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Conceito
O Direito é uma realidade muito complexa e, por isso, difícil de definir,
pelo que os jurisconsultos romanos nunca o fizeram, defendendo que “em direito
civil, toda a definição é perigosa”. Ainda assim, o ius romanum pode definir-se
como um conjunto de normas ou regras jurídicas que vigoraram no mundo
romano entre 753 a.C. (fundação de Roma) e 565 (morte de Justiniano,
imperador do Império Romano do Oriente).
Desenvolvimento
Uma vez que o DR vigorou ao longo de 14 séculos, encontra-se dividido
em inúmeras fases, que espelham a sua evolução de acordo com as
transformações sociais que se foram registando. Para tal divisão é possível
recorrer-se a vários critérios sendo o critérios jurídico interno o mais adequado:
Época arcaica (753 a.C. a 130 a.C.);
Época clássica (130 a.C. a 230);
Época pós-clássica (230 a 530);
Época justinianeia (530 a 565).
Época arcaica
Inicia-se com a fundação de Roma e termina com a lex aebutia de
formulis, que introduziu um novo sistema processual, o processo das fórmulas,
substituindo a legis actiones (processo das ações da lei).
Esta época caracteriza-se por uma mistura dos domínios moral, jurídico e
religioso, já que o Direito era aplicado pelos sacerdotes, sendo as instituições
jurídicas rudimentares.
Época clássica
Caracteriza-se pelo alcance da perfeição do Direito e termina em 230,
quando o processo das fórmulas foi substituído pela cognitio extraordinária.
Subdivide-se em 3 etapas:
Época pré-clássica/época clássica inicial (130 a.C. a 30 a.C.):
caracteriza-se pela ascensão significativa da jurisprudência (ciência do Direito).
Época pós-clássica
Caracteriza-se pela decadência generalizada do DR e também se divide em
duas fases:
De 230 a 395, ano em que o imperador Teodósio dividiu o Império
Romano pelos dois filhos: Honório (Império Romano do Ocidente) e Arcádio
(Império Romano do Oriente). Nesta fase, a jurisprudência foi substituída por
uma ciência do Direito básica e simplista, caracterizada pela confusão de
terminologia, conceitos e instituições.
Época justinianeia
Teve início em 530, quando o imperador Justiniano encarregou o jurista
Triboniano de elaborar uma compilação jurídica, os Digesta Seu Pandectae, e
terminou em 565, com o falecimento do aludido imperador. É marcada pela
continuação do classicismo e da helenização e, principalmente, pela elaboração
do Corpus Iuris Civilis, a maior compilação jurídica jamais efetuada, que
permitiu que o legado romano em matéria de direito chegasse aos nossos dias.
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Que só intervém na falta do que é principal.
Ação civil (actio civilis) e ação honorária (actio honoraria) pretória ou edilícia
Esta classificação baseia-se na fonte da tutela jurídica consubstanciada
pela actio:
Actiones civiles: são outorgadas pelo ius civile;
Actiones honorariae: são concedidas pelos magistrados na sua
função de administrar a justiça, tutelando situações que o ius civile contemplava
de modo demasiado restrito ou não contemplava. Estas incluem:
Actiones praetoriae: concedidas pelo pretor;
Actiones aediliciae: concedidas pelos edis curuis, como a
actio redhibitoria.
Ação de boa fé (actio bonae fidei) e ação de direito estrito (actio stricti iuris)
A sua distinção corresponde, no âmbito do direito das obrigações, à
oposição entre contratos de boa fé e contratos de direito estrito. Os primeiros
produzem obrigações cujo conteúdo não está rigorosamente determinado pela lei
ou pelo acordo entre as partes, sendo que o devedor é obrigado a tudo o que de
boa fé se exige a uma pessoa honrada, leal e fiel. Os segundos geravam
obrigações cujo conteúdo estava bem definido e que deviam ser rigorosamente
cumpridas.
