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APONTAMENTOS DAS AULAS DE

DIREITO ROMANO
O Estado é o legislador pelo que elabora as leis e estas são aplicadas pela comunidade
nacional.
O Direito enquanto conceito abstrato pode ser definido como lei, jurisprudência e costumes.
Em Roma e, mais precisamente, durante o Império Romano, não havia poder legislativo
específico, ou seja, não há uma entidade específica que pense nas soluções para os problemas
das relações entre pessoas. O Império Romano precisou de 5 a 6 séculos até se constituir e,
embora não possuísse legislação, possui Direito. Antes de Roma não verificava a existência de
Direito.
O Direito Romano é o conjunto de regras jurídicas do povo romano e está na base do Direito
Português e do Direito Europeu, no entanto, verificam-se diferenças entre o Direito Romano e
o Direito atual.
O Direito Romano nasce da análise e resolução do caso concreto, ou seja, é utilizado para
resolver o problema/conflito concreto da pessoa A ou pessoa B. É, por esta razão, considerado
casuístico. Além de casuístico, o Direito Romano não é abstrato, visto que o Direito olha para
cada situação concreta, por outro lado, não engloba o conceito de generalidade, ou seja, as
soluções jurídicas dependem de cada caso e, por fim, não engloba o conceito de casos
precedentes pelo que não há obrigatoriedade de solucionar os mesmos casos da mesma
forma. O Direito Romano não envolve, portanto, imposição político legislativa.

DIREITO ROMANO - adaptável, informado por decisões prévias mas ainda assim moldado a
cada situação

Na atualidade e a partir do século XVII, verifica-se a aplicação territorial do Direito, ou seja, o


Estado assume a função de criador e aplicador do Direito e todas as pessoas no território de
um país estão ao abrigo do Direito desse país. Por outro lado, em Roma não se verificava tal
acontecimento, ou seja, o Direito era de cariz e aplicação pessoal e apenas se aplicava aos
cidadãos romanos que possuíssem o direito da cidadania seja por nascimento, aquisição ou
casamento.
A sociedade romana é composta por cidadãos (estatuto jurídico: homens livres), servos
(estatuto jurídico: homens semilivres), escravos (estatuto jurídico: objeto, não pessoa ) e
estrangeiros (estatuto jurídico: nacionais de outras terras e por conseguinte sujeitos ao Direito
das suas próprias terras).
No entanto, perante a necessidade de resolução de conflitos entre cidadãos romanos e
estrangeiros, começaram a vigorar em Roma dois ordenamentos jurídicos de caráter pessoal e
casuístico:
 Ius civile, conjunto de instituições jurídicas que apenas se aplica aos cidadãos
romanos;
 Ius gentium (" direito dos povos"), conjunto de instituições jurídicas que apenas se
aplica aos estrangeiros e às relações entre estrangeiros e cidadãos romanos.
No Direito atual verifica-se a existência de direitos confessionais, aplicados em Estados
confessionais, ou seja, aqueles no qual há uma religião, por vezes também citada como religião
de Estado, oficialmente reconhecida pelo Estado. O direito canónico é um exemplo e, em
Portugal, verifica-se a existência de tribunais eclesiásticos que surgem em conjunto com o
direito civil e que assumem a função de realizar os julgamentos que decorrem do estatuto
canónico da pessoa. Por exemplo, no casamento canónico existe uma componente civil e uma
componente canónica sendo que, através do divórcio, é possível fazer a anulação civil mas
apenas os tribunais eclesiásticos realizam a anulação canónica.
A extraterritorialidade é o estado de ser isento da jurisdição da lei local, geralmente como
resultado de negociações diplomáticas. A extraterritorialidade é, portanto, aplicada a
embaixadores e agente diplomáticos mas também a lugares físicos, tais como embaixadas
estrangeiras e consulados e a objetos, como aviões e navios. Pela extraterritorialidade, um
terreno num país estrangeiro é considerado uma extensão do próprio país pelo que está isento
da aplicação da lei desse país estrangeiro e apenas obrigado a cumprir a legislação de seu país
de origem ou internacional ou a de aceitação mútua.

No âmbito do Direito Romano surgem vários termos em latim entre eles: Derectium, Ius,
Iustitia e Aequitas. Derectium surge da soma de "de" e "rectium" e refere-se ao Direito que é,
de facto, "reto" ou "não torto", ou seja, não é adaptável, é geral, abstrato e cego e aplica-se a
todos, pelo que não atende às especificidades e necessidades individuais. Ou seja, "Derectium"
decorre das leis que se aplicam a todos em todos os casos. O Direito Romano não atende a
esta definição. O termo Ius indica-nos este caráter adaptável do Direito Romano, em oposição
ao termo "Derectium". No Ius encontramos a iustitia e a aequitas. O Direito Romano, o ius,
tende para a justiça.
Este ius que tende para a justiça, é guiado por três grandes princípios fundamentais: os
Praecepta iuris, proferidos por Ulpiano:
 honeste vivere (viver honestamente)
 alterum non laedere (não prejudicar o próximo);
 suum cuique tribuere (atribuir a cada um o seu).

O conceito de Derectum aponta para o conceito de Lex, ou seja, Lei, que consiste no direito
estrito e rigoroso criado pelo legislador com o objetivo de aplicar a todos. É, portanto, cego,
estrito, geral e abstrato. Trata-se do Direito aplicado na fase final da evolução do Direito e, por
conseguinte, Império Romano. É uma criação legislativa aplicada a todos.
Por sua vez, Ius representa o Direito Romano Clássico e o Direito Romano essencialmente,
utilizado para atribuir justiça caso a caso. É pensado para resolver casos concretos.
Dentro do Ius encontramos a Iustitia, representada pelo "sum euique tribuere" , ou seja, "a
cada um deve ser atribuído aquilo que lhe é merecido". A "aequitas", ou seja, "equidade"
consiste na aplicação do Direito/Justiça ao caso concreto.
O Ius é, portanto, o Direito pensado por aqueles que têm capacidade para pensar no Direito
e que o aplicam pelo que não nasce por imposição do poder político.

O Império Romano era extenso e teve uma evolução temporal vasta, desde o séc. VIII a.C. a
476 d.C.. Nesse sentido, entende-se que certos momentos têm características diferentes entre
si, o que exige uma periodificação. Esta divisão em períodos é um ato sempre artificial, feito
em função daquilo que quem divide quer realçar, pelo que se conclui que diferentes autores
fariam diferentes periodificações.
Em termos político-jurídicos, pode-se dividir a evolução do Império Romano em cinco
períodos:
 1.º: PERÍODO DA MONARQUIA (Período do Rex e das Gens): 753 a.C. a 509 a.C.;
 2.º: PERÍODO DA TRANSIÇÃO DA MONARQUIA PARA A REPÚBLICA: 509 a.C. a 367 a.C.;
 3.º: PERÍODO DA REXPÚBLICA (Período do Populus Humano): 367 a.C. a 27 a.C.;
 4.º: PERÍODO DO PRINCIPIADO (Período do Príncipe como Princepa primus inter
pares): 27 a.C. a 285 d.C.;
 5.º: PERÍODO DO DOMINADO: 285 d.C. a 476 d.C. (até à queda do Império/ Imperador
enquanto único senhor do ponto de vista político).
Ocorre ainda uma evolução das fontes de Direito em cada período. Uma fonte de Direito é
uma fonte de criação, revelação e manifestação do Direito, pelo que é o instrumento através
do qual se criam regras jurídicas , ou seja, normas que se aplicam às regras interpessoais.

O "PERÍODO DA MONARQUIA"
O primeiro período do Império Romano, ou seja, o período da monarquia, é um período
bastante obscuro visto que existem poucas fontes históricas que documentem a organização
da vida social, política e jurídica da época, algo justificável pela forma como existia uma
primazia da oralidade em detrimento da escrita no que toca à propagação de conhecimento. É
possível, então, esboçar um retrato da sociedade em questão tendo em conta os
conhecimentos decorrentes de escritores e autores pós-Monarquia e não a partir de fontes
diretas. Através destes documentos percebe-se que a organização política da altura se
centrava no Rex, no Senado e na Comitia.
O Rex, ou seja, o Rei, concentrava em si três poderes:
 Imperium Domi (poder administrativo, ou seja, de administrar a cidade);
 Imperium Militae (poder militar, ou seja, de comandar e organizar os exércitos);
 Augurio (poder de mediação divina).
O poder militar do Rei mostra-se francamente importante visto que a cidade romana era
profundamente militarizada, até a níveis de organização social. Por sua vez, o poder de
mediação divina expõe o Rei enquanto pontífice, ou seja, ponte entre o terreno e o divino.
Como pontífice máximo, era o maior interpretador da vontade dos deuses, numa sociedade
extremamente religiosa, tradicional e militar. Tudo, incluindo o Direito, está interligado com a
religião na Roma Antiga.
Até Roma se converter ao Cristianismo as noções de Justiça/Direito e Religião estavam
fortemente unidas. Não se fazia nada se os Deuses não o consentissem. Por exemplo, só se
começava uma guerra se os Deuses afirmassem que os romanos iam ganhar. As decisões
políticas faziam-se desta forma e este julgamento fazia-se através do pontífice, que analisava
as manifestações dos deuses. A sociedade romana possuía cidadãos que tinham como função
a leitura dos augurios, ou seja, as manifestações dos Deuses. Estes cidadãos eram pontífices
com poder de auguria, sendo que o Rei era o pontifex maximus, ou seja, aquele que, em última
análise, determinava a vontade dos deuses.
A leitura dos augurios era feita através do voo dos pássaros. Ao nascer do Sol, publicamente
e com uma vara, o pontífice desenhava um quadrado imaginário no céu. De acordo com aquilo
que visse (um pássaro a voar isolado ou em grupo, tipos de pássaro, etc.), o pontífice
determinava as vontades dos Deuses, podendo ser favoráveis ou desfavoráveis, e, por
conseguinte, o Direito, aquilo que determinava as ações políticas. Alias, "fas" representa os
dias em que os Deuses consentissem, ao passo que "nefas" representa os dias em que os
Deuses não consentissem.
Percebe-se que tudo vive por influência religiosa, sobretudo o Direito. Na escolha/eleição do
Rex, agia-se através da lei "lex curiata de imperium", que, supõe-se, terá sido criada e
aprovada pela Comitium Curiata, a comitium ( singular de comitia e que significa assembleia)
mais importante. Percebe-se que não existia uma conceção de hereditariedade e que eram os
Deuses que indicavam quem era o legítimo Rei. Nesse sentido, após a morte do Rei, iniciava-se
o período inter-rex, no qual o governo de Roma se torna responsabilidade do Senado. Durante
este período de vacatura, que dura 5 dias, faz-se a leitura dos augurios e o sumo pontifice lê as
vontades dos deuses perante o Senado. Depois da leitura do nome escolhido pelos deuses
(que pertencia, geralmente, ao Senado, sendo, por isso, um patrício), este tinha de ser
confirmado pelo Senado, ou seja, o mesmo tinha de aceitar o seu poder, e, só após isso, ele
era nomeado Rei.
Por sua vez, o Senado, órgão constituído por patrícios (descendentes das primeiras famílias
de Roma que apoiaram Rómula e Rémulo, ou seja, os fundadores de Roma), era o órgão
consultivo, ou seja, aconselhava o Rei, especialmente em matérias de guerra e de paz. Possuía
ainda uma função de intervenção e representação diplomática de Roma perante os outros
povos e a celebração de tratados internacionais - foedara. Além disso, tinha a função de
garantir que, e autoridade para preservar, as tradições morais, jurídicas e religiosas romanas se
mantinham, pelo que tinha o poder de autorictas (poder de autoridade dos pais). É ainda de
comentar que, durante o período de vacatura, tinham a função de governar Roma.
O reino de Roma teve 7 reis e Tarquínio, o Soberbo, foi o último dos mesmos visto que foi
expulso. Tal acontecimento motivou e despontou a transição para a República.

O terceiro órgão de poder político eram as Comitia. Estas eram assembleias de


cidadãos/cives, ou seja, homens livres, plebeus e patrícios, e a mais relevante era o Comitium
Curiata.
Uma cúria era uma forma de organização militar do período da monarquia, que compreendia
um regimento de 100 cidadãos. Cada uma das tribos que compunha a sociedade romana tinha
10 cúrias.
Assim, um Comitium Curiata era uma assembleia composta por cúrias. No âmbito dos
comícios, as cúrias decidiam em conjunto, através do voto, sendo que não se votava por
cabeça mas sim por curia.
A "Comitium Curiata" possuía uma função dupla que consistia na aprovação de leis que lhes
fossem atribuídas (ou seja, leis elaboradas pelo Rei) e participação na declaração de guerra e
paz (apesar de ser o rei quem determinava a guerra e a paz, o Senado aconselhava e a Cúria
tinha de consentir).
Verifica-se que o Direito Romano é um direito impregnado da moral e da ética visto que o
Direito, a Moral, a Ética e a Religião, constituem um todo homogéneo. O Direito Romano não
é, durante a monarquia, uma criação humana mas sim uma revelação feita aos pontífices pelos
deuses para a resolução de casos concretos.
Os "Mores Maiorum" constituem uma "tradição de uma comprovada (pelos homens)
moralidade (comportamento transmitido pelos deuses)". Os "Mores Maiorum" não constituem
costumes, que resultam, sumariamente, do ato, da repetição e da obrigatoriedade. Os
costumes são práticas reiteradas acompanhadas da convicção de obrigatoriedade pelo que o
seu incumprimento é punido pela própria comunidade. Os costumes são importante, pois é
deles que nasce o Direito, à medida que as pessoas adotam práticas e as assumem como
obrigatórias. Por não terem as suas raízes na sociedade, os "Mores Maiorum" não podem ser
considerados costumes.
Uma fonte de Direito é uma fonte de revelação, criação e manifestação de Direito. Os "Mores
Maiorum" não nascem da prática da comunidade, ou seja, não têm natureza humana ou
societária sendo que é um direito revelado. Trata-se de um agregado de direito, religião e
moral que os pontífices, na interação com os deuses, após a leitura dos augurios, determinam
para a resolução de casos concretos.
No período da monarquia quem aplicava o Direito era o pontífice, ou seja, o pontifice faz a
leitura dos augurios e oferece soluções. Embora pudessem existir desvios e arbitrariedades na
suposta interpretação dos pontífices, a sociedade romana encarava as decisões como sendo as
vontades dos deuses, reveladas a alguém, ou seja, os pontífices, que tem um poder único.
Os "Mores Maiorum" não são costumes como nós os conhecemos embora alguns autores
afirmem que estes sejam direito costumário. Isto só ocorre porque os "Mores Maiorum"
constituem um direito oral e repetido.
Percebe-se que a sociedade romana monárquica se guia por leis orais e obrigatórias que
constituem o Mores Maiorum. Estas leis são os princípios básicos da organização jurídica de
Roma, tendo perdurado até à sua queda, e "originaram" os princípios constitucionais .
Trata-se da forma de criação de Direito durante os primeiros 300 anos do povo romano. Um
Direito oral, conhecido somente pelos pontifices. Era o pontifice que tratava da resolução dos
casos concretos, utilizando os Mores Maiorum. Podemos dizer que os Mores Maiorum
integram o Direito Quiritário, que é o Direito mais antigo, proveniente dos primeiros
pontífices, os Quirites.

