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DIREITO ROMANO

(AULAS PRÁTICAS)

Márcio Albuquerque Nobre


Bibliografia obrigatória
Bibliografia obrigatória
A. SANTOS JUSTO, Direito A. SANTOS JUSTO, Direito
Privado Romano – I, Parte Geral, Privado Romano – II, Direito das
6.ª ed., Coimbra Editora, 2017 Obrigações, 7.ª ed., Coimbra
Editora, 2019
A. SANTOS JUSTO, Manual de Direito
Privado Romano, 2.ª edição, 2018
SEBASTIÃO CRUZ, Direito Romano (Ius
Romanum), Coimbra, 1984
VIEIRA CURA, Direito Romano e História
do Direito ), Coimbra Editora, 2013
Lição n.º 1 (2020/10/30)
I – Introdução
1. Noção de direito Romano
I – Introdução: Direito Romano

“Ubi societas ibi ius”

(“onde existir uma sociedade, aí necessariamente


tem de haver normas jurídicas, Direito”)
I – Introdução: Direito Romano
1. Noção de Direito Romano (sentido estrito)

O Direito Romano é o “conjunto de normas ou regras


jurídicas que vigoraram no mundo romano desde a
fundação de Roma (753 a.C. segundo a tradição) até 565
(ano da morte do imperador do Oriente, Justiniano)” (A.
SANTOS JUSTO ).
I – Introdução: Direito Romano
Noção de «Ius Romanum» (lato sensu)
“O Direito Romano, lato sensu, é a tradição romanista:
abrange o período de 14 séculos (sécs. VI-XX), mas
sobretudo o período que vai desde o fenómeno da
«recepção do Direito Romano» até aos nossos dias”
(SEBASTIÃO CRUZ ).
I – Introdução: Direito Romano
Noção de «Ius Romanum» (sensu latissimo)
“O Direito Romano, sensu latissimo, compreende tanto o
Ius Romanum (Direito Romano, stricto sensu) como a
tradição romanista (Direito Romano, lato sensu)”
(SEBASTIÃO CRUZ ).
2. Épocas históricas do direito Romano

“O Ius Romanum (portanto, o Direito Romano stricto sensu)


não é todo igual” (SEBASTIÃO CRUZ)
I – Introdução: Direito Romano
2. Épocas históricas do «Ius Romanum» (critério jurídico
interno)

2.1. Época Arcaica

2.2. Época Clássica

2.3. Época Pós-Clássica

2.4. Época Justinianeia


2.1. Época Arcaica
I – Introdução: Direito Romano
Época Arcaica Época do Direito Romano nacionalista ou
(753 a.C – 130 a.C)
quiritário (753 a.C - 242 a.C).
Caracterização
(i) deficientemente
Época do ius gentium ou do Direito
documentada;
Romano universalista (242 a.C – 130
(ii) mistura do Direito
com a Religião e a a.C).
Moral;
(iii) instituições
jurídicas rudimentares.
2.2. Época Clássica
I – Introdução: Direito Romano
2.2. Época Época clássica inicial (130 a.C. - 30 a.C.)
– desenvolvimento ascensional da
Clássica
jurisprudência;
(130 a.C - 230)
Época clássica central (30 a.C. - 130)
Caracterização
– período de maior esplendor e perfeição do
(i) exatidão e Direito Romano;

(ii) precisão.
Época clássica tardia (130 - 230)
– início da decadência da jurisprudência.
2.3. Época Pós-Clássica
I – Introdução: Direito Romano
2.3. Época Primeira etapa (230 – 395) – período caracterizado
Pós-Clássica por: (i) simplificação de conceitos; (ii) confusão de
(230 - 530) noções clássicas; (iii) desordem na exposição de
matérias.

