último possuidor falecer sem descendentes, e eximir-
se também de sua sujeição e domínio quando o rei por seu modo de governo se fez
indigno de reinar. Porquanto, este poder lhe ficou quando os povos, a princípio,
transferiram o seu [poder] no rei para os governarem».
J. Domingues
2/16/2023
270

4.1. Assento das Cortes de 1641


O assento das Cortes de Lisboa de 1641 – o direito de resistência:
 «ainda que os reinos transferissem nos reis todo o seu poder e império para os
governarem, foi debaixo de uma tácita condição de o regerem e mandarem com
justiça, sem tirania, e tanto que no modo de governar usarem dela, podem os povos
privá-los dos reinos, em sua legítima natural defesa, e nunca nestes casos foram vistos
obrigar-se nem o vínculo do juramento estender-se a eles».
 Esta passagem justifica a desobediência e quebra do juramento de lealdade feito ao rei
D. Filipe I, considerando que o rei não tinha cumprido o pacto constituinte de Tomar
(1581).
J. Domingues
2/16/2023
271

4.2. Direito de Resistência Coletivo


O direito de resistência coletivo da Nação (resistência popular), em caso de incumprimento da
Constituição tradicional (violação do pactum subjectionis), podia resultar na destituição do
soberano ou mesmo na sua morte.

No caso de Portugal:
 1245 – Afastamento de D. Sancho II do governo do reino.
 1640 – Filipe III foi destituído pela força, por ter violado o pacto constitucional
das Cortes de Tomar (1581) – conforme consignado no Assento das Cortes de
1641: «por seu modo de governo se fez indigno de reinar».
J. Domingues
2/16/2023
272

4.3. O pacto constituinte liberal


O pacto constituinte instituído pelo Liberalismo:

 A origem e legitimação do poder passou a prescindir da intervenção divina, que


tinha sido convertida em intervenção direta – teoria descendente do poder – pelo
absolutismo.

 Enquanto o pacto de sujeição medieval e da neoescolástica era estabelecido entre o


soberano e os seus súbditos, o novo pacto constitucional liberal é estabelecido entre
os cidadãos, à margem do soberano.

 A Carta Constitucional de 1826 não se conformou com nenhuma das teses.


J. Domingues
2/16/2023
273

Fim
J. Domingues
274
2/16/2023

XI – Pensamento Jurídico Moderno

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
275

XI – Pensamento Jurídico Moderno


Sumário:
1. Escola Racionalista do Direito Natural
2. Usus modernus pandectarum
3. Jurisprudência Elegante (Humanismo tardio)
4. Iluminismo
5. Humanitarismo
6. Positivismo jurídico:
6.1 Escola da Exegese
6.2. Escola Histórica do Direito
6.3. Pandectística. Jurisprudência dos Conceitos
J. Domingues
2/16/2023
276

1. Escola do Direito Natural


Caraterização:
 Com a Escola Racionalista do Direito Natural (Jusnaturalismo) «a compreensão
do direito natural desvincula-se de pressupostos metafísicos-religiosos. Chega-
se ao direito natural racionalista, i. e., produto ou exigência, em última análise,
da razão humana. Considera-se que, tal como as leis universais do mundo
físico, também as normas que disciplinam as relações entre os homens e comuns
a todos eles são imanentes à sua própria natureza e livremente encontradas pela
razão, sem necessidade de recurso a postulados teológicos» [ALMEIDA E COSTA,
HDP, p. 355].
J. Domingues
2/16/2023
277

1. Escola do direito natural


Autores:
 Hugo Grócio (1583-1645), considerado o seu fundador
 Thomas Hobbes (1588-1679)
 John Locke (1632-1704)
 Samuel Pufendorf (1632-1694)
Hugo Grócio
 Christian Thomasius (1655-1728)
 Christian Wolff (1679-1754)

J. Domingues
2/16/2023
278

2. Usus Modernus Pandectarum


 Usus modernus pandectarum (uso moderno das Pandectas ou do Digesto de Justiniano),
introduzido na Alemanha, por volta do ano de 1600.
 Atualidade do direito romano – o direito não é uma realidade estática, antes pelo contrário,
está em constante evolução para se adaptar às novas circunstâncias. Por isso, dentro do
sistema do direito romano (com milhares de anos), tornou-se indispensável distinguir o que
se conservava como direito vivo do que se tornara direito obsoleto. Ou seja, só fazia sentido
manter o direito romano adaptável às condições da época, todo o resto seria “direito
caduco”, próprio de tempos passados.
 Acarretou um interesse pelo estudo e ensino da história do direito nacional.
J. Domingues
2/16/2023
279

2. Usus Modernus Pandectarum


Autores:
 Samuel Pufendorf (1632-1694)
 Samuel Stryk (1640-1710)
 Justus Henning Böhmer (1674-1749)
 Johann Gottlieb Heineccius (1681-1741) Samuel Pufendorf

J. Domingues
2/16/2023
280

3. Jurisprudência Elegante
Caraterização:
 Desenvolveu-se particularmente na Holanda, na Universidade de Leiden
 Trata-se de uma “deslocação” da Escola Humanista francesa para a Holanda,
muito derivada das lutas religiosas ocorridas em França, que levaram ao exílio
de mentes brilhante do direito
 Carateriza-se pela preocupação de rigor das formulações jurídicas e dos
cuidados de expressão escrita, que deu origem à própria designação de Escola
dos Jurisconsultos Elegantes

J. Domingues
2/16/2023
281

3. Jurisprudência Elegante
Autores:
 Johannes Voet (1647-1713)
 Gerhard Noodt (1647-1725)
 Westenberg

Johannes Voet

J. Domingues
2/16/2023
282

4. Iluminismo
Caraterização:
 O Iluminismo ou Época das Luzes ou da Ilustração foi um movimento intelectual que
surgiu durante o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão ou as “luzes da
razão”, em contraposição à obscuridade própria, sobretudo, da Idade Média.
 Do ponto de vista político, corresponde ao auge do absolutismo, que configurava a
ideia do Despotismo Esclarecido ou Despotismo Ilustrado – em que o monarca
concentra em si todos os poderes, mas devia ser uma pessoa bem preparada para tal.
 Em Portugal corresponde sobretudo ao reinado de D. José I (1750-1777), com destaque
para a figura do marquês de Pombal

