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SENTENÇA

Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei nº 9.099/95, passo a decidir.

Ante a arguição de preliminares, passo a analisá-las.

DA CONEXÃO E LITISPENDÊNCIA

Alega a promovida a existência de conexão entre as ações autuadas sob os


números: 0003308-36.2016.8.05.0271, 0003309-21.2016.8.05.0271, 0003310-06.2016.8.05.0271,
0003311-88.2016.8.05.0271 e 0003312-73.2016.8.05.0271. Contudo, não se mostra necessária tal
medida, vez que todas as ações mencionadas tramitam perante o mesmo juízo, não havendo que se
falar em prejudicialidade ante a inexistência de risco de provimentos jurisdicionais contraditórios.
Ademais, as ações em apreço possuem causas de pedir distintas.

Do mesmo modo, não há que se falar em litispendência da ação. Os autos


declinados, apesar de possuírem mesmas partes e pedidos, diferentes são suas causas de pedir
próximas (fundamento fático). Uma vez que a parte ajuizou ações idênticas contra o mesmo Réu,
visando indenização por danos morais, mas concernentes a fatos ocorridos em datas diversas,
inexiste a alegada litispendência e o uso da máquina judiciária de modo temerário, ainda que
pudesse ter ingressado com uma única ação. Na hipótese é possível a verificação que as supostas
interrupções de energia elétrica se deram em datas distintas, impedindo, portanto, o reconhecimento
da tríplice identidade necessária à caracterização da litispendência.

DA INÉPCIA DA INICIAL E FALTA DE INTERESSE DE AGIR

Não se revela inepta a petição inicial, tampouco ausente o interesse de agir, já que
os documentos colacionados aos autos mostram-se suficientes para o deslinde da matéria.
Insuficiência probatória não se confunde com inépcia da exordial, vez que as partes possuem até o
momento da audiência instrutória ou momento equivalente para produção de provas, além de ainda
ser possível a inversão do ônus probatório.

DA COMPLEXIDADE DE CAUSA
Afasta-se a preliminar de complexidade de causa, haja vista que os fatos alegados
pelas partes podem ser comprovados por documentos e laudos técnicos emitidos por órgão/empresa
imparcial e idôneo, sendo, portanto, competente o Juizado Especial Cível. Preliminar rejeitada.

Superadas as preliminares, passo a analisar o mérito.

DO MÉRITO

Verifica-se, inegavelmente, que existe uma relação de consumo e, por isso, resta
patente a incidência do Código de Defesa do Consumidor visto que o(a) requerente se utilizou de
serviço prestado pela requerida como destinatário(a) final. Por seu turno, o artigo 3º, parágrafo
segundo, afirma que fornecedor é toda pessoa que presta serviço mediante remuneração.

Cuidando-se de consumidor(a) que sucumbe à vulnerabilidade técnica, jurídica,


econômica e social, temos como razoável a presunção de que figura como verossímil a sua
alegação, sobretudo em razão de competir à fornecedora a prova de efetiva regularidade do serviço.

Milita a favor do(a) consumidor(a) a presunção de veracidade. Porquanto, declaro


invertido o ônus da prova, em função da hipossuficiência do(a) Consumidor(a) na presente relação,
do aparato técnico que possui a Ré e pela verossimilhança contida no termo de apresentação de
queixa, isto nos termos do art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, vez que o consumidor
não teria como provar a origem do defeito pelo fato do serviço.

Considerando a inversão do ônus da prova, a contestante não conseguiu, na peça


apresentada, elidir os fatos alegados pelo(a) Autor(a) na inicial no tocante à má prestação do serviço
entre os dias 02/03/2014 a 03/03/2014. As telas acostadas ao evento 9.1, também, em nada,
corroboram essa tese, mostrando-se imprestáveis à resolução do feito, visto que não demonstram ter
havido ou não a interrupção de energia questionada.

Invertido o ônus da prova, não basta somente a Ré dizer que não houve o nexo de
causalidade entre a suspensão de energia e os danos apontados pelo(a) acionante. Para afastar a
pretensão autoral, caberia à Promovida, tendo em vista o seu aparato técnico, comprovar, de forma
inequívoca, que houve efetivo fornecimento de energia elétrica, sem interrupção, no período
impugnado, mas quedou-se inerte.
Ademais, a testemunha ouvida nos autos de nº 0001412-26.2014.8.05.0271, em
audiência de instrução, afirmou ter havido a suspensão do serviço na localidade de Barra de
Serinhaém em março de 2014, ficando toda a comunidade sem energia.