Assim, as actiones que tutelavam contratos de boa fé designavam-se
actiones bonae fidei e as que protegiam contratos de direito estrito designavam-
se actiones stricti iuris.
Fórmula
Era um documento escrito que fixava os termos do litígio e designava o
juiz que deveria condenar ou absolver o demandado consoante se provassem ou
não os factos invocados pelo demandante. Era escrita pelo pretor e incluía
diversas partes:
Partes ordinárias: são a intentio e a condemnatio e, geralmente,
fazem parte de qualquer fórmula;
Partes eventuais: tipificam determinadas fórmulas;
Partes extraordinárias: são a exceptio e a praescriptio e podem ser
inseridas por vontade das partes.
Intentio
É parte da fórmula na qual o demandante manifesta a sua pretensão, cuja
verificação depende da sentença do juiz. Pela sua importância, existe em todas as
fórmulas.
Condemnatio
É a parte da fórmula na qual o magistrado outorga ao juiz a faculdade de
Exceptio
Atendendo às circunstâncias d caso, pode ser necessário inserir na fórmula
uma nova cláusula que seja relevante para a decisão do juiz. Assim, o demandado
podia alegar:
Que o demandante carecia do direito invocado;
Que alguma circunstância impedia o direito de nascer (p.e., o
demandado era incapaz por menoridade);
Que um facto posterior destruiu o direito (p.e., a dívida foi paga).
Por outro lado, o demandado podia não negar o direito invocado pelo
demandante, mas apresentar um facto que o juiz devia apreciar de modo a não
proferir una sentença injusta.
Restitutio in integrum
É um expediente extra-processual através do qual o magistrado, por
motivos de equidade, não reconhecia os efeitos de um ato jurídico válido e eficaz
segundo o ius civile. Na época clássica, dependia dos seguintes requisitos:
Produção de um prejuízo em consequência da aplicação rigorosa do
ius civile;
Inexistência de outros meios jurídicos que permitam reparar esse
prejuízo;
Existência de uma causa justificativa. No seu edictum, o pretos
estabelecia as várias causas que podiam justificar a concessão de uma restitutio
in integrum, sendo que, conforme essa justificação, esta podia ser:
Missio in possessionem
Era um expediente extra-processual através do qual o magistrado,
geralmente o pretor, autorizava uma pessoa a apoderar-se dos bens de outra. Em
regra, esta apreensão de bens era provisória e tinha as seguintes finalidades:
Coação: levar uma pessoa a fazer ou não fazer algo;
Conservação: proteger as legítimas expectativas de uma pessoa
sobre um património, impedindo que este desapareça;
Execução patrimonial: permitir aos credores a apreensão de bens
para, através deles, satisfazerem os seus créditos.
Interdictum
Era também um meio extra-processual de defesa de direitos, através do
qual o magistrado dirigia a uma pessoa uma ordem sumária para que esta fizesse
ou não fizesse algo. Assim, o pretor concedia o interdictum com o objetivo de
resolver rapidamente o litígio, impedindo a perturbação da paz pública e
protegendo direitos dos particulares. Havia várias espécies de interdicta:
Proibitórios: através dos quais o magistrado proibia alguém de
adotar um determinado comportamento;
Restitutórios: através dos quais o magistrado ordena que uma res
fosse restituída a uma pessoa ou que a coisa modificada sem autorização
regressasse ao estado inicial;
Os interditos possessórios
Eram interdicta que tutelavam a posse, que consiste numa situação de
facto em que alguém se comporta como sendo titular do direito de propriedade de
uma res. Os interditos que permitiam a defesa da posse podiam ser interdicta
recuperandae possessionis, que visavam a recuperação da possa que fora retirada
ao possuidor; ou interdicta retinendae possessionis, que visavam conservar a
posse, pelo que, através deles, o pretor ordenava a cessação da perturbação da
posse.
