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DIREITO ROMANO
O Estado é o legislador pelo que elabora as leis e estas são aplicadas pela comunidade
nacional.
O Direito enquanto conceito abstrato pode ser definido como lei, jurisprudência e costumes.
Em Roma e, mais precisamente, durante o Império Romano, não havia poder legislativo
específico, ou seja, não há uma entidade específica que pense nas soluções para os problemas
das relações entre pessoas. O Império Romano precisou de 5 a 6 séculos até se constituir e,
embora não possuísse legislação, possui Direito. Antes de Roma não verificava a existência de
Direito.
O Direito Romano é o conjunto de regras jurídicas do povo romano e está na base do Direito
Português e do Direito Europeu, no entanto, verificam-se diferenças entre o Direito Romano e
o Direito atual.
O Direito Romano nasce da análise e resolução do caso concreto, ou seja, é utilizado para
resolver o problema/conflito concreto da pessoa A ou pessoa B. É, por esta razão, considerado
casuístico. Além de casuístico, o Direito Romano não é abstrato, visto que o Direito olha para
cada situação concreta, por outro lado, não engloba o conceito de generalidade, ou seja, as
soluções jurídicas dependem de cada caso e, por fim, não engloba o conceito de casos
precedentes pelo que não há obrigatoriedade de solucionar os mesmos casos da mesma
forma. O Direito Romano não envolve, portanto, imposição político legislativa.
DIREITO ROMANO - adaptável, informado por decisões prévias mas ainda assim moldado a
cada situação
No âmbito do Direito Romano surgem vários termos em latim entre eles: Derectium, Ius,
Iustitia e Aequitas. Derectium surge da soma de "de" e "rectium" e refere-se ao Direito que é,
de facto, "reto" ou "não torto", ou seja, não é adaptável, é geral, abstrato e cego e aplica-se a
todos, pelo que não atende às especificidades e necessidades individuais. Ou seja, "Derectium"
decorre das leis que se aplicam a todos em todos os casos. O Direito Romano não atende a
esta definição. O termo Ius indica-nos este caráter adaptável do Direito Romano, em oposição
ao termo "Derectium". No Ius encontramos a iustitia e a aequitas. O Direito Romano, o ius,
tende para a justiça.
Este ius que tende para a justiça, é guiado por três grandes princípios fundamentais: os
Praecepta iuris, proferidos por Ulpiano:
honeste vivere (viver honestamente)
alterum non laedere (não prejudicar o próximo);
suum cuique tribuere (atribuir a cada um o seu).
O conceito de Derectum aponta para o conceito de Lex, ou seja, Lei, que consiste no direito
estrito e rigoroso criado pelo legislador com o objetivo de aplicar a todos. É, portanto, cego,
estrito, geral e abstrato. Trata-se do Direito aplicado na fase final da evolução do Direito e, por
conseguinte, Império Romano. É uma criação legislativa aplicada a todos.
Por sua vez, Ius representa o Direito Romano Clássico e o Direito Romano essencialmente,
utilizado para atribuir justiça caso a caso. É pensado para resolver casos concretos.
Dentro do Ius encontramos a Iustitia, representada pelo "sum euique tribuere" , ou seja, "a
cada um deve ser atribuído aquilo que lhe é merecido". A "aequitas", ou seja, "equidade"
consiste na aplicação do Direito/Justiça ao caso concreto.
O Ius é, portanto, o Direito pensado por aqueles que têm capacidade para pensar no Direito
e que o aplicam pelo que não nasce por imposição do poder político.
O Império Romano era extenso e teve uma evolução temporal vasta, desde o séc. VIII a.C. a
476 d.C.. Nesse sentido, entende-se que certos momentos têm características diferentes entre
si, o que exige uma periodificação. Esta divisão em períodos é um ato sempre artificial, feito
em função daquilo que quem divide quer realçar, pelo que se conclui que diferentes autores
fariam diferentes periodificações.
Em termos político-jurídicos, pode-se dividir a evolução do Império Romano em cinco
períodos:
1.º: PERÍODO DA MONARQUIA (Período do Rex e das Gens): 753 a.C. a 509 a.C.;
2.º: PERÍODO DA TRANSIÇÃO DA MONARQUIA PARA A REPÚBLICA: 509 a.C. a 367 a.C.;
3.º: PERÍODO DA REXPÚBLICA (Período do Populus Humano): 367 a.C. a 27 a.C.;
4.º: PERÍODO DO PRINCIPIADO (Período do Príncipe como Princepa primus inter
pares): 27 a.C. a 285 d.C.;
5.º: PERÍODO DO DOMINADO: 285 d.C. a 476 d.C. (até à queda do Império/ Imperador
enquanto único senhor do ponto de vista político).
Ocorre ainda uma evolução das fontes de Direito em cada período. Uma fonte de Direito é
uma fonte de criação, revelação e manifestação do Direito, pelo que é o instrumento através
do qual se criam regras jurídicas , ou seja, normas que se aplicam às regras interpessoais.
O "PERÍODO DA MONARQUIA"
O primeiro período do Império Romano, ou seja, o período da monarquia, é um período
bastante obscuro visto que existem poucas fontes históricas que documentem a organização
da vida social, política e jurídica da época, algo justificável pela forma como existia uma
primazia da oralidade em detrimento da escrita no que toca à propagação de conhecimento. É
possível, então, esboçar um retrato da sociedade em questão tendo em conta os
conhecimentos decorrentes de escritores e autores pós-Monarquia e não a partir de fontes
diretas. Através destes documentos percebe-se que a organização política da altura se
centrava no Rex, no Senado e na Comitia.
O Rex, ou seja, o Rei, concentrava em si três poderes:
Imperium Domi (poder administrativo, ou seja, de administrar a cidade);
Imperium Militae (poder militar, ou seja, de comandar e organizar os exércitos);
Augurio (poder de mediação divina).
O poder militar do Rei mostra-se francamente importante visto que a cidade romana era
profundamente militarizada, até a níveis de organização social. Por sua vez, o poder de
mediação divina expõe o Rei enquanto pontífice, ou seja, ponte entre o terreno e o divino.
Como pontífice máximo, era o maior interpretador da vontade dos deuses, numa sociedade
extremamente religiosa, tradicional e militar. Tudo, incluindo o Direito, está interligado com a
religião na Roma Antiga.
Até Roma se converter ao Cristianismo as noções de Justiça/Direito e Religião estavam
fortemente unidas. Não se fazia nada se os Deuses não o consentissem. Por exemplo, só se
começava uma guerra se os Deuses afirmassem que os romanos iam ganhar. As decisões
políticas faziam-se desta forma e este julgamento fazia-se através do pontífice, que analisava
as manifestações dos deuses. A sociedade romana possuía cidadãos que tinham como função
a leitura dos augurios, ou seja, as manifestações dos Deuses. Estes cidadãos eram pontífices
com poder de auguria, sendo que o Rei era o pontifex maximus, ou seja, aquele que, em última
análise, determinava a vontade dos deuses.
A leitura dos augurios era feita através do voo dos pássaros. Ao nascer do Sol, publicamente
e com uma vara, o pontífice desenhava um quadrado imaginário no céu. De acordo com aquilo
que visse (um pássaro a voar isolado ou em grupo, tipos de pássaro, etc.), o pontífice
determinava as vontades dos Deuses, podendo ser favoráveis ou desfavoráveis, e, por
conseguinte, o Direito, aquilo que determinava as ações políticas. Alias, "fas" representa os
dias em que os Deuses consentissem, ao passo que "nefas" representa os dias em que os
Deuses não consentissem.
Percebe-se que tudo vive por influência religiosa, sobretudo o Direito. Na escolha/eleição do
Rex, agia-se através da lei "lex curiata de imperium", que, supõe-se, terá sido criada e
aprovada pela Comitium Curiata, a comitium ( singular de comitia e que significa assembleia)
mais importante. Percebe-se que não existia uma conceção de hereditariedade e que eram os
Deuses que indicavam quem era o legítimo Rei. Nesse sentido, após a morte do Rei, iniciava-se
o período inter-rex, no qual o governo de Roma se torna responsabilidade do Senado. Durante
este período de vacatura, que dura 5 dias, faz-se a leitura dos augurios e o sumo pontifice lê as
vontades dos deuses perante o Senado. Depois da leitura do nome escolhido pelos deuses
(que pertencia, geralmente, ao Senado, sendo, por isso, um patrício), este tinha de ser
confirmado pelo Senado, ou seja, o mesmo tinha de aceitar o seu poder, e, só após isso, ele
era nomeado Rei.
