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MERITÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA VARA _____ DA

COMARCA DE XXXXXX/XX

Autor (qualificação), por intermédio de seu advogado que ao final subscreve (procuraçã o
anexa), com fundamento na Constituiçã o da Republica Federativa do Brasil e no Có digo de
Defesa do Consumidor, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de Concessionária de Energia Elétrica, (qualificaçã o), pelas razõ es de fato e


Direito que passa a expor:
1- DOS FATOS
Esteve na residência da autora em X/X/X, o funcioná rio da concessioná ria de energia
elétrica, ora reclamada, informando ao cô njuge da reclamante, que o equipamento de
mediçã o seria substituído por um “ZERADINHO”, sem justificarem o motivo desta.
No data da referida inspeçã o, apó s a realizaçã o do ato, até entã o de “TROCA”, os
funcioná rios da empresa reclamada apenas perguntaram o nome completo do marido da
reclamante, sem dar qualquer tipo de informaçã o quanto ao procedimento realizado, muito
menos chamaram alguém para acompanhar o que realmente ali faziam.
Ressalta-se que a reclamada e seu marido nã o receberam no ato do procedimento
nenhuma documentaçã o referente ao Termo de Ocorrência de Inspeçã o (TOI), muito
menos assinaram qualquer documentaçã o, tendo sido realizado unilateralmente pelos
funcioná rios da requerida.
Passados alguns meses, a autora foi surpreendida com a chegada de uma correspondência
da concessioná ria, informando a existência de um processo administrativo de inspeção nº
XXXX. Comunicou-se que, foram detectadas suposta existência de procedimento irregular
por intervençã o nã o autorizada na mediçã o na unidade consumidora da requerente, cuja
responsabilidade seria desta, em razã o disso o consumo nos períodos de 07/01/2021 a
08/09/2021 teriam sido faturados de maneira incorreta, por isso gerou-se a cobrança da
suposta diferença no valor de R$1.244,28 (mil duzentos e quarenta e quatro reais e vinte e
oito centavos).
Ocorre que, a reclamante e seu marido nã o tinham ciência do que se tratava o referido
termo, e que no momento da troca o agente apenas informou que se tratava de
procedimento comum, ainda assim, se quer foram chamados para efetivo acompanhamento
do procedimento.
Em momento algum foram informados que a unidade consumidora estava sendo
submetida a investigaçã o de uma Pseudo-irregularidade, ao contrá rio, apenas foi dito que o
medidor seria substituído por um novo, ora muito antigo.
A família nã o foi informada que o reló gio estava sendo submetido a vistoria, sendo
necessá ria a substituiçã o deste, jamais foi informada que o mesmo estava com supostas
irregularidades, motivo pelo qual a reclamante tomou as providências necessá rias para
resguardar os seus direitos.
Inicialmente, a autora se dirigiu até o escritó rio da reclamada para buscar informaçõ es
sobre a motivaçã o da multa, mas se quer os funcioná rios souberam dizer o que havia
ocorrido, mas que constava o débito no sistema. Em razã o disso, os funcioná rios ficaram de
averiguar o motivo, e, ao retornar mais tarde, lhe apresentaram somente fotos do medidor
antigo e aconselharam enviar uma carta de reclamaçã o ou fazer direto pelo site da
empresa, o que foi feito.
A autora abriu reclamaçã o por e-mail junto a concessioná ria de energia sob o protocolo de
nº XXXXX (espelho do e-mail em anexo), contestando os débitos e a suposta
irregularidade, mas nã o recebeu qualquer resposta. Por este motivo, a autora ligou para
concessioná ria e por telefone recebeu a informaçã o de que esta reclamaçã o havia sido
indeferida, sem mais informaçõ es quanto a motivaçã o.
Apó s isso, fez outra reclamaçã o junto ao site consumidor.gov sob o protocolo de nº
XXXXXX (espelho da reclamação em anexo), no qual somente nesse momento tomou
conhecimento das supostas motivaçõ es do indeferimento de sua contestaçã o, bem como
recebeu o termo de inspeçã o que fora realizado pela concessioná ria de forma unilateral
(em anexo).
Esclarece a autora que desconhece a afirmaçã o de procedimento irregular, pois nunca
presenciou o acesso de estranhos ao reló gio, somente de agentes da concessioná ria, ainda
assim, o referido medidor fica em á rea externa à residência, nã o podendo vigiar 24 horas
por dia. Além disso, é de fá cil percepçã o que o referido medidor era antigo, possuindo
aproximadamente 7 (sete) anos de utilizaçã o, o que fatalmente pode ter ocasionado avarias
decorrentes do longo período de utilizaçã o, além de estar exposto frente à rua, jamais
sofrido adulteraçã o ilegal.
Excelência, conforme as documentaçõ es anexadas aos autos, mesmo apó s a troca do reló gio
de mediçã o da unidade consumidora da reclamante, constata-se que o consumo da mesma
nã o sofreu qualquer mudança considerá vel (histórico em anexo), pelo contrá rio, nos
meses subsequentes passaram a ser menores que os anteriores, a exceçã o dos meses cujo
consumo é claramente maior, como é o mês de dezembro e janeiro, ante as férias e datas
festivas. No entanto, caso verificado o histó rico anual de consumo e pagamento, este
variava como de costume.
Ora, se realmente houvessem irregularidades com a constataçã o de faturamentos a menor
que o real, a mudança do reló gio traria à tona o aumento do consumo, e, consequentemente
o aumento da fatura da autora, o que claramente nã o ocorreu, na verdade, diminuiu.
Diante disso, nã o seria certo levantar dú vidas quanto a inspeçã o?! Inspeçã o essa realizada
de maneira unilateral, até mesmo afirmar que o medidor poderia estar faturando
diferenças à mais, nã o à menos?!
