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Tribunal de Justiça de Pernambuco

PJe - Processo Judicial Eletrônico

20/08/2018

Número: 0002807-24.2017.8.17.8222
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 1º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de Paulista - Turno Manhã -
07:00h às 13:00h
Última distribuição : 26/07/2017
Valor da causa: R$ 2.000,00
Assuntos: Cobrança indevida de ligações, Perdas e Danos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
EDUARDO RODRIGUES DE MOURA (DEMANDANTE)
CLARO S.A (DEMANDADO) JOSE HENRIQUE CANCADO GONCALVES (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
33898 10/08/2018 11:42 Sentença Sentença
927
Tribunal de Justiça de Pernambuco
Poder Judiciário
1º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de Paulista - Turno Manhã - 07:00h às 13:00h

AV SENADOR SALGADO FILHO, CENTRO, PAULISTA - PE - CEP: 53401-440 - F:(81) 31819030

Processo nº 0002807-24.2017.8.17.8222

DEMANDANTE: EDUARDO RODRIGUES DE MOURA

DEMANDADO: CLARO S.A

SENTENÇA

Vistos, etc.

Dispensado o relatório, de acordo com o art. 38 da Lei 9099/95. Fundamento e DECIDO.

Preliminarmente extingo sem resolução do mérito o pleito de restabelecimento da linha, considerando o


disposto no art. 485, VI do NCPC, dado o que consta do depoimento do autor, quanto a não mais lhe
interessar a prestação do serviço contratado perante a ré.

Passo à análise do mérito.

EDUARDO RODRIGUES DE MOURA, devidamente qualificado na inicial, ingressou com a presente


queixa contra CLARO S/A, pessoa jurídica de direito privado, igualmente qualificada nos autos,
postulando a desconstituição de débitos nos valores de R$ 761,43, cobrado por excesso de limite e de R$
1.061,06, relativo à multa, bem como restabelecimento de linha pós paga.

Alega o autor, como causa de pedir, que possui a linha pós-paga (81) 99892-9303 da operadora ré, com
plano Claro Ilimitado, com serviço de internet 12 GB, contratado há quatro meses, pelo custo mensal de
R$ 149,00 (cento e quarenta e nove reais).

Diz ainda o requerente que, além de sua linha, constou das faturas mais duas linhas de nºs 81)
99118-1053 e (81) 99243-1178, as quais desconhece.

Relata que, no dia 16/07/2017, recebeu uma mensagem em seu celular, informando-lhe que havia
excedido o limite da linha e que seria procedido ao bloqueio desta, o que de fato se verificou no dia
seguinte, contudo não entendeu a situação, já que o plano era ilimitado.

Menciona que lhe foi enviado um boleto no valor de R$ 761,43, referente ao alegado excesso, bem como,
já com a linha bloqueada, foi-lhe enviada uma fatura com vencimento para o dia 10/08/2017 no valor de

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R$ 1.224,03 (mil duzentos e vinte e quatro reais e três centavos), em que há cobrança por alteração do
plano no valor de R$ 1.061,06 (mil e sessenta e um reais e seis centavos).

Por fim, assevera ter procurado a demandada, através dos protocolos de nºs 2017483308734 e
2017614448791 de 19/07 e 2017498463674 de 25/07/17), mas nada foi resolvido.

A ré, em sua resposta, aduz que a linha foi cadastrada em nome do autor em 22/03/2017 e que não merece
prosperar a irresignação autoral, já que constam do contrato as linhas questionadas, sendo as cobranças
impugnadas, efetivamente devidas por se tratam de efetiva utilização dos serviços pelo demandante.
Menciona

Destaco que a presente lide deve ser analisada sob o prisma pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei
8.078/1990), que por sua vez regulamenta o direito fundamental de proteção do consumidor, consoante o
art. 5º, XXXII, da Constituição Federal).

Na situação posta, cuida-se de relação de consumo em que se opera a inversão do ônus da prova, nos
moldes do art. 6º, inciso VIII do CDC, cabendo à parte ré demonstrar a regularidade da cobrança de
excesso de uso, bem como do bloqueio da linha e da cobrança da multa de fidelização.

A respeito do tema, estabelece o art. 40, caput, “b” e §8º da Res. 477/2014 da ANATEL que:

Art. 40. A prestadora do Serviço Móvel Pessoal poderá oferecer benefícios aos seus Usuários e, em
contrapartida, exigir que os mesmos permaneçam vinculados à prestadora por um prazo mínimo.

b) Pecuniário, em que a prestadora oferece vantagens ao Usuário, em forma de preços de público mais
acessíveis, durante todo o prazo de permanência.

§8º No caso de desistência dos benefícios por parte do Usuário antes do prazo final estabelecido no
instrumento contratual, poderá existir multa de rescisão, justa e razoável, devendo ser proporcional ao
tempo restante para o término desse prazo final, bem como ao valor do benefício oferecido, salvo se a
desistência for solicitada em razão de descumprimento de obrigação contratual ou legal por parte da
Prestadora cabendo à Prestadora o ônus da prova da não-procedência do alegado pelo Usuário.

