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ESTUDOS

AVANÇADOS EM
TELEJORNALISMO
E AUDIOVISUAL

Larissa Caldeira de Fraga


Telejornalismo na TV aberta
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar o telejornalismo diário na TV aberta.


 Comparar as redes nacionais de TV aberta e o espaço dedicado ao
telejornalismo.
 Descrever a evolução da grande reportagem na TV.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as características do telejornalismo na
TV aberta, os telejornais na programação nacional e a grande reporta-
gem na TV. A TV aberta se refere ao sinal aberto de televisão que não
foi criptografado. Geralmente, esse sinal é transmitido via satélite, mas
também nas bandas UHF ou VHF.
Deve ser instrumento da democracia de massa, além de apresentar
também como função o laço social, unindo públicos heterogêneos em
torno dos mesmos assuntos, vivências e discussões. Para Wolton (2006,
p. 7), “Essa forma de televisão é adaptada à democracia de massa, no
sentido que visa oferecer a todo mundo o maior número possível de
programas, garantindo assim uma certa igualdade cultural”.
O conteúdo do telejornalismo na TV aberta, portanto, precisa acom-
panhar a diversidade do seu público e cumprir o seu papel como uma
das principais fontes de informação da população brasileira. Isso deve
ocorrer mesmo que hoje esse conteúdo divida espaço com inúmeros
meios em razão da expansão dos veículos de comunicação na internet.

1 Telejornalismo na TV aberta: funções e


características
Nesta seção, você vai ler sobre o papel social da TV aberta no Brasil. Vai
acompanhar os principais marcos do telejornalismo na TV aberta desde a sua
2 Telejornalismo na TV aberta

criação, além dos princípios e das características que regem os telejornais das
maiores emissoras do País.

Funções da TV aberta no Brasil


A TV aberta pauta as conversas do cotidiano, apresenta visões de mundo e
oferece opções de entretenimento, com programas de auditório, filmes, séries
e novelas. Também apresenta os principais fatos do dia nos telejornais.
O jornalismo veiculado na TV aberta precisa dar conta de um público
heterogêneo, de diferentes visões políticas, classes sociais e níveis educacio-
nais, apresentando um conteúdo que possa ser entendido por todos. Por essas
características, a televisão aberta é considerada um importante instrumento
para a manutenção da democracia no País.

Devido ao seu próprio status: acessível a todos, gratuita, com possibilidade


de oferecer mensagens de todas as naturezas, aberta para o mundo através
das informações, dos documentários e dos filmes, ela é considerada por
muitos, de direita, de esquerda, pelos liberais, pelos progressistas e por certos
conservadores, como instrumento de emancipação (WOLTON, 2006, p. 5).

O principal papel da TV aberta é promover o laço social. Ela reúne pú-


blicos que têm a tendência em se separar e oferece a todos a oportunidade
de participar individualmente de uma atividade coletiva ao acompanharem a
programação de um canal aberto. Forma, desse modo, um fator de identidade
nacional. Segundo Wolton (2006, p. 45), a TV aberta “[…] ocupa um lugar
determinante na vida de cada um, tanto pela informação quanto pelo diverti-
mento que proporciona, constituindo assim a principal janela aberta para um
outro mundo, diverso do da vida cotidiana”.
Telejornalismo na TV aberta 3

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2017,


96,7% dos domicílios particulares permanentes no Brasil tinham televisão. Já as resi-
dências com conversor para receber o sinal de TV digital no País chegavam a 79,8%.
A pesquisa aponta que a televisão por assinatura é presente em 32,8% dos domicílios
(IBGE, 2018). Isso evidencia a abrangência e a importância do conteúdo na televisão
aberta no País. Apesar disso, em termos de consumo de notícias, em 2020, foi registrado
pela primeira vez as redes sociais como preferência como fonte de informação, tirando o
posto da televisão, que fica em segundo lugar, de acordo com o Instituto para o Estudo
do Jornalismo da Reuters (REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JORNALISM, 2020).

