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FDCE (T)

Datas
753 AC a 130 AC: época arcaica
130 AC a 230 DC: época clássica
130 AC a 30 AC: época pré-clássica
30 AC a 130 DC: clássica central
130 DC a 230 DC: clássica tardia
230 a 530: época pós-clássica
530-565: época justinianeia

República romana: 509 AC a 27 AC


Império Romano: 27 AC a 395 DC
Império ocidental: 395 a 476
Império oriental: 395 a 1453

O direito romano

Enquadramento histórico
753 AC: data provável da fundação de Roma

• Época arcaica – 753 AC a 130 AC


Nessa época nasce a primeira lei escrita, na verdade um conjunto de leis, chamada a
lei das 12 tábuas que surge no século 5º AC.
No ano 242 AC nasce o ius civile, direito criado por certos magistrados (funcionário do
poder público dotado de autoridade), que é aplicado nos tribunais pelo pretor (juiz
supremo). É um direito muito formalista, com palavras rigorosas e é dirigido somente
aos cidadãos romanos. Quando Roma começa a expandir-se, forma-se um problema:
o direito romano só se aplica aos cidadãos romanos, e não aos estrangeiros. Roma foi
então obrigada a encontrar outro direito que se adaptasse: o ius gentium, que se
traduz por “direito da gente”, direcionado aos estrangeiros. Esse direito vem com uma
noção da diversidade: perceber o que é e funciona para todos e não só para alguns.
Algumas figuras jurídicas (alguém ou algo que tenha capacidade de resolver situações
jurídicas) atuais provêm desse direito. Roma possui essa vocação universalista de criar
figuras jurídicas intemporais e adaptadas a todos. Com o ius civile o direito romano
era nacionalista, mas depois com o ius gentium passou a ser universalista. Um pretor
urbano aplicava o ius civile aos cidadãos urbanos e um pretor peregrino aplicava o ius
gentium aos estrangeiros. O direito romano geral aplicava-se aos habitantes do
Império Romano e depois da queda do império do ocidente, aos habitantes do império
do oriente.

• Época clássica – 130 AC a 230 DC


Época da perfeição do direito romano que começa por uma lei do processo civil
romano, que diz que os magistrados podem criar direito (atualmente, os magistrados
não o podem fazer). As fontes de direito na altura:
a) Lex rogata - rogar, pedir a lei: o magistrado apresentava a lei e pedia que fosse
aprovada pela assembleia. Quando aprovada, tornava-se uma lei oficial.

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b) Senatusconsulto - leis aprovadas pelo Senado (assembleia que constituía o
conselho supremo de Roma).
c) Jurisprudentia - consiste em doutrinas (aquilo que resulta dos pensamentos
dos grandes professores). O Direito Romano tinha uma construção
jurisprudencial: implica a existência de tribunais (ordens de resolução de
conflitos). A sociedade precisa de órgãos objetivos para resolver os conflitos, ou
seja, terceiros que não tenham qualquer interesse no caso: é para isso que
servem os magistrados. A jurisprudência é a regra que resulta da resolução de
um caso concreto.
d) Ius honorarium - vem corrigir o ius civile e o ius gentium: é um direito criado
por magistrados, cuja finalidade de qualquer um é de realizar a justiça, e não
necessariamente de aplicar a lei a todos os custos pois ela pode ser injusta. A
época do ius honorarium é a época da fonte de direito, das grandes escolas de
direito.
Até 27 AC a república atribuía aos magistrados meios para que pudessem viver pois
não tinham rendimento.
Em 27 AC, Roma ocupa o Egito e está a viver uma instabilidade política (a república
romana está a chegar ao fim). O Senado encarrega Augusto (fundador do Império
romano) de pacificar Roma pois ele está a ocupar o Egipto (conflito). Ele consegue-o
fazer e afasta-se da vida política por vontade própria, mas o Senado pede para ele ficar
e ele aceita com uma condição: a de ser prínceps (o que fica em 1º lugar). O Senado
concede-lhe essa vontade e ele passa a ser o imperador César. As políticas que
implementam vão ter efeito sobre toda a política de Roma, levando-a à cadencia.
O Senado é quem tem a posse do poder político, quem faz as leis. O prínceps tem
muito pouco poder, nem o poder militar lhe pertence. Mas o Senado é um órgão
pequeno que ele consegue controlar bem: ele foi retirando os poderes políticos ao
Senado, atribuindo-lhe poderes legislativos. Desaparece então a lex rogata. Porque o
Senado nunca coloca o poder em questão (nem quer porque ele é o imperador), ele
começa a fazer as leis sozinho (constituição imperial): o Senado perde igualmente
todo o poder legislativo. Os magistrados podem, no entanto, afastar a lei se a acharem
injusta. Então o imperador contrata-os e paga-lhes um salário: eram condenados à
morte se não aprovassem a lei dele.

• Época pós-clássica – 230 DC a 530 DC


Em 230 AC é o início da decadência do direito romano pois a concentração do poder é
depositada no imperador. Ele e a lei que ele impõe passam a ser a única fonte de
direito: lei = direito. A partir dessa data começa a época chamada de “confusão”, a
vulgarização do direito romano. O que interessava era a cobrança de impostos, o
direito militar e administrativo, não o direito civil. Esta decadência vai dividir o
Império Romano em 395: oriente e ocidente.
a) No ocidente: continua a decadência até 476 e o império cai. Perde-se tudo
conquistado por Roma. Nesse século entramos na idade média profunda até ao
século 15: invasão dos povos germânicos chamados “bárbaros”, com direitos
não escritos. A estrutura romana construída até aí desaparece por inteiro.
b) No oriente: o direito romano continua a desenvolver-se, é a ascensão do
direito romano. Temos o imperador Justiniano (530-565), bastante ambicioso.
Nessa época existem os melhores juristas, as melhores escolas do estudo de

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direito. No século 6º aparece a obra Corpus Iuris Civilis, que é na verdade uma
compilação de direito, que contém o direito romano da época clássica. Em
1453 o império do oriente cai. A obra não é conhecida do ocidente, pois a igreja
católica mantém o assunto em segredo e quase ninguém sabia ler (em latim).
Só lá chega no século 12, a Itália, em Ravena. A obra é estudada em Bolonha,
onde nasce a primeira universidade do ocidente. Eles leem a obra, mas não a
conseguem decifrar nem perceber pois ela está demasiado bem elaborada com
termos técnico-jurídicos. Porém, a obra é aplicada nos tribunais e ensinada nas
universidades até ao século 19.
Surge o primeiro código civil (francês) em 1804, o código civil português em 1867 e o
alemão em 1900, o francês e o alemão sendo os principais. Eles vão revogar o direito
romano, mas ele deixa de ser aplicado formalmente Þ influência do direito romano
no direito europeu

Época arcaica, época de indecisão (753-130 AC)


Até 242 AC, o direito romano era nacionalista (ius civile), mas torna-se um direito
universalista até 130 AC (ius gentium, menos formal e rigoroso que o ius civile). O
direito romano vai adquirir uma vocação universalista.
É uma época onde se mistura o religioso com o jurídico, leva muito tempo a separação
desses conceitos. Evolução lenta do direito romano pois nunca quiseram uma rutura
com o passado. Nesta época as instituições jurídicas são rudimentares. As formações
destas são lentas. A lei das 12 tábuas todos tinham que saber de cor, era ensinada nas
escolas.
A lex aquilia de damno, também conhecida por responsabilidade aquiliana, é a lei da
resolução de estragos: artigo 483º CC.

Época clássica (130 AC-230 DC)


Roma é uma república desde 509 AC que termina em 27 AC quando entra na fase
imperial. O direito da época clássica vai estar na compilação (CIC) do imperador
Justiniano e chega até nós.
Existem assembleias populares que aprovam a lei (poder legislativo do povo).
Direito romano: ius civile e ius honorarium (direito dos magistrados). Eles podiam
afastar a lei ou mesmo criar um direito novo. Esse direito é quase todo criado pelo
pretor (ius pretorium).
Os magistrados criam direito novo se a lei não disser nada sobre uma matéria
específica. Eles criavam um modelo a partir de casos concretos. Entre novos problemas
os magistrados conseguiram distinguir o jurídico e o não jurídico, ou seja, o que era ou
não juridicamente relevante (ou seja, têm de saber abstrair-se dos próprios princípios)
e criaram novas figuras jurídicas (que vão ser fonte de direito) que chegaram aos
nossos dias e criaram um grande sentido de justiça e uma grande intuição jurídica Þ
estilização casuística
Época clássica tardia (130 DC a 230 DC): nesta época vamos assistir à decadência do
direito romano. O imperador César vai centrar o poder nele, as diversas fontes de
direito vão desaparecendo, a única que permanece é a constituição imperial. Os
magistrados vão deixar de criar direito novo.

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Época pós-clássica (230 DC-530 DC)
Decadência profunda do direito romano
Separação definitiva em 395: 2 impérios (oriente e ocidente)
230-395: já existe uma decadência do direito romano porque o imperador considera-
se deus e tem em si todos os poderes. Nesta época cria-se a confusão entre lei, direito
e justiça (termos idênticos na época). A única lei que conta é a do imperador
(constituição imperial).
O império está corrupto, a administração imperial está em decadência, direito em
crise, tem falta de rigor, sem intenção jurídica. O cristianismo também ajuda nessa
decadência. Os doutores de direito têm obras muito pobres.
A partir de 395: o império do ocidente estava a cair, os povos germânicos invadem-no
e em 476 ele cai. Eles trazem um direito não escrito, um direito romano muito
vulgarizado, rudimentar, com práticas bárbaras e agressivas. O direito romano passa a
ser uma simples referência.
No oriente, a partir de 395: reação de afastar o direito romano vulgar= anti
vulgarização. Época de ascensão do direito romano com o imperador Justiniano em
530, que se caracteriza como o regresso da época clássica. É dita uma época classicista.
O classicismo e a helenização (influência grega) contribuem ao crescimento do direito
romano.

De 530 a 565 foi a época justinianeia. Ele queria voltar a recuperar o império do
ocidente, mas não conseguiu no aspeto político. Ele elabora uma grande compilação
de direito em 530 que se chama Corpus Iuris Civilis e que vai buscar muito do direito
da época clássica. A primeira parte institutiones é uma introdução que tem 4 livros. A
segunda parte pandectae ou digesta: contém fragmentos de obras de jurisconsulto,
contém direito (o Ius), que provém da época clássica (50 livros). A parte codex contém
diversas constituições imperiais (12 livros). A última parte da obra é intitulada
novellae, constituições imperiais depois do codex estar encerrado.
565: morte de Justiniano. Ele proibiu que a obra sofresse qualquer alteração, o que
não foi respeitado, mas ela continua em vigor até ao início do século 20.
Fim da idade média: século 15, quando o império do oriente cai.
No século 12 algo muda no oriente: vive-se uma época de paz, aparece alguma
economia, feiras a funcionar etc. Com o avanço do império muçulmano, há uma fuga
de juristas para o ocidente. O CIC aparece no ocidente no século 12. Uma escola
chamada Glosadores tenta perceber o que está escrito na obra, mas não consegue. A
escola Comentadores tenta interpretar o espírito da obra. No século 16 com a
Renascença (regresso à época do classicismo) começa-se a estudar com mais
profundidade o direito romano e ensina-se nas universidades.
No século 19 há uma escola alemã chamada usus modernus pandectrum que vai
decidir o que faz sentido aplicar (nessa época) do direito romano e o que não faz. Até
1867, esse direito foi aplicado nos tribunais portugueses. Século 19, a época dos
códigos civis: esses códigos contêm direito romano Þ supervivência e influência do
direito romano

Direito das obrigações

Sou proprietário de uma caneta: tenho direito real sobre ela

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• Poder direto sobre a res
• Não preciso da colaboração de ninguém
• Ninguém pode mexer sem autorização
• Direito com eficácia erga omnes: direito que se aplica a todos
• Essa eficácia erga omnes gera uma obrigação passiva universal – não precisam
fazer nada, só não mexer, não fazer nada
Direito real (versa sobre coisas): poder direto imediato sobre uma coisa, não
precisando da colaboração de ninguém, com a eficácia erga omnes, que gera a
obrigação passiva universal (igual ao direito romano).
Princípio da tipicidade: só existem os direitos reais que estão exaustivamente listados
na lei
Direito obrigacional – é um vínculo jurídico entre pessoas. O credor tem direito de
crédito sobre o devedor, e esse crédito só se realiza integralmente quando o devedor
cumpre a sua obrigação.
Direito de natureza obrigacional – é um direito que depende do comportamento do
devedor, por ex. o direito de crédito precisa da colaboração do devedor. Os direitos
obrigacionais são direitos a comportamentos de alguém: o meu direito dirige-se aos
comportamentos de alguém.
As obrigações só produzem efeitos entre as partes, não produzem efeitos com
terceiros.
Desde que não se viole a lei, há liberdade contratual.

