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DIREITO
Institutos de Direito Romano
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O Direito Romano foi um conjunto de regras jurídicas criadas que tiveram
vigência na Antiguidade: outro tempo, outra sociedade, outros costumes.
Mas algo de surpreendente há que, de poucas tribos, Roma se transfor-
mou em um Império; de poucos homens, fez um exército avassalador;
principalmente, de alguns costumes, criou as bases de todo o Direito
Privado que usamos. Mas o que há de tão espetacular nesse Direito para
ter sobrevivido por mais de 2 mil anos?
Neste capítulo, você vai ler sobre os institutos de Direito Privado
criados pelos romanos e que estão ainda hoje no cotidiano da aplicação
do Direito brasileiro.
São considerados institutos de Direito Romano aquelas categorias jurídicas que sus-
tentam todo o sistema, como o direito das pessoas, a família, os bens e a propriedade,
as obrigações e a sucessão. Também o Direito Processual está caracterizado como
instituição de Direito Privado em face da forma de processar.
O professor Sebastião Cruz (1969, p. 394) faz uma advertência muito importante: Gaius
é um enigma, a começar pela própria denominação. Não se conhece o seu nome,
poderia ser até mesmo um pseudônimo e significar ou uma pessoa ou um grupo
de pessoas. Também não se sabe se era romano ou não, qual era a sua procedência,
nem mesmo onde se formou. Ao que tudo indica, faleceu por volta do ano 180 d.C,
vivendo no século II, mas, pelo seu texto, parece pensar e escrever como um jurista
do século IV. Além disso, parece não ter sido conhecido no seu tempo, mas foi tão
influente em etapas posteriores que o imperador Justiniano chegou a chamá-lo de
Gaius noster (nosso Gaio), e hoje a obra a ele atribuída é, sem dúvida, uma das mais
importantes no estudo das instituições de Direito Romano.
Nas ciências sociais, ao contrário do que ocorre nas físicas, o estudioso não
pode provocar fenômenos para estudar as suas consequências. É óbvio que
não se pratica um crime nem se celebra um contrato apenas para se lhe exa-
minarem os efeitos. Portanto, quem se dedica às ciências sociais tem o seu
campo de observação restrito aos fenômenos espontâneos, e o estudo destes,
na atualidade, se completa com o dos ocorridos no passado. É por isso que,
se o químico, para bem exercer sua profissão, não necessita de conhecer a
história da química, o mesmo não sucede com o jurista.
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Nós devemos aos romanos a existência duma teoria do direito. Antes da época
de Cícero não existia senão uma prática jurídica. Hoje, “direito” é, além disso,
uma teoria, que se aprende nos manuais ou nos códigos, antes de se lançar
na prática. E é uma maneira de conceber o mundo, as suas pessoas, as suas
coisas, sob o ângulo jurídico, como as matemáticas e a física são uma maneira
de aprender pelo espírito as coisas sob outro ângulo. Foram os romanos os
primeiros que, ao que parece, tiveram a ideia de construir o direito sob esta
forma, fundamentalmente nova.
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situação jurídica pessoal. Para que a pessoa tivesse capacidade jurídica plena,
era preciso preencher três status:
◼ libertatis (liberdade);
◼ civitatis (cidadania);
◼ familiae (independência).
Hoje o sistema de status não vige mais, e a condição das pessoas de sujeito de direito está
atrelada à capacidade e personalidade jurídicas, consagradas nos arts. 1º e 2º do Código Civil:
O Direito de Família
No Direito Romano, o conceito de família pode ser compreendido como o
conjunto de pessoas e de bens submetidos a uma mesma potestas (poder),
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Art. 1.591 São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para
com as outras na relação de ascendentes e descendentes.
Art. 1.592 São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto
grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma
da outra.
Art. 1.593 O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de con-
sanguinidade ou outra origem.
Art. 1.594 Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número
de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de
um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar
o outro parente (BRASIL, 2002).
Com relação ao poder familiar, a patria potestas era vitalícia, já que não
existia o instituto da maioridade (se não for emancipado, o filho fica submetido
ao poder do pater até a morte dele). Além disso, esse poder era exercido pelo
ascendente homem mais remoto, que não precisava necessariamente ser o pai
natural, já que a adoção era instituto frequente no Direito Romano. E também,
sobre a pessoa dos filhos, o pater tinha os seguintes poderes:
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Hoje, no Direito Civil, os bens são tratados nos arts. 79 a 103 do Código Civil.
Além disso, três ramos principais sobre o Direito das Coisas foram objeto
das instituições romanas: a posse, a propriedade e o direito sobre as coisas
alheias. Em relação à posse, podemos dizer que, para os romanos, a posse não
era um direito, mas uma situação de fato protegida pelo ordenamento jurídico.
Os elementos da posse foram vividos na prática romana, mas identificados
e elaborados pelos alemães do século XIX (Savigny e Ihering), sendo eles o
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Hoje, no Direito Civil, a posse é tratada nos arts. 1.196 a 1.224 do Código Civil.
Hoje, no Direito Civil, a posse é tratada nos arts. 1.228 a 1.510-E do Código Civil, incluindo
até o novíssimo direito de laje!
Hoje o Direito das Obrigações consta no Livro I da Parte Especial do Código Civil e
vai do art. 223 ao 853.
Leituras recomendadas
BRETONE, M. História do Direito Romano. Lisboa: Editorial Estampa, 1990.
CORREIA, A.; SCIASCIA, G. Manual de Direito Romano. São Paulo: Saraiva, 1961.
DIGESTO de Justiniano, liber primus: introdução ao direito romano. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009.
GAIO. Institutas do jurisconsulto Gaio. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
IHERING, R. V. El espíritu del Derecho Romano. Madrid: Marcial Pons, 2005.
JUSTO, A. S. Direito privado romano. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2006. t. 1.
KASER, M. Direito privado romano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1999.
MEIRA, S. Curso de Direito romano: história e fontes. São Paulo: LTR, 1996