APONTAMENTOS DE DIREITO ROMANO


O Consuetudo é realidade jurídica que existiu ao longo do Império Romano.

Os Mores Maiorum eram a tradição de uma comprovada moralidade. Tratavam-se de uma


fonte de revelação, por parte dos pontifíces, e não de criação pela comunidade humana. São
revelados à comunidade, depois da leitura dos augurios.

Verifica-se que, no período da monarquia, o Direito aplicado ao casos concretos estava repleto
de uma conceção religiosa, visto que este era revelado à comunidade, depois da leitura dos
augurios, ou seja, da vontade dos deuses.

Os Mores Maiorrum não são costumes como os entendemos e são a principal fonte de
Direito da Monarquia. Temos ainda outra figura, o Consuetudo, que consiste no costume
enquanto Direito criado pela comunidade romana, para regular a sua vida diária.

Os Mores Maiorum e o Consuetudo são realidades diferentes. O Direito romano também


vai sendo criado pela comunidade, com menos relevância durante a monarquia mas no
epilogo do Império Romano surge com grande relevância e enquanto resposta ao poder
imperial (o imperador tinha o poder legislativo) da altura.

Os Mores Maiorum tem matriz religosa e moral, revelada e praticada pelos pontifices nos
casos concretos. O Consuetudo tem uma evolução gradual através do império romano e
decorre da prática de costumes reiterada.

Os patrícios e os plebeus são cidadãos que têm alguns direitos semelhantes: os direitos de
participação nas assembleias criadas (comitium curiata) e estabelecimento de relações
comerciais. O direito de participar nas assembleias origina o ius sufragio, ou seja, o direito de
votar característico do cidadão e o direito de estabalecer relações comerciais origina o ius
comercio. É ainda de acrescentar que a mulher, embora possa ser cidadã, não participa nas
assembleias.
Embora possuam alguns direitos semelhantes, verifica-se que os patricíos possuem alguns
vantagens relativamente aos plebeus. De acordo com os Mores Maiorum, os cidadãos patrícios
têm o direito de casar com outra cidadã patrícia ou plebeia (connubium), ao passo que os
cidadãos plebeus apenas podem casar com plebeias. Além disso, os patrícios têm o direito de
adquirir terras publicas ( agere publicum), ao passo que os plebeus não. Verifica-se que Roma
é um terreno pequeno que vai evoluindo em termos geográficos através da conquista,
chamando-se terras publicas a estes terrenos. Esta terras vão sendo atribuídas por leilão a
quem mais desse por elas, algo que apenas patrícios podiam fazer. Por outro lado, apenas os
patrícios têm o direito auspicio, ou seja, a capacidade de fazer a ponte e intermediação entre o
terreno e o divino e interpretar a vontade dos deuses.
No dia a dia, o Direito é aplicado pelos pontífices, aqueles que conhecem os Mores Maiorum,
o qual é passado de pontífice para pontífice. Os pontífices são todos eles patrícios, pelo que
estes podiam beneficiar o seu próprio grupo. Os patrícios têm mais vantagens pelo que se
assistem a muitas revoltas por parte dos plebeus em busca de maior igualdade.

PERÍODO DE TRANSIÇÃO ENTRE A MONARQUIA E A REPÚBLICA


A monarquia cai porque Tarquínio, o Soberbo, é expulso do império. Este rei era despótico,
reinando de acordo com os seus interesses e não os interesses públicos.
Neste período de transição temos um momento importante: a elaboração da lei das XII
tábuas. Esta lei é elaborada entre 451 a.C. a 449 a.C., aproximadamente e corresponde à
elaboração da primeira lei romana que chegou inteira até nós. Esta lei é o primeiro momento
de redução a escrito dos Mores Maiorum, ou seja, o primeiro momento de positivação dos
mesmos. É importante porque uma das grandes criticas dos plebeus era o não poderem ter
acesso de forma clara ao Direito a aplicar visto que os casos eram solucionados pelos
pontífices que sabiam os Mores Maiorum.
Os comita curiata empenham-se na elaboração de uma lei que transmita os Mores Maiorum.
Ocorre a eleição por parte dos comita curiata para o decimviril legibus serimbus: 10 patrícios
eleitos, com mandato de um ano, para exercerem a função de redação da lei. Têm de elaborar
a primeira lei (reduzir a escrito os Mores Maiorum) e governar a cidade. Esta comissão, reza a
história, teria escolhido de entre os 10 homens, três que fossem a Grécia ler as leis de Tolum,
pelo que a lei das XII tábuas teria inspiração/influência grega.
A comissão elabora a sua proposta de lei, sendo depois afixada no fórum (espaço publico em
Roma para discussão das suas politicas) para ser analisada por todos aqueles que soubessem
ler e quisessem participar na auscultação pública, sendo sujeita a debate politico, antes de ser
submetida ao comitia curiata para ser sujeita a voto.
O comício, assembleia popular, votava e aceitava ou negava a lei. Os órgãos da monarquia
vão continuar, com algumas alterações, a intervir na realização da leis das 12 tábuas (direito
privado - direito que se aplica às relações entre pessoas/ O DP continua a ser aplicado pelos
MM). No entanto, o CC entendeu que ainda havia a necessidade de densificar a matéria
jurídica, sobretudo no contexto da matéria penal. Nesse sentido o CC elege outros 10 homens
para elaborar mais Direito, ou seja, o resto. Reza a história que estaríamos perante um grupo
misto (plebeus e patrícios), algo estranho tendo em conta a tensão e as diferenças entre estes
dois grupos; esta comissão trabalha durante 1 ano e o seu trabalho é reprovado porque acusa-
se a mesma de não ter governado Roma de forma justa, governando de forma autoritária. Os
CC repreendem este grupo. Os CC elegem dois magistrados, Valério e Horácio, para redigirem
estas ultimas 2 tábuas, tendo precisado de 1 ano, a lex valeria horacia. Desta forma temos a
concretização da lei das 12 tábuas.

NOTA: A lei das 12 tábuas não é uma lei de igualização do estatuto juridico dos patricios e
plebeus, pelo que não tem como objetivo anular as diferenças entre estes dois grupos. Algo
que vai ser feito depois. Esta lei é a redução a escritos dos MM, ou seja, do Direito aplicado. Os
pontifices continuam a ler os augurios, só que os MM são agora consultáveis e passiveis de ser
lidos, pelo menos as suas regras mais gerais.

ESTRUTURA INTERNA DA L12T:


T1 A T3: matéria relacionada a processo civil
T4 a T5: direito familia e sucessões
T6: negócio juridico : stipulato
T7 A T12: direito penal e processo penal

Com a lei das 12 tábuas iniciamos aqui outra figura. A lei das 12 tábuas é a primeira lei a
chegar até nós de forma clara. E é também a primeira lex rogata
(lei cuja aprovação é pedida). Os magistrados que a elaboraram pediram para que ela fosse
aprovada.

Formalismo característico dos negócios jurídicos decorre da existência de rituais. Ou seja,


entre cidadãos, uma das partes fala de uma forma e a outra deve responder da forma padrão.

Com o fim da monarquia em Roma, o poder dos Reis desaparece mas o poder não cai na rua, a
organização política muda, levando a que orgaõs que já existiam na monarquia assumam
poderes específicos para a republica e se mantenham durante a mesma - magistrados.
Os magistrados, todos eles patricios, a assumir poderes de soberania e governo sobre Roma
(poder de criar e impor a organização politica, admnistritva e militar em Roma) e poderes de,
através das suas decisões, vincular os seus cidadãos - imperium e potestas.
Quando cometemos uma infração de estacionamento, recebemos uma carta a reenvidicar um
pagamento - ato de potestas.
Os magistrados, nesta primeira fase de transição da monarquia para a republica, fase de
reclamação e revolta, sendo todos patricios. Os plebeus, agora mais ricos, reclamam direitos.
Havia um colégio militar em que muitos deles eram plebeus e, granjeando posição e poder,
tentam obter estatuto comparável ao dos patricios. Isto começa a acontecer quando em 367
ac se publica um conjunto de leis chamadas leges liciniae sextiae: pacote legislativa que vem
reduzir o fosso e estatuto social entre plebeus e patrícios. Estas leis têm os nomes dos seus
componentes: licinio e sextius - preponentes da lei.
Trata-se de uma lex rugata pois é uma lei formulada por magistrados e proposta peramte os
CC (para que os valide) que, nesta altura, deram origem aos Comitia Centuriata - mudança na
organização militar romana. Durante a monarquia, o exército esta organizado em curias, agora
estava organizado em centurias. Esta lex rugata é formada por 4 leis:
 Lex liciniae sextiae aero alieni: lei relativa a bronze - lei que vem regular as dividas.
Havia uma regra dos MM que determinava que a divida tinha de ser paga no prazo de
vencimento da mesma. Os plebeus, sendo que contraia dividas com patricios,
chegavam ao final do ano sem conseguirem pagar a divida, sendo condenados a
trabalhos de servidão, não conseguindo renegociar a divida. Nas circunstâncias da
divida, deve ser possível que o devedor pague o capital + juros em 3 prestações anuais.
 Lex liciniae sextiae modo agrorum: uma das limitações do estatuto dos plebeus era o
facto de não terem ius agrorum, ou seja, comprar em leilões / asta publica, terras
públicas de forma a se tornarem terras privadas. Esta lei permite uma redistribuição da
terra, limitando a área que pode ser adquirida pelos patricios (500 geiras), dando
origem a que os plebeus possam licitar o resto.
 Lex liciniae sextiae consule plebeus: vem determinar a possibilidade de um cônsul
plebeu. O consul é quem governa e manda na cidade, sendo eleitos (2) em colégios. Os
2, originando o consulado, eram patrícios.

A fase da República começa em 367 a.C. e acaba em 27 a.C.. 367 a.C. é o ano que marca o
surgimento das leges lecinae sextae, que vai fazer a aproximação do Direito dos plebeus e dos
cidadãos, dando início à República.

MAGISTRATURAS EM ROMA DURANTE O PERÍODO DA REPÚBLICA


Os órgãos da republica são três, essencialmente, grandes órgãos: os magistrados, o Senado
e os comitia .
Verifica-se que os magistrados são aqueles que sucedem aos poderes do rei e governam, nas
diferentes áreas, a cidade de Roma. Por sua vez, o Senado já estava presente na monarquia e
possui, durante o período da República, funções interessantes. Durante a monarquia
verificava-se a existência de comitia curiata, na medida em que a sociedade estava dividida em
cúrias, que por sua vez se dividiam em 10 decúrias com 100 homens cada. No entanto, durante
a república, com o crescimento de Roma e a sua expansão, verifica-se a organização militar
em 100 blocos de 100 homens.
É o crescimento da sociedade que dita a transformação a nível da organização militar e que
leva a uma transformação na designação das assembleias comiciais.
Temos três tipos de comitia:
 Comitia centuriata: onde estão assentes todos os cidadãos plebeus e patrícios;
 Comitia tributa: onde estão assentes cidadãos plebeus e patrícios reduzidos à tribo a
que pertencem; tem como função a decisão da organização da sua localidade pelo que
se definem impostos a pagar, feiras, organização sanitárias, construção, etc. pelo que,
nesse sentido, dedicam-se unicamente às questões que dizem respeito à sua tribo
(deixando para os comitia centuriata o governo de Roma);
 Concilia plebis: onde estão assentes apenas os plebeus, ou seja, trata-se da assembleia
dos plebeus, que nasce, durante a república, pela necessidade de criar uma entidade
que pudesse promover e defender os direitos e interesses dos plebeus; esta
assembleia não está circunscrita territorialmente mas sim socialmente, pelo que têm a
mesma expansão dos comitia centuriata mas possuindo apenas plebeus.