Por sua vez, o Senado, órgão constituído por patrícios (descendentes das primeiras famílias
de Roma que apoiaram Rómula e Rémulo, ou seja, os fundadores de Roma), era o órgão
consultivo, ou seja, aconselhava o Rei, especialmente em matérias de guerra e de paz. Possuía
ainda uma função de intervenção e representação diplomática de Roma perante os outros
povos e a celebração de tratados internacionais - foedara. Além disso, tinha a função de
garantir que, e autoridade para preservar, as tradições morais, jurídicas e religiosas romanas se
mantinham, pelo que tinha o poder de autorictas (poder de autoridade dos pais). É ainda de
comentar que, durante o período de vacatura, tinham a função de governar Roma.
O reino de Roma teve 7 reis e Tarquínio, o Soberbo, foi o último dos mesmos visto que foi
expulso. Tal acontecimento motivou e despontou a transição para a República.
Verifica-se que, no período da monarquia, o Direito aplicado ao casos concretos estava repleto
de uma conceção religiosa, visto que este era revelado à comunidade, depois da leitura dos
augurios, ou seja, da vontade dos deuses.
Os Mores Maiorrum não são costumes como os entendemos e são a principal fonte de
Direito da Monarquia. Temos ainda outra figura, o Consuetudo, que consiste no costume
enquanto Direito criado pela comunidade romana, para regular a sua vida diária.
Os Mores Maiorum tem matriz religosa e moral, revelada e praticada pelos pontifices nos
casos concretos. O Consuetudo tem uma evolução gradual através do império romano e
decorre da prática de costumes reiterada.
Os patrícios e os plebeus são cidadãos que têm alguns direitos semelhantes: os direitos de
participação nas assembleias criadas (comitium curiata) e estabelecimento de relações
comerciais. O direito de participar nas assembleias origina o ius sufragio, ou seja, o direito de
votar característico do cidadão e o direito de estabalecer relações comerciais origina o ius
comercio. É ainda de acrescentar que a mulher, embora possa ser cidadã, não participa nas
assembleias.
Embora possuam alguns direitos semelhantes, verifica-se que os patricíos possuem alguns
vantagens relativamente aos plebeus. De acordo com os Mores Maiorum, os cidadãos patrícios
têm o direito de casar com outra cidadã patrícia ou plebeia (connubium), ao passo que os
cidadãos plebeus apenas podem casar com plebeias. Além disso, os patrícios têm o direito de
adquirir terras publicas ( agere publicum), ao passo que os plebeus não. Verifica-se que Roma
é um terreno pequeno que vai evoluindo em termos geográficos através da conquista,
chamando-se terras publicas a estes terrenos. Esta terras vão sendo atribuídas por leilão a
quem mais desse por elas, algo que apenas patrícios podiam fazer. Por outro lado, apenas os
patrícios têm o direito auspicio, ou seja, a capacidade de fazer a ponte e intermediação entre o
terreno e o divino e interpretar a vontade dos deuses.
No dia a dia, o Direito é aplicado pelos pontífices, aqueles que conhecem os Mores Maiorum,
o qual é passado de pontífice para pontífice. Os pontífices são todos eles patrícios, pelo que
estes podiam beneficiar o seu próprio grupo. Os patrícios têm mais vantagens pelo que se
assistem a muitas revoltas por parte dos plebeus em busca de maior igualdade.
NOTA: A lei das 12 tábuas não é uma lei de igualização do estatuto juridico dos patricios e
plebeus, pelo que não tem como objetivo anular as diferenças entre estes dois grupos. Algo
que vai ser feito depois. Esta lei é a redução a escritos dos MM, ou seja, do Direito aplicado. Os
pontifices continuam a ler os augurios, só que os MM são agora consultáveis e passiveis de ser
lidos, pelo menos as suas regras mais gerais.
Com a lei das 12 tábuas iniciamos aqui outra figura. A lei das 12 tábuas é a primeira lei a
chegar até nós de forma clara. E é também a primeira lex rogata
(lei cuja aprovação é pedida). Os magistrados que a elaboraram pediram para que ela fosse
aprovada.
Com o fim da monarquia em Roma, o poder dos Reis desaparece mas o poder não cai na rua, a
organização política muda, levando a que orgaõs que já existiam na monarquia assumam
poderes específicos para a republica e se mantenham durante a mesma - magistrados.
Os magistrados, todos eles patricios, a assumir poderes de soberania e governo sobre Roma
(poder de criar e impor a organização politica, admnistritva e militar em Roma) e poderes de,
através das suas decisões, vincular os seus cidadãos - imperium e potestas.
Quando cometemos uma infração de estacionamento, recebemos uma carta a reenvidicar um
pagamento - ato de potestas.
Os magistrados, nesta primeira fase de transição da monarquia para a republica, fase de
reclamação e revolta, sendo todos patricios. Os plebeus, agora mais ricos, reclamam direitos.
Havia um colégio militar em que muitos deles eram plebeus e, granjeando posição e poder,
tentam obter estatuto comparável ao dos patricios. Isto começa a acontecer quando em 367
ac se publica um conjunto de leis chamadas leges liciniae sextiae: pacote legislativa que vem
reduzir o fosso e estatuto social entre plebeus e patrícios. Estas leis têm os nomes dos seus
componentes: licinio e sextius - preponentes da lei.
Trata-se de uma lex rugata pois é uma lei formulada por magistrados e proposta peramte os
CC (para que os valide) que, nesta altura, deram origem aos Comitia Centuriata - mudança na
organização militar romana. Durante a monarquia, o exército esta organizado em curias, agora
estava organizado em centurias. Esta lex rugata é formada por 4 leis:
Lex liciniae sextiae aero alieni: lei relativa a bronze - lei que vem regular as dividas.
Havia uma regra dos MM que determinava que a divida tinha de ser paga no prazo de
vencimento da mesma. Os plebeus, sendo que contraia dividas com patricios,
chegavam ao final do ano sem conseguirem pagar a divida, sendo condenados a
trabalhos de servidão, não conseguindo renegociar a divida. Nas circunstâncias da
divida, deve ser possível que o devedor pague o capital + juros em 3 prestações anuais.
Lex liciniae sextiae modo agrorum: uma das limitações do estatuto dos plebeus era o
facto de não terem ius agrorum, ou seja, comprar em leilões / asta publica, terras
públicas de forma a se tornarem terras privadas. Esta lei permite uma redistribuição da
terra, limitando a área que pode ser adquirida pelos patricios (500 geiras), dando
origem a que os plebeus possam licitar o resto.
Lex liciniae sextiae consule plebeus: vem determinar a possibilidade de um cônsul
plebeu. O consul é quem governa e manda na cidade, sendo eleitos (2) em colégios. Os
2, originando o consulado, eram patrícios.
A fase da República começa em 367 a.C. e acaba em 27 a.C.. 367 a.C. é o ano que marca o
surgimento das leges lecinae sextae, que vai fazer a aproximação do Direito dos plebeus e dos
cidadãos, dando início à República.
MAGISTRATURA
CARACTERÍSTICAS
A magistratura é essencial na administração de Roma, possuindo diversas características:
Colegialidade: para cada magistratura eram eleitos 2 magistrados (em colégio,
portanto) com paridade no grau e na função, de forma a não haver poder um sobre o
outro, ou seja, poder autoritário (durante a república, Roma vai tentar responder aos
desafios que encontrou durante a monarquia, entre eles a presença de poderes
absolutos como se verificou com Tarquínio, o Soberbo);
Temporalidade: princípio geral, o mandato é anual, embora haja exceções;
Eletividade: os magistrados são eleitos;
Separação rigorosa entre as magistraturas: as magistraturas têm uma comunicação
muito restritas e, por conseguinte, cada um tem funções muito especificas em Romas;
Impossibilidade de repetir cargos: no fim do mandato os magistrados não se podem
recandidatar para o mesmo cargo, apenas para cargos/magistraturas superiores (trata-
se de uma carreira pensada, pelo que se começa com cargos de menor importância
para continuar o percurso até chegar a cônsul – cursos honorum);
Responsabilidade pelas infrações cometidas durante o mandato: tudo aquilo que os
magistrados fazem que possa ser considerado uma infração vai dar lugar a uma
responsabilização, algo que também ocorre se não cumprirem os objetivos a que se
propuseram, pelo que há, aqui, uma obrigação de cumprimento;
Gratuitidade: os cargos não são renumerados pelo que quem exercer um cargo de
magistratura, vai exercê-lo a título gratuito durante o seu mandato (foi por causa disto
que, durante séculos, os magistrados foram pontífices visto que eram os únicos
capazes de estar um ano sem renumeração, pois tinham um grande património).