J. Domingues
2/16/2023
283

4. Iluminismo
Autores:
 Em França, as ideias iluministas geraram o movimento cultural conhecido por Enciclopedismo:
 Charles Scondat de Montesquieu (1689-1755)
 Voltaire (François-Marie Arouet) (1695-1778)
 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
 Denis Diderot (1713-1784)
 Na Alemanha deram azo ao Classicismo:
 Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781)
 Johann Gottfried Herder (1744-1803)
 Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
J. Domingues
2/16/2023
284

5. Humanitarismo
 Corrente derivada do Iluminismo, que carreou profundas reformas no âmbito do direito
penal:
 Desvinculação do direito penal dos pressupostos religiosos
 As sanções criminais passam a ter como fim a prevenção (geral e especial) do crime e a
defesa da sociedade
 O direito penal limitado pela justiça e pela dignidade da pessoa humana:
 Proporcionalidade entre os crimes e as penas
 Eliminação das penas desumanas e degradantes, substituídas por penas de prisão
 Passagem do processo inquisitório para o processo acusatório
J. Domingues
2/16/2023
285

5. Humanitarismo Beccaria

Autores:
 Cesare Beccaria (1738-1794)
 Gaetano Filangieri (1753-1788)
 Charles de Montesquieu (1689-1755)
 Pasqual de Melo Freire (1738-1798)

J. Domingues
2/16/2023
286

6. Positivismo Jurídico
Caraterização:
 O Juspositivismo, em regra, contrapõe-se ao Jusnaturalismo
 O direito identifica-se com a lei
 A ordem jurídica constitui um todo acabado
 Pressupõe um conjunto de códigos modernos, sistemáticos e completos – «a
razão escrita encontrada pelo poder legislativo omnipotente» [ALMEIDA COSTA]
 Negação do costume como fonte de direito
 Subalternização do papel da jurisprudência e da doutrina
J. Domingues
2/16/2023
287

6.1. Escola da Exegese


Caraterização / Autores:
 Escola de origem francesa, ligada ao movimento codificador (Código Civil de
Napoleão, de 1804)
 A lei entendida como manifestação da vontade soberana
 Claude-Étienne Delvincourt (1762-1831)
 Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865)
 Charles Bonaventure Marie Toullier (1752-1835)

Proudhon
J. Domingues
2/16/2023
288

6.2. Escola Histórica do Direito


Caraterização:
 Defendia o caráter histórico do direito - «cada ordenamento jurídico tem atrás
de si uma tradição histórica, reflete as peculiaridades do povo respetivo, a
evolução da específica realidade social» [ALMEIDA COSTA]
 Formação de uma corrente romanista:
 Friedrich Carl von Savigny (1779-1861)
 E uma corrente germanista:
 Emil Eichhorn (1863-1925)

Savigny J. Domingues
2/16/2023
289

6.3. Jurisprudência dos Conceitos


Caraterização:
 A Pandectística pretendeu reunir todo o universo jurídico de forma sistemática e
abstrata
 Procurava, acima de tudo, edificar um sistema dogmático completo e fechado,
onde se encontraria resposta para todos os problemas jurídicos
 Georg Friedrich Puchta (1798-1846
 Alois von Brinz (1820-1887)
 Ernst Immanuel Bekker (1827-1916)

J. Domingues
2/16/2023
290

Fim
J. Domingues
291
2/16/2023

XII – Reformas Pombalinas

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
292

XIII – Reformas Pombalinas


Sumário:
1. Considerações preliminares
1.1. Legislação pombalina
1.2. Conceção absolutista do poder político
1.3. Estrangeirados – Luís António Verney
2. Lei da Boa Razão (1769)
3. Estatutos Pombalinos da Universidade (1772)
4. “Novo Código” (1778) – tentativa de reforma do direito vigente

J. Domingues
2/16/2023
293

1.1. Legislação pombalina


 Legislação efémera, que praticamente terminou com o final do reinado de D. José I e o fim
do governo do Marquês de Pombal (reformismo abstrato):
 Ex. a lei que excluía as filhas dos nobres da sucessão legítima, quando existissem
herdeiros (irmãos) do sexo masculino. No entanto, tinham direito a alimentos e a 4.000
cruzados para despesa do enxoval.
 Legislação duradoura, que se manteve até à atualidade:
 Ex. a lei que proíbe que o doente terminal faça testamento a favor do médico, do
sacerdote ou do enfermeiro que lhe preste cuidados durante a doença de que venha a
falecer – art. 2194º C. C.: «É nula a disposição a favor do médico ou enfermeiro que
tratar o testador, ou do sacerdote que lhe prestar assistência espiritual, se o testamento
for feito durante a doença e o seu autor vier a falecer dela».
J. Domingues
2/16/2023
294

1.1. Legislação pombalina


Avanços ao nível da cidadania, durante o consulado do Marquês de Pombal:
 1761. 19 de setembro – Alvará com força de lei que proíbe o transporte de escravos de ambos
os sexos, do Brasil para o reino de Portugal.
 1761. 2 de abril – Alvará para que os cristãos nascidos e batizados na Índia Oriental e domínios
da Ásia portuguesa gozassem das mesmas honras, preeminências, prerrogativas e privilégios de
que gozavam os naturais dos reinos de Portugal e do Algarve.
 1773. 25 de maio – Lei de revogação da distinção entre cristão novos e cristãos velhos.
 1773. 16 de janeiro – Lei do “ventre livre” que, dando cumprimento à lei de 19 de setembro de
1761, determinou que os filhos de escravos passavam a ser homens livres e que todos os
escravos podiam ser libertados até à geração da sua bisavó.
J. Domingues
2/16/2023
295

1.1. Absolutismo
 José Seabra da SILVA – Dedução Cronológica e Analítica, 1767:

 O regime monárquico é «aquele em que o supremo poder reside


inteiramente na pessoa de um só homem, o qual, ainda que se deve
conduzir pela razão, não reconhece, contudo, outro superior que não
seja o mesmo Deus, o qual deputa as pessoas que lhe parece mais
próprias para exercitarem nos diferentes ministérios do governo, e o
qual faz as leis e as derroga quando bem lhe parece».

