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07/01/2024, 16:14 Envio | Revista dos Tribunais

Direito romano atual, sistemas jurídicos e direito latino-americano

DIREITO ROMANO ATUAL, SISTEMAS JURÍDICOS E DIREITO LATINO-AMERICANO


Doutrinas Essenciais de Direito Civil | vol. 1 | p. 873 - 901 | Out / 2010
DTR\2012\1410

Pierangelo Catalano
Titular de Direito Romano da Universidade de Roma La Sapienza.

Área do Direito: Fundamentos do Direito


Sumário:

- 1. O Direito Romano não é “matéria histórica”* - 2. Noções sobre a formação do conceito de Ius Romanum - 3.
Resistência do conceito do Ius Romanum na Idade Moderna - 4. Áreas culturais, ordenamentos jurídicos, sistemas
jurídicos - 5. Os grandes sistemas jurídicos contemporâneos - 6. Direito Romano e “Direito Latino-Americano” - 7.
“Penetração” do Direito anglo-americano na América Latina - 8. Alguns elementos de unidade e resistência do sistema
jurídico latino-americano

Revista de Direito Civil • RDCiv 41/07 • abr.-jun./1988


1. O Direito Romano não é “matéria histórica”*
Os estudos de Elemer Polay sobre o ensino do Direito Romano nos países socialistas tiveram forte eco na América
Latina.1 Isso se explica pela nítida afirmação que: “no ensino de Direito Romano nos países socialistas é dominante a
tendência, segundo a qual o escopo do estudo do Direito Romano não é somente de caráter histórico, mas antes está
inserido, na ordem do ensino daqueles países, entre as matérias de caráter teórico, servindo como propedêutica ao
ensino do Direito Civil. Esta é uma feliz concepção, porque a opinião, segundo a qual o estudo do Direito Romano
teria um escopo puramente histórico restringe este valor histórico-cultural e este ramo da ciência, indispensáveis
também na sociedade socialista, entre os capítulos da história geral do Direito, negando-lhes um peso maior do que
outros sistemas de Direito. Deve-se repelir a errada opinião, segundo a qual o Direito Romano seria somente uma,
assim chamada, “matéria histórica”.2

Esta concepção do Direito Romano como “matéria de caráter histórico” (mas não “matéria histórica”)3pode bem ser
coligada à concepção justinianéia do Jus Romanum e também a sua persistência na América Latina.4
2. Noções sobre a formação do conceito de Ius Romanum
Durante o “Coloquio Italo-Mexicano de Derecho Romano” (realizado no México, em agosto/82) sobre o tema “O Direito
Romano como direito supra nacional”, tive oportunidade de demonstrar que o conceito de Jus Romanum não é próprio
da jurisprudência clássica, mas da legislação imperial, a partir de Diocleciano. Tal conceito é aperfeiçoado por
Justiniano (que utiliza também as expressões equivalentes Romanae leges e Romana sanctio) como um instrumento
de uma concepção universalista do direito (exposta particularmente nas constituições Deo auctore e Tanta, pelos
diversos aspectos: pessoal, espacial e temporal) que não considera característica essencial dos iura aquilo que hoje
chamamos “efetividade”. O direito é claramente distinto do fato (isto é, da própria aplicação); os iura são distintos das
armas, às quais, contudo, estão também estritamente ligados. O Jus Romanum, vem, assim, a compreender o ius
naturale, ius gentium e ius civile e vem projetado in omne aevum.
Através do fragmento de Gaio (D. 1,2,1) vem codificada uma visão da história que dá máxima importância ao
principium (poderíamos defini-la: totalmente anti-evolucionista). O conceito justinianeu de Jus Romanum, arraigado na
formação da urbs Roma, compreende os aspectos espaciais e temporais (geopolíticos e históricos) do sistema de
utraque Roma (isto é, de Roma e Constantinopla).5
Considerados os aspectos, quer espaciais, quer temporais do ius, não resta dificuldade alguma, entendo, em aceitar a
tradução que Salvatore Riccobono deu da única definição do ius transmitida das fontes jurídicas antigas (D. 1,1,1 pr.):
“o sistema do bom e do justo” (Riccobono falava também de “sistema romano”).
3. Resistência do conceito do Ius Romanum na Idade Moderna
Contra a concepção justinianéia do Jus Romanum, desenvolveu-se neste século, na Europa continental (terminando o
ciclo das grandes codificações), uma tendência que, considerando o Direito Romano como “direito morto”, chegou a
fazer distinção entre “direito romano” e “tradição romanística”.6 Na verdade, os romanistas europeus não têm
adequado conhecimento daquelas concepções do Direito Romano, que dele afirmam a vigência mesmo depois dás
codificações estatais e nacionais (refiro-me, p. ex., aos escritos de James Bryce na Inglaterra, de Abelardo Lobo no
Brasil e de Augustín Díaz Bialet na Argentina): exatamente tais concepções podem ser consideradas, ao contrário, um
desenvolvimento do antigo conceito de Jus Romanum.

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A bem da verdade, o conceito do Jus Romanum manteve-se na Idade Moderna, não obstante os impulsos
desagregacionistas próprios dos reinos e dos estados nacionais. Pelo contrário, ele se universalizou, separando-se
pouco a pouco da “efetividade” do direito estatal.

Um exemplo (sobre o qual se ateve recentemente o colega chileno Alejandro Guzmán Brito)7 é dado no século XVI,
por uma passagem dos Commentarii de iure civili, de Doneau (livro I, cap. XVI, § 7). Segundo Doneau, o Direito
Romano refere-se também aos povos junto aos quais não seja vigente pro suo, uma vez que não se pode negar que
ius naturale e ius gentium sejam vinculantes em tudo e resulta de D. 1,1,1,2, que o Direito Romano “collectum est
enim non tantum ex civilibus praeceptis, sed et naturalibus et gentium (…) ut vere quis dicturus sit, ius naturale et
gentium iuris romani quodammodo partes esse, non origine, sed agnitione”. As outras nações podem descuidar-se
somente daquilo que é “próprio” da civitas Romanorum.
Esta opinião é seguida também, no século XVII, pelos defensores ingleses do Direito Romano, no campo que
chamamos “internacional”. Refiro-me aqui a um estudo recente de Virgilio Ilari.8
Arthur Duck, De usu et authoritate iuris civilis Romanorum, in dominiis Principium Christianorum (1648), livro I, cap. II,
§ 6: “Pluresque Jurisconsulti opinantur Jus Romanum… comprehensum in libris Iustiniani non esse jus Civitatis
Romanae solum; sed naturae et gentium…” Richard Zouche (regius professor de Civil Law em Oxford a partir de
1620) publica em 1650 uma obra polemicamente intitulada Iuris et Iudicii Fecialis, sive, Iuris inter Gentes et
Quaestionum de Eodem Explicatio; observou-se que a importância universal do ius fetiale “é tal que Zouche não julga
necessário nem mesmo referir, e muito mesmo refetuar, a opinião de Grozio de que a declaração de guerra não
constitui, segundo o ius naturale, um requisito para a legitimidade das operações bélicas”.9
Há uma distância de cerca de dois séculos e meio, um outro regius professor de Civil Law da Universidade de Oxford,
James Bryce, afirmou em uma série de ensaios (publicados em dois volumes, com o título Studies in History and
Jurisprudence),10

que o Direito Romano é um sistema jurídico mundial atualmente em vigor,11


dizendo precisamente: “Il diritto romano rimane pur sempre diritto romano in onta alle rese necessarie dai bisogni delle
civiltà moderne”.12
Este romanista anglo-saxão foi um notável político liberal. A sua posição frente à realidade jurídica mundial (da qual
teve profunda experiência também como diplomata) é particularmente significativa, sobretudo se confrontada com
aquela de um famoso romanista italiano, que se tinha antecipado (já 20 anos antes!) em declarar “morto” o Direito
Romano “puro”.13
James Bryce abriu o caminho para a comparação entre os grandes sistemas jurídicos, em particular entre aqueles que
ele considerava os sistemas mundiais atualmente em vigor: o sistema romano e o sistema inglês. O Direito Romano é
analisado em institutions, conceptions and rules, principles; o estudo de sua difusão (ou “extension”) permite
evidenciar a conservação da underlying unity.14
Bryce, que foi também autor de uma obra fundamental sobre o Sacro Império Romano, ressaltou que o Império não é
redutível a um “Estado” e que o Direito Romano “sobreviveu” ao Império, bem como à “dissolução de 1806”.15
O estatismo, que domina a doutrina jurídica a partir do século passado, é, dessa maneira, contraditado, graças a uma
instituição crítica que colhe o essencial do atual problema do direito, nas suas raízes históricas.
Não é excessivo configurar a contradição ao máximo nível teórico e evocar aqui a imagem do Sacro Império Romano
que Hegel delineou, no escrito a respeito da Constituição da Alemanha,16 ironizando sobre a continuidade do Império.
Hegel afirmou, obviamente com razão, que “se em toda a Europa se julgasse segundo o Direito Romano ou um outro
direito, nem por isso a Europa constituiria um estado”;17 mas exatamente a obviedade da afirmação hegeliana torna
claro o contraste entre estatismo e romanismo jurídico.
As perspectivas comparatistas podem superar o positivismo jurídico estatista. Além da visão de Bryce, é de se
assinalar aqui aquela diversa (para melhor dizer, romanicêntrica), que, a partir do codificador Clóvis Bevilaqua,
caracteriza a ciência jurídica brasileira, no conhecimento das realidades géo-culturais, em particular daquelas latinas
da América e da Europa (v. infra, § 5).
No quadro de uma tradição jurídica que exalta o papel da doutrina através do mesmo código (não nos esqueçamos
que do Código Civil (LGL\2002\400) de Vélez Sársfield, atualmente em vigor na República da Argentina, fazem parte
integrante as notas redigidas pelo codificador)18
se explica, por outro lado, que por numerosos juristas da América meridional seja, com insistência, ressaltada a
distinção entre “validade” e “efetividade” (ou “eficácia”) do direito, assim como entre “atualidade” e “positividade”,
reafirmando-se o papel histórico da interpretatio prudentium e do ius naturale.19
Incisivas as palavras do romanista da Universidade de Córdoba, Augustín Díaz Bialet (autor entre outros, de atentos
estudos sobre a importância do Direito Romano na obra de Vélez Sársfield): “Probada su recepción definitiva, probado