O desafio da televisão aberta no século XXI, além de disputar o espaço


com a internet, é conviver com a ampliação do conteúdo streaming (tecnologia
que permite o acesso a diferentes conteúdos, como filmes, programas de TV,
sem a necessidade de baixar os dados) e a produção de conteúdo diversificado
que pode ser visto à qualquer hora do dia, sem precisar acompanhar uma
programação predefinida. As próprias emissoras de televisão aberta produzem
conteúdo alternativo ou disponibilizam o mesmo conteúdo já apresentado
na programação tradicional, mas podendo ser visto, em plataformas on-line,
depois da sua exibição.
Durante a pandemia de Covid-19 em 2020, percebeu-se um aumento na
audiência televisiva, principalmente durante os telejornais. Segundo o Ibope
Media, “No Brasil, comparando a média de segunda e terça-feira (16 e 17 de
março), com a média das outras segundas e terças-feiras do ano, a audiência
dos programas jornalísticos cresceu 17%” (BROWN, 2020, documento on-line).
A televisão aberta apresenta uma programação diversificada, incluindo
diferentes gêneros, tem a vocação ligada à informação e ao entretenimento.
É considerada um dos meios de comunicação mais democráticos, porque não
é necessário pagar, nem saber ler, diferentemente dos jornais impressos, por
exemplo. Isso é o que torna a TV aberta “[…] acessível aos ricos e pobres,
aos cultos e analfabetos” (BISTANE; BACELLAR, 2008, p. 79). Por ter essa
acessibilidade, consegue falar com públicos heterogêneos, agradar diferentes
gostos. O serviço prestado pela televisão aberta, portanto, possui grande
relevância para a promoção de laço social e a integração da sociedade.
Por essa abrangência, a televisão aberta é o principal destino da maior parte
da receita publicitária no País. Em 2019, 52,8% do investimento publicitário
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no Brasil foi direcionado à televisão aberta (PEZZOTTI, 2020). É o veículo de


comunicação que recebe a maior verba das agências de publicidade. Percebe-se
a importância comercial dos espaços televisivos e o uso da programação para
o impulsionamento de marcas.

Telejornalismo nas principais redes de televisão


brasileiras
A televisão no Brasil surgiu com o modelo aberto. Em 1950, Assis Cha-
teaubriand inaugurou a TV Tupi/Difusora. Com influência do jornalismo
radiofônico, os primeiros telejornais eram feitos ao vivo direto do estúdio,
pois ainda não existia videotape e pouco se usava o filme. Em 1952, foi criado
o mais importante telejornal da época, o Repórter Esso, com herança no
formato radiofônico e produzido com informações da agência de notícias
United Press International.
Em 1963, foi ao ar o Jornal da Vanguarda, na TV Excelsior. O programa
introduziu a participação de jornalistas como produtores, apresentadores e
cronistas especializados, que vinham do jornalismo impresso. A primeira fase
do Jornal da Globo, da Rede Globo, foi lançada em 1967. Em seu lugar, em
1969, surgiu o Jornal Nacional, transmitido simultaneamente, ao vivo, para
Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília.
Na década de 1970, a TV Bandeirantes lançou o Titulares da Notícia, que
privilegiava o depoimento popular e valorizava o trabalho do repórter. Em
1971, foi apresentado o Jornal Hoje, da Rede Globo. A TV Tupi criou o Rede
Nacional de Notícias, em 1972, em que locutores apareciam em primeiro plano
e, ao fundo, aparecia a sala de redação. O Jornal da Record, da Rede Record,
foi apresentado em 1974. Em 1980, foi exibido o Jornal da Bandeirantes. Em
1982, o Jornal da Globo, da Rede Globo, começou uma nova fase. O Jornal
da Noite, da TV Bandeirantes, foi ao ar em 1986. O SBT lança em 1988 o TJ
Brasil e, em 1991, o Aqui Agora.
Depois de 15 anos da chegada da televisão ao Brasil, a Rede Globo foi
inaugurada em 1965, em um acordo com o grupo norte-americano Time
Life. É a emissora campeã de audiência no País. O programa telejornalístico
de maior destaque é o Jornal Nacional, que se tornou o primeiro noticiário
televisivo a ser transmitido em rede nacional. “Ele estreou para competir com
o Repórter Esso, da TV Tupi” (REDE GLOBO, c2020a, documento on-line).
Segundo os princípios editoriais do Grupo Globo (REDE GLOBO, 2011), o
papel do jornalismo é produzir conhecimento com isenção, correção e agilidade
do seu conteúdo. Nas diretrizes, o procedimento em relação às fontes é manter
Telejornalismo na TV aberta 5

uma boa relação, com respeito e transparência, inclusive com preservação da


imagem quando solicitado. Caso haja uma relação de amizade entre a fonte e
o entrevistado, a direção do veículo deve ser informada.
Sobre o público, os telejornais da TV Globo devem agir de acordo com
as características de seu público-alvo, adaptando as pautas, a linguagem e o
formato. A linguagem e o formato não devem ser rebuscados para não afastar
os menos letrados, nem simplórios para não afetar os mais instruídos.