Existem ainda mais poderes comuns a todos os magistrados: ius auspiciorum, ius edicendi e
coercitio.
O ius auspiciorum é a faculdade de indagar por certos signos a vontade favorável ou
contrária dos deuses, antes de qualquer ato importante.
O ius edicendi é o direito de promulgar edictos, ou seja, providências em matérias da sua
competência para resolução de situações concretas especiais (edicta repentina) ou programas
da própria atividade, promulgados no início do seu cargo e contendo as regras a que essa
atividade se sujeitará (edicta perpetua). O ius edicendi do pretor é criador de Direito.
O coercitio é o direito de usar de meios compulsivos para forçar qualquer cidadão a respeitar
uma ordem emitida pelo magistrado no exercício das suas funções, por exemplo, prisão,
sanções corporais ou pecuniárias, retenção de bens, entre outros.
Por outro lado, existem outros poderes apenas reservados a alguns magistrados: iurisdictio e
intercessio.
O Iurisdictio é o poder de aplicar o direito aos casos concretos em que há litígio e é são
seus titulares o cônsul e pretor.
O Intercessio é o direito de opor o seu veto aos atos de outros magistrados, ou seja, é o
poder dos magistrados maiores, que exercem esse poder sobre os magistrados menores em
termos hierárquicos. Também o tribuno da plebe pode utilizar na sua defesa dos direitos da
plebe.
MAGISTRATURAS MAIORES
Verifica-se que o consulado e pretura eram magistraturas maiores cum imperio et cum potestas.
Sendo os titulares destes poderes eleitos todos os anos nos comícios centuriais. Por sua vez, a ditadura
era uma magistratura maior cum imperio, mas com caráter extraordinário, sendo o ditador nomeado
por um cônsul, com base num parecer do Senado, para um mandato máximo de 6 meses. Eram criados
momento de iustitium, com suspensão da normalidade legal e da aplicação regular da justiça.
Na sua generalidade, as magistraturas maiores tinham os seguintes poderes:
Supremo comando militar e respectivo poder coercitivo (imperium militae);
Direito de convocar e presidir aos órgãos colegiais: senado e assembleias (ius agendi
cum populo, ius agendi cum patribus);
Praticar actos coercivos para se fazerem obedecer pelos cidadãos e pelos magistrados
menores (imperium domi);
Direito de emanar e fazer publicar no fórum os seus edicta (ius edicendi);
Possibilidade de assumir auspícios maiores.
CÔNSUL
Compete ao cônsul a determinação da aplicação da pena de morte. No entanto, não aplica a
termo definitivo, visto que o condenado podia pedir "recurso". Quando os cônsules (visto que
são dois) não estão em Roma, quem governo é o pretor.
O cônsul possui as seguintes características:
o Magistratura com imperium domi (poder na cidade) e imperium militae (militar);
o Colegial;
o Anualidade;
o Dividia os poderes com outras magistraturas;
o Tinha poderes de coercitio e de iudicatio – acusar, julgar e executar as sentenças sem
obrigação de seguir o consilium por ele convocado, e liberto de qualquer formalidade
ou vínculo processual;
o Exercia todas as competências residuais que não cabiam aos outros magistrados:
Coercitio para a pena de morte.
O cônsul detinha:
o Ius agendi cum patribus – poder de convocar o Senado;
o Ius agendi cum populo – poder de convocar as assembleias populares – dava-lhe
iniciativa legislativa, apresentando propostas de lei ao Senado (lex rogatio).
PRETOR
O pretor é o aplicador do Direito, sendo que compete ao mesmo, interpretar, integrar e
aplicar os ius civile as relações jurídicas entre cidadãos romanos. É o titular do tribunal, onde
tem a função de ouvir as reclamações e perceber se há ou não, no ius civile, proteção para
essa questão e, se houver, aplicar a justiça. Verifica-se que só se podia chegar a pretor com 35
anos.
A partir de 242 a.C. vai ser criada em Roma uma outra figura do poder: pretor peregrino. A
partir dessa data, temos dois tipos de pretor: urbano, criado em 367 a.C., e peregrino, que
aplica o Direito as relações juridicas entre estrangeiros e entre cidadãos e estrangeiros. O
pretor peregrino cria o ius gentium, que é um direito influenciado pelo ius civile mas mais
simples e menos formalista que este. O peregrino também vai ser titular de um tribunal visto
que, onde quer que vá, aplica o Direito.
Percebe-se, portanto, que o pretor urbano dirime os conflitos entre cidadãos, ao passo que
o pretor peregrino, criado no séc. III a.C., dirime os conflitos entre cidadãos e estrangeiros.
A evolução da pretura, vai se fazendo em três grandes datas: 367 a.C., a data em que surgiu ;
130 a.C., com o aparecimento da lex aebutia de formulis que permite ao pretor criar Direito
novo visto que até aí o pretor limitava-se a aplicar o ius civile, pelo que não podia alterá-lo e se
o ius civille não desse resposta ao problema em causa, o pretor tinha de o resolver
interpretando o ius civille.
Relativamente ao pretor, verificam-se as seguintes características:
o Criados pela Lex Licinia Sextiae de 367 a.C.;
o Magistratura ordinária, permanente. Chegou a haver 6 pretores, cada um com o seu
tribunal;
o Tinha um imperium igual ao do cônsul, mas a potestas era de menor amplitude;
o Aplicava a justiça (iurisdictio), sobretudo civil;
o Substituía o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da cidade;
o Convocava os comícios para a eleição dos magistrados menores;
o Apresentava propostas de lei para aprovação nos comícios;
o Podia, a pedido do Senado, comandar os exércitos fora da cidade.
CENSOR
Uma das características mais relevantes do censor é o facto de poder retirar a cidadania de
cidadãos, no entanto, possui ainda outras características:
o Magistratura ordinária não permanente;
o Magistrado maior, sem imperium;
o Titular de auspicia;
o Eleito nos comícios centuriais para um mandato com exercício efetivo de funções de
18 meses, apesar de eleitos para 5 anos;
o Fazer o recenseamento dos cidadãos (census);
o Registava o património predial, comunicado pelos paterfamillia;
o Nomeava Senadores (lectio Senatus);
o Controlava a aplicação dos mores maiorum;
o Administrava os bens públicos (ager publicus).
DITADOR
Por sua vez, o ditador possui as seguintes características:
o Magistratura extraordinária;
o Em regra, durava 6 meses;
o Concentrava todos os poderes da civitas numa só pessoa;
o Consoante a situação era nomeado:
o Dictator optimo iure – plenos e indefinidos poderes;
o Dictator imminuto iure – com poderes específicos em matérias sacrais, mas com
grande relevância política.
o Era nomeado ou por questões militares ou religiosas
MAGISTRADOS MENORES
Os magistrados menores sem imperium, mas com potestas, cuja função se restringe a
atividades desempenhadas no âmbito da gestão concreta da cidade de Roma. No âmbito da
magistratura menor falamos em edil plebeu, que é eleito nos consilia plebis e o edil curul e os
questores, que são eleitos nos comitia tributa.
Os magistrados menores, com exceção do edil plebeu, tinham ius edicendi, auspícios
menores e poderes coercitivos menores (multae dictio), como aplicação de multas e pequenos
pagamentos na penhora de bens (pignoris capio).
Com potestas, os magistrados menores tinham os seguintes poderes:
Ius edicendi (que é o poder de fazer editos que é um instrumento relevante visto que,
no caso das magistraturas em que se verifica um grande número de elegíveis, permite
aos comitia eleger tendo em conta aquilo que cada um dos mesmos se propõe a fazer
durante o ano em que poderá ser magistrado. Por outro lado, também permite,
fiscalizar a atuação do masgistrado, ou seja, verificar se o magistrado está a cumprir o
edicto);
Ius agendi cum populo e cum plebe;
Ius agendi cum patribus.
EDIL
Com a república é uma magistratura patrícia-plebeia, criada em 367 a.C., ou seja, verifica-se
que começa por ser uma função reservada aos patrícios mas depois também os plebeus
podem ser eleitos.
O edil possui as seguintes funções:
Guarda dos arquivos;
Gestão do tesouro
Funções de polícia;
Superentendia a limpeza da cidade;
Superentendia a conservação das vias e edifícios públicos;
Superentendia a atividade dos mercados;
Controlava o abastecimento de cereais;
Organizava as festas e os espetáculos públicos.
