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M.

M JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE NOVA IGUAÇU DO ESTADO


DO RIO DE JANEIRO.

JOSÉ CARLOS FERREIRA GRANJA, brasileiro, casado, inscrito no CPF 851.174.717-


68 e no RG 07232540-0, domiciliado à Rua Sucupira nº 36, casa 1, bairro Boa Esperança,
Nova Iguaçu - RJ, CEP 26070-051, por intermédio do seu advogado que este subscreve,
Marcelo Resende Rodrigues, brasileiro, casado, inscrito na OAB/RJ sob o nº 119.859,
CPF 885.241.167-49, com endereço profissional na Rua Aldrin nº 85, Jacarepaguá - RJ,
CEP 22.753-270 e endereço eletrônico resendeadv@hotmail.com, vem respeitosamente
perante Vossa Excelência, propor

DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face da, LIGHT SERVIÇOS DE ELETRECIDADE SA, pessoa jurídica de direito


pivado, CNPJ 60.444.437/0001-46, inscrição estadual nº 81380.023, com sede na
Avenida Marechal Floriano, nº 168, Rio de Janeiro - RJ, CEP 20080-002, pelos motivos de
fato e de direito a seguir aduzidos:

1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Nos termos do art. 98 e seguintes do Novo Código de Processo Civil, o autor afirma,
para os devidos fins e sob as penas da Lei, não possuir condições de arcar com o
pagamento das custas e demais despesas processuais sem prejuízo de seu sustento e de
sua família, pelo que requerer o benefício da gratuidade de justiça.

2. DOS FATOS

Inicialmente, esclarece que o autor é consumidor dos serviços da ré, possuindo


identificação de instalação sob o número 0420356609.

Ressalte-se que no mês de Maio do ano corrente, o autor foi surpreendido com o
envio do Termo de Ocorrência de Irregularidade - TOI nº 8688199, no qual a empresa
demandada efetua cobrança no valor de R$ 2.507,45 (Dois mil, quinhentos e sete reais e
quarenta e cinco centavos) a título de suposto desvio de energia elétrica. Ou seja,
efetuou a ré cobrança de consumo por estimativa.

Importante salientar que o autor não foi comunicado da vistoria que seria realizada
pelos prepostos da ré, sendo certo, reafirme-se, que somente teve ciência no momento
do recebimento da injusta cobrança. Certo, ainda, que não houve realização de perícia a
fim de constatar as irregularidades alegadas. Afirma o autor que jamais utilizou-se de
técnicas ilegais para o desvio de energia, ao contrário das alegações não provadas da ré.

Em que pese o comportamento da ré que, unilateralmente, sem a adoção dos


procedimentos corretos e de forma arbitrária, aplicou penalidade ao autor, este dirigiu-
se a uma das agências da demandada com o fim de resolver o impasse protocolo nº
2025892917, conforme comprovante em anexo. Vale ressaltar, que todas as contas
referentes aos meses posteriores a Maio, vieram no mesmo valor de costume, sem
quaisquer tipo de alteração ou ilegalidades como alegada pela ré em sua inspeção.

3. DA ILEGALIDADE DO TOI

Conforme acima exposto, a ré emitiu, indevidamente, TOI no valor de R$ 2.507,45


(Dois mi, quinhentos e sete reais e quarenta e cinco centavos) aproximadamente. Ocorre
que a referida emissão é totalmente ilegal, ferindo princípios constitucionais como o
devido processo legal, direito de defesa, contraditório, dentre outros. Isto porque o
documento emitido, bem como a verificação da suposta irregularidade foram feitas
unilateralmente e sem a realização da devida perícia.
Vale ressaltar que a demandada é empresa privada, concessionária de serviço
público, razão pela qual seus atos não possuem presunção de legitimidade, ao contrário
do que ocorre com aqueles praticados pela Administração Pública.