A obrigação (obligatio)
É um vínculo jurídico através do qual o devedor fica adstrito para com o
credor à realização de uma prestação. Assim, enquanto no direito de crédito o seu
titular obtém benefício económico dependendo da conduta do sujeito passivo, o
titular do direito real obtém-no através da sua atividade exercida diretamente
sobre a res. Por isso, a actio in personam, que protege o direito de crédito, é
concedida contra o demandado pela sua relação com o demandante e não com a
res (como a actio in rem). O objeto ou conteúdo da obligatio podia ser:
Dare (dar): constituição ou transferência de um direito real, que é
um direito direto e imediato sobre uma res;
Facere (fazer): realização de qualquer comportamento diferente de
dare, podendo também consistir numa abstenção (non facere);
Prestare (prestar): identificava-se com dare e facere, mas
designava especialmente a assunção de garantia de uma obrigação.
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Ver página 13.
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Ver página 14.
Contratos reais
Não estão perfeitos sem que à conventio entre as partes acresça a prática
de um ato material (datio – transferência da propriedade de uma res – ou
tradictio – transferência da posse ou da detenção4 de uma res) sobre a res.
Os contratos reais podem ser mútuo, fidúcia, depósito, comodato ou
penhor.
Mútuo
Era um contrato unilateral e de direito estrito através do qual uma pessoa,
o mutuante, transferia a favor de outra, o mutuário, a propriedade de uma res
fungível e este último se obrigava a restringir igual quantidade do mesmo género
e qualidade. Compreende dois elementos essenciais:
Datio rei: transferência da propriedade de coisas fungíveis (coisas
sem individualidade própria, determinadas por características genéricas e pela
quantidade);
Conventio: acordo celebrado pelas partes no qual o mutuário se
obrigava a restituir ao mutuante, o tantundem.
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A detenção é o exercício de poder sobre uma res sem a pretensão de ser seu proprietário.
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Para exigir o cumprimento desta obrigação, recorria-se à actio ex stipulato.
Fidúcia
Era um contrato real, bilateral imperfeito e de boa fé, através do qual uma
pessoa, o fiduciante, transferia a propriedade de uma res para outro, o fiduciário,
que se obrigava a restitui-la depois de realizado o fim definido no pactum
fiduciae, um acordo informal. A propriedade era transferida através de um
negócio jurídico formal e abstrato, que podia ser uma mancipatio ou in iure
cessio.
A fidúcia podia ter diversas finalidades, entre elas a garantia de uma
obrigação através da fidúcia cum creditore, na qual o fiduciante transferia a
propriedade de uma res para garantir uma obrigação própria ou alheia, sendo que
o fiduciário se obrigava a restituir a res após a satisfação da dívida.
Já na fidúcia cum amico, o fiduciante transferia a propriedade de uma res
a uma pessoa que considerasse leal com vista à prossecução de diversos fins,
como o de o fiduciário a guardar (depositum) ou usar gratuitamente
(commodatum), obrigando-se a restituir a res no fim do prazo acordado ou a
pedido do fiduciante.
O fiduciante era protegido pela actio fiduciae se o fiduciário não
restituísse a res após se alcançar a finalidade determinada no pactum fiduciae; o
fiduciário podia recorrer à actio fiduciae contraria para reclamar os gastos
dispensados com a res ou ressarcir-se de danos por ela causados.
Depósito
Era um contrato real, bilateral imperfeito e de boa fé, no qual uma pessoa,
o depositante, entrega a outra, o depositário, uma res móvel para que este a
guardasse e restituísse no final do prazo acordado ou quando o depositante a
pedisse.
Comodato
Era um contrato real, bilateral imperfeito e de boa fé no qual uma pessoa,
o comodante, entregava a outra, o comodatário, uma res para que este a usasse
gratuitamente durante o tempo e do modo acordado. O comodatário era um
simples detentor da res, mantendo-se a propriedade e a posse no comodante.