Nã o bastasse a referida situaçã o, na data de 12/05/2022 a autora teve o seu
fornecimento de energia interrompido pela concessioná ria de energia, em razã o do nã o
pagamento do faturamento da diferença cobrada no valor de R$1.244,28 (mil duzentos e
quarenta e quatro reais e vinte e oito centavos). Diante disso, a reclamante e sua família
passaram pouco mais de uma semana com sua energia cortada, em razã o da referida
inspeçã o em seu medidor, totalmente irregular.
Nessa situaçã o, a autora se viu obrigada a celebrar um contrato de confissã o de dívida
referente a multa aplicada, tendo sido atualiza para o valor de R$ 1.281,19 (mil duzentos e
oitenta e um reais e dezenove centavos), tendo sido parcelada em 36x (trinta e seis vezes)
de R$35,59 (trinta e cinco reais e cinquenta e nove centavos), no qual será cobrada
mensalmente em suas faturas.
A parte autora sempre cumpriu com suas obrigaçõ es, respeitando as leis, adimplindo com
os pagamentos das tarifas cobradas pela concessioná ria dos serviços de energia,
repudiando terminantemente qualquer tipo de insinuaçã o ou falsa imputaçã o de
adulteraçã o ilegal do medidor instalado em sua residência. No entanto, fora compelida
injustamente a passar dias sem energia em sua casa por um procedimento irregular.
Situaçã o completamente vexató ria.
2- DO DIREITO
2.1- DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - DIREITOS BÁSICOS
VIOLADOS.
Inicialmente, resta claro a relaçã o de consumo entre as partes, a jurisprudência mais atual
do Superior Tribunal de Justiça admite-se a aplicabilidade do Có digo de Defesa do
Consumidor aos chamados serviços pú blicos impró prios ou individuais, que sã o aqueles
que possuem usuá rios determinados ou determiná veis e que permitem a aferiçã o do
quantum utilizado por cada consumidor, como ocorre no serviço de energia elétrica.
Cumpre ressaltar que o fundamento da aplicabilidade do CDC aos serviços prestados pelo
Estado via delegaçã o reside no fato de serem tais serviços remunerados por tarifas ou
preços pú blicos, identificando-se os usuá rios como consumidores, na dicçã o do art. 3º do
CDC, e caracterizando-se as relaçõ es existentes entre estes e o Poder Pú blico como de
Direito Privado.
Assim, aplicam-se todos os direitos bá sicos de proteçã o ao consumidor e que foram
violados no presente caso, como será demonstrado.
2.2 DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR
O Có digo de Defesa do Consumidor dispõ e em seus arts. 22 e 42, que o Consumidor na
cobrança de débitos nã o pode ser submetido a constrangimentos, sendo que a cobrança
motivo desta lide causa todo tipo de inconveniência e constrangimento a Consumidora.
O CDC veda em seu art. 39, que o fornecedor se prevaleça da FRAQUEZA do consumidor,
sendo cristalino que o consumidor nã o pode ser responsabilizado por desgaste natural de
equipamento colocado em sua residência.
E mais, a reclamante e seu marido se quer foram informados realmente do que se tratava
no momento da inspeçã o, que inicialmente tratava-se somente da troca de reló gio, ou seja,
nã o foi informado ao (a) consumidor (a) nada, restando claro que o agente agiu de FORMA
ABUSIVA, ofendendo os princípios da boa-fé e do equilíbrio, como também o direito bá sico
à informaçã o precisa.
O Có digo de Defesa do Consumidor no seu artigo 39, inciso V, define, entre outras
atividades, como prá tica abusiva “exigir do consumidor vantagem manifestamente
excessiva”.
O CDC é pautado no princípio da vulnerabilidade (art. 4, I, CDC) e da harmonizaçã o dos
interesses, com base no equilíbrio e na boa-fé e no seu no seu artigo 6º, entre outros
direitos bá sicos, estabelece-se o direito a informaçõ es adequadas, claras sobre os serviços,
com especificaçã o correta da quantidade e preço.
E para imputar ao consumidor ato manifestamente ilegal, deve o fornecedor provar suas
alegaçõ es, demonstrando, que foi efetivamente o consumidor o responsável pelo ato a
ele imputado, o que não ocorre no presente caso.
2.3- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Demostrada a relaçã o de consumo, resta consubstanciada a configuraçã o da necessá ria
inversã o do ô nus da prova, conforme expressa do Có digo de Defesa do Consumidor:
Art. 6º. Sã o direitos bá sicos do consumidor:
(...)
VIII - a facilitaçã o da defesa de seus direitos, inclusive com a inversã o do ô nus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegaçã o ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordiná rias de experiências;
A inversã o do ô nus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou grande dificuldade
de prova indispensá vel por parte da Autora, sendo amparada pelo princípio da distribuiçã o
dinâ mica do ô nus da prova implementada pelo Novo Có digo de Processo Civil:
Art. 373. O ô nus da prova incumbe:
(...)
§ 1º nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou a excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtençã o da prova do fato contrá rio, poderá o juiz atribuir o ô nus da
prova de modo diverso, desde que o faça por decisã o fundamentada, caso em que deverá
dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ô nus que lhe foi atribuído.
Trata-se de efetiva aplicaçã o do Princípio da Isonomia, segundo o qual, todos devem ser
tratados de foram igual perante a lei, observados os limites de sua desigualdade. Nesse
sentido, a jurisprudência orienta a inversã o do ô nus da prova para viabilizar o acesso à
justiça:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DISTRIBUIÇÃ O DINÂ MICA DO Ô NUS DA PROVA. PARTE COM
MAIOR CONDIÇÃ O DE PRODUÇÃ O. (...) DECISÃ O FUNDAMENTADA. POSSIBILIDADE. I. O §
1º do art. 373 do CPC consagrou a teoria da distribuiçã o dinâ mica do ô nus da prova ao
permitir que o juiz altere a distribuiçã o do encargo se verificar, diante da peculiaridade do
caso ou acaso previsto em lei, a impossibilidade ou excessiva dificuldade de produçã o pela
parte, desde que o faça por decisã o fundamentada, concedendo à parte contrá ria a
oportunidade do seu cumprimento. II. Negou-se provimento ao recurso. (TJ-DF
07001112620178070000 0700011-26.2017.8.07.0000, Relator: JOSÉ DIVINO DE
OLIVEIRA, Publicado no PJe: 02/05/2017).
Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez que disputa a lide com
uma empresa de grande porte, indisponível concessã o do direito à inversã o do ô nus da
prova, que desde já requer.
2.4- DA AUSÊNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL – AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO
Segundo a Carta Magna, ninguém pode ser considerado culpado de um ato ilícito, grave
como este de adulteraçã o de equipamento de propriedade da concessioná ria, SEM O
DEVIDO PROCESSO LEGAL, e direito à AMPLA DEFESA, portanto é descabida a presente
cobrança, sob a alegaçã o de que a autora foi a ú nica responsá vel pelo “DEFEITO DO
MEDIDOR”, diante de tã o irresponsá vel acusaçã o, declara seu repudio, e restará provado se
tratar de uma falsa acusaçã o, imputada ao consumidor com adrede malícia e cínica má -fé,
por se tratar de uma inverdade.
Vejamos o disposto no art. 5º da Constituiçã o Federal:
Art. 5º. Todos sã o iguais perante a lei, sem distinçã o de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senã o pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral sã o
assegurados o contraditó rio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - sã o inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trâ nsito em julgado de sentença penal
condenató ria; (...)
Nesse sentido, já se posicionou o Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais em casos
aná logos, vejamos:
EMENTA: ADULTERAÇÃ O DO MEDIDOR. AUSÊ NCIA DE PROVAS. AUMENTO DO CONSUMO
NÃ O DEMONSTRADO APÓ S A REGULARIZAÇÃ O DO APARELHO. COBRANÇA INDEVIDA.
APLICAÇÃ O DO CDC. CÁ LCULO UNILATERAL PELA CONCESSIONÁ RIA. IRREGULARIDADES
NO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. INVIABILIDADE NO CASO CONCRETO.
IMPROCEDÊ NCIA DO PEDIDO. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A
revogaçã o da gratuidade de justiça concedida à parte somente é cabível quando
comprovado que o beneficiá rio dispõ e de meios suficientes para arcar com os ô nus
processuais, sem prejuízo de seu pró prio sustento e de sua família, o que nã o restou
evidenciado in casu. 2. Conforme prevê a Resoluçã o nº. 456/2000 da ANEEL e, desde que
observados os princípios constitucionais aplicá veis à sua atividade, a CEMIG pode cobrar
pelo consumo de energia elétrica que deixou de ser registrado durante o período em que o
medidor se encontrava em funcionamento irregular, sendo possível o lançamento da
cobrança retroativa, por estimativa, referente à "energia nã o faturada". 3. Todavia, deve a
concessioná ria oportunizar - de fato - ao consumidor o acompanhamento do procedimento
administrativo de vistoria do aparelho medidor de energia, bem como provar que a avaria
existente foi causada pelo usuá rio, o que nã o restou demonstrado nos autos. ALEGAÇÃ O DE
FRAUDE NA MEDIÇÃ O DO CONSUMO ENERGIA ELÉ TRICA. AUSÊ NCIA DE PROVA.
COBRANÇA INDEVIDA DE DÉ BITO. RECURSO NÃ O PROVIDO.Causa perplexidade a conduta
da Cemig de atribuir, sem qualquer prova, à apelada a prá tica de uma fraude e, mais grave,
a condená -la a ficar sem energia elétrica, em caso de nã o-pagamento do suposto débito
decorrente de uma suposta fraude. Assim, a Cemig investiga, instrui, julga, condena e
executa. Tamanho arbítrio nã o encontra amparo no texto constitucional, nã o devendo ser
legitimado pelo Poder Judiciá rio. Talvez o que incentiva a Cemig a adotar procedimento tã o
arbitrá rio é o fato de que, lamentavelmente, no Brasil, alguns membros do Poder Judiciá rio,
muitas vezes, atribuírem a resoluçõ es e portarias um valor e respeito maior do que à
pró pria Constituiçã o. No caso, a arbitrariedade praticada pela Cemig é tamanha, que nem o
teste ou calibragem de medidor, ou mesmo um laudo técnico, que pudessem, em tese,
apontar indícios de fraude, foram feitos. Ora, apontar fraude por mera presunçã o é um
abuso que nã o encontra amparo na Constituiçã o da Republica. Ademais, causa estranheza o
fato de a Cemig nã o juntar aos autos có pia do processo administrativo da apelada, pois os
documentos que foram trazidos pela Cemig referem-se a caso diverso ao que seja examina
(Apelaçã o Cível 1.0024.05.696437-2/001, Relatora: Desª. Maria Elza, julgado em
31/05/2007)
Isto posto, para que tal cobrança esteja revestida de legalidade, a concessioná ria deveria
adotar todas as providências necessá rias para que o usuá rio acompanhasse, efetivamente,
a averiguaçã o da suposta fraude no equipamento de mediaçã o instalado na unidade
consumidora, sem contar a clara ausência de faturamento a menor, ante as faturas e
consumos posteriores.
Assim, reitera-se, que é essencial oportunizar, ao consumidor, o efetivo acompanhamento
da produçã o de prova, nã o podendo ser restrito o acesso à s informaçõ es referentes ao
procedimento administrativo – o que nã o foi feito – sendo tal apuraçã o UNILATERAL E
INQUISITÓ RIA.

2.5- DA IMPOSSIBILIDADE DE IMPUTAÇÃO DE IRREGULARIDADES –


RESPONSABILIDADE DE MANUTENÇÃO DO EQUIPAMENTO DA CONCESSIONÁRIA DE
ENERGIA
A imputaçã o de responsabilidade por suposta irregularidade no medidor de energia
elétrica a autora é abusiva sob vá rios aspectos, principalmente quando acompanhada de
ameaça de interrupçã o do fornecimento de energia elétrica, que de fato ocorreu.