J. Domingues
2/16/2023
296

1.3. Luís António Verney


 Os estrangeirados – letrados e cientistas nacionais que procuraram
incentivar Portugal a acompanhar a renovação cultural da Europa
 Luís António VERNEY – O Verdadeiro Método de Estudar, Valença, 1746.
 (i) Racionalismo, (ii) historicismo, (iii) Usus modernus pandectarum
e (iv) valorização do direito pátrio;
 Ensino do direito português: «é digno de admiração que saiam os
homens da Universidade falando muito nas leis de Justiniano, que só
servem faltando a lei municipal, e nada saibam daquela lei por que se
hão de governar».
J. Domingues
2/16/2023
297

2. Lei da Boa Razão (1769)


A Lei da Boa Razão (18 de agosto 1769) veio confirmar o império do direito do Estado:
 Uniformização da jurisprudência sob a égide da Casa da Suplicação, considerando
vinculativos apenas os seus assentos ou os que por ela fossem confirmados;
 Explicitação da primazia do direito nacional sobre o direito imperial romano;
 Restrição drástica do âmbito de reconhecimento do costume, através dos requisitos de
vigência de um século, de não contrariar a lei e de ser conforme à boa razão;
 Punição da litigância de má-fé dos advogados;
 Proibição de recurso ao direito canónico, remetido exclusivamente para o foro
eclesiástico, pois «aos meus tribunais cabe o julgamento dos delitos e não dos
pecados».
J. Domingues
2/16/2023
298

2. Lei da Boa Razão (1769)


 A Lei da Boa Razão alterou a preleção das fontes de Direito que constava das Ordenações Filipinas
(1603) e, com escassas alterações, herdada das Ordenações anteriores:
Quanto aos assentos, determinou:
 A autoridade exclusiva para os assentos da Casa da Suplicação;
 Os assentos das Relações, para terem vinculatividade geral, tinham de ser confirmados pela
Casa da Suplicação.
Quanto ao costume, só era fonte de direito aquele que:
 Tivesse mais de 100 anos;
 Não fosse contra legem;
 Estivesse de acordo com a boa razão.
J. Domingues
2/16/2023
299

2. Lei da Boa Razão (1769)


Quanto ao direito romano, determinou:
 Só se aplicar o direito que estivesse de acordo com a boa razão;
 No fundo, adotava o Usus modernus pandectarum, que viria a ser previsto nos Estatutos da
Universidade.
 Em matéria política, mercantil, económica e marítima recorria-se ao direito das nações cristãs,
iluminadas e polidas (considerando desatualizado o direito romano).
Quanto ao direito canónico, determinou:
 Que se remetesse o seu uso apenas aos tribunais eclesiásticos;
 Consequentemente, o foro temporal não poderia conhecer em matéria de pecados, exclusiva do foro
espiritual da Igreja.
Quanto à Glosa de Acúrsio, Opinião de Bártolo e opinião comum dos Doutores:
 Proibiu expressamente a alegação destas obras em tribunal.
J. Domingues
2/16/2023
300

3. Estatutos Pombalinos (1772)


A par do direito natural e reforço do direito pátrio (em detrimento do direito romano e
canónico), os Estatutos novos criaram a cadeira de História do Direito Português,
nomeadamente, impondo o ensino:
 …«do modo e a forma da legislação destes reinos, as fontes, as origens e os
progressos das leis que neles têm sido estabelecidas»…
 …«da Ordenação que se atribuiu ao senhor rei D. João I , de que se dá por autor o
Doutor João das Regras. Tratará da Compilação do senhor rei D. Duarte, por ordem
cronológica, da compilação do senhor rei D. Afonso V, organizada por ordem sintética,
da compilação sistemática do senhor rei D. Manuel, (…) da coleção das leis e
provisões do senhor rei D. Sebastião, impressa no ano de 1570, e da outra Coleção de
Duarte Nunes de Leão»…
J. Domingues
2/16/2023
301

3. Estatutos Pombalinos (1772)


O ensino universitário e os manuais adequados:
 Foi adotado o método de ensino sintético, demonstrativo e compendiário.
 «Será o professor obrigado a formar um compêndio elementar da dita História do Direito e de
todas as suas partes, próprio e acomodado para as lições anuais desta cadeira».
 Primeiros manuais – compêndios «breves, claros e bem ordenados» (Estatutos) – para substituir
as postilas ou apostilas (sebentas manuscritas):
 Pasqual José de Melo FREIRE – História do Direito Civil Português.
 Ricardo Raimundo NOGUEIRA – Prelecções Sobre a Historia de Direito Patrio ao curso do
quinto anno juridico da Universidade de Coimbra no anno de 1795 a 1796 (só foi editado
em 1866).
J. Domingues
2/16/2023
302

3. Estatutos Pombalinos (1772)


O nascimento do direito público e a primeira noção de constituição:
 A reforma pombalina da Universidade de Coimbra incluiu o ensino do «direito público pátrio»
no currículo da Faculdade de Leis (Tít. VI, Cap. II – Do Direito Pátrio Público)
 O professor «dividirá o direito pátrio em público e em particular» – assim, ficou
definitivamente adquirida a distinção entre direito privado e direito público, aquele regulando as
relações horizontais entre particulares e este regulando a organização do Estado e as relações
verticais de poder.
 O professor nas lições do direito pátrio público «dará a conhecer aos ouvintes a Constituição
Civil da Monarquia Portuguesa» – trata-se de uma das primeiras referências escritas à noção de
constituição.
J. Domingues
2/16/2023
303

3. Estatutos Pombalinos (1772)


Noção de Constituição Civil , segundo os Estatutos [Tít. 6, Cap. 2, § 4]:
 «Nas Lições dele dará a conhecer aos ouvintes a Constituição Civil da Monarquia
Portuguesa: a forma da sucessão hereditária dela; o supremo e independente poder e
autoridade temporal dos senhores reis destes reinos; o modo da legislação antiga e
moderna e da administração da justiça e da fazenda; a natureza das Cortes e das
decisões que nelas estabeleciam os senhores reis, enquanto não houve tribunais e
magistrados sedentários; os diferentes tribunais que tem sido deputados para o
governo político, civil e económico; as diferentes Jurisdições que lhes têm sido
cometidas; a natureza dos tributos e imposições públicas; o modo de os estabelecer; a
suprema jurisdição para estabelecer penas, criar e prover ofícios; e dirigir os estudos
dos vassalos; e todos os outros artigos que são da inspeção do mesmo Direito Pátrio
Público Interno».
J. Domingues
2/16/2023
304