Como se trata de um empréstimo de uso, o comodato tinha como objeto coisas
não consumíveis. Ainda assim, este pode incidir sobre res consumíveis, desde
que o contrato vise a ostentação da propriedade do comodatário perante terceiros
(comodatum ad pompam vel ostentationem) ou o estudo da res.
Para além disso, o comodato era um contrato gratuito, distinguindo-se da
locatio-conductio.
Tratava-se ainda de um contrato bilateral imperfeito, o que significa que
inicialmente criava obrigações apenas para o comodatário, que eram as seguintes:
Usar a coisa apenas para as finalidades expressa ou tacitamente
acordadas com o comodante. Caso contrário, estaria a incorrer no furtum usus,
ficando sujeito à respetiva pena;
Não deteriorar a res;
Restituir a res no final do prazo estabelecido e nas mesmas
condições em que a recebeu.
Penhor (Pignus)
Era um contrato real e bilateral imperfeito, através do qual uma pessoa
entregava a outra, o credor pignoratício, uma res para garantir uma obrigação
Contratos Consensuais
São aqueles cuja validade e perfeição depende apenas do acordo de
vontades das partes (consensus), que pode manifestar-se de qualquer modo.
Assim, não era necessária uma forma determinada nem a entrega da res.
No DR identificavam-se quatro contratos consensuais: compra e venda,
locação, sociedade e mandato.
Locação
A locação (locatio-conductio) era um contrato consensual, bilateral ou
sinalagmático e de boa-fé, através do qual uma pessoa, o locador (locator), se
obrigava a proporcionar a outra, o locatário (conductor), o gozo de uma res não
consumível, a prestar determinados serviços, ou a realizar uma obra, mediante o
pagamento de uma merces, i.e., uma remuneração. Uma vez que a locação podia
ter diferentes fins, distinguiam-se a:
Locação de coisa – locatio-conductio rei;
Locação de trabalho – locatio-conductio operarum;
Locação de obra – locatio-conductio operis.
Ainda assim, a doutrina da unidade contratual contesta a teoria das três
locações, já que, uma vez que todas têm como elementos essenciais a res e a
merces, a locatio-conductio não deixa de se caracterizar pela unidade dogmática.
Apesar de esta compreensão da locação ser amplamente aceite, a romanística
esquematiza a locação em três modalidades, que estão na origem dos atuais
contratos de locação, de trabalho e de empreitada.
Locatio-conducti rei
O locador obrigava-se a:
Já o locatário devia:
Pagar a merces acordada;
Conservar a res como ela lhe foi entregue e dela não fazer um uso
reprovável;
Indemnizar o locador por todos os danos que tivesse causado à res.
Restituir a res no final do prazo acordado.
A Sociedade (Societas)
Era um contrato consensual, bilateral ou sinalagmático e de boa fé, no
qual duas ou mais pessoas, os sócios (socii), se obrigavam reciprocamente a pôr
em comum coisas ou trabalho (ou ambos), visando a obtenção de um fim
patrimonial comum.
Este contrato é constituído pelos seguintes elementos essenciais:
Consensus: acordo dos sócios, no qual estes manifestavam a sua
vontade de realizar a sociedade. A vontade podia manifestar-se de qualquer
forma e devia ser contínuo, pois só havia sociedade enquanto os sócios
mantivessem o acordo, i.e., se terminasse a vontade de um dos sócios, terminava
também a sociedade. Esta ideia traduz-se na expressão affectio ou animus
societatis.
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Já na locação de obra o objeto do contrato é a atividade laboral do locador, pelo que tinha de ser ele a
realizar o trabalho.
No DR, o contrato de sociedade não cria uma pessoa jurídica distinta dos
sócios, pelo que não havia relações obrigacionais entre a sociedade e terceiros,
mas apenas de cada sócio com terceiros.
Assim, se um dos sócios celebrasse um contrato com um terceiro, a
correspondente relação obrigacional surgia apenas entre esse sócio e o terceiro.
