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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE NILOPOLIS

BETHANIA FIGUEIREDO ROCHA DAS NEVES, brasileira, solteira, inscrita na


OAB/RJ 231.473, inscrito no CPF sob o nº 061.879.34709 (DOC 01), residente e
domiciliado na Rua Coronel José Muniz, nº444, casa 05- Olinda, Nilópolis/RJ, CEP:
26.545-060 (DOC02), contato@i9direito.com, vem, em causa própria, indicando
como endereço profissional Rua João Pessoa, 1582, sala 203, Centro, Nilópolis,
Rio de Janeiro, onde receberá intimações conforme o, artigo 106, inciso I do Código
de Processo Civil, para requerer

AÇÃO INDENIZATÓRIA EM DANO MORAL C/C DANO


MATERIAL

Em face de BM COMERCIO DE CALCADOS E ACESSORIOS LTDA, pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 31.532.969/0001-37, com sede
na Rua Professor Alfredo Goncalves Filgueira, nº 19, Nilópolis, CEP: 26.525-
060.

I-PRELIMINARMENTE
I.2 DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Requer os BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA, que não


tenho condições de arcar com as despesas inerentes ao presente processo, sem
prejuízo do meu sustento e de minha família, necessitando, portanto, da Gratuidade
da Justiça, nos termos do art. 98 e seguintes da Lei 13.105/2015 (Código de
Processo Civil), bem como previsão no inciso LXXIV, do art. 5º da
Constituição Federal, c/c parágrafo único, do artigo 4º da lei nº. 1060/50. (DOC
04)

II DOS FATOS

Ocorre que, a parte autora necessitando completar sua fonte de


renda, realizou a compra de 34 pares de sapatilhas na data de 29/04/2021, junto a
ré na intenção de tornar-se revendedora da empresa, pagando o valor total de R$
1.190,00 (Hum mil, cento e noventa reais), pago à vista, o que se comprova pela
Nota Fiscal em anexo (DOC 05)

Aduz que, no decorrer do período da compra, a parte autora


compareceu diversas vezes na loja da empresa ré, afim de, realizar diversas trocas
2 das sapatilhas, seja por numeração e/ ou encomendas, que nunca inutilizou as
mercadorias realizando as trocas sempre com caixa original e em perfeito estado.

Contudo, na data de 15/05/2021, ao comparecer no endereço da


empresa ré e solicitar a troca de uma sapatilha já vendida por outra idêntica, porém,
com número menor, recebeu a negativa pela funcionária Ângela, sob alegação de
que a mercadoria não se encontrava em perfeito estado.

1
Após a informação obtida, a parte autora solicitou a demonstração de
dano causado no sapato, vez que, aparentemente não estava sendo disponível a
visibilidade do estrago, logo, a funcionaria realizou a inspeção do sapato com os
próprios dedos e mostrando o leve deslize na sola do objeto (DOC 06), conforme
se verifica na imagem abaixo:

Diante da inspeção genérica do produto, a parte autora informou que


tal alegação não configurava dano, uma vez que, restava claro que o sapato não
apresentava marcas de uso, tão pouco desgaste, ou qualquer meio de prova que
comprovasse que o dano se deu por culpa desta peticionante, em contrapartida, a
vendedora informou que “ achava” que poderia ter sido experimentado em chão
áspero.

Indignada, a parte autora solicitou a atendente que fosse direcionada


para um setor superior, onde a mesma pudesse resolver o imbróglio na sua melhor
forma, contudo, a preposta se dispôs em informar que era a responsável pelo 3
requerimento de trocas, afirmando a negativa, ainda acrescentou que a mercadoria
apresentava uma marca em seu interior, motivo pelo qual a parte autora deveria
realizar a compra de uma nova sapatilha no número solicitado para poder realizar
a revenda.

Cumpre ratificar que todas as peças adquiridas pela consumidora (34


sapatilhas), possuem uma marca no seu interior, assim a parte autora foi acusada
pela má prestação de serviços prestadas pela empresa ré, a própria fabricante,
conforme se comprova em fotografias anexadas (DOC 07)

2
Convém ressaltar que, a empresa ré possui uma loja com grande
exposição de mercadorias, que todas as peças ficam disponíveis para clientes
fazerem uso dentro do próprio estabelecimento, logo, tal dano pode ter sido
causado por qualquer interessado, bem como do fabricante não devendo esta
peticionante arcar com ônus que não deu causa, pela política de “ achismo e
levantamento de hipóteses” dos funcionários da ré.