QUESTOR
Administravam o erário do Populus Romanus;
Promovia a supervisão das receitas fiscais arrecadadas;
Promovia a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as despesas decididas
pelos cônsules, nos termos do disposto pelo Senado, para as atividades de cada
magistratura;
Até às Questiones Perpetuae fazia a instrução e acusação dos crimes punidos com a
pena de morte;
No início eram 2 e chegaram a 20.
TRIBUNO DA PLEBE
O tribuna da plebe era uma magistratura extraordinária, na medida em que tem poderes
específicos. Já em 367 a.C. há tribuno da plebe e este surge para equilibrar os poderes dos
plebeus, ou seja, é o defensor dos interesses da plebe.
O tribuno da plebe tem imunidade absoluta perante os outros magistrados, pelo que este não
o podem acusar em nada. Ele pode ainda revogar todas as decisões dos outros magistrados,
caso prejudicassem os interesses da plebe através do provocatio ad populum. No entanto, não
se sabe se este princípio pode agir contra o censor.
COMITIA TRIBUTA
Verifica-se que por cada tribo há um comitia tributa, incluindo todos os homens patrícios e
plebeus de cada tribo. A cada homem corresponde um voto. Era da sua responsabilidade os
temas relativos à gestão do território e da tribo, ou seja, questões menos relevantes.
Os comitia tributa possuíam algumas competências:
Votação leis menores, relativas à gestão territorial;
Eleição do questor e do edil curul;
Fixação de alguns tributos, ou seja, pagamento e impostos a pagar naquele território;
Aplicação de pena a quem cometesse infrações naquele território.
SENADO
O senado é o órgão que vai manter, por excelência, a tradição de Roma. Compete ao Senado
manter a tradição de Roma e preservar a mesma. É um órgão de governo e cujo objetivo é
manter o equilíbrio governamental de Roma.
É o único órgão de Roma que existiu desde sempre, desde o inicio até ao final de Roma.
Durante a monarquia era apenas constituído por patrícios mas depois, ao longo da república,
passa a poder integrar, também, plebeus.
O senado possui diversas competências:
Aconselhamento aos magistrados, feitos através de um diploma que se chama
"senatus consulta", que é uma consulta ao senado, ou seja, a resposta do senado a
questões que lhe são formuladas pelos magistrados, e que, na república, não são
vinculativos;
Guardião dos Mores Maiorum;
Atribuição de auctoritas patrum.
Negociação e aprovação de tratados internacionais,
Declaração de guerra;
Aprovação de despesas militares;
Administração das províncias e nomeação dos seus governadores.
Fixação dos custos públicos.
LEX ROGATA
A lex rogata é a lei essencial para a compreensão de toda a república e constitui o principal
tipo de lei na república. Tratando-se de uma lei, é uma declaração solene de vontade que
emite uma determinada ordem ou comando aos seus destinatários. A lex rogata é um tipo de
lei que envolve, na sua elaboração, os três órgãos de Roma sendo participam os magistrados, o
senado e os comitia. É um tipo de lei público. A lex rogata é a lei em que se pede a provação.
Trata-se do processo de aprovação da lei até 339 a.C.
A lex rogata consiste numa deliberação proposta por um magistrado e votada pelos comitia.
Estas leis regulam, em regra, direito público e são identificadas pelo nome dos 2 cônsules do
ano em que são propostas e aprovadas. Podem ainda conter a indicação sumária do conteúdo.
1ª FASE: PROMULGATO
É apresentação pelo magistrado aos comitia de uma proposta de lei e afixação pública
durante cerca de 3 semanas no fórum. O texto do projeto devia ser afixado num lugar público
para que o povo o lesse e tomasse conhecimento. Tem competência para fazer uma lex rogata
os magistrados maiores, e dentro destes apenas aqueles que têm imperium, ou seja, o cônsul e
o pretor.
2ª FASE: CONCIONES
Trata-se das reuniões convocadas pelos magistrados tidas na praça pública, sem carácter
oficial ou jurídico, para se discutir a proposta. É, portanto, o período de debate ao qual
assistiam todos os cidadãos que quisessem. Os cidadãos dão a sua opinião e, nesse sentido,
chama-se a esta fase conciones, porque ninguém podia falar sem lhe ser concedida a palavra.
Os discursos favoráveis ao projecto denominavam-se suasiones e os desfavoráveis
dissuasiones.
Desta forma, a partir do debate, os magistrados percebem se a lei tem pernas para ir para a
frente. Trata-se de medir o pulso ao povo (se a lei seria ou não aprovada nos comitia
centuritata).
3ª FASE: ROGATA
Terminado o prazo da promulgatio, os magistrados convocavam os comitia e todos reunidos
em assembleia. O magistrado que presidia, após cumprimento de
formalidades, lia ou mandava ler a proposta de lei e após a leitura pedia a
sua aprovação – rogatio.
4ªFASE: VOTAÇÃO
Durante a votação o voto era oral e era dado com palavras sacramentais. O voto podia
ser favorável, desfavorável ou abstenção. A votação é feita por centúria, sendo que cada
centúria é um voto. Após a Lex Papiria Tabellaria de 131 a.C., o voto passa a ser escrito e
secreto.
Depois da votação, ocorre a aprovação pelo Senado, ou seja, após a votação favorável pelos
comitia, a lei era referendada pelo Senado - autoritas patrum. O Senado tinha como função
verificar a conformidade das leis com as tradições de Roma, ou seja, com os mores maiorum.
Após a Lex Publilia Philonios, de 339 a.C., a autoritas passa a ser concedida antes da proposta
ser votada pelos comitia.
Por fim, se o Senado concedesse auctoritas patrum, a nova lex era afixada no fórum em
tábuas de madeira ou de bronze.
PLEBISCITOS
O plebiscitum é uma deliberação apresentada pelos tribunos da plebe e votada nos concilia
da plebe, ou seja, os plebiscitos são leis pública ms que são aprovadas nos concilia plebis, após
serem propostas pelo tribuno da plebe. No seu conteúdo tem, essencialmente, matérias
relativas aos plebeus.
Identifica-se um plebiscito, por regra, pela lei ter o nome de apenas um magistrado, que seria
o tribuno da plebe. Depois do nome vem uma palavra que descreve o conteúdo da matéria da
lei.
Os plebiscitum, no início, tinham um carácter normativo não jurídico, não vinculando nem os
patrícios, nem os plebeus. A partir der 449 a.C., com a Lex Valeria Horacia de plebiscitis
adquirem força vinculativa igual à das leges, mas apenas em relação aos plebeus.
Posteriormente surge a Lex Hortensia de plebiscitius, em 287 a.C., que vem impor que os
plebiscitos vinculem também os patrícios. O conteúdo é relativo aos plebeus, no entanto, os
patrícios também têm de respeitar estas leis que têm em conta os interesses dos plebeus.
PRETOR
O pretor é um magistrado que passa por uma evolução. Trata-se de um magistrado maior
com poderes de iurisdictio, potestas e imperium. Tem poder de soberania, governando a
cidade e aplicando a justiça e pode vincular o populus romano com a sua decisão.
O pretor é um cidadão logo conhece o ius civile. A carreira na magistratura passa por uma
evolução, pelo que um pretor é um homem experiente e que conhece o direito e a tradição de
Roma. Sendo assim, quando se candidata a pretor, sabe que vai aplicar o Direito.
Na atualidade não há função equiparável ao pretor, ou seja, não possuímos nenhum
funcionário publico na área da justiça que seja semelhante ao mesmo.
O pretor aplica o direito, ou seja, o ius civile aos casos concretos e fá-lo através de um
tribunal. Este tribunal é presidido pelo pretor e as suas decisões são aplicadas em nome do
mesmo, sendo que este pode impor a sua decisão e fazê-lo de forma coerciva.
IN IURE
A esta fase preside o pretor, que ouve as partes, informando-se sobre o sucedido e pensa no
que fazer, delimitando as possíveis soluções e em que caso se aplicariam.
IN IUDICIO
A esta fase preside o judex que consiste num juíz que, ao contrário do que se verifica
atualmente, se trata de uma terceira pessoa, ou seja, alguém que sendo escolhido pelas partes
ou pelo pretor, não tem que conhecer o Direito mas que tem uma capacidade extraordinária:
ouvir e retirar daquilo que ouve aquilo que é verdade e aquilo que é mentira. Assim, este judex
consegue defender e concluir quem está a mentir e quem está a dizer a verdade.