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que él está en el derecho actual, que es actual, que es la norma misma muchas veces, ya la discusión acerca del
valor del Derecho Romano es ociosa, y la actitud metódica es estudiarle para captar su valor científico”;20 ele afirmou
recentemente: “La sistematica relación científica entre el Corpus Iuris Civilis y las instituciones civiles del Código, no
son expresiones de una tradición romanística: sino la presencia real y organizada del Derecho Romano en el Código
Civil (LGL\2002\400) Argentino. (…) No se puede considerar al Derecho Romano con un derecho histórico, pues esto,
implica escindir un proceso científico constante tal cual es el desarrollo unitario de la ciencia del Derecho
principalmente en el derecho privado civil”.21
O civilista da Universidade Nacional da Colombia, Arturo Valencia Zea, de um ponto de vista ainda diverso (segundo o
qual “el derecho objetivo es el conjunto de códigos y leyes no codificadas que rigen la vida social de las personas que
forman un pueblo”) afirma: “El derecho civil que rige la vida social y económica de los pueblos occidentales (excepción
hecha de los países anglosajones) es derecho romano; derecho romano profundamente transformado através de más
de veinte siglos de asimilación, pero derecho romano en todo caso”.22
Não se pode reduzir o Direito Romano a “direito histórico” (ou “matéria histórica”, para usar as palavras de Pólay: v.
supra § 1). Trata-se, ao invés de reconstruir ou construir o Jus Romanum através da “notícia das realidades” e da
“ciência do justo” (cir. Ulpiano D. 1,1,10).
Para se compreender a amplitude daquilo que chamamos Direito Romano é necessário evitar representá-lo em
termos de “ordenamento” (efetivo, ou talvez, estatal) e considerá-la, ao invés, um conjunto de realidades e valores,
que é tarefa do jurista constantemente identificar.
A continuidade e resistência do Direito Romano comporta também hoje a utilização de novos instrumentos conceituais
(também, mas não somente, para fim estoriográfico) em permanente confronto e conexão com a potissima pars do
conjunto, isto é, o seu principium (cfr. Gaio D. 1,2,1).
4. Áreas culturais, ordenamentos jurídicos, sistemas jurídicos
Para compreender, quer as realidades históricas, mais amplas do que aquelas subjacentes às soberanias hodiernas
(mais ou menos efetivas) dos estados, quer as concepções do direito como claramente distinto dos fatos que o
aplicam (ou o violam), parece útil o uso (em acepções conceitualmente precisas) do termo “sistema”.
É necessário partir de alguns resultados de trabalhos interdisciplinares nas ciências sociais.
a) A antropologia coligou entre si a historiografia, a lingüística (e a literatura), a sociologia e as ciências jurídicas.
Tomemos um exemplo de dentro da “escola evolucionista”: o brasileiro Darcy Ribeiro distingue em toda formação
“sócio-cultural” um “sistema associativo”, um “sistema adaptativo” (no qual estão compreendidos também as
instituições políticas, religiosas, educativas, etc…) e um “sistema ideológico”; estes três sistemas formam a “cultura”
da sociedade.23
Deve-se, todavia, recordar os diversos pontos de vista críticos referentes ao evolucionismo: p. ex., o de Claude Levi-
Strauss.24
b) A história, enquanto ciência social, apóia-se sempre mais nas disciplinas “vizinhas”, principalmente na geografia e
na economia. Graças a isso foram individualizadas, de vários modos, grandes regiões continentais sócio-culturais.25
Hanns-Albert Steger fala de “continentes sócio-culturais”, recordando a lista proposta pelo sociólogo norueguês Johan
Galtung: Japão, China, o Sudeste Asiático, América do Norte, América Latina, Europa Ocidental, Europa Oriental,
Países Árabes, África Negra, África do Sul.26-27
c) A utilização do conceito (ou melhor: dos conceitos) de “sistema” impõem-se sempre mais.
Bastam alguns exemplos. Entre os especialistas de relações internacionais representantes da sociologia histórica
(defensores, portanto, do approche classique) citarei Stanley Hoffman.28 Recentemente, se quis formalizar em termos
de visão “sistêmica” o estudo da história das civilizações de Toynbee.29
Em tal quadro torna-se mais fácil explicar como se desenvolvem entre os juristas, especialmente entre os
historiadores do Direito e os comparatistas, duas tendências, ambas direta ou indiretamente conexas à
individualização, mais além dos direitos (ordres, ordenamentos) estatais e nacionais, de “sistemas jurídicos” que os
englobam e os superam (sistemas fundados em realidades étnicas, ideológicas, econômicas, e também, obviamente,
sobre uma comunhão de caracteres jurídico-formais e doutrinários).30
Em primeiro lugar tende-se a aprofundar o estudo das relações entre “áreas jurídicas” e “áreas culturais”, entre
Rechtskreise e Kulturkreise (para utilizar alguns dos conceitos mais correntemente utilizados): limito-me a mencionar a
ampla comunicação do polonês Juliusz Bardach no colóquio organizado, em outubro/73, pela Universidade de
Varsóvia em colaboração com a Academia Nazionale dei Lincei.31
Em segundo lugar tende-se, nos contextos culturais e lingüísticos, nos quais o termo “sistema” conserva
possibilidades de utilizações claramente diversas daquelas dos termos derivados da raiz de ordo, dando renovada

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descrição e explicação dos fenômenos jurídicos através de vários usos do termo “sistema” (de resto já amplamente
usado, ainda que com diversos significados, particularmente no século XIX, pela Escola Histórica Alemã, por Rudolph
von Jhering e outros).32
Tais recursos podem ter vários escopos: a) esclarecer as relações entre o sistema “ideal” do Jus Romanum e os
diversos ordenamentos jurídicos “efetivos” através dos quais ele pouco a pouco se estende na Europa, durante as
épocas medieval e moderna (vide a comunicação de Guido Astuti no citado Colóquio de Varsóvia);33
b) evidenciar a diferença entre os “ordres juridiques”, na sua pluralidade, e o “sistema” jurídico quando este é
particularmente complexo, como no caso do Marrocos, onde coexistem (segundo o quanto foi ressaltado nos estudos
publicados na revista da Faculdade jurídica de Rabat), pelo menos três – ordres juridiques: usage et coutumes,
prescriptions musulmanes, droit français;34
c) destacar a estreita conexão entre formas jurídicas e realidades étnicas e econômicas continentais ou
subcontinentais (assim o espanhol José Maria Castán Vázquez fala claramente de um “sistema jurídico ibero-
americano”).35 São somente exemplos.
É evidente que aqui levei em consideração os usos mais recentes do termo “sistema”, próprios dos historiadores do
Direito e dos comparatistas.36
Prescindo dos usos dele feito pelos estudiosos de Filosofia do Direito e Informática Jurídica ao distinguir o “sistema
jurídico momentâneo” (ou “sincrônico”) do “sistema jurídico diacrônico” (cujo critério de identidade depende
essencialmente da identidade das relativas formações sociais). Entendo, por outro lado, que também os filósofos do
Direito, ao definir o “sistema jurídico diacrônico” e ao individualizar os critérios de identidade (enfrentando, portanto, os
problemas da continuidade) possam levar em consideração as diretrizes para uma pesquisa coletiva de ciências
sociais traçadas por um famoso estudioso das civilizações do Mediterrâneo: “matematização”, “redução ao espaço”,
“longa duração”.37
O significado do termo “Direito Romano” é assim definido no momento em que se reafirma a identidade do sistema
jurídico, que tem seu principium na fundação da cidade de Roma (cidade que “sobreviveu ao estado”, para usar uma
expressão dos “escritos teológicos juvenis” de Hegel, 1796).
5. Os grandes sistemas jurídicos contemporâneos
No início deste século, James Bryce, professor de Civil Law em Oxford, observava que dois sistemas jurídicos
dominavam naquele momento o mundo: o Direito Romano (considerado o Direito russo a sort of modified Roman Law)
e o Direito inglês; com somente duas exceções de considerable masses of population: Oriente Muçulmano e a
China.38
Hoje a situação pode-se dizer notavelmente mudada, somente pelas conseqüências, diretas ou indiretas, da
Revolução russa. Com efeito, o trabalho feito pelos historiadores do Direito e pelos comparatistas leva a individualizar
quatro sistemas jurídicos de relevância mundial: o sistema romanista (do qual o latino-americano constitui um
subsistema), o sistema anglo-saxão (do qual o norte-americano constitui um subsistema), o sistema socialista e o
sistema muçulmano.39
Não se olvide, por outro lado, que existem direitos, os quais, por diversos motivos, não podem ser enquadrados nos
quatro grandes sistemas mundiais (definidos geográfica e historicamente): basta mencionar aqui o Direito Canônico e
o Direito hindu.40
Os historiadores do Direito e os comparatistas, têm elaborado, de vários modos, conceitos, como “difusão”,
“penetração”, “recepção”, “resistência”, para compreender e descrever os fenômenos de correlação entre diversos
ordenamentos e sistemas jurídicos.41
Dos quatro sistemas supracitados, pelo menos dois (o socialista e muçulmano) têm uma tendência expansiva
potencialmente universal.
O sistema anglo-saxão, ao contrário, aparece estritamente ligado às realidades etno-lingüísticas particulares: o
conhecido comparatista norte-americano John Henry Wigmore escreveu: “Aussi, pour l’avenir égalemet, en passant en
revue les diverses régions, nous porrons nous attendre à ce que partout ou ce seront des Anglais et partout ou ce
seront des Americains du Nord qui constitueront la masse populaire ou la classe politique dominante, on trouvera plus
ou moins de la Common Law anglaise. Dans ces endroits, mas nulle part ailleurs”.42
Mas não podem ser esquecidos os fenômenos de penetração do sistema anglo-saxão, não somente nos países de
Direito Romano (v. infra § 6, a propósito de teorização de Roscoe Pound), mas também nos países de Direito
muçulmano, e sobretudo deve-se recordar a recepção do Direito inglês na Índia.43
O sistema romanista foi intimamente ligado, até o século VI d.C. e, no Ocidente, ainda mais, até o século XVIII, ao uso
da língua latina; tal ligação atenuou-se com as codificações modernas: em particular o Code Napoleón (1804) e o
Bürgerliches Gesetzbuch (1900). Os códigos modernos, elaborados quer em área cultural latina, quer na área cultural

