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Ao longo da História do Direito Português, o Direito Romano vai renascer em diferentes épocas e

isso explica a similitude do Direito nos diferentes países europeus (Ius Commune/Direito Comum).
Em torno da ciência jurídica surge um Direito que também é comum em todos os países da Europa
– Ius Commune. Este Direito Comum não vai ser construído como um projeto politico mas como
um projeto cultural levado a cabo e impulsionado pelas universidades – Unificação do Direito – A
metodologia de ensino baseava-se na autoridade do texto (Direito Romano). Um grande
contributo deu o professor Acúrsio que recolheu, num único trabalho, todas as Glosas feitas ao
Corpus Iuris Civilis (Obra Magna Glosa).
Este fenómeno não era só importante num ponto de vista teórico como, também, de um ponto
de vista prático. A opinião da Glosa foi seguida nos tribunais portugueses até ao séc. XVIII. Um
segundo grande jurista foi Bártolo. Publicou muitas obras, que consistiam em textos escritos em
torno de um dado instituto (compra e venda, por exemplo), onde eram feitos comentários às
questões tratadas.
Apesar desta fragmentação e divisão, havia um elemento de coesão e de unidade, não do ponto
de vista politico mas do ponto de vista religioso. Havia uma ideia de unidade dos povos cristãos,
uma comunidade de povos obedientes a Roma, uma República Cristã. Esta unidade dos povos
cristãos foi teorizada à luz da ideia de Direito Natural. Um Direito que era Comum (Ius Commune):
▪ Direito Romano;
▪ Direito Canónico.

O Papa começa a legislar para toda a comunidade Cristã, deixa de ser apenas o bispo de Roma, as
leis canónicas (Decreto Graciano) são para todo o mundo Cristão. O Direito Comum era, por isso,
o Direito Romano-Canonico.

Designa-se Direito Comum (“Ius Commune”) o sistema normativo de fundo romano que se
consolidou com os Comentadores e constituiu, embora não uniformemente, a base da experiência
jurídica europeia. Alude-se ainda a direito comum romano-canónico. Assim, a expressão tanto se
encontra usada, restritivamente, para abranger apenas o sistema romanístico, como, num sentido
amplo, que compreende também outros segmentos integradores, muito em especial o canónico.
Ao direito comum contrapõem os direitos próprios ou particulares que se distinguem devido às
circunstâncias politicas e económicas, formados por normas legislativas e consuetudinárias.
De um modo geral, durante os séculos XII e XII, o direito comum sobrepôs-se às fontes com ele
concorrentes, seguiu-se um período de equilíbrio e, posteriormente, os direitos próprios foram-se
afirmando como fontes primaciais dos respetivos ordenamentos e o direito comum tendeu a
passar ao simples posto de fonte jurídica subsidiária. O termo desse ciclo, em começos do séc. CVI,
dá-se com a independência plena do “ius proprium”, que se torna exclusiva fonte normativa
imediata, assumindo o “ius commune” o papel de fonte subsidiária apenas mercê da autoridade
ou legitimidade conferida pelo soberano, que personificava o Estado.
Processo de Formação do Direito Português
Durante os primeiros séculos da Idade Média existia um conjunto de fatores que eram comuns aos
reinos europeus:
▪ Forma de Pensar;
▪ Direito (importância da Religião e da Teologia);
▪ Ciência Jurídica nasce nas universidades em torno do Direito Canónico e do Direito Romano;

Direito Comum Europeus (“Ius Commune” marcado pelo estudo e aplicação do direito romano
justinianeu e do direito canónico). Este fenómeno não foi diferente em Portugal, só se começa a
estudar Direito Português nas universidades com a reforma feita por Marquês de Pombal no
ensino superior (1772). Porém, desde a fundação da nacionalidade está em formação um “Direito
Português”. Este Direito foi sendo criado a partir de uma matriz comum, o Direito Comum. A
Independência foi, acima de tudo, um fenómeno politico, não provocou uma rutura cultural com
o que se vivia anteriormente.

Assim, se o Direito Romano se apresenta como Direito Comum (ius commune) ao longo dos séculos
que decorrem de Irnério até ao fim da idade média, resulta isso não do poder Imperial, mas do
trabalho científico dos prudentes. São estes que o impõem como lei geral a todos. O Direito
Romano era aplicado, por isso, não pela razão do Império mas pelo Império da Razão.

É precisamente pela influência dos doutores que o Direito romano justinianeu será reelaborado
em termos de adequação às necessidades medievais, de tal modo que adquire novo sentido. Os
juristas manejá-lo-ão em concomitância com o direito canónico e com os direitos locais (iura
própria) para obterem um ordenamento eficaz em termos de realidade. Alguns autores
consideram que o ius commune é uma “fusão” entre direito canónico e direito romano. Porém, na
opinião dos professores Albuquerque e de grande parte da doutrina, consideram que o Direito
Romano e o Direito Canónico atuaram reciprocamente um sobre o outro, em relação de
concorrência e em relação de conjugação, consoante as épocas, as próprias relações entre os
poderes e as ideologias. Houve dialética e simbiose, mas não fusão. Trata-se de direitos diversos
(untrumque ius), e não de um direito (unum ius).
O direito romano é direito comum modificado, ampliado, transformado pela interpretativo
doctorum, mas direito romano. Ius commune designa, assim, em regra, o direito romano e
distingue-se do untrumque ius. O uso desta metodologia, baseada no estudo dos textos romanos
e adaptada às necessidades da Europa medieval, acabaria por dar origem a um ordenamento de
criação prudencial a que se chamou “ius commune”, ou seja, o direito comum que é, portanto,
direito romano estudado, modificado e adaptado pela interpretação dos juristas às necessidades
dos direitos nacionais da época. A base desse direito é o direito romano justinianeu.

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