Nenhum veículo do Grupo Globo fará uso de sensacionalismo, a deformação


da realidade de modo a causar escândalo e explorar sentimentos e emoções
com o objetivo de atrair uma audiência maior. O bom jornalismo é incompa-
tível com tal prática. Algo distinto, e legítimo, é um jornalismo popular, mais
coloquial, às vezes com um toque de humor, mas sem abrir mão de informar
corretamente (REDE GLOBO, 2011, documento on-line).

Os colegas de redação devem cooperar entre si: “Os envolvidos numa


mesma reportagem — da apuração à edição — são responsáveis por sua
qualidade. Devem agir como revisores uns dos outros, para bem do trabalho”
(REDE GLOBO, 2011, documento on-line). Os veículos do Grupo Globo são
independentes e podem competir entre si pela reportagem exclusiva e pelo
furo, buscando estimular diferentes abordagens.
Os jornalistas precisam ter lealdade com o veículo em que trabalham,
dividindo informações. Ao usarem suas redes sociais, precisam considerar
que o conteúdo publicado ali é público, mesmo sendo compartilhado apenas
para um grupo pequeno de pessoas. Isso porque a atividade pessoal on-line
não deve manchar a reputação do veículo para o qual trabalham. O conteúdo
do jornalismo da Globo busca ser independente, apartidário e laico.
Em 1975, o Sistema Brasileiro de televisão (SBT) foi criado com a concessão
do canal ao empresário Silvio Santos. Seu manual de telejornalismo aponta
que o departamento de jornalismo da emissora foi criado para concorrer com
as demais emissoras, com seriedade, credibilidade e competência. A emissora
acredita que pode “[…] conquistar não só a audiência, mas também simpatia e
até a torcida nos meios formadores de opinião: artistas, intelectuais, jornalistas”
(MACIEL, 1995, p. 92).
O projeto de jornalismo do SBT, segundo seu manual de telejornalismo,
tem como princípio prestar um serviço sério, com credibilidade e eficiência.
Também deseja se diferenciar prestando um serviço digno, honesto e não
manipulador. A emissora aposta em um telejornalismo apartidário e dinâmico,
como uma nova linguagem para seduzir o público brasileiro. Busca manter
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a audiência popular e expandir seu público nas classes média, altamente


consumidora, e alta.
A Record TV, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, foi fundada em
1953 pela família Machado de Carvalho. De acordo com Porcello (2008, p. 64):

Teve altos e baixos, mas a retomada deu-se com a entrada da igreja comandada
pelo bispo Edir Macedo. Com um início tímido e sem identidade própria, a
Record surgiu no panorama nacional de forma marcante a partir de 2005. No
próprio site oficial da emissora, a trajetória é revelada, com ênfase no período
superior a 2005 quando iniciou-se a “efetiva busca pela vice-liderança do mer-
cado de televisão no Brasil”. Em 2006, quando o SBT anunciava investimentos
no jornalismo, quem investiu de fato foi a Record que passou a competir com a
líder Globo, colocando no ar programas inspirados no chamado padrão Globo.