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germânica, constituíram o canal da difusão do sistema romanista em áreas culturais diversas daquela originária,
independentemente de qualquer colonização, mas, poderíamos dizer, por revoluções internas: são os casos, p. ex., do
Japão e do Império Otomano (e, depois, da República da Turquia).44
O encontro do sistema romanista com o sistema muçulmano verifica-se particularmente nos países árabes da África
setentrional e, outrossim, no Líbano, Síria e (com vicissitudes diferentes em relação a uma penetração do sistema
anglo-saxão), Palestina, Jordânia e Iraque.45
Tal encontro renova relações mais antigas que vão das contribuições dadas ao nascente Direito muçulmano pelo
Direito do Império Romano do Oriente46

até as influências do Direito muçulmano sobre instituições da Europa Medieval.47


Quanto a esse último aspecto, darei aqui um exemplo interessante, pela amplitude espaço-temporal do fenômeno
(ainda se bastante discutido e discutível): segundo o grande arabista Ribera Tarragó, o “Justicia de Aragón” seria de
origem muçulmana;48
é sabido que o “Justicia” constitui um antecedente daquele instituto principal da tradição jurídica latino-americana que
é o juicio de amparo.49
As conexões estreitíssimas, no que diz respeito aos conceitos e a técnica jurídica, entre o sistema romanista
(identificado hoje com o conjunto dos direitos “romano-germânicos” dos países capitalistas) e o sistema socialista,
foram freqüentemente discutidas de diferentes pontos de vista historiográficos e ideológicos. Melhor seria porém,
colocar o problema das diversas correlações que o Direito Romano justinianeu tem de um lado com os ordenamentos
dos países capitalistas e de outro lado com o sistema socialista.50
Este trabalho histórico-comparativo implica uma análise dos elementos formais dos sistemas jurídicos através de
individualização de três níveis: “conceitos”, “princípios” e “normas”; a cada um dos níveis correspondem um grau
decrescente de estabilidade no tempo e no espaço. Este trabalho histórico-comparativo implica, ainda, uma
individualização das relações entre os níveis formais supra ‘citados e os fatos (ou “casos”) nos diversos sistemas.51
Relevante recordar a precisa distinção já elaborada por um dos iniciadores da comparação jurídica contemporânea,
Henry Maine, em um ensaio sobre Direito Romano e Educação Jurídica (publicado nos Cambridge Essays de 1856):
“nous devons rappeler au lecteur que le Droit romain n’est pas, comme le Droit anglais, un systeme de casus. C’est un
systeme dont on peut dire, en vue de la pratique, et si l’on ne vise point trop à l’exactitude, qu’il se compose de
príncipes formels et de régles écrites”.52
Em tal perspectiva histórico-comparativa, os conceitos de “sistema jurídico romanista”, e de “sistema jurídico latino-
americano” assumem uma função unificadora análoga àquela desempenhada pelo conceito de Jus Romanum
sobretudo a partir do III século d.C. (v. supra § 2).
6. Direito Romano e “Direito Latino-Americano”
Dentro de cada sistema jurídico (p. ex., o sistema romanista) pode-se individualizar subdistinções também sob a base
de elementos étnicos.53 Como é sabido, é muito discutida a possibilidade de individualizar, dentro do sistema
romanista, um “grupo” (ou “família jurídica”) “ibero-americano”, compreendendo, também, Espanha e Portugal54
ou, melhor, em consideração das particulares condições geográficas, econômicas, sociais e políticas da América
Latina, um “grupo latino-americano”.55
A meu ver, a segunda alternativa é preferível porque permite compreender melhor o problema da penetração (não só
econômica, mas também jurídico-política) dos Estados Unidos da América, além da resistência dos direitos latino-
americanos.56
Ao final do século passado, Clóvis Bevilaqua (seguindo o comparatista francês Ernest Glasson) distinguia três grupos
de legislações: àquelas nas quais as influências romanas e canônicas são “quasi nullas” (Inglaterra, Países
Escandinavos, Estados Unidos da América e Rússia); aquelas que assimilaram o Direito Romano “de um modo mais
ou menos radical” (Espanha, Portugal, Itália e Romênia); aquelas em que o elemento germânico e o elemento romano
terminaram por fundir-se “em quantidades quasi eguaes” (França, Alemanha, Bélgica e Suíça). Segundo Beviláqua
“esses grupos contribuem, mais ou menos nitidamente, tres fachas que se extendem uma ao Norte, outra ao centro, e
outra ao Sul da Europa”,57
e acrescenta: “Necessário se faz que a esses seja additado um quarto grupo, composto das legislações dos povos
latino-americanos, dos quaes não cogitou o sabio jurista francez, mas que se não podem logicamente incluir em
qualquer das tres categorias enunciadas, porque, provindo ellas de fontes européas aparentadas proximamente entre
si (direito portuguez e hespanhol), modificáram diversamente esse elemento commum, por suas condições próprias e
pela assimilação dos elementos europeus de outra categoria, principalmente francezes. E por desprender-se de
paises novos, essencialmente democraticos, este quarto grupo apresenta certas ousadias fortes de quem não se
arreceia do novo, e certas franquezas em que a liberdade espraia-se mais a larga”.58
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A definição de um “grupo latino-americano” (isto é, das legislações dos “povos latino-americanos”, segundo palavras
de Beviláqua), caracteriza, portanto, os estudos jurídicos comparados no Brasil já no século passado; e aqui, o ponto
de vista para a definição dos “grupos” de legislações é aquele da maior ou menor presença do “elemento romano”. O
mesmo ponto de vista comparatista encontramos no Curso de Direito Romano de Abelardo Saraiva da Cunha Lobo,
editado no Rio de Janeiro em 1931: os dois primeiros volumes da obra examinam a “organização” do Direito Romano
e em seguida a sua “expansão” (e as “causas do seu desenvolvimento”); o terceiro volume trata da “influência
universal do Direito Romano”, com particular referência às codificações modernas, traçando as características do
“direito ibero-americano” nesta perspectiva (“desde a leges regiae até a formação do Direito Ibero-Americano”).59
Qual tenha sido (e seja ainda hoje) o papel da educação romanística dos Juristas ou mais exatamente dos “abogados”
latino-americanos para cimentar uma unidade da América Latina acima das (historicamente sobrepostas) divisões
estatais, e para afirmar uma cultura jurídica e política própria, em grau de resistir às influências estrangeiras, foi
esclarecido por um estudioso alemão de sociologia da América Latina, hoje presidente do CEISAL (Consejo Europeo
de Investigaciones Sociales sobre América Latina).60 Esta unidade de atitude mental dos “abogados” manifesta-se não
só sobre o plano técnico, mas também sobre o ideológico, e esclarece sociologicamente o fenômeno da resistência da
norma dos direitos latino-americanos à influência externa (norte-americana), até hoje dominante, a nível supra
estrutural, só em Porto Rico. É bom recordar que o Convenio de integração educativa, científica e cultural dos países
da Região Andina (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) traz o nome do grande romanista latino-
americano Andrés Bello.
O “grupo Ibero-americano” (dentro do “sistema romanístico” mais amplo) foi caracterizado por Castán Tobeñas como
marcantemente “universalista” (em contraposição ao espírito nacionalista “que esclaviza a Europa”):61

tal aspecto universalista dos juristas latino-americanos é também ressaltado por René David.62 Desse ponto de vista
percebe-se a relevância ideológica e sociológica da base romanista, portanto, da sua capacidade de resistência.
7. “Penetração” do Direito anglo-americano na América Latina
A resistência do sistema latino-americano é obviamente mais ou menos forte segundo os ramos do Direito e dos
países (quer pela situação geográfica diversa, quer pelas diversas estruturas econômicas).63
E notório que a maior intensidade da influência norte-americana no direito público, especialmente no constitucional
(referente ao qual o sistema romanista tem precisa unidade a partir, segundo David, da inspiração de Montesquieu e
de Rousseau)64

dá lugar à “orientações contrastantes” no confronto também entre vários ramos publicistas.65


Com particular referência ao “problema dell’inquadramento delle esigenze e delle tendeze dell’investitore
nordamericano nel sistema romanistico”, Ascarelli formulou hipóteses de uma “latinizzazzione di alcuni orientamenti
nordamericani” e de uma “funzione mediatrice” da América Latina entre “mondo latino” (ou “diritto romanístico”) e
“mondo americano” (ou “diritto anglo-americano”).66 O nosso intento é completamente diverso: trata-se de
individualizar quais são os pontos de maior ou menor resistência do sistema jurídico (romanístico) latino-americano
contra a penetração externa (v. infra § 7).
A nossa posição é análoga àquela assumida por Emilio Betti, o qual, depois de uma visita a Universidade do Rio
Grande do Sul (1958) escrevia: “É del pari um modo di sentire assai difuso (confermatomi da più di um collega di Porto
Alegre) che fra il Brasile e gli Stati Uniti d’America non sussita punto questa intima e profonda affinità culturale che è,
invece, cosi vivamente sentita in confronto de paesi iberici e dell’Italia: onde, ad onta della tendeza a trattare il Sud-
America quale “zona d’influenza” degli USA, non è da prevedere o da temere una diffusione in Brasile della concezione
utilitaristica che va sotto il nome di american way of life, né una espansione degli USA eccetto che in datti settori della
vita economica dipendenti dal capitale nordamericano”.67
Um preciso interesse pelo estudo do atual confronto entre Direito Romano e common law encontra-se já em um
escrito publicado em 1948, de Pietro de Francisci. Este, criticando a tese de Koschaker, segundo a qual a recepção do
Direito Romano teria sido devida sobretudo ao fato de que ele se apresentava aos juristas com autoridade impositiva,
refere-se aos “casi di concorrenza fra diritto romano e diritto anglosassone”, e em particular a província canadense de
Quebec e a Louisiana, e também ao acolhimento, na Califórnia e em outros Estados do Oeste, do Código compilado
(sob influência do Code Napoleón) por Dudley Field: “Questa resistenza o ripresa di espansione del diritto romano o
romanico non può spiegarsi, nei casi di resistenza, se non con la forza della tradizione, nei casi di espansione se non
con la convinzione della superiorità di una legislazione sistematica sulla common law. Qui certamente non giuocano le
idee politiche dellimpero, della sua universalità e via dicendo: non giuoca nemmeno il fattore rappresentato della
potenza anglosassone: giouca soltanto la riconosciuta superiorità tecnica di un diritto sull’altro”.68
A “concorrência” e em seguida, a luta entre Direito Romano e Direito anglo-saxão, foram pouco considerados pelos
juristas europeus continentais, enquanto são, há muito tempo, objeto de interesse dos comparatistas e romanistas
latino-americanos (limitar-me-ei a citar o livro de Carlos Mouchet e Miguel Sussini sobre a situação de Porto Rico: v.
infra, § 7, B).

