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Direito Penal
e Processo Penal
Evolução Histórica
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Evolução Histórica
• Introdução;
• Direito Penal Romano;
• Direito Penal Germânico;
• Direito Penal Canônico;
• Direito Penal Comum;
• Direito Penal Brasileiro.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Discorrer sobre a evolução histórica do Direito Penal, de Roma até o Brasil, destacando as
suas principais características e conceitos históricos;
• Analisar os diferentes conceitos sobre o tema, desenvolvendo reflexões sobre a abordagem,
a fim de fomentar debates e postura em sua área de formação.
UNIDADE Evolução Histórica
Contextualização
Imagine que atualmente o profissional do Direito deve amparar seus clientes e
seus deveres de todo âmbito. Isso não seria possível se não possuísse conhecimento
para exercer tal atividade.
O Direito Penal, como poderá ser visto aqui, historicamente, possui um bom
desenvolvimento de alinhamentos. Para toda época e região estudada havia dezenas
de características que pudessem norteá-la. Sendo, assim, diferentes entre elas.
No desenvolver do estudo, será observado que cada época e cada diretriz criada
para o Direito Penal possui regras, fundamentos, pessoas envolvidas que fizeram
parte da criação do Direito Penal e da continuidade dele.
Com relação à continuidade, você poderá perceber que houve diversas mudanças
entre cada época, diferenciando-as mais ainda do seu estudo inicial do Direito Penal.
Isso porque o mundo foi se atualizando e deixando para trás algumas manias em se
tratando de desenvolvimento humano.
Com base nisso, é necessário que leia atentamente toda a história do Direito Penal
e canalize as diferenças entre as épocas, entre as regiões e entre as decisões tomadas
com base na evolução do mundo e sua globalização.
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Introdução
Inicialmente, vale ressaltar que a história do Direito Penal se trata da ideia de con-
trolar o exercício da forma, pois punir somente não bastava. Para aplicar a punição,
era necessário ter força.
Claro que a evolução histórica do Direito Penal tem mais a ver com o desenvolvi-
mento epistemológico socialmente aceito do que com o senso comum dos juristas.
O processo do Direito Penal depende exclusivamente da confiança e dos votos da
sociedade na capacidade do Estado.
Nesta unidade de estudo, vamos observar o que norteava o Direito Penal Romano,
o Germânico, o Canônico, o Direito Penal Comum e o Brasileiro. Desses temas,
observam-se algumas divergências, não em se tratando do entendimento sobre o
ofensor, nem sobre o ofendido, nem sobre penas e punições, e sim sobre a aplicabi-
lidade às épocas estabelecidas, pois canalizaram anos diferentes e regiões diferentes.
Consequentemente, povos diferentes... E como falamos anteriormente, o Direito Penal
tem muito mais relação com o desenvolvimento da sociedade – se aceito ou não.
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A Lei das XII Tábuas (séc. V a. C.) foi o primeiro código romano escrito (jus scriptum),
resultando no trabalho dos decenviri legibus scribendis. Desse modo, iniciou-se a
fase da vivência legislativa contendo a limitação da vingança privada.
O Direito Penal romano era feito com o princípio no dever moral (lei penal) e
aplicado pelo Estado. Uma transgressão legal era o não cumprimento de um regu-
lamento legal, sendo que para esses comportamentos era utilizado o uso da pena.
Com a utilização da pena, o delito era apagado e a ordem pública era reestabelecida.
O Direito romano estabelecia a distinção entre os ilícitos punidos pelo jus
publicum (crimina) e pelo jus civile (delicta). Os primeiros – infrações de
ordem social que atacavam a civitas (v.g., a perduellio; o parricidium) –
davam lugar a uma persecução pública realizada através da provocatio ad
populum ou das quaestiones perpetuae, e terminavam com uma poena
publica (v.g., supplicium capitale; interdictio aqua et igni; mulcta ou
damnum). Já os segundos – delicta (v.g., o furtum; a iniuria) – eram en-
tendidos como ofensa ao indivíduo e autorizavam, nos primeiros tempos,
uma reação de cunho privado. (PRADO, 2019, p. 13)
De 510 a.C. até 27 a.C., surge o procedimento das quaestiones perpetuae (Lex
Calpurnia de Repetundis) na República, criadas de forma meticulosa, com a inten-
ção de julgar os autores das ações consideradas prejudiciais ao Estado sem previsi-
bilidade legal.