3. Estatutos Pombalinos (1772)


Noção de Constituição Civil, segundo Ricardo Raimundo Nogueira:

 Ricardo Raimundo NOGUEIRA – Preleções de Direito Público Interno de


Portugal (Ano Letivo de 1795 a 1796): na «Constituição do Estado» estava
incluída «a forma do império, a ordem da sucessão, o sistema de magistratura,
a distribuição dos impostos, a administração das rendas públicas e, em geral,
tudo quanto diz respeito à sua particular natureza e compreende os ofícios
especiais entre os súbditos e o imperador e entre os mesmos súbditos uns para
com os outros» [NOGUEIRA, 1858: p. 235].
J. Domingues
2/16/2023
305

3. Estatutos Pombalinos (1772)


A Constituição Civil da Monarquia Portuguesa:

 O adjetivo “civil” significa “secular”, por oposição a eclesiástico;

 A constituição era entendida como «a forma do governo público interior do Estado»,


ou seja, a análise das instituições do poder político do Estado.

 A noção de “constituição civil” corresponde a um conceito descritivo de constituição,


no sentido de sistema político ou modo de organização e funcionamento do poder
político, que revela uma significativa analogia com a noção de “politeia” de
Aristóteles.
J. Domingues
2/16/2023
306

3. Estatutos Pombalinos (1772)


Estatutos pombalinos da Universidade:

 Os dois primeiros anos os cursos jurídicos (Leis e Cânones) tinham as mesmas disciplinas e as
aulas eram lecionadas em comum. Só a partir do 3.º ano passava a haver currículos distintos para
os cursos de Leis e Cânones [Liv. II, Tít. II, cap. 3 e Tít. VII, cap. 1].

 Por decreto régio de 5 de dezembro de 1836, que homologou o plano de estudos apresentado
por José Alexandre de Campos (vice-reitor) e assinado por Passos Manuel (secretário de Estado
dos Negócios do Reino), as Faculdades de Leis e Cânones foram unidas numa só, que passou a
designar-se Faculdade de Direito.

J. Domingues
2/16/2023
307

4. Novo Código
Iniciativa de reforma das Ordenações, o “novo Código”:
 1778. 31 de março – Decreto de D. Maria I, que nomeou uma Junta de Ministros para o exame
e correção da legislação e para formalizar um Novo Código.
 Esta iniciativa alimentou a querela de Ribeiro dos Santos e Melo Freire, em torno das Leis
Fundamentais do Reino.
 Pascoal José de Melo FREIRE – O novo Código de Direito Publico de Portugal, Coimbra, 1844.
 António Ribeiro dos Santos – Notas ao Plano do Novo Código de Direito Público de Portugal
do Dr. Pasqual José de Melo, feitas e apresentadas na Junta da Censura e Revisão pelo Dr.
António Ribeiro em 1789, Coimbra, 1844.
J. Domingues
2/16/2023
308

4. Novo Código
Pascoal José de Melo FREIRE (absolutista):

 «somente merecem este nome as que respeitam à sucessão do reino e ao poder e


autoridade do rei no seu governo»

 As primeiras e principais leis fundamentais do reino estão contidas nas próprias Cortes
de Lamego (c. 1143), mas apenas aquelas que concernem à sucessão do reino;

 Nas leis fundamentais se compreendem a lei das Cortes do ano de 1674 (sobre a
regência do reino) e ainda a lei das Cortes do ano de 1697 (que suspendeu a aplicação
de um preceito das Cortes de Lamego).
J. Domingues
2/16/2023
309

4. Novo Código
António Ribeiro dos SANTOS (mais liberal) :
 «as leis fundamentais primitivas e primordiais que ou se estabeleceram expressamente no
princípio da monarquia ou se supuseram como tais na sua instituição e formação» (…) «as leis
fundamentais posteriores que, por mútuo consentimento de nossos reis e dos povos, se
estabeleceram em Cortes ou fora delas, sobre as coisas essenciais do governo».
 (i) a forma suprema do governo; (ii) a ordem de sucessão da coroa; (iii) a forma de exercício dos
direitos do soberano no direito particular português; (iv) o sistema da administração pública; (v)
os direitos e deveres dos particulares relativamente ao príncipe; (vi) os privilégios das ordens que
constituíam o Estado; (vii) o estatuto das cortes; (viii) o direito da fazenda pública; (ix) as
matérias de interesse público, como a população, a religião, a educação, a polícia, etc…
J. Domingues
2/16/2023
310

Fim
J. Domingues
311
2/16/2023

XIII – Liberalismo

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
312

XIV – Liberalismo
Sumário:
1. Revolução Liberal (1820)
1.1 Causas e objetivos da Revolução Liberal
1.2. Da sublevação no Porto à unificação nacional em Lisboa
1.3. Convocação e eleição das Cortes Constituintes
1.4. Regeneração política (principais reformas)
1.5. Constituição Política da Monarquia Portuguesa
1.6. Apagar a memória da Revolução
2. Liberalismo económico
3. Individualismo político
4. Cronologia breve
J. Domingues
2/16/2023
313

1.1. Causas da Revolução


 O Antigo Regime (absolutismo monárquico)
 Crise económica e social resultante das invasões francesas e das vantagens dadas aos
Ingleses no comércio com o Brasil – adesão da classe comercial e da classe militar
 Hegemonia militar britânica (Beresford)
 1807/08 – Fuga da família real e da corte para o Brasil
 1815 – “Cédula de nascimento” do Estado do Brasil
 1817 – Execução de Gomes Freire de Andrade
 1818 – Fundação do Sinédrio
 1820 – Retoma da Revolução Liberal espanhola e da Constituição de Cádis
J. Domingues
314
2/16/2023