Não obstante, se o sócio em causa estivesse a atuar como gestor de negócios ou
mandatário dos restantes sócios, deveria ceder-lhes as suas partes dos créditos e
da responsabilidade pelas dívidas assumidas.
Se todos os sócios celebrassem um contrato com um terceiro, assumiam
proporcionalmente a responsabilidade (responsabilidade pro rata), ou seja, cada
sócio apenas teria de responder perante o terceiro pela sua parte da divida. No
entanto, se no contrato de sociedade se tivesse estabelecido a solidariedade
obrigacional, o terceiro podia exigir o total cumprimento da obrigação a qualquer
sócio, que, depois de a cumprir, podia obrigar os restantes sócios a pagarem-lhe a
sua parte na dívida, ao abrigo do direito de regresso.
Quando um sócio não cumpria as suas obrigações, os restantes sócios
podiam demandá-lo através da actio pro socio.
Mandato (Mandatum)
Era um contrato consensual, de boa fé e bilateral imperfeito, no qual uma
pessoa, o mandante, encarregava outra, o mandatário, de realizar uma atividade
no interesse do mandante, de um terceiro ou de ambos e do mandatário. Por sua
vez, o mandatário obrigava-se a realizar essa atividade gratuitamente. Era
constituído pelos seguintes elementos:
Consensus: acordo das partes, que pode manifestar-se de qualquer
modo, pelo qual o mandatário se obrigava a realizar a atividade que de que o
mandante o encarregara.
Objeto: a atividade que o mandatário se obrigou a realizar, que
devia ser lícita e determinada. Qualquer atividade lícita e determinada podia ser
objeto de mandatum desde que fosse gratuita.
Finalidade: a realização da atividade pelo mandatário devia
satisfazer um interesse do mandante, de um terceiro, ou de ambos e do
mandatário. Se a atividade beneficiasse apenas o mandatário, não se trataria de
um mandato, mas de um conselho.
Contratos Formais
A existência dos contratos formais ou solenes depende da observância de
uma certa forma estabelecida pelo ordenamento jurídico. Assim, estes podiam ser
contratos verbais, nos quais a vontade se manifestava oralmente através de
palavras solenes fixadas pelo ius civile. Podiam também ser contratos literais, nos
quais as obrigações surgiam de um acordo de vontades redigido por escrito.
Stipulatio
Era um contrato verbal e de direito estrito que podia destinar-se a
satisfação de inúmeras finalidades distintas, como a criação de obrigações para
garantir outras já existentes, conferir proteção judicial a acontecimentos futuros,
evitar prejuízos, entre outros.
Neste contrato, o stipulator dirigia uma pergunta oral ao promissor e este
último respondia de imediato, prometendo dar uma quantia determinada ou
determinável de pecunia ou uma res, ou realizar ou não realizar uma atividade.
Nascia, após a pergunta e a resposta, uma obligatio.
A stipulatio compreendia as seguintes características:
Solenidade: na sua celebração invocavam-se os deuses, cuja
presença espiritual obstava ao incumprimento do contrato;
Formalidade: tinha uma fórmula jurídica própria constituída por
palavras fixadas pelo ius civile;
Oralidade: o contrato tinha de ser celebrado oralmente e não por
escrito, o que levava a que não pudesse ser celebrado por um mudo, um surdo, ou
uma criança com menos de 7 anos (porque não entenderia o seu significado);
Abstração: a causa do contrato, i.e., o fim económico, social ou
prático do mesmo, não era um elemento constitutivo do contrato, pelo que este
Pactos
Eram acordos de vontades que não se identificavam com qualquer dos
contratos previstos pelo ius civile (reais, consensuais, formais). Assim, não
geravam obrigações e não eram tutelados por ações, mas sim através de
exceções. Assim, enquanto os contratos criavam obrigações, os pactos afastam a
instauração de uma actio futura. Se uma das partes instaurasse a actio que o
pacto afastara, o pretor concedia uma exceptio à outra parte, que impedia a
condenação.