Deve-se atentar que, no campo da responsabilidade, encontra-se o fornecedor de


serviços sob o crivo do risco objetivo, de maneira que não cabe a discussão em torno do elemento
subjetivo para aferição da imputação do ilícito. A responsabilidade objetiva é de rigor, só podendo
ser afastada por culpa exclusiva do usuário do serviço ou de terceiro, o que não restou provado nos
autos.

A ré é concessionária de serviço público de fornecimento de energia elétrica e


como tal deve obediência estrita à Lei Federal nº 8.987/95 (Lei de concessão dos serviços públicos)
e demais normas expedidas pela ANEEL. Esse diploma, não obstante priorizar a busca pela
adequação e continuidade da prestação do serviço, possibilita sua interrupção por razões de ordem
técnica ou de segurança das instalações ou quando o usuário encontra-se inadimplente.

Diante disto, considerando que a suspensão do serviço prestado pela acionada à


parte autora/consumidora decorreu de forma ilegal, insta concluir que houve na espécie falha na
execução do serviço da ré a configurar a existência de dano moral indenizável, sobretudo porque
não restou provado nos autos, de forma suficiente e extreme de dúvidas, que a acionada cumpriu
todos os requisitos formais e cuidados necessários no procedimento de suspensão de energia elétrica
da residência do consumidor, abstendo-se, inclusive, de comprovar razões de ordem técnica,
inadimplência ou de segurança que permitissem a suspensão do serviço.

O conflito existente nos autos revela que, de fato, a honra da parte autora fora
sobremodo afetada pelo comportamento ilícito da ré. A narrativa dos fatos, constante na peça
vestibular, traz de forma clara e evidente o dissabor e o transtorno suportados pelo requerente, em
virtude da atuação da demandada. Desse modo é que o transtorno, o aborrecimento, enfim, o dano
experimentado pelo autor, ante a conduta ilegal da demandada, enseja reparação a título de dano
moral. O quantum indenizatório será fixado em valor que assegura o caráter repressivo e
pedagógico da indenização, sem constituir-se elevado bastante ao enriquecimento indevido da parte
autora, levando-se em consideração, ainda, a duração da interrupção do fornecimento de energia
elétrica, bem como o comportamento da ré que, além de nenhuma justificativa ter apresentado como
causa para o defeito do seu serviço, em nenhum momento demonstrou ânimo de minimizar ou
compor os danos causados ao promovente.
Quanto às despesas com o advogado contratado, no valor de R$2.000,00 (dois mil
reais), a pretensão não pode ser acolhida. Em se tratando de juizado especial, não se pode impor tais
despesas à demandada.

Diante do exposto e por tudo mais que dos autos consta, julgo procedente, em
parte, o pedido autoral. Consequentemente, condeno a Ré a pagar ao Autor a quantia de
R$3.000,00 (três mil reais) por danos morais, com correção monetária pelo INPC, a partir desta
data, e juros de mora de 01% (um por cento) ao mês, após 15 (quinze) dias do trânsito em julgado
desta sentença.

Fica o Requerido ciente de que os valores da condenação sofrerão acréscimo de


multa de 10% (dez por cento) se não houver pagamento espontâneo até o décimo quinto dia após a
intimação para pagamento, conforme dispõe o art. 523, §1º, do CPC.

Extingo o processo, com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do Código
de Processo Civil, combinado com o art. 51, caput, da Lei nº 9.099/95.

Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, conforme


regra ínsita no artigo 55 da Lei nº 9.099/95.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Arquive-se após o trânsito em julgado.

Valença-BA, 03 de fevereiro de 2017.

Bárbara Cupertino da Silva


Juíza Leiga
Documento Assinado Eletronicamente

HOMOLOGAÇÃO

Obedecidas as formalidades legais aplicáveis ao caso, estando fundamentada de acordo


com entendimento deste Magistrado, decidindo bem as questões postas em julgamento,
HOMOLOGO a minuta de sentença elaborada pelo Juiz Leigo, em todos os seus termos, a fim de
que produza os jurídicos e legais efeitos.

Valença/BA, 03 de fevereiro de 2017.

Alzeni Conceição Barreto Alves


JUÍZA DE DIREITO
Documento Assinado Eletronicamente

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