O primeiro aspecto é o da falta de manutençã o, por parte da concessionaria, dos
equipamentos de rede de distribuiçã o de energia elétrica. É de responsabilidade da ré tal
manutençã o, como consequência ló gica e jurídica da atividade empresarial que desenvolve.
Veja bem, se a Equatorial faz mediçõ es de consumo de energia mensalmente, por meio de
seus prepostos pode levar tanto tempo para detectar suposta irregularidade no medidor de
energia?
Nã o pode a concessionaria, para compensar seu comportamento moroso com a
manutençã o de seus equipamentos, imputar, pura e simplesmente, de forma unilateral, a
suposta irregularidade a autora.
Além disso, essa suposta irregularidade pode ter derivado justamente do desgaste dos
equipamentos da rede de distribuiçã o de energia, de falha interna do medidor ou de
condiçõ es ambientais dos medidores nã o previstas por esta distribuidora.
Por conseguinte, em razã o do seu dever de manutençã o, como ô nus e risco da pró pria
atividade empresarial que explora, a responsabilidade por irregularidades nos
equipamentos de prestaçã o de serviços de energia elétrica é da pró pria Equatorial até
prova em contrá rio.
Portanto, manifestamente incabível a penalidade ora combatida, pois, se a reclamada é
proprietá ria do equipamento é responsá vel pela sua verificaçã o perió dica, nã o se podendo
transferir o ô nus da obrigaçã o de manutençã o e guarda ao consumidor, eis que as
condiçõ es gerais do contrato de prestaçã o de serviço de energia elétrica devem estar em
consonâ ncia com a lei de concessoes (Lei nº 8.987/95), a qual estabelece os direitos e
deveres do usuá rio, que NÃ O FAZ REFERÊ NCIA À OBRIGAÇÃ O DE DEPOSITÁ RIO FIEL EM
DESFAVOR DA CONSUMIDORA.
Além disso, conforme exposto nos autos, o medidor de energia está localizado na
área externa à residência, não se podendo presumir que eventual violação tenha
sido feita pela reclamante, sendo ilegítima a aplicação de cobrança.
Nesse mesmo sentido, os Tribunais, em casos parecidos, decidiram:
APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE INEXISTÊ NCIA DE DÉ BITO. IMPROCEDÊ NCIA
NA ORIGEM. IRRESIGNAÇÃ O AUTORAL. COBRANÇA DE DIFERENÇA DE FATURAMENTO.
SUPOSTA IRREGULARIDADE NO MEDIDOR. APARELHO LOCALIZADO NA PARTE EXTERNA
DA UNIDADE CONSUMIDORA. AUSÊ NCIA DE RESPONSABILIDADE DO PROMOVENTE
QUANTO A EVENTUAIS DEFEITOS. CONSERVAÇÃ O DE INCUMBÊ NCIA DA
CONCESSIONÁ RIA. PREVISÃ O CONSTANTE NA RESOLUÇÃ O Nº 414/2010 DA ANEEL.
INEXISTÊ NCIA DE DÉ BITO CUJO RECONHECIMENTO SE IMPÕ E. PROVIMENTO DO APELO.
- “(...). II. Estando o equipamento de medição localizado na área externa à residência,
como no caso dos autos, não se pode presumir que eventual violação tenha sido feita
pelo proprietário da unidade residencial, mostrando-se ilegítima a aplicação da
multa e legítimo o cancelamento da dívida referente a violação do medidor (...).”.
(TJMA; Rec 0801992- 36.2017.8.10.0026; Terceira Câ mara Cível; Rel. Des. Cleones Carvalho
Cunha; DJEMA 16/06/2020). (Grifo meu).
Nesse mesmo sentido:
“(...). A Resolução n. 414/2010 da ANEEL prevê a responsabilidade da distribuidora
pela manutenção do sistema de medição externa, inclusive os equipamentos, caixas,
quadros, painéis, condutores, ramal de ligação e demais partes ou acessórios
necessários à medição de consumo de energia elétrica ativa e reativa excedente (art.
81). Na hipótese dos autos, não pode a autora ser responsabilizada pela deficiência
técnica encontrada no equipamento de medição de consumo, porquanto não houve
interferência humana na falha do aparelho. (...).”. (TJRS; AC 129007-74.2019.8.21.7000;
Alegrete; Vigésima Primeira Câ mara Cível; Rel. Des. Marco Aurélio Heinz Julg. 05/06/2019;
DJERS 11/06/2019). (Grifo meu).
Desse modo, tem-se que, nos termos do artigo 81 da Resoluçã o nº 414/2010 da ANEEL,
seria “...de responsabilidade da distribuidora a manutenção do sistema de medição
externa, inclusive os equipamentos, caixas, quadros, painéis, condutores, ramal de
ligação e demais partes ou acessórios necessários à medição de consumo de energia
elétrica ativa e reativa excedente.”.
Ademais, “...a responsabilidade por danos causados aos equipamentos de medição
externa não pode ser atribuída ao consumidor, salvo nos casos de ação comprovada
que lhe possa ser imputada”, consoante estabelecido no artigo 167, pará grafo ú nico da
Resoluçã o nº 414/2010 da ANEEL.
Nesse passo, considerando que nã o houve comprovaçã o de que os danos causados ao
medidor externo decorreram de culpa da relamante, deve a Equatorial suportar o custo
administrativo da operaçã o de recuperaçã o de consumo, nos termos do artigo 131 da
Resoluçã o nº 414/2010 da ANEEL, a seguir transcrito:
Art. 131. Nos casos de recuperaçã o da receita, a distribuidora pode cobrar, adicionalmente,
o custo administrativo incorrido com a realizaçã o de inspeçã o in loco, segundo o grupo
tarifá rio e o tipo de fornecimento da unidade consumidora, conforme valores estabelecidos
em resoluçã o específica.