O que é uma obrigação? Um vínculo jurídico (inicialmente um vínculo material) por


virtude do qual uma pessoa está adstrita para com outra (relação intersubjetiva) à
realização de uma prestação (artigo 397 CC).
Obrigação, do latim obligatio= ob (várias vezes) ligare (prender, atar). Origem da
palavra: o credor do processo executivo podia amarrar (várias vezes) o devedor até ele
pagar. Objetivo: incentivar o devedor a pagar ou alguém a pagar por ele. Essa
execução pessoal acaba no século 3º AC, passa a ser uma execução patrimonial como
temos hoje, porque Roma começa a ser um império, um território vasto, ou seja, o
devedor pode fugir e a única coisa que fica é o património dele.
Dar= transferir o direito de propriedade sobre uma coisa
Entregar= transferir a posse
O objeto duma obrigação pode ser: dar (transferência do direito de propriedade);
facere (adotar um certo comportamento); non facere (não adotar um certo
comportamento); prestar (assumir/assegurar uma obrigação).
Características da obrigação: através de uma obrigação, o devedor está obrigado a
prestar alguma coisa. Mas tem de ser fisicamente possível e juridicamente possível.
Juridicamente impossível faz referência a um comportamento ilícito. Tem de ser
determinável (estabelecer os critérios). Uma obrigação deverá ter, em princípio,
conteúdo patrimonial, o que significa que é redutível a dinheiro.

Fonte das obrigações


A principal fonte de obrigações no direito romano são os contratos, mas não só: os
delitos também são uma fonte de obrigação porque a prática de um facto ilícito é
geradora de obrigações, ex. obrigação de indemnizar os danos que causou.

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Os quase contratos (negócios unilaterais): não são contratos, mas quase. Há promessa
unilateral (perder um cão e fazer promessa de dar dinheiro); não é contrato porque
nem sabíamos quem iria encontrar o cão, mas a situação é geradora de obrigação. Não
há contrato porque não há previamente nenhum acordo, mas um ato unilateral e a
pessoa que encontra o cão tem direito judicialmente de exigir o dinheiro.

Os contratos

Negócio jurídico unilateral ou bilateral= contrato


O que é um negócio jurídico? É um ato voluntário de um homem, ato lícito, que
assenta em uma ou mais declarações de vontade destinadas a produzir efeitos
práticos, tutelados pelo direito.
Uma única declaração de vontade corresponde a um negócio unilateral, só existe uma
parte, ex. o testamento: é declaração de vontade pessoal, não há contrato. Ao
contrário, o contrato de compra e venda implica no mínimo duas declarações de
vontade, o que significa que é um negócio jurídico bilateral.
Contrato – acordo, consenso entre as partes que deriva de duas ou mais declarações
de vontade que são contrapostas e chegando a um consenso convergem para uma
certa finalidade prática protegida pelo direito.
Todos os contratos têm dois elementos: uma causa e um acordo. A causa é a finalidade
prática que ambas as partes querem. Muitos poucos contratos têm uma causa que é
juridicamente irrelevante, ex. cheque dado que vamos depositar na conta – não
sabemos qual é a causa. São chamados contratos abstratos.

Classificação dos contratos


• Contrato unilateral: só gera obrigações para uma das partes (no contrato de
mútuo são para o mutuário que está obrigado a pagar o montante em dívida, o
mutuante não tem obrigações).
• Contrato bilateral: gera obrigações para ambas ou todas as partes (contrato de
compra e venda).
• Contrato bilateral imperfeito: no depósito ou penhor. No início da sua execução
só gera obrigação para uma das partes, mas durante a execução do contrato,
poderão eventualmente surgir obrigações para a outra parte (ver parte do
contrato de depósito).

• Gratuito: perdas patrimoniais apenas para uma das partes (comodato)


• Oneroso: perdas patrimoniais para ambas das partes (venda de uma caneta
que deixou de estar no património, mas a outra parte também teve perda
patrimonial pois perdeu dinheiro a pagar)

• Formais: a lei exige um documento escrito autenticado


• Consensuais: são contratos feitos por mera consensualidade, através duma
conventio; constituem ausência de forma
• Contratos reais
a) Contratos reais quanto aos seus efeitos – implicam a transmissão de um
direito real (ex. direito de propriedade

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b) Contratos reais quanto à sua constituição – não basta o acordo entre as
partes para o contrato estar perfeito, que é a aptidão para produzir efeitos
jurídicos, tem de implicar a prática de um ato material (transferência do
direito de propriedade ou da detenção).
Ao contrário, os contratos consensuais são contratos perfeitos por simples
acordo, pode haver incumprimento contratual, mas continua a haver
contrato pois o elemento principal do contrato foi realizado: o consenso.

Contratos reais quanto à sua constituição


• Contrato de mútuo
Características – unilateral, gratuito por norma e real. Implica a transferência do
direito de propriedade sobre coisas fungíveis (substituíveis sem perda de valor
económico) para o mutuário, ficando o mutuário obrigado a restituir outro tanto do
mesmo género e da mesma quantidade ao mutuante. Está pensado para o consumo,
por isso nunca se pode entregar exatamente a mesma coisa. Só há perdas patrimoniais
para o mutuante porque ele deixa de ser proprietário da coisa=contrato gratuito.
(direito romano= direito português)
O mutuário pode ser obrigado a restituir outro tanto e mais alguma coisa; era possível
convencionar, entre as partes, juros que eram obrigação do mutuário: perdas
patrimoniais para os dois (contrato oneroso). No direito romano estabeleciam-se os
juros num contrato à parte, no direito português vem tudo junto. O direito romano,
desde a lei das 12 tábuas, estabelece a taxa máxima de juros que foi variando ao longo
do tempo. Ele proibia o anatocismo (juros sobre juros): quando o devedor entra em
mora quanto ao cumprimento dos juros. O direito português admite isso em certos
casos. Às vezes, no direito romano, não era necessário convencionar juros, alguns
contratos de mútuo já vinham automaticamente com juros, salvo se dissessem que
não havia presença deles: as 4 exceções da gratuidade do contrato mútuo são o
empréstimo bancário, o empréstimo concedido por cidade, o empréstimo marítimo ou
um que envolvesse mercadorias.

• Contrato de fidúcia
Desaparece na época pós-clássica, mas chega até nós com as mesmas características
que tinha no direito romano.
Características – É um contrato unilateral, gratuito e real.
Fiduciante – aquele que transfere a propriedade de uma coisa com função de garantia
a outra pessoa – o fiduciário, quem beneficia da garantia.
É um contrato complexo, que envolvia dois pactos:
• Uma mancipatio (por vontade das partes): transferência do direito de
propriedade sobre uma coisa de grande valor
• Uma in iure cessio (através duma ação judicial): não tem necessariamente que
ser de grande valor
O pactum fiduciae é o acordo não formal de restituir a res.
Explicação: A transmite o direito de propriedade para B através de uma mancipatio. B
está obrigado a retransmitir o direito de propriedade para A através do pactum
fiduciae que foi estabelecido.
Implica uma transmissão de propriedade, não uma entrega da coisa: A pode continuar
a ter a posse da coisa e não tem de a entregar, mas B é o proprietário.

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A fidúcia tem essencialmente uma função de garantia de cumprimento de uma
obrigação.

Caso prático
A, credor, banqueiro (contrato oneroso pois implica juros) celebra um contrato de
mútuo com B, devedor. A emprestou dinheiro a B com um prazo de pagamento de 3
anos. A quer uma garantia de que B irá pagar ao fim dos 3 anos. B é dono de um prédio
onde vive. A podia exigir que B lhe transferisse o direito de propriedade sobre o prédio
e A ficava dono desse prédio, mas B continuava com a posse do prédio e continuava lá
a viver.
Através do pactum fiduciae, A ficava obrigado a retransmitir esse direito de
propriedade a B quando ele pagasse a dívida. Þ fidúcia com função de garantia

• Contrato de depósito
Características – bilateral imperfeito, gratuito por regra e real.
Versa sobre coisas móveis ou imóveis e implica a entrega da coisa (traditio). Implica,
portanto, a transmissão da detenção e não da propriedade.
O detentor (depositário) guarda, mas não usa, e tem a obrigação de restituir a res
quando o depositante quiser.
Este contrato é bilateral imperfeito porque podem surgir obrigações para o lado do
depositante, ex. se o depositário guardar cavalos e tiver despesas ou prejuízos, o
depositante vai ter de o indemnizar pelos custos ou pelos danos causados.
O contrato pode ser classificado como oneroso se o depositário for indemnizado:
nesse caso não há só a perda patrimonial para o depositário que perde tempo a cuidar
da res, mas também há perdas patrimoniais para o depositante que tem de indemnizar
o depositário pelos custos ou danos causados a este, ou seja, perde dinheiro ao fazê-
lo. Se o depositante se recusar a pagar as despesas ou os prejuízos, o depositário tem o
direito de retenção da coisa até o depositante pagar.

Imaginemos o caso de o depositário perder a coisa. O depósito é um favor que o


depositante pede ao depositário, ou seja, o interesse é do depositante. Essa questão
do interesse vai ser relevante para quando acontecer alguma coisa (perda, danos). No
DR da época clássica, o depositário só seria responsável se tivesse agido com dolo, pois
tinha consciência do que poderia acontecer e conformou-se com isso. No tempo do
imperador Justiniano (e atualmente também), o depositário é responsável se agir por
dolo ou por negligência.
A culpa é constituída por dolo (agir intencionalmente) e negligência (sem intenção de
causar um dano, mas não adotou as medidas que eram necessárias para isso não
acontecer)

Tipos de depósito
• Depósito necessário: o depositante não tem escolha (por questões de tempo,
urgência) de quem vai ser o depositário; o depositário tem então um grau de
responsabilidade maior (no DR)
• Depósito de sequestro: há um litígio em relação a uma certa coisa, guardada
pelo depositário e só é devolvida a quem vencer o litígio.

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Litígio: ação judicial que está entregue aos tribunais para apreciação e decisão
sobre uma determinada situação em relação à qual as partes não se entendem.
• Depósito irregular/ de coisas fungíveis: há uma transmissão de direito de
propriedade sobre a coisa do depositante ao depositário, e este obriga-se a
restituir o objeto do mesmo género e quantidade = contrato de mútuo, mas o
contrato de mútuo tem a ver com restituir a res que foi emprestada, mas por
exemplo, na questão do dinheiro, pode ser em moedas ou notas diferentes. No
depósito, tem de ser exatamente a mesma coisa pois o depositário guarda, mas
não usa, ou seja, tem de a entregar no mesmo estado em que a recebeu.

Responde pelas despesas o proprietário da coisa


Exemplo: Eu peço para guardar as minhas bolachas e ao mesmo tempo empresto 5
euros. As bolachas não são do depositário porque não há transferência de propriedade
(contrato de depósito), mas os 5 euros são do mutuário porque há transferência de
propriedade (contrato de mútuo). Se ele perder as bolachas a responsabilidade é
minha, se ele perder os 5 euros a responsabilidade é dele.