Neste sentido, o entendimento da melhor jurisprudência, conforme podemos verificar


abaixo:

Apelação. Concessionária de energia elétrica. Termo de Ocorrência de Irregularidade -


TOI e estimativa retroativa de consumo não faturado. Sua legalidade, in abstracto.
Necessidade de elementos suficientes para caracterizar o procedimento irregular e a
idoneidade da estimativa. Ônus que recai sobre o prestador. Atos seus que não se
presumem verazes nem legítimos. Direito à informação. Prova insuficiente. Laudo
pericial inconclusivo quanto à existência de fraude no medidor. Cobrança reputada
indevida e efetuada por meio abusivo e coativo. Dano moral. 1. A legalidade em tese dos
procedimentos arrolados no art. 129 da Resolução Aneel nº 414/2010, dentre eles a
lavratura do Termo de Ocorrência de Irregularidade - TOI, só se concretiza caso a caso na
hipótese de a concessionária o instruir com elementos probatórios suficientes à "fiel
caracterização da irregularidade", na dicção do próprio dispositivo regulamentar. O
mesmo se aplica quanto à estimativa de consumo não faturado (art. 130 da Resolução).
2. Nos termos da Súmula nº 254 desta Corte de Justiça, "aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor à relação jurídica contraída entre usuário e concessionária". 3. Decorre dos
princípios gerais do direito das obrigações que o devedor faça jus à prestação de contas
regular daquilo que lhe é cobrado; qualificado, ainda, como direito basilar do
consumidor à informação clara e adequada acerca do produto ou serviço, seu preço,
quantidades e características, conforme art. 6º, inciso III, do CDC, ratificado pelo art. 7º,
caput e inciso II, da Lei de Concessoes (Lei nº 8.987/95). 4. As concessionárias de serviço
público são simples pessoas jurídicas de direito privado, que não se confundem com a
Administração de quem recebem, por delegação contratual, a incumbência de
desempenhar determinada atividade de interesse público. Seus atos, pois, não gozam da
presunção de legitimidade típica dos atos administrativos. Seria uma aberração quer às
normas de Direito Administrativo, quer aos mais basilares princípios do direito das
obrigações, quer ainda às normas protetivas do consumidor (que se presume parte
vulnerável no mercado, conforme diretriz estabelecida pelo art. 4º, inciso I, do CDC),
imputar ao usuário o ônus de provar que a apuração técnica da distribuidora de energia
estivesse equivocada. 5. Os elementos dos autos, ainda que não indiquem má-fé nem
temeridade no procedimento da concessionária, não são suficientes para a "fiel
caracterização" do ilícito imputado ao usuário, seja porque não há prova apta a
demonstrar que o faturamento a menor decorresse de fraude e não de defeito no
medidor, seja porque a leitura minorada iniciou-se antes mesmo de a autora entrar na
posse do imóvel. 6. O só registro de consumo mensal inferior ao que se pode estimar
pela carga ativa do imóvel não basta para caracterizar irregularidade na medição, muito
menos má-fé do consumidor, o qual, sendo leigo, não está obrigado a deter
conhecimentos de engenharia elétrica suficientes para detectar o equívoco na leitura do
consumo de energia. 7. Quando o faturamento a menor não for imputável ao
consumidor, a cobrança da recuperação de energia só pode retroagir aos três meses
anteriores à detecção da incorreção, nos termos do art. 113, I, c/c art. 115, § 2º, ambos
da Resolução Aneel nº 414/2010. 8. A imposição de confissão de dívida superior a mais
que o décuplo do devido, sob ameaça de interrupção de fornecimento de serviço
essencial, constitui forma de cobrança abusiva, configurando o constrangimento de que
trata o art. 42, caput, do CDC, o que caracteriza o dano moral. Se seria ilegal a
interrupção do serviço, que não chegou a concretizar-se, ilícita também foi a ameaça de
efetuá-la. 9. Parcial provimento do recurso (TJ-RJ - APL: 00119814620098190021 RJ
0011981-46.2009.8.19.0021, Relator: DES. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES,
Data de Julgamento: 05/02/2014, VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CIVEL/ CONSUMIDOR,
Data de Publicação: 21/03/2014 00:00)