MAGISTRATURA
CARACTERÍSTICAS
A magistratura é essencial na administração de Roma, possuindo diversas características:
 Colegialidade: para cada magistratura eram eleitos 2 magistrados (em colégio,
portanto) com paridade no grau e na função, de forma a não haver poder um sobre o
outro, ou seja, poder autoritário (durante a república, Roma vai tentar responder aos
desafios que encontrou durante a monarquia, entre eles a presença de poderes
absolutos como se verificou com Tarquínio, o Soberbo);
 Temporalidade: princípio geral, o mandato é anual, embora haja exceções;
 Eletividade: os magistrados são eleitos;
 Separação rigorosa entre as magistraturas: as magistraturas têm uma comunicação
muito restritas e, por conseguinte, cada um tem funções muito especificas em Romas;
 Impossibilidade de repetir cargos: no fim do mandato os magistrados não se podem
recandidatar para o mesmo cargo, apenas para cargos/magistraturas superiores (trata-
se de uma carreira pensada, pelo que se começa com cargos de menor importância
para continuar o percurso até chegar a cônsul – cursos honorum);
 Responsabilidade pelas infrações cometidas durante o mandato: tudo aquilo que os
magistrados fazem que possa ser considerado uma infração vai dar lugar a uma
responsabilização, algo que também ocorre se não cumprirem os objetivos a que se
propuseram, pelo que há, aqui, uma obrigação de cumprimento;
 Gratuitidade: os cargos não são renumerados pelo que quem exercer um cargo de
magistratura, vai exercê-lo a título gratuito durante o seu mandato (foi por causa disto
que, durante séculos, os magistrados foram pontífices visto que eram os únicos
capazes de estar um ano sem renumeração, pois tinham um grande património).

CONDIÇÕES PARA ELEIÇÃO


Para se ser candidato a uma magistratura tinham de ter:
 Ius suffragii: os candidatos podiam ser submetidos à votação do eleitorado activo;
 Ingenuus (ingenuidade):
o Não ser escravo liberto,
o Não ser filho de um liberto;
o Pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada (patrício ou plebeu);
o Não ter sido acusado de infâmia (ou seja, de violar os Mores Maiorum);
o Ter idade de 28 anos ou mais (idade mínima para se aceder à questura,
primeira das magistraturas).

PODERES DAS MAGISTRATURAS MAIORES E MENORES


Falamos em magistraturas maiores e magistraturas menores. Os magistrados maiores são o
cônsul, o pretor e o censor e as magistratura menores são o edil e o questor.
As magistraturas maiores tinham os poderes de imperium, potestas e iurisdictio (em
princípio tinham os três, mas há exceções) ao passo que as magistraturas menores têm
apenas poder de potestas.
O imperium é poder supremo e ilimitado de comando (ex. comandar exércitos, convocar o
Senado, convocar as Assembleias Populares, administrar a justiça), ou seja, trata-se de um
poder de soberania que consiste no poder de governar a cidade de Roma. Ou seja, os atingidos
poderes do Rex vão ser passados para as magistraturas maiores.
O potestas é o poder de representar o Populus Romanus, e vincular com a sua vontade, a
vontade do Populus. Criava direitos e obrigações para a civitas. Era exercida no âmbito do
exercício das competências próprias. Trata-se do poder de dar e impor ordens, e de fazê-lo de
forma coativa.
O iurisdictio é o poder de administrar a justiça, ou seja, o poder de interpretar, integrar e
aplicar o ius civile. É detido por dois magistrados: o cônsul, de forma esporádica, e ao pretor.

Existem ainda mais poderes comuns a todos os magistrados: ius auspiciorum, ius edicendi e
coercitio.
O ius auspiciorum é a faculdade de indagar por certos signos a vontade favorável ou
contrária dos deuses, antes de qualquer ato importante.
O ius edicendi é o direito de promulgar edictos, ou seja, providências em matérias da sua
competência para resolução de situações concretas especiais (edicta repentina) ou programas
da própria atividade, promulgados no início do seu cargo e contendo as regras a que essa
atividade se sujeitará (edicta perpetua). O ius edicendi do pretor é criador de Direito.
O coercitio é o direito de usar de meios compulsivos para forçar qualquer cidadão a respeitar
uma ordem emitida pelo magistrado no exercício das suas funções, por exemplo, prisão,
sanções corporais ou pecuniárias, retenção de bens, entre outros.

Por outro lado, existem outros poderes apenas reservados a alguns magistrados: iurisdictio e
intercessio.
O Iurisdictio é o poder de aplicar o direito aos casos concretos em que há litígio e é são
seus titulares o cônsul e pretor.
O Intercessio é o direito de opor o seu veto aos atos de outros magistrados, ou seja, é o
poder dos magistrados maiores, que exercem esse poder sobre os magistrados menores em
termos hierárquicos. Também o tribuno da plebe pode utilizar na sua defesa dos direitos da
plebe.

MAGISTRATURAS ORDINÁRIAS E EXTRAORDINÁRIAS


Além de se classificarem as magistraturas em maiores e menores, também se classificam as
mesmas em ordinárias e extraordinárias.
As magistraturas ordinárias são eleitas todos os anos para exercerem as funções de
administrar Roma. No âmbito das magistraturas ordinárias falamos em magistraturas
permanentes, cujo titular estava sempre em funções (cônsules, pretores, edis e questores), e
magistraturas não permanentes, cujo titular exercia funções não contínuas (censor).
Por sua vez, as magistraturas extraordinárias eram sempre não permanentes e podiam ser
extraordinárias por questões de matéria (ou seja, dependentes das questões temporais que
Roma vive) ou por questões de representatividade. São exemplos o tribuno da plebe e o
ditador. Tinham poderes de intercessio sobre os actos de todos os magistrados ordinários e
eram eleitos para fazer face a circunstâncias extremas e imprevistas, como o exemplo de um
ataque militar, pelo que duravam durante o período da ameaça.
O ditador não é eleito mas sim nomeado pelos cônsules, sendo depois ratificada a sua
nomeação pelo comitia centuriata. Quanto é nomeado um magistrado para atuar como
Ditador é para fazer face a situações concretas de Roma, ou seja, de emergência ou sitio em
Roma, pelo que todos os outros magistrados são suspensos. O ditador só podia governar
durante 6 meses e, no limite, 12 meses. Por sua vez, o tribuno da plebe tem como função
proteger os direitos da plebe, pelo que possui poderes específicos na representação da
mesma.
Os magistrados maiores podem ser ordinários ou extraordinários e, em princípio, não há
magistrados menores extraordinários.

HIERARQUIA DOS MAGRISTRADOS


De acordo com a doutrina antiga a hierarquia dos magistrados é: cônsul, pretor, censor, edil,
questor. Percebe-se que o cônsul está no topo visto que tem os três poderes (imperium,
potestas e iurisdictio), depois o pretor (que tem os três poderes e substitui o cônsul quando
este está ausente por atos militares), depois o censor (é um magistrado maior com apenas
potestas), o edil e depois o questor.
Por sua vez, de acordo com a doutrina moderna, a hierarquia é: censor, cônsul, pretor, edil,
questor.
Verifica-se, portanto, que está no topo o censor, embora o cônsul tenha mais poderes. O
censor, foge à normalidade visto que, embora seja um magistrado maior, não tem imperium
nem iurisdictio. Este magistrado tem a função de fazer o censo da população de 5 em 5 anos,
ou seja, quantos plebeus, cidadãos, mulheres, homens, filhos, entre outros, existem em Roma.
Além disso, o censor tinha a função de fazer o registo dos bens imóveis, privados e públicos. O
censor possui ainda outra função: nomear e destituir os senadores.
O censor podia exercer uma capitio diminutio, ou seja, retirar o estatuto de cidadão,
temporariamente ou definitivamente, a um cidadão atendendo ao comportamento do mesmo,
ou seja, se um determinado cidadão não vivesse de acordo com a tradição romana o censor
podia fazer do mesmo um escravo ou servo. O censor podia fazer isto ao abrigo do seu poder
de potestas, sendo que o seu poder avém da forma como, podendo destituir cidadãos, podia
também destituir cônsules. O poder do censor sobre a sociedade romana era maior do que do
cônsul visto que o último está dependente do seu estatuto enquanto cidadão.
Os magistrados são independentes entre si, no entanto, os magistrados maiores têm poder
de revogar decisões de magistrados menores, ou seja, têm poder de intercessio. Ninguém
revoga, no entanto, as decisões do censor. Os magistrados fiscalizam-se uns aos outros de
forma a impedir que haja dominância e abusos de poder. O fim da república marca o final do
jogo de forças em que os órgãos se estendem numa dinâmica de controlo.

MAGISTRATURAS MAIORES
Verifica-se que o consulado e pretura eram magistraturas maiores cum imperio et cum potestas.
Sendo os titulares destes poderes eleitos todos os anos nos comícios centuriais. Por sua vez, a ditadura
era uma magistratura maior cum imperio, mas com caráter extraordinário, sendo o ditador nomeado
por um cônsul, com base num parecer do Senado, para um mandato máximo de 6 meses. Eram criados
momento de iustitium, com suspensão da normalidade legal e da aplicação regular da justiça.
Na sua generalidade, as magistraturas maiores tinham os seguintes poderes:
 Supremo comando militar e respectivo poder coercitivo (imperium militae);
 Direito de convocar e presidir aos órgãos colegiais: senado e assembleias (ius agendi
cum populo, ius agendi cum patribus);
 Praticar actos coercivos para se fazerem obedecer pelos cidadãos e pelos magistrados
menores (imperium domi);
 Direito de emanar e fazer publicar no fórum os seus edicta (ius edicendi);
 Possibilidade de assumir auspícios maiores.

CÔNSUL
Compete ao cônsul a determinação da aplicação da pena de morte. No entanto, não aplica a
termo definitivo, visto que o condenado podia pedir "recurso". Quando os cônsules (visto que
são dois) não estão em Roma, quem governo é o pretor.
O cônsul possui as seguintes características:
o Magistratura com imperium domi (poder na cidade) e imperium militae (militar);
o Colegial;
o Anualidade;
o Dividia os poderes com outras magistraturas;
o Tinha poderes de coercitio e de iudicatio – acusar, julgar e executar as sentenças sem
obrigação de seguir o consilium por ele convocado, e liberto de qualquer formalidade
ou vínculo processual;
o Exercia todas as competências residuais que não cabiam aos outros magistrados:
Coercitio para a pena de morte.
O cônsul detinha:
o Ius agendi cum patribus – poder de convocar o Senado;
o Ius agendi cum populo – poder de convocar as assembleias populares – dava-lhe
iniciativa legislativa, apresentando propostas de lei ao Senado (lex rogatio).

PRETOR
O pretor é o aplicador do Direito, sendo que compete ao mesmo, interpretar, integrar e
aplicar os ius civile as relações jurídicas entre cidadãos romanos. É o titular do tribunal, onde
tem a função de ouvir as reclamações e perceber se há ou não, no ius civile, proteção para
essa questão e, se houver, aplicar a justiça. Verifica-se que só se podia chegar a pretor com 35
anos.
A partir de 242 a.C. vai ser criada em Roma uma outra figura do poder: pretor peregrino. A
partir dessa data, temos dois tipos de pretor: urbano, criado em 367 a.C., e peregrino, que
aplica o Direito as relações juridicas entre estrangeiros e entre cidadãos e estrangeiros. O
pretor peregrino cria o ius gentium, que é um direito influenciado pelo ius civile mas mais
simples e menos formalista que este. O peregrino também vai ser titular de um tribunal visto
que, onde quer que vá, aplica o Direito.
Percebe-se, portanto, que o pretor urbano dirime os conflitos entre cidadãos, ao passo que
o pretor peregrino, criado no séc. III a.C., dirime os conflitos entre cidadãos e estrangeiros.
A evolução da pretura, vai se fazendo em três grandes datas: 367 a.C., a data em que surgiu ;
130 a.C., com o aparecimento da lex aebutia de formulis que permite ao pretor criar Direito
novo visto que até aí o pretor limitava-se a aplicar o ius civile, pelo que não podia alterá-lo e se
o ius civille não desse resposta ao problema em causa, o pretor tinha de o resolver
interpretando o ius civille.
Relativamente ao pretor, verificam-se as seguintes características:
o Criados pela Lex Licinia Sextiae de 367 a.C.;
o Magistratura ordinária, permanente. Chegou a haver 6 pretores, cada um com o seu
tribunal;
o Tinha um imperium igual ao do cônsul, mas a potestas era de menor amplitude;
o Aplicava a justiça (iurisdictio), sobretudo civil;
o Substituía o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da cidade;
o Convocava os comícios para a eleição dos magistrados menores;
o Apresentava propostas de lei para aprovação nos comícios;
o Podia, a pedido do Senado, comandar os exércitos fora da cidade.

CENSOR
Uma das características mais relevantes do censor é o facto de poder retirar a cidadania de
cidadãos, no entanto, possui ainda outras características:
o Magistratura ordinária não permanente;
o Magistrado maior, sem imperium;
o Titular de auspicia;
o Eleito nos comícios centuriais para um mandato com exercício efetivo de funções de
18 meses, apesar de eleitos para 5 anos;
o Fazer o recenseamento dos cidadãos (census);
o Registava o património predial, comunicado pelos paterfamillia;
o Nomeava Senadores (lectio Senatus);
o Controlava a aplicação dos mores maiorum;
o Administrava os bens públicos (ager publicus).

DITADOR
Por sua vez, o ditador possui as seguintes características:
o Magistratura extraordinária;
o Em regra, durava 6 meses;
o Concentrava todos os poderes da civitas numa só pessoa;
o Consoante a situação era nomeado:
o Dictator optimo iure – plenos e indefinidos poderes;
o Dictator imminuto iure – com poderes específicos em matérias sacrais, mas com
grande relevância política.
o Era nomeado ou por questões militares ou religiosas

MAGISTRADOS MENORES
Os magistrados menores sem imperium, mas com potestas, cuja função se restringe a
atividades desempenhadas no âmbito da gestão concreta da cidade de Roma. No âmbito da
magistratura menor falamos em edil plebeu, que é eleito nos consilia plebis e o edil curul e os
questores, que são eleitos nos comitia tributa.
Os magistrados menores, com exceção do edil plebeu, tinham ius edicendi, auspícios
menores e poderes coercitivos menores (multae dictio), como aplicação de multas e pequenos
pagamentos na penhora de bens (pignoris capio).
Com potestas, os magistrados menores tinham os seguintes poderes:
 Ius edicendi (que é o poder de fazer editos que é um instrumento relevante visto que,
no caso das magistraturas em que se verifica um grande número de elegíveis, permite
aos comitia eleger tendo em conta aquilo que cada um dos mesmos se propõe a fazer
durante o ano em que poderá ser magistrado. Por outro lado, também permite,
fiscalizar a atuação do masgistrado, ou seja, verificar se o magistrado está a cumprir o
edicto);
 Ius agendi cum populo e cum plebe;
 Ius agendi cum patribus.