Parágrafo único. Este procedimento somente se aplica aos casos em que o consumidor for
responsá vel pela custó dia dos equipamentos de mediçã o da distribuidora, conforme
disposto no inciso IV e pará grafo ú nico do art. 167, ou nos demais casos, quando a
responsabilidade for comprovadamente a ele atribuída.
Com efeito, a Resoluçã o nº 414/2010 da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL
autoriza a cobrança do que se denomina recuperaçã o de consumo. Ocorre que, para que
esteja legitimada a sua cobrança do que se denomina recuperação de consumo. Ocorre
que, para que esteja legitimada a sua cobrança, é necessária a observância aos
ditames normativos de regência, havendo impeditivo expresso neste caso.
2.6- DA AUSÊNCIA DE PROVA PERICIAL TÉCNICA – INSPEÇÃO UNILATERAL DA
CONCESSIONÁRIA
No caso em espécie, verifica-se que toda a inspeçã o técnica na unidade consumidora foi
realizada pela concessioná ria de energia elétrica, inclusive à avaliaçã o técnica que originou
o relatório técnico nº 4107106 (em anexo), o laudo foi elaborado UNILATERALMENTE
PELO AGENTE, que está aplicando abusiva e indevidamente o faturamento ora combatido,
o que coloca em “xeque” a sua IDONEIDADE e VALIDADE.
O referido relató rio de nº 4107106, indicou “derivaçã o antes da mediçã o com alimentaçã o
saindo do condutos de entrada, pró ximo ao medido, sem registrar corretamente o consumo
de energia elétrica consumida sendo normalizada com a retirada do desvio.”.
Ora Exa, como é possível chegar a tais conclusõ es, somente com um relató rio de avaliaçã o
técnica com pouco mais de 01 (uma) LAUDA, SEM DISCRIMINAÇÃ O PORMENORIZADA DAS
VIOLAÇÕ ES E SUA INTERFERÊ NCIA NO CONSUMO DE ENERGIA, ainda, falta dentre outras
informaçõ es essenciais de um laudo técnico, bem como a existência de um perito diverso
dos agentes administrativos. Além disso, o padrã o comum de consumo, que, inclusive, se
manteve apó s a referida troca de medidor.
Ainda assim, torna-se totalmente descabida tentar responsabilizar pela manutenção
e fiscalização da regularidade de um medidor que fica na área externa de sua
residência e que técnicos o revisam todos os meses para auferir o consumo de
energia.
Chega-se à conclusã o que nã o é possível, no Estado Democrá tico de Direito, permitir a
pessoa jurídica interessada atribuir, mensurar e impor a existência de adulteraçã o no
medidor, estipulando os valores que reputar devidos.
Em razã o disso, nã o se pode, com base num mero ato administrativo (uma resoluçã o da
ANEEL), e sob ameaça de constriçã o de fornecimento de energia, de forma unilateral e
abusiva (por meio do mencionado TOI), atribui à consumidora responsabilidade pela
existência de irregularidade nos aparelhos medidores de energia elétrica.
É latente a hipossuficiência técnica da Autora em face da Equatorial, nã o podendo lhe ser
imputado o ô nus de provar a regularidade do medidor de energia elétrica, tendo em vista o
desconhecimento técnico e informativo acerca do serviço, bem como em torno da aduzida
alteraçã o no funcionamento do mesmo que possa ter gerado a irregularidade.
Nesse sentido, julgou o TJMG:
EMENTA: AÇÃ O ANULATÓ RIA DE DÉ BITOS - ENERGIA ELÉ TRICA - VIOLAÇÃ O DO
MEDIDOR - REVISÃ O DO FATURAMENTO - TERMO DE OCORRÊ NCIA DE IRREGULARIDADE
- PROVA INSUFICIENTE DA ALEGADA FRAUDE - LAUDO UNILATERAL -
IMPRESTABILIDADE -CANCELAMENTO DO DÉ BITO - COBRANÇA INDEVIDA - DANO
MORAL - AUSÊ NCIA DE COMPROVAÇÃ O. 1. É defeso impor ao consumidor débito que
não tem sua origem comprovada, não se podendo afirmar, com base em prova
unilateral, a existência de fraude no medidor de energia elétrica. 2. Ao imputar
unilateralmente irregularidade nos equipamentos medidores de energia elétrica, sob a
ameaça de corte, a CEMIG fere os princípios do devido processo legal e da boa-fé objetiva.
3. Nã o é possível, no Estado Democrá tico de Direito, permitir à pessoa jurídica interessada
atribuir, mensurar e impor a existência de adulteraçã o no medidor, estipulando os valores
que reputar devidos. 4. Não se desincumbindo a concessionária da tarefa de
comprovar que tenha ocorrido adulteração no medidor, uma vez que a fraude não
pode ser presumida, o débito perseguido deve ser anulado. 5. A indenizaçã o por dano
moral pressupõ e efetiva demonstraçã o do prejuízo experimentado. 6. O mero envio de
cobranças indevidas domicílio do Autor nã o é suficiente para caracterizar o dano moral. 7.
Recurso parcialmente provido. APELAÇÃ O CÍVEL Nº 1.0525.10.012890-5/001 - COMARCA
DE POUSO ALEGRE - APELANTE (S): ESPORTE CLUBE SUL MINAS - APELADO (A)(S):
CEMIG DISTRIBUIÇÃ O S/A.