Oportuno se toma dizer que, em decorrência a inercia da ré, a


requerente que se reinventou economicamente e confiou nos produtos da empresa
na esperança de aumentar sua renda, teve perdida a sua venda, sofrendo dano
material e dano moral ao ser acusada perto de outros clientes pela ilicitude
praticada.

Neste caso a requerida está fazendo JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS


MÃOS, pois acusou; não deu direito de defesa; condenou e aplicou ao requerente
uma penalidade, quando de forma coercitiva obrigando a parte autora a
permanecer com mercadoria inutilizada.

III- DO DIREITO
III.1 - DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define, de


forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado das
condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art. 3º do referido
Código.

No presente caso, tem-se de forma nítida a relação consumerista


caracterizada, conforme redação do Código de defesa do Consumidor:

Lei. 8.078/90 - Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Lei. 8.078/90 - Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica


que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Assim, uma vez reconhecido o Autor como destinatário final dos


serviços contratados, e demonstrada sua hipossuficiência técnica, tem-se 4
configurada uma relação de consumo, conforme entendimento doutrinário sobre o
tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor deve ser


interpretado a partir de dois elementos: a) a aplicação do princípio
da vulnerabilidade e b) a destinação econômica não profissional do
produto ou do serviço. Ou seja, em linha de princípio e tendo em
vista a teleologia da legislação protetiva deve-se identificar o
consumidor como o destinatário final fático e econômico do produto
ou serviço." (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6
ed. Editora RT, 2016. Versão ebook. pg. 16)

3
Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das
responsabilidades inerentes à sua atividade, dentre as quais prestar a devida
assistência técnica, visto que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus consumidores.

III.2 - DA APLICABILIDADE DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR –


CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO

Cumpre, ainda firmar a incidência do Código de Defesa do


Consumidor, vez que presentes estão os elementos da relação de consumo, haja
vista que a parte Autora é consumidora, por equiparação, tendo em vista que
mesmo não sendo a titular da compra, sofreu os efeitos do evento danoso,
considerada assim por consumidora por equiparação, na forma do art 17 do CDC.

III.3- DA INDENIZAÇÃO DEVIDA

Ao adquirir um produto ou serviço, o consumidor tem a legítima


expectativa de receber adequado ao uso de acordo com as expectativas geradas
na compra e que ofereça segurança mínima que se espera.

É sabido que a responsabilidade se refere a qualquer vício, seja ele


de quantidade ou qualidade, nos termos d:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou


estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que
dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - Sua apresentação;
II - o uso E os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.

Assim, constatado que houve grave defeito do produto e não


solucionado no prazo legal, tem-se o direito à substituição do produto ou devolução
do valor pago.

III.4- DAS PERDAS E DANOS

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova testemunhal que


que será produzida no presente processo, o nexo causal entre o dano e a conduta
da Ré fica perfeitamente caracterizado pela má prestação de serviço, gerando o
dever de indenizar, conforme preconiza o Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

4
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Nesse mesmo sentido, é a redação do art. 402 do Código Civil que


determina: "salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos
devidos ao credor abrangem, além do que efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar”.

A reparação é plenamente devida, em face da responsabilidade civil


inerente ao presente caso.

III.5- DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Toda e qualquer reparação civil está intimamente ligada à


responsabilidade do causador do dano em face do nexo causal presente no caso
concreto, o que ficou perfeitamente demonstrado nos fatos narrados. Sendo devido,
portanto, a recuperação do patrimônio lesado por meio da indenização, conforme
leciona a doutrina sobre o tema:

"Reparação de dano. A prática do ato ilícito coloca o que sofreu o


dano em posição de recuperar, da forma mais completa possível, a
satisfação de seu direito, recompondo o patrimônio perdido ou
avariado do titular prejudicado. Para esse fim, o devedor responde
com seu patrimônio, sujeitando-se, nos limites da lei, à penhora de
seus bens." (NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de
Andrade. Código Civil Comentado. 12 ed. Editora RT, 2017. Versão
ebook, Art. 1.196)

