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FILIPPO V ASSALLI
Pro f. na Faculdade de Direito da
Universidade de Roma
10 Plutarco.
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11 "Charté, brieveté, force, dignité, telles sont les qualités nécessaires au style de la
législation": assim se expressa no volume Études législatives. J. N. (J. de Navarro), Pa-
ris. Artbur Bertrand. 1836. p. 154. volume em cuja redação. segundo a literatura fraD-
assa da época. teria tomado parte o rei Luís-Felipe.
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12 Cf. Zite1mann. Die Kunst der Gesetzbung, 1904. ps. 5. 14; Geny. La techniqu,
législative, Le livre du Centenaire, lI. 1904. p. 999. 1038.
13 Serão encontradas copiosas informações na obra mencionada de Angelesco, p. 82.
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dação dos projetos de leis se tenha tornado cada vez mais rara e oca-
sional. Muitas pessoas exigiram que essa função fôsse restituída ao
Conselho de Estado e, para tal fim, não faltaram projetos de lei. 17
Na atualidade, a lei de 2 de novembro de 1945 e os decretos que foram
baixados posteriormente fixam do 'seguinte modo as atribuições do.
Conselho de Estado: 1) o Conselho de Estado deve tomar conhecimento
dos projetos de lei preparados pelos Ministros; 2) dá o seu parecer
sôbre êsses projetos, sugerindo as modificações da forma que julgar
necessárias; 3) prepara e redige os textos que lhe são solicitados; 4) o
parecer do Conselho de Estado é obrigatório para os decretos que apro.-
vam regulamentos de administração pública. Os projetos são exami-
nados quer pela Secção do Conselho de Estado, competente na matéria,
quer por essa Secção juntamente com outra Secção, quer por uma Co-
missão que reuna representantes de várias Secções, inclusive a do con-
tencioso; são levados em seguida perante o Conselho de Estado reunido
em assembléia geral. Uma Comissão permanente, integrada no Con-
selho de Estado, examina, além disso, os projetos de lei ou de decretos
nos casos excepcionais em que a urgência, indicada pelo Ministro com-
petente, é reconhecida pelo Presidente do Conselho de Ministros. Essa
Comissão permanente compreende representantes dos Ministros que
dela tomam parte com voto consultivo.
Enfim, o Conselho de Estado é encarregado de estudar os métodos
mais adequados para rever ou codificar os textos legislativos e os re-
gulamentos, de sorte que assegurem a uniformidade da legislação, bem
como a sua conformidade em relação aos princípios republicanos (De-
creto de 31 de julho de 1945, artigo 1.0, alínea 4) .
Essas medidas permaneceram em vigor, mesmo depois da Cons-
tituição de 1946.
Na Bélgica as iniciativas foram numerosas e mais constantes do
que alhures, no sentido de criar um órgão permanente de técnica legis-
lativa; tal era o Conselho legislativo criado de acôrdo com os decretos
reais de 3 de dezembro de 1911 e de 13 de maio de 1922.
Hoje, é da alçada de uma das duas Secções do Conselho de Estado
(Section législative) dar o seu parecer, facultativamente, sôbre os pro-
jetos de lei, submetidos à sua jurisdição pelo govêrno ou pelos presi-
dentes das Câmaras e, obrigatOriamente, sôbre todos os DeC1"etos de
execução (Arrêtés d'exécution) , salvos os casos de urgência.
O parecer do Conselho de Estado também foi previsto. pela Cons-·
tituição da República Turca sôbre os projetos de lei redigidos pelo go-
vêrno (art. 51). A Constituição da Finlândia prevê, por sua vez, que
sôbre os projetos de lei traçados pelo Co.nselho de Ministros se possa
pedir o parecer da Côrte Suprema ou da Côrte Administrativa Supre-
ma ou, também, de uma e de outra, conforme as matérias de que se
trate (art. 18).
Conselhos legislativos, recrutados ou organizados de forma dife-
rente, mas com funções e finalidades inteiramente análogas, se encon-
• • •
Nosso assunto estaria agora esgotado, se não sentíssimos que a
participação dos juristas na elaboração técnica da lei representa ape-
nas a superfície do problema. O núcleo não está aí.