Ademais, a jurisprudência do Tribunal fluminense, em consonância com a tese


sustentada pelo autor entende que, sendo realizada unilateralmente a vistoria que
gerou a lavratura do TOI e diante da inexistência mínima de participação do consumidor,
este é ilegal, verbis:

DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E


MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LAVRATURA DE TERMO DE OCORRÊNCIA DE
IRREGULARIDADE - TOI, EFETUADO DE FORMA UNILATERAL PELA RÉ. PROVA PERICIAL
DISPENSADA PELA PARTE RÉ QUE SERIA CAPAZ DE CONSTATAR A POSSÍVEL EXISTÊNCIA
DE IRREGULARIDADES. INEXISTÊNCIA DE BOLETIM DE OCORRÊNCIA POLICIAL. TOI QUE
DEVE ASSEGURAR AO CONSUMIDOR AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INERENTES AO
DEVIDO PROCESSO LEGAL EM SEDE ADMINISTRATIVA (ARTIGO 5º, LV, CRFB).
PAGAMENTO DE DÉBITOS REFERENTES À DIFERENÇA DE ENERGIA COMPROVADO, DAÍ
NECESSÁRIA A SUA DEVOLUÇÃO. INCONFORMISMO DA RÉ. Existência de relação de
consumo com aplicação do CDC. Ainda que houvesse a constatação de irregularidade no
medidor da residência do consumidor, esta deveria se demonstrar através de laudo
pericial ou registro de ocorrência policial, o que não se deu, eis que efetuado apenas
termo de ocorrência e de forma unilateral pela ré. Valor indenizatório fixado em
observância os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, pois tal importância
compensa a Autora, e, ao mesmo tempo, desestimula a Ré a proceder de modo abusivo.
Busca da efetividade á teoria do desestímulo sem que sob a sua invocação se materialize
enriquecimento sem causa. Recurso a que se nega provimento na forma do art. 557,
caput, do CPC (TJ-RJ - APL: 22678 RJ 2009.001.22678, Relator: DES. MARCO AURELIO
BEZERRA DE MELO, Data de Julgamento: 02/06/2009, DECIMA SEXTA CÂMARA CIVEL,
Data de Publicação: 05/06/2009)

Diante de todos os argumentos acima expendidos, deve ser reconhecida a


ilegalidade do termo de ocorrência.

4. DA IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA POR ESTIMATIVA. DA DECLARAÇÃO DE


INEXISTÊNCIA DO DÉBITO

Ainda que não seja reconhecida a ilegalidade do Termo de Ocorrência, o que se


admite ad argumentandum tantum, mister o reconhecimento da impossibilidade de
cobrança realizada por estimativa. Deve ser cobrado o valor real de consumo.

Importante destacar que a ré é responsável pela manutenção da regularidade da


prestação dos serviços, bem como da contraprestação pecuniária no valor devido e na
época correta do vencimento. Não pode a concessionária a qualquer momento alegar
suposta irregularidade e cobrar por todo o período em que, segundo seu entendimento,
houve fraude. Ainda mais se esta não foi devidamente comprovada por meios idôneos.

Possui a ré a obrigação de, mensalmente, verificar a possível irregularidade quanto


à variação de valores, se existirem, para, imediatamente, restabelecer a normalidade.
Indubitável de que tal fato não ocorreu. Não foi demonstrado o desvio e não foi apurado
o valor real da suposta diferença de pagamento.

5 - DA CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL

5.1. Da responsabilidade objetiva

Com efeito, preceitua a norma do art. 14 do CDC, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

Conforme é sabido, para que haja a responsabilidade objetiva, necessário apenas


que seja constatado o dano e o nexo de causalidade entre o dano e a ação do
responsável, no caso, a empresa ré.