EDIL
Com a república é uma magistratura patrícia-plebeia, criada em 367 a.C., ou seja, verifica-se
que começa por ser uma função reservada aos patrícios mas depois também os plebeus
podem ser eleitos.
O edil possui as seguintes funções:
 Guarda dos arquivos;
 Gestão do tesouro
 Funções de polícia;
 Superentendia a limpeza da cidade;
 Superentendia a conservação das vias e edifícios públicos;
 Superentendia a atividade dos mercados;
 Controlava o abastecimento de cereais;
 Organizava as festas e os espetáculos públicos.

QUESTOR
 Administravam o erário do Populus Romanus;
 Promovia a supervisão das receitas fiscais arrecadadas;
 Promovia a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as despesas decididas
pelos cônsules, nos termos do disposto pelo Senado, para as atividades de cada
magistratura;
 Até às Questiones Perpetuae fazia a instrução e acusação dos crimes punidos com a
pena de morte;
 No início eram 2 e chegaram a 20.

TRIBUNO DA PLEBE
O tribuna da plebe era uma magistratura extraordinária, na medida em que tem poderes
específicos. Já em 367 a.C. há tribuno da plebe e este surge para equilibrar os poderes dos
plebeus, ou seja, é o defensor dos interesses da plebe.
O tribuno da plebe tem imunidade absoluta perante os outros magistrados, pelo que este não
o podem acusar em nada. Ele pode ainda revogar todas as decisões dos outros magistrados,
caso prejudicassem os interesses da plebe através do provocatio ad populum. No entanto, não
se sabe se este princípio pode agir contra o censor.

o Primeiro eleitos pelos comitia tributa e depois pelos concilia plebe;


o Garantia os interesses da plebe;
o Tinha imunidade absoluta;
o Tinha direito de se opor às decisões de todos os outros magistrados, através de
intercessio;
o Tinham potestas coercendi, sem ligação à intercessio;
o No séc. III a. C. passam:
 a deter ius senatus habendi – o direito de convocar e presidir ao Senado;
 Agere cum plebe – estabelecer com os concilia plebis uma relação orgânica.
Convocando-os para analisar decisões políticas ou normativas (plebiscita)
COMITIA CENTURIATA
Na monarquia, havia os comitia curiata que eram assembleias patriciais e presididas pelos
pontífices, pelo que possuíam um grande cariz sacro. Com a queda da monarquia e a
reorganização do exército, muito por forças do aumento do número de plebeus no exército,
surgem as centúrias.
As centúrias, apenas patrícias ou apenas plebeia, ou seja, não mistas, eram dividas por áreas
sociais ou militares. As centúrias davam origem aos comitia centuriata, os comitia específicos
da repúblicas. As comitia curiata continuaram a existir mas perderam relevância. As comitia
centuriata organizavam-se e reuniam-se a campo aberto, fora do território de Roma. Votavam
por centúrias e não por cabeça, ou seja, os 100 homens acordavam um voto e era esse voto
que era manifestado.
As comitia centuriata possuíam diversas funções:
 Eleição os magistrados maiores (pretores, cônsules, censores e ditadores);
 Ratificação a nomeação do ditador;
 Detenção de poderes legislativos - aprova a lex curita;
 Aprovação de guerra ou paz;
 Aprovação dos tratados de paz;
 Revisão em ato de reclamação as sentenças à morte - Iudicium.

COMITIA TRIBUTA
Verifica-se que por cada tribo há um comitia tributa, incluindo todos os homens patrícios e
plebeus de cada tribo. A cada homem corresponde um voto. Era da sua responsabilidade os
temas relativos à gestão do território e da tribo, ou seja, questões menos relevantes.
Os comitia tributa possuíam algumas competências:
 Votação leis menores, relativas à gestão territorial;
 Eleição do questor e do edil curul;
 Fixação de alguns tributos, ou seja, pagamento e impostos a pagar naquele território;
 Aplicação de pena a quem cometesse infrações naquele território.

CONSILIA PLEBIS NA REPÚBLICA


A consilia plebis consitui a assembleia dos plebeus e elegem o edil e o tribuno da plebe. Além
disso, aprova as leis plebeias - plebiscitum. É a assembleia por excelência para a defesa dos
plebeus e para regular questões relativas aos plebeus.

SENADO
O senado é o órgão que vai manter, por excelência, a tradição de Roma. Compete ao Senado
manter a tradição de Roma e preservar a mesma. É um órgão de governo e cujo objetivo é
manter o equilíbrio governamental de Roma.
É o único órgão de Roma que existiu desde sempre, desde o inicio até ao final de Roma.
Durante a monarquia era apenas constituído por patrícios mas depois, ao longo da república,
passa a poder integrar, também, plebeus.
O senado possui diversas competências:
 Aconselhamento aos magistrados, feitos através de um diploma que se chama
"senatus consulta", que é uma consulta ao senado, ou seja, a resposta do senado a
questões que lhe são formuladas pelos magistrados, e que, na república, não são
vinculativos;
 Guardião dos Mores Maiorum;
 Atribuição de auctoritas patrum.
 Negociação e aprovação de tratados internacionais,
 Declaração de guerra;
 Aprovação de despesas militares;
 Administração das províncias e nomeação dos seus governadores.
 Fixação dos custos públicos.

LEX ROGATA
A lex rogata é a lei essencial para a compreensão de toda a república e constitui o principal
tipo de lei na república. Tratando-se de uma lei, é uma declaração solene de vontade que
emite uma determinada ordem ou comando aos seus destinatários. A lex rogata é um tipo de
lei que envolve, na sua elaboração, os três órgãos de Roma sendo participam os magistrados, o
senado e os comitia. É um tipo de lei público. A lex rogata é a lei em que se pede a provação.
Trata-se do processo de aprovação da lei até 339 a.C.
A lex rogata consiste numa deliberação proposta por um magistrado e votada pelos comitia.
Estas leis regulam, em regra, direito público e são identificadas pelo nome dos 2 cônsules do
ano em que são propostas e aprovadas. Podem ainda conter a indicação sumária do conteúdo.

1ª FASE: PROMULGATO
É apresentação pelo magistrado aos comitia de uma proposta de lei e afixação pública
durante cerca de 3 semanas no fórum. O texto do projeto devia ser afixado num lugar público
para que o povo o lesse e tomasse conhecimento. Tem competência para fazer uma lex rogata
os magistrados maiores, e dentro destes apenas aqueles que têm imperium, ou seja, o cônsul e
o pretor.

2ª FASE: CONCIONES
Trata-se das reuniões convocadas pelos magistrados tidas na praça pública, sem carácter
oficial ou jurídico, para se discutir a proposta. É, portanto, o período de debate ao qual
assistiam todos os cidadãos que quisessem. Os cidadãos dão a sua opinião e, nesse sentido,
chama-se a esta fase conciones, porque ninguém podia falar sem lhe ser concedida a palavra.
Os discursos favoráveis ao projecto denominavam-se suasiones e os desfavoráveis
dissuasiones.
Desta forma, a partir do debate, os magistrados percebem se a lei tem pernas para ir para a
frente. Trata-se de medir o pulso ao povo (se a lei seria ou não aprovada nos comitia
centuritata).

3ª FASE: ROGATA
Terminado o prazo da promulgatio, os magistrados convocavam os comitia e todos reunidos
em assembleia. O magistrado que presidia, após cumprimento de
formalidades, lia ou mandava ler a proposta de lei e após a leitura pedia a
sua aprovação – rogatio.

4ªFASE: VOTAÇÃO
Durante a votação o voto era oral e era dado com palavras sacramentais. O voto podia
ser favorável, desfavorável ou abstenção. A votação é feita por centúria, sendo que cada
centúria é um voto. Após a Lex Papiria Tabellaria de 131 a.C., o voto passa a ser escrito e
secreto.
Depois da votação, ocorre a aprovação pelo Senado, ou seja, após a votação favorável pelos
comitia, a lei era referendada pelo Senado - autoritas patrum. O Senado tinha como função
verificar a conformidade das leis com as tradições de Roma, ou seja, com os mores maiorum.
Após a Lex Publilia Philonios, de 339 a.C., a autoritas passa a ser concedida antes da proposta
ser votada pelos comitia.
Por fim, se o Senado concedesse auctoritas patrum, a nova lex era afixada no fórum em
tábuas de madeira ou de bronze.
PLEBISCITOS
O plebiscitum é uma deliberação apresentada pelos tribunos da plebe e votada nos concilia
da plebe, ou seja, os plebiscitos são leis pública ms que são aprovadas nos concilia plebis, após
serem propostas pelo tribuno da plebe. No seu conteúdo tem, essencialmente, matérias
relativas aos plebeus.
Identifica-se um plebiscito, por regra, pela lei ter o nome de apenas um magistrado, que seria
o tribuno da plebe. Depois do nome vem uma palavra que descreve o conteúdo da matéria da
lei.
Os plebiscitum, no início, tinham um carácter normativo não jurídico, não vinculando nem os
patrícios, nem os plebeus. A partir der 449 a.C., com a Lex Valeria Horacia de plebiscitis
adquirem força vinculativa igual à das leges, mas apenas em relação aos plebeus.
Posteriormente surge a Lex Hortensia de plebiscitius, em 287 a.C., que vem impor que os
plebiscitos vinculem também os patrícios. O conteúdo é relativo aos plebeus, no entanto, os
patrícios também têm de respeitar estas leis que têm em conta os interesses dos plebeus.

PRETOR
O pretor é um magistrado que passa por uma evolução. Trata-se de um magistrado maior
com poderes de iurisdictio, potestas e imperium. Tem poder de soberania, governando a
cidade e aplicando a justiça e pode vincular o populus romano com a sua decisão.
O pretor é um cidadão logo conhece o ius civile. A carreira na magistratura passa por uma
evolução, pelo que um pretor é um homem experiente e que conhece o direito e a tradição de
Roma. Sendo assim, quando se candidata a pretor, sabe que vai aplicar o Direito.
Na atualidade não há função equiparável ao pretor, ou seja, não possuímos nenhum
funcionário publico na área da justiça que seja semelhante ao mesmo.
O pretor aplica o direito, ou seja, o ius civile aos casos concretos e fá-lo através de um
tribunal. Este tribunal é presidido pelo pretor e as suas decisões são aplicadas em nome do
mesmo, sendo que este pode impor a sua decisão e fazê-lo de forma coerciva.

Os tribunais de Roma contemplavam duas fases no processo de aplicação do Direito, a in iure


(fase de Direito) e a in iudicio (fase da prova) ou apud iudicem. A primeira fase corresponde à
fase em que o Direito é definido e a segunda à fase em que é definida se a história que é
contada corresponde àquilo que efetivamente se passou .

PROCESSO DE APLICAÇÃO DO DIREITO


Antes de qualquer recurso a tribunal os cidadãos falariam com o pretor que, caso considere
que têm um determinado direito, lhes confere actio.

IN IURE
A esta fase preside o pretor, que ouve as partes, informando-se sobre o sucedido e pensa no
que fazer, delimitando as possíveis soluções e em que caso se aplicariam.

IN IUDICIO
A esta fase preside o judex que consiste num juíz que, ao contrário do que se verifica
atualmente, se trata de uma terceira pessoa, ou seja, alguém que sendo escolhido pelas partes
ou pelo pretor, não tem que conhecer o Direito mas que tem uma capacidade extraordinária:
ouvir e retirar daquilo que ouve aquilo que é verdade e aquilo que é mentira. Assim, este judex
consegue defender e concluir quem está a mentir e quem está a dizer a verdade.
Normalmente estas pessoas eram escolhidas porque já tinham feito outros processos, saindo-
se bem, e tinham revelado capacidade de ouvir, aconselhar e ajudar. Ou seja, não é uma
profissão. Após apurar os factos o iudex relataria a solução adequada, definida na fase anterior
pelo preto

EXEMPLO
Num contrato de compra e venda, temos os senhores A e B.
 A é vendedor e B é comprador.
 A vai vender a B um computador.
 A tem o direito de receber o pagamento e tem a obrigação de entregar a coisa.
 B tem o direito de receber a coisa e tem a obrigação de pagar.
Este é o tipo contrato sinalagmático (sinalagma - reciprocidade de direitos e obrigações de
valor contrário).
A vende o computador a B e B paga o preço a A. No entanto, B apercebe-se que o
computador está danificado. B, o comprador, vai ter com o pretor e diz-lhe "Celebrei um
contrato, invoquei os augúrios, disse as frases sagradas, houve testemunhas que presenciaram
a minha manifestação de vontade, paguei o preço, recebi o computador mas o computador
veio danificado". B pergunta ao pretor "Tenho eu direito a reclamar?". Isto ocorre porque nos
Ius Civile, a aferição dos direitos judiciais é feita em função de um direito de reclamação que
nasce de um contrato. O pretor tem, essencialmente, funções civis e não criminais. B pergunta
isto e o pretor responde "Vamos ver se do contrato de compra e venda nasce um direito de
reclamação para o comprador por um bem danificado". Trata-se de uma aparência de Direito.
Do contrato nascem direitos para o vendedor e para o comprador, sendo um deles, o direito
de receber um bem em condições. Sendo assim, nasce o direito do comprador de reclamar. O
vendedor é obrigado a vender o computador em condições. Sendo assim, o pretor concede ao
vendedor o direito de reclamação ("actio"), ou sejam "aquilo que tu me vens dizer e o contrato
que celebraste dá-te direito a reclamar". O pretor tem que ver se o ius civile contempla a
reclamação do individuo.