Segunda etapa (395 - 530) – Cisão do Império


Romano. No Ocidente, esta época é caracterizada
pela vulgarização do Direito Romano.
No Oriente, regista-se uma reacção antivulgarista
(classicismo e helenização) levada a cabo pelas
Escolas de Constantinopla, Alexandria e Beirute.
2.4. Época Justinianeia
I – Introdução: Direito Romano
2.4. Época Justinianeia (530 - 565)

Características: (i) classicismo; (ii) helenização; (iii)


elaboração da maior compilação jurídica jamais realizada –
o Corpus Iuris Civilis.
3. Corpus Iuris Civilis
I – Introdução: Direito Romano
3. Corpus Iuris Civilis
O Imperador Justiniano aproveitou os estudos
desenvolvidos nas escolas jurídicas do Oriente
(Constantinopla e Beirute) e, com a ajuda de mestres como
Triboniano, Teófilo e Doroteu, procurou restaurar a tradição
jurídica dos romanos.
I – Introdução: Direito Romano
(continuação)
O Corpus Iuris Civilis é uma compilação de ius (fragmentos
de obras dos jurisconsultos clássicos) e de leges (constituições
imperiais) que resultou deste esforço restaurador do Imperador
Justiniano.
I – Introdução: Direito Romano
3.1. Finalidades do CIC
O CIC tinha essencialmente duas finalidades: por um lado,
pretendia-se que servisse como “exposição autorizada, com
força de lei, de todo o Ius Romanum” (finalidade legislativa);
e, por outro lado, visava-se fornecer um texto único que fosse
objecto de estudo nas escolas (finalidade didáctica).
I – Introdução: Direito Romano
I – Institutiones (533) – manual de direito (inspirado
nas Instituições de Gaio) destinado aos estudantes que
iniciam o estudo do Direito .
3.2.
II – Digesta ou Pandectae (Dez. de 533) – conjunto de
Sistematização fragmentos dos principais jurisconsultos da época
clássica (ius);
do Corpus Iuris
Civilis III – Codex (534) – colecção de constituições
imperiais (leges) desde Adriano até Justiniano (de 130
até 534).

IV – Novellae – compilação de novas constituições


imperiais (leges novas) promulgadas depois do Codex,
entre 535 e 565.
4. Iuris Praecepta

Os preceitos jurídicos (“iuris praecepta”) são princípios fundamentais


que toda a norma jurídica deve “encerrar”. (SEBASTIÃO CRUZ)
I – Introdução: Direito Romano
I – Honeste vivere – tem como fundamentação-base
a Moral. Todavia, trata-se de um preceito jurídico e
não de um preceito moral. Deste modo, viver
honestamente significa não abusar dos seus direitos.
Iuris
Praecepta II – Alterum non laedere – significa não prejudicar
ninguém. O exercício dum direito próprio deverá
(preceitos assim coexistir com o direito alheio.

jurídicos) III – Suum cuique tribuere – impõe o dever de


atribuir a cada um o que é seu. Este “atribuir” pode
consistir em: (i) dar; (ii) entregar; ou (iii) dar e
entregar.
5. Direito civil, direito honorário e
direito pretório
I – Introdução: Direito Romano
5. Ius Civile, Ius Honorarium e Ius Praetorium
5.1. direito civil – “direito próprio dos cidadãos romanos e
da civitas romana”.
5.2. direito honorário – direito não civil criado pelos edicta
de certos magistrados: o pretor (urbano e peregrino), os édis
curúis e os governadores das províncias.
5.3. direito pretório – direito criado pelo pretor urbano na sua
função de “interpretar, integrar e corrigir o direito civil, por motivo
de utilidade pública”.
I – Introdução: Direito Romano
Ius Civile Ius Honorarium
Fontes: Fontes:
vCostume vEdicta de certos
vLei magistrados (o pretor,
vPlebiscito os édis curúis e os
governadores das
vSenatusconsulto províncias)
vConstituição Imperial
vIurisprudentia
I – Introdução: Direito Romano
Ius Civile Ius Praetorium
Características: Características:

vFormalista vSem grandes

vRígido formalidades

vFlexível
Lição n.º 2 (2020/11/06)
II – Fontes de Direito Civil
1. Costume
II – Fontes de Direito
Mores maiorum
Mores maiorum foi a primeira expressão utilizada para
exprimir a ideia de costume e consistia numa “tradição de
uma comprovada moralidade”.

O direito romano encontrava-se nessa tradição


inveterada e competia aos sacerdotes-pontífices a sua
difícil interpretação.
II – Fontes de Direito

Consuetudo

A expressão consuetudo afirma-se na época pós-

clássica com o significado de “prática constante observada

durante largo tempo pela generalidade do populus romanus

[corpus] com a força obrigatória da lei [animus]”.