Examinando a prova anexada aos autos, mormente o contrato de fls. Id. Num. 21894875, verifico que o
autor firmou com a ré, na data de 22/03/2017 um contrato de adesão de pessoa física para planos de
serviço pós-pagos – SMP, constando da referida avença a contratação dos celulares adicionais, bem como
a previsão de bloqueio da navegação na internet até o final do ciclo do faturamento, após o uso do limite
da franquia contratada, mas n

Consta ainda fatura, anexada às fls. Id. Num. 21894877, que não há qualquer detalhamento do consumo
das linha móveis para demonstrar a regularidade da cobrança do valor constante da referida fatura, sendo
certo que o pedido de cancelamento da linha efetivamente se verificou em decorrência de cobranças
abusivas da requerida, de modo que não se afiguram lícitas as cobranças questionadas nos autos.

Neste sentido, o seguinte julgado do TJDFT:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. SERVIÇO DE TELEFONIA. INTERNET


MÓVEL. VÍCIO DE QUALIDADE DO SERVIÇO. FIDELIZAÇÃO. RESCISÃO ANTECIPADA POR
INADIMPLENTO CONTRATUAL. CAUSA DA RESCISÃO DADA PELO FORNECEDOR DO
SERVIÇO. NÃO CABIMENTO DE MULTA. INSCRIÇÃO EM ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA REJEITADA. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO.

1. Preliminar de cerceamento de defesa: No que se refere ao pedido de produção de prova pericial, não
verifico qualquer cerceamento de defesa, uma vez que, no caso, a perícia pleiteada pelo autor é inócua.

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Isso porque, ante o grande lapso temporal entre o cancelamento do serviço e o ajuizamento da ação, não
teria como o perito, após mais de 05 anos, aferir se a velocidade de internet oferecida no ano de 2012
estava de acordo com os termos do contrato firmado entre o autor e a empresa de telefonia.

2. No caso, a realização da prova pericial não surtiria efeitos práticos, pois seria impossível aferir a
prestação adequada do serviço no ano de 2012, uma vez que transcorridos mais de 05 (cinco) anos.
Ressalta-se que hoje (ano de 2017) sequer se fala em internet 3G, como no pacote contratado pelo
apelante (Claro 3G Max), mas sim em internet 4G. Cerceamento de defesa não verificado.Preliminar
rejeitada.

3. Mérito: a simples apresentação das faturas telefônicas pelo fornecedor não é apta para afastar a
alegação do consumidor da ocorrência de vício de qualidade na prestação do serviço, uma vez que, desde
a petição inicial, o autor afirma que realizou reclamações por telefone, medições de velocidade e
reclamações pessoais, motivo pelo qual era ônus do fornecedor demonstrar que o serviço de internet
móvel foi disponibilizado sem divergência com as especificações do contrato.

4. A responsabilidade por vício do serviço se caracteriza quando ocorrem anomalias que afetam a
funcionalidade do serviço, nos aspectos qualidade e/ou quantidade, sem causar risco à saúde e segurança
do consumidor, tornando o serviço impróprio ou inadequado ao consumo, ou lhe diminuindo o valor, bem
como por aqueles decorrentes da divergência do conteúdo com as indicações constantes no contrato,
embalagem, rótulo ou mensagem publicitária.

5. A carência fixada pela cláusula de fidelidade, que definiu prazo mínimo de vinculação do autor à
empresa de telefonia, constitui cláusula abusiva, por colocar o consumidor em desvantagem exagerada,
uma vez que visava amarrar o requerente ao contrato mesmo na presença de vício de qualidade na
prestação dos serviços, que possibilitava, segundo a legislação consumerista, a resolução do contrato pelo
autor.

6. Conforme jurisprudência deste e. TJDFT, tem-se que é incabível a aplicação da multa por quebra da
cláusula de fidelidade nos casos em que o cancelamento do contrato tem fundamento no descumprimento
das obrigações assumidas no contrato pela empresa operadora de telefonia.

7. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada para declarar inexistente a multa aplicada pela 1ª Ré
(Claro) e determinar que os réus retirem imediatamente o nome do requerente dos órgãos de proteção ao
crédito (SERASA).

(Acórdão n.1079051, 20160110590978APC, Relator: ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO 5ª TURMA


CÍVEL, Data de Julgamento: 21/02/2018, Publicado no DJE: 07/03/2018. Pág.: 245/251).

Desse modo, entendo que a requerida não logrou demonstrar a existência de fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor, na forma do art. 373, inciso II do NCPC, consistente na licitude do
bloqueio do serviço de voz da linha móvel e do efetivo consumo do serviço de telefonia móvel e internet,
relativo ao valor que excede ao montante contratado, para caracterizar a cobrança de excesso e de multa
contratual de fidelização antes do prazo de 12 (doze) meses, contado da assinatura do contrato entre as
partes, de modo que defiro o pleito de desconstituição dos débitos, com fulcro no art. 14, caput do CDC.

Isto posto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão autoral, extinguindo o processo com
resolução do mérito, na forma do art. 487, inciso I do NCPC, para convolar em definitiva a tutela
antecipada de fls. Id. Num. 29823139 -

No Juizado Especial Cível, em 1° grau de jurisdição, não há condenação em custas processuais e


honorários advocatícios (Lei n° 9099/95, arts. 54 e 55).

Publique-se, registre-se e intimem-se.

Oportunamente arquivem-se os autos, observadas as cautelas legais.

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