FUNÇÕES JUDICIAIS DO PRETOR


Em termos de marco, relativamente ao pretor, temos a sua criação em 367 a.C. com a lex
licinae sextiae e depois, em 130 a.C., com a lex aebutia de formulis, a entrega do poder de
criação de direito. Esta é uma lei central para a mudança de atividade do pretor, traduzindo-se
numa mudança no seu método de trabalho.
Costuma-se dizer que entre 367 a.C. e 130 a.C. o pretor aplicava o ius civile através do seu
poder de imperium, ou seja, são os poderes de imperium do pretor que determinavam a
aplicação do ius civile. O pretor não tem uma capacidade criativa de direito mas sim poderes
de interpretação e aplicação do ius civile.
A lex aebutia de formulis cria um sistema formulário, sendo que uma fórmula é uma ordem
escrita elaborada pelo o pretor e que é entregue ao judex. A lex vai ainda conceder ao pretor
iurisdictio, ou seja, a capacidade de "dizer o direito", ou seja, criar direito.
A partir de 130 a.C. o pretor ganha um poder que lhe permite encontrar novas soluções para
o ius civile, podendo este, portanto, influenciar o desenvolvimento núcleo jurídico do ius civile.
O pretor atua, então, como intérprete, aplicador e integrador do ius civile, mas também como
criador de direito novo, através de fórmulas.
O pretor cria ius pretorium, que está dentro do ius honorarium (direito criado pelos
magistrados) que faz parte do ius civile. Dentro do ius civile, temos o ius honorarium, no qual
se insere o ius pretorium, os mores maiorum, as leges (lex rogata, plebisctium) e a
iurisprudencia.
Até 130 a.C. o processo judicial é oral e há uma grande participação por parte dos cidadãos,
ou seja, das partes. No entanto, a partir de 130 a.C. o processo para a ser escrito, com uma
maior intervenção do pretor em termos processuais, na medida em que vai ter de redigir
documentos para assentar sobre o processo para depois submeter ao judex, que irá fazer a
prova.

O PROCESSO JUDICIAL
O processo judicial é composto por duas fases: in iure e in iudicio.

IN IURE
In Iure trata-se da fase de direito cujo titular é o pretor.
Nesta fase, o pretor ouve o cidadão romano que reclama, ou seja, o reclamante, verificando,
de forma abstrata, se o ius civile protege, ou não, a pretensão do cidadão. Se isso acontecer, o
pretor concede, de forma oral até 130 a.C., uma actio. Ter actio é o mesmo que ter direito de
reclamar. A actio é dada perante testemunhas e decorre sempre do ius civile (é por isso que o
pretor tinha de verificar no ius civile quais os direitos de reclamação que nasciam no âmbito
daquela relação, ou seja, o reclamante só tem esse direito se o ius civile o prever).
Após a receção da actio compete ao cidadão reclamante citar o reclamado e trazê-lo ao
tribunal do pretor. Se o reclamado não quiser ir, mesmo que seja o reclamante a ter que levá-
lo, o reclamado está a violar a ordem do pretor, pelo que pode nascer uma obrigação nova
para o reclamado que pode ter que cumprir através do poder de potestas a própria obrigação
do pretor. A ordem do pretor tem de ser cumprida, e se não for, o incumpridor pode ser
sancionado.
Até 130 a.C. chamava-se a esta fase, fase das ações da lei.
O pretor, até à Lex, aplica o lus Civille, através dos seus poderes de lmperium e potestas,
vinculando os cidadãos com a sua vontade e forma de interpretação do ius civille, e aplica-o de
forma vinculativa. Ou seja, impõe o direito pois tem imperium e potestas. Por outro lado, até
esta Lex, o pretor aplica apenas o lus civille aos casos concretos que lhe são submetidos. Este é
um direito formalista, ritualista.

IN IUDICIO
In Iudicio trata-se da fase da prova cujo titular é o judex.
A função do judex é conhecer e perceber a história, fazendo um juízo do acontecimento
(quem está a dizer a verdade, quem está a dizer a mentira, quem cumpriu e quem incumpriu,
…) e, aplicando, depois, o direito pré-determinado pelo pretor.
Quando declara a sentença, esta partilha do imperium do pretor pois o judex declara-a no
âmbito do tribunal do pretor, que está munido do imperium do pretor. Esta sentença tem de
ser cumprida pois decorre da ordem do pretor.
Se há confissão por parte do reclamado o processo termina e não precisa de ir ao judex, pelo
que a ida ao judex apenas ocorre quando o reclamado não aceita a actio do reclamante ou
quando pede uma actio para responder à actio do reclamante, ou seja, que anule a actio
inicial, falando agora em exceptio.

Após a lex aebutia de formulis o processo passa a ser escrito, pelo que o que antes era oral,
formalista e ritualista passa a ser escrito.
A fórmula pode ser uma actio visto que as actio passam a integrar uma forma escrita. Dizer
actio e fórmula é, portanto, semelhante.
No âmbito do processo formulário o pretor pode ir mais longe do que o ius civile,
encontrando soluções novas que acrescentam ao ius civile. O pretor pode criar uma fórmula
para contemplar uma situação concreta que não está no ius civile mas que ele considera
importante, sendo que, por outro lado, também pode decidir a desaplicação do ius civile .
No processo formulário, após a analise do processo e a determinação da fórmula, o pretor faz
um documento chamado Litis Contestatio, onde vai determinar quais são as partes em litigio,
qual é o objeto do litigio, quais são as fórmulas/actio concedidas e quais são as soluções
possíveis a aplicar. É o documento a partir do qual termina a In Iure e se inicia a fase In Iudicio
no processo formulário.
A Litis Contestatio tem a natureza de um contrato celebrado entre o reclamante e o
reclamado, realizado na presença do pretor, onde podem nascer novos direitos para as partes.
Estes direitos incluem a obrigação e cumprimento da Litis Contestatio.
A litis contestatio consiste, portanto, no momento final, na entrega pelo pretor ao
demandante da fórmula em que se reconhece o direito do demandante a reivindicar uma
determinada situação.
Esta formula vai permitir remeter o caso para o tribunal do Judex (contestatio), pelo que, sem
esta, não é permitida à parte ir ao tribunal em questão, ou seja, não lhe é conhecido o direito
de reclamar.

O ius edicendi é o direito de promulgar edictos.


Falamos, nomeadamente em edicto repentina, que são providências em matérias da sua
competência para resolução de situações concretas especiais, resultando do imperium do
pretor, pode surgir em qualquer altura do ano decorrente da necessidade de solucionar
questões novas não previstas no ius civile e que são urgentes, e em edicta perpetua, que são
programas da própria atividade, promulgados no início do seu cargo e contendo as regras a
que essa atividade se sujeitará, ou seja, é o edicto anual do pretor, que este apresenta aos
comitia a quando da sua eleição e que vai vigorar durante o prazo de um ano.
Falamos ainda em edicto translaticia e edicto nova. O edicto translaticia é mais comum
durante a fase de decadência da pretura, em que esta começa a perder importância, visto que
consiste na manutenção do pretor de um edicto do pretor anterior, não apresentando novas
ideias ou medidas jurídicas. O edicto nova acrescenta disposições ao edicto tralaticia, ou seja,
é o edicto daqueles que mantém o edito anterior, mas acrescentam-lhe questões novas,
surgindo assim um novo edito.

Verifica-se que os edictos perpetua e repentina e os edictos tralaticia e nova surgem


associados.
O Ius Edicendi do pretor é criador de Direito porque o pretor utiliza o edicto (soluções
jurídicas para casos concretos em Roma) para a elaboração de fórmulas.

Por sua vez falamos também em decretos (decretum) que consistem na resolução imperativa
de um caso particular (é imposto através do imperium do pretor, pelo que não precisa da
afirmação dos comitia).

As actios, ao abrigo do ius civile, cuja aplicação é decorrente do imperium do pretor podem
ser de quatro tipos: stipulationnes praetorial, restitiones in integrum, missiones in possessiones
e inderdicta .

stipulationnes praetorial
As stipulationnes praetorial consistem no recurso do pretor a um negócio jurídico
obrigacional. Ou seja, é, portanto, a proteção de uma situação negocial e social que não se
encontre protegido/prevista pelo ius civile e que merece proteção.
Estamos a falar em negócios jurídicos que, sendo novos na sociedade, não estão previstos de
forma típica e clara no ius civile mas cujos interesses das partes o pretor entende que pode,
através da S.P, proteger visto que esta constitui um contrato através do qual nascem direitos e
deveres para ambas as partes.

Exemplo prático
Negócio entre duas pessoas que não está de forma clara no ius civile mas ele existe e foi
realizado. No entanto, uma das partes não cumpre o estipulado. Apesar do ius civile não
prever este negócio, a relação jurídica entre as duas partes é obrigacional visto que nasceram
para os dois direitos e obrigações. O pretor concede, então, ao reclamante a actio que decorre
da stipulationnes praetorial.

restitiones in integrum
As restitiones in integrum consistem no expediente que prevê a existência de um negócio
jurídico injusto mas válido perante o ius civile, que origina uma situação protegida pelo ius
civile, mas que o pretor entende que não deve ser protegida.
O pretor vai desvincular as partes, ou seja, vai fazer com que estas anulem o contrato, pelo
que se restituem as partes, como se o negócio nunca tivesse ocorrido.

Exemplo prático
Quando o negócio é feito sobre coação o mesmo é válido, mas tem um elemento que o torna
nulo, face a isto, o pretor manda restituir aquilo que foi contratuado.

missiones in possessiones
As missiones in possessiones são a ordem dada pelo pretor baseada no seu imperium,
autorizando alguém a apoderar-se, durante um certo tempo, de bens de outrem, ou que estão
na posse de outrem, com poderes de administração e fruição.
Era a actio aplicada nos casos de embargo, por exemplo.

interdicta
A interdicta é uma ordem sumária dada pelo pretor, baseada no seu imperium, para
resolver, no momento, uma situação que tem a protegê-la, pelo menos , uma aparência
jurídica, ficando essa ordem condicionada a uma possível apreciação ulterior.
Era a actio aplicada nos casos de providência cautelar, por exemplo.

A lex aebutia de formulis faz surgir as fórmulas e concede ao pretor Iurisdictio,


transformando a sua atividade de pretor, concedendo-lhe a capacidade de criar direito novo
por via escrita para além do ius civile.
A estas fórmula chamam-se também actiones, que podem ser de quatro tipos: actiones in
factum conceptar, actiones ficticiae, actiones utiles e actiones adiecticiae qualitatis.
Nas actiones in factum conceptar, o pretor concede uma actio para uma situação social que
merece proteção jurídica e não tem cobertura no ius civile.
Nas actiones ficticiae, o pretor, para aplicar a justiça, ficciona como existente uma coisa ou
um facto que sabe não existir, ou finge como não existente uma coisa ou um facto que sabe
existir. É imposição de uma irrealidade para prosseguir o direito.Desta forma foi criada a ideia
de pessoa coletiva, visto que a empresa é a ficção de uma pessoa singular.
Nas actiones utiles, o pretor aplica, por analogia, actiones civiles (ações que vêm da lei) a
casos diferentes, mas semelhantes dos que são protegidos pelo ius civile.
As actiones adiecticiae qualitatis são ações que responsabilizam o patter familia, total ou
parcialmente, pelas dividas do filho ou de um servo provenientes de contratos celebrados por
estes. São ações específicas em que o patter familia era responsabilizado pelas dividas.
PERÍODO DO PRINCIPADO
Em termos de evolução, dá-se o térmico da república e a entrada na vigência do
principado em 27 a.C.
É de acrescentar, no entanto, que estas datas têm de ser encaradas com alguma
flexibilidade, visto que marcam momentos que o autor da cronologia entendeu como
importantes para marcar o novo período. Verifica-se que esta transição de regimes
não se deu de forma disruptiva, ou seja, através de um golpe de estado ou revolução,
por exemplo, mas sim que se deu de forma lenta e gradual, pelo que não há nada que
diga, concretamente, quando terminou um período e começou outro.
Aponta-se 27 a.C. enquanto ano de entrada no período do principado porque é o
momento em que Júlio César se assume como procônsul, após a morte dos outros
dois cônsules com quem agia enquanto governador de Roma.
Verifica-se que o seu cargo anual para a ser vitalício e assume poderes únicos para si
próprio, por isso é procônsul.
O período antes da autonomeação de Júlio César enquanto procônsul é um período
conturbado em Roma, recheado de derrotas militares sucessivas e pobreza. Tudo isto
leva a uma conjetura económica, social e política que leva Júlio Cesar a assumir um
poder vitalício no governo de Roma, visto que, através da extorsão e das aventuras
militares, Júlio César conseguiu não só ganhar dinheiro e equilibrar os problemas
económicos, mas também conseguir glória nos campos de batalha sendo que, ao
anexar novos territórios a Roma, conseguiu ganhos políticos e o amor e respeito do
povo.
Verifica-se que o período em que Júlio César está no poder tem características
politicas e jurídicas especificas e surge enquanto o aminho para a centralização do
poder numa única pessoa que só se vai verificar em 33 a.C.. No entanto, Júlio César
nunca diz que acabou a república e começou outra era. Verificam-se mutações na
dinâmica institucional que levam à mudança de sistema.