Fim da matéria até ao primeiro teste

Ribeiro de Almeida
• Contrato de comodato
Vulgarmente conhecemos por empréstimo de uso de uma coisa que não é fungível.
Uma pessoa (comodante) entrega uma coisa a outra para que essa outra pessoa
(comodatário) use a coisa e a restitua nos mesmos termos que a recebeu, salvo as
deteriorações normais possíveis.
Tem por objeto coisas móveis ou imóveis e normalmente não tem por objeto coisas
consumíveis, e nesse caso, o comodatário não as pode consumir: ex. maçãs para
enfeitar. Só pode usar a coisa para os fins que ela se destina e de acordo com as
orientações e restrições do comodante. Se a usar diferentemente, incorre no furtum
usus (furto de uso).
O comodatário é um mero detentor – não é proprietário nem possuidor: não é preciso
ser proprietário da coisa para a poder usar.
Características – é essencialmente gratuito (seria um contrato de locação se fosse
oneroso); é bilateral imperfeito, ou seja, gera obrigações para o comodatário e
raramente para o comodante, só em situações extremas (travões do carro que o
comodante cedeu ao comodatário que não funcionam e mesmo assim entrega a coisa,
sem avisar); é real pois implica um ato material (transferência da detenção da res).

Responsabilidade do comodatário em relação à perda da coisa


• No direito português, o comodatário responde mesmo não tendo culpa, ex.
responsabilidade do produtor se o veículo vier com defeito. Ele responde por
isso porque quem suporta os cómodos tem de suportar os
incómodos=responsabilidade objetiva.
• No direito clássico, o comodatário é responsável por custódia (pela guarda) da
coisa. Ele tem um dever acrescido porque a coisa não é dele e lhe é emprestada
gratuitamente. Por isso, se a res for roubada, ele responde perante o
comodante e pode demandar o ladrão com a actio furti (ação de furto).
• No direito justinianeu responde com base na responsabilidade por negligência
(culpa levis, in abstracto), exceto se o comodato for realizado no interesse
exclusivo do comodante ou para satisfazer um interesse comum: naquele caso,
a responsabilidade do comodatário depende de dolo; neste, de culpa in
concreto.
Culpa em concreto: apreciação da responsabilidade ao limitar-se ao exame da
imprudência ou negligência do agente em causa
Culpa em abstrato: quando se faz uma análise comparativa da conduta com a
do homem médio ou da pessoa normal, isto é, dos digilens pater familias dos
romanos
O comodante está obrigado a ressarcir os gastos necessários que o comodatário fez
para conservar a res, e também a indemnizar os danos eventualmente causados quer
pela res quer por si próprio.

• Contrato de penhor
Uma pessoa entrega uma coisa a outra para garantir uma obrigação própria ou alheia
(de pagar uma dívida). O devedor (credor da obrigação garantida) é detentor dessa
coisa em nome do credor (não há transmissão de propriedade) até ele pagar a dívida
na qual ele é devedor. Este contrato tem uma função de garantia.

Ribeiro de Almeida
O credor pignoratício tem obrigação de guardar a coisa, não a pode usar e tem de a
restituir no fim do contrato, quando o prazo acordado acabar (quando o devedor
pagar a dívida).
O penhor é uma garantia real: o credor tem um direito real sobre a coisa que só se
manifesta se o devedor não cumprir. Se o devedor não cumprir a obrigação de pagar a
dívida, o credor executa então a garantia e poderá vender a coisa. Se realmente vier a
executar a garantia, imaginemos que a dívida era de 1000 euros e a res que serviu de
garantia foi vendida por 2000 – o excedente do preço tem de ser dado pelo credor
pignoratício ao devedor.
Este contrato, a cuja perfeição é necessária a traditio da res, produz duas relações
jurídicas distintas:
a) Um direito sobre a res (ius pignoris) a favor do credor da obrigação que se
pretende garantir;
b) A obrigação de o credor pignoratício conservar e restituir a res depois da
extinção da obrigação garantida.

É um contrato bilateral imperfeito: o devedor pode deixar por ex. um cavalo de


garantia até pagar a dívida, mas o cavalo pode dar despesa ao credor pignoratício, ou
seja, o devedor tem a obrigação de pagar as despesas. O credor pignoratício tem o
direito de retenção da coisa até o devedor pagar as despesas que ele teve com a
custódia desta.
É real, pois implica uma traditio da res.
É gratuito por norma, pois as perdas patrimoniais serão apenas para o devedor, que
fica sem a detenção da coisa enquanto não pagar a dívida.

E se o credor pignoratício perder a coisa? Na época clássica era responsável por


custódia, no tempo do imperador Justiniano passou a ser por negligência e assim é até
nós.

• Código civil português (1966)


Contrato de mútuo: igual ao direito romano
Contrato de fidúcia (não consta no código civil português): igual
Contrato de depósito: igual
Contrato de comodato: igual
Contrato de penhor: igual

• Código civil francês (1804)


Mútuo: igual ao direito romano
Fidúcia: igual
Comodato: igual
Depósito: igual; o depósito necessário consta nesse código
Penhor: igual

• Código civil espanhol (1889)


Mútuo: igual ao direito romano; implica uma datio, gratuito salvo se houver interesses
(juros)
Comodato: igual; não responde por negligência

Ribeiro de Almeida
Depósito: igual; consagra o depósito necessário e de sequestro
Fidúcia: num diploma à parte; igual
Penhor: igual

• Código civil alemão (1900); por parágrafos


Comodato: igual ao direito romano
Mútuo: igual
Depósito: igual
Fidúcia: num diploma à parte, mas o regime é o mesmo
Penhor: o credor pignoratício tem uma obrigação de custódia no direito clássico

• Código civil italiano (1942)


Mútuo: oneroso (salvo se disserem que não há juros) e não gratuito como nos outros
ordenamentos jurídicos. Porquê? Porque o direito italiano quis fundir o código
comercial e o código civil: justificação do mútuo ser oneroso (o mútuo mercantil é
oneroso).
Comodato: igual ao direito romano; o comodatário responde por custódia (direito
clássico)
Depósito: igual; consagra muitas espécies de depósito: mercadoria em armazéns,
hospedarias (guarda das malas), sequestro, bancário...
Fidúcia: num diploma à parte; igual
Penhor: igual

Contratos consensuais
A origem destes contratos remonta ao ius gentium.
São perfeitos por simples acordo entre as partes, que pode manifestar-se de qualquer
modo. Não é necessária uma forma determinada nem a entrega da res (prática dum
ato material) para produzirem efeitos jurídicos. A validade dos contratos consensuais
é, então, independente da forma.
A vontade é o elemento essencial para a perfeição do contrato, mas podem surgir
problemas: as divergências entre a vontade e a declaração (enganos, coações).

A compra e venda, emptio-venditio


Características: é um contrato consensual, bilateral e oneroso.
Exceção do não cumprimento do contrato: uma das partes só está obrigada a cumprir
a sua obrigação se a outra parte estiver disposta a cumprir a sua.
Uma das partes (vendedor) obriga-se a transferir à outra (comprador) a posse de uma
res e a assegurar-lhe o seu gozo livre e pacífico, obrigando-se o comprador a dar
(datio) ao vendedor a propriedade de determinada pecunia que constitui o preço
(pretium).
O ius gentium rege as relações entre os romanos e os estrangeiros.
Porque é que não transfere o direito de propriedade, mas sim a posse? A mancipatio
do direito romano transfere o direito de propriedade, mas é um contrato formal. Se
uma das partes é estrangeiro, ou os dois são estrangeiros, não podem recorrer à
mancipatio, se fossem os dois romanos, já lhes era permitido.

Ribeiro de Almeida
A mancipatio era muito formal, mas o ius gentium tinha como objetivo tornar as coisas
mais leves e fáceis, ou seja, os dois não eram compatíveis. A mancipatio não admite
que o direito de propriedade se transmita por simples consenso. O que se transmite
com a compra e venda é a posse, e o vendedor tem de assegurar a posse livre e
pacífica na esfera jurídica do comprador.
No tempo do imperador Justiniano a mancipatio deixa de existir. Já estava consagrada
a distinção entre coisas móveis que implicavam uma traditio, e imóveis que requeriam
uma escritura pública na presença de um notário ou magistrado que guardava um
exemplar.

Os elementos deste contrato são:


• O consenso (conventio): é o acordo em que o vendedor se obriga a entregar a
posse livre e pacífica da res vendida; e o comprador, a pagar o preço
• A res (podia ser qualquer coisa no direito romano): a sua posse, livre e pacífica
deve ser transferida ao comprador. Pode ser corpórea ou não corpórea (ex. a
herança já aceite pelo herdeiro), presente ou futura (res que o vendedor irá
fabricar com materiais próprios).
Não depende inteiramente da vontade do vendedor se a coisa não vier a existir
(ex. produção da sua quinta). Nesse caso, o vendedor não terá que indemnizar
o comprador porque a compra e venda está sujeita à condição de a res existir
ou se tornar disponível: pode não vir a existir devido a fatores aleatórios (ex.
mau tempo).
Se a coisa futura depender inteiramente da vontade e atividade do vendedor e
se ela não vier a existir, ele terá que responder por incumprimento do contrato
(indemnização).
• O preço: dinheiro. A escola proculeiana diz que tem de ser dinheiro porque se
não for, é uma troca (permuta). O preço tem de ser certo e pelo menos
determinável. Também podia ser fixado por um terceiro.
No tempo do imperador Justiniano, o preço devia ser um preço justo, se
houvesse uma diferença enorme sobre o preço e o valor da coisa podia-se
invocar a figura jurídica da lesão enorme.

Obrigações do vendedor
1. Transferir a posse livre e pacífica da coisa: o vendedor assegura essa posse na
esfera jurídica do comprador, que deve encontrar-se sem vícios e não ser
precária, temporária.
O A obriga-se a que B fique nessa posse de forma pacífica, sem limitações e
restrições. Quem é o proprietário? Havendo a transferência da posse (diferente
da detenção) é um poder de facto sobre uma coisa que permite a transferência
de propriedade pela figura jurídica da usucapião. No direito romano a
usucapião existia no ius civile e não no ius gentium. Imaginemos que o
vendedor é estrangeiro, mas o comprador é cidadão romano (ele pode invocar
o ius civile onde consta a usucapião), ou seja, adquire a propriedade através da
posse e em particular porque a posse leva à usucapião.
A obrigação do vendedor de assegurar a posse livre e pacífica na esfera jurídica
do comprador acaba no momento em que o comprador adquire o direito de
propriedade através da usucapião (através da posse).