Normalmente estas pessoas eram escolhidas porque já tinham feito outros processos, saindo-
se bem, e tinham revelado capacidade de ouvir, aconselhar e ajudar. Ou seja, não é uma
profissão. Após apurar os factos o iudex relataria a solução adequada, definida na fase anterior
pelo preto
EXEMPLO
Num contrato de compra e venda, temos os senhores A e B.
A é vendedor e B é comprador.
A vai vender a B um computador.
A tem o direito de receber o pagamento e tem a obrigação de entregar a coisa.
B tem o direito de receber a coisa e tem a obrigação de pagar.
Este é o tipo contrato sinalagmático (sinalagma - reciprocidade de direitos e obrigações de
valor contrário).
A vende o computador a B e B paga o preço a A. No entanto, B apercebe-se que o
computador está danificado. B, o comprador, vai ter com o pretor e diz-lhe "Celebrei um
contrato, invoquei os augúrios, disse as frases sagradas, houve testemunhas que presenciaram
a minha manifestação de vontade, paguei o preço, recebi o computador mas o computador
veio danificado". B pergunta ao pretor "Tenho eu direito a reclamar?". Isto ocorre porque nos
Ius Civile, a aferição dos direitos judiciais é feita em função de um direito de reclamação que
nasce de um contrato. O pretor tem, essencialmente, funções civis e não criminais. B pergunta
isto e o pretor responde "Vamos ver se do contrato de compra e venda nasce um direito de
reclamação para o comprador por um bem danificado". Trata-se de uma aparência de Direito.
Do contrato nascem direitos para o vendedor e para o comprador, sendo um deles, o direito
de receber um bem em condições. Sendo assim, nasce o direito do comprador de reclamar. O
vendedor é obrigado a vender o computador em condições. Sendo assim, o pretor concede ao
vendedor o direito de reclamação ("actio"), ou sejam "aquilo que tu me vens dizer e o contrato
que celebraste dá-te direito a reclamar". O pretor tem que ver se o ius civile contempla a
reclamação do individuo.
O PROCESSO JUDICIAL
O processo judicial é composto por duas fases: in iure e in iudicio.
IN IURE
In Iure trata-se da fase de direito cujo titular é o pretor.
Nesta fase, o pretor ouve o cidadão romano que reclama, ou seja, o reclamante, verificando,
de forma abstrata, se o ius civile protege, ou não, a pretensão do cidadão. Se isso acontecer, o
pretor concede, de forma oral até 130 a.C., uma actio. Ter actio é o mesmo que ter direito de
reclamar. A actio é dada perante testemunhas e decorre sempre do ius civile (é por isso que o
pretor tinha de verificar no ius civile quais os direitos de reclamação que nasciam no âmbito
daquela relação, ou seja, o reclamante só tem esse direito se o ius civile o prever).
Após a receção da actio compete ao cidadão reclamante citar o reclamado e trazê-lo ao
tribunal do pretor. Se o reclamado não quiser ir, mesmo que seja o reclamante a ter que levá-
lo, o reclamado está a violar a ordem do pretor, pelo que pode nascer uma obrigação nova
para o reclamado que pode ter que cumprir através do poder de potestas a própria obrigação
do pretor. A ordem do pretor tem de ser cumprida, e se não for, o incumpridor pode ser
sancionado.
Até 130 a.C. chamava-se a esta fase, fase das ações da lei.
O pretor, até à Lex, aplica o lus Civille, através dos seus poderes de lmperium e potestas,
vinculando os cidadãos com a sua vontade e forma de interpretação do ius civille, e aplica-o de
forma vinculativa. Ou seja, impõe o direito pois tem imperium e potestas. Por outro lado, até
esta Lex, o pretor aplica apenas o lus civille aos casos concretos que lhe são submetidos. Este é
um direito formalista, ritualista.
IN IUDICIO
In Iudicio trata-se da fase da prova cujo titular é o judex.
A função do judex é conhecer e perceber a história, fazendo um juízo do acontecimento
(quem está a dizer a verdade, quem está a dizer a mentira, quem cumpriu e quem incumpriu,
…) e, aplicando, depois, o direito pré-determinado pelo pretor.
Quando declara a sentença, esta partilha do imperium do pretor pois o judex declara-a no
âmbito do tribunal do pretor, que está munido do imperium do pretor. Esta sentença tem de
ser cumprida pois decorre da ordem do pretor.
Se há confissão por parte do reclamado o processo termina e não precisa de ir ao judex, pelo
que a ida ao judex apenas ocorre quando o reclamado não aceita a actio do reclamante ou
quando pede uma actio para responder à actio do reclamante, ou seja, que anule a actio
inicial, falando agora em exceptio.
Após a lex aebutia de formulis o processo passa a ser escrito, pelo que o que antes era oral,
formalista e ritualista passa a ser escrito.
A fórmula pode ser uma actio visto que as actio passam a integrar uma forma escrita. Dizer
actio e fórmula é, portanto, semelhante.
No âmbito do processo formulário o pretor pode ir mais longe do que o ius civile,
encontrando soluções novas que acrescentam ao ius civile. O pretor pode criar uma fórmula
para contemplar uma situação concreta que não está no ius civile mas que ele considera
importante, sendo que, por outro lado, também pode decidir a desaplicação do ius civile .
No processo formulário, após a analise do processo e a determinação da fórmula, o pretor faz
um documento chamado Litis Contestatio, onde vai determinar quais são as partes em litigio,
qual é o objeto do litigio, quais são as fórmulas/actio concedidas e quais são as soluções
possíveis a aplicar. É o documento a partir do qual termina a In Iure e se inicia a fase In Iudicio
no processo formulário.
A Litis Contestatio tem a natureza de um contrato celebrado entre o reclamante e o
reclamado, realizado na presença do pretor, onde podem nascer novos direitos para as partes.
Estes direitos incluem a obrigação e cumprimento da Litis Contestatio.
A litis contestatio consiste, portanto, no momento final, na entrega pelo pretor ao
demandante da fórmula em que se reconhece o direito do demandante a reivindicar uma
determinada situação.
Esta formula vai permitir remeter o caso para o tribunal do Judex (contestatio), pelo que, sem
esta, não é permitida à parte ir ao tribunal em questão, ou seja, não lhe é conhecido o direito
de reclamar.
Por sua vez falamos também em decretos (decretum) que consistem na resolução imperativa
de um caso particular (é imposto através do imperium do pretor, pelo que não precisa da
afirmação dos comitia).
As actios, ao abrigo do ius civile, cuja aplicação é decorrente do imperium do pretor podem
ser de quatro tipos: stipulationnes praetorial, restitiones in integrum, missiones in possessiones
e inderdicta .
stipulationnes praetorial
As stipulationnes praetorial consistem no recurso do pretor a um negócio jurídico
obrigacional. Ou seja, é, portanto, a proteção de uma situação negocial e social que não se
encontre protegido/prevista pelo ius civile e que merece proteção.
Estamos a falar em negócios jurídicos que, sendo novos na sociedade, não estão previstos de
forma típica e clara no ius civile mas cujos interesses das partes o pretor entende que pode,
através da S.P, proteger visto que esta constitui um contrato através do qual nascem direitos e
deveres para ambas as partes.
Exemplo prático
Negócio entre duas pessoas que não está de forma clara no ius civile mas ele existe e foi
realizado. No entanto, uma das partes não cumpre o estipulado. Apesar do ius civile não
prever este negócio, a relação jurídica entre as duas partes é obrigacional visto que nasceram
para os dois direitos e obrigações. O pretor concede, então, ao reclamante a actio que decorre
da stipulationnes praetorial.
restitiones in integrum
As restitiones in integrum consistem no expediente que prevê a existência de um negócio
jurídico injusto mas válido perante o ius civile, que origina uma situação protegida pelo ius
civile, mas que o pretor entende que não deve ser protegida.
O pretor vai desvincular as partes, ou seja, vai fazer com que estas anulem o contrato, pelo
que se restituem as partes, como se o negócio nunca tivesse ocorrido.
Exemplo prático
Quando o negócio é feito sobre coação o mesmo é válido, mas tem um elemento que o torna
nulo, face a isto, o pretor manda restituir aquilo que foi contratuado.
missiones in possessiones
As missiones in possessiones são a ordem dada pelo pretor baseada no seu imperium,
autorizando alguém a apoderar-se, durante um certo tempo, de bens de outrem, ou que estão
na posse de outrem, com poderes de administração e fruição.