Trata-se do dever de reparação ao lesado, com o objetivo de viabilizar


o retorno ao status quo ante à lesão, como pacificamente doutrinado:

"A rigor, a reparação do dano deveria consistir na reconstituição


especifica do bem jurídico lesado, ou seja, na recomposição in
integrum, para que a vítima venha a encontrarse numa situação tal
como se o fato danoso não tivesse acontecido." (PEREIRA, Caio
Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. II - Contratos. 21ª
ed. Editora Forense, 2017. Versão ebook, cap. 283)

Motivos pelos quais devem conduzir à indenização aos danos


materiais sofridos, bem como aos lucros cessantes.

III.6- DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no


presente processo, a empresa ré deixou de cumprir com sua obrigação primária de
cautela e prudência na atividade, causando constrangimentos indevidos ao Autor.

Não obstante ao constrangimento ilegítimo, a reiterada tentativa de


resolver a necessidade do Autor ultrapassa a esfera dos aborrecimentos aceitáveis

5
do cotidiano, uma vez que foi obrigado a buscar informações e ferramentas para
resolver um problema causado pela empresa contratada para lhe dar uma solução.

Assim, no presente caso não se pode analisar isoladamente o


constrangimento sofrido, mas a conjuntura de fatores que obrigaram o Consumidor
a buscar a via judicial. Ou seja, deve-se considerar o grande desgaste do Autor nas
reiteradas tentativas de solucionar o ocorrido sem êxito, gerando o dever de
indenizar, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


NEGÓCIO JURÍDICO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - (...). CONTRATO NÃO
APRESENTADO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - DANOS
MORAIS CONFIGURADOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO
(DANOS MORAIS) MAJORADOS PARA R$ 10.000,00 -
REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA DOBRADA - MÁ-FÉ
DEMONSTRADA - DA COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO -
IMPOSSIBILIDADE - RECURSO IMPROVIDO. (...). A instituição
financeira ré, descuidando-se de diretrizes inerentes ao
desenvolvimento regular de sua atividade, não comprovou que os
contratos foram, de fato, celebrados pelo consumidor, tampouco
tenha sido ele o beneficiário do produto dos mútuos bancários. Não
basta para elidir a responsabilização da pessoa contratada a
alegação de suposta fraude. À instituição ré incumbia o ônus de
comprovar que agiu com as cautelas de praxe na contratação de
seus serviços, até porque, ao consumidor não é possível a
produção de prova negativa (CDC, art. 6, VIII c/c CPC, art. 373, II).
Inafastáveis os transtornos sofridos pela idosa que foi privada de
parte de seu benefício de aposentadoria, por conduta ilícita
atribuída a instituição financeira, concernente à falta de cuidado na
contratação de empréstimo consignado, situação apta a causar
constrangimento de ordem psicológica, tensão e abalo emocional,
tudo com sérios reflexos na honra subjetiva. Levando-se em
consideração a situação fática apresentada nos autos, a condição
socioeconômica das partes e os prejuízos suportados pela parte
ofendida, evidencia-se que o valor do quantum fixado pelo juízo a
quo deve sofrer majoração para R$ 10.000,00 (dez mil reais),
quantia que se mostra adequada e consentâneo com as finalidades
punitiva e compensatória da indenização. (...) (TJMS. Apelação n.
0801609-05.2015.8.12.0016, Mundo Novo, 4ª Câmara Cível,
Relator (a): Des. Claudionor Miguel Abss Duarte, j: 25/04/2018, p:
26/04/2018)

Trata-se da necessária consideração dos danos causados pela perda


do tempo útil (desvio produtivo) do consumidor.

III.7- DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que


desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela
empresa Ré que não demonstrou qualquer intenção na solução do problema,
obrigando o ingresso da presente ação.