Ribeiro de Almeida
Se o comprador é estrangeiro não pode invocar a usucapião por via da posse
porque a usucapião não consta no ius gentium, que é o direito dos
estrangeiros. Nesse caso o vendedor está obrigado a assegurar a posse livre e
pacífica na esfera jurídica do comprador para sempre. Isso poderia mudar
quando por exemplo o estrangeiro adquire a nacionalidade romana e pode
adquirir a propriedade.
2. Responder por evicção: e se o vendedor não conseguisse assegurar a posse
livre e pacífica na esfera jurídica do comprador? Imaginemos que um terceiro
vem dizer que ele é que é proprietário da coisa ou está em posse dela. Ele age
então judicialmente contra B e B chama o A e confronta-o: o A responde por
evicção, ou seja, se o C vencer a ação, o B vai receber o preço no dobro quando
for indemnizado pelo A.
3. Cuidar da res até à entrega: a partir do momento em que o contrato está
realizado (e perfeito), se a coisa se perder, o risco corre por conta do
comprador.
Se o contrato estiver sujeito a alguma condição (suspensiva, que suspende os
efeitos do contrato porque o comprador quer verificar, experimentar a coisa)
os efeitos do contrato não se produzem enquanto essa condição não se
realizar. O risco continua a correr por conta do vendedor: o contrato não está
perfeito porque não está a produzir todos os seus efeitos, neste caso porque o
comprador ainda não está a gozar da coisa livremente e pacificamente.
4. Responder pelos vícios ocultos da res: são vícios não aparentes, limitações
físicas ou jurídicas.
Em Roma havia um conjunto de ações que permitiam ao comprador
responsabilizar o vendedor por esses vícios ocultos (de animais e escravos).
Quais ações?
Ação redibitória: é a ação de resolução de contrato. O comprador pode colocar
termo ao contrato desde que tenha fundamentos para isso. Se realmente o
vendedor fosse culpado tinha que devolver o preço no dobro.
O comprador também pode não querer resolver o contrato e continuar a ter
interesse na coisa: no direito romano podia convocar uma ação estimatória (de
diminuição do preço) em virtude do vício que a coisa tinha.
Independentemente se foi feito com dolo ou não, de má ou boa-fé,
conhecimento ou desconhecimento... Se o vendedor sabe que a coisa tem
algum tipo de vício tem o dever de informar, mas mesmo que não soubesse,
respondia por evicção.

Obrigações do comprador
• Pagar o preço, ou seja, transmitir a propriedade do pretium ao vendedor
• Receber a coisa. Se recusar, pode depois ter que indemnizar o vendedor pelos
danos causados pelo atraso
• Responder pelo risco

Pactos acessórios (voluntários)


1. O pactum displicentiae, que sujeitava os efeitos da compra a venda à
condição resolutória potestativa de o comprador declarar que não aprovava

Ribeiro de Almeida
a res; ou fazia depender esses efeitos da declaração de agrado do
comprador (condição suspensiva)
2. A in diem addictio, que concedia ao vendedor a faculdade de rescindir o
contrato se, dentro de certo prazo, outra pessoa oferecesse melhores
condições (sob condição resolutória ou suspensiva, dependia do acordo
entre as partes)
3. A lex commissoria, o pacto que atribui ao vendedor a faculdade de
considerar o contrato não realizado se o comprador não pagar o pretium
dentro do prazo fixado entre as partes (sob condição resolutória ou
suspensiva, dependia do acordo entre as partes)
4. O pactum de retrovendendo, a venda a retro: o vendedor reservava a
faculdade de resgatar a res restituindo, dentro de certo tempo, o pretium
ao comprador (arrependimento)
5. O pactum protimeseos, pacto de preferência: o comprador comprometia-
se, caso quisesse alienar a res, a vendê-la a quem lha vendeu – A vende a
coisa a B, mas se B (comprador) mais tarde quer vender essa coisa a outra
pessoa, ele tem de dar preferência a A com as mesmas condições.

Contrato de locação, locatio-conductio


No direito romano existem 3 tipos de contrato de locação:
1. Locação de coisa – no direito português: locação
2. Locação de trabalho – contrato de trabalho
3. Locação de obra – contrato de empreitada
Características: consensual, oneroso, bilateral.
É um contrato em que uma pessoa se obriga para com outra a proporcionar-lhe o gozo
temporário duma res ou a prestar determinados serviços ou a realizar uma obra,
mediante o pagamento duma remuneração (merces).
Este contrato é constituído pelos seguintes elementos essenciais:
• Consenso – acordo entre as partes. Como sucede em qualquer contrato
consensual, basta para criar a relação obrigacional;
• Objeto – pode ser uma res que o locatário deve usar segundo o modo acordado
durante um certo tempo; uma atividade laboral que o locador deve realizar no
tempo acordado; ou uma res que o locador entrega ao locatário para fazer uma
determinada obra;
• Remuneração – é a contraprestação devida pelo uso da res, trabalho ou obra
realizada. Essa remuneração deve ser vera (verdadeira) e certa, e normalmente
consiste em pecunia;
• Prazo – a utilização da res, a atividade laboral ou a realização da obra devia
ocorrer no prazo acordado. Era fixado na locação de coisa; na realização de
uma obra não se fixava necessariamente pois a realização da obra iria
depender do tempo necessário a essa mesma realização.

• Locação de coisa
As principais obrigações das partes
a) Locador – no DR e no DP, ele está obrigado a proporcionar o gozo da coisa
locada ao locatário durante o tempo que o contrato durar e nos termos deste;

Ribeiro de Almeida
fazer as reparações necessárias para evitar a deterioração ou destruição da res;
ressarcir o locatário dos gastos que fizesse em reparações necessárias;
b) Locatário – pagar a renda ou o aluguer; conservar a res em boas condições e
usá-la para os fins a que ela se destina; restituir a res no termo da locação e nos
mesmos termos que a recebeu; ressarcir o locador dos eventuais danos
causados na res.
Relação entre o locador e o locatário: relação jurídica de natureza obrigacional e não
real, sendo o locatário mero detentor.

Caso prático
A (locador) é proprietário e B (locatário) é mero detentor. O locador entrega a coisa ao
locatário para ele gozar da coisa durante 10 anos. B paga uma renda (mensal). Mas 5
anos depois o A (cidadão romano) vende a coisa a C (cidadão romano) e C passa a ser
proprietário. Pode C expulsar B do prédio?
Contrato de natureza obrigacional: só produz efeitos entre as partes. O C é um
estranho a esta relação jurídica entre A e B. C dirige-se ao seu prédio, encontra B e
expulsa-o, o que pode fazer.
Direito de natureza real, neste caso o direito de propriedade – tem eficácia erga
omnes: se C tem esse direito, pode opô-lo a B. Esse direito sobrepõe-se ao direito de
natureza obrigacional.
Incumprimento das obrigações: A tinha a obrigação de proporcionar o gozo da coisa a
B até o termo do contrato de locação. B pode dirigir-se a A e reclamar, e tem neste
caso um direito de indemnização pela parte de A pelos prejuízos causados.
Desta situação resultou que a compra e venda afasta a locação no direito romano. Mas
o artigo 1057 do CC proíbe que a compra e venda afaste a locação – inverte a regra do
DR.

A locação de coisa caducava por:


a) Cumprimento do prazo assinalado, salvo renovação
b) destruição material da res locada
c) cessação do direito com base no qual o contrato foi celebrado – cessação do
usufruto com base no qual o usufrutuário locou a res
Direito de usufruto – direito real: o usufrutuário pode gozar da coisa e tirar frutos
dela. O direito de propriedade é sobreposto do usufruto.
A (proprietário do prédio) não tem de suportar o C porque o contrato de locação era
entre B e C e, portanto, só produz efeitos entre B e C.
A e B tinham um contato de usufruto (vitalício neste caso), mas esse acaba quando B
morre, ou seja, o contrato de locação entre B e C acaba também.

Quanto à resolução do contrato, além do critério geral segundo o qual se uma das
partes não cumpre (responsabilidade) ou não pode cumprir (risco) as suas obrigações,
à outra é permitido resolver o contrato, podia pedi-la:
a) o locador, quando:
• o locatário não paga a renda durante dois anos
• a res é objeto de abuso (fins diversos) ou sofre deterioração
• tem necessidade de habitar a casa ou pretende reformá-la (tanto no direito
romano como no português)

Ribeiro de Almeida
b) o locatário, quando:
• o locador se atrasa na entrega da res
• a res tem defeitos que impedem, limitam ou dificultam a sua utilização
• há um temor fundado de um perigo
• Locação de trabalho
Nesta locação, o trabalhador (locador) obriga-se a pôr a sua atividade laboral à
disposição do locatário durante um certo tempo, mediante o pagamento de uma
remuneração.
Não foi inteiramente pacífica no quadro do direito romano – a atividade laboral era
vista como uma locação da pessoa e não do seu trabalho, que era principalmente
fornecido por escravos: a locação de homens livres (cidadãos romanos) não era bem
vista. Era uma diminuição da capacidade jurídica da pessoa, do exercício de direitos.
Os jurisconsultos fizeram então uma distinção: a locação de trabalho não tem por
objeto a pessoa, mas sim a sua atividade laboral. Com esta distinção (ficção jurídica) já
foi possível a atividade laboral do homem livre, ou seja, do cidadão romano ser objeto
de locação de trabalho e não da pessoa, sem diminuir a sua personalidade e
capacidade jurídica – assim chegou ao direito português.
A locação de trabalho caducava com a morte do locador e não do locatário: o locador
podia prestar os seus serviços aos herdeiros do locatário que, portanto, substituí-lo-
iam na obrigação de pagar a merces (se um dos sucessores do locatário continuasse a
explorar a atividade em causa). Se o locador estivesse doente ficaria dispensado de
prestar o seu trabalho, mas não era pago: o locatário estava desobrigado de pagar a
remuneração durante a doença.

• Locação de obra
Contrato de empreitada no direito português.
O locador entrega uma coisa ao locatário para ele realizar a obra acordada e pagar-lhe
a remuneração como retribuição.
O locador fornece as matérias-primas que o locatário vai utilizar para realizar a obra.
Se o locatário adquire as matérias-primas e as transforma, é um contrato de compra e
venda e não uma locação de obra.
O locatário deve executar essa obra com correção e entregá-la no prazo acordado ou,
se não foi fixado, no tempo normalmente utilizado para a realizar.
Se o locatário tivesse trabalhadores com ele, eles poderiam também executar a obra,
salvo se o locador quisesse que fosse especificamente elaborado por ele.

Contrato de sociedade, societas


A sociedade é um contrato consensual em que duas ou mais pessoas (socii) se obrigam
reciprocamente a pôr em comum determinados bens ou trabalho com vista à
obtenção de um fim patrimonial comum (lucro).
No direito romano, este contrato assentava numa profunda confiança.
Ficção jurídica: no direito português, a personalidade jurídica adquire-se no
nascimento. É a possibilidade de uma pessoa ser o centro de imputação de direitos e
obrigações.

Ribeiro de Almeida
Personalidade jurídica coletiva
4 sócios constroem uma sociedade. Essa sociedade tem personalidade jurídica, dívidas
próprias, créditos próprios, património próprio, não dos sócios. Pelas dívidas responde
o património da sociedade e não aquele dos sócios.
Em Roma não era assim: as sociedades comerciais não tinham personalidade jurídica
coletiva, mas havia na mesma contrato de sociedade.
Elementos
• Consenso – acordo entre as partes de cada um entrar com património, dinheiro
ou trabalho para a realização de um fim comum útil.
• Objeto – dinheiro, património e serviços que os sócios levam para a societas.
Um sócio entra com um imóvel na sociedade: esse imóvel passa a ser dos 4
sócios porque a sociedade não tem personalidade jurídica. O imóvel deixa de
pertencer exclusivamente ao sócio que entrou com ele no regime de
condomínio. O condomínio no DR corresponde à compropriedade no DP.
O que é a compropriedade? Uma coisa que pertence a duas ou mais pessoas.
Se um sócio entra com um imóvel para a sociedade, mas esse tem defeitos ou
vícios ocultos, ele responde por evicção.
• Finalidade – o interesse comum que as partes se propõem realizar deve ser
lícito e suscetível de constituir uma utilidade ou vantagem patrimonial para
todos os sócios. O DR já admitia que os sócios tivessem participações diversas
(como hoje), por ex. nos lucros e nas despesas, e proibia a participação
unicamente nos lucros.
O DR dividia as sociedades em 2 tipos: sociedades universais – os sócios
entravam com todo o património (presente e futuro). Sociedades com fins
específicos – constituídas apenas para realizar um certo negócio jurídico.
Quando a obra termina, a sociedade dissolve-se.