Logo, caracterizada a responsabilidade objetiva da ré e estando presente a relação


de consumo (arts 2º e 3º do CDC), esta somente se exime nos casos expressamente
previstos no art. 14, § 3º do CDC, quais sejam:

Art. 14...

§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Uma vez que não se vislumbra, no caso concreto, quaisquer das hipóteses acima
mencionadas, perfeitamente aplicável a responsabilidade objetiva.

5.2.Do dano moral in re ipsa

Quanto ao dano moral, resta claro que a situação ultrapassou, e muito, a esfera do
mero aborrecimento. Preceitua a norma insculpida nos arts. 186 e 927 do C.C:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

No mesmo sentido, a art. 5º, inciso X da Carta Magna:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

No caso em comento, deve ser aplicada a Teoria do Risco do Empreendimento,


respondendo a ré por eventuais vícios e/ou defeitos dos produtos ou serviços postos à
disposição dos consumidores.
6. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

É sabido que, em se tratando de situações em que uma das partes encontra-se em


posição de desigualdade jurídica, sendo obrigada a submeter-se à vontade da parte
"mais forte", perfeitamente aplicável a inversão do ônus da prova. Prescreve a norma do
art. 4º, I, do CDC:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes
princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.

Ratificando o entendimento da vulnerabilidade do consumidor, o art. 6º, VIII, CDC, o


qual reproduzimos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.

Por último, ressalte-se que a comprovação da existência do débito cabe à ré.


Entender diferente, é imputar ao autor a responsabilidade de produzir prova
negativa/diabólica, o que é inaceitável.

7. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Preconiza a norma do art. 300 e parágrafo 2º do Novo CPC:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem
a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

Não restam dúvidas de que se trata de caso em que perfeitamente aplicável a


antecipação da tutela in limine litis.

Encontra-se lastreado nos autos as provas inequívocas de que a cobrança é


totalmente descabida, sendo certo que a excessiva demora conduzirá à cessação da
efetividade do provimento jurisdicional. Ainda deve ser levado em consideração o fato
de o nome constar do rol de bens mais preciosos que o ser humano possui. A existência
do fumus boni iuris mostra-se clara, considerando que a documentação ora acostada
indica efetivamente que houve exaustivo contato com a ré para que fosse efetuada a
cessação da cobrança, por irregular a lavratura do TOI.

Sendo assim, deve ser aplicada a antecipação dos efeitos da tutela para que a ré se
abstenha de inserir o nome do autor nos cadastros restritivos de crédito, sob pena de
multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).

8. DOS PEDIDOS

1. Que seja deferida a gratuidade de justiça, nos termos da fundamentação supra;

2. Antecipação dos efeitos da tutela para obrigar a ré a se abster de inserir o nome do


autor nos cadastros restritivos de crédito, sob pena de multa diária no valor de R$
500,00 (quinhentos reais);

2.1. Confirmação, ao final, da tutela acima requerida;

3. Citação da ré para que, querendo, responda às alegações formuladas na inicial, sob


pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato;

4. Declaração da ilegalidade da lavratura do TOI, com consequente declaração de


inexistência do débito, por indevido, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (um mil reais)
por cobrança efetuada;

5. Condenação em danos morais no valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais) , com juros a
partir da lavratura do TOI;

6. Aplicação de juros e correção monetária;

7. Inversão do ônus probatório, de acordo com fundamentação;

8. Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial documental


suplementar, testemunhal e pericial;
9. Condenação ao pagamento de honorários advocatícios no importe de 30% sobre o
valor da condenação.

Dár-se à o Valor da Causa de R$ 10.000,00 (Dez mil reais).

Nestes Termos,

pede deferimento.

20 de Setembro de 2018

Marcelo Resende Rodrigues

OAB/RJ 119.559

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