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de DANO


PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do consumidor

6
gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam angústia e
stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática sobre


o tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

“Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do fornecedor


provoca injusta perda de tempo do consumidor, para solucionar
problema de vício do produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta
forma, desvia o consumidor de suas atividades para "resolver um
problema criado" exclusivamente por aquele. Essa circunstância,
por si só, configura dano indenizável no campo do dano moral, na
medida em que ofende a dignidade da pessoa humana e outros
princípios modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé objetiva
e a função social: (...) É de se convir que o tempo configura bem
jurídico valioso, reconhecido e protegido pelo ordenamento jurídico,
razão pela qual, "a conduta que irrazoavelmente o viole produzirá
uma nova espécie de dano existencial, qual seja, dano temporal"
justificando a indenização. Esse tempo perdido, destarte, quando
viole um "padrão de razoabilidade suficientemente assentado na
sociedade", não pode ser enquadrado noção de mero
aborrecimento ou dissabor." (THEODORO JÚNIOR, Humberto.
Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora Forense, 2017. Versão
ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a partir de


provocação doutrinária, a concessão de indenização pelo dano
decorrente do sacrifício do tempo do consumidor em razão de
determinado descumprimento contratual, como ocorre em relação
à necessidade de sucessivos e infrutíferos contatos com o serviço
de atendimento do fornecedor, e outras providências necessárias à
reclamação de vícios no produto ou na prestação de serviços."
(MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor - Editora RT,
2016. versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil do consumidor


provocada por desídia, despreparo, desatenção ou má-fé (abuso de
direito) do fornecedor de produtos ou serviços deve ser entendida
como dano temporal (modalidade de dano moral) e a conduta que
o provoca classificada como ato ilícito. Cumpre reiterar que o ato
ilícito deve ser colmatado pela usurpação do tempo livre, enquanto
violação a direito da personalidade, pelo afastamento do dever de
segurança que deve permear as relações de consumo, pela
inobservância da boa-fé objetiva e seus deveres anexos, pelo
abuso da função social do contrato (seja na fase pré-contratual,
contratual ou póscontratual) e, em último grau, pelo desrespeito ao
princípio da dignidade da pessoa humana." (GASPAR, Alan
Monteiro. Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil
do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual Civil, n.
104, nov-dez/2016, p. 62)
O STJ, nessa linha de entendimento já reconheceu o direito do
consumidor à indenização pelo desvio produtivo diante do desperdício do tempo do

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consumidor para solucionar um problema gerado pelo fornecedor, afastando a idéia
do mero aborrecimento, in verbis:

"Adoção, no caso, da teoria do Desvio Produtivo do


Consumidor, tendo em vista que a autora foi privada de tempo
relevante para dedicar-se ao exercício de atividades que
melhor lhe aprouvesse, submetendo-se, em função do
episódio em cotejo, a intermináveis percalços para a solução de
problemas oriundos de má prestação do serviço bancário. Danos
morais indenizáveis configurados. (...) Com efeito, tem-se como
absolutamente injustificável a conduta da instituição financeira em
insistir na cobrança de encargos fundamentadamente impugnados
pela consumidora, notório, portanto, o dano moral por ela
suportado, cuja demonstração evidencia-se pelo fato de ter sido
submetida, por longo período [por mais de três anos, desde o início
da cobrança e até a prolação da sentença], a verdadeiro calvário
para obter o estorno alvitrado, cumprindo prestigiar no caso a teoria
do Desvio Produtivo do Consumidor, por meio da qual sustenta
Marcos Dessaune que todo tempo desperdiçado pelo consumidor
para a solução de problemas gerados por maus fornecedores
constitui dano indenizável, ao perfilhar o entendimento de que a
"missão subjacente dos fornecedores é - ou deveria ser - dar ao
consumidor, por intermédio de produtos e serviços de qualidade,
condições para que ele possa empregar seu tempo e suas
competências nas atividades de sua preferência. Especialmente no
Brasil é notório que incontáveis profissionais, empre sas e o próprio
Estado, em vez de atender ao cidadão consumidor em observância
à sua missão, acabam fornecendo-lhe cotidianamente produtos e
serviços defeituosos, ou exercendo práticas abusivas no mercado,
contrariando a lei. Para evitar maiores prejuízos, o consumidor se
vê então compelido a desperdiçar o seu valioso tempo e a desviar
as suas custosas competências - de atividades como o trabalho, o
estudo, o descanso, o lazer - para tentar resolver esses problemas
de consumo, que o fornecedor tem o dever de não causar. Tais
situações corriqueiras, curiosamente, ainda não haviam merecido a
devida atenção do Direito brasileiro. Trata-se de fatos nocivos que
não se enquadram nos conceitos tradicionais de 'dano material', de
'perda de uma chance' e de 'dano moral' indenizáveis. Tampouco
podem eles (os fatos nocivos) ser juridicamente banalizados como
'meros dissabores ou percalços' na vida do consumidor, como vêm
entendendo muitos juristas e tribunais."
[2http://revistavisaojuridica.uol. com.br/advogados-leis-
jurisprudencia/71/desvioproduto-doconsumidor-tese-do-advogado-
marcos -ddessaune255346-1. asp] .(...). (AREsp 1.260.458/SP -
Ministro Marco Aurélio Bellizze)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do