O PRINCEPS
O "Princeps", ou príncipe, é o primeiro cidadão, ou seja, é o primeiro magistrado, o
primeiro senador e é o primeiro chefe militar. Júlio César intitula-se o "primeiro" entre
iguais, ou seja, é ele que está à frente de tudo em Roma.
Esta situação de ser o "primeiro" também vai alterar a dinâmica da chegada ao poder:
o príncipe não é eleito, assume o poder através de uma sucessão, relativamente,
hereditária, visto que o príncipe poderia escolher um homem (porque era da sua
confiança, bom militar, bom tribuno, entre outras razões) que fosse para ser seu
sucessor, preparando-o e, nesse sentido, adotando-o (como se verifica relativamente a
Júlio César e César Augusto)

TRANSFORMAÇÕES EM ROMA
Neste período verificam-se bastantes transformações em Roma, sendo a mais
relevante a mudança da chefia de Roma.
O chefe de Roma passa a ser o príncipe, que tem tribunitia potestas, ou seja, o
poder máximo da potestas (poder de vincular todos os cidadãos romanos com as suas
decisões) e o imperium proconsulare maius, ou seja, o poder de substituir todos os
magistrados e tomar todas as decisões.
Verifica-se que, embora as magistraturas permaneçam em Roma, perdem
importância ao longo dos séculos I e II, e que são criados pelo príncipe magistrados
que são nomeados pelo mesmo. Trata-se de um sistema de funcionalismo em que
homens de confiança do príncipe vão desempenhar funções de administração de
Roma.
Verifica-se, além disso, uma redução de importância dos Comitia Centuriata. Com o
aumento de Roma, a criação do Império e a presença de representações em todos as
províncias de Roma, tornava-se difícil convocar o Comitia Centuriata pelo que ocorre
uma deslocação da importância e das funções para outros órgãos por parte do
Príncipe.
O poder legislativo é atribuído ao Senado. Evidencia-se que o Senado perde as
funções políticas ,que passam para o Príncipe, e, em troca, o Príncipe dá ao Senado o
poder legislativo.
O Senado elegia os governadores das províncias, algo que dava bastante poder ao
mesmo pelo que, ao retirar este poder a este órgão, o Príncipe passa a poder controlar
de forma mais efetiva o governo e controlo do Império.
Verifica-se que o senatus consulta, ou seja, a posição do Senado perante um
projeto-lei dos magistrados, não tem poder vinculativo até que em 10 a.C., quando
surge uma questão importante. Existia um mores maiorum antigo que determinava
que se houvesse ocorre o homicídio, ou tentativa de homicídio, de um patrício por um
escravo, todos os escravos da casa deveriam ser mortos. Este mores maiorum foi,
eventualmente, revisto devido ao prejuízo económico que causava. Nesse sentido, o
Senado emitiu o "silanianum" que dizia que todos os outros escravos da casa deveriam
ser poupados. Trata-se de um interpretação atualizada dos mores maiorum por parte
do Senado que os cidadãos de Roma vai assumir como obrigatória, ou seja, como
vinculativa.
Júlio César verifica que, se concedesse o poder legislativo ao Senado, o Povo não iria
estranhar pois já havia aceitação do Povo de que um parecer do Senado deveria ser
cumprido obrigatoriamente, pelo que o Povo acaba por reconhecer tacitamente que o
Senado pode fazer leis. Verifica-se que, no geral, as mudanças a nível da organização
política se vão fazendo por consentimento tácito.
É desta forma que, no inicio do Principado, a competência legislativa deixa de ser
poder dos Comitia Centuriata e é entregue ao Senado. Não há, portanto, no
principado, Lex Rogata, sendo que a fonte de Direito por excelência é o senatus
consulta. O Senado é nomeado e controlado pelo Príncipe.
A nível do senatus consulta, este pode sair do Senado ou do Principe. O Prínceps
propunha ao Senado propostas de lei, apresentando um resumo da lei (preâmbulo),
mencionado o que gostaria que fosse regulado, como deveria ser regulado e que
sanções aplicar. Esta apresentação era feita oralmente sendo que depois o Senado
discutia a proposta e aprovava.
A Oratio prínceps assume-se como uma nova fonte de direito que surge nos finais do séc I e
lI d.c e que reflete a evolução dos Senatus consulta, por força da intervenção do Princeps no
Senado. Consiste na aprovação por parte do Senado da proposta inicial da lei feita apenas com
a indicação do conteúdo e do objeto da lei, sem necessidade de apresentar o conteúdo
dispositivo e sancionatório.
O Senado acaba por se auto retirar do poder legislativo visto que reconhece no príncipe uma
autoridade, pelo que tudo o que o príncipe propõe ao Senado é aprovado. Deixa de existir
Senatusconsulta e passa a existir Oratioprinceps.

ORATIO PRINCIPIS (IN SENATUS HABITAE)


"oratio principis in senatus habitae" significa "a oração do príncipe na casa do senado".
Encontramos uma evolução do papel do príncipe em matéria de construção legislativa.
Até ao início do principado, o Senado não vincula o populus romanum através dos seus
senatus consulta, sendo que este possuía um papel meramente consultivo. No entanto, a
partir do inicio do principado, nomeadamente a partir de Augusto, o Senado adquire um
papel legislativo, passando a ter funções de elaboração de leis, no sentido em que as leis que
emanam do Senado são os senatus consulta.
O Senado torna-se, portanto, o órgão de elaboração legislativa, por excelência, de Roma.
Adriano, imperador de 2 d.C., foi um dos grandes imperadores romanos que fizeram grandes
alterações em termos de poder politico, centralizado o mesmo na sua pessoa.
A partir deste imperador passa a ser comum o príncipe propor ao Senado os senatus
consulta que desejava ver aprovados. O Senado acaba portanto por perder o seu poder
legislativo porque acreditava que o Príncipe possui importância maior na própria elaboração
legislativa.
O príncipe apresenta, portanto, a oratio principis , uma apresentação preliminar das
intenções legislativas do príncipe, e o Senado limita-se a fazer a aprovação preliminar da
mesma. Os senatus consulta passam a ser aprovados a partir da oratio principis.
Trata-se de um período de decadência em Roma até ao fim do sec.II d.C. Depois da dinastia
dos Severos passa a existir apenas oratio principis, visto que o próprio príncipe deixa, com o
tempo, de ir ao Senado apresentar o que quer que seja.
Conclui-se que se o Senado aprova preliminarmente a proposta legislativa do príncipe sem a
discutir, não vale a pena fazê-las passar pelo Senado, pelo que, a partir do séc.III d.C., o
príncipe passa a fazer as leis sozinho. O Príncipe retira a competência legislativa do Senado e
esta passa a ser poder do Príncipe. As leis são constituições imperiais e consistem na
vontade expressa do príncipe (e depois do imperador) que vai vincular todo o império
romano.
O príncipe não faz tudo sozinho, no entanto, tendo a ajuda do seu concelho. O conselho do
príncipe é um conselho político constituído por homens da sua confiança, que o vão
aconselhar nas questões políticas e jurídicas, sobretudo no âmbito de proposta legislativas que
o príncipe queira apresentar ao senado para criação de senatus consultae.

TRANSFORMAÇÕES DURANTE O PERÍODO DO PRINCIPADO


Em termos sumários, verifica-se que, durante o principado, o Príncipe surge enquanto
consule vitalicio e proconsule, possuindo o poder de governar Roma, assumindo um poder
centralizado decorrente dos poderes de tribunitia potestas, e de imperium proconsulare
maius. O príncipe assume poder politico, retirando o mesmo ao Senado, sendo que, por outro
lado, retira a função legislativa aos Comitia Centuriata e a entrega ao Senado, que continua o
guardião dos Mores Maiorum e da tradição romana.
O príncipe cria o seu conselho, que o orienta e aconselha em todas as funções e reduz a
função de alguns dos magistrados, na medida que cria o funcionalismo.

O PRETOR E O SEU TRIBUNAL DURANTE O PERÍODO DO PRINCIPADO


Verifica-se que, com o principado, o pretor perde importância porque o príncipe vai criar um
novo tribunal que vai coexistir com o tribunal do pretor. O tribunal do príncipe tem
características diferentes do tribunal do pretor.
Com Augusto, o tribunal criado vai ser presidido por um juiz, enquanto aquele que conhece
o direito e o aplica, sendo este o titular do processo, aplicando, ouvindo e aprovando. Estes
dois tribunais possuem, portanto, diferenças a nível processual, de atuação, de funções e de
divisão.
O tribunal do Pretor aplicava o Direito e decidia os processos em nome do pretor, baseado
nos seus imperium e iurisdictio. Por sua vez, o juiz do tribunal do Príncipe aplicava o Direito e
decidia os processos em nome do príncipe, como se tivesse sido este a decidir.
Os cidadãos, de forma progressiva e lenta, vão ter maior confiança e respeito por uma
decisão tomada pelo juiz do príncipe, visto que equivale à decisão do próprio príncipe, em
detrimento da decisão decorrente do tribunal do pretor, que poderia ser revogada pela
decisão do príncipe.
Verifica-se, portanto, que tribunal do príncipe ganha importância, em detrimento do
tribunal do pretor.

A PERDA DOS PRETORES DO PODER LEGISLATIVO


Em 130 a.C., durante o principado de Adriano, este príncipe aprova uma obra que se chama
"Editum Perpetum de Adriano". Adriano vai ordenar a um jurista chamado Iulianus que
compile todos os edictos perpetuos (plano anual de governo) do pretor, colocando-os e
consolidando-os num livro. Após a sua publicação, os pretores deixam de apresentar edictos
anuais para serem eleitos, passando estes a aplicar o "Edictum Perpetum de Adriano". Desde os
finais do séc.I que os pretores não inovam, no entanto, ao decidir que o pretor não pode criar edictos
anuais, Augusto revoga o poder legislativo dos pretores. O pretor perde, portanto, a capacidade de
criar Direito e o Direito do pretor passa a estar todo compilado no "Editum Perpetum de Adriano". O
pretor limita-se a aplicar aquilo que os seus antecessores criaram e aplicaram. O recurso ao tribunal do
pretor vai ser menor, visto que mais vale ir ao tribunal do príncipe, que pode ser mais inovador do que o
tribunal do pretor

A EVOLUÇÃO DA CONCEÇÃO DE DIREITO


Existe uma evolução da própria conceção de Direito. O direito da Rexpublica era um direito
enquanto ius, mas, com o tempo, percebe-se que o direito passa a ser imposto pelo príncipe, pelo que
passamos do Ius para a Lex (lei pensava e aplicada pelo príncipe).
O direito enquanto Ius é criado casuisticamente (não arbitrariamente, mas sim pensado caso
a caso, o que permitia ao pretor alterar o ius civile perante os casos concretos). É a justiça do
caso concreto.
O direito enquanto Lex decorre do facto do direito deixar de ser casuístico. O direito passa a
ser pensado de forma geral e abstrata, para albergar todos os casos que se encontrem
naquelas circunstâncias. A generalidade e a abstração começam, progressivamente, a ser as
características principais do Direito romano
O Ius Vetus é, portanto, o direito da república e o Ius Novum é o direito da lex, da generalidade e da
abstração.

CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS
As constituições imperiais consistem na lei, propriamente dita, elaborada pelo imperador. É
a vontade manifestada pelo imperador/príncipe em matéria jurídica. O príncipe tem a
capacidade de elaborar constituições imperiais.
No séc. I as constituições têm apenas valor prático e não vinculativo. No séc. II, as
constituições são equiparáveis à lei. No séc. III as constituições são lei. A partir do séc. IV as
constituições imperiais são a única fonte de lei.
Entre o século I e os século IV as principais modalidades/tipos de constituições imperais são:
Edita
Constituição imperial de caráter geral proferida pelo imperador no âmbito dos poderes de
imperium proconsulare maius. É um exemplo o Édito de Caracala, de 212, que atribui a
cidadania a todos os habitantes livres do império, ou seja, a partir de 212, todos os
estrangeiros que habitam no império passam a ser considerados cidadãos romanos.
O Edito de Caracala permitiu que os estrangeiros também estivessem sujeitos ao Ius Civile.
Nesse sentido, o Ius Gentium passou a ser considerado como um direito corretor e integrador
das lacunas do Ius Civile. O Ius Gentium passa a ser considerado suprapositivo, ou seja, está
acima do Ius Civile, sendo o direito de todos. A génese do Direito Internacional Privado surge
do Ius Gentium.

Decreta
Decisão judicial pronunciada pelo imperador nos casos que lhe são submetidos para
apreciação. O imperador irá ter uma função judicial em sede de recurso pelo que das decisões
do tribunal do príncipe se podia apelar ao princípe.

Rescritpta
Decisões, ou seja, respostas, do imperador dadas por escrito a perguntas ou pedidos que
lhes são feitos pelos magistrados ou pelos particulares. Quando a pergunta é feita pelo
magistrado, esta chama-se consulta e a resposta do imperador é a epístola. Por sua vez,
quando a pergunta é formulada pelos particulares chama-se prece e a resposta do imperador
tem a designação de subscriptio.

Mandata
Ordens ou instruções do imperador aos governadores ou funcionários das províncias.
Normalmente a manata tem matéria de ordem política, administrativa, jurídica, civil e criminal.

Entre o séc. IV e 476, aquando da queda de Roma, há alterações na tipologia das


constituições imperiais:

Edicta
Leis gerais de aplicação a todo o império.

Rescritpta
Leis especiais que se reduzem às respostas aos magistrados, ou seja, ás epistolas.

Adnotationes
Respostas dos imperadores às preces feitas pelo povo.

Decreta
Mantem a sua vertente de decisão judicial proferida pelo imperador,

Pragmatica sanctio
Constituição imperial de aplicação regional. Tem matéria de ordem política, administrativa,
jurídica, civil e criminal.