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Não cabe aqui analisar os motivos dos desinteresses dos comparatistas europeus, oscilantes ente “ocidentalismo” e
“europeísmo”; limitar-me-ei a observar que algumas importantes exceções são dadas pela cultura jurídica ibérica, e
que uma perspectiva precisa de aprofundamento é assegurada pela história do Direito (refiro-me aos estudos de
Hermann Eichler: vide notas 27; 50; 89).
No que se refere aos romanistas, posso afirmar que as afirmações e opiniões de Betti e De Francisci à cerca da força
da tradição jurídica e cultural romana, anteciparam, com precisão suficiente, aquele que tornou-se um dos objetos
principais do trabalho, nos anos 70, do Gruppo di ricerca sulla diffusione del diritto romano. Por outro lado, tais
opiniões e previsões eram e permanecem marginais em relação aos interesses da doutrina romanística européia. E
valeria a pena questionar sobre as causas da posição de um número consideravelmente grande de colegas.69
A luta entre o Direito Romano atual da América Latina e o Direito anglo-americano deve ser considerada em um
quadro geral, que é certamente iluminado por aquilo que, já na primeira metade de nosso século, escrevia o maior
expoente da sociological jurisprudence, Roscoe Pound, professor da Universidade de Harvard. Ele individualizou força
da Commom Law em relação ao seu rival modern Roman Law no “modo de tratar as controvérsias concretas”, isto é,
no poder de criar o Direito “através de decisões das causas”: uma força que explica a slow but persistent invasion of
the common law.70

Tal invasion tem encontrado infelizmente aliados, mais ou menos conscientes, também entre os romanitas.71
Um outro mérito histórico de Pound é de ter visto a característica de conteúdo do Direito anglo-americano (evocando
também as vicissitudes do Direito germânico) naquilo que ele chamou ultraindividualism (ou extreme individualism).72

Ora, uma vez esclarecido (como fez Francesco De Martino na sua polêmica contra os nacional-socialistas),73 que o
Direito Romano não é de modo algum individualista, compreende-se a substância do confronto entre o sistema
jurídico latino-americano e o anglo-americano.
8. Alguns elementos de unidade e resistência do sistema jurídico latino-americano
A. Deve-se, inicialmente, concentrar a atenção, não sobre as instituições públicas (nas quais como se disse, a
influência do Direito norte-americano é mais forte), mas sobre aquelas que constituem o tecido mais estável da
sociedade (instituições familiares e instituições agrárias), para, depois, confrontá-las com alguns aspectos das
instituições, conexas, em maior medida, com as mutações provoca das pelo desenvolvimento neo-capitalista
(instituições comerciais).
Com a individualização (na perspectiva histórico-comparativista) dos principais fatores de unidade do sistema jurídico
latino-americano além das zonas de diferenciação (antes e depois das codificações) tornam-se definitivamente
superadas as teses eurocêntricas que negam a unidade de dito sistema.
A base cultural da unidade deve ser vista em um “bloco” romano-ibérico-pré-colombiano. O sistema recebeu a sua
forma do Direito Romano (por intermédio do derecho comúm americano) e logo depois da transfusión nas
codificações,74

mas, também, da miscigenação (mestizaje) da tradição romanística com as instituições indígenas pré-colombianas.75
As diferenciações dependem em parte dos acontecimentos anteriores às codificações (conquista espanhola e
portuguesa, e sobretudo, maior ou menor permanência de instituições pré-colombianas ou, de qualquer maneira,
indígenas), e em parte, das tendências centrífugas dos estados independentes e das codificações (“códigos civis do
Pacífico” ou “dos Andes”), sob influência do Código de A. Bello: “códigos civis do Atlântico Meridional”, sob influência
do Esboço de Teixeira de Freitas e do Código de Vélez Sársfield,76 e finalmente, em parte das influências dos vários
códigos europeus.
O caráter complementar dos exemplos da América Central e da Região Andina resulta da visão histórico-
comparativista do inteiro sistema jurídico latino-americano.
A pesquisa à qual me refiro nesse parágrafo foi por mim dirigida, no período compreendido entre 1974 e 1979, junto à
Universidade de Sassari, graças a um financiamento do Consiglio Nazionale delle Ricerche.
B. Sob o pressuposto do caráter nada “individualista” do Direito Romano, iniciou-se o exame de algumas
características essenciais dos fatores de unidade do sistema jurídico latino-americano.
A verificação das hipóteses gerais tem mostrado a notável potencialidade de uma utilização das perspectivas
históricas contidas no sempre atual escrito de Francesco De Martino, Individualismo e Diritto Privato Romano.77

O conceito de “individualismo” foi aprofundado também tendo-se em conta os resultados de pesquisas sociológicas.78
Isso permitiu compreender melhor a contraposição do sistema latino-americano com o “sistema do Direito anglo-
saxão” do qual uma característica principal é o “ultra-individualismo”.79
Ditas perspectivas devem ser integradas, para a América Latina, por uma tomada de consciência daquilo que ali é
denominado “tradición romano-canonica”: conceito esse que não corresponde exatamente àqueles de civil law, diritto

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continental; dessa falta de correspondência ressentem as traduções de conhecidos comparatistas.
Do “derecho comúm americano” (e também da experiencia ibérica que nele está na base) e das instituições, indígenas
que com ele coexistem (superando os confrontos) ou se mesclam, desenvolve-se uma concepção do ordenamento no
qual o “indivíduo” (que é certamente colocado em muito maior relevância do que nas culturas pré-colombianas) é
considerado sempre em estreita relação com a “comunidade”.
Tal concepção sobrevive à onda liberal e confere, em nossa opinião, às codificações latino-americanas aqueles
caracteres já em parte individualizados pela doutrina: acentuadamente romanístico80

e “democrático”.81
C. Verificou-se a utilidade de usar as noções de “penetração” e de “resistência” já esboçadas por Koschaker e por De
Francisci (v. supra n. 38).

Partindo do exemplo-limite de Porto Rico82 perceberam-se as diversas possibilidades históricas das forças de
penetração, em relação às diversas situações políticas e econômicas.
Iniciou-se, logo em seguida, o inventário dos elementos de resistência, considerando os vários ramos do
ordenamento, a começar pelo direito de família. Esse, de fato, continua constituindo o conjunto mais evidente de
exemplos: sabe-se, realmente, que segundo o sistema latino-americano a “unidade social” é representada pela
família, não pelo indivíduo;83

é notório, outrossim, que a penetração da common law tende a subverter tal concepção.84
O acerto de alguns dos pontos de atrito ou de conflito entre o atual sistema jurídico latino-americano (como parte da
“tradição romano-canônica”) e o Direito norte-americano, é considerado metodologicamente preliminar a qualquer
discussão sobre “modernização” (qualquer que seja a “central” de tal processo), assim como sobre as vantagens ou
os danos de comisturas ou mediações.
D. Entre os pontos emersos das discussões e das respostas aos questionários (cfr. infra E) podemos recordar, aqui
nesta sede, dois que de um lado tem raízes nos aspectos anti-individualistas da “tradição romano-canônica” e, de
outro, são vivamente ligados à realidade social hodierna da América Latina.
Foram colocados em evidência alguns problemas da relação entre matrimônio, “unión de hecho” e desenvolvimento
demográfico.85
Foi igualmente destacada a importância das terras públicas e em geral do fundamento e dos limites públicos da
propriedade fundiária, dentro do ordenamento presente e futuro da “tenencia de la tierra”.86
No conjunto do trabalho apresentou-se óbvia a ligação entre os problemas da família e os da terra: ligação usual na
literatura jurídica e antropológica latino-americana.87
E. A colocação desses problemas no conjunto dos acontecimentos atuais do sistema. jurídico da América Latina torna,
agora, imprescindível a ampliação da pesquisa no campo do Direito comercial. Justamente nesse último setor a
penetração de princípios e institutos externos assume formas relevantes.88

Basta recordar aqui o comentário de P. J. Eder (feito próprio por J. Olavarria Avila)89
a respeito da introdução na Colômbia e Panamá, por influência dos capitalistas norte-americanos, da “Negociable
Instruments Law”: “la incorporación in integrum de una ley extraña dentro de un sistema jurídico fundamental emanado
del Derecho Romano (civil law) puede ser estimada desastrosa”.90
Um outro exemplo, mais recente, é dado pela lei brasileira 6.404/76 sobre sociedades por ações, a qual
“institucionaliza”, como se disse, o capitalismo financeiro no Brasil, favorecendo as empresas multinacionais.91
F. Esta pesquisa sobre “Elementos de unidade y resistencia del sistema jurídico latino-americano” iniciou-se, também,
através do envio a estudiosos latino-americanos de questionários impressos, concernentes ao Derecho de familia e ao
Derecho agrário.92

Os resultados confirmam as hipóteses iniciais do trabalho.93


Um desenvolvimento doutrinário no mesmo sentido é marcado pela instituição do “Centro de Direito Romano e
Sistemas Jurídicos” junto à Universidade de Brasília, determinada em 1980, por ocasião do XX Aniversário da
fundação da cidade de Brasília.94-95

1 Traduzido por Sara Mazzanti Corrêa (Pós-graduada pela Universidade de São Paulo).

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Recorde-se o artigo de E. Pólay, “L’insegnamento del diritto romano nei paesi socialisti”, publicado pela primeira vez in
Studi Sassaresi, III, 1 (1969), pp. 581 ss., e logo após, in Index, 1 (1970), pp. 130 ss. traduzido para o castelhano pelo
Prof. Italo Merello Arecco, da Universidade Católica de Valparaíso: “La enseñanza del derecho romano en los países
socialistas” in La Ley (suplemento diário da Revista jurídica La Ley), Buenos Aires, 29.5.74, pp. 15. Cfr. a recensão à
versão italiana, escrita por L. C. Rosenfeld (da Universidade de Buenos Aires) in La Ley, de 26.11. 73; cfr. também o
comentário à edição em língua castelhana de J. A. Borjas Sánches, “La enseñanza del derecho romano en los países
socialistas”, in Revista de la Faculdad de Derecho, Universidad del Zulia, Maracaibo, 42 (setembro-dezembro de
1974), pp. 143-148. Vide a atualização dos dados: E. Pólay, “Das Studium des römischen Rechts in den socialistchen
Ländern” in Klio, 61 (1979), 1, pp. 157-163.

2 E. Pólay, “L’insegnamento del diritto romano”, cit., pp. 589 s.

3 As expressões são de E. Pólay, ob. ult. cit., p. 590. Analogamente se exprime A. Díaz Bialet, citado infra, notas 20-
20a.

4 Sobre o Direito Romano da América Latina, vide em geral H. A. Steger, “Die Bedeutung des römischen Rechts für
die lateinamerikanische Universität im 19. und 20. Jahrundert” in Index, 4 (1973), pp. 22 ss. (publicado em tradução
castelhana in Universidades, 54 (México, 1973); Latinoamérica, Anuario, 6 (México 1973); Revista de la Universidad
Externado de Colombia, 20/1 (Bogotá 1979); do mesmo autor v. “Universidade de Abogados y Universidad futura”, in
Index cit., p. 59 ss.; vide também P. Catalano, “Il diritto romano attuale dell’America Latina” in Index, 6 (1976), pp. 87
ss.

5 Vide P. Catalano, “Ius Romanum, Note sulla formazione del concetto” in La nozione di ‘romano’ tra cittadinanza e
universalità (Da Roma alla Terza Roma, Studi, II), Roma 1984, pp. 531 ss.

6 Esta é, notoriamente, a interpretação histórica de R. Orestano, Introduzione allo studio storico del diritto romano, II
ed., Torino 1961, pp. 514 ss. Vide contra P. Catalano, “Ius Romanum” cit., p. 551 n. 68.

