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DIREITO ROMANO I – Eduardo Marchi e Dárcio Rodrigues – Caderno de Vinícius Alvarenga (24-187)

O caderno será organizado de acordo com a data da aula.

24 de fevereiro de 2014
Direito Romano I – Prof. Eduardo Vita Marchi

A matéria, em geral, não é obrigatória no Brasil. Em diversos países pela Europa, é obrigatória. Diversas mudanças
do final do século XX requisitaram a importância de tal estudo.
União Europeia: unificação do Direito Civil Europeu, feito com base no Direito Romano.
China e Rússia: precisaram se adaptar ao Direito Romano, graças às diferenças do Direito Socialista e à retomada
do Direito Civil, visando a inclusão econômica mundial.

Romanos: insuperáveis e fundamentais ao tratar assuntos do cotidiano, do comércio, dos direitos privados, civis e
familiares, SEM intromissão das doutrinas religiosas. Basilares de grande parte do direito mundial.
A base do Código Civil está no Direito Romano. “Pode-se advogar apenas conhecendo o Direito Romano”. Isso tudo
faz com que tal organização desse direito e suas tratativas sejam consideradas atemporais, graças à sua adaptação
ainda muito contemporânea.

CITAÇÃO DE CASO
“Batida de carroças” (2000 anos atrás) – Os muleiros seriam atropelados pela traseira da carroça que
carregavam. Para evitar tal tragédia, eles se desviaram, mas a carroça impactou noutra carroça que bateu noutra. O
dono da última carroça não sabia com quem tratar: se com o dono da primeira carroça ou da segunda. “Questão até
hoje insolúvel, graças às diversas possibilidades de trata-la”.

28 de fevereiro de 2014.
Direito Romano I – Prof. Dárcio

“Matéria jurídica de aspecto histórico”. A história vem como um pano de fundo para os estudos técnicos-
dogmáticos-jurídicos.
O Código Civil faz sua leitura particular do Direito Romano, encaixando este às realidades atuais. A matéria de
Direito Romano será com o estudo da essência do direito daquela época. O estudo dele permite o desenvolvimento
de um raciocínio que entenda todos os direitos do mundo que se tem como base o Romano.

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INTRODUÇÃO HISTÓRICA AO ESTUDO DO DIREITO ROMANO

Após a compilação do Direito Romano por Justiniano começa a surgir e desenvolver o Direito Bizantino.
Foram 14 séculos para o desenvolvimento do Direito Romano. Esses séculos são divididos em 3 fases.

PERÍODO PRÉ-CLÁSSICO (Fundação de Roma a Século II aC)


Período mais antigo e primitivo, portanto, formativo do Direito Romano.
Compartilhava características de povos em formação.
Vínculo com a religião (Jus como justiça terrena e Fas como justiça da religião);
Sacerdotes como juristas: os pontífices (pons, ponte; facere, fazer), altos sacerdotes, eram os
únicos conhecedores da justiça;
O calendário forense era coincidente com o calendário religioso. Dias fastos eram os dias propícios
e religiosos que poderiam acontecer práticas forenses. Os dias nefastos, o contrário.
Extremo formalismo: o vínculo com a religião é uma das motivações para o extremo formalismo, muito
além dos formalismo hoje praticados ou aceitos. Apenas dias fastos para mover ações. Necessita-se um ritual
sacramental para cada ação jurídica, a ser decorada, recitada e de maneira ritualística, como uma fórmula
feita. Só assim para que a decisão fosse firmada. A falta de exatidão extrema na prática desses rituais dava
perda de causa ao requerente.
Formalismo atual: quanto mais importantes os atos civis, mais o direito dará formalismos a ele. As
formalidades bem marcadas deixam os fatos bem explícitos. A interrupção do formalismo faz com
que o ato seja inválido e tenha que ser remarcado se for para realmente ocorrer.
Primitivismo das normas: extremamente simples e casuísticas, pontuais, rudimentares, de pouca abstração
e de situações muito específicas.
Se o Direito Romano não passasse dessa fase não seria obra de estudo dos juristas.
PERÍODO CLÁSSICO (Séculos II aC a III dC)
PERÍODO PÓS-CLÁSSICO (Século III a VI), com a promulgação, por Justiniano, do “Corpus Juris Civilis”

07 de março de 2014
Direito Romano I – Prof. Dárcio

FATORES DE EVOLUÇÃO DO DIREITO CLÁSSICO

Laicização do Direito, quando Flávio obteve acesso ao calendário de dias fatos e nefastos. Por isso o direito dessa
época é chamado Direito Flaviano. Além disso, surgiu a primeira escola de direito, que teve como primeiro professor
o primeiro jurista plebeu. Houve, na justiça, a queda da religião e do excessivo formalismo nos atos processuais.