O Jornal da Record, apresentado, em 2020, pelos ex-jornalistas da Rede


Globo Celso Freitas e Adriana Araújo, adotou cenário e logotipia semelhantes
aos da Rede Globo. Apesar disso, o que mais diferencia os conteúdos das duas
emissoras são os dois noticiários populares da Rede TV!, o Balanço Geral,
feito pelas emissoras locais, e o Cidade Alerta, veiculado em rede nacional.
Este último é focado em jornalismo policial, com ênfase em entradas ao
vivo abordando os acontecimentos no local do fato. Também utiliza imagens
captadas de helicópteros que mostram o trânsito e a cidade de São Paulo.
Apresentado, em 2020, por Luiz Bacci, tem a participação do comandante
Hamilton, que fornece as informações enquanto sobrevoa a cidade. O noticiário
também conta com comentários de segurança do jornalista Percival de Souza.
É um programa que foca em crimes e apresenta “[…] acontecimentos
violentos, grotescos ou esdrúxulos [de modo] sensacionalista, por meio de
cenas chocantes e com alto grau de apelo emocional” (OLIVEIRA, 2011,
p. 146). Isso ocorre com a apresentação de imagens tanto factuais quanto
reconstituídas, mostrando “[…] corpos dilacerados por acidentes, perfurados
por tiros, esfaqueados, ou entrevistas sensacionalistas com ‘criminosos’”
(OLIVEIRA, 2011, p. 146). Além disso, destaca-se como característica central
do Cidade Alerta a cobertura ao vivo, que:

[…] está intimamente ligada a dois fatores: primeiro as boas relações do


programa com as polícias Civil e Militar, que mantém a produção do pro-
grama sempre informada das ocorrências policiais; segundo, a capacidade
e a competência técnica do programa que está equipado com instrumentos
capazes de levar informação “ao vivo” com o helicóptero Águia Dourada e
as motolinks. Além disso, o formato de apresentação das notícias não segue
um modelo padrão, mas, sim, um modelo narrativo com a utilização das
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transmissões “ao vivo” e contribui para a compreensão do endereçamento do


programa (OLIVEIRA, 2011, p. 146-147).

Já a TV Bandeirantes entrou no ar em 13 de maio de 1967. Foi criada a partir


da rádio Bandeirantes, que operava desde 1948. O início da sua consolidação
como uma rede nacional de televisão se deu em 1975. A construção da rede
foi idealizada pelo empresário João Saad.

A primeira transmissão em cores feita no País foi realizada durante a abertura da 19ª
Festa da Uva, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, em 19 de fevereiro de 1972. Esse
feito foi realizado pela TV Difusora, atual Band RS. Segundo Porcello (2008), essa foi
uma das principais contribuições da Rede Bandeirantes à expansão da TV no Brasil.

Os telejornais com maior audiência da emissora são o Jornal da Band e


o Brasil Urgente. O Jornal da Band foi criado em 1977 como Jornal Ban-
deirantes e a partir de 1997 passou a ter o nome atual. O programa inicia às
19h20, antes do Jornal Nacional, possibilitando que o público possa assistir
aos dois telejornais. O Brasil Urgente segue a linha popular e é transmitido,
em 2020 e desde dezembro de 2001, por José Luiz Datena.
O foco do programa é o cotidiano das cidades, como assassinatos, assal-
tos, denúncia e acidentes de trânsito. É pautado pelo trabalho ao vivo e pela
dramaticidade dos fatos. Datena opina sobre as reportagens, criando jargões
e usa linguagem coloquial: “Há improviso, as informações geralmente estão
acompanhadas dos comentários do apresentador, os textos nem sempre são
claros e muitas vezes faltam dados mais precisos nas matérias” (LANA,
2009, p. 12).
A Rede TV!, por sua vez, foi criada em 1999 por Almicare Dallevo Jr. e
Marcelo Carvalho. Segundo o site da emissora, é “[…] a primeira do mundo
a transmitir em 3D em TV aberta” (REDETV!, c2020a, documento on-line).
O programa de jornalismo com maior audiência do canal é o Alerta Nacio-
nal. O Alerta Nacional é um programa popular apresentado, em 2020, por
Sikêra Júnior. O que chama a atenção é a performance do apresentador, que
utiliza a equipe do estúdio para encenar algumas situações. São apresentadas
reportagens em plano sequência sobre crimes, além de entradas ao vivo. Já
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o telejornal Rede TV News segue um formato mais tradicional, apresentando


uma síntese dos principais acontecimentos do dia, desde 2005.
Pode-se perceber que existem dois formatos majoritários no telejornalismo
nacional, com programas tradicionais e programas populares, que se disse-
minaram entre as emissoras, com exceção da Rede Globo.

2 Telejornalismo na programação nacional da


TV aberta
Atualmente, no Brasil, o telejornalismo tem destaque na maioria das emis-
soras de televisão aberta. Ao contrário das TVs públicas, qualquer veículo
de comunicação visa ao lucro. O faturamento das emissoras está ligado ao
número de telespectