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M.M.

JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA REGIONAL


DA TAQUARA– RJ.

CARMEM MARIA DE MORAES GOMES SANTOS, Brasileira,


Casada, do Lar, portador da carteira de identidade nº 05.480.521-3 expedida pelo IFP,
inscrito no CPF sob o nº 661.335.487-20 residente e domiciliada na Rua Acre 07 fds,
Curicica Cep: 22.710-110, e-mail eletrônico: carminhagomes27@hotmail.com , vem por
sua advogada infra assinado (mandato incluso) o qual se encontra estabelecida na
Rua Lopo Saraiva, 437, bloco 02 sala 437 Pechincha Rj, e-mail eletrônico:
diasesantosadv@outlook.com local onde indica para receber Intimações e
Notificações, propor a Presente:

AÇÃO INDENIZATÓRIA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER

em face da LIGHT – SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S/A, inscrita no CNPJ sob o


n.º 60.444.437/0001-46, sito na Av. Marechal Floriano, n.º 168, centro, Rio de Janeiro,
CEP 20.080-002, com endereço eletrônico: www.light.com.br, pelos fatos e
fundamentos que passa a expor:

PRELIMINARMENTE, de acordo com o provimento COGE nº 34, bem como o art.544


§ 1º do CPC com a nova redação dada pela LEI Nº 10.352/01, o advogado que esta
subscreve autentica os documentos que acompanham esta petição inicial, não
necessitando, assim, a autenticação cartorária.

DO PEDIDO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente, afirma que não possue condições de arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio bem como o de sua família,
razão pela qual fazem jus ao benefício da gratuidade da justiça, nos termos do artigo 4º
da lei 1060/50, com redação introduzida pela Lei 7510/86.

DA AUDIENCIA DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA


Cumpre destacar que a Autora não Possui interesse na audiência de conciliação,
caso seja esse também o interesse da parte ré.
DOS FATOS

A autora é cliente da empresa ré através do nº 33433866, no qual


sempre manteve em dia seus pagamentos.

Em abril de 2022, funcionários da Ré compareceram a sua


residência, sem que a mesma tivesse em casa e efetuaram uma inspeção no relógio
medidor da autora, vez que o mesmo aparentava apresentar irregularidades em
decorrência de suposta divergência entre o consumo real e o valor faturado e cobrado,
vale ressaltar que a autora é beneficiaria do programa tarifa social, que concede
desconto na fatura de consumo em decorrência de suas condições financeiras.

Ainda no mesmo mês a autora recebeu cobranças relativas ao TOI


10333043 no valor total de R$ 504,02.

Inconformada com o TOI recebido, a autora entrou em contato com


a empresa Ré requerendo uma explicação para ocorrido, tendo em vista que descordava
com a referida cobrança, bem como os valores de consumo que vinha recebendo, sendo
informada pela preposto da ré que iriam analisar o caso e entrariam em contato, o que
nunca ocorreu.

O autor compareceu as dependências da empresa ré e fez uma carta


de próprio punho, contestando tais valores, que de nada adiantou.

Sendo assim, a empresa ré esta imputando a cobrança indevida


referente ao TOI 10333043, totalizando assim uma cobrança indevida R$ 504,02
(quinhentos e quatro reais e dois centavos).

Desta forma, não restou alternativa a parte Autora senão a


propositura da presente medida judicial.

DO DIREITO

DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Prima facie, deve-se ressaltar que se trata de relação de consumo,


aplicando-se no caso em tela, sem qualquer restrição, a sistemática da Lei nº 8.078/90,
nos exatos termos do disposto nos artigos 2º e 3º do citado diploma legal, in verbis:
“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (grifamos)

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.”

Assim, evidente que a relação jurídica estabelecida entre o Autor e


a Ré caracteriza-se como de consumo, devendo ser examinada à luz das regras e
princípios previstos no referido diploma legal.

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO – DA RESPONSABILIDADE


OBJETIVA

Verificada a incidência do Código de Defesa do Consumidor ao caso, passemos a


demonstrar a falha na prestação dos serviços da Reclamada e a Responsabilidade dela
decorrente.

Assim, examinemos o disposto no art. 14, caput da mencionada


Lei:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.” (grifo nosso)

A partir da redação do mencionado dispositivo, podemos observar


que o Legislador atribui a Responsabilidade Objetiva ao fornecedor de produtos e
serviços pela reparação dos danos causados por defeitos relativos à prestação de seus
serviços.
Consoante os fatos acima narrados, verificamos que a falha na
prestação de serviços da Ré é cristalina, motivo pelo qual a mesma deve ser condenada
a reparar os danos sofridos ao Autor.

DO RESULTADO DA ANÁLISE REALIZADA PELA RÉ – INOCORRÊNCIA


DE IRREGULARIDADES NO MEDIDOR DE ENÉRGIA ELÉTRICA

Desnecessário aludir sobre a importância do serviço prestado pela


Ré, que por sua natureza essencial, torna-se imprescindível para a sobrevivência
humana.

Trata-se de matéria devidamente amparada pela Lei 7.783/89, que


em seu artigo 10, I, assim estabelece:

Art.10 - São considerados serviços ou atividades essenciais:


I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de
energia elétrica, gás e combustíveis;

Ademais, o art. 22 do Código de Defesa do Consumidor preceitua:

“ Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento,
são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único – No caso de descumprimento. Total ou parcial,
das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista neste código.”

Ato contínuo, para comprovar a existência de falhas nos medidores


de consumo de energia elétrica, torna-se imprescindível à perícia técnica.

Para tanto, insta mencionar o que dispõe o art. 129, §4º da


Resolução 414/2010 da ANEEL:
Art. 129. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a
distribuidora deve adotar as providências necessárias para sua fiel
caracterização e apuração do consumo não faturado ou faturado a
menor.

§ 4º O consumidor tem 15 (quinze) dias, a partir do recebimento do


TOI, para informar à distribuidora a opção pela perícia técnica
no medidor e demais equipamentos, quando for o caso, desde que
não se tenha manifestado expressamente no ato de sua emissão.
o(Redação dada pela Resolução Normativa ANEEL nº 418, de
23.11.2.

Ante os fatos acima expostos, requer seja a Ré compelida na


obrigação de fazer em declarar nulo o TOI 10333043, bem como a cobrança
oriunda desta no valor total de R$ 504,02 que conforme comprovantes anexos.

- DO DANO IMATERIAL IN RE IPSA

Resta claro que, a conduta da Ré vem proporcionando a Autora danos


de natureza imaterial IN RE IPSA, à exaustão, merecendo o mesmo adequada
compensação, por força da própria relação do serviço prestado.

Não obstante, é importante a verificação da sua configuração.

Quanto a isso, o Civilista Sílvio de Salvo Venosa entende que “em


se tratando de pessoa jurídica, o dano moral de que é vítima atinge seu nome e
tradição de mercado e terá sempre repercussão econômica, ainda que indireta.”

Arremata, ainda, dizendo que “não é somente dor e sofrimento que


traduzem o dano moral, mas, de forma ampla, um desconforto extraordinário na
conduta do ofendido e, sob esse aspecto, a vítima pode ser tanto a pessoa natural como
a pessoa jurídica" (Direito Civil - Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas 2003
- p. 203).

No caso em discussão, resta evidente o dano moral sofrido pelo


Autor, que está sendo acusado indevidamente de ter realizado procedimento no
medidor de energia elétrica, o que ocasionou irregularidades.
Com isto, cabido está o dano moral, conforme julgados
semelhantes abaixo citados:

“7ª CÂMARA CÍVEL - 0158295-


21.2009.8.19.0001 – APELACAO - AGRAVO
INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA EM
APELAÇÃO CÍVEL QUE NEGOU
SEGUIMENTO AO RECURSO INTERPOSTO
PELA RÉ, MANTENDO NA ÍNTEGRA A
SENTENÇA. IRRESIGNAÇÃO DA
DEMANDADA. Relação de consumo. Na
verdade, a questão não foi somente a lavratura do
TOI, mas também o que ocorreu depois, com a
substituição do medidor e a realização de
cobranças indevidas. A despeito das alegações da
ré, não há dúvida de que a lavratura do TOI se deu
de modo unilateral - até mesmo porque o autor não
conseguiu ser atendido nas agencias da
Concessionária -, violando os princípios do
contraditório e da ampla defesa, porquanto não
oportunizou ao consumidor o debate acerca dos
motivos que conduziram à conclusão alcançada
pela concessionária. Ausência de perícia técnica
judicial no relógio medidor. Ausência de prova da
irregularidade apontada, não tendo a ré se
desincumbido de provar os fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito da autora.
Concessionária ré que se absteve de produzir prova
que demonstrasse a regularidade de sua atuação.
Perícia técnica que se mostra imprescindível para a
correta solução do litígio. Não tendo a
concessionária submetido o medidor à perícia
técnica perante órgão oficial, deve arcar com os
ônus. Falha na prestação do serviço. Art. 14 do
CDC. Violação ao princípio da boa-fé objetiva.
Assim, não tendo comprovado a irregularidade no
medidor e, via de consequência, a existência de
crédito em seu favor, considera-se configurado,
inclusive, o dano moral, cuja fixação em R$
5.000,00 mostra-se condizente com os danos
efetivamente experimentados, consoante os
critérios de razoabilidade e proporcionalidade.
Precedentes desta Corte. DECISÃO QUE SE
MANTÉM. DESPROVIMENTO DO RECURSO.”