Era a actio aplicada nos casos de embargo, por exemplo.
interdicta
A interdicta é uma ordem sumária dada pelo pretor, baseada no seu imperium, para
resolver, no momento, uma situação que tem a protegê-la, pelo menos , uma aparência
jurídica, ficando essa ordem condicionada a uma possível apreciação ulterior.
Era a actio aplicada nos casos de providência cautelar, por exemplo.
O PRINCEPS
O "Princeps", ou príncipe, é o primeiro cidadão, ou seja, é o primeiro magistrado, o
primeiro senador e é o primeiro chefe militar. Júlio César intitula-se o "primeiro" entre
iguais, ou seja, é ele que está à frente de tudo em Roma.
Esta situação de ser o "primeiro" também vai alterar a dinâmica da chegada ao poder:
o príncipe não é eleito, assume o poder através de uma sucessão, relativamente,
hereditária, visto que o príncipe poderia escolher um homem (porque era da sua
confiança, bom militar, bom tribuno, entre outras razões) que fosse para ser seu
sucessor, preparando-o e, nesse sentido, adotando-o (como se verifica relativamente a
Júlio César e César Augusto)
TRANSFORMAÇÕES EM ROMA
Neste período verificam-se bastantes transformações em Roma, sendo a mais
relevante a mudança da chefia de Roma.
O chefe de Roma passa a ser o príncipe, que tem tribunitia potestas, ou seja, o
poder máximo da potestas (poder de vincular todos os cidadãos romanos com as suas
decisões) e o imperium proconsulare maius, ou seja, o poder de substituir todos os
magistrados e tomar todas as decisões.
Verifica-se que, embora as magistraturas permaneçam em Roma, perdem
importância ao longo dos séculos I e II, e que são criados pelo príncipe magistrados
que são nomeados pelo mesmo. Trata-se de um sistema de funcionalismo em que
homens de confiança do príncipe vão desempenhar funções de administração de
Roma.
Verifica-se, além disso, uma redução de importância dos Comitia Centuriata. Com o
aumento de Roma, a criação do Império e a presença de representações em todos as
províncias de Roma, tornava-se difícil convocar o Comitia Centuriata pelo que ocorre
uma deslocação da importância e das funções para outros órgãos por parte do
Príncipe.
O poder legislativo é atribuído ao Senado. Evidencia-se que o Senado perde as
funções políticas ,que passam para o Príncipe, e, em troca, o Príncipe dá ao Senado o
poder legislativo.
O Senado elegia os governadores das províncias, algo que dava bastante poder ao
mesmo pelo que, ao retirar este poder a este órgão, o Príncipe passa a poder controlar
de forma mais efetiva o governo e controlo do Império.
Verifica-se que o senatus consulta, ou seja, a posição do Senado perante um
projeto-lei dos magistrados, não tem poder vinculativo até que em 10 a.C., quando
surge uma questão importante. Existia um mores maiorum antigo que determinava
que se houvesse ocorre o homicídio, ou tentativa de homicídio, de um patrício por um
escravo, todos os escravos da casa deveriam ser mortos. Este mores maiorum foi,
eventualmente, revisto devido ao prejuízo económico que causava. Nesse sentido, o
Senado emitiu o "silanianum" que dizia que todos os outros escravos da casa deveriam
ser poupados. Trata-se de um interpretação atualizada dos mores maiorum por parte
do Senado que os cidadãos de Roma vai assumir como obrigatória, ou seja, como
vinculativa.
Júlio César verifica que, se concedesse o poder legislativo ao Senado, o Povo não iria
estranhar pois já havia aceitação do Povo de que um parecer do Senado deveria ser
cumprido obrigatoriamente, pelo que o Povo acaba por reconhecer tacitamente que o
Senado pode fazer leis. Verifica-se que, no geral, as mudanças a nível da organização
política se vão fazendo por consentimento tácito.
É desta forma que, no inicio do Principado, a competência legislativa deixa de ser
poder dos Comitia Centuriata e é entregue ao Senado. Não há, portanto, no
principado, Lex Rogata, sendo que a fonte de Direito por excelência é o senatus
consulta. O Senado é nomeado e controlado pelo Príncipe.
A nível do senatus consulta, este pode sair do Senado ou do Principe. O Prínceps
propunha ao Senado propostas de lei, apresentando um resumo da lei (preâmbulo),
mencionado o que gostaria que fosse regulado, como deveria ser regulado e que
sanções aplicar. Esta apresentação era feita oralmente sendo que depois o Senado
discutia a proposta e aprovava.
A Oratio prínceps assume-se como uma nova fonte de direito que surge nos finais do séc I e
lI d.c e que reflete a evolução dos Senatus consulta, por força da intervenção do Princeps no
Senado. Consiste na aprovação por parte do Senado da proposta inicial da lei feita apenas com
a indicação do conteúdo e do objeto da lei, sem necessidade de apresentar o conteúdo
dispositivo e sancionatório.
O Senado acaba por se auto retirar do poder legislativo visto que reconhece no príncipe uma
autoridade, pelo que tudo o que o príncipe propõe ao Senado é aprovado. Deixa de existir
Senatusconsulta e passa a existir Oratioprinceps.
CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS
As constituições imperiais consistem na lei, propriamente dita, elaborada pelo imperador. É
a vontade manifestada pelo imperador/príncipe em matéria jurídica. O príncipe tem a
capacidade de elaborar constituições imperiais.
No séc. I as constituições têm apenas valor prático e não vinculativo. No séc. II, as
constituições são equiparáveis à lei. No séc. III as constituições são lei. A partir do séc. IV as
constituições imperiais são a única fonte de lei.
Entre o século I e os século IV as principais modalidades/tipos de constituições imperais são:
Edita
Constituição imperial de caráter geral proferida pelo imperador no âmbito dos poderes de
imperium proconsulare maius. É um exemplo o Édito de Caracala, de 212, que atribui a
cidadania a todos os habitantes livres do império, ou seja, a partir de 212, todos os
estrangeiros que habitam no império passam a ser considerados cidadãos romanos.
O Edito de Caracala permitiu que os estrangeiros também estivessem sujeitos ao Ius Civile.
Nesse sentido, o Ius Gentium passou a ser considerado como um direito corretor e integrador
das lacunas do Ius Civile. O Ius Gentium passa a ser considerado suprapositivo, ou seja, está
acima do Ius Civile, sendo o direito de todos. A génese do Direito Internacional Privado surge
do Ius Gentium.
Decreta
Decisão judicial pronunciada pelo imperador nos casos que lhe são submetidos para
apreciação. O imperador irá ter uma função judicial em sede de recurso pelo que das decisões
do tribunal do príncipe se podia apelar ao princípe.
Rescritpta
Decisões, ou seja, respostas, do imperador dadas por escrito a perguntas ou pedidos que
lhes são feitos pelos magistrados ou pelos particulares. Quando a pergunta é feita pelo
magistrado, esta chama-se consulta e a resposta do imperador é a epístola. Por sua vez,
quando a pergunta é formulada pelos particulares chama-se prece e a resposta do imperador
tem a designação de subscriptio.
Mandata
Ordens ou instruções do imperador aos governadores ou funcionários das províncias.
Normalmente a manata tem matéria de ordem política, administrativa, jurídica, civil e criminal.
Edicta
Leis gerais de aplicação a todo o império.
Rescritpta
Leis especiais que se reduzem às respostas aos magistrados, ou seja, ás epistolas.
Adnotationes
Respostas dos imperadores às preces feitas pelo povo.
Decreta
Mantem a sua vertente de decisão judicial proferida pelo imperador,
Pragmatica sanctio
Constituição imperial de aplicação regional. Tem matéria de ordem política, administrativa,
jurídica, civil e criminal.
JURISPRUDÊNCIA
Ao contrário do que ocorre atualmente, a iurisprudentia (jurisprudência) não é uma decisão
do tribunal, mas sim a opinião daqueles que pensavam o direito, ou seja, dos iuripudentes.
Pode ser comparado ao conceito atual de doutrina.
IURIS PRUDENTE
Ius + Prudens
Direito + Cauteloso
O jurisprudente é aquele que pensa o Direito em função do
justo e do injusto, e do certo e do errado.