Obrigações dos sócios


• Cada sócio deve contribuir com o que foi acordado: a res e/ou o trabalho. É,
também, responsável pela evicção e pelos vícios ocultos da res entregue. O
risco e a responsabilidade por danos causados à res pertencem aos socii desde
a conclusão do contrato ou a partir da entrega
• Cada sócio é obrigado a gerir os negócios sociais de acordo com o interesse de
todos os sócios e a finalidade da sociedade
Direitos dos sócios
• Cada sócio tem o direito a ser reembolsado dos gastos que tenha feito e
indemnizado dos danos que a gestão lhe causou
• Participa, segundo o que foi estabelecido no acordo, nos ganhos e nas perdas
da gestão comum

O contrato de sociedade não cria uma pessoa jurídica distinta dos sócios; por isso, não
existem relações obrigacionais entre a sociedade e terceiros: só há créditos e
obrigações de cada sócio com terceiros.
Se um dos sócios (A) celebra um contrato com um terceiro (E): esse contrato tem de
estar relacionado com a atividade mercantil dessa sociedade. Não tendo a sociedade
personalidade jurídica, e o E não foi pago (incumprimento contratual), a quem é que o
E se pode dirigir para tratar da coisa judicialmente?

Ribeiro de Almeida
• 1ª hipótese: todos os sócios intervêm no contrato (todos constituem partes no
contrato) e todos eles são condenados a pagar ao E.
• 2ª hipótese: o A foi mandatado pelos outros sócios.
O que acontecia no DR: o E vai demandar o A, e o A diz ao pretor que está
mandatado pelos outros sócios, que realizou o contrato em representação de
todos os outros sócios. O pretor vai então chamar todos os outros sócios à ação
judicial. Todos eles serão condenados a pagar. Ação de substituição de pessoas
• 3a hipótese: não há mandato dos outros sócios, todos os sócios tiraram
benefício dos bens que foram colocados à venda no estabelecimento comercial
e foram vendidos. O A vai dizer ao pretor que comprou os produtos a E, mas
não para consumo próprio e sim para a sociedade: todos os sócios tiraram
benefício disso e então são todos chamados à ação judicial para pagar ao E.
• 4ª hipótese: o A é o gerente do estabelecimento comercial (com o acordo dos
outros sócios). O A está então implicitamente mandatado para celebrar
negócios jurídicos que estejam conexionados com a atividade comercial em
causa. Consequentemente, se o A celebra com E e não lhe paga, o E demanda o
A. O A vai dizer ao pretor que fez esse contrato na qualidade de gerente, e que
está implicitamente mandatado para realizar esses negócios jurídicos. O pretor
vai chamar os outros sócios à ação, pois vão ser condenados a pagar.
O património em condomínio é que respondia pelas dívidas, e se este não fosse
suficiente, era o património pessoal.

O contrato de societas extingue-se por várias razões:


• Cumprimento do prazo acordado
• Se o fim desse contrato fosse específico, ex. realizar uma obra
• Se a sociedade perder o património social
• Acordo de todos os sócios
• Renúncia de um dos sócios
• Morte de um dos sócios
• Execução de todo o património: a sociedade fica sem património e não pode
gerir a atividade em causa
• Incumprimento das obrigações da parte de um dos sócios
• Com a extinção do contrato, o condomínio dissolvia-se e seguir-se-ia a
liquidação e divisão dos bens sociais. Se ainda houvesse património para
distribuir, a distribuição fazia-se por cabeça, salvo se fosse estabelecido no
contrato que uns recebessem uma percentagem maior e outros uma menor,
pela participação de cada um, se ela fosse diferente.

Caso prático
A (gerente) celebra com E (banqueiro) um contrato. A necessita de dinheiro para fazer
obras no estabelecimento comercial e precisa de dinheiro emprestado: contrato de
mútuo. O A vai contratar F para fazer as obras: locação de obra. C (sócio) compra a G
uma joia para oferecer ao seu cônjuge: contrato de compra e venda. D (sócio) contrata
H para ficar a trabalhar no estabelecimento como empregado de mesa: locação de
trabalho.
Nem o A, nem o C, nem o D pagaram o que deviam.
Caracterizar e definir os contratos (elementos).

Ribeiro de Almeida
1. G quer ser pago e entrepõe uma ação judicial a C. Não é relevante o facto de C
ser sócio pois o contrato entre estes não está conexionado com a atividade
comercial e a finalidade da sociedade (usado para fins pessoais).
2. H quer ser pago e pretende demandar a sociedade, mas não o pode fazer
porque ela não tem personalidade jurídica. Pode então demandar o D. D não é
gerente, não está mandatado, não intervieram os sócios no contrato: D
demonstra que todos os sócios tiraram proveito da atividade do H. O pretor
chama todos os sócios à ação judicial e todos eles são condenados a pagar a H.
3. A celebrou 2 contratos na qualidade de gerente e não pagou a E nem a F. Eles
demandam o A em tribunal porque foi com ele que celebraram os contratos
pois a sociedade não tem personalidade jurídica. A está implicitamente
mandatado pelos outros sócios. Os outros sócios serão chamados à ação e
condenados a pagar.

Contrato de mandato, mandatum


É um contrato no qual o mandante encarrega o mandatário (se ele aceitar) de realizar
uma determinada atividade no interesse do mandante, de um terceiro, ou de ambos.
Este contrato assenta igualmente numa forte relação de confiança.
Características: consensual, bilateral imperfeito, gratuito (salvo se for mandato
profissional, ex. advogados)
Elementos
• Acordo – entre quem dá (mandante) e quem aceita (mandatário) o encargo de
realizar um determinado ato
• Objeto – atividade que o mandatário se obriga a realizar. A atividade em causa
deve ser lícita e determinada e não é necessário que consista num negócio
jurídico (um serviço qualquer)
• Finalidade – o mandato deve satisfazer um interesse do mandante, dum
terceiro ou conjuntamente também do mandatário.
Não há contrato, mas simples conselho se a atividade beneficiar
exclusivamente o mandatário.

Mandato com ou sem representação


• Com representação: agir em nome de outra, no interesse de outra, por conta
de outra pessoa (despesas por conta do mandante)
• Sem representação: no interesse e por conta de outra pessoa, mas não em
nome de outra pessoa. Agir em nome próprio, mas é obrigado a transferir
todos os efeitos do negócio jurídico ao mandante
No direito romano era proibida (salvo algumas exceções) a representação direta.
No direito português, os efeitos do mandato com representação produzem-se
diretamente na esfera jurídica do mandante, o que não acontecia no direito romano.

Obrigações
a) Do mandatário – obrigação de cumprir a atividade a partir do momento que
aceitou; efetuar a atividade nos termos que o mandante estabeleceu (se não o
fez, realizá-la segundo a natureza dela); prestar contas da sua gestão ao
mandante

Ribeiro de Almeida
O mandatário pode encarregar outras pessoas dessa atividade, mas responde
pelo trabalho do substituto.
b) Do mandante – obrigação de pagar as eventuais despesas que o mandatário
teve ao realizar a atividade; indemnizar os danos que a realização da atividade
causou ao mandatário

Comparação entre o direito romano e o direito português


A encarrega B de realizar um negócio jurídico (compra e venda) com C. O B não paga o
preço da compra.
No DP, o C vai demandar o A porque o B está mandatado pelo A.
No DR, o C vai demandar o B porque foi com ele que celebrou o contrato, mas B vai
dizer ao pretor que não foi no interesse nem por conta dele, mas sim do A. O pretor
chama o A e há uma ação de substituição de pessoas: o demandado deixa de ser o B e
passa a ser o A.
Se a coisa vendida por C tivesse vícios: B compra a C, mas está a agir por conta, no
interesse e no nome de A. B entrega então a coisa a A e este vê que a coisa tem um
defeito.
No DP, o A entrepõe uma ação contra C.
No DR, o B age contra C (contrato celebrado entre os dois), mas ele vai dizer que agiu
em nome de outra, ou seja, vai haver uma substituição de pessoas na ação judicial.
O pretor foi permitindo (actiones utiles) que agissem diretamente uns contra os outros
sem terem de passar pelo intermediário.

O mandato extingue-se por:


• Execução do encargo
• Impossibilidade da execução do mandato
• Vencimento do prazo fixado
• Acordo das partes
• Revogação do mandante
• Renuncia do mandatário (ex. dos advogados)
• Morte de qualquer uma das partes

Nos contratos reais, a prática do ato material é um elemento do contrato.


Nos contratos consensuais, é só um efeito do contrato.

Direito português comparado ao direito romano nos contratos consensuais


Compra e venda
- Consensual
- Implica a transferência do direito de propriedade e não de posse como no DR
- Não está sujeito a forma salvo se for coisa imóvel
- Efeitos depois da perfeição do contrato (consenso): obrigação da entrega da coisa e
do pagamento
- Vícios ocultos: possibilidade de o contrato ser anulado ou ainda a redução do preço
- Possibilidade do vendedor se arrepender e pedir a coisa de volta
- art. 796 n.3: risco

Sociedade

Ribeiro de Almeida
- art. 980: noção igual
- No DP a sociedade tem personalidade jurídica
- Contrato de locação (1022, de coisa): noção igual
- Obrigações do locador: igual
- Obrigações do locatário: 1037 n.2 – ele é um detentor, pode recorrer aos
instrumentos de tutela da posse (no DR e no DP)
- Contrato de trabalho: 1152
- Contrato de empreitada: 1207
Mandato
- art. 1557, noção igual, características iguais
- Obrigações das partes: igual

Direito estrangeiro comparado ao direito romano nos contratos consensuais


Italiano
Compra e venda: consensual; transmite o direito de propriedade
Locação: noção igual
Sociedade: tem personalidade jurídica
Mandato: igual

Francês
Compra a venda: consensual; regime idêntico ao português e não ao do DR por causa
da transmissão da posse e não da propriedade
Locação: consagra diversos tipos de locação além das 3 que conhecemos do DR; usa a
nomenclatura que vem do DR (locação de coisa, obra e trabalho)
Sociedade: tem personalidade jurídica
Mandato: é igual

Alemão
Compra e venda: não é consensual, é real quanto à sua constituição, o contrato não
está perfeito pelo simples consenso das partes, só produz os seus efeitos com a
entrega da coisa (móveis) ou com o registo (imóveis), ou seja, só com essas exigências
é que o direito de propriedade se transmite
Locação: igual
Mandato: igual
Sociedade: tem personalidade jurídica

Espanhol
Compra e venda: a maioria da doutrina espanhola quanto a este contrato é que ele é
real quanto à sua constituição. Implica a traditio quanto a coisas móveis.
Locação: usa a nomenclatura que vem do DR (locação de coisa, obra e trabalho)
Sociedade: tem personalidade jurídica
Mandato: igual

Þ O direito romano serviu de base a todos estes ordenamentos jurídicos. Direito


comum

Ribeiro de Almeida
Contratos inominados
São relações obrigacionais que não têm denominação própria – são contratos sem
nome. Trata-se de relações cujo vínculo jurídico, que liga as partes, surge quando só
uma delas realizou a sua prestação e, por isso, pode exigir à outra a prestação a que se
comprometeu.

Elementos:
• Consenso – é o acordo em que cada parte se obriga, em relação à outra, a dar
uma determinada res ou a realizar uma certa atividade (facere) = dar dar, dar
fazer, fazer dar, ou fazer fazer.
• A execução de uma das prestações – ex. avaliador de joias: o vínculo jurídico só
surge quando eu lhe entrego a joia para ele avaliar, e não quando ele consente
em avaliar a coisa.

4 contratos
1. Contrato de permuta, permutatio: uma pessoa transfere o direito de
propriedade sob uma coisa e a outra parte faz o mesmo. É, por isso, um
contrato do tipo dar dar.
Foi discutido durante a época clássica central se este contrato não era uma
compra e venda. Na permuta qual é a coisa que funciona como um preço para
ser uma compra e venda? Não sabemos, e por isso não é compra e venda –
escola proculeiana. É um contrato real, ao contrário da compra e venda.
É um contrato que implica a transmissão do direito de propriedade, o que
significa que ambos têm de ser proprietários das coisas que vão dar.
Em todo o restante, aplicava-se o regime da compra e venda.