CEMIG - IRREGULARIDADE APURADA POR VIOLAÇÃ O DO SELO DE MEDIÇÃ O - AUSÊ NCIA
DE PERÍCIA TÉ CNICA OU JUDICIAL - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO IRREGULAR -
NÃ O OBSERVÂ NCIA DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓ RIO E AMPLA DEFESA -
IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENDER O FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉ TRICA -
ANULAÇÃ O DA COBRANÇA.- A cobrança de valores referentes a um erro na mediçã o devido
à violaçã o do aparelho medidor de consumo de energia elétrica deve ser acompanhada de
comprovaçã o do prejuízo da prestadora através de regular procedimento administrativo
seguido de perícia técnica. A mera violaçã o do lacre de segurança nã o tem o condã o de
imputar penalidades ao consumidor pelo dano, pois a alteraçã o na mediçã o depende de
perícia para ser comprovada, sob pena de violaçã o dos princípios do contraditó rio e da
ampla defesa. Se nã o observado o escorreito procedimento para apuraçã o do débito
decorrente de irregularidade constatada na via administrativa, descabida a interrupçã o do
fornecimento em virtude de débito passado, mormente se o usuá rio está cumprindo com os
pagamentos pelo fornecimento de energia, sendo ainda indevida a cobrança na forma de
cá lculo prevista para o caso de fraude. (TJMG - Apelaçã o Cível nº. 1.0701.09.264731-5/001
- Relª. Desª. Vanessa Verdolim Hudson Andrade - Pub. em 29/04/2011).
Cristalino a necessidade de tal perícia, que, segundo a ANEEL, deveria ser encaminhada
para tal pela pró pria concessioná ria de energia elétrica, no intuito de garantia do objeto do
contrato ou mesmo do equilíbrio das partes contratantes, pois a concessioná ria ao exigir
pagamento de valores arbitrados, sob pena de corte no fornecimento de energia a
concessioná ria, acabará por privar o consumidor parte hipossuficiente no contrato
existente para a prestaçã o deste serviço essencial ou exigir pagamento que muitas vezes
supera, e em muito aquele valor a que está o consumidor acostumado a adimplir
regularmente.
Desta feita, uma vez constatado que a cobrança de valores pela concessioná ria referente a
aceto de faturamento é desprovida de legalidade.
Isto posto, partindo-se do pressuposto de que a imputaçã o de fraude ou adulteraçã o é
verdadeira, nã o se tem como determinar em que momento efetivamente ocorreu. Já se
vislumbra nesse aspecto a subjetividade e arbitrariedade na eleiçã o de critérios pela
concessioná ria de energia para estimar valor de energia supostamente desviado do
registro.
2.7- DA RESPONSABILIDADE CIVIL DA RECLAMADA
A responsabilidade civil é um dever jurídico que nasce da ilicitude de conduta da
contratada, isto é, da atuaçã o que infringe dever jurídico originalmente pactuado. O ato
ilícito sempre gera o dever de ressarcir. É o que se busca com a tutela ressarcitó ria é o
restabelecimento do equilíbrio da situaçã o contratual destruída pela infraçã o da ré.
A lei nº 8.078/90, em seu artigo 22, fundado na teoria do risco, preceitua, in verbis:
Art. 22. Os ó rgã os pú blicos, por si ou suas empresas, concessioná rias, permissioná rias ou
sob qualquer outra forma de empreendimento, sã o obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigaçõ es referidas
neste artigo, serã o as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste có digo.” (Grifo meu).
Isto importa dizer que a relaçã o de causalidade dispensa qualquer juízo de valor sobre a
existência ou nã o de culpa lato sensu, pois, aquele que exerce uma atividade que traz risco,
deve assumi-los e reparar os danos dela decorrentes.
Na hipó tese, nã o resta dú vidas da obrigaçã o da empresa ré de indenizar em razã o da
absurda, prepotente e ilegal atitude, que acusou a consumidora de furto de energia, porque
lhe impô s uma confissã o de dívida sem motivo, sendo certo que, ainda que assim nã o fosse,
ad argumentandum, o corte de energia nã o poderia ser feito sem o prévio aviso do
consumidor – requerente.
Dessa forma, está mais que evidenciado a conduta culposa, ou até mesmo dolosa, exclusiva
da ré e o nexo de causalidade entre seus atos (e de seus prepostos) e o prejuízo pela
Requerente, pelo que se impõ em a obrigaçã o de indenizar os danos resultante da infraçã o
contratual praticada, tanto material como moral.
Nã o é outro entendimento da Egrégia Turma Recursal do Estado do rio de Janeiro:
“TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CONSELHO RECURSAL CÍVEL 4ª
TURMA PROCESSO 0275273-08.2014.8.19.0001 RECORRENTE: LIGHT SERVIÇOS DE
ELETRICIDADE S/A RECORRIDO: TERESA CECÍLIA DE LIMA E SÁ VOTO ENERGIA
ELÉ TRICA. TERMO DE OCORRÊ NCIA DE IRREGULARIDADE (TOI). RECUPERAÇÃ O DE
CRÉ DITO. CRITÉ RIO UTILIZADO PARA APURAÇÃ O DE CONSUMO NO PERÍODO EM QUE SE
VERIFICOU A IRREGULARIDADE. PRESUNÇÃ O DE CONSUMO COM BASE EM OUTRAS
UNIDADES CONSUMIDORAS COM ATIVIDADES SIMILARES. RÉ QUE NÃ O PRODUZ PROVAS
SUFICIENTES PARA CARACTERIZAR A IRREGULARIDADE. DANO MORAL NÃ O
CONFIGURADO. DEVOLUÇÃ O EM DOBRO QUE NÃ O SE APLICA. AUSÊ NCIA DE MÁ -FÉ .
Trata-se de Açã o na qual a autora afirma que é titular do serviço prestado pela ré, desde o
ano de 2010, e que em razã o de uma suposta vistoria realizada pelos prepostos da ré,
recebeu um comunicado de irregularidade, uma vez que foi constatado possível erro na
bobina/circuito aberto fase A, no período de outubro de 2013 a abril de 2014, tendo sido
recalculado o consumo do imó vel para o valor de R$ 3.771,94. Apó s recurso administrativo
sem êxito a ré incluiu na fatura de energia o valor de seis parcelas de R$ 628,65, nã o
solicitado pela autora. Aduz nã o concordar com o TOI 0006972921 e as cobranças a ele
relacionadas incluídas em suas faturas mensais de consumo. PLEITEIA o cancelamento do
TOI e dos débitos a ele vinculados, além de indenizaçã o por dano material, em dobro, e
moral. CONTESTAÇÃ O da ré em fls. 33/46 suscitando preliminar de incompetência do
Juizado Especial, ante a complexidade da matéria e necessidade de realizaçã o de perícia. No
mérito, sustenta inexistência de falha na prestaçã o do serviço, legalidade do TOI,
impossibilidade de inversã o do ô nus da prova, impossibilidade de devoluçã o dos valores
em dobro e inocorrência de danos morais. SENTENÇA que julga procedente em parte o
pedido, acerca do TOI 0006972921, para: 1) determinar que a ré cancele o referido
TOI, os débitos a ele vinculados e se abstenha de efetuar cobranças, no prazo de 15
(quinze) dias, sob pena de multa a ser arbitrada em sede de execuçã o; 2) condenar a parte
ré a restituir o valor de R$ 5.029,20 à autora, já em dobro, correspondente a quatro
parcelas pagas até outubro de 2014, bem como eventuais valores pagos apó s essa data, em
dobro; 3) condenar a ré ao pagamento do valor de R$ 2.000,00 à autora pelos danos morais
causados. RECURSO da ré, reiterando a preliminar de incompetência dos Juizados, em
razã o da necessidade de perícia técnica e, no mérito, reforçando os argumentos da
contestaçã o, requerendo a reforma integral do decisum. CONTRARRAZÕ ES apresentadas
em fls 105/110, prestigiando a Sentença. RAZÕ ES DE DECIDIR. No que diz respeito à
preliminar de incompetência do Juizado pela necessidade de perícia não pode ser
acolhida, pois, nã o obstante se tratar de discussã o a respeito de recuperaçã o de consumo,
o fato é que a recorrente nã o indicou, de forma detalhada, os meios pelos quais alcançou o
valor a ser cobrado pelo suposto defeito no equipamento. Quanto ao mérito do recurso
deve-se dar parcial provimento, no que tange a inocorrência do dano moral e quanto à
devoluçã o de valores que deve ser feita na forma simples. Cabia à ré, em sua defesa,
apresentar o relató rio de constataçã o do defeito na bobina, além da planilha com a
discriminaçã o da metodologia utilizada para o cá lculo da recuperaçã o do consumo, que
deveria ser feita de forma clara, sem presunçõ es equivocadas, provando, também, o defeito
no equipamento. Nada disso foi apresentado. No entanto, entendo que a verba a título de
dano moral foi arbitrada de forma indevida, pois a questã o apenas tratou de cobrança de
débito pretérito, sem maiores repercussõ es na esfera moral da autora. Além disso, em que
pese o fato de que seja nulo o termo de ocorrência de irregularidade lavrado, no caso em
aná lise, a parte autora nã o foi privada do serviço prestado. Assim, nã o vislumbro elementos
suficientes e capazes de configurar o dano moral. Em relaçã o à devoluçã o em dobro,
entendo que deve se dar na forma simples, eis que nã o caracterizada a má -fé, conforme
precedentes do STJ. Nesse sentido: REsp 1161411/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2011, DJe 10/10/2011; AgRg no AREsp 241.565/RS,
Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe
10/12/2012; AgRg no REsp 915.232/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔ AS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe 28/09/2012. ASSIM, VOTO NO SENTIDO
DE CONHECER E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ PARA EXCLUIR A
CONDENAÇÃ O À REPARAÇÃ O DOS DANOS MORAIS E PARA QUE A DEVOLUÇÃ O DOS
VALORES SEJA FEITA NA FORMA SIMPLES. FICAM MANTIDOS OS DEMAIS TERMOS DA
SENTENÇA. Sem custas por se tratar de recurso com êxito. Rio de Janeiro, 06 de Outubro de
2015. ALEXANDRE CHINI Juiz Relator”
Dessa feita, faz-se necessá ria a condenaçã o da empresa requerida ao ressarcimento dos
danos sofridos pela autora, ante a clara responsabilidade demonstrada.
2.8- DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO
Conforme se observa da documentaçã o acostada aos autos, a promovente arcou com custos
elevados que a ré lhe repassou. Destaque-se que a ré tinha conhecimento de que tais
valores foram cobrados, vez que o autor realizou diversas reclamaçõ es, ou seja, nã o é caso
de engano justificá vel, mas pura má fé, devendo tais valores serem ressarcidos em dobro.
Assim, conforme se verifica no termo de confissã o de dívida, observa-se que a autora
passará a pagar a quantia de R$35,59 (trinta e cinco reais e cinquenta e nove centavos)
pelo período de 36 (trinta e seis) meses, a título de parcelamento da multa aplicada pelo
suposto TOI, devendo receber, portanto, esta soma em dobro, devidamente corrigida e
atualizada, na forma do pará grafo ú nico do Art. 42 do CDC, verbis:
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Desta feita, requer-se o pagamento em dobro de toda quantia a título de multa do TOI, por
se tratar de quantia paga indevidamente, sem existir hipó tese de engano justificá vel,
devendo tal soma ainda ser atualizada com juros de mora e correçã o monetá ria, na forma
da Lei.
2.9 – DO DANO MORAL
Conforme exposto faticamente, a empresa reclamada acabou por cortar o fornecimento de
energia da autora em razã o da suposta irregularidade no medidor de energia elétrica, fato
esse no qual fora apurado de forma unilateral.
Em razã o disso, tal conduta já fora considerada ilegítima pelo Superior Tribunal de Justiça,
senã o vejamos
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉ TRICA. FRAUDE NO MEDIDOR. RESOLUÇÃ O 456/00. IMPOSSIBILIDADE DE
EXAME EM RECURSO ESPECIAL. INTERRUPÇÃ O DO SERVIÇO. FRAUDE. VERIFICAÇÃ O
UNILATERAL. INVALIDADE. SÚ MULA 83/STJ. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓ RIO.
REVISÃ O DO CONJUNTO FÁ TICO-PROBATÓ RIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚ MULA 7/STJ.
AGRAVO NÃ O PROVIDO. 1. É inviá vel, em sede recurso especial, a aná lise de ofensa a
resoluçã o, portaria ou instruçã o normativa. 2. É ilegítima a suspensão do fornecimento
de energia elétrica quando o débito decorrer de suposta fraude no medidor de
energia, apurada unilateralmente pela concessionária. 3. Apenas em situaçõ es
excepcionais, em que a parte demonstra de forma contundente que o valor fixado para o
pagamento de indenizaçã o por danos morais é exorbitante ou irrisó rio, o que nã o ocorreu
no caso, a jurisprudência deste Superior Tribunal permite o afastamento do ó bice previsto
na Sú mula 7/STJ para que seja possível a sua revisã o. 4. Agravo regimental nã o provido
(AgRg no AREsp 368.993/PE, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe 08.11.2013).
Diante da prá tica do ilícito pela ré apontado acima, surge o dever de reparar os danos
morais causados aos autores. Neste sentido, a Constituiçã o Federal de 1988, no seu artigo
5º, incisos V e X, prevê a proteçã o ao patrimô nio moral, in verbis:
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenizaçã o por
dano material, moral ou à imagem.”
(...)
X – sã o inviolá veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenizaçã o pelo dano material ou moral decorrente de sua violaçã o.
Resta entã o saber qual seria o valor desta indenizaçã o a título de danos morais, uma vez
que a conduta ilícita da empresa ré está cabalmente demonstrada, e, este valor deverá ser
arbitrado dentro do prudente saber de Vossa Excelência, obedecendo à s consideraçõ es que
veremos a seguir.
Nossa jurisprudência firmou entendimento sobre a fixaçã o de indenizaçã o a título de danos
morais, sendo recomendá vel que o arbitramento seja feito com moderaçã o,
proporcionalmente ao grau da culpa, ao nível socioeconô mico da autora e, ainda, ao porte
econô mico do réu, valendo-se ainda, o julgador, de sua experiência e bom senso, atento à
realidade da vida e as peculiaridades do caso nã o deixando de lado os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade.
Deve ainda prevalecer, conforme as circunstâ ncias, a condenaçã o que tenha real e efetivo
significado de desestímulo à prá tica ilícita. A finalidade, portanto, deve ser
simultaneamente punitiva e preventiva ( cf. Delfim Maya de Lucena, “Danos nã o
patrimoniais”, Ed. Alemdina, 1985, p. 63, Caio Mario da Silva Pereira, “Responsabilidade
Civil”, Forense, Ed., 1989, p.67).
E, no caso, a verdade é que nã o se pode negar o abrupto prejuízo moral da Requerente e
sua família, um vez que foram vítimas de um ato arbitrá rio e ilegal da empresa ré, sendo
exposto ao ridículo perante seus vizinhos e colegas.
Ora, nã o se pode admitir que instituiçõ es do porte da ré, de forma descompromissada e
irresponsá vel, nã o tomem as providencias cabíveis para solucionar o problema de forma a
evitar os absurdos transtornos a que foi submetido o requerente.
É curioso e triste constatar, que por irresponsabilidade, ignorâ ncia ou mesmo por dolo,
neste pais o consumidor ainda seja tratado com desprezo, embora repleto de razã o,
assumindo as grandes empresas a posiçã o ilusó ria de instituiçã o poderosas, sem qualquer
termos a sansõ es previstas na Lei 8.078/90, pelo mister a condenaçã o da ré na reparaçã o
dos prejuízos suportados pela autora e seus familiares.
Nã o conformado e o pior, sem ter dado a oportunidade do requerente se defender,
conforme preceitua a Lei Magna, no seu art. 5º, inclui LV, em relaçã o ao direito do
contraditó rio e ampla defesa.
Portanto, deverá este r. Juízo levar em consideraçã o estas particularidades, condenar a
empresa ré ao pagamento de indenizaçã o por danos morais, no valor sugerido de R$
10.000,00 (dez mil reais), importâ ncia essa que nã o retrataria nenhum enriquecimento
ilícito para a requerente e nã o seria causa de ruína financeira da requerida.
3- DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
A) A citaçã o da ré para, caso queira, apresentar defesa no prazo legal, sob pena de aplicaçã o
dos efeitos da revelia, presumindo-se verdadeiros os fatos alegados pela autora, conforme
art. 344, do CPC;
B) Seja deferia a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, uma vez que foi demonstrada a relaçã o
de consumo, restando, pois configurada a hipossuficiência técnica da autora, consoante
dispõ e o art. 6º, VIII, do CDC;
C) A TOTAL PROCEDÊNCIA da açã o para DECLARAR a NULIDADE DA COBRANÇA
realizada e a imediata continuidade no fornecimento de luz, conforme art. 4º, III e 6º, VI,
VII, VIII, X do CDC, ante a abusividade na cobrança, tendo em vista a ausência de perícia
técnica por terceiro legalmente habilitado, nos termos do art. 72, II, da Resoluçã o da
ANEEL, ofensa ao princípio constitucional do devido processo legal, previsto no art. Art. 5º,
LIII, LV e LVII, da Constituiçã o Federal;
D) Como consequência do item acima, a condenaçã o da requerida, nos termos do pará grafo
ú nico do artigo 42 do CDC, à DEVOLUÇÃO EM DOBRO dos valores indevidamente pagos
pela requerente, devendo a incidência de juros e correçã o monetá ria;
E) A condenaçã o ao pagamento à título de indenizaçã o por DANOS MORAIS no importe de
R$10.000,00 (Dez mil reais), pelos prejuízos suportados pela Autora, tudo com acréscimo
de juros de mora e correçã o monetá ria a contar da data do fato gerador;
F) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, em especial
a documental, testemunhal e depoimento pessoal das partes, caso necessá rio.
Dá -se o valor da causa de R$10.000,00 (Dez mil reais)
Cidade/XX, x de x de 2022.
(Assinatura eletrônica)
JULIO MATHEUS DA SILVA FERREIRA
OAB/PA N. 32.018

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