Fundadores do Sinédrio (22 jan. 1818)

M. Fernandes Tomás J. Ferreira Borges J. Silva Carvalho J. Ferreira Viana


J. Domingues
315
2/16/2023

1.2. Objetivos da Revolução


1. Terminar com o absolutismo: “As Cortes e a Constituição por elas!” [J. Ferreira Borges]

2. Entre a convocação das antigas Cortes e as novas Cortes representativas


a) A Regência tentou convocar as Cortes tradicionais
b) Consulta pública promovida pela Junta Preparatória das Cortes

3. Aprovar uma Constituição para o país

4. Ideias político-constitucionais centrais da Revolução: liberdade individual, igualdade civil,


cidadania política, separação de poderes, submissão do poder executivo à lei…
J. Domingues
316
2/16/2023

2. Da sublevação no Porto à
unificação nacional em Lisboa:

J. Domingues
2/16/2023 317

Os 40 dias que mudaram Portugal:


23 agosto – Conselho Militar em casa de Sepúlveda
24 agosto – Revolução no Porto / Junta Provisional
14 setembro – A JPGSR saiu da cidade do Porto
15 setembro – Revolução em Lisboa / Governo Interino
15 a 23 setembro – Sede da JPGSR em Coimbra
24 e 25 setembro – JPGSR em Leiria (1.º golpe militar)
27 setembro – Portaria de Alcobaça (2.º golpe militar)
1 outubro – Entrada triunfal da JPGSR no Rossio
J. Domingues
Ferreira Borges Bernardo Sepúlveda Brito Cabreira
2/16/2023
318

Conselho militar
23/24 agosto

V. Moreira & J. Domingues

Domingos Gil Leite de Berredo Sousa Pimentel Cardoso da Silva


2/16/2023
319
Proclamação / Cabreira Proclamação / Sepúlveda

Documentos
de 24 agosto
Porto

V. Moreira & J. Domingues


2/16/2023 Vereação da C.M. Porto Manifesto da JPGSR 320

Documentos
de 24 agosto
Porto

V. Moreira & J. Domingues


2/16/2023
321

3. Eleição das Cortes Gerais


Extraordinárias e Constituintes

J. Domingues
2/16/2023
322

Portaria da Junta Preparatória das Cortes:

1820. 6 de outubro – consultar as “corporações


científicas” e a “opinião mais ilustrada”, mas também
“acolher com toda a cordialidade quaisquer trabalhos que
lhe forem dirigidos pelas pessoas a quem a sua modéstia
impede de figurarem com ostentação científica”
1. Enviou mais de 2.200 circulares
2. Recebeu cerca de 500 pareceres

J. Domingues
24/09/2020
323

Sistema eleitoral constituinte


• As Instruções eleitorais de 31 de outubro de 1820
• As Instruções eleitorais de 22 de novembro 1820:
capítulo eleitoral da Constituição de Cádis (1812)
adaptado a Portugal
• Eleições indiretas – quatro graus eleitorais:
1. “Compromissários”
2. Eleitores de paróquia
3. Eleitores de comarca
4. Deputados (ao nível das províncias)
J. Domingues
2/16/2023
324

Eleições constituintes
10 a 30 de dezembro de 1820
• Edital do Senado de Lisboa: “devendo o povo convocar-se
para a eleição que ali se acha designada, em cada uma
das paróquias, no dia 10 do corrente, pelas 9 horas da
manhã; ficando na inteligência de que deverão aparecer
naquele ato todos os homens, maiores de 25 anos,
seculares ou eclesiásticos seculares”.
J. Domingues
• Abolida a convocatória por classes
• Sufrágio masculino “tendencialmente
Cortes do universal”, maiores de 25 anos
• Representação nacional unitária e proporcional
Vintismo à população
• 1 deputado / 30.000 habitantes
2/16/2023
326

4. Constituição Política da Monarquia


Portuguesa:

J. Domingues
Constituição de 1822
1. Preâmbulo: «Em nome da Santíssima e
Indivisível Trindade, as Cortes…»
2. Direitos fundamentais (no início do articulado)
3. Separação de poderes
4. Parlamento monocamaral
5. Recenseamento eleitoral
6. Eleições legislativas diretas
7. Eleições autárquicas / Presidente da Câmara
J. Domingues
2/16/2023
328

O papel limitado do Rei

• O rei como “poder constituído”

• Veto legislativo puramente suspensivo

• Sem poder de dissolução das Cortes

• Conselho de Estado selecionado pelo rei, mas de entre lista tripla aprovado
nas Cortes

• O rei como chefe do poder executivo subordinado à lei e à Constituição J. Domingues


2/16/2023
329

1.6. Apagar a Memória da Revolução


Após a Vilafrancada, procedeu-se à:
 Dissolução das Cortes (autosuspensão a 2 de junho de 1823) e revogação da
Constituição – Proclamação régia de 3 de junho de 1823
 Revogação global da legislação e das reformas vintistas – Decreto 19 de junho de 1823
 Demissão dos responsáveis vintistas de cargos públicos, que foram foçados ao exílio
 Supressão da memória escrita da revolução – aviso régio de 21 de agosto de 1823, que
mandou rasurar os livros do arquivo e queimar os documentos do regime anterior
 Demolição dos monumentos evocativos da Revolução (Porto, Lisboa, Funchal e
Brasil).
J. Domingues
2/16/2023
330

2. Individualismo político
Traços essenciais do constitucionalismo moderno:
 Soberania constituinte da nação ou do povo, expressa numa constituição escrita
 Governo representativo, através de um parlamento eleito – o poder político baseado no
consentimento dos cidadãos
 Soberania popular
 Separação de poderes, cabendo o poder legislativo ao parlamento
 Reconhecimento e proteção de direitos e liberdades fundamentais (liberdade, propriedade,
segurança, etc.)
 Submissão do poder executivo (o rei) à Constituição e à lei
J. Domingues
2/16/2023
331