Ulpiano diz o seguinte “O Direito é a arte do bom e do justo”(ius est ars boni et aequi): o
direito é a arte daquilo que é correto, verdadeiro, bom, justo (“atribuir a cada um o ser”
sendo que o seu é aquilo que cada um merece em cada momento). O Direito é, portanto, a
arte de argumentar, procurando os argumentos mais adequados para defender o certo e o
justo. Argumentos estes que não são certos. O Direito é a arte da probabilidade
argumentativa, o que significa que perante uma mesma situação, duas pessoas podem olhar
para a mesma e distinguir diferentes argumentos (decorrentes de diferentes perspetivas)
adequados para defender o mesmo. Para defender a sua posição, diferentes jurisprudentes
encontram diferentes argumentos para defender o que é bom e justo. O jurisprudente pensa o
Direito e procura argumentos justos e bons. Os iurisprudentes podiam pensar o Direito de
forma diversa.
O jurisprudente não é um magistrado ou oficial público, além disso não está vinculado a uma
entidade. O jurisprudente é alguém livre, sem qualquer conexão com as instâncias politicas
oficiais, que pensa o direito. O jurisprudente não possui imperium, potestas ou iurisdictio. O
poder do jurisprudente é, na verdade, o autorictas: o jurisprudente possui saber socialmente
reconhecido e o seu poder avém do reconhecimento que ele obtém da sociedade. As pessoas
pedem-lhe opiniões pois o seu saber e poder é socialmente reconhecido (visto que o
jurisprudente estudou aquela matéria, as suas soluções têm sido consensuais e consideradas
justas, etc. …). O jurisprudente é aquele que é conhecido por pensar o Direito.
Nos períodos da monarquia e da transição da monarquia para a república, os jurisprudentes
eram os patrícios e, essencialmente, os pontífices.
Há um processo evolutivo para laicizar a jurisprudência, ou seja, para retirar a jurisprudência
da sacralidade e do domínio dos pontífices que se dá durante a fase de transição e a fase da
república. A jurisprudência vai evoluindo no sentido de permitir que outros cidadãos possam
pensar no Direito. Sendo assim, este processo de laicização da jurisprudência passa por três
momentos: a Lei das XII Tábuas, o Ius Flavianum e, por fim, o ensino público do Direito.
A Lei das XII Tábuas reduz a escrito os Mores Maiorum e permite que todos aqueles que
são destinatários do Direito e pensam nele, o possam ler.
O Ius Flavianum corresponde ao “direito de Flávio”. Flávio era um escravo escriba do sumo
pontífice Ápio Claúdio. Ápio fica cego, ficando-se a saber que quem determinava o direito em
vez do próprio era Flávio, visto que este último, depois de tanto ajudar Ápio, aprendeu a
interpretar e aplicar Direito. O Ius Flavianum (304 a.C.) é um livro, escrito pelo próprio, que
reduz a escrito as fórmulas contratuais e as actios mais conhecidas. Isto leva a conclusões: não
é necessário ser-se pontífice para se conhecer e aplicar o direito (sendo que até os mais
desfavorecidos na sociedade podem fazê-lo). Este livro passa a estar acessível ao cidadão que
sabe ler e escrever e, sobretudo, àqueles que querem pensar o Direito.
O ensino público do Direito por Tibério Coruncânio, sendo este o primeiro plebeu a ser
sumo pontífice em Roma pelo que a sua função era ler os augúrios e ajudar a ler e a aplicar o
direito. No entanto, este não o faz sozinho, na obscuridade, sendo que, na verdade, ele fá-lo
em praça pública. Este era interpelado pelos cidadãos em praça pública e este explica-lhes o
pensamento do direito, fazendo com que um conjunto de homens aprenda com ele,
percebendo o conteúdo e a aplicação do direito, e tornando-se jurisprudentes. Trata-se de
uma escola de interpretação do direito, de forma pública. A partir de Coruncânio, os
jurisprudentes não são necessariamente pontífices, mas também homens que aprenderam o
direito.
Evidencia-se aqui a laicização do direito. Trata-se de uma evolução de uma jurisprudência
sacramental para um direito que pode ser pensado por todos.
As funções do jurisprudente são:
CAVERE: Aconselhamento a particulares sobre a realização de negócios jurídicos (ou
seja, o jurisprudente aconselha o cidadão sobre a celebração dos negócios jurídicos:
qual o melhor negócio jurídico a celebrar, quais são as palavras certas para estabelecer
o negócio, etc.)
AGERE: Acompanhamento dos cidadãos em tribunal (ou seja, acompanhar o cidadão
romano no tribunal de pretor, de forma a ajudá-lo a dizer as palavras certas);
RESPONDERE: Capacidade de dar pareceres/opiniões sobre determinadas situações
concretas que lhe são submetidas (que pode ter como destinatários os cidadãos que
colocavam questões, ou até os magistrados).
O jurisprudente acaba por constituir um dos pivôs mais importantes da construção do direito
no período da república romana pois ele era aquele que pensava o direito. A jurisprudência é a
fonte primordial na construção de um direito, próprio da república, pensado em ius.
Conseguimos conhecer a jurisprudência da República porque jurisprudentes posteriores,
conhecendo as posições dos seus anteriores, vão assumir, nas suas obras, estas mesmas
posições.
Falamos numa jurisprudência livre, visto que os pensadores do Direito estão apenas
vinculados a si próprios e a quem os consultam.
No início da era cristã, estima-se que existissem cerca de 300 jurisprudentes em Roma, o que
podia ser causa de instabilidade e insegurança jurídica visto que a possibilidade de existirem
tantos jurisprudentes e se poder pedir opiniões a vários jurisprudentes, leva á confusão e
incerteza do cidadão relativamente a que opinião levar ao pretor.
‘« Ou seja, aquilo que estes jurisprudentes dizem vincula o príncipe, no sentido em que o
príncipe considera que aquilo que estes jurisprudentes dizem coaduna com aquilo que ele
pensa. Desta forma, Augusto forma uma lista de 30 jurisprudentes a quem concede ius publice
respondendi: as opiniões destes 30 homens são opiniões oficiais, pelo que, perante o tribunal
(do pretor ou do príncipe), se as partes levarem um parecer de um destes jurisprudentes, quer
o pretor quer o juiz do tribunal do príncipe estão vinculados a esta opinião.
Isto leva ao início da funcionalização do jurisprudente, tornando-se um funcionário do
príncipe.
Quando há divergência entre opiniões de jurisprudentes com ius publice respondendi, o juíz
segue aquela que lhe parecer mais justa para a resolução do caso concreto.
Em bom rigor, a jurisprudência que subsiste até à atualidade é a jurisprudência dos
pensadores do direito com ius publice respondendi, ou seja, é o direito romano que os
príncipes quiseram que permanecesse no futuro.
O pensamento da jurisprudência ficou, até hoje, base em “5 princípes do direito”: Papiniano,
Gaio, Ulpiano, Paulo e Modestino. Todos possuíram ius publice respondendi, menos Gaio, que
não se sabe se, de facto, existiu. Embora tenha deixado uma obra muito importante no âmbito
do direito romano, não consta o nome deste nas listas. Supõe-se que Gaio (“Gaius”)
corresponda ao acrónimo de 5 juristas.
O direito dos jurisprudentes do príncipe vinculava, o do outro não.Passamos a ter uma
doutrina oficial em Roma a partir do ius publice respondendi que depois vai ser publicada no
Digesto, por intenção de Justiano.
Embora o ius publice respondendi fosse, de acordo com o Augusto, uma forma de proteger a
jurisprudência e oferecer segurança aos civis, a verdade é que este surge como um
instrumento de controlo da interpretação do Direito e do próprio Direito.
Evidencia-se que mesmo as três grandes escolas de Direito (Roma, Constantinopla e Beirute)
têm duvidas e contraposições, o que faz os imperadores quererem tomar posições. Nesse
sentido, são criadas constituições imperais para se determinar que jurisprudência se devia ler.
Em 332 surge a Constituição de Constantino que afirma que os tribunais têm de ser claros na
indicação das fontes, sendo proibido aos mesmos criar constituições sem citar a sua data e os
seus atores.
Em 321 torna-se proibido em tribunal a invocação dos comentários de Paulo e Ulpiano se
contrários ao pensamento e escritos de Papiniano. É, portanto, Papiniano o jurisprudente de
excelência. Papiniano foi considerado aquele que possuía um pensamento mais justo e mais
adequado á prossecução da justiça romana, daí a sua importância.
Por sua vez, em 328, as sentenças de Paulo devem ser tidas como fonte primária das
decisões dos juízes desde que não contrariem Papiniano. Existe uma importância central de
Papiniano.