2. Contrato estimatório, aestimatum: uma pessoa entrega uma coisa a outra para
que essa outra a venda.
• Elementos:
a) Entrega da res da parte de A para que B a venda
b) Fixação do valor a pagar a A da parte de B
c) Obrigação alternativa de B pagar o valor fixado ou restituir a res se
não for vendida
d) Faculdade de B se apoderar da diferença entre aquele valor e o
preço da venda
Corresponde à venda à consignação no regime português: ex. as joias numa
ourivesaria à venda não pertencem à ourivesaria (ao proprietário dela),
pertencem à outra parte que levanta essas joias se elas não forem vendidas.
Este contrato é celebrado no domínio mercantil do direito português.

3. Contrato de precário, precarium: não está no nosso ordenamento jurídico. É


um contrato em que uma pessoa concede gratuitamente a outra a pedido
desta, o uso de uma res ou o exercício de um direito, com a faculdade de
revogar, em qualquer momento, a concessão.
Será um contrato de comodato? Não, pois a pessoa que recebe a coisa tem um
poder de uso mais amplo do que o comodatário; e a pessoa que entrega a coisa

Ribeiro de Almeida
pode a qualquer momento por fim a essa concessão (por isso se chama
precário).
4. Contrato de transação, transactio: é um contrato em que as partes põem fim
ou evitam um litígio mediante concessões recíprocas.
Este contrato consta no artigo 1248 do CC.

Fim da matéria até ao segundo teste

Ribeiro de Almeida
Quase contratos
São relações que geram obrigações, ainda que não sejam contratos por completo. Não
há acordo, mas sim um ato unilateral que gera obrigações para mais do que uma
pessoa, senão aquela que praticou o ato.

Promessa unilateral ou pública


É uma promessa unilateral de realizar uma prestação. Na época clássica, o direito
romano só conferia validade jurídica a promessas determinadas por motivos de
interesse público ou circunstâncias especiais. Temos como exemplo o do cão perdido:
o dono está obrigado a dar o valor prometido se a outra pessoa o encontrar. Se o dono
não cumprir com a sua obrigação, a outra parte pode demandá-lo em tribunal.

Gestão de negócios
Ela ocorre quando alguém, sem estar mandatado pelo serviço que desempenha ou
sem ter nenhum dever de ofício (dever de profissão), realiza, por sua própria iniciativa
e no interesse alheio, a gestão de um ou mais negócios de outra pessoa.
Desta atividade unilateral nasce uma relação obrigacional entre quem faz a gestão (o
gestor) e aquele em cujo interesse atua (o dono de negócio). O seu objeto é
constituído pelas seguintes obligationes:
1. Do gestor:
a) Realizar a gestão, que iniciou, segundo a natureza do negócio e no
interesse do dono deste
b) Transmitir ao dono do negócio os efeitos dos negócios jurídicos
concluídos, quando os ratifique
2. Do dono do negócio: ressarcir ao gestor os gastos que realizou e liberá-lo das
obrigações assumidas, desde que a gestão tenha sido útil

Nos direitos pós-clássico e justinianeu, a negotiorum gestio devia obedecer aos


seguintes requisitos:
1. O gestor só pode agir exclusivamente no interesse alheio
2. A intenção do gestor do negócio é de beneficiar o dono do negócio
3. A gestão tem de ser útil
Quando é que ela é útil? Ex. o vidro do vizinho partiu e faço a substituição do
vidro para que a água não entre se chover. Se eu decidir substituir a janela, a
ação já não é útil e o gestor pode não me ressarcir das despesas que tive ao
fazê-lo.
No DR, a gestão é útil quando o gestor atua segundo o critério de um homem
normal e o que ele faria naquela situação, e não de acordo com a vontade real
e presumida do negócio.
No DP, o gestor do negócio faz o que o dono do negócio faria se estivesse
presente. Se não se conhece a vontade real do dono, tem de se a presumir.
Se a gestão é útil, o dono de negócio tem de pagar as despesas do gestor.
O fundamento da obrigação do dono do negócio ter de indemnizar o gestor do
mesmo está na anulação do enriquecimento injusto. O dono do negócio teria
uma vantagem sem fazer nada por ela.

Ribeiro de Almeida
A gestão de negócios assenta nos seguintes princípios:
• Princípio da ordem pública – ninguém se deve meter na esfera jurídica e
patrimonial alheia
• Princípio da relação de solidariedade entre as pessoas – evitar que o
vizinho sofra mais danos
O regime deste quase contrato é igual em todos os ordenamentos jurídicos estudados
anteriormente.

Enriquecimento sem causa (injusto)


Verifica-se quando uma pessoa se enriquece sem causa jurídica. Temos como exemplo
um pagamento indevido. Quando uma pessoa realiza uma prestação, estando
convencida que está obrigada a realizar essa prestação, com o objetivo de extinguir a
obrigação, mas na verdade essa obrigação nunca existiu. A pessoa que efetuou a
prestação tem direito de exigir de volta (repetir) àquele que indevidamente pagou,
pois caso contrário, a pessoa que recebeu o pagamento ou a prestação enriquece-se
sem justa causa.
A obrigação de restituição dependia dos seguintes elementos:
• Era necessário que a prestação tenha sido feita com o objetivo de extinguir
uma obrigação; no caso de uma doação não posso exigir de volta
• O pagamento é indevido porque a obrigação não existe (ou era a pessoa errada
ou o pagamento já tinha sido efetuado, etc.)
• A prestação é efetuada porque a pessoa considera, erradamente, que a
obrigação existe
• A pessoa que recebe o pagamento, tem de estar de boa-fé: se soubesse que a
prestação não lhe era devida teria que o informar, caso contrário no DR era
responsável por furtum

Alguém efetua um pagamento a outra para que essa realize uma atividade. Essa
pessoa não o faz: estamos perante um enriquecimento sem causa porque a pessoa
recebeu o dinheiro, mas não realizou a atividade. Havendo um contrato não se aplica o
enriquecimento sem causa, porque nesse caso seria um incumprimento contratual.
Ofereço uma prenda para alguém que se vai casar, mas o casamento nunca se verifica:
posso pedir de volta o que ofereci, porque a causa da minha oferta nunca se realizou.
Se eu levar a minha roupa a uma lavandaria e esta a perde, eu tenho direito a ser
indemnizada. Mais tarde a lavandaria contacta-me e diz-me que a roupa apareceu. A
indemnização que me foi dada tem de ser restituída pois ela já não faz sentido.

Uma obrigação é natural quando já não é judicialmente exigida, mas é uma obrigação
jurídica. Se o dono do bar não agir judicialmente contra o aluno que não pagou,
estamos perante uma prescrição presuntiva. Mas a obrigação existe, porque a dívida
existe, mas o dono do bar já não pode agir judicialmente contra esse aluno. Anos
depois, o aluno vai pagar e o dono do bar recebe o pagamento devido. Mas o aluno
vem a saber que a dívida prescreveu: vai até ao dono do bar e pede de volta, mas não
o pode fazer, porque ele fez um pagamento devido e cumpriu uma obrigação (natural).

No direito português e nos outros direitos europeus o regime é o mesmo.

Ribeiro de Almeida
Delitos e quase delitos
Também são fonte de obrigações.
Os delitos derivam da prática de um ato ilícito, sem ser um contrato ou um quase
contrato. Temos como exemplo a responsabilidade aquiliana, que tem origem na
época arcaica, hoje chamada responsabilidade civil (483 CC).
O direito romano distinguia delitos e quase delitos pois aqueles vigoravam no ius civile
e estes no ius honorarium, mas substancialmente são exatamente iguais.

Direitos reais
• De gozo – como o direito de propriedade e os iura in re aliena: usufruto,
servidões prediais, uso e habitação, direito de superfície
• De garantia – como o penhor, a fidúcia, a hipoteca
• De aquisição – tem uma visão doutrinária e não legal, ex. direito de preferência
legal

Os direitos reais têm sido caracterizados diferentemente. Segundo a doutrina


considerada clássica (teoria realista), são poderes diretos e imediatos de uma pessoa
sobre uma coisa certa e determinada. A teoria personalista é sobre a relação entre os
indivíduos: direito real tem eficácia erga omnes, ou seja, vai gerar a obrigação para
todas as outras pessoas passiva e universal de não fazer, interferir, não se intrometer
nas coisas que pertencem a outra, para que o proprietário possa retirar os benefícios
da coisa.
• Distinção entre direitos obrigacionais e reais
Um direito obrigacional é um direito que uma pessoa tem de exigir um
comportamento de outrem. São, por exemplo, os direitos de crédito, pois só
produzem efeitos entre as partes: o credor só terá o seu crédito totalmente satisfeito
se o devedor cumprir com a sua obrigação.
Um direito real é um poder direto, imediato e com eficácia erga omnes sobre a coisa,
ou seja, é um direito absoluto. O titular de um direito real não precisa da colaboração
de outra para ter o gozo da coisa.

O direito real contém 2 elementos:


1. Interno – poder direto e imediato que o titular do direito real tem sobre a coisa
2. Externo – relação jurídica que se gera entre o titular do direito real e todas as
outras pessoas gerando uma obrigação passiva universal

Como consequência de o direito real ter uma eficácia erga omnes, tanto no DP como
no DR, temos 2 princípios:
• A taxatividade – só existem os direitos reais que a lei prevê, não se podem criar
outros, não há liberdade em relação a estes; ao contrário dos direitos das
obrigações em que há liberdade contratual. 1306 CC
• A tipicidade: só existem nos termos que a lei prevê, as normas que a lei prevê
não podem ser alteradas pela vontade das partes

Os direitos reais implicam a celebração de contratos com efeitos reais – afetam a


situação jurídica da coisa, alteram os direitos reais da coisa.

Ribeiro de Almeida
Os direitos reais são, como sabemos, direitos sobre coisas. O que são então as coisas
para o direito? São, coisas para o direito, segundo estas características:
• As que são exteriores ao sujeito; as pessoas não são uma coisa (no direito
romano já foram, ex. os escravos)
• Têm de ter valor económico
• Têm de ser um objeto em si mesmo – tem de ter autonomia, tem de ser
desintegrada de outra, tem de ser individual, tem de ser distinta das outras
coisas
• Têm de ser acessíveis
• Têm de ter utilidade
Há coisas hoje em dia que não eram coisas para o direito antigamente, mas passaram a
ser e outras novas surgiram. Por exemplo, em Roma não havia eletricidade, hoje em
dia há: é considerado uma coisa, pois tudo o que tem existência corpórea é
considerada res.

1. Direito de propriedade
Qual é o conteúdo do direito de propriedade? É usar, fruir e dispor duma res:
• Usar – retirar utilidade da coisa sem a destruir
• Fruir – colher frutos (naturais ou civis), retirar rendimentos da coisa
• Dispor – é a disposição material da res, é poder alienar e destruir a coisa
O que distingue o uso da fruição? A fruição implica obter os rendimentos da coisa.
O uso da coisa não permite obter rendimentos da coisa. Se eu for usuário, não posso
arrendar a coisa onde habito. Se for usufrutuário pode arrendar, porque a renda é o
fruto da coisa, os rendimentos da coisa. O usufrutuário pode vender o seu direito de
usufruto, e não a coisa da que usufrui. Só o proprietário da coisa é que pode vender ou
destruir a coisa.
O direito de usufruto é um direito real sob coisa alheia, e é o direito que mais
comprime o conteúdo do direito de propriedade.