JURISPRUDÊNCIA
Ao contrário do que ocorre atualmente, a iurisprudentia (jurisprudência) não é uma decisão
do tribunal, mas sim a opinião daqueles que pensavam o direito, ou seja, dos iuripudentes.
Pode ser comparado ao conceito atual de doutrina.

IURIS PRUDENTE
Ius + Prudens
Direito + Cauteloso
O jurisprudente é aquele que pensa o Direito em função do
justo e do injusto, e do certo e do errado.

Ulpiano diz o seguinte “O Direito é a arte do bom e do justo”(ius est ars boni et aequi): o
direito é a arte daquilo que é correto, verdadeiro, bom, justo (“atribuir a cada um o ser”
sendo que o seu é aquilo que cada um merece em cada momento). O Direito é, portanto, a
arte de argumentar, procurando os argumentos mais adequados para defender o certo e o
justo. Argumentos estes que não são certos. O Direito é a arte da probabilidade
argumentativa, o que significa que perante uma mesma situação, duas pessoas podem olhar
para a mesma e distinguir diferentes argumentos (decorrentes de diferentes perspetivas)
adequados para defender o mesmo. Para defender a sua posição, diferentes jurisprudentes
encontram diferentes argumentos para defender o que é bom e justo. O jurisprudente pensa o
Direito e procura argumentos justos e bons. Os iurisprudentes podiam pensar o Direito de
forma diversa.
O jurisprudente não é um magistrado ou oficial público, além disso não está vinculado a uma
entidade. O jurisprudente é alguém livre, sem qualquer conexão com as instâncias politicas
oficiais, que pensa o direito. O jurisprudente não possui imperium, potestas ou iurisdictio. O
poder do jurisprudente é, na verdade, o autorictas: o jurisprudente possui saber socialmente
reconhecido e o seu poder avém do reconhecimento que ele obtém da sociedade. As pessoas
pedem-lhe opiniões pois o seu saber e poder é socialmente reconhecido (visto que o
jurisprudente estudou aquela matéria, as suas soluções têm sido consensuais e consideradas
justas, etc. …). O jurisprudente é aquele que é conhecido por pensar o Direito.
Nos períodos da monarquia e da transição da monarquia para a república, os jurisprudentes
eram os patrícios e, essencialmente, os pontífices.
Há um processo evolutivo para laicizar a jurisprudência, ou seja, para retirar a jurisprudência
da sacralidade e do domínio dos pontífices que se dá durante a fase de transição e a fase da
república. A jurisprudência vai evoluindo no sentido de permitir que outros cidadãos possam
pensar no Direito. Sendo assim, este processo de laicização da jurisprudência passa por três
momentos: a Lei das XII Tábuas, o Ius Flavianum e, por fim, o ensino público do Direito.

A Lei das XII Tábuas reduz a escrito os Mores Maiorum e permite que todos aqueles que
são destinatários do Direito e pensam nele, o possam ler.
O Ius Flavianum corresponde ao “direito de Flávio”. Flávio era um escravo escriba do sumo
pontífice Ápio Claúdio. Ápio fica cego, ficando-se a saber que quem determinava o direito em
vez do próprio era Flávio, visto que este último, depois de tanto ajudar Ápio, aprendeu a
interpretar e aplicar Direito. O Ius Flavianum (304 a.C.) é um livro, escrito pelo próprio, que
reduz a escrito as fórmulas contratuais e as actios mais conhecidas. Isto leva a conclusões: não
é necessário ser-se pontífice para se conhecer e aplicar o direito (sendo que até os mais
desfavorecidos na sociedade podem fazê-lo). Este livro passa a estar acessível ao cidadão que
sabe ler e escrever e, sobretudo, àqueles que querem pensar o Direito.
O ensino público do Direito por Tibério Coruncânio, sendo este o primeiro plebeu a ser
sumo pontífice em Roma pelo que a sua função era ler os augúrios e ajudar a ler e a aplicar o
direito. No entanto, este não o faz sozinho, na obscuridade, sendo que, na verdade, ele fá-lo
em praça pública. Este era interpelado pelos cidadãos em praça pública e este explica-lhes o
pensamento do direito, fazendo com que um conjunto de homens aprenda com ele,
percebendo o conteúdo e a aplicação do direito, e tornando-se jurisprudentes. Trata-se de
uma escola de interpretação do direito, de forma pública. A partir de Coruncânio, os
jurisprudentes não são necessariamente pontífices, mas também homens que aprenderam o
direito.
Evidencia-se aqui a laicização do direito. Trata-se de uma evolução de uma jurisprudência
sacramental para um direito que pode ser pensado por todos.
As funções do jurisprudente são:
 CAVERE: Aconselhamento a particulares sobre a realização de negócios jurídicos (ou
seja, o jurisprudente aconselha o cidadão sobre a celebração dos negócios jurídicos:
qual o melhor negócio jurídico a celebrar, quais são as palavras certas para estabelecer
o negócio, etc.)
 AGERE: Acompanhamento dos cidadãos em tribunal (ou seja, acompanhar o cidadão
romano no tribunal de pretor, de forma a ajudá-lo a dizer as palavras certas);
 RESPONDERE: Capacidade de dar pareceres/opiniões sobre determinadas situações
concretas que lhe são submetidas (que pode ter como destinatários os cidadãos que
colocavam questões, ou até os magistrados).
O jurisprudente acaba por constituir um dos pivôs mais importantes da construção do direito
no período da república romana pois ele era aquele que pensava o direito. A jurisprudência é a
fonte primordial na construção de um direito, próprio da república, pensado em ius.
Conseguimos conhecer a jurisprudência da República porque jurisprudentes posteriores,
conhecendo as posições dos seus anteriores, vão assumir, nas suas obras, estas mesmas
posições.
Falamos numa jurisprudência livre, visto que os pensadores do Direito estão apenas
vinculados a si próprios e a quem os consultam.
No início da era cristã, estima-se que existissem cerca de 300 jurisprudentes em Roma, o que
podia ser causa de instabilidade e insegurança jurídica visto que a possibilidade de existirem
tantos jurisprudentes e se poder pedir opiniões a vários jurisprudentes, leva á confusão e
incerteza do cidadão relativamente a que opinião levar ao pretor.
‘« Ou seja, aquilo que estes jurisprudentes dizem vincula o príncipe, no sentido em que o
príncipe considera que aquilo que estes jurisprudentes dizem coaduna com aquilo que ele
pensa. Desta forma, Augusto forma uma lista de 30 jurisprudentes a quem concede ius publice
respondendi: as opiniões destes 30 homens são opiniões oficiais, pelo que, perante o tribunal
(do pretor ou do príncipe), se as partes levarem um parecer de um destes jurisprudentes, quer
o pretor quer o juiz do tribunal do príncipe estão vinculados a esta opinião.
Isto leva ao início da funcionalização do jurisprudente, tornando-se um funcionário do
príncipe.
Quando há divergência entre opiniões de jurisprudentes com ius publice respondendi, o juíz
segue aquela que lhe parecer mais justa para a resolução do caso concreto.
Em bom rigor, a jurisprudência que subsiste até à atualidade é a jurisprudência dos
pensadores do direito com ius publice respondendi, ou seja, é o direito romano que os
príncipes quiseram que permanecesse no futuro.
O pensamento da jurisprudência ficou, até hoje, base em “5 princípes do direito”: Papiniano,
Gaio, Ulpiano, Paulo e Modestino. Todos possuíram ius publice respondendi, menos Gaio, que
não se sabe se, de facto, existiu. Embora tenha deixado uma obra muito importante no âmbito
do direito romano, não consta o nome deste nas listas. Supõe-se que Gaio (“Gaius”)
corresponda ao acrónimo de 5 juristas.
O direito dos jurisprudentes do príncipe vinculava, o do outro não.Passamos a ter uma
doutrina oficial em Roma a partir do ius publice respondendi que depois vai ser publicada no
Digesto, por intenção de Justiano.
Embora o ius publice respondendi fosse, de acordo com o Augusto, uma forma de proteger a
jurisprudência e oferecer segurança aos civis, a verdade é que este surge como um
instrumento de controlo da interpretação do Direito e do próprio Direito.

Augusto estabeleceu, no âmbito na República e de forma paulatina, alterações. Alterações


estas que eram apontadas pelos jurisprudentes, visto que eram as únicos que podiam dizer
que a República estava a ser “morta” e desvirtuada, pois não eram vinculados pelo Imperador.
A partir do ius publice respondendi passamos a ter a primeiro doutrina oficial em Roma que
mais tarde vai ser compilada no Digesto.
As Institutas de Gaio já no século III dividem o seu (pequeno) livro em 4 partes - pessoas,
contratos, família e sucessões - que nós mantemos até hoje na divisão do Código Civil.
A evolução começa a partir do século 4 d.C sendo que neste século começla a haver uma
necessidade de reorganizar a jurisprudência, visto que no século IV já estava mais que
sedimentada a doutrina de vários jurisprudentes: as Institutas de Gaio, as sentenças de Paulo,
o pensamento de Papiniano e de Ulpiano (provenientes de uma pluralidade de homens já com
ius publice respondendi).

Evidencia-se que mesmo as três grandes escolas de Direito (Roma, Constantinopla e Beirute)
têm duvidas e contraposições, o que faz os imperadores quererem tomar posições. Nesse
sentido, são criadas constituições imperais para se determinar que jurisprudência se devia ler.
Em 332 surge a Constituição de Constantino que afirma que os tribunais têm de ser claros na
indicação das fontes, sendo proibido aos mesmos criar constituições sem citar a sua data e os
seus atores.
Em 321 torna-se proibido em tribunal a invocação dos comentários de Paulo e Ulpiano se
contrários ao pensamento e escritos de Papiniano. É, portanto, Papiniano o jurisprudente de
excelência. Papiniano foi considerado aquele que possuía um pensamento mais justo e mais
adequado á prossecução da justiça romana, daí a sua importância.
Por sua vez, em 328, as sentenças de Paulo devem ser tidas como fonte primária das
decisões dos juízes desde que não contrariem Papiniano. Existe uma importância central de
Papiniano.
A Lei das Citações é a lei mais importante para oficializar a jurisprudência. A Lei das
Citações, de 7 de novembro de 426, é do imperador Valentiniano III. Esta constituição foi
aprovada anteriormente por uma io prínceps. Tem como destinatário direito os tribunais. Fala-
se no termos “tribunal dos mortos” porque todos os jurisprudentes em causa estavam mortos.
Esta Lei fixa/determina os 5 jurisprudentes que podem ser aceites pelo juiz: os 5 príncipes do
Direito (Papiniano, Paulo, Gaio, Ulpiano, Modestino).
Por sua vez, através da mesma
 mantém-se o afastamento das notas criticas de Paulo e Ulpiano ao pensamento de
Papiniano;
 confirma-se a autoridade como fonte primária das Pauli Sententiae.
 confirma-se a autorictas dos vários compiladores do Direito em matéria de doutrina a
ser invocada em tribunal , ou seja, a doutrina pode ser invocada em tribunal sobretudo
se forem as opiniões de Papiniano, Paulo e Ulpiano.
 fixa-se o critério quantitativo e o critério qualitativo de invocação das opiniões:
o critério quantitativo das opiniões: o juiz perante opiniões diversas dos 5
príncipes, deve seguir a opinião quantitativa, ou seja deve seguir a opinião
adotada pelo maior número dos 5 jurisprudentes – autoridade dos números.
o critério qualitativo das opiniões: se houver empate relativamente à opinião
quantitativa, segue-se a opinião de Papiniano. Se Papiniano não tiver
expressado opinião nessa matéria, então o juiz segue a opinião quer considera
justa.
A QUEDA DO PRINCIPADO
O fim do período do Principado ocorre por variadíssimas razões, sendo que o mesmo
ocorreu tendo subjacente a ideia de uma destruturação do império.
O império romano cresceu muito e isso levou a uma grande dificuldade por parte de Roma,
enquanto poder político, em governar o território, originando imensas lutas, especialmente
entre o imperador de Roma e os governadores de outras regiões.
Esta destruturação deu-se de forma lenta, tendo demorado séculos, e corresponde a um
verdadeiro movimento migratório, na medida em que entraram no império romano, nas suas
províncias, povos que vieram da região do oriente, aos quais os romanos
hyu77uyuyuchamavam “bárbaros”, visto que não eram latinizados/romanizados. Estes povos
vão instalar-se e permanecer em Roma, mantendo a sua cultura, mas, ao mesmo tempo,
romanizando-se lentamente.
Por necessidade de defesa do império as pessoas provenientes destes povos “bárbaros”
acedem ao exército, tendo acesso a armas. Entende-se que Roma cai porque perdeu os
valores morais, deixando de cumprir a tradição e, como tal, deixou de poder defender a
romanidade e os princípios, presentes nos mores maiorum, que sempre regularam Roma. O
império foi criado na base destes princípios e, por conseguinte, precisa deles para se manter.
Por outro lado, o fim do Principado também ocorreu devido à redução do número de
escravos: os romanos não trabalhavam, na medida em que, ou iam para a guerra ou então
tinham atividades de superintendência, pelo que, não havendo escravos deixa de possuir mão
de obra para a produtividade.
Entenda-se, ainda, que o cristianismo foi essencial para o “início do fim”, ou seja, destruição,
do império de Roma. Roma foi unida na conceção de que o príncipe possuía poderes divinos,
no entanto, o cristianismo vem contestar a deificação do imperador, ao introduzir o conceito
de “pessoa”. Até então só existiam “cidadãos em Rom”a, e o cidadão é cidadão pois possui
direito de propriedade. No entanto, as pessoas eram, para os cristãos, aqueles que eram feitos
á imagem de Deus, independentemente de serem escravos, servos, cidadãos, etc., conceito
este que se entranha no direito romano e permite chegar a uma com conclusão:
o imperador não é Deus, sendo, na verdade, uma pessoa igual às outras.
Quando o cristianismo é adotado, através do Édito de Milão de 313 de Constantino e do
Édito de Salónica de 380, isto dá origem a uma mudança da conceção de imperador no âmbito
do povo, na medida em que se entende que o imperador tem apenas poder político que,
efetivamente, lhe pode ser retirado.