Logo após esse período, entre 27 a.C. e 284 d.C., na época do Império, criou-se
uma nova espécie de transgressão legal: os crimina extraordinaria, que resultava na
aplicabilidade de pena individual pela autoridade judicial à relevância do caso concreto
onde fora fundada nas disposições imperiais, na prática da interpretação jurídica ou
na deliberação do Senado.
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É corrente a afirmação de que o Direito Penal Público romano se inicia
com a Lex Valeria (509 a.C.), que submeteu ao requisito da confirma-
ção popular (iudicium populi) as sentenças condenatórias à pena capital
prolatada por magistrados contra cidadãos romanos que recorressem à
provocatio ad populum. (PRADO, 2019, p. 14)
No mais, vale observar que os romanos não fizeram nenhuma sistematização dos
recursos penais. O seu exame era feito de forma minuciosa.
É assim que os juristas falam dos vários tipos de pena, mas não se preo-
cupam em estabelecer-lhes a função. Conhecem o nexo de causalidade,
mas não o definem; conhecem o dolo, a culpa, o caso fortuito; os casos
de não imputabilidade, como a menoridade e a insanidade mental, e os de
não punibilidade, como a legítima defesa, mas não cuidam dos conceitos
de não imputabilidade e de não punibilidade; punem a tentativa, mas não
a definem; conhecem os vários casos de coparticipação no crime, mas
não os enquadram em categorias. Todavia, a leitura das obras dos juristas
romanos sugere a ideia de um Direito Penal progredido, sobretudo quan-
do, em época mais tardia, criam uma articulação de normas conectando
leges, constituições imperiais e senatus-consultos. (PRADO, 2019, p. 14)
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A oposição era feita de forma individual ou por um grupo familiar, dando ori-
gem à Faida (feithu), onde o criminoso/agressor era confiado à vítima ou aos seus
familiares para que eles pudessem exercer o direito de vingança. Precedentemente,
causou-se uma autêntica guerra entre famílias. A partir do século IX, transformou-se
em direito pessoal.
Com os crimes, que compreendiam uma ofensa para toda a sociedade, nascia
para o criminoso a perda de sua paz – tal situação que o excluía do grupo familiar,
tornando-se similar aos animais dos campos e à mercê de todos. Nesse cenário,
tinham o direito de matar o ofensor.
De forma geral, entendia-se que o dever era compensar o prejuízo causado, com
intenção de haver a vingança privada. Em alguns casos, passava a ser não somente
direito da vítima, mas também um dever dela ou de sua família se vingar das ofensas
recebidas. Deste modo, constatava-se a vingança hereditária e solidária da família,
causando sua honra.
Nessa época, era muito ordinária a prova das Ordálias, como mecanismo de prova
física sofrida pelas partes (ofensor/ofendido) ou seus campeões, confiadas a explorar
e expor de modo tangível e incontestável a inocência ou ausência de inocência, sendo
primordialmente um teste de pureza.
O Direito Penal germânico resulta das leges barbarorum (Lex Salica –
500; Lex Romana Wisighotorum – 506, conhecida como Breviário de
Alarico; Lex Romana Burgundiorum – 517; Lex Rupiaria – Século VI;
Pactus – Século VII; Lex Alamannorum – Século VIII; Lex Baiuwariorum
– Século VIII), sendo certo que os primeiros diplomas integram o movi-
mento de unificação legislativa, iniciado com o processo de conversão
dos germanos ao cristianismo. (PRADO, 2019, p. 15)
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Após esse momento, a sociedade, de forma geral, foi pouco a pouco se mistu-
rando na forma como viviam até se obter verdadeiramente uma fusão. Os hábitos
territoriais, após a chegada e habitação do feudalismo, voltaram a imperar – deixando
de lado o princípio originário da personalidade das leis. Eram redigidas em latim
desde o século VI para entrega à maior parte das tribos germânicas – tal processo
que perdurou até o século XII.
Era definido por um sistema de agrupamento peculiar e categoricamente formado
que se converteu na base de toda a ordem de punição. O conjunto jurídico diferen-
ciava-se em três tipos principais:
• Wergeld: Composta pelo pagamento ao ofendido/vítima ou ao seu grupo fami-
liar para que houvesse reparação pecuniária;
• Busse: O valor (preço) que o criminoso/ofensor deveria pagar à vítima/ofendido
ou à sua família por atribuir o delito de vingança; e
• Friedgeld ou Fredus: Pagamento de pena ao chefe tribal da época, ao sobera-
no, ao tribunal ou ao Estado, em conformidade com o preço de sua paz.