As características do direito de propriedade são as seguintes:


1. Confinidade – limitação espacial do prédio (rústico) que em Roma implica uma
demarcação
2. Absorvência – tudo o que está no interior do prédio pertence ao proprietário
3. Imunidade – os prédios não podiam ser tributados, não estavam onerados por
quaisquer impostos ou encargos, públicos ou privados. Hoje é permitido
4. Perpetuidade – o direito de propriedade era perpétuo: não se podia comprar
um prédio para um determinado tempo, ou seja, a propriedade temporária era
proibida. Só foi admitida no tempo de Justiniano e no direito português em
ocasiões excecionais (1307 n.2 CC)
5. Plenitude – o proprietário pode tirar da res todas as utilidades possíveis nos
termos da lei
6. Absolutidade – este direito tem eficácia erga omnes
7. Exclusividade – o direito de propriedade não necessita, não depende de
nenhum outro direito: é um direito exclusivista sobre a coisa
8. Elasticidade – permite compressões do seu conteúdo e depois podem
estender-se novamente

Ribeiro de Almeida
Limitações do direito de propriedade
O conteúdo deste direito é exercido nos termos da lei: as suas restrições já vêm do
direito romano.
Karl Marx dizia que em Roma, o direito de propriedade não tinha limitações. Porém,
Marx equivocou-se pois já em Roma havia restrições a este direito. Destacamos
algumas impostas por:

• Interesses públicos
a) Expropriação por utilidade pública – a autoridade pública podia apoderar-se
de uma res alheia, mas duas condições tinham de ser cumpridas: a res
expropriada teria de ser destinada à satisfação de um interesse público e o
proprietário ser devidamente indemnizado
b) Limitações de prédios ribeirinhos – os proprietários de terrenos confinantes
com rios navegáveis eram obrigados a permitir a utilização das suas
margens aos navegantes para aí desenvolverem atividades relacionadas
com a navegação e a pesca, teriam de suportar os incómodos
c) Limitações provocadas pelo trânsito público – se uma via (estrada) fosse
deteriorada por inundação ou ruína, o proprietário do terreno mais
próximo devia permitir a circulação do trânsito sobre o seu terreno.
Também os proprietários de terrenos confinantes com a via publica eram
obrigados a mantê-la em bom estado pois esta era fundamental para a
unificação do Império
d) Limitações urbanísticas – a Lei das 12 tábuas prescreveu que entre as casas
fosse deixado um certo espaço. Mais tarde também foi protegida a beleza
dos edifícios, proibindo os proprietários de arrancar as esculturas, as
estátuas e todos os elementos ornamentais. Ainda na época clássica, foram
regulamentadas a altura, a distância e a estética dos edifícios

• Interesses privados
a) A Lei das 12 tábuas proibiu o proprietário de um terreno de desviar o curso
natural das águas fluviais com prejuízo do vizinho (1351 CC). Esta limitação
ao direito de propriedade vem ao de cima quando o Império Romano chega
ao Norte de África, pois a água era escassa
b) A mesma Lei permitiu que um proprietário prejudicado pela sombra dos
ramos de uma árvore plantada num terreno vizinho (abuso de direito)
exigisse o corte dos ramos até a uma certa altura e os cortasse se o
proprietário da árvore recusasse (1366 CC). É um abuso de direito
c) Por força da mesma lei, o dono de uma árvore podia penetrar, no terreno
vizinho, para recolher os frutos aí caídos
d) Ao vizinho foi, também, concedido o poder de arrancar e de se apoderar
das árvores inclinadas sobre a sua casa se o proprietário destas não as
arrancasse
e) Na época justinianeia, impôs-se o princípio segundo o qual as águas que
excedessem as necessidades de um terreno deviam ser restituídas aos
outros terrenos e os proprietários de terrenos superiores foram proibidos
de diminuir artificialmente o afluxo de águas aos terrenos inferiores

Ribeiro de Almeida
f) Ainda no direito justinianeu, foi limitado o poder de o proprietário realizar,
no seu terreno, obras que constituíssem um obstáculo à ação do vento nas
eiras vizinhas
g) Deve ser tolerada a emissão, desde que não graves, de fumos, poeiras,
vapores, humidade, odores, etc. provenientes do uso ou exercício normal
da propriedade vizinha (1346 CC). O proprietário só não pode realizar
atividades que sem nenhuma (ou muito escassa) utilidade própria, se
destinem a causar dano a outros.
No direito romano a teoria do uso normal gera emissões lícitas que o
vizinho tem de suportar. A teoria do uso anormal gera emissões ilícitas.
No direito italiano distinguimos as influências diretas (os efeitos só se
produzem no prédio vizinho) e indiretas, as permitidas (começam no prédio
em questão e continuam para o vizinho, ex. fumo).
Surgiu ainda a teoria do abuso ou do excesso do direito (consagrado no
artigo 334 do nosso código civil) segundo a qual o proprietário está proibido
de usar dolosamente o seu direito, ou seja, tão excessivamente que não se
justifica.

• Em Roma havia também motivos religiosos e morais em relação às restrições


do direito de propriedade, por exemplo, a Lei das 12 tábuas proibiu a
incineração e a sepultura de cadáveres dentro da civitas, dentro da cidade ou
mesmo o mandato por parte dos sacerdotes de Roma para a demolição de
casas que os impedissem de perscrutar o voo das aves, etc.
Estas restrições mostram que Roma não admitia a liberdade total do direito de
propriedade. Roma já proibia o abuso de direito.
Princípios fundamentais do direito romano: viver honestamente (não abusar dos seus
direitos); não prejudicar ninguém e atribuir a cada um o que é seu.

2. Compropriedade (condomínio em Roma)


O condomínio é a pertença a várias pessoas de uma res ou de um conjunto de bens
(bona).
Constituía-se voluntária e não voluntariamente, segundo estivesse presente ou
ausente a voluntas das pessoas que, entre si, acordavam pôr em comum determinado
bem ou bens (res communes):
• Voluntária, ex. contrato de sociedade
• Involuntário, ex. herança não partilhada – se os herdeiros forem vários, vão ser
proprietários da massa de bens que é deixada pela pessoa que morreu que vai
ter de ser partilhada
Cada um tem um direito de propriedade qualitativamente idêntico (1403 CC), mas não
necessariamente quantitativamente. O facto de o direito de propriedade ser diferente
quantitativamente, implica um acordo entre todas as partes do negócio jurídico.
Temos a teoria da divisão ideal da res que nos diz que concorrem, no condomínio,
vários direitos de propriedade cuja titularidade pertence a pessoas diferentes. Cada
um destes direitos tem por objeto não a totalidade, mas uma parte da res communis.
Simplesmente, encontrando-se a res materialmente indivisível, esta parte não pode
ser uma porção material, corpórea, mas uma parte ideal: uma quota.

Ribeiro de Almeida
Sou comproprietário de uma coisa e posso vender, mas só posso vender o que me
pertence, ou seja, a minha quota (%). Não posso vender nada de especificado do
prédio, que é algo comum (salvo se os comproprietários concordarem).
Em virtude de um comproprietário ser proprietário duma quota, independentemente
do tamanho desta, ele tem direito de exercer o seu direito de propriedade sobre a
coisa, em plenitude (1405 CC).
Se eu quiser vender a minha parte, os meus comproprietários têm direito de
preferência.
Os direitos dos comproprietários são os seguintes:
• Poder de disposição – pode dispor, ou seja, pode alienar a quota que lhe
pertence
• Poder de usufruto – pode usufruir da parte que lhe pertence
Porque é que o comproprietário pode sempre exigir a divisão da coisa? A
compropriedade gera limitações no uso da coisa e o exercício de direito fica
enfraquecido.

3. Posse
Na época clássica, a possessio foi considerada um poder de disposição, de facto, de
uma res que o possuidor exercia com intenção de lhe pertencer exclusivamente. Ou
seja, ter a posse de algo é agir como proprietário da coisa, sem o ser. Distingue-se da
detenção de algo– o comodatário detém a coisa, agindo sabendo que a coisa é de
outra pessoa.
A ordem jurídica assume que a pessoa que tem a posse da coisa e age como se fosse
dela, é proprietário, porque aquela pode provar facilmente que tem a posse desta,
mas não pode provar facilmente que é proprietário. À ordem jurídica basta-lhe a posse
para assumir a pessoa como proprietário da coisa em questão.
O exercício continuado da posse pode gerir a propriedade por via da figura da
usucapião.
A posse não é um direito – é um poder de facto. A pessoa que tem a coisa usa-a como
se fosse proprietário, mas não é.
Savigny distingue 2 elementos da posse:
• O corpus – elemento material, que se identifica com os atos (materiais)
praticados numa res, que traduz o poder de facto sobre a coisa, direto e
imediato
• O animus – elemento espiritual ou psicológico, que se traduz na intenção de o
possuidor atuar como se fosse proprietário; este elemento distingue a posse da
mera detenção (1253 CC)
Um locatário não pode alterar nada na casa sem a autorização do senhorio, por isso
não se comporta como proprietário e é, então, mero detentor.
A posse presume o direito de propriedade (1268 CC)

Em relação à tutela da posse, a figura da ação direta pode ser aplicada em casos
excecionais. Outros instrumentos de tutela da posse são também os interditos
possessórios, consagrados no CC

Ribeiro de Almeida
Direitos in re aliena
Os direitos sob coisa alheia contêm todas as características dos direitos reais.
Estes são direitos reais que vão onerar uma coisa que pertence a outra pessoa; vão
comprimir o direito de propriedade que pertence a outra pessoa.
A pode vender o seu prédio a quem quiser, mas B (locatário, usufrutuário etc.) estava
lá e permanece lá porque tem um direito real sob a coisa com eficácia erga omnes.
Características dos direitos reais sob coisa alheia:
• São direitos reais que vão onerar uma coisa que pertence a outra pessoa; vão
comprimir o direito de propriedade que pertence a outra pessoa
• Gozam do princípio da elasticidade – o conteúdo do direito de propriedade
pode ser comprimido
• Limitam, mais ou menos, o direito de propriedade

a) Servidões prediais
Poder-se-á considerar servidão (servitus) um direito real sobre uma res aliena
disciplinado por um conjunto de regras que lhe transmitem autonomia e
individualidade próprias.
As servidões prediais satisfaziam necessidades de um terreno (dito dominante),
permitindo ao seu proprietário realizar determinadas atividades no terreno vizinho
(dito serviente) ou impondo ao proprietário deste a abstenção de certas práticas ou
atuações: no primeiro caso, a servidão dizia-se positiva; no segundo, negativa.
Não se trata, porém, duma relação entre dois terrenos (o que seria juridicamente
inconcebível), mas dum direito sobre uma res aliena, cujo objeto consiste em
proporcionar uma determinada fruição ou vantagem ao terreno dominante, a que
corresponde uma limitação ou desvantagem imposta ao proprietário do terreno
serviente. Simplificando, é um direito sobre um prédio alheio: um dos prédios tem
uma desvantagem (prédio serviente) e o outro uma vantagem (prédio dominante), que
é o que tem direito de passagem no prédio serviente.

A é o proprietário do prédio X. No interior do prédio X está encravado o prédio Y,


sendo proprietário deste o B. O B tem de ter acesso à via pública, o que resulta numa
servidão legal de passagem. Y é o prédio dominante, X é o prédio serviente. B tem um
direito real (servidão predial) sob o prédio de A.

O direito romano apresenta-nos várias servidões prediais posteriormente agrupadas


em rústicas. As servidões rústicas facilitam a produtividade dos terrenos; as urbanas
proporcionavam uma habitação mais cómoda. Temos:
• As servidões prediais rústicas – são as servidões prediais mais antigas. Temos o
exemplo da servidão legal de passagem em relação aos prédios encravados.
O DR já previa vários tipos de servidões prediais rústicas, ex. as servidões de
água que consta no código civil
• Servidões prediais urbanas – ex. servidão de estilicídio e servidão de vistas
consagradas no código civil

A servidão extingue-se por ex. quando A vende o prédio a B: B passa a ser proprietário
dos dois prédios. Também se extingue devido à demolição do edifício dominante, etc.

