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DOUTRINA “DIREITO CIVIL”- SÍLVIO DE SALVO VENOSA

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO

Introdução:
No início da evolução social, mormente antes de surgir a escrita, residia nos
costumes a principal fonte. A tradição oral desempenha papel importante no
estabelecimento de condutas, como ainda ocorre hoje com as sociedades
primitivas. Posteriormente, a lei ganha foros de fonte principal. Sob esses dois
aspectos, Common Law e o sistema Romano-Germânico, que é o nosso. É certo
que o sistema Common Law atualmente já não é um direito essencialmente
costumeiro, mas de precedentes jurisprudenciais, embora os costumes tenham sido
sua base no início.
É importante fixar de plano que no universo jurídico atual, coexistem duas grandes
famílias jurídicas ou sistemas. O sistema denominado Romano-Germânico, em que
tem cabal proeminência a lei escrita, e o sistema do Common Law, dos países de
língua inglesa ou de colonização inglesa, em geral, que é um sistema, basicamente,
de direito não escrito, vazado em normas costumeiras e precedentes.

Denomina-se Direito Romano, em geral, o complexo e normas jurídicas que vigorou


em Roma e nos países dominados pelos romanos há 2.000 anos aproximadamente.
Os estados de direito ocidental, como o nosso, herdaram sua estrutura jurídica do
Direito Romano. Suas máximas fornecem, até hoje, ao direito moderno, um
manancial inesgotável de resultados inocentes.
Não existe, doutra parte, nenhuma legislação antiga tão conhecida como a romana.
Os romanos tiveram aptidão especial para o direito, criando uma inteligência e uma
forma de raciocínio jurídicas que nos seguem até o presente. Temos que
compreender o Direito Romano como um Direito Universal. Todo o nosso
pensamento jurídico, método e forma de intuição, toda a educação jurídica que ora
se inicia é Romana.
Quando do descobrimento do Brasil, o “Direito Romano” era aplicado em Portugal e,
por via de consequência, foi aplicado na nova colônia.
Fases do Direito Romano: Período Régio, Período da República, Período do
Principado e Período da Monarquia Absoluta.
Roma parte para a lei escrita quando percebe a incerteza do costume já não
satisfaz as suas necessidades.
Também é conveniente distinguir uma evolução interna no Direito Romano,
dividindo-o em dois grandes quadrantes, o Ius civile ou direito quiritário (Ius
quiritum) e Ius gentium.
Graças ao triunfo dos trabalhos pretorianos, que atendiam a equidade e ao direito
natural, desaparecia paulatinamente a diferença entre direito civil e direito das
gentes. O que precipita a fusão dos dois sistemas, porém, é a abolição do
procedimento formular feito por Diocleciano, desapareciam assim os resquícios de
diferença entre os dois sistemas.
A aplicação do Direito Romano nunca sofreu interrupções no Ocidente, foi sempre
objeto de ensino nas universidades.
Os Portugueses não se limitaram a assimilar o direito civil romano e o direito local,
mas adaptaram a jurisprudência ao meio e realizaram todo um trabalho de
comentários, de interpretação e aplicação práticos.
Se olharmos para a evolução do Direito Brasileiro, veremos como se posiciona
dentro da História. Desenvolve-se e evolui por meio de uma troca constante de
normas, que, quando vigentes, constituem o que denominamos “direito brasileiro”.
Devido a essa dinâmica própria da ciência jurídica, o Direito que hoje se ensina nas
universidades brasileiras é diferente, no que se refere ao conteúdo das normas, do
direito ensinado há 20, 30 ano. Inclusive as disciplinas às quais damos maior relevo
nas faculdades não são as mesmas do passado. Fazemos tais afirmações para
enfatizar que temos uma “continuidade” no Direito, independente das mudanças que
se produzem na esfera legislativa.
O Direito Brasileiro pertence ao Romano-Germânico, bem como se filiam todos os
direitos que tomaram por base o Direito Romano.
Os três sistemas referidos, romano-germânico, do Common Law e socialista, são,
de fato, as três famílias jurídicas mais importantes.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CODIFICAÇÃO