3. Liberalismo económico
 Extinção de privilégios corporativistas, clericais e nobiliárquicos
 Ordem económica baseada nas leis do mercado, abolindo limites à livre circulação de produtos e à
instalação de empresas e mercados
 Extinção dos direitos banais (decreto de 20 de março de 1821) – tributos devidos ao senhor pelo uso de
determinado espaços agrícolas, privilégios comerciais e obrigações e prestações feudais
 serviços pessoais feitos pela própria pessoa ou com animais; os direitos dos fornos, moinhos e
lagares
 os privilégios exclusivos de boticas e estalagens; o privilégio de relego [exclusivo da venda do vinho
do senhor durante grande parte do ano];
 obrigações e prestações consistentes em frutos, dinheiro, aves ou curazis [carne de porco] impostas
aos habitantes de qualquer povoação ou distrito a favor de algum senhorio, pelo simples facto de
viverem naquela terra, por terem nela casa ou eira, por casarem, por irem buscar água às fontes
públicas ou a elas levarem seus gados, por acenderem fogo, por terem animais, etc…
J. Domingues
2/16/2023
332

3. Liberalismo económico
 Fundação do Banco de Lisboa (mais tarde chamado Banco de Portugal)
 Início do processo de desamortização
 Início da aplicação da máquina a vapor na navegação do Tejo
 Regulação dos forais, reduzindo determinadas contribuições
 Fundação da Sociedade Promotora da Indústria Nacional
 Abolição das portagens, com algumas exceções.

J. Domingues
2/16/2023
333

4. Cronologia breve
1823-1826 – Interregno constitucional
1826 – outorga da Carta Constitucional, por D. Pedro IV
1828 – D. Miguel convoca as Cortes tradicionais, onde foi aclamado rei absoluto
1828-1834 – Interregno constitucional
1832-1834 – Guerra civil
1836 – Setembrismo, reentrada em vigor da Constituição de 1822
1838-1842 – Constituição Política de 1838
1842 – Reposição em vigor da Carta Constitucional
1851 – Regeneração e sucessivos atos adicionais à Carta Constitucional
J. Domingues
2/16/2023
334

Fim
J. Domingues
335
2/16/2023

XIV – Movimento Codificador em Portugal

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
336

XIV – Movimento Codificador


Sumário:
Introdução
1. Tentativa do “novo código”
2. Influências da codificação portuguesa
3. Antecedentes: tentativas do Vintismo e do primeiro Cartismo
4. Os primeiros códigos portugueses
4.1. Código Comercial de 1833
4.2. Código Administrativo de 1836
4.3. Código Penal de 1852
4.4. Código Civil de 1867
4.5. Códigos de processo
J. Domingues
2/16/2023
337

Introdução
Das Ordenações aos Códigos:

 Ordenações – coleções legislativas globalizantes (que reuniam os vários domínios do direito,


sem a arquitetura de matérias nem a separação de ramos do direito, a não ser a clássica divisão
em 5 livros) e que funcionavam, sobretudo, como «repositórios atualizados do direito vigente».

 Códigos – sistemas de normas jurídicas inovadores e progressistas, com o intuito de criar um


sistema jurídico perfeito e acabado, com solução para todos os problemas jurídicos (recurso à
analogia para colmatar as lacuna). O direito identifica-se com a lei, que resulta do poder
legislativo do Estado. O juiz passa a ser a “boca da lei” (Montesquieu).

J. Domingues
2/16/2023
338

1. Tentativa do “Novo Código”


Iniciativa de reforma das Ordenações, o “novo Código”:
 1778. 31 de março – Decreto de D. Maria I, que nomeou uma Junta de Ministros para o exame
e correção da legislação e para formalizar um Novo Código.
 Esta iniciativa alimentou a querela de Ribeiro dos Santos e Melo Freire, em torno das Leis
Fundamentais do Reino.
 Pascoal José de Melo FREIRE – O novo Código de Direito Publico de Portugal, Coimbra, 1844.
 António Ribeiro dos Santos – Notas ao Plano do Novo Código de Direito Público de Portugal
do Dr. Pasqual José de Melo, feitas e apresentadas na Junta da Censura e Revisão pelo Dr.
António Ribeiro em 1789, Coimbra, 1844.
J. Domingues
2/16/2023
339

2. Influências da codificação
As influências vieram sobretudo de França e de Espanha:

 Em França, por lei de 16 de agosto de 1790, foi determinado a elaboração de «um código geral
de leis simples, claras e conformes com a Constituição», tendo-se depois promulgado um dos
primeiros códigos europeus: o Código Civil de Napoleão, de 1804.

 Na Súplica Constitucional de 1808 solicitava-se que «o código de Napoleão fosse posto


em vigor e as sentenças proferidas com justiça, publicidade e prontidão».

 Em Espanha, a Constituição de Cádis de 1812 previa a elaboração de um Código Civil, um


Código Criminal e um Código Comercial, «unos mismos para toda la monarquía» (art.º 258).

J. Domingues
2/16/2023
340
3. Antecedentes: projeto constitucional

O movimento de codificação no projeto oficial da


Constituição de 1822:
 1821. 15 de junho – o projeto constitucional da primeira
Constituição portuguesa previa: «as três legislaturas que
se seguirem às presentes Cortes Extraordinárias, se
primeiro se não tiver concluído o código civil e criminal,
poderão prorrogar as suas sessões por três meses,
devendo nos dois meses desta extraordinária
prorrogação tratar-se somente dos mesmos códigos».
J. Domingues
2/16/2023
341

3. Antecedentes: Cortes Constituintes


O movimento de codificação nas Cortes Constituintes (1821-1822):
 1821. 8 de fevereiro – projeto de decreto para a formação de um novo Código
Civil e Criminal, «cujas leis claras, simples e distintas, tendo por base as da
nossa Constituição Política, possam invariavelmente dirigir as ações dos
cidadãos e assegurar-lhes, contra o abuso do poder, a fruição de seus direitos
particulares».
 1821. 6 de julho – criadas duas comissões: uma para a redação do Código
Criminal e outra do Código Civil, ficando cada uma delas encarregada da
redação do Código do Processo respetivo. Em simultâneo, decidiu-se que «o
senhor Ferreira Borges continuasse na redação do Código de Comércio».
J. Domingues
2/16/2023
342