Ribeiro de Almeida
b) Usufruto
É o direito que mais restringe o direito de propriedade. Não há divergências entre o
regime português e romano.
O usufruto é o direito real de usar e desfrutar não abusivamente uma res aliena,
respeitando o seu estado atual, a sua consistência material e o seu destino económico
(um prédio de habitação não pode virar um hotel). A esta limitação, que exprime a
ideia de que a res não deve ser consumível, juntam-se outras relacionadas com o
carácter estritamente pessoal do ususfrutus: a sua duração não pode exceder a vida do
usufrutuário, ou seja, é temporário; e enquanto direito, nem é transmissível inter vivos
nem mortis causa, embora o seu exercício possa ser cedido a outra pessoa senão o
titular do direito de usufruto. O usufrutuário não pode transformar a res nem mesmo
torná-la economicamente mais rendível (não pode transformar um jardim numa
horta), embora (tratando-se de uma casa) possa ornamentá-la e fazer os restauros
necessários à sua conservação no estado em que a recebeu.
O usufrutuário pode locar a coisa, pois pode desfrutar dela. Quando o usufruto caduca,
a locação também caduca.
Quanto ao fruir, pertencem ao usufrutuário todos os ganhos que genericamente se
consideram frutos: os naturais e os civis.
O usufrutuário é responsável pelas despesas que oneram a res: limpeza, reparação de
condutas de água e de fossas, conservação de vias, etc. No entanto, só responde por
reparações destinadas à manutenção ordinária da res. Também é responsável pela
alimentação do escravo, segundo a sua dignidade, e pelas despesas de doença.
O usufruto aplica-se muito em situações de pessoas que têm poucos rendimentos, e a
única coisa que têm é a sua casa: vendem-na, mas reservam para si o usufruto vitalício
e continuam a viver na casa para assegurar o futuro.

O usufruto extingue-se por:


• Renúncia
• Confusão: reunião, na mesma pessoa, das qualidades de proprietário e de
usufrutuário
• Destruição da res
• Não uso
• Decurso do tempo para o qual o usufrutuário se constitui
• Morte do usufrutuário

c) Uso
Originariamente, o usus terá sido o direito de usar uma res aliena sem a perceção dos
seus frutos; por isso, terá incidido apenas sobre res não frutíferas, constituindo-se,
nomeadamente, sobre bibliotecas, escravos e casas que o usuário não podia arrendar.
A sua prática estendeu-o, porém, aos terrenos rústicos e a iurisprudentia clássica foi
ampliando a esfera do “usar”: o usuário passou a poder fazer uma pequena horta,
recolher frutos, flores e lenha, com a reserva de serem consumidas no próprio local.
Também o usus concedido sobre um rebanho continha a faculdade de consumir o
leite, limitado, porém, ao necessário à satisfação das suas necessidades pessoais e
familiares.

Ribeiro de Almeida
Nas épocas seguintes avançou-se mais e, no direito justinianeu, o usuário de uma casa
podia arrendar as partes que excedessem as suas necessidades e, tratando-se de um
rebanho, era-lhe permitido utilizar o estrume para adubação do terreno.
O uso é um direito intransmissível, indivisível e sofria a mesma limitação imposta ao
usufruto: o respeito pela essência material e pelo destino económico-social da res. O
usuário era, também, obrigado a prestar uma caução, com que garantia ao
proprietário o uso diligente da res e a sua restituição no termo do uso.

d) Habitação
A habitatio é, no direito justinianeu, um direito real especial concedido a uma
determinada pessoa, de habitar ou arrendar uma casa alheia. É, também, um direito
indisponível e é vitalício.

® Qual a diferença entre o usufruto e o uso e habitação? Este direito é menos usado,
tanto no direito português como no direito romano.
O direito de uso é real, é a possibilidade de alguém usar uma coisa de outra, ex. usar a
casa de outra pessoa. O usuário só podia usar, não podia locar a coisa nem colher
frutos dela. Este regime só fazia sentido sobre uma habitação e não sobre um prédio
rústico por ex.
O direito romano diz, mais tarde, que o usuário não terá só os poderes de usar, mas
também de desfrutar um bocado, ou seja, tirar frutos, mas só aqueles estritamente
necessários para a satisfação das suas necessidades e das da sua família. Em Roma o
direito de uso não era transmissível; atualmente é transmissível.
O direito de uso e habitação não pode ser adquirido por usucapião (1293 CC) devido à
sua natureza pessoal, ao contrário do usufruto.

e) Direito de superfície
A superficies é um direito real transmissível mortis causa e inter vivos de
perpetuamente ou durante largo tempo (depende do acordo entre as partes), gozar,
plena e exclusivamente, de um edifício construído em solo alheio, mediante um
pagamento anual. Tanto pode ser oneroso como gratuito.
Enquanto direito real, surge no tempo do imperador Justiniano e está presente em
todos os ornamentos jurídicos que estudamos (italiano, francês, espanhol e alemão).
Um exemplo de direito de superfície: A é proprietário do prédio X. A permite que B
faça um edifício dentro do seu prédio. B é então proprietário desse novo prédio, Y. B
terá de ter, em princípio, a autorização de A. Há possibilidade, então, de haver uma
servidão predial. B tem um direito de superfície sobre o prédio de A. A pode vender o
prédio X a C, mas o prédio Y continua lá, ou seja, o direito de superfície mantém-se. O
mesmo acontece se a situação se inverter.
O imperador Justiniano considerou o direito de superfície com eficácia real, erga
omnes. A pode vender o prédio a C, mas o prédio Y está onerado com direito de
superfície que tem eficácia erga omnes; C sabe disso e tem de respeitar. Se for B a
vender o seu prédio Y a C, este vai beneficiar do direito de superfície com eficácia erga
omnes: A terá igualmente de suportar a situação.

Ribeiro de Almeida
Exemplos do direito de superfície na prática
B construiu uma edificação no prédio de A durante 50 anos. Durante esse tempo, o
imóvel é do B, mas ao fim desse tempo o direito de superfície extingue-se e B terá de
sair. Foi um negócio favorável para o B, pois se tiver corrido bem, ele obteve lucro.
As entidades públicas que não querem vender imóveis concedem então o direito de
superfície a outra pessoa para exploração.

A superfície constituía-se por contrato que tanto podia ser uma venda (se envolvesse
um preço pago só uma vez), uma locação (se houvesse uma renda, uma pensão) ou
uma doação.
O direito de superfície extinguia-se com a destruição do edifício, por renúncia,
confusão e prescrição. Não se extingue pela morte do proprietário desse direito,
transmite-se sucessoriamente como qualquer outro direito real.

f) Direitos reais de garantia


Na garantia pessoal, o garante responde com todo o seu património. No DR o garante
respondia também com o seu próprio corpo, podendo ser reduzido a escravo ou ser
morto.
Estes direitos reais permitem garantir o cumprimento de uma obrigação, própria ou
alheia, porque concedem ao credor um potencial poder direto sobre uma res aliena:
embora seja titular deste direito a partir do momento em que se constitui, só o pode
exercer na hipótese e a partir do momento em que o incumprimento da obrigação se
verifica. Podemos concluir que são acessórios de uma obrigação principal.
A garantia incide sob certa e determinada coisa ou um conjunto de coisas certas e
determinadas e o garante só responde com a coisa que foi objeto de garantia.
Se o devedor não cumprir com a sua obrigação, o credor vai então executar o direito
real que tem sobre a res – vai se manifestar o poder direto e imediato sobre a coisa.
Até ao momento do incumprimento da obrigação por parte do devedor, o credor tinha
a obrigação de guardar, conservar, não usar e restituir quando a obrigação fosse
extinta. Como, neste caso, o devedor falhou no cumprimento da sua obrigação, o
credor pode vender a coisa.
Os direitos reais de garantia continuam agarrados à coisa mesmo que o direito de
propriedade da res se transmita por alguma razão.

O direito romano conheceu 3 garantias reais: a fidúcia, o penhor e a hipoteca. Porém,


como a primeira transfere, para o credor, o direito de propriedade da res em questão,
só as outras constituem iura in re aliena.

a) Pignus
Na época clássica, o penhor é um direito real sobre uma coisa alheia, destinado a
garantir o cumprimento duma obligatio. Constituía-se, normalmente, através de um
contrato real, bilateral imperfeito e caracterizava-se pela cedência, ao credor, da mera
detenção de uma res e não duma datio, que se obrigava a conservar e a restituir após
a satisfação do seu crédito. Hoje versa apenas sob coisas móveis, mas em Roma incidia
sob qualquer coisa.
As características do penhor (que ainda hoje se mantêm) como contrato de garantia
são as seguintes:

Ribeiro de Almeida
• Acessoriedade – o contrato de penhor é acessório duma outra obrigação
principal, por exemplo do devedor paga a dívida. Se o contrato de mútuo for
inválido ou inexistente, o contrato de penhor também o é. Se o contrato de
mútuo foi realizado por coação física ou moral, o mútuo é inválido, ou seja, o
penhor também o é. A validade ou invalidade do penhor depende da validade
ou invalidade da obrigação principal.
• Indivisibilidade – a garantia mantém-se na integra até à extinção da obrigação
principal, ainda que essa obrigação seja extinta parcialmente e que o valor da
dívida seja menor ao correr do tempo.

Quanto ao objeto, na época clássica podia exigia-se que a res fosse corpórea, mas
podia ser futura (podiam ser empenhados os frutos que uma determinada res
produzisse).
O direito justinianeu permitiu igualmente a constituição de pignus sobre res não
corpóreas, mas suscetíveis de venda (o direito de usufruto, a superfície, etc.)

O penhor extinguia-se com a cessação da dívida garantida; a venda da res feita para
satisfação do credor; a destruição da res; por renúncia, mesmo tácita e por confusão
dos títulos de proprietário e de credor pignoratício.

b) Hypotheca
A hipoteca é um direito real sobre uma res aliena que se traduz na sua especial
afetação ao cumprimento duma obligatio. Constitui-se com base numa simples
conventio sem a traditio da res, nem a datio desta: se eu adquirir um imóvel, o
proprietário sou eu e o possuidor sou eu, não é o banco. Hoje incide sob móveis ou
imóveis sujeitos a registo, em Roma podia incidir sob qualquer coisa.
A sua origem remonta aos arrendamentos rústicos: o arrendatário afetava, na
convenção com o locador, os utensílios de lavoura e os animais e escravos, que
introduzia no seu terreno, ao pagamento da renda (merces), autorizando o dono do
terreno a apoderar-se destas res no caso de a renda não ser paga. A partir do século 1,
a hipoteca generalizou-se, passando a garantir qualquer obrigação e a constituir-se
sobre qualquer objeto suscetível de posse e de venda.
Os arrendamentos rústicos, por norma, são de longa duração, porque o agricultor vai
ter de fazer investimento, só ganha frutos anos depois, ou seja, vai necessitar de
tempo.
O locador vai querer, como já se referiu, uma garantia pois os agricultores, por norma,
têm poucas possibilidades financeiras. vão querer celebrar um contrato de penhor?
Não, o penhor implica uma traditio, mas o agricultor não quer ficar sem a coisa: nesse
caso, deixa de poder exercer a sua atividade. E um contrato de fidúcia? Não, porque o
locador perdia a garantia pois o arrendamento rústico é um contrato de longa duração,
e ao fim de 5 anos, o arrendatário pode readquirir o direito de propriedade, que antes
pertencia ao locador. Se fosse um contrato de curta duração, a fidúcia era o contrato
mais adequado para se celebrar.

A hipoteca extinguia-se:
1. Pelas mesmas causas comuns aos direitos sob coisa alheia: destruição da res,
renúncia (mesmo tácita) ou confusão

Ribeiro de Almeida
2. Com a extinção da dívida por qualquer forma
3. Pela venda da res hipotecada

Conclusão
O direito comum europeu é um direito de origem, de base romana, que chega até nós
no século 12 através do Corpus Iuris Civilis, que influencia e permanece, até hoje, nos
ordenamentos jurídicos do todo o ocidente. O direito que estudamos é um direito
romano vivo.

Fim da matéria

Ribeiro de Almeida

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