DOMINADO
O Dominado centra-se num objetivo: centralizar o poder e lutar contra a desagregação do
império.
O Dominado vai surgir em 285 com Diocleciano, que vai manter a autoridade imperial e
aumentá-la, defendendo uma nova romanização, feita através da criação de um aparelho de
funcionários, militares e públicos, espalhados por todo o império de forma a garantir a
hierarquia e a união de todo o império, e da organização militar, dependente de si, de forma a
garantir que lhe é fiel, garantindo também a união do império. Por outro lado, vai submeter ao
seu poder os governadores de forma que respondam perante si. Por fim, altera as práticas
tributárias de forma que a receita pública chegue a Roma.
Durante o Reino de Diocleciano isto funcionou, mas, posteriormente, isso deixa de ocorrer,
na medida em que Diocleciano percebe que era ele quem mantinha o império unido e que,
depois da sua morte, isso deixaria de ocorrer. Dessa forma, antes da sua morte institui uma
nova forma de governo que consiste numa tetrarquia, com posta por, portanto, quatro
pessoas: Diocleciano e Maximiano e duas pessoas que lhes deveriam suceder, ou seja, Galério
e Constâncio.
Desta forma, ele divide o império em dois, o Império do Ocidente e o Império do Oriente,
com um sucessor nomeado. Eles acreditavam que assim assegurariam a sucessão. No entanto,
Constâncio morre antes de Maximiano, seu antecessor, e, por conseguinte, a tetrarquia cai.
Diocleciano é imperador durante quase 2 décadas, indo buscar inspiração até aos modelos
elementais orientais, designadamente os persas, ou seja, possui um poder teocrático
absoluto, numa lógica de reforço do poder imperial. Nessa medida, Diocleciano cria um órgão
consistório que é um novo órgão de aconselhamento á figura de imperador que, em boa
medida, substitui o antigo concilio principis : consistorium sacrum.
No entanto, Diocleciano vai também, através da tetrarquia, operar a primeira divisão do
império romano em dois: do ocidente e do oriente. Nessa medida, na prática, recruta um
outro imperador para a parte ocidental. Dá-se um governo paralelo de dois imperadores. Esta
é uma primeira divisão do império em dois que apenas funcionará durante alguns anos visto
que perante a saída do imperador Diocleciano, por vontade do exército volta a só existir um
imperador único- Constantino.
Centralizado de novo no poder imperial, mantêm-se, todavia, duas capitais: a importância de
Constantinopla está assegurada paralelamente a Roma e este período entre Diocleciano e
Constantino consiste num princípio do fim da própria realidade imperial romana porque, com
a morte de Constantino, temos um regresso de enorme instabilidade político e conflito militar.
No final do séc. IV o império é definitivamente separado em dois, sendo que a queda de Roma
definitiva se dá em 476.

O DIREITO ROMANO E A SUA COMPILAÇÃO


Do ponto de vista do Direito, este período é caracterizado por basicamente processos de
compilação de legislação imperial, ou seja, de, sobretudo, mas não só, constituições imperiais.
Não é, portanto, um período de especial inovação, mantendo-se o controlo e limitação da
jurisprudência, na medida em que é neste período que surge a Lei das Citações, afirmando as
opiniões jurisprudenciais que são mais valorizadas, nomeadamente de Papiniano, sendo que
apenas estas vinculam os tribunais.
Paralelamente a esta decisão sobre a jurisprudência aquilo que temos é que criar Direito
consiste na formulação de constituições imperiais. E, nesse sentido, encontramos a partir do
séc. III o movimento compilatório do Direito, ou seja, de constituições imperiais, de forma a
tornar mais claro o Direito que deverá ser aplicado.
Esta compilação dá-se por iniciativa privada, na medida em que são juristas que acabam por
consolidar e organizar diferentes leis, algo que interessa ao próprio poder, visto que isso
oferece uma versão mais integral e completa do Direito imperial que será aplicado.
Uma dessas compilações é o Código Gregoriano: direito produzido no império oriental que
não tem um caráter oficial e que, por conseguinte, não lhe dá um caracter específico por parte
do imperador, mas que acaba por servir enquanto exemplo e instrumento de trabalho para os
juristas romanos dessa altura e posteriores.
Trata-se de um tempo em que não há imprensa e, portanto, o acesso a informação é
muitíssimo mais dificultado. Estas compilações eram obras de grande dimensão e cópias de
livros á mão que tinham como função a partilha e a uniformização do Direito.
Estas compilações servem enquanto trabalhos preparatórios de codificações que
encontraremos a partir do séc. V, já de caráter oficial e uma intenção declarada, relativamente
á sua feitura, por parte do Imperador. É o que ocorre com o Código de Teodósio.
Este Código de Teodósio é também uma obra vasta organizada em 16 livros com
constituições imperiais, desde o período do Imperador Constantino. Inicialmente o objetivo
era que incluísse também jurisprudência com ius publice respondendi, mas esta não chega a
ser produzida e, portanto, este Código é publicado enquanto compilação de, unicamente,
constituições imperiais.
Uma das particularidades que encontramos no Código Gregoriano é o facto de, apesar de
estarmos a falar de direito romano originariamente oriental, mas depois posto a vigorar no
ocidente, sabemos que, poucas décadas depois, temos uma segmentação do Império Romano
do Ocidente em diferentes reinos, decorrente da invasão bárbara.
Na Península Ibérica, o povo que se estabelece de forma mais duradoura a partir do séc. V é o
povo visigótico, já depois de terem passado na Península Itálica. Desta forma, o direito
visigodo integra elementos do Direito Romano: conteúdos que encontramos nas
constituições imperiais recolhidas no Código Teodosiano. Os visigodos, quando chegam á
Península Ibérica, aplicam este direito.
Há direitos que são aplicados a nível territorial, na medida em que se aplicam
indiferenciadamente a todas as pessoas que estejam num determinado território, e outros a
nível pessoal, na medida em que se aplicam em função das características especificas de um
determinado grupo de pessoas.
O Direito do período visigótico que encontramos na península ibérica podia ser de aplicação
territorial ou pessoal e, nos primeiros períodos de estabelecimento deste povo, grande parte
da população que se encontrava na península não era originariamente visigoda, sendo que
estava integrada no império romano do ocidente e aplicaria direito romano.
Quando se aplica o Direito formal é o Direito Romano pelo que não há rutura
relativamente ao direito aplicado.
A última grande compilação de Direito Romano é Corpus Iuris Civilis, que resulta de um
esforço intencional de compilação não só de legislação, mas também de jurisprudência. Esse
vai ser o grande repositório do Direito Romano que é passado na história, século após século,
chegando aos nossos dias.
É o Corpus Iuris Civilis, composto por direito romano cristianizado, ou seja, posto em
conformidade com o Cristianismo, que depois vai ser usado no espaço da Europa que não fazia
parte do Império Romano pela sua fácil associação ao direito canónico.
As universidades vão estudar e ensinar direito canónico, surgindo estas enquanto
instituições religiosas, e direito romano.
Entenda-se, portanto que o Código Gregoriano e o Código Geminiano são códigos privados,
ou seja, códigos de juristas, que compilam constituições imperiais. Por sua vez, o Código
Teodosiano inicia o processo oficial de codificação, embora o seu objetivo não tenha sido
conseguido.
O próximo sistema de Codificação é o de Justiniano, alguém que tem um grande objetivo de
fazer ressurgir o grande império na sua totalidade. Justiniano consegue conquistar a Península
Itálica, mas os povos germânicos fazem-no voltar ao Oriente e, nesse sentido, não tem o seu
objetivo de unir os territórios cumprido.
Justiniano encarrega Triboniano, oriundo da escola de Beirute e grande estudioso da
jurisprudência e das constituições imperiais, de começar o trabalho codificador: Código,
Digesto, Institutas e as Novelas.
O Códex, ou seja, Código, é dividido em 12 livros e é uma compilação de constituições
imperiais, integrando unicamente lex. O Códex teve duas edições, tendo sido a primeira, à
qual se chama Códex Velho, em 529, e a segunda em 534. Trata-se do direito dos imperadores.
O Digesto é composto por 50 livros. Tem a sua publicação em 533 e em grego chama-se
“Pandectas”. O Digesto é a obra magna do Código de Justiniano, sendo constituindo por iura,
ou seja, doutrina dos jurisprudentes com ius publice respondendi. É através desta obra que se
conhece toda a evolução do direito romano e as opiniões dos jurisprudentes relativas á
solução de casos concretos. O Digesto constitui, por isso, a obra mais utilizada até aos dias de
hoje, mais ainda do que o Códex (possui lex datadas).
As Instituições são um manual escolar para o ensino do Direito, surgindo em 534, e dividem
o ensino do Direito em quatro áreas: Contrato, Coisas, Família e Sucessões. As Institutas têm
um preâmbulo que inclui duas matérias essenciais: interpretação da lei e aplicação da lei no
tempo. A este preâmbulo Justiniano dá força de lei: é a partir do preâmbulo que se conhecem
as regras de interpretação do Direito e da sua aplicação do tempo.
As Novelas (do “novelae” que significa nova lei) é um livro compilatório de constituições
imperiais, ou seja, lex, que não estão consagradas no Códex.
Os juristas afirmam que o Código de Justiniano apenas possui 30% do Direito criado até
então, sendo que Triboniano terá escolhido a informação mais relevante. O Código de
Justiniano não é Direito romano clássico, mas sim direito interpolado, ou seja, direito
modificado, sobretudo no que toca á língua (o latim utilizado durante a República e durante o
Dominado é diferente, tendo passado por uma evolução), além de se ter dado por força do
próprio Cristianismo, que introduz o conceito de pessoa, e pela própria experiência do
Oriente.
O Direito Romano que vai aplicado ao longo dos séculos é essencialmente direito romano de
Triboniano, ou seja, o direito romano que Triboniano quis que passasse para as gerações
futuras. O Código de Justiniano foi aprovado através da Constituição Tanta.
O direito romano vai ser aplicado, a partir de Justiniano, até à atualidade. O Digesto foi a
obra utilizada para ensinar o Direito em Portugal até à reforma do ensino público de 1772. O
Códex foi uma disciplina, ensinando as constituições imperais, porque os reis europeus
pensavam que, da mesma forma que os romanos impunham o seu poder através das
constituições imperais, também eles poderiam assim impor o seu poder.
O Código de Justiniano, apesar de ser direito interpolado, é uma obra do império romano do
oriente, pelo que, depois da queda do império do ocidente, o direito justiniano continua-se a
desenvolver e aplicar no Oriente.
Por sua vez, no Ocidente aplica-se direito romano vulgar, ou seja, direito criado pelos
romanos, mas alterado pelo Cristianismo e pelos povos que vão ocupar os diversos territórios
europeus. Tenha-se, por exemplo, o Direito Visigótico, uma mistura do direito dos povos
visigodos com uma mistura daquilo que iram apreender do direito romano justiniano.
O Digesto, mais do que o Código, foi a principal fonte de Direito e obra jurídica até à Idade
Média porque o Digesto é doutrina dos jurisprudentes, ou seja, direito puro, ou seja, o
pensamento dos juristas para a resolução do caso concreto mediante a solução justa. É
doutrina oficial, de jurisprudentes com ius publice respondendi e no seguimento da Lei das
Citações.
FONTES DE DIREITO
MONAQUIA REPÚBLICA PRINCIPADO DOMINADO
MORES X X X X
MAIORUM
LEIS X X X
DA XII TÁBUAS ----- (surge em 450 a.C) (muito residual)

X
LEGES ---- (Lex Rogata e Plebiscitum – ---- ----
Comitia)
X X X X
JURISPRUDÊNCIA (Sacerdotal) (Laicização/Auge) (ius publice (Lei das Citações)
respondendi)
X
CONSUETUDO X X X (reação ao poder
autoritário do
príncipe)
X
IUS ---- X (130 – edictum ----
PRAETORIUM (Lex Liciniae Sextiae) perpetum de
Adriano)
IUS X X
HONORARIUM
SENATUS X X X
CONSULTA (caráter (caráter (caráter (oratio
consultivo) consultivo) vinculativo) prínceps)
CONSTITUIÇÕES X X
IMPERIAIS (valor residual)

NOTA
IUS HONORARIUM – Consul, Tribuno da Plebe, Edil, Questor e Censor

MONARQUIA: mores maiorum, jurisprudência (através da intrerpretação dos mores maiorum por parte
dos pontífices), há consuetudo (residual) e senatus consulta

REPÚBLICA: mores maiorum (fiscalização das legis através do Senado -autorictas patrum), Jurisprudência
(aconselha os magistrados – pretor, inspirando o ius pretorium), Ius honorarium, Senatus Consulta, Legis

PRINCIPADO: Jurisprudência e Senatus Consulta

Com a redução dos órgãos de Roma, devido á sua perda de poder e relevância, há menos fontes de
Direito. Daí o facto de se dizer que a República é o período clássico do Direito Romano.
Centralização dos poderes no principe-

DOMINADO: Constituições imperiais. A jurisprudência é aplicada se o Imperador assim declarar – Lei das
Citações é uma Constituição Imperial. O consuetudo renasce e o Imperador diz que tudo aquilo que for
contrário á sua lei (costume contra legem) não se aplica. As outras fontes só se aplicam quando o
Imperador assim declarar.

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