3. Antecedentes: Cortes Constituintes


O movimento de codificação nas Cortes Constituintes (1821-1822):
 Sessões parlamentares em que foram apresentadas indicações e propostas e respetivos
debates e deliberações: 29 de março de 1822, 24 de abril de 1822, 25 de abril de 1822, 7
de maio de 1822, 19 de junho de 1822, 27 de agosto de 1822.
 1822. 13 de setembro – Decreto para se atribuir um prémio para a preparação do
Código Civil e de Processo Civil: o autor do projeto vencedor receberia um prémio de
trinta mil cruzados (12:000$000 réis), pagos no curso de vinte anos, em pensão anual de
600$000 réis, e uma medalha de ouro no valor de 50$000 réis, «a qual terá de um lado
a imagem da Lusitânia, coroando com uma coroa de louro e rama de oliveira (…) cuja
efígie será ali gravada e no reverso a seguinte legenda – Ao Autor do Projeto do
Código Civil Português a Pátria Agradecida».
J. Domingues
2/16/2023
343

3. Antecedentes: Cortes Ordinárias


O movimento de codificação nas Cortes Ordinárias (1823):
 1823. 14 de fevereiro – Decreto para se atribuir um prémio pela elaboração de
um Código Criminal: o autor do projeto vencedor receberia um prémio de
6:000$000 réis, pagos no curso de vinte anos, em pensão anual de 300$000 réis,
e uma medalha de ouro no valor de 50$000 réis.
 1823. 14 de fevereiro – Decreto para se atribuir um prémio pela elaboração de
um Código Comercial: o autor do projeto vencedor receberia um prémio de
8:000$000 réis, pagos pelo Tesouro Público em mesadas de 200$000 réis, e uma
medalha de ouro no valor de 50$000 réis.
J. Domingues
2/16/2023
344

3. Antecedentes: Carta Constitucional


O movimento de codificação na Carta Constitucional (1826):
 A Carta Constitucional de 1826 veio reativar o movimento
codificador que tinha sido bruscamente interrompido pela
revolta da Vilafrancada, em 1823.
 «Organizar-se-á, quanto antes, um Código Civil e
Criminal, fundado nas sólidas bases da justiça e equidade»
[ C.C. art.º 145 § 17].

J. Domingues
2/16/2023
345

3. Antecedentes: Cortes cartistas


O movimento de codificação nas primeiras Cortes cartistas (1827-1828):
 1827. 6 de março – a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei n.º 114, sobre as
gratificações a pagar pelo Tesouro Público aos autores dos projetos do Código Civil: (i)
os projetos tinham de ser apresentados a qualquer das câmaras legislativas (dos Pares ou
dos Deputados), até ao dia 10 de janeiro de 1829; (ii) o autor do projeto de Código Civil
que fosse julgado digno de ser admitido para entrar em discussão recebia um prémio
total de doze contos de réis; (iii) os dois autores dos projetos distinguidos com a honra
do accessit, recebiam um prémio total de seis contos de reis, cada um; (iv) os projetos
tinham de constar divididos em duas partes – a 1.ª para o Código Civil e a 2.ª para o
Código de Processo Civil – e ser conformes à Carta Constitucional.
J. Domingues
2/16/2023
346

3. Antecedentes: Cortes cartistas


O movimento de codificação nas primeiras Cortes cartistas (1827-1828):
 1827. 6 de março – Aos projetos do Código Criminal aplicavam-se, mutatis mutandis,
as mesmas determinações, com a diferença de que os valores das gratificações seriam
de apenas metade e os projetos apresentados até ao dia 10 de janeiro de 1828. As duas
câmaras avaliariam o mérito dos projetos pelo «bom método com que forem distribuídas
as matérias, pela clareza de ideias, precisão das palavras e pureza da linguagem», mas
principalmente «pelo acerto das doutrinas e providências idóneas que estabelecerem
para decidir o maior número possível de questões ocorrentes no foro», evitando assim o
recurso às leis estrangeiras

J. Domingues
2/16/2023
347

3. Antecedentes: Cortes cartistas


O movimento de codificação nas primeiras Cortes cartistas (1827-1828):
 1827. 21 de março – a Câmara dos Deputados enviou a sua proposição à
Câmara dos Pares
 1827. 29 de março – a Câmara dos Pares aprovou a proposição da Câmara dos
Deputados, com algumas emendas.
 Todavia, não consta que a lei tenha sido sancionada pelo monarca e, em 1828, a
revolta do infante D. Miguel veio suspender, de novo, o procedimento de
codificação legislativa.
J. Domingues
2/16/2023
348

4.1. Código Comercial (1833)


Os primeiros códigos portugueses (1833-1867):
 1833 – Código Comercial de Ferreira Borges: concluído em 1831,
foi promulgado a 18 de setembro de 1823, por decreto D. Pedro, em
nome da rainha D. Maria II.
 Pelo mesmo decreto régio, foi criada uma jurisdição especializada
nesta matéria: dois Juízos Comerciais de Primeira Instância, um na
cidade de Lisboa e outra na cidade do Porto, e um Tribunal
Comercial de Segunda Instância, em Lisboa.
 1888 – Código Comercial de Veiga Beirão.
J. Domingues
2/16/2023
349

4.1. Código Comercial


Os primeiros códigos portugueses (1833-1867):
 1833. 18 de setembro – D. Pedro, em nome da rainha D. Maria II, «atendendo ao
merecimento e importantes serviços feitos à rainha e à Pátria pelo conselheiro José
Ferreira Borges», nomeou-o «supremo magistrado» da justiça comercial e «presidente
do Tribunal Comercial de Segunda Instância, com os vencimentos que competem aos
presidentes dos tribunais de segunda instância».
 1836. 16 de setembro – Ferreira Borges recusou-se a jurar a Constituição de 1822 e
abdicou da magistratura comercial nas mãos da rainha D. Maria II.
 1836. 30 de setembro – D. Maria II extinguiu a Suprema Magistratura do Comércio
J. Domingues
2/16/2023
350

4.2. Código Administrativo (1836)


Os primeiros códigos portugueses (1833-1867):

 1836. 31 de dezembro – decreto que promulgou o


Código Administrativo (limitado à administração
local): publicado a seguir à Revolução Setembrista (9
de setembro de 1836), no segundo período de
vigência da Constituição de 1822, que não previa a
codificação administrativa.