7 Vide A. Guzmán Brito, Ratio scripta (Ius commune, Sonderhefte 14), Frankfurt a.M. 1981, pp. 141 ss.

8 Vide V. Ilari, L’interpretazione storica del diritto di guerra romano fra tradizione romanistica e giusnaturalismo, Milano
1981, pp. 87 ss.

9 V. Ilari, ob. cit., pp. 93 s.; 98.

10 J. Bryce, Studies in History and Jurisprudence, 2 vol, Oxford 1901. Alguns desses ensaios foram traduzidos para o
italiano, no volume com o título Imperialismo romano e britannico, com Prefácio de G. Pacchioni, Torino 1907. Sobre a
ideologia (e a concepção histórica) de Bryce v. brevemente O. Barie, Idee e dottrine imperialistiche nell’Ingliterra
vittoriana, Bari 1953, pp. 258-262; para alguns dados biográficos v. E. L Carlyle, “Bryce James”, in The Dictionary of
National Biography, 1922-1930 (London-New York 1931), pp. 127 ss.

11 J. Bryce, Studies cit., I, p. 85; “is full of vitality today – in force over immense areas”; cfr. ID. The Extension of
Roman Law through out the World, II ed., Oxford 1914 (cfr. trad. ital. cit., p. 97, um tanto quanto pobre neste ponto).

12 J. Bryce, Studies cit., I, p. 108: “Roman law remains Roman despite the accretion of the new element which the
needs of modern civilization have required in to accept” (cfr. trad. ital., p. 124). Cfr. infra n. 20.

13 Refiro-me a uma frase, muito conhecida, de Vittorio Scialoja. Não faltou, contudo, também na Itália, uma resistente
posição contrária, que se afirma de Contardo Ferrini a Giorgio La Pira: “Chi studia con criteri pratici il Diritto romano,
chi non lo riguarda come un avanzo di archeologia, ma come un organismo vivo, non può non preferire alla splendida
forma del Diritto romano classico, la più evoluta sostanza del Diritto romano giustinianeo, che ancora noi sentiamo in
fondo ai nostri instituti giuridici, e infondere ad essi quella perenne giovinezza” (C. Ferrini, Lezioni di diritto romano,
compiladas pelos estudantes, Pavia 1898-99, p. 5); “Codificazione e giurisprudenza del diritto privado in tutto
l’occidente – checchè dicano e facciano in contrario certe tendenze cosi ingiustamente antiromane! – sono ancora,
nella loro sostanza, diritto romano” (G. La Pira, “Problemi di sistematica e problemi di giustizia nella giurisprudenza
romana”, in Atti del V Congresso Nazionale di Studi Roman: (Roma 1938), V. Roma 1946, pp. 22 ss. É possível ver
nesta mesma linha de pensamento páginas de Salvatore Riccobono, de Emilio Betti, de Giuseppe Grosso, p. ex.

14 J. Bryce, Studies cit. II, pp. 172-202; I, pp. 85-144 (trad. ital. cit., p. 163: “unità originaria”) .

15 J. Bryce, The Holy Roman Empire (I ed. 1864), London 1904, trad. ital. de U. Balzani, Il Sacro Romano Impero, II
ed., Milano 1907, pp. 1 ss.: “… parlando meno di avvenimenti che di principi, tentare di discriver l’Impero non come
uno stato ma come una istituzione creata da un maraviglioso sistema d’idee e informatrice di esso”; ibid., p. 496 n. 2:
“La Gran Bretagna aveva rifiutato nel 1806 di riconoscere la dissoluzione dell’Impero. E veramente può asserirsi che a

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rigor di legge l’Impero non fu mai estinto, ma vive come uno spirito incorporeo fino ad oggi”. Cfr. à propósito P.
Catalano, “L’idea di impero romano”, in Studi Sassaresi, s. III, 8, Cultura iberica e diritto romano (1980-1981), pp. 3 ss.

16 G. W. F. Begel, Die Verfassung Deutschlands (1802-1803), in Hegels Schriften zur Politik und Rechtsphilosophie
(Sämtliche Werke, VII), editado por G. Lasson, Leipzig 1913; trad. ital. A. Plebe: G. G. F. Hegel, Scritti politici (1798-
1806), Bari 1961.

17 G. W. F. Begel, ob. trad. cit., p. 46.

18 V. A. Chaneton, Historia de Vélez Sársfield (1938), rist. Buenos Aires 1969, pp. 418 s. Não obstante uma sentença
da Corte Suprema de 1934, não se entende geralmente que as “notas” têm a mesma hierarquia normativa das “leis”:
vide G. L. Allende, Sobre las “Notas” del Código Civil (LGL\2002\400) in La Ley (9.8.71), t. 143, pp. 1-5; L. Moisset De
Espanés, “Reflexiones sobre las ‘notas’ del Código civil argentino” in Studi Sassaresi, s. III, 5 (1977-78), pp. 445 ss.

19 Vide p. ex. R. Limongi França, Princípios gerais de direito, II ed., São Paulo 1971, “Le droit scientifique en tant que
regle positive”, in Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial, 8 (Abril-junho/79), pp. 21 ss.; A. Ferraz
Pereira, O direito como ciência, São Paulo 1980: o primeiro capítulo é intitulado “Inatualidade do Direito Civil,
Atualidade do Direito Romano”.

20 A. Díaz Bialet, La recepción del derecho romano en la Argentina, Cordoba 1951, p. 53 (“Tercera Parte:
Conclusiones sobre el método de iriterpretación y la política jurídica”), cfr. ID., “La crisis del derecho y la crisis del
derecho romano”, in Studi giuridici in memoria di F. Vassali, I, Torino 1960, pp. 547 ss.

21 A. Díaz Bialet, “La transfusión del derecho romano en la Argentina (S. XVI-XVIII) y Dalmacio Vélez Sársfield autor
del Código Civil (LGL\2002\400) argentino (1864-1869)”, in Studi Sassaresi, s. III, 5 (1977-78), pp. 281; 293.

22 A. Valencia Zea, Derecho civil, VIII ed., I, Bogotá 1979, pp. 1 ss., 35.

23 D. Ribeiro, O processo civilizatório. Etapas da evolução sociocultural, Rio de Janeiro 1968.

24 Cfr. C. Levi-Strauss, Race et histoire, Paris 1952. Levi-Strauss foi à Universidade de São Paulo em 1934: “il
reconnâit lui-même qu’au moment où il s’est embarque pour le Brésil, il ignorait tout de l’ethnologie” (M. Marc-
Lipiansky, Le structuralisme de Lévi-Strauss, Paris 1973, pp. 17 ss.). Para uma crítica do evolucionalismo do ponto de
vista da história do Direito (e do Direito Romano), que visa a uma colaboração interdisciplinar entre a antropologia e a
ciência jurídica, cfr. P. Catalano, Contributi allo studio del diritto augurale, Torino 1960, pp. 105 ss., 451 ss.; ID.,
“Intervento” in Annali di Storia del Diritto, 10-11 (1966-67), pp. 469-471.

25 Vide P. Chaunu, Histoire Science Sociale. La durée, l’espace et l’homme à l’epoque moderne, Paris 1974; F. Mauro,
Pour une classification des sciences humaines”, in Mélanges en l’honneur de Fernand Braudel, II, Toulouse 1973, pp.
397 ss.; cfr. T. Stoianovich, French Historical Method; the “Annales” Paradigm, Ithaca 1976, e algumas observações
críticas sobre os trabalhos de F. Braudel na obra do historiador polonês J. Topolsky, Metodologia della ricerca storica
(trad. do polonês de R. C. Lewansky), Bologna 1975, pp. 183; 678. Tem-se bons exemplos de colaboração
interdisciplinária nos estudos concernentes às áreas geo-históricas: vide, p. ex., o volume Lateinamerika, editado por
J. Sander e H. A. Steger (Fischer Länderkunde, 7) Frankfurt a.M. 1973; o número da revista Monde en
développement, 2 (1973), sobre o tema “La Mediterranée et le développement” (com artigos de M. Le Lannou e
outros). Cfr. em geral P. Catalano, “Los estudios sobre áreas geoculturales”, in Mundo Nuevo. Revista de Estudios
Latinoamericanos (Universidad Simón Bólivar, Caracas), 9-10 (julho-dezembro/80), pp. 13 ss.

26 A. H. Steger, “Discussione” in Diritto romano e università dell’America Latina (= Index, 4, 1973), p. 104; cfr. ID,
“Weltzivilisation und Regionalkulturen. Perspektiven vergleichender KuItursoziologie im Zeitalter weltweiter
Industrialisierung”, in Wirtschaftskräfte und Wirtschaftswege, IV (= Beitrage zur Wirtschaftsgeschichte, editado por H.
Kellenbenz e J. Schneider, 7) Bamberg 1978, pp. 649 ss.

27 No que diz respeito ao estudo das relações internacionais, pode-se mencionar aqui J. C. Gautron, “Le fait régional
dans la société internacionale”, in Régionalisme et universalisme dans le droit international contemporain. Colloque de
Bourdeaux, Paris 1977, pp. 4 ss.; J. C. Puig, “Derecho internacional americano, nacionalismo latinoamericano y
régimen internacional”, in Mundo Nuevo. Revista de Estudios Latinoamericanos (Universidad Simón Bolívar, Caracas),
1 (julho-setembro/78), pp. 94 s., também sobre certas conclusões paradoxais da obra de B. M. Russet, International
Regions and the International System: A study in Political Ecology, Chicago 1967.

28 Cfr. Ph. Braillard, Philosophie et relations internationales, Genève 1974, pp. 22 s.; 31 ss.

29 A. Lepschy-S. Milo, “Su un modello formalizzato per la rappresentazione delle concezioni di A. Toynbee sulla
dinamica degli eventi storici”, in Scientia, 70, I-IV (1976) (11, pp. 11 ss.). Completamente diversa é a perspectiva

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metodológica de A. Heuss, ‘Geschichte als System?”, in Die Funktion der Geschichte in unserer Zeit, editado por E.
Jäckel e E. Weymar, Stuttgart 1975, pp. 26 ss.

30 Vide M. Antel, Utilité et méthode du droit comparé. Eléments d’introduction générale à l’étude comparative des
droits. Neuchâtel 1971, pp. 39 ss.; L. J. Constantinesco, Traité de droit comparé, I, Paris, 1972, pp. 46 ss.; passim; H.
Eichler, “Codificación del derecho civil y teoria de los sistemas de derecho” in Revista da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, 68 (1973), pp. 229 ss.

31 J. Bardach, “La réception dans l’histore de l’Etat et du droit”, in Le droit romain et sa réception en Europe, Varsovia
1978, pp. 27 ss.; ID., “La réception comme facteur dans l’histoire de la culture”, in Slavica Gandensia, 6 (1979), pp. 7
ss.