II – Fontes de Direito

Usus

A expressão usus é pouco utilizada e refere-se sempre a

simples hábitos de agir sem a convicção da sua

obrigatoriedade jurídica.
2. Lex Rogata
II – Fontes de Direito
Lex Rogata

A lex rogata consiste numa “declaração solene com valor


normativo, feita pelo populus romanus que, reunido nos
comitia, aprova a proposta que o magistrado (presidente)
apresenta e o Senado confirma”.
II – Fontes de Direito

Povo Romano
(vota reunido nos
comícios)

Lex Rogata

Magistrado Senado (concede a


(propõe um projecto lei) auctoritas patrum)
II – Fontes de Direito
Lex Rogata (procedimento de aprovação)

1. Promulgatio (afixação do projecto em lugar público )

2. Conciones (discussão do projecto)

3. Rogatio (pedido que o magistrado dirige à assembleia comicial a


que preside, para aprovar o projecto lei)

4. Votação (nos comícios)

5. Aprovação (Senado referenda com a auctoritas patrum)

6. Afixação (realizada no Forum, em tábuas de madeira ou de


bronze)
II – Fontes de Direito
Partes da Lex Rogata

1. Praescriptio: prefácio, onde figuram, por


exemplo, o nome do magistrado proponente, o
lugar e a data de votação

2. Rogatio: texto da lei

3. Sanctio: consequências do incumprimento da lei


II – Fontes de Direito
Tipos de Leges Rogatae (sanctio)

1. Perfectae: declaram inválidos os actos contrários;

2. Minus quam perfectae: impõem penas aos transgressores


mas não invalidam os actos contrários;

3. Imperfectae: não estabelecem nenhuma sanção (lex


Cincia, de 204 a.C. – proíbe doações a partir de
determinado valor).
3. Plebiscito
II – Fontes de Direito
Plebiscito (noção)

“deliberação da plebe que, reunida em assembleia


(concilium plebis),(ii) aprova uma proposta do seu
tribuno (tribunus plebis)”.
Aprovação
Proposta pelo
Plebiscito
do tribuno Concílio da
Plebe
II – Fontes de Direito
Plebiscito (força vinculativa)
• Inicialmente não vinculavam nem patrícios nem plebeus.
• Com a Lex Valeria Horatia de plebiscitis (do ano 449
a.C.) passaram a vincular os plebeus.
• A Lex Hortensia de plebiscitis (do ano 287 a.C.)
determinou a vinculação tanto de plebeus como de
patrícios, adquirindo o plebiscito um valor equivalente ao
da lex rogata.
4. Senatusconsulto
II – Fontes de Direito
Senatusconsulto

• Noção: “É o que o Senado ordena e constitui” (GAIO).

• Inicialmente, as decisões do Senado eram meros pareceres


não vinculativos, ou seja, tinham natureza meramente
consultiva.

• No plano legislativo, o Senado limitava-se a conceder ou


não a auctoritas patrum às leis comiciais.
II – Fontes de Direito
(continuação)

• Porém, durante o Principado (a partir de 27 a.C.), ocorreu uma


deslocação do poder legislativo dos comitia para o Senado.
5. Constituições Imperiais
II – Fontes de Direito
Constituições Imperiais (noção):

“lei em que se manifesta a vontade do imperador”.


II – Fontes de Direito
Constituições Imperiais (modalidades):
1. Edictum (disposição geral do imperador);
2. Decretum (sentença que vincula apenas o caso concreto
mas que acabou por ser aplicado em situações análogas);
3. Rescriptum (resposta a uma consulta jurídica );
4. Mandatum (instrução em matéria administrativa).
6. Jurisprudência
II – Fontes de Direito
Jurisprudência (noção):

A jurisprudência é a ciência do Direito.


Ulpiano definia a jurisprudência como: “a ciência
do justo e do injusto partindo do conhecimento de
coisas divinas e humanas”.
II – Fontes de Direito
Jurisprudência (funções):
• Respondere – emissão de pareceres (responsa) destinados a
resolver questões jurídicas colocadas por particulares ou
magistrados

• Cavere – aconselhamento dos particulares no domínio da


celebração de negócios jurídicos

• Agere – aconselhamento dos particulares em matéria


processual (ex: fórmulas a utilizar, prazos a respeitar…)
II – Fontes de Direito
Jurisprudência (Escolas):

1. Escola Proculeiana (fundada por Labeo) e


2. Escola Sabiniana (fundada por Capito).

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