Após transformas os costumes em leis, o legislador parte para ambição mais


elevada: reunir em texto único e conexo todo o direito em vigor. Trata-se da criação
de um Código.
Às universidades propõe-se o renascimento do direito. Cabe a elas o trabalho e
tornar o Direito Romano novamente em vigor, ou seja, Direito Positivo. Há uma
problemática a ser enfrentada: elaborar um novo direito, tomando-se por base os
costumes existentes. Adapta-se o direito já elaborado. Nos países do Common Law,
parte-se daí para o casuísmo, a adaptação de acordo com cada necessidade.
Código algum pode surgir do nada, há necessidade de um profundo substrato
estrutural para uma codificação, de um conjunto de leis anterior, de maturidade para
a tarefa, bem como de técnicos capazes de captar as necessidades jurídicas de seu
tempo.
O código é consequência de racionalismo dedutivo e não se adapta a sistemas que
têm como direito uma amálgama de religião e costumes.
A codificação procura consolidar o direito empregado no passado, mas nunca a
codificação foi responsável por uma estagnação no direito, isso não ocorre.
A codificação realizada no século V mostra-se incompleta e insuficiente.
A codificação é um meio propulsor do Direito.
As codificações modernas contribuíram bastante para dar certa unidade ao Sistema
Romano-Germânico.
A codificação é, sem dúvida, o resultado das ideias da Escola do Direito Natural,
cuja ambição era tornar realidade a concentração das normas jurídicas em um
corpo legislativo.
A codificação teve sempre seus opositores. Com aproximadamente dois séculos de
codificação, porém, o problema já se deslocou para o campo de sua própria
elaboração. Toda codificação apresenta, sem dúvida vantagens e desvantagens.
Quando examinamos o problema das codificações, em especial da codificação
brasileira, verificamos que as leis especiais derrogaram muitas normas do antigo
Código Civil, que o próprio Código fora alterado em inúmeros dispostivos e que de
há muito se tenta introduzir uma nova codificação no Brasil.
Nenhum jurista de nosso sistema vê nos Códigos a única fonte de Direito.
VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CODIFICAÇÃO

VANTAGENS:
 Facilita a tarefa do jurista que encontra as normas em um corpo legislativo
unificado.
 No século XVIII, a codificação permitiu também, pela intervenção do
legislador, acabar com os arcaísmos que impediam o progresso do direito
positivo na época, bem como com a situação fragmentária do direito, preso à
multiplicidade de costumes.
 Foram fator de tremenda difusão universal do sistema românico, tanto dentro
como fora da Europa.

DESVANTAGENS:
 Há argumento desfavorável que se refere à imobilidade do direito;
 Se o código não é modificado, perde toda o contato com a realidade, fica
ultrapassado e impede o desenvolvimento social;
 Mas, se os componentes do código são constantemente modificados para
adaptar-se às novas situações, o todo perde sua unidade lógica e começa a
apresentar divergências crescentes e até mesmo contradições.
 Na época da promulgação dos códigos, nos novos Institutos, o Direito passou
a ser aplicado de forma mais racionalista, esquecendo-se do sentido de
Direito “justo” das universidades. Passou-se a entender o código como a
palavra definitiva do Direito, com apego muito grande à letra da lei. Logo que
surgiram os primeiros códigos, a ciência hermenêutica viu-se restrita, pois se
entendia que bastava tão-só, para aplicar o Direito, valer-se da exege-se dos
novos textos.
CODIFICAÇÃO TEM FUTURO NO BRASIL? COMO FICARÁ?

A importância dos Códigos se vê reduzida neste novo século, com tendência da


legislação ocidental orientar-se por microssistemas ou estatutos, os quais, contudo,
não podem prescindir ao menos de uma teoria geral exposta na lei.
Muitas de suas inovações de última hora, mormente engendradas na Câmara dos
Deputados, causam celeuma e perplexidade entre os cultores do Direito Civil. Para
essas modificações, realizadas com injustificável açodamento, não houve a devida
meditação pelos operadores do Direito do país. Mais de trezentos artigos já constam
em projetos de modificação. Algumas alterações pontuais, de interesse maior para
determinados grupos, já foram feitas. Nossas casas legislativas não são bons
exemplos para país algum. De qualquer forma, temos um Código Civil, obra que
poucas nações almejarão e conseguirão levar a cabo neste século XXI do qual
devemos nos orgulhar, cabendo às futuras gerações de juristas e operadores do
Direito em geral torná-lo efetivo e eficiente para regular a sociedade brasileira, ainda
que em torno dele continuem a gravitar inúmeros microssistemas jurídicos.

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