32 Vide a bibliografia in N. Luhmann, Rechtssystem und Rechtsdogmatik, Stuttgart 1974; T. Sampaio Ferraz Jr.,
Conceito de sistema no direito, São Paulo 1976; I. L. De Los Mozos, “Norma, principio y sistema en la integración del
ordenamento jurídico”, in Estudios Jurídicos en homenaje al professor Federico de Castro, 1976, pp. 323 ss.; N.
Saldanha, O problema da história na ciência jurídica contemporânea, II ed., Porto Alegre 1978, pp. 81 ss.; 103 ss.; A
Polacek, Systeme und Strukturen. Beiträge zur Methodik der Geisteswissenschaften, Kiel 1976, e também a discussão
com o historiador polonês J. Topolski, in Quaderni di Storia, 4 (julho-dezembro/76), pp. 145-168.

33 G. Astuti, “Recezione teorica e applicazione pratica del diritto romano nell’età del rinascimento giuridico”, in Le droit
romain et sa reception en Europe, cit., pp. 5 ss.

34 Cfr. J. Deprez, “Réflexions sur la connaissance du phénomene juridique au Maroc. Projet pour une recherche
adaptée aux réalités marocaines”, in Revue juridique, politique et economique du Maroc, 1 (dezembro/76), pp. 63 ss.;
71 ss.; N. Bouderbala, “Aspects de l’idéologie juridique coloniale”, in Revue juridique, politique et économique du
Maroc, 4 (junho/78), pp. 95 ss. Fenômenos políticos similares podem ser certamente descritos com termos diversos:
com relação a outros países do Maghreb vide por exemplo F. Castro, “Sulle componenti e le prospettive della
nazionalità algerina come problema giuridico”, in Scritti in onore di L. Veccia Vaglieri, 1 (= Istituto Universitário
Orientale di Napoli, Annali, N.S. 14) Napoli 1964, pp. 49 ss.; J. Ladjili, “Puissance des agnats, puissance du père. De
la famille musulmane à la famille tunisienne”, in Revue tunisienne de Droit, 1972, pp. 25 ss.; C. Bontems, “Une
technique jurisprudentielle de pénétration du droit matrimonial français en Algérie: l’option de législation”, in Revue
algérienne des sciences juridique, économiques et politiques, 15, 4 (dezembro/78), pp. 37 ss.; P. Catalano,
“Résistance des traditions, pluralité des ordres et rencontre des systémes juridiques dans l’aire mediterranéenne.
Quelques précisions de concepts”, in Beryte (Revue universitaire, éditée par la Faculté de Droit et des Sciences
Politiques et Administrativs de l’Université Libanaise) a. III, n. 6 (dezembro/81), pp. 12 ss.; J. Ladjili, “Histoire du droit
mediterranéenne. Colloque de Sassari…”, in Revue tunisienne de Droit, 1982, pp. 810-823; dr. ID., ibid. 1980, pp. 707-
715.

35 J. M. Castán Vázquez, “El sistema jurídico iberoamericano”, in Revista de estudios políticos, 157 (1968), pp. 209
ss.; ID.; “El sistema de derecho privado iberoamericano”, in Estudios de derecho. Faculdad de Derecho y Ciencias
Políticas de la Universidad de Antioquia (Medellín, Colombia), 75 (março/69); cfr. infra n. 89. Vide em geral, sobre os
conceitos de “ordenamento” e “sistema”, J. Basadre, Los fundamentos de la historia del derecho, II et., Lima 1967, pp.
81 ss., 91; 110 ss.

36 Vide por exemplo, C. E. Alchourrón – E. Bulygin, “Sobre el concepto de orden jurídico”, in Crítica. Revista
hispanoamericana de filosofía, 8 (1976), n. 23, pp. 3 ss.

37 F. Braudel, “Histoire et sciences sociales. La longue durée”, in Annales E. S. C., 13 (1958), 4, pp. 725 ss. (dr. ID.,
Ecrits sur l’histoire, Paris, 1969).

38 J. Bryce, Studies in History and Jurisprudence, cit., I, pp. 85 ss.; 142 ss. (cfr. II, pp. 209 ss. sobre direito
muçulmano). Foi observado também, recentemente: “Si l’on peut répartir les systèmes juridiques qui se partagent le
monde à l’heure actuelle en groupes ou familles de droit, on sera forcé de constater que le système juridique
musulman peut servir comme un terme de comparaison qui vient se juxtaposer au système anglo-saxon et au système
romain” (Ch. Chehat, Etudes de droit musulman, Paris 1971, p. 13).

39 Vide G. Le Bras, Histoire du droit et des institutions de l’Eglise en Occident, 1 Prolégomènes, Paris 1955, que utiliza
o conceito de sistema.

40 Limito-me aqui a citar alguns trabalhos de J. D. M. Derrett: Introduction to Modern Hindu Law, Bombay 1963; A
Critique of Modern Hindu Law, 1970.

41 H. Levy-Bruhl, “Note sur les contacts entre les systemes juridiques”, in Symbolae R. Taubenschlag dedicatae (=
Eos, 48, 1956), Vratislaviae-Varsaviae 1956, fasc. 1, pp. 27 ss.; I. Zajtay, “La réception des droits étrangers et le droit
comparé”, in Revue Internationale de Droit Comparé, 9 (1957), pp. 686 ss.; J. Gaudement, “Les transferts de droits”, in

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L’année sociologique, 27 (1976), pp. 29 ss. O termo “difusão” pode ser usado em sentido geral, mas pode também
assumir um significado específico se contraposto a “penetração”: v. por ex. P. Koschaker, L’Europa e il diritto romano,
trad. de A. Biscardi, Firenze 1962, pp. 279 ss. (Koschaker contrapunha “Ausdehnung”, “Aufdrängung” “pénétration
pacifique”: Europa und das Römische Rechts, München 1947, p. 162 n. 2 referente ao direito inglês). Para um exame
crítico do uso do termo “recepção” vide D. Genzmer, “Über historische Rechtsvergleichung”, in Buts et Méthodes du
Droit Comparé, Padova-New York 1973, pp. 249 ss. O termo “resistência” é usado também por P. De Francisci,
recensão de P. Koschaker, ob. cit. in Rivista italiana per le scienze giuridiche, 85 (1948), pp. 438 ss.

42 J. H. Wigmore, “L’avenir du système juridique anglo-americain” in Introduction à l’études du droit comparé. Recueil
d’études en l’honneur d’Edouart Labert, Paris 1938, 2, pp. 104 ss. Sobre as relações entre o sistema anglo-saxão e a
“eficácia econômica”, v. p. ex. E. Mackaay, “Un modello formale di sviluppo giurisprudenziale”, in Informatica e Diritto,
5, 1 (janeiro-março/79), pp. 199 ss., e alguns artigos publicados in Law, Growth and Technology, Editor D. N. Weisstub
(= CIDOC-Centro de Documentación, Cuaderno No. 1019). Cuernavaca 1972.

43 René David, ao notar a filiação do hodierno direito da Índia ao sistema anglo-saxão (por ele denominado “famille de
la Common Law”) ressaltou que a língua inglesa permaneceu a língua oficial daquele direito mesmo depois que a
Índia se tornou República independente; ele negou que o jurista possa responder à pergunta, se a originalidade do
Direito da Índia se afirmará, no futuro, dentro ou fora do sistema anglo-saxão: R. David. Les grands systèmes de droit
contemporains, 3.ª ed., Paris 1969, pp. 518 ss.; esses trechos da obra de David foram depois amplamente
modificados: vide a 7.ª ed., Paris, 1978, pp. 520 ss.

44 Vide F. Castro, Lineamenti di stori dei diritto musulmano, II, Dall’Impero ottomano alla Republica di Turchia, Venezia
1979. Sobre o ensino do Direito Romano e a codificação depois da Revolução de Kemal Atatörk, vide o escrito de S.
Talip, in Capitolium, Roma hukuku ve tarihi mecmuasi, 2 (1935), pp. 79 ss. (o autor era diretor da revista, publicada em
Istambul).

45 B. O. Bryde, “The Reception of European Law and Autonomous Legal Development in Africa”, in Law and State, 18
(1978), pp. 21 ss.; Ch. Chehata, Droit musulman. Applications au Proche Orient, Paris, 1970; F. Castro, “Sistema
sciaraitico, siyasa sar’yya e modelli normativi europei nel processo di formazione degli ordinamenti giuridici dei paesi
del Vicino Oriente”, in Il Mondo Islamico tra interazione e acculturazione, Roma 1981, pp. 165-202.

46 Vide J. Schacht, “Droit byzantin et droit musulman”, in Accademia Nazionale dei Lincei. Fondazione A. Volta, Atti dei
Conveíni, 12, Convegno di scienze morali, storiche e filosofiche (27 maggio-1 giugno 1956), Oriente ed Occidente nel
Medio Evo, Roma 1957, pp. 197 ss.

47 Vide brevemente, em relação ao direito comercial J. Schacht, ob. cit., pp. 215 s.; Soufy Hossan Abou-Talib, Le
periculum rei venditae en droit romain et en droit musulman, La Caire 1958.

48 J. Ribera Tarragó, Origines del Justicia de Aragón, Zaragoza 1897; cfr. Th. F. Glick, Islamic and Christian Spain in
the Early Middle Ages. Comparative Perspectives on Social and Cultural Formation, Princeton, New Jersey 1979, pp.
7; 207.

49 V. Fairen Guillen, Antecedentes aragoneses de los juicios de amparo, México 1971, pp. 9 ss.

50 Vide D. Stojcevic, “Le Droit Romain et les Droits des Pays Socialistes”, in Romanitas, 9 (1970), pp. 485 ss.; R.
Sacco, “Il sustrato romanistico del diritto civile dei paesi socialisti”, in Studi in onore di Giuseppe Grosso, IV, Torino
1971, pp. 739 ss. P. Blaho, “Das Römische Recht und die Methode der Rechtsvergleichung”, in Aktuelle Fragen der
Methodologie in den Altertumwissenschaften, Rostock 1979, pp. 33 ss. É interessante nesse sentido, a recensão de
Witold Wolodkiewicz ao manual de K. Kolánczyk, Prawo rzymskie, III ed., Warszawa 1978; W. compartilha da posição
de K., o qual “non scorge nel diritto romano un sistema chiuso, condannato a vivere nel proprio stretto ambito, e non
oltre, ma vede e traccia la sua evoluzione e il suo influsso sulla formazione di concetti giuridici contemporanei”;
conseqüentemente W. critica, todavia, “l’affermazione secondo la quale per comprendere il diritto civile di tipo
capitalistico si deve metterlo in “relazione di continuità” col diritto romano, mentre per la comprensione del diritto civile
di tipo socialistico e salutare fra esso e il diritto romano “la relazione di contrasto”. Segundo W. “l’imperituro (si
potrebbe dire dialettico) valore del diritto romano sta proprio nel fatto che i concetti e le istituzioni da esso formati
potevano e possono tuttora essere adoperati independentemente dalle diversità delle condizioni sociali ed
economiche. Servivano con successo a società dai più differenti sistemi politici e contenuti sociali. In questo senso il
diritto romano e il punto di collegamento (perlomeno formal e) fra i vari sistemi giuridici, ed è anche la base per una
migliore spiegazione di essi” (W. Wolodkiewicz, in Iura, 29 [1978] pp. 253 ss.). Con queste due diverse posizioni si può
confrontare anche una terza, che troviamo in riferimento al concetto di contratto: “Nel socialismo il principio
dell’uguaglianza contrattuale conserva la forma e tutte le valenze che le sono inerenti, ma, a differenza società
anteriori, il suo contenuto materiale assicura il compimento di ciò che i Romani hanno preconizzato senza realizzarlo:
l’uguaglianza totale, da tutti i punti di vista, delle parti contraenti. Questa uguaglianza giuridica e la conseguenza
naturale delle possibilità economiche riconosciute in uguale misura a tutte le persone. Fra teoria e pratica, volontà e
atto, le leggi del socialismo assicurano una perfetta concordanza” (V. Hanga, “Importanza del diritto romano alla luce

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della concezione dialettica e materialistica”, in Dittatura degli antichi e dittatura dei moderni, editado por G. Meloni,
Roma 1983, p. 230).