A incumbência penal era tão direta pelo fato gerador e evento (Erfolgshaftung)
ou pela simples causação material (Causalhaftung) – que foi criado o termo “o fato
julga o homem”.
Naquela época, a consequência da ação era a mandante da relevância e a pena
não passava por nenhuma alteração se o resultado se desenvolvesse de forma espon-
tânea ou não, ou por caso infrequente.
Leandro Aguiar escreve, sobre o Direito Penal Germânico, que este “era visto como uma
ordem da paz. Desta forma, o crime seria a quebra, a ruptura com este estado”. Leia mais
sobre o Direito Penal germânico e outros no link: https://bit.ly/2ZugVj8
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O novo código de direito canônico foi promulgado pelo Papa João Paulo II, em
25 de janeiro de 1983.
A palavra “canônico” vem do grego kánon, que significa regra/norma, “[...] com
a qual originariamente se indicava qualquer prescrição relativa à fé ou à ação cristã”
(PRADO, 2019, p. 17).
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Referente à punição aos delitos, enquanto o Direito Penal romano apresentava a
punição como ferramenta de conservação social e o Direito Penal germânico apre-
sentava a punição como essência do princípio individualista, nesse estudo do Direito
Penal canônico a pena consagrava a premissa sucinta da ordem moral na qual com-
binavam com os interesses individuais e sociais.
Das punições e penas existiam inúmeras variações de ordem histórica. Mas, res-
peitando suas divergências, existiam, basicamente:
• Espirituales: pena que atingia bens espirituais e direitos eclesiásticos (por
exemplo, excomunhão, penitência); e
• Temporales: que buscavam bens jurídicos de ordem leiga (por exemplo, integri-
dade física, patrimônio e liberdade).
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Leia o texto de Claudio Demczuk de Alencar, “Algumas notas históricas sobre o processo
penal canônico”, no link: https://bit.ly/3eWPTav
De acordo com Leonardo Aguiar (2016), “O melhor critério para distinguir Direito Penal co-
mum e Direito Penal especial é a consideração dos órgãos que devem aplicá-los jurisdicional-
mente: se a norma penal objetiva pode ser aplicada através da justiça comum (estadual ou
federal), sua qualificação será a de Direito Penal comum; se, no entanto, somente for aplicá-
vel por órgãos especiais, constitucionalmente previstos, trata-se de norma penal especial”.
Leia mais sobre Direito Penal Comum x Direito Penal Especial em: https://bit.ly/2VBf4aY
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Do período colonial
Naquela época, o povo natural da região brasileira vivia num estado básico, com
muito atraso na evolução. Suas vidas eram consagradas pela instabilidade de mora-
dia – sendo nômades –, conduzidos a uma prática econômica imediata. E, segundo
os estudos de Prado (2019, p. 28), “o que existia eram simples regras consuetudi-
nárias (tabus), comuns ao mínimo convívio social, transmitidas verbalmente e quase
sempre prenhes de misticismo”.
Naquela época, o delito era confundido com o vício e com o pecado. Contudo, a
pena era exercida de modo a conter as ofensas pelo terror e a aplicação dela depen-
dia da qualidade dos indivíduos. Tal conduta ocorreu por muito tempo, alcançando a
vida brasileira por mais de dois séculos consecutivos.
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O novo código foi composto de 313 artigos, distribuídos em quatro partes, sendo elas:
• Dos crimes e das penas (sendo parte geral);
• Dos crimes púbicos;
• Dos crimes particulares/privados;
• Dos crimes policiais.
No que diz respeito à punição e penas, existia a regra geral de sua aplicabilidade:
pena de morte, galés, prisão com trabalho, prisão simples, banimento, degredo, des-
terro, multa, suspensão de emprego, perda de emprego e açoites. De acordo com
Prado (2019, p. 31): “Dispunha, também, sobre a imprescritibilidade das penas (art.
65); o perdão, concedido pelo imperador (art. 66), e o perdão do ofendido (art. 67)”.
O primeiro código penal brasileiro teve muita influência no código espanhol de
1848 e no código português de 1852. De acordo com o código penal espanhol,
em respeito à legislação penal latino-americana, foi afirmado que o código brasileiro
continha inúmeros progressos.
Em 1832 foi promulgado o código de processo criminal, e, em 1871, a lei sobre
os delitos culposos, finalmente.
Do Período Republicano
Baptista Pereira foi encarregado de desenvolver um projeto de código penal e ele
o fez. Em 1890, foi convertido em lei.