J. Domingues
2/16/2023
351

4.3. Código Penal (1852)


Os primeiros códigos portugueses (1833-1867):

 1837. 4 de janeiro – aprova o Código Penal de José


Manuel da Veiga, que não chegou a entrar em vigor.

1852. 10 de dezembro – Decreto régio que aprova o


primeiro Código Penal português.

J. Domingues
2/16/2023
352

4.4. Código Civil (1867)


Os primeiros códigos portugueses (1833-1867):

 1867. 1 de julho – carta de lei que aprovou o primeiro


Código Civil português, quase meio século depois da
iniciativa parlamentar vintista.

 Conhecido como Código de Seabra, por ter sido


elaborado por António Luís de Seabra e Sousa (1.º
Visconde de Seabra), desembargador da Relação do Porto.

 1868. 22 de março – data da entrada em vigor.


J. Domingues
2/16/2023
353

4.4. Código Civil (1867)


 O Código de Seabra uniformizou a legislação e as fontes de direito,
contribuindo para a segurança do comércio jurídico.
 No entanto, nota-se a ausência ou falta de tratamento adequado de
figuras jurídicas, como o direito ao nome e à imagem, as fundações, as
associações não personalizadas, a representação, o abuso do direito, a
responsabilidade pré-contratual, o contrato de adesão, a resolução ou
modificação do contrato por alteração das circunstâncias, etc.
 Fundamento jusracionalista
 Individualismo – todo o Código gravita em torno do sujeito ativo da Visconde de Seabra
relação jurídica.
J. Domingues
2/16/2023
354

4.4. Código Civil (1867)


 O costume – no seguimento da Lei da Boa Razão, o Código Civil remeteu
definitivamente o costume para as fontes mediatas ou indiretas – só valia
na medida em que fosse admitido pela lei, recusando-se o costume contra
legem e praeter legem.

 Nas sociedades primitivas constitui a única fonte de direito,


progressivamente, foi sendo suplantado pela lei, colocando-se hoje o
problema da sua “mitigada relevância” na ordem jurídica.

J. Domingues
2/16/2023
355

4.4. Costume
 Séc. XII-1248 – Período do Direito consuetudinário e foralengo.

 1248-1446 – Período do Direito comum (ius commune) – o costume começa a ceder primazia à
lei do monarca.

 1446-1867 – Período das Ordenações – o costume, ao lado da lei e dos estilos da corte, é fonte
primária do Direito:

 1769 – Lei da Boa Razão – o costume tinha que ter mais de 100 anos, ser conforme à boa razão
e não ser contrário à lei

 1867 – Código Civil – o costume perde o estatuto de fonte de direito

 1966 – Código Civil – refere os usos, como fonte mediata, e não o costume.
J. Domingues
2/16/2023
356

4.5. Códigos de processo


 1867 – Código de Processo Civil

 1895 – Código de Processo Comercial

 1899 – Código das Falências

 1905 – Código de Processo Comercial

J. Domingues
2/16/2023
357

Fim
J. Domingues
358
2/16/2023

XV – Extinção dos forais

José Domingues
Universidade Lusíada

J. Domingues
2/16/2023
359

XV – Extinção dos forais


Sumário:
1. Dos forais velhos aos forais novos ou manuelinos
2. Reforma liberal vintista
3. Contrarrevolução e represtinação dos tributos foralengos
4. Cronologia da extinção dos forais
5. Plano de Reforma dos Forais, de Alberto Carlos de Menezes (1825)

J. Domingues
2/16/2023

360

1. Dos forais velhos aos forais novos


2/16/2023
361

2. Reforma liberal vintista


Reforma vintista (1822. 3 de junho): (i) reduzindo prestações para metade, v. g., as rações ou quotas
incertas, os foros e pensões certas e as jugadas; (ii) extinguindo tributos como, por exemplo, as lutuosas
e as prestações certas procedidas dos forais e pagas para além das rações, pensões e foros, bem como a
obrigação de pagar qualquer prestação pelo simples ato de semear ou pela qualidade de proprietário em
certo lugar; (iii) limitando os laudémios à quarentena; (iv) expurgando o pagamento, ainda que
imemorial, de direitos cobrados na falta ou além do foral; (v) isentando dos tributos foralengos as terras
que não estivessem dentro da demarcação do foral; (vi) considerando que os baldios e maninhos eram
verdadeira propriedade dos povos, passando a sua administração para as respetivas Câmaras
Municipais; (vii) extinguindo a prática de cobrar as pensões e foros por cabecéis e pessoeiros; (viii)
admitindo a hipótese de se remirem pensões.
J. Domingues
2/16/2023
362

3. Contrarrevolução
O alvará de 5 de junho de 1824 veio revogar as medidas legislativas feitas a este
propósito no período vintista, determinando que «ficam os mesmos forais restituídos e
conservados interinamente no seu estado antecedente às inovações despóticas e
desorganizadoras que a este respeito fizeram as sobreditas Cortes; quanto, porém,
aos direitos a que chamaram banais, deverão considerar-se interinamente
suprimidos, enquanto a respeito destes não der as providências que me parecerem
mais justas».

J. Domingues
2/16/2023
363

4. Cronologia: extinção dos forais


 1812. 17 de outubro – criada a Comissão de Exame dos Forais e Melhoramento da Agricultura

 1822. 3 de junho – as Cortes Constituintes fizeram profundas alterações ao regime dos forais

 1824. 5 de junho – restabeleceu a vigência dos forais, mantendo a abolição dos direitos banais

 1824. 5 de junho – criou uma Junta para a Reforma dos Forais, substituída pela Junta das
Confirmações Gerais (1 de fevereiro de 1825)

 1832. 13 de agosto – Decreto de Mouzinho da Silveira que extinguiu definitivamente os forais

 1846/47 – atualização das reformas de Mouzinho da Silveira e abolição definitiva dos forais

J. Domingues
364

Plano de Reforma dos Forais,


1825
Alberto Carlos de MENEZES

2/16/2023
2/16/2023
365

Fim

J. Domingues

Você também pode gostar