tempo que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba sendo
destinado na solução de problemas de causas alheias à sua responsabilidade e
vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da


prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas
verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.

III.8 – DO VÍCIO OCULTO

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Trata-se de vício do produto, que o tornou inadequado para o uso a
que se destinava, perceptível somente no momento do uso, sendo
responsabilidade dos Réus a devida reparação, conforme conceitua.

"Vício oculto é aquele que já estava presente quando da aquisição


do produto ou do término do serviço, mas que somente se
manifestou algum tempo depois; ou seja, é aquele cuja identificação
não se dá com simples exame pelo consumidor."(GARCIA,
Leonardo. Código de defesa do consumidor. Juspodvm. 2017.
p.397)

Imputa-se ao fornecedor responsabilidade objetiva pela


impropriedade qualitativa ou quantitativa do produto, independente do prazo de
garantia, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO - "AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE QUANTIA CERTA


POR VÍCIO DO PRODUTO C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS"- Compra e venda de veículo "zero quilômetro"- Pleito de
restituição da quantia paga, além de indenização pelos danos
morais - Ilegitimidade passiva da concessionária - Inocorrência -
Todos os fornecedores que compõem a cadeia de produção e
comercialização do produto respondem solidariamente pelos vícios
ocultos - Inteligência do art. 18 do CDC - Alegação de vício do
produto - Defeitos mecânicos, sendo necessária a substituição de
peça importada (corpo de borboleta) - Demora na troca da peça -
Responsabilidade das rés caracterizada - Dever de indenizar
evidenciado - Restituição integral e atualizada da quantia paga pelo
consumidor - Inteligência do art. 18, § 1º, II, do CDC - Dano moral
caracterizado - Condenação imposta em 1º grau, no valor de
R$5.000,00, que merece ser mantida - Honorários advocatícios
reduzidos - Sentença reformada neste ponto - RECURSO DA
CORRÉ FORD MOTOR PARCIALMENTE PROVIDO,
DESPROVIDO O RECURSO REMANESCENTE. (TJ-SP
10146442320138260309 SP 1014644-23.2013.8.26.0309, Relator:
Ana Catarina Strauch, Data de Julgamento: 24/10/2017, 27ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 01/11/2017,
#03288585)

Razão pela qual, devida a indenização pelos danos materiais e morais


sofridos.

III.9 - DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O quantum indenizatório deve ser fixado de modo a não só garantir à


parte que o postula a recomposição do dano em face da lesão experimentada, mas
igualmente deve servir de reprimenda àquele que efetuou a conduta ilícita, como
assevera a doutrina:

"Com efeito, a reparação de danos morais exerce função diversa


daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam para a
recomposição do patrimônio ofendido, por meio da aplicação da
fórmula "danos emergentes e lucros cessantes" (CC, art. 402),
aqueles procuram oferecer compensação ao lesado, para
atenuação do sofrimento havido. De outra parte, quanto ao lesante,
objetiva a reparação impingir-lhe sanção, a fim de que não volte a

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praticar atos lesivos à personalidade de outrem." (BITTAR, Carlos
Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. 4ª ed. Editora Saraiva,
2015. Versão Kindle, p. 5423)