Claro que não se poderia exigir muito, pois foi elaborado com certa pressa, pouco
antes da Constituição Federal de 1891. O código penal, assim, oferecera grandes de-
feitos na técnica, tornando-se atrasado em relação ao seu tempo. Na época, foi alvo
de inúmeras críticas, visando a um estudo para sua substituição.
Foi exposto que, com o atual código penal, nasceu a tendência e a necessidade de
reformá-lo. A contar da sua data de entrada, começou a cogitar a emenda dos erros
e falhas, atrasando em relação à ciência penal do seu tempo. Com base nisso, sur-
giram muitos projetos novos para elaboração de um novo código penal. João Vieira
de Araújo apresentou o seu projeto em 1893. Já em 1913, foi a vez de Galdino
Siqueira. Em 1928, Virgílio de Sá Pereira publicou o seu projeto, sem obter sucesso,
mesmo após inúmeras formas de projetos.
Lá em 1937, Alcântara Machado apresentou um novo projeto de código criminal
brasileiro que foi direcionado à comissão de análise. Esse foi sancionado por decreto
em 1940. Como código penal, passou a vigorar desde 1942 até os dias atuais – com
poucas reformas.
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De todas as leis que alteraram o código penal em vigor, há destaques especiais
quanto à Lei 6.416, de 1977, e a Lei 7.209, de 1984, que criou uma nova parte geral
com notória influência finalista.
Objetivando a substituição do Código Penal de 1940, solicitou-se a Nélson
Hungria o preparo de um anteprojeto de Código Penal. Terminado em
1963, foi revisado e promulgado pelo Dec.-lei 1.004, de 21 de outubro de
1969, retificado pela Lei 6.016, de 31 de dezembro de 1973.
O Código Penal de 1969, como ficou conhecido, teve sua vigência sucessivamente
postergada até que finalmente foi revogado pela Lei 6.578, de 10 de outubro de 1978
(PRADO, 2019, p. 33).
O projeto de Lei 236/2012 (Projeto Sarney) tem como objetivo a reforma do Có-
digo Penal. Apesar disso, houve grandes críticas doutrinárias em relação aos princí-
pios penais. Com isso, existiu o panorama de que tal reforma fosse a vergonha para
a ciência mediante o estudo do projeto.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Código Penal brasileiro
Acesse o site para conhecer o Código Penal brasileiro por completo, inclusive
com as modificações que sofreu ao longo dos anos, desde que foi criado, em 7 de
dezembro de 1940.
https://bit.ly/38n5KwL
Livros
Curso de Direito Penal Brasileiro
PRADO, L. R. Curso de Direito Penal Brasileiro. 15. ed. Rio de Janeiro: Thomson
Reuters, 2017. v. 2.
Vídeos
Código Penal Completo
Sandro Gonçalves, no vídeo, lê o Código Penal brasileiro.
https://youtu.be/tYFBKPGDkls
Leitura
Relações de gêneros: (des)construindo conceitos a partir dos códigos penais de 1890 e 1940
Nesse artigo, Jéferson Luis de Azeredo e Jhonata Goulart Serafim analisam as
diferenças de tratamentos nos dois códigos penais em relação aos sexos feminino
e masculino (é necessário realizar o download do arquivo. Clique em “Baixar este
arquivo PDF”).
https://bit.ly/3gjMLWr
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Referências
ADREUCCI, R. A. Manual de Direito Penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
AGUIAR, L. Direito Penal comum x Direito Penal especial. Jusbrasil, 20016. Dis-
ponível em: <https://leonardoaaaguiar.jusbrasil.com.br/artigos/324818459/direito-
-penal-comum-x-direito-penal-especial>. Acesso em: 05/04/2020.
________. Evolução histórica do Direito Penal. Jusbrasil, 2016. Disponível em: <ht-
tps://leonardoaaaguiar.jusbrasil.com.br/artigos/324823933/evolucao-historica-do-
-direito-penal>. Acesso em: 05/04/2020.
PRADO, L. R. Curso de Direito Penal Brasileiro. 15. ed. Rio de Janeiro: Thomson
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________. Curso de Direito Penal Brasileiro. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
ROCHA, D. Tire todas as dúvidas sobre o Código Penal Brasileiro. Blog da Aurum,
9 jul. 2019. Disponível em: <https://www.aurum.com.br/blog/codigo-penal-brasilei-
ro/#3>. Acesso em: 11/04/2020.
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