Ad argumentandum, a finalidade pedagógica e penalizadora da


condenação não podem ser olvidadas, pois, servem de advertência para que a Ré não
volte a cometer tais atos de desrespeito para com seus consumidores em geral,
confrontando com os princípios previstos no Código de Defesa do Consumidor.

DA COMPROVAÇÃO DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR

A despeito de se tratar de relação de consumo e, conseqüentemente,


da responsabilidade objetiva da Ré, o consumidor não está isento da comprovação
mínima dos fatos constitutivos de seu direito, nos moldes do art. 333, I do CPC,
impondo-lhe a comprovação dos pressupostos da responsabilidade civil, a saber: fato
lesivo, dano e nexo de causalidade.

Verifica-se que nos autos encontra-se vasta e robusta


documentação que empresta veracidade as alegações autorais, sendo certo que não é
possível a produção de mais provas, haja vista a hipossuficiência do Autor perante o
Réu, o que nos faz adentrar ao próximo tópico, a inversão do ônus da prova.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078/90), dentre os
direitos básicos do consumidor, dispõe sobre “a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências” (art. 6º, VIII).

Importante mencionar o seguinte precedente do TJ/RJ a título de


ilustração.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO


CONSUMIDOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZATÓRIA. TOI. INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. CABIMENTO. 1. A regra do art. 6º, inciso VIII
do CDC, fundamenta-se na vulnerabilidade do consumidor.
2. Evidente a hipossuficiência do consumidor que não
possui meios de comprovar fato negativo. 3. O consumidor
não possui o conhecimento sobre os aspectos técnicos
inerentes aos serviços. Estes são de pleno domínio do
fornecedor de serviços, já que detém a tecnologia,
distribuição e medição de consumo de energia elétrica.
4. Precedentes desta Corte e do STJ. 5. Reforma da decisão,
para deferir a inversão do ônus da prova. 6. PROVIMENTO
DO RECURSO, na forma do art. 557, § 1º-A do C.P.C."
0026506-62.2010.8.19.0000 – AGRAVO DE
INSTRUMENTO - DES. LETICIA SARDAS - Julgamento:
17/06/2010 - VIGESIMA CAMARA CIVEL

Portanto, haja vista a verossimilhança das alegações do autor e da


hipossuficiência do mesmo, este faz jus, nos termos do art. 6º, VII da lei 8.078/90, a
inversão do ônus da prova ao seu favor.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer à V. Exª:


a) Que seja concedida a autora os benefícios da gratuidade de
justiça;

b) Seja a Ré citada, na pessoa de seu representante legal para,


querendo, contestar a presente, sob pena de revelia;

c) Informa que não possui interesse na audiência de


conciliação conforme disposto no artigo 319,VII do Código
de Processo Civil;

d) Seja deferida a inversão do ônus da prova;

e) Seja declarado nulo as cobranças referente ao TOI


10333043;

f) A restituição do valor de R504,02 cobrado indevidamente


da parte autora;

a) Seja a Ré condenada ao pagamento de verba, a título de


compensação, pelo dano imaterial sofrido pelo Autor, em
valor não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais);

b) A condenação da Ré em custas e honorários advocatícios


estes últimos na razão de 20% (vinte por cento), sob o valor
da condenação.

DAS PROVAS

Pugna por todos os meios de provas em direito admitido, em especial a


documental superveniente e testemunhal e demais que se fizerem necessárias ao
deslinde da ação.
DO VALOR DA CAUSA

Para efeito fiscal, dá à causa o valor de R$ 10.504,02 (Dez mil


quinhentos e quatro reais dois centavos).

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio de janeiro, 14 de junho de 2022.

ANDREA DIAS ROSA


OAB/RJ 174.925

PRISCILA BERNARDO LOPES


OAB/RJ 176.910

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