Neste sentido é a lição do Exmo. Des. Cláudio Eduardo Regis de


Figueiredo e Silva, ao disciplinar o tema:
"Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma
quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível
com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do
sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do
causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras
circunstâncias mais que se fizerem presentes" (Programa de
responsabilidade civil. 6. ed., São Paulo: Malheiros, 2005. p. 116).
No mesmo sentido aponta a lição de Humberto Theodoro Júnior:
[...] "os parâmetros para a estimativa da indenização devem levar
em conta os recursos do ofensor e a situação econômico-social do
ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto que nada
represente para o agente, e não exagerá-la, para que não se
transforme em especulação e enriquecimento injustificável para a
vítima. O bom senso é a regra máxima a observar por parte dos
juízes" (Dano moral. 6. ed., São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
2009. p. 61). Complementando tal entendimento, Carlos Alberto
Bittar, elucida que"a indenização por danos morais deve traduzir-se
em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade
de que se não se aceita o comportamento assumido, ou o evento
lesivo advindo.Consubstancia-se, portanto, em importância
compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de
modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta,
efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado
lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente
significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do
lesante"(Reparação Civil por Danos Morais, RT, 1993, p. 220).
Tutela-se, assim, o direito violado. (TJSC, Recurso Inominado n.
0302581-94.2017.8.24.0091, da Capital - Eduardo Luz, rel. Des.
Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e Silva, Primeira Turma de
Recursos - Capital, j. 15-03-2018, #53288585)

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que


sirvam igualmente ao desestímulo e inibição de novas práticas lesivas, situações
como estas seguirão se repetindo e tumultuando o judiciário.

IV- DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:

1) A citação das Rés, para, querendo comparecerem a audiência


de conciliação e contestarem os fatos alegados sob pena dos efeitos da Revelia,
conforme art. 344, do NCPC;

2) Seja concedida a gratuidade de justiça, com base na Lei


1.060/50;

3) A aplicação do art. 341 do NCPC, tendo como presumidas e


verdadeiras as alegações não impugnadas;

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4) Seja a empresa ré condenada a efetuar a troca do produto e/ou
restituir a parte autora a quantia de R$ 30,00 (trinta reais), valor pago pelo produto,
devidamente corrigido monetariamente.

5) Condenar a Ré, ao pagamento de indenização, de cunho


compensatório e punitivo, pelos danos morais causados o autor, tudo conforme
fundamentado, em valor pecuniário justo e condizente com o caso apresentado em
tela, qual, no entendimento da Autora, amparado em pacificada em jurisprudência,
deve ser equivalente a 20 (vinte) salários mínimos, valor razoável, conforme
Súmula 89 do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro, ou então, valor que
esse MM. Juízo fixar, pelos seus próprios critérios

6) Requer seja aplicada a inversão do ônus probatórios no caso


em tela, considerando o disposto no artigo 6º, inciso VIII do Código de Proteção e
Defesa do Consumidor, vez que o consumidor final, mostra-se hipossuficiente a
todo o aparato que tem ao seu dispor o Réu, mostrando-se inexistente à espécie o
princípio da igualdade do consumidor em relação ao Réu;

7) A condenação da Ré nas custas processuais, honorários


advocatícios à base de 20% (vinte por cento), na forma da Lei;

8) Protestando por todos os meios de prova em direito admitidas,


notadamente prova testemunhal, depoimento pessoal do representante legal da
Suplicada sob pena de confesso, documental, inclusive com exibição de Cédula de
Crédito Bancário, se necessário

9) . Por fim, também requer a gratuidade da Justiça, posto que


não tem condições de arcar com as custas do processo, sem prejuízo de seu
sustento e dos familiares.

V- DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Por fim, ainda requer o acautelamento do produto (sapatilhas) em


cartório deste juizado, como meio de preservação ou guarda das provas
previamente produzidas ou obtidas, para que possam ser utilizadas de forma válida
para pleno andamento processual.

VI- VALOR DA CAUSA

Dar –se a causa o valor de R$ 20.000,00 (Vinte mil reais)

Nestes termos
P. Deferimento

Nilópolis, 15 de julho de 2021

BETHANIA F. ROCHA DAS NEVES


OAB/RJ 231.473

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