Já no caso de o pacto ser celebrado simultaneamente com um contrato de
boa fé, considerava-se que era um elemento desse contrato, pelo que era
tutelados pela ação de boa fé tal como o negócio jurídico de boa fé, sendo que a
tutela por via de excepção era desnecessária.
Contratos Inominados
Eram contratos que não tinham denominação própria, já que neles o
vínculo jurídico provinha de acordos que não se manifestavam de uma
determinada forma (contratos formais), não se baseavam numa causa
determinada (contratos consensuais) e não se concluíam mediante a datio e a res
acordada (contratos reais). Assim, os compiladores de Justiniano agregaram os
contratos inominados numa categoria distinta e com a adequada tutela judicial.
Nestas relações jurídicas de natureza obrigacional, o vínculo surgia quando uma
das partes realizava a prestação a que estava adstrita, podendo, por isso, exigir à
outra parte a prestação a que se comprometeu.
Assim, estes tratados compreendiam os seguintes elementos essenciais:
Conventio: acordo de vontades através do qual cada parte ficava
obrigada, em relação à outra, a dar uma determinada res ou a realizar uma certa
atividade (facere). Distinguiam-se os seguintes acordos:
Dou para que dês (do ut des);
Dou para que faças (do ut facias);
Faço para que dês (facio ut des);
Faço para que faças (facio ut facias).
Execução de uma das prestações: constitui a causa do vínculo
obrigacional da parte que não cumpriu o que foi acordado.
Permuta (Permutatio)
Era um contrato inominado através do qual uma pessoa dava (datio) a
outra uma res determinada para que esta lhe desse outra res, pelo que se tratava
de um contrato de tipo dou para que dês.
Para os sabinianos tratava-se de uma modalidade da compra e venda, pelo
que estes a protegiam com as ações correspondentes. No entanto, uma vez que
não era possível distinguir a res vendida da res que funcionava como pretium, os
proculeianos consideravam que se tratava de um contrato inominado, tutelando-o
com a actio in factum. A doutrina proculeiana acabou por prevalecer e a
iurisprudentia distinguiu a compra e venda da permuta. A primeira era um
contrato consensual no qual o vendedor estava obrigado a transferir a posse da
res vendida e o comprador a dar o pretium. Já a segunda, uma vez que se tornava
perfeita com a primeira datio, tinha uma natureza real, sendo que ambas as partes
se obrigavam a dare. Para além disso, enquanto na compra e venda o vendedor
não pode ser proprietário da res vendida, na permuta as res devem ser
propriedade das partes.
Transação (Transactio)
Era um contrato inominado através do qual as partes punham fim ou
evitavam um litigio entre elas através de concessões recíprocas. No entanto, a
transação nem sempre era possível. P.e., não era admitida após a sentença do
litígio ou quando este fosse relativo a uma obrigação de alimentos estabelecida
por testamento.
Delitos
Eram atos ilícitos, i.e., contrários ao ordenamento jurídico, sancionados
com uma pena. Podiam ser:
Delitos públicos: ofendiam a comunidade romana e designavam-se
crimes. Eram punidos com penas públicas corpóreas ou pecuniárias;
Delitos privados: ofendiam um particular e designavam-se delictum
ou maleficim. Eram punidos com uma pena privada pecuniária e geravam
obrigações, já que o autor do delito devia pagar à vitima a pena pecuniária. O ius
civile previu quatro delitos privados que assumiam especial importância: o furto
(furtum), roubo (rapina), injúria (iniuria) e dano causado com injúria (damnum
iniuria datum).
Garantias Pessoais
Através destas, uma terceira pessoa, o garante, assume perante o credor da
obrigação que esta será cumprida. Trata-se, então, de nova obrigação que reforça
o cumprimento da obrigação principal/garantida. Existiam as seguintes espécies
formais de garantias pessoais: sponsio, fidepromissio e fideiussio.