51 Em geral sobre conceitos jurídicos, como parte mais estável de qualquer sistema jurídico, vide I. Zajtay, “Begriff,
System und Präjudiz in den Kontinentalen Rechten und im Common Law”, in Archiv für die civilistische Praxis, 165
(1965), pp. 97 ss., ID., “La permanence des concepts du droit romain dans les systèmes juridiques continentaux”, in
Revue internationale de droit comparé, 18 (1966), pp. 353 ss.; T. Ionasco, “Quelques considérations sur le droit
comparé et les systèmes socio-politiques”, in Buts et méthodes du droit comparé, cit., pp. 443 ss. Sobre traduções
terminológicas vide L. J. Constantinesco, Traité de droit comparé, II, Paris 1974, pp. 144 ss.

52 H. Sumner Maine, Etudes sur l’histoire du droit, traduit de l’anglais avec l’autorisation de l’auteur, Paris, 1889, p.
368; o confronto, assaz atual, assim prossegue: “En Angleterre, le travail du juriste consiste à extraire des précédents
une formule qui, tout en les embrassant, puisse embrasser aussi l’état des faits litigieux; et la tâche des avocats
adverses est de chercher dans ces mêmes précédents, ou, ailleurs, les éléments de formules différents, mais non
moins appropriées en apparence. Or, en Droit romain, on n’utilise pas ainsi les précédents. Les Corpus Juris, comme
on le peut constater à première vue, renferme un grand nombre de cas, au sens des juristes anglais; mais ce ne sont
rien moins que des sources de regles, – ce sont des exemples de leur application. Ce sont, en quelque sorte, des
problemes dont l’autorité donne la solution, pou élucider la regle et montrer comment il convient de la manier et
l’appliquer. Pourquoi le Droit romain a-t-il assumé cette forme beaucoup plus tôt, et beaucoup plus complètement, que
le nôtre? C’est une question pleine d’intérêt, et l’une des premières que l’étudiant doive se poser. Mais, bien que les
préjugés d’un Anglais lui représentent probablement une jurisprudence ainsi constitutée comme une chose, à tout le
moins, anormales, elle est, cependent, tout aussi facile à concevoir et tout aussi naturelle que la constitution de notre
système. (…) Le Droit romain est un système de règles rigoureusement adaptées aux principes, et de cas spéciaux
pour illustrer ces regles. Or, à moins que le praticien ait découvert, pour se guider, le secret du principe, il imaginera
presque infailliblement des parallèles où ceux-ci n’existent point, et les laissera non moins assurément échapper là ou
ils existent. Bref, nul ne devrait lire son Digeste avant de posséder à fond ses Institutes. Toutefois, lorsque l’on s’est
entièrement pénétré des conceptions fondamentales du Droit romain, on saisit le rest avec une facilité surprenante, –
voire avec une aisance qui en rend presque l’étude un simple jeu d’enfant, pour qui est habitué aux dificultés énormes
du Droit anglais” (ob. cit., pp. 368 ss.; 425 s.). Vide também a tradução espanhola: H. Sumner Maine, Historia del
derecho, Madrid s. d., pp. 232 ss.; 270. Esta atitude anglo-saxônica diante do direito romano, não é, obviamente, a
única e resulta por assim dizer subvertido no legal realism norte-americano (pense-se, por exemplo à ironia política do
juiz Frank contra os “princípios jurídicos estudados pelos romanistas”: J. Frank, “Civil Law Influences on the Common
Law. Some Reflections on ‘Comparative’ and ‘Contrastive Law”, in University of Pensylvania Law Review, 104 (1956),
trad. castelhana, La influencia del Derecho Europeo Continental en el Common Law. Algunas reflexiones sobre el
Derecho Comparado y contrastado, Barcelona 1957, p. 78.

53 J. Castán Tobeñas, Los sistemas jurídicos contemporaneos del mundo occidental, Madrid, 1956, pp. 31 ss.

54 H. Eichler, “Die Rechtskreise der Erde”, Estudios de derecho civil en honor del Prof. Castán Tobeñas, IV, Pamplona
1969, pp. 307 ss., ID., Gesetz und System, Berlim 1970, pp. 76 ss.; ID., “Codificación de derecho civil y teoria de los
sistemas de derecho”, cit. pp. 243 ss. Este se concentra, para algumas “áreas jurídicas” sobre o “elemento
determinante” lingüístico. J. Castán Tobeñas, ob. cit., pp. 45-76, fala de “sistemas jurídicos de filiación ibérica” (dos
quais faz parte o “grupo ibero-americano”) entre os quais não está compreendido o Haiti “país latino-americano, que
puede ser adscrito al sistema francés”: analogamente F. De Sola Canizares, Iniciación al derecho comparado,
Barcelona 1954, pp. 233 ss.

55 Assim, já Clóvis Bevilaqua no Resumo das Licções de legislação comparada sobre o direito privado, II ed., Bahia
1897 (I ed. 1893), pp. 101 ss. Nesta linha deve-se mencionar H. Valladão, Le droit latino-américain, Paris 1954; R.
David, L’originalité des droits del’Amérique Latine, Paris s. d. O romanista brasileiro Abelardo Saraiva da Cunha Lobo,
no III volume do importante e original Curso de Direito Romano (Rio de Janeiro 1931) dedicou um título inteiro ao (pp.
171-200) “Direito Ibero-Americano”, tratando, porém, segundo o exemplo de Bevilaqua, de todas as “nações latino-
americanas”, compreendida a República do Haiti (ob. cit., pp. 11-17; cfr. 197 ss.).

56 Vide já as observações de E. Miñana y Villagrasa, La unificación del derecho mercantil hispano-americano (Bases
para una legislación común), III ed., Madrid 1929, pp. 290 ss.; J. M. Castán Vasquez, El sistema de derecho privado
iberoamericano cit., p. 183.

57 C. Bevilaqua, Resumo das Licções de legislação comparada, cit., p. 73, n. 1. Analogamente C. L. M. de Oliveira,
Curso de legislação comparada, Rio de Janeiro 1903.

58 C. Bevilaqua, ob. cit., pp. 73 ss.

59 A. Saraiva da Cunha Lobo, Curso de Direito Romano, III, Influência universal do Direito Romano, Rio de Janeiro
1931, pp. 171 ss. (pp. 201 ss. em particular sobre direito brasileiro).

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60 Vide H. A. Steger, “Die bedeutung des römischen Rechts” cit. (supra n. 4); “Universidad de abogados y universidad
futura” cit. (supra n. 4); Lateinamerika cit. (supra n. 23), pp. 261 ss.

61 J. Castán Tobeñas, Los sistemas jurídicos contemporaneos del mundo occidental cit., pp. 61 ss.; cfr. 27 s.

62 R. David, L’originalité des droits de l’Amérique Latine cit., pp. 4 ss. Vide também T. Ascarelli, “Diritti dell’America
Latina e dottrina italiana”, in Rivista trimestrale di diritto e procedura civile, 3 (1949), ou in ID., Studi di diritto comparato
e in tema di interpretazione, Milano 1952, pp. 155 ss.

63 Preliminar é a individualização de “zonas” (geográficas e jurídicas) do Continente americano: por exemplo E. J.


Couture (“El porvenir de la codificación y del “common law” en el continente americano”, in Jornadas Franco Latino-
Americanas de Derecho Comparado, Montevideo 1948, Montevideo 1951, pp. 147 ss.) distingue a zona do “common
law” inglesa (Guyana, Bermuda, Jamaica, Bahamas, Barbados, Belize, Trinidad Tobago, Santa Lucia etc.), a zona de
“common law anglo-americana” (a grande maioria dos Estados dos Estados Unidos da América), a zona na qual “el
common law y la codificación se han hallado en presencia” (Canadá, Luisiana, Califórnia, Novo México, Colorado etc.,
e particularmente Porto Rico) e a zona dos “países da codificação”.

64 R. David, Les grands systèmes de droit contemporains, 3.ª ed. cit., pp. 92 ss.

65 Assim, T. Ascarelli, ob. cit., pp. 158 ss.

66 T. Ascarelli, ob. cit., pp. 159; 162. Ascarelli era, por outro lado, bem consciente das fortes diferenças; p. ex.: “… il
viaggiatore giuridico noterà che in Brasile è, forse ancora più che negli altri paesi latini, accentuata la resistenza
psicologica ad ammettere che una somma di danaro possa costituire la riparazione di un danno alla persona. Forse, in
tema di risarcimento di danni, questa resistenza caratterizza in genere i diritti latini nei riguardi degli anglosassoni:
caratterizza il diritto brasiliano”: T. Ascarelli, “Osservazioni di diritto comparato privato italo-brasiliano”, in Foro italiano,
1947, ou in ID., Studi cit., p. 98.

67 E. Betti, “Relazione sulla visita alla Universidade do Rio Grande do Sul”, in Rivista italiana per le scienze giuridiche,
92 (1957-1958), p. 442 (reimpressão com uma “Postilla”, sob o título “Cultura giuridica brasiliana nelle impressioni di
un viaggio giuridico” in Jus n. s., 10 [1959], pp. 266 ss.). De Betti vide também “Breve rendiconto di una missione
svolta presso la Universidad Central de Venezuela” in Temi Romana, 15 (janeiro-abril/66), pp. 36 ss., particularmente
acerca da exigência de “contribuire a rimuovere il diaframma che oggi separa l’una dall’altra America latina” (aquela de
língua castelhana e aquela de língua portuguesa) e acerca da “filiazione mediterranea” da Venezuela.