Surgimento do jus honorarium, com a criação da Lex Aebutia e da Leges Juliae. Ela criou a figura do pretor, que foi
o jurista eleito pelo povo e cuidava da administração dos processos, no lugar dos pontífices.
Pretor – Não era um juiz! Ele examinava o direito para ver se a ação poderia ser possível de encaixar em
processo e, então, ele nomearia um “juiz privado” para julgar o caso, sendo este uma pessoa qualquer do povo, de
boa reputação, aceita por ambas as partes e que não tinha relação com o processo. O pretor apenas presidia o
julgamento feito pelo “juiz privado”. O pretor redigia a fórmula processual, que era técnica, simples e servia para
instruir o juiz de como deveria proceder no julgamento. Quando uma situação não estava prevista no direito, o
pretor poderia fazer as devidas analogias. Além disso, regulamentava como e quando as leis deveriam se aplicar.

Surgimento da jurisprudentia: não confundir com o significado atual de jurisprudência (conjunto de decisões
tomadas por um tribunal e que rege os demais casos semelhantes)! É diferente!
“Juris” “pro” “videre”. É a sabedoria do direito, sendo este o estudo científico do direito feito pelos
intelectuais que estudavam a ciência jurídica. Esses estudiosos se chamavam jurisconsultos. Faziam estudos muito
cuidadosos, detalhados, aprofundados, metódicos como os gregos fizeram para todas as áreas, exceto para o direito,
pois estes nunca souberam separar a moral pessoal do direito.
Como os romanos eram práticos e precisavam de um Direito que funcionasse para a manutenção do Império
em expansão, fez-se necessário o aprofundamento dos estudos pelos jurisconsultos. Todo estudo metódico fundou,
então, a ciência do direito.
A dedução intelectual passou a ser utilizada: as palavras abordariam um conjunto de objetos para uma
mesma situação, e não regras especificadas caso a caso, com situações iguais e objetos diferentes, como ocorria no
direito pré-clássico.

Se essas evoluções todas não tivessem ocorrido, o direito romano seria matéria de estudo apenas pelos
historiadores, e não pelos juristas.

QUEDA DO DIREITO ROMANO foi no período PÓS-CLÁSSICO, que ocorreu junto com a queda do Império Romano do
Ocidente e pelas mesmas motivações. As diversas influências externas (invasores bárbaros, início do conhecimento
da cultura oriental), fizeram com que a justiça pós-clássica não fosse tão bem feita como a clássica. Os novos
jurisconsultos não eram tão inteligentes, estudiosos e precisos como os clássicos. Além disso, os bizantinos não
sabiam chegar direto ao ponto, enfeitavam muito e passaram a tratar de coisas desnecessárias.
O imperador Justiniano convocou os últimos grandes sábios do direito clássico para estudarem os textos em
latim existentes para criar compilações do direito clássico, que foram as seguintes:
Digesto: textos dos jurisconsultos
Codex: conjunto de constituições e regras criadas pelos imperadores
Institutas: resumo didático de todo o direito (instituire = instruir)
Novelas: são as regras mais recentes na época e úteis para manter na sociedade.
O conjunto dessas compilações se chama CORPUS JURIS CIVILIS, que não vingou sua aplicação legislativa
graças à falta de uso pelos imperadores que seguiram a morte de Justiniano, mas é uma grande obra jurídica e
intelectual, a qual estudamos até hoje graças à sua relevância. Após sua morte, manteve-se apenas o Direito
Bizantino, que é estudado pela matéria de “História do Direito”.