A Lei das Citações é a lei mais importante para oficializar a jurisprudência. A Lei das
Citações, de 7 de novembro de 426, é do imperador Valentiniano III. Esta constituição foi
aprovada anteriormente por uma io prínceps. Tem como destinatário direito os tribunais. Fala-
se no termos “tribunal dos mortos” porque todos os jurisprudentes em causa estavam mortos.
Esta Lei fixa/determina os 5 jurisprudentes que podem ser aceites pelo juiz: os 5 príncipes do
Direito (Papiniano, Paulo, Gaio, Ulpiano, Modestino).
Por sua vez, através da mesma
mantém-se o afastamento das notas criticas de Paulo e Ulpiano ao pensamento de
Papiniano;
confirma-se a autoridade como fonte primária das Pauli Sententiae.
confirma-se a autorictas dos vários compiladores do Direito em matéria de doutrina a
ser invocada em tribunal , ou seja, a doutrina pode ser invocada em tribunal sobretudo
se forem as opiniões de Papiniano, Paulo e Ulpiano.
fixa-se o critério quantitativo e o critério qualitativo de invocação das opiniões:
o critério quantitativo das opiniões: o juiz perante opiniões diversas dos 5
príncipes, deve seguir a opinião quantitativa, ou seja deve seguir a opinião
adotada pelo maior número dos 5 jurisprudentes – autoridade dos números.
o critério qualitativo das opiniões: se houver empate relativamente à opinião
quantitativa, segue-se a opinião de Papiniano. Se Papiniano não tiver
expressado opinião nessa matéria, então o juiz segue a opinião quer considera
justa.
A QUEDA DO PRINCIPADO
O fim do período do Principado ocorre por variadíssimas razões, sendo que o mesmo
ocorreu tendo subjacente a ideia de uma destruturação do império.
O império romano cresceu muito e isso levou a uma grande dificuldade por parte de Roma,
enquanto poder político, em governar o território, originando imensas lutas, especialmente
entre o imperador de Roma e os governadores de outras regiões.
Esta destruturação deu-se de forma lenta, tendo demorado séculos, e corresponde a um
verdadeiro movimento migratório, na medida em que entraram no império romano, nas suas
províncias, povos que vieram da região do oriente, aos quais os romanos
hyu77uyuyuchamavam “bárbaros”, visto que não eram latinizados/romanizados. Estes povos
vão instalar-se e permanecer em Roma, mantendo a sua cultura, mas, ao mesmo tempo,
romanizando-se lentamente.
Por necessidade de defesa do império as pessoas provenientes destes povos “bárbaros”
acedem ao exército, tendo acesso a armas. Entende-se que Roma cai porque perdeu os
valores morais, deixando de cumprir a tradição e, como tal, deixou de poder defender a
romanidade e os princípios, presentes nos mores maiorum, que sempre regularam Roma. O
império foi criado na base destes princípios e, por conseguinte, precisa deles para se manter.
Por outro lado, o fim do Principado também ocorreu devido à redução do número de
escravos: os romanos não trabalhavam, na medida em que, ou iam para a guerra ou então
tinham atividades de superintendência, pelo que, não havendo escravos deixa de possuir mão
de obra para a produtividade.
Entenda-se, ainda, que o cristianismo foi essencial para o “início do fim”, ou seja, destruição,
do império de Roma. Roma foi unida na conceção de que o príncipe possuía poderes divinos,
no entanto, o cristianismo vem contestar a deificação do imperador, ao introduzir o conceito
de “pessoa”. Até então só existiam “cidadãos em Rom”a, e o cidadão é cidadão pois possui
direito de propriedade. No entanto, as pessoas eram, para os cristãos, aqueles que eram feitos
á imagem de Deus, independentemente de serem escravos, servos, cidadãos, etc., conceito
este que se entranha no direito romano e permite chegar a uma com conclusão:
o imperador não é Deus, sendo, na verdade, uma pessoa igual às outras.
Quando o cristianismo é adotado, através do Édito de Milão de 313 de Constantino e do
Édito de Salónica de 380, isto dá origem a uma mudança da conceção de imperador no âmbito
do povo, na medida em que se entende que o imperador tem apenas poder político que,
efetivamente, lhe pode ser retirado.
DOMINADO
O Dominado centra-se num objetivo: centralizar o poder e lutar contra a desagregação do
império.
O Dominado vai surgir em 285 com Diocleciano, que vai manter a autoridade imperial e
aumentá-la, defendendo uma nova romanização, feita através da criação de um aparelho de
funcionários, militares e públicos, espalhados por todo o império de forma a garantir a
hierarquia e a união de todo o império, e da organização militar, dependente de si, de forma a
garantir que lhe é fiel, garantindo também a união do império. Por outro lado, vai submeter ao
seu poder os governadores de forma que respondam perante si. Por fim, altera as práticas
tributárias de forma que a receita pública chegue a Roma.
Durante o Reino de Diocleciano isto funcionou, mas, posteriormente, isso deixa de ocorrer,
na medida em que Diocleciano percebe que era ele quem mantinha o império unido e que,
depois da sua morte, isso deixaria de ocorrer. Dessa forma, antes da sua morte institui uma
nova forma de governo que consiste numa tetrarquia, com posta por, portanto, quatro
pessoas: Diocleciano e Maximiano e duas pessoas que lhes deveriam suceder, ou seja, Galério
e Constâncio.
Desta forma, ele divide o império em dois, o Império do Ocidente e o Império do Oriente,
com um sucessor nomeado. Eles acreditavam que assim assegurariam a sucessão. No entanto,
Constâncio morre antes de Maximiano, seu antecessor, e, por conseguinte, a tetrarquia cai.
Diocleciano é imperador durante quase 2 décadas, indo buscar inspiração até aos modelos
elementais orientais, designadamente os persas, ou seja, possui um poder teocrático
absoluto, numa lógica de reforço do poder imperial. Nessa medida, Diocleciano cria um órgão
consistório que é um novo órgão de aconselhamento á figura de imperador que, em boa
medida, substitui o antigo concilio principis : consistorium sacrum.
No entanto, Diocleciano vai também, através da tetrarquia, operar a primeira divisão do
império romano em dois: do ocidente e do oriente. Nessa medida, na prática, recruta um
outro imperador para a parte ocidental. Dá-se um governo paralelo de dois imperadores. Esta
é uma primeira divisão do império em dois que apenas funcionará durante alguns anos visto
que perante a saída do imperador Diocleciano, por vontade do exército volta a só existir um
imperador único- Constantino.
Centralizado de novo no poder imperial, mantêm-se, todavia, duas capitais: a importância de
Constantinopla está assegurada paralelamente a Roma e este período entre Diocleciano e
Constantino consiste num princípio do fim da própria realidade imperial romana porque, com
a morte de Constantino, temos um regresso de enorme instabilidade político e conflito militar.
No final do séc. IV o império é definitivamente separado em dois, sendo que a queda de Roma
definitiva se dá em 476.
X
LEGES ---- (Lex Rogata e Plebiscitum – ---- ----
Comitia)
X X X X
JURISPRUDÊNCIA (Sacerdotal) (Laicização/Auge) (ius publice (Lei das Citações)
respondendi)
X
CONSUETUDO X X X (reação ao poder
autoritário do
príncipe)
X
IUS ---- X (130 – edictum ----
PRAETORIUM (Lex Liciniae Sextiae) perpetum de
Adriano)
IUS X X
HONORARIUM
SENATUS X X X
CONSULTA (caráter (caráter (caráter (oratio
consultivo) consultivo) vinculativo) prínceps)
CONSTITUIÇÕES X X
IMPERIAIS (valor residual)
NOTA
IUS HONORARIUM – Consul, Tribuno da Plebe, Edil, Questor e Censor
MONARQUIA: mores maiorum, jurisprudência (através da intrerpretação dos mores maiorum por parte
dos pontífices), há consuetudo (residual) e senatus consulta
REPÚBLICA: mores maiorum (fiscalização das legis através do Senado -autorictas patrum), Jurisprudência
(aconselha os magistrados – pretor, inspirando o ius pretorium), Ius honorarium, Senatus Consulta, Legis
Com a redução dos órgãos de Roma, devido á sua perda de poder e relevância, há menos fontes de
Direito. Daí o facto de se dizer que a República é o período clássico do Direito Romano.
Centralização dos poderes no principe-
DOMINADO: Constituições imperiais. A jurisprudência é aplicada se o Imperador assim declarar – Lei das
Citações é uma Constituição Imperial. O consuetudo renasce e o Imperador diz que tudo aquilo que for
contrário á sua lei (costume contra legem) não se aplica. As outras fontes só se aplicam quando o
Imperador assim declarar.