Sponsio
Consistia numa promessa solene, de origem sacral e exclusiva dos
cidadãos romanos. Nesta, o credor colocava a questão “idem dar spondes?”
(“prometes dar o mesmo?"), recebendo do garante ou sponsor a resposta
“spondeo” (“prometo”). Criava-se, assim, a obrigação entre o credor e o sponsor,
que assegurava o cumprimento da obrigação principal.
A sponsio apenas garantia obrigações contraídas verbalmente, p.e. as
obrigações nascidas de uma stipulatio, e era intransmissível aos herdeiros do
sponsor. Para além disso, a obrigação gerada pela sponsio não era acessória à
obrigação principal, i.e., não estava subordinada a ela. Assim, se a obrigação
garantida fosse ineficaz, a sponsio não deixava de produzir efeitos.
Acresce que a sponsio tinha caráter solidário e não subsidiário, pelo que o
credor podia demandar o sponsor sem se dirigir previamente ao devedor
principal. A sponsio manteve-se na época clássica, sendo substituída, no Direito
Justinianeu, pela fideiussio.
Fidepromissio
Tratava-se de uma promessa solene na qual, invocando-se a deusa fides, os
cidadãos romanos e os peregrinos garantiam uma obrigação contraída
verbalmente segundo fórmulas do ius civile. Assim, o credor perguntavam “idem
fidepromittis?” e o garante respondia “fideipromitto”. Uma vez que produziam os
mesmos efeitos, garantiam as mesmas obrigações e estavam sujeitas às mesmas
limitações legais, a fideipromissio era muito semelhante à sponsio, falando-se,
por vezes, em sponsio-fidepromissio. Também a fidepromissio deu lugar à
fideiussio no Direito Justinianeu.
Fideiussio
Era uma garantia pessoal das obrigações acessível a cidadãos romanos e a
peregrinos, na qual o credor perguntava “idem fide tua esse iubes?” (“consentes
Garantias Reais
Reforçam o cumprimento de uma obrigação que incide direta e
exclusivamente sobre certos bens pertencentes ao devedor principal ou a um
terceiro. Assim, se a obrigação principal não for cumprida, o credor poderá
satisfazer o seu direito de crédito através dos bens do garante ou exigindo o
pagamento do equivalente ao seu valor. Inicialmente, esta função foi cumprida
pela fidúcia cum creditore e, seguidamente, pelo pignus e pela hipoteca.
Penhor (Pignus)
Era um contrato real, bilateral, imperfeito e de boa fé através do qual, uma
pessoa, o garante, entregava a outra, o credor pignoratício, uma res móvel ou
imóvel de modo a assegurar-lhe o cumprimento de uma obrigação sua ou de um
terceiro. Após o cumprimento da obrigação garantida, o credor obrigava-se a
restituir a res. No entanto, não se tratava de uma transferência de propriedade,
sendo que o credor era apenas o detentor da res, i.e., possuía-a em nome do
garante. Assim, evitava-se o problema da fidúcia, pois o credor pignoratício não
podia transmitir a res a terceiros.
Para além de celebrarem o penhor, as partes celebravam acordos que
regulavam o que aconteceria caso a obrigação principal ou a obrigação garantida
Hipoteca
Era outra garantia real das obrigações que consistia na especial afetação de
uma res, móvel ou imóvel, do devedor ou de terceiro, de forma a assegurar ao
credor o cumprimento de uma obrigação, já que, em caso de incumprimento, o
credor tinha o direito de vender a res. A propriedade, posse ou detenção da res
não eram transferidas para o credor, estando apenas juridicamente afetada, o que
tinha, relativamente às restantes garantias reais, a vantagem de a mesma res
poder ser afetada para o cumprimento de várias obrigações. Nesta situação,
vigorava a regra prior in tempore, potior in iure, segundo a qual o credor cuja
hipoteca fosse mais antiga tinha prioridade na satisfação do seu crédito à custa da