68 P. de Francisci, “Recensione” a P. Koschaker, Europa und das römische Recht (München 1947), cit., (supra n. 38),
pp. 441 s.

69 Vide P. Catalano, “Il diritto romano attuale dell’America Latina” cit., pp. 88 ss.

70 Vide R. Pound. The spirit of the Common Law, Boston 1921 (II ed., 1966), pp. 2-6 (descrevendo o “triumph” da
Common Law, o professor americano explicava precisamente que em um ponto a “anglo-american legal tradition”
tinha sofrido um “defeat”: na codificação do Japão). Cfr. ID., “Les diverses sources du droit, leur équilibre et leurs
hiérarchies dans les divers systèmes juridiques”, in Mémoire de l’Académie Internationale de droit comparé, II/2 (Paris
1934), pp. 9 ss.; ID; “The future of American Law”, in Seminar, 4 (1946), pp. 1-20.

71 Refiro-me às precipitadas aproximações historiográficas entre direito romano e direito inglês, e ao uso de
categorias genéricas, tais como “direito casístico” ou “método casístico”: vide P. Catalano, “Il diritto romano attuale
dell’America Latina”, cit., pp. 98 s.

72 R. Pound, The Spirit of the Common Law, cit., p. 37; cfr. pp. 15 sS.; 35 ss.

73 Contra a tese (refletida também no § 19 do Programa do Partido Nacional Socialista), segundo o qual, o Direito
Romano seria individualista, vide F. de Martino, “Individualismo e diritto romano privato”, in Annuario di diritto
comparato e di studi legislativi, S. II, 16, fasc. 1(1941); o escrito é republicado no volume: ‘F. Martino, Diritto e società
nell’antica Roma, Roma 1979, pp. 248 ss., com uma “Introdução” que revê a precedente “schematica” conclusão: “Il
diritto germanico ha creato il feudo: quello romano ha ispirato la rivoluzione dei comuni” (p. XXVIII; cfr. XVII ss.). Com
particular referência à propriedade, cfr. P. de Francisci, “Appunti intorno ai “mores maiorum” e alla storia della proprieta
romana”, in Studi in onore di A. Segni, I, Milano 1967, pp. 615 ss.; A. A. Corrêa, “Remarques sur l’abus des droits en
droits romain classique”, in Atti del Seminario Romanistico Internazionale (Perugia-Spoleto-Todi, 11-14 ottobre/71),
Roma 1972, pp. 141 ss.

74 Sobre “derecho común americano” e sobre a “transfusión” do Direito Romano, vide os escritos de A. Diaz Bialet,
“La fortuna y el valorpráctico de la obra de Acursio en el derecho común americano”, in Atti del Convegno
Internazionale di Studi Accursiani (Bologna, 21-26 ottobre/63), III, Milano 1968, pp. 1.007 ss.; “La transfusión du droit

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romain”, Revue Internationale des Droits de l’Antiquité, 18 (1971), pp. 471 ss.; “Influencia del Derecho Romano en el
derecho positivo de la Argentina. Acerca de la transfusión del Derecho Romano”, in Romanitas, 10 (1970), pp. 235 ss.;
“La transfusión del Derecho Romano en la Argentina”, cit. (supra n. 20a.).

75 Sobre a importância do elemento indígena (colonial ou republicano) do ponto de vista jurídico, na coexistência ou
na “interinfluência” com o “bloco” hispânico, vide (com referência ao Peru) J. Basadre, Los fundamentos de la historia
del derecho, cit., pp. 382 ss.; cfr. p. 202 (a propósito da lei 4, título 2, livro 2 da Recopilación de Indias). Pelo que diz
respeito ao Brasil falou-se de uma contribuição somente “indireta” dos Indios e dos Negros na formação do direito: V.
M. Lobo da Costa, “O selvagem na história do direito nacional”, in Revista do Arquivo, 151 (São Paulo 1952), pp. 53
ss.; já Clóvis Bevilaqua tinha salientado a utilidade do estudo das instituições dos povos indígenas para compreender
“a inclinação particular de evolução do direito no Brazil”: C. Bevilaqua, Criminologia e Direito, Bahia 1896, pp. 221 ss.

76 Sobre a distinção entre os códigos dos Estados do Pacífico (ou melhor dos Andes) e os códigos dos países do
Atlântico meridional, vide H. Valladão, Le droit latino-américain, cit., pp. 15 ss.; “Teixeira de Freitas, jurista excelso del
Brasil, de América, del mundo”, in Lecciones y ensayos, 1-2, Buenos Aires 1961; “Influencia do direito alemão na
codificação civil brasileira (1857-1922)”, in Jurídica, 123 (Rio de Janeiro 1973).

77 A obra de Francesco de Martino citada (n. 69) foi traduzida por F. Hinestrosa, reitor da Universidade Externato de
Colombia: F. de Martino, Individualismo y derecho romano privado, Bogotá 1978.

78 P. ex. vide I. L. Webber-A. Ocampo Zamorano, Valores, desarrollo e historia, Bogotá 1975, pp. 27 ss.

79 Vide p. ex. J. J. Santa Pinter, Sistema del derecho anglosajón, Buenos Aires 1956, p. 17, que segue R. Pound, The
Spirit of the Common Law cit., p. 37.

80 Sobre o caráter fortemente romanístico das codificações latino-americanas, vide L. Moisset de Espanés, Derecho
civil español y americano. Sus influencias reciprocas. Córdoba (Argentina) 1973; ID., Obligaciones naturales y deberes
morales. Estudo de derecho comparado, Córdoba 1968, 41 ss.; Las obligaciones naturales en el derecho civil
argentino. Córdoba 1967. Cfr. L. de Gasperi. El régimen de las obligaciones en el derecho latinoamericano, Buenos
Aires 1960, 79 s.; 131 s.

81 Vide C. Bevilaqua, Resumo das Lições de legislação comparada cit., p. 74; J. Castán Tobeñas, Los sistemas
jurídicos contemporaneos del mundo occidental cit., p. 61; cfr. H. Valladão, Le droit latino-americain cit., pp. 20 s.; 29
ss.

82 Vide C. Mouchet-M. Sussini, Derecho hispánico y “common law” en Puerto Rico, Buenos Aires 1953.

83 Ph. J. Eder, Principios característicos del “common law” y del derecho latino-americano, Buenos Aires 1960, pp.
149 ss.

84 Vide C. Mouchet-M. Sussini, ob. cit., pp. 72 s.

85 Vide N. Sanchez-Albornoz, La población de América Latina, II ed., Madrid 1977, pp. 229 ss. (ali referências aos
conhecidos trabalhos de G. Mortara, publicados em Roma em 1961 e em 1965); E. A. Zannoni, “El régimen del
concubinato en el anteproyecto de Código civil paraguayo de 1964; ideas con motivo de la regulación legal del
concubinato en Hispanoamérica”, in Revista de derecho español y americano, 20 (1968), pp. 43 ss.

86 Cfr., p. ex., V. Tau Anzoátegui-E. Martiré, Manual de historia de las instituciones argentinas, Buenos Aires 1975, pp.
400 ss.; R. Flores Jaramillo, “La expropiación forzosa y la Ley de reforma agrária y colonización del Ecuador”, in
Revista de derecho español y americano, 15 (1967), pp. 55 ss.; M. T. Sandoval, “Comentário a la Ley de
arrendamiento de tierras”, in Revista de Derecho, Órgão da Faculdade de Jurisprudência e Ciências Sociais da
Universidade de El Salvador, época III, n. 3 (Junho/75), pp. 63 ss.; L. Amat Escandell, “Ascendencia romana del
derecho agrario”, in Estudios Santa Cruz Teijeiro, Valencia 1974, pp. 81 ss. Sobre “permanencia de preceptos legales
de inspiración colectivista”, até o século XVIII, vide J. M. Mariluz Urquijo, El régimen de la tierra en el Derecho indiano,
2.ª ed. aumentada, Buenos Aires 1978 (partic. pp. 98; 107 s.; 122; à respeito de várias utilizações do Direito Romano).

87 Cfr., p. ex., E. Umaña Luna, La familia en la estructura político-jurídica colombiana, Bogotá 1973, H. Tovar, Notas
sobre el modo de producción precolombiano, Bogotá 1974; M. Taussig, Destrucción y resistencia campesina. El caso
del litoral pacífico, Bogotá 1978 (artigos de um antropólogo australiano).

88 Cfr., p. ex., J. Barrera Graf, El derecho mercantil en la América Latina, México 1963, pp. 56 ss.; 75 ss.

89 J. Olavarría Avila, Los códigos de comercio latinoamericanos, Santiago de Chile 1961, pp. 304; 378 ss.

90 J. Olavarría Avila, ob. cit., p. 383 n. 21.

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91 Vide M. Carvalhosa, A nova Lei das sociedades anônimas. Seu modelo econômico, II e., Rio de Janeiro 1977. O
autor cita em conclusão, um estudo feito pela Seção do Rio de Janeiro da OAB (março/76): “Adoção de institutos não
usuais – o transplante de praxes e procedimentos, usuais no direito norte-americano, para o nosso direito positivo,
sem que existam em nossa tradição jurídica ou em nossa realidade econômica bases sólidas para sua utilização é a
terceira das falhas que se nos afiguram presentes no anteprojeto” (ob. cit., p. 164).

92 Devidos, respectivamente, às notáveis colaborações de Francesco Busnelli e de Antonio Carrozza, da Università di


Pisa. Cfr. p. ex. O. Morales Benítez, “Elementos de unidad y resistencia del sistema latinoamericano en el derecho
agrario”, in Revista de la Universidad Externato de Colombia, 21 (1980), pp. 265 ss.

93 No quadro da pesquisa põe-se o artigo de G. Dolezalek, “Informática Jurídica y derecho romano para la unificación
del derecho en Latinoamérica”, in Quaderni Latinoamericani, 3-6 (1979), pp. 123 ss. Aos resultados da pesquisa fazem
referência, p. ex., H. Eichler, “Privatrecht in Lateinamerika”, in Aus Österreichs in Geschichte und Gegenwart. Festchrift
für Ernst C. Hellbling zum 80. Geburstag, Berlin 1981, pp. 502 ss.; J. M. Castán Vázquez, La influencia de la literatura
jurídica española en las Codificaciones americanas, Madrid 1984, pp. 29 ss. De algum significado é também o verbete
(por mim redigido) “Sistema jurídico latinoamericano”, in Enciclopédia Saraiva do Direito, 69, São Paulo 1982, pp. 253
ss.

94 Como é sabido, Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, coincidentemente no mesmo dia e mês da
fundação de Roma.

95 A atividade do “Centro de Direito Romano e Sistemas Jurídicos” é testemunhada pela publicação dos Atos dos
Seminários: Direito e Integração, Brasília 1981; Seminários de Direito Romano, Brasília 1984.

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