10 de março de 2014.
Direito Romano I – Prof. Eduardo Vita Marchi

CONCEITO DE DIREITO (ius/jus)

EXEMPLOS
1- “Esta é uma aula de Direito Romano” – normas jurídicas, leis
2- “O proprietário do imóvel tem o direito de despejar o inquilino” – poder, prerrogativa
3- “O testamento foi feito de acordo com o direito” – idem 1
4- “O proprietário do imóvel tem o direito de usar o imóvel como lhe aprouver dentro dos limites da chamada
função social da propriedade” – idem 2

Nos direitos Romano e Moderno existem aqueles dois sentidos para o significado da palavra “direito”. Segue abaixo
o nome deles:

DIREITO OBJETIVO: é sinônimo das normas jurídicas, das leis


DIREITO SUBJETIVO: faculdade concedida a alguém pelo direito objetivo de exigir certa
conduta alheia.

Essa classificação dada indica as duas faces de uma mesma moeda.

“Todo direito subjetivo tem uma correspondência no direito objetivo. Mas será que todo direito objetivo
tem um direito subjetivo correspondente?”

14 de março de 2014.
Direito Romano I – Prof. Dárcio Rodrigues

FONTES DO DIREITO

Ou formas de manifestação/expressão do direito.


O direito pode se expressar não somente com leis, mas também, com medidas provisórias, portarias e costumes.
A LICC diz que em casos de lacuna legal uma das maneiras para tampá-los é com o embasamento nos costumes.
“Quando você precisa de água você a busca na fonte. Quando você precisa do direito, utilizará suas fontes.”
A principal norma jurídica é a lei, mas existem outras.

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SURGIRAM NO PERÍODO PRÉ-CLÁSSICO

Costume:
- Norma jurídica não escrita (pode se tornar, não se consubstancia no texto escrito, mas na sua prática);
- Surge espontaneamente a partir dos atos da sociedade.
Para um costume ser jurídico, precisa das seguintes situações:
Antiguidade (inveterata consuetudo): diferencia o costume do modismo. Não há uma definição para a
quantificação do tempo, mas para tal há o bom-senso;
Necessidade (opinio necessitatis): convicção popular de que a obediência àquele costume é necessária.
Leis: surgiram já no período Pré-Clássico do direito romano. Eram criadas pelos comícios populares (dos patrícios) a
partir de uma democracia direta. O cônsul lançava publicamente um projeto de lei e os cidadãos votavam. Há quem
diga que a democracia romana era mais perfeita do que a democracia grega graças a isso.
Escrita: é necessária sua consubstanciação em texto oficial;
Intencional: a lei deve ser feita de forma intencional.

Plebiscitos: o conceito romano é diferente do contemporâneo. É uma forma de expressão do direito, com
consubstanciação escrita, mas tendo o diferencial de que os comícios populares (toda e somente a população
plebeia romana) decidiam as leis. Alguns patrícios se negavam a obedecer a essas leis graças aos que votavam nelas.
Lex Hortensia: lei que garantiu que os patrícios também deveriam obedecer aos plebiscitos.
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SURGIRAM NO PERÍODO CLÁSSICO

Edito dos Magistrados/do Pretor: O pretor deveria fazer uma declaração prévia e pública de quais casos ele
analisaria por analogia e de quais casos ele faria observações e complementações, mesmo que previstos em lei. Era
um jus honorarium.

Jurisprudência: no sentido romano da palavra, da ciência que estudava o direito. Começou como uma fonte não
oficial mas, por respeito intelectual, essas decisões dos jurisconsultos passaram a ser consideradas normas. É como
as atuais doutrinas dos grandes estudiosos do direito.
Então, o Imperador Augusto passou a emitir uma autorização aos jurisconsultos para que, quando estes tomassem
alguma decisão, ela e tornasse uma regra obedecida por todos.

Senatusconsultos: Acaba sendo uma falácia porque não eram legítimos representantes do povo, pois eram os
anciãos dos patrícios. Foi uma maneira de subtrair poderes dos comícios, pois o imperador manipulava as vontades
do senado e este decidia a partir da vontade daquele.

Constituições imperiais: eram normas jurídicas gerais constituídas pelo poder imperial, equiparadas às outras
fontes do direito. Esta mudança e a anterior ocorreram no Principado.