É o Direito que é preciso reconduzir aos juristas.
tsses últimos perderam, desde muito, o contrôle do Direito, pro-
vàvelmente para ocasionar o maior prejuízo de todo o mundo.
Muitas vêzes não há mais correspondência entre o direito e a lei,
isto é, entre o direito e as ordens lançadas pelo poder público. A lei,
nesse último sentido mais restrito e mais apropriado, marcha por um
caminho que não é necessàriamente o do direito.
As leis modernas, principalmente depois da primeira guerra mun-
dial, são, as mais das vêzes, os instrumentos de uma intrusão ou de
uma invasão violentas realizadas pelos Estados num domínio até então
regulado pela vontade dos interessados ou por normas que visavam
apenas a traduzir em realidade um princípio de justiça. É dêsse prin-
cípio que o jurista era o fiel depositário, a êle consagrando as suas
pesquisas sutis. Hoje, pelo contrário, as regras visam de preferência
a realizar as finalidades governamentais ou do Estado, se bem que o
jurista se veja substituído cada vez mais pelo funcionário ou pelo
homem político, entendendo-se por esta última palavra o porta-voz
qualificado de um interêsse de partido ou de uma orientação de go-
vêrno. As leis assumem, assim, um caráter bem estranho à ética, um
caráter contingente, utilitário, transitório, que faz lembrar o que o
direito civil distinguia, em outros períodos da História, sob os nomes
de banhos, editos, pragmáticas, citações. Tanto num caso como no
outro, são ordens, mas ao passo que as primeiras são marcadas com
o cunho do contingente e do limitado, as outras trazem o sinal indelével
da universalidade e da perpetuidade; umas aliam a razão ao constran-
gimento, as outras não possuem, talvez, do seu lado, senão o constran-
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gimento. "I s enim demum legis lator jurisve conditur dicitur qui sic
et prudentia floret et potestate viget". 19
Uma antiga imagem parece surgir ante os nossos olhos, tal como
a contemplavam os jurisconsultos do primeiro Risorgimento e tal como
Irnerius, se é que lhe podemos atribuir as QuaesUones de juris subti-
litatibus, a coloca no Templo da Justiça, no alto da colina mais lumi-
nosa de Roma; nas paredes de cristal, no interior do Templo, resplan-
descem, em letras de ouro, as palavras inscritas nos livros da lei "vi-
treo pariete, cui litteris aureis inscríptus est totus librorum legalium
textus". No meio está sentada a Deusa com a sua balança levantada,
assistida pela Razão e pela Eqüidade rodeadas por seis figuras alegó-
ricas. Os textos em letras de ouro são os textos de J ustiniano e uni-
camente êsses.
- Por quê, então, estão em vigor outras leis?
- Essas leis cuja observância vos é imposta, não são leis verda-
deiras - responde o jurisconsulto - "hujusmodJi suas, ut ipsi dicunt,
leges", "quae frívola nomine legum censentes"; são simples editos, pro-
clamados por soberanos bárbaros, que se estiolarão à medida que se
extinguir essa dominação perecível. 20
Tudo está perempto, com efeito, pensa o autor como todos os
grandes espíritos de sua época, com a exceção de um só direito, impe-
recível, o direito romano.
Em nossos dias, somos pouco propensos a sonhar. Entretanto, nós
todos, aqui reunidos, formados na tradição de Roma ou mais recente-
mente na tradição notável da common law, sentimos unânimemente
com Cícero que "lex est ratio summa", 21 com Tertuliano que "legem
ratio comendat". 22
Ora, a razão, isto é, o pensamento aplicado aos assuntos de inte-
rêsse humano, conta com os juristas entre os seus melhores fiéis.
Foi direta ou indiretamente do seu pensamento, que trazia a sua
interpretatio às leis da autoridade, que nasceram o direito romano, o
direito comum do continente europeu, o direito francês, o common 1O/W
dos inglêses. Os juristas foram, não redatores, mas conditores juris
durante cada uma dessas épocas e em cada um dêsses países; o povo
os chama .. fons et tuba jurís"; mesmo quando tomam parte nas vicis-
situdes políticas de seu tempo, permanecem sempre "mestres em Razão
e Justiça".
O problema da hora presente consiste em reconduzir, na medida
do possível, o jurista às leis. Outra não é, senão, em sua essência, a
aspiração dos homens em devolver as leis ao direito.
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