DOMINATO
Costume já estava praticamente em desuso.
As leis e os plebiscitos não eram mais utilizadas para a criação de regras de real importância.
O excesso de trabalho dado ao pretor foi dispensado por Adriano: o imperador redigiria o Edito Perpétuo.
Como a chancelaria imperial que respondia mais pelos estudos jurídicos, os jurisconsultos foram dispensados.
Os senatusconsultos também foram deixados de lado pois cada vez mais o imperador regia por constituições.

17 de março de 2014.
Direito Romano – Prof. Eduardo Vita Marchi

CLASSIFICAÇÕES ROMANAS DO DIREITO OBJETIVO

I – Históricas
Ius civile
Ius gentium
Ius naturale
Ius honorarium
Ius extraordinarium

II – Histórico-dogmáticas
Ius publicum x privatum
O ius publicum se refere ao povo/público no sentido de “Estado”.
Regula as relações entre Estado e particulares ou entre Estados.
O ius privatum regula as relações entre particulares.
O ius publicum também regula a relação entre particulares quando o interesse coletivo deve prevalecer.
A maioria dos crimes se enquadram nas duas definições, pois quando eles ocorrem entre privados, é de
interesse público a punição para que ele não reincida.
Ius cogens x dispositivum
O Ius cogens possui normas inderrogáveis, isto é, que não podem ser modificadas ou afastadas por acordo
entre particulares. As normas que se enquadram nessa classificação se chamam cogentes.
As normas do ius dispositivum podem ser dispostas pelas partes, ou seja, podem ser modificadas, afastadas
ou alteradas por particulares. São, portanto, sugestões da lei às partes.
Maneiras simples de distingui-las são: o próprio artigo pode se declarar dispositivo (por exemplo, quando
diz “salvo disposição em contrário”). Quando elas não se declaram assim, o intérprete da lei que, no caso prático,
discutirá se a norma é cogente ou dispositiva. As normas de direito público (de enorme relevância social) são sempre
cogentes.
Ius commune x singulare

21 de março de 2014.
Direito Romano – Prof. Dárcio Rodrigues

PARTE GERAL DA APLICAÇÃO DO DIREITO ROMANO

Normas Legais: feitas para regular a relação entre sujeitos e entre sujeito e objeto.
Essas normas podem ser invocadas pelo sujeito para garantir a existências dessas relações legalmente, sem
prejuízos a ninguém, baseando uma conduta correta por parte de outro sujeito.

Sujeitos do Direito: ente(s) dotado(s) de capacidade de ter direitos ou deveres, de acordo com as normas legais.
Podem ser pessoas físicas (seres humanos) ou jurídicas (entes abstratos).
Da palavra “pessoa” que vem a palavra “personalidade”.
Personalidade Jurídica: atributo de quem é pessoa. Portanto, a capacidade de ter direitos e deveres.
Quando os romanos diziam que o escravo não tinha pessoa, é porque ele não tinha personalidade jurídica.
Ao tempo de Roma, as pessoas jurídicas seriam corporações ou fundações.

31 de março de 2014.
Direito Romano – Prof. Eduardo Vita Marchi

Ato jurídico lato sensu pode ser um negócio jurídico ou um ato jurídico stricto sensu.
Uma minimíssima parte dos atos jurídicos são stricto sensu. Possuem importância limitada.
Como a maior parte dos atos jurídicos são negócios jurídicos, a tendência é que o ato jurídico stricto sensu seja
tratado como um sinônimo dos negócios jurídicos.
Negócio jurídico é todo fato jurídico voluntário lícito em que, além da ação humana, é necessária uma expressa
manifestação de vontade destinada a um determinado escopo ou finalidade jurídica. Um contrato, um matrimônio...
No ato jurídico stricto sensu estão os fatos jurídicos voluntários lícitos em que, mesmo com a ação humana, não há
expressa manifestação de vontade. Nos casos de descoberta de tesouro, como é impossível descobrir o dono (pois o
depósito deve ser antigo), a solução romana é a de dividir metade-metade o tesouro entre o dono da propriedade e
a pessoa que encontrou as preciosidades. Além disso, assessórios seguem o objeto principal: a casa é adquirida
quando ocorre a compra de seu terreno, mesmo sem a manifestação de vontade.

04 de abril de 2014.

Vagidos = choros de bebê

SUJEITO DE DIREITO - PESSOA FÍSICA


Basicamente, é definido pela existência e pela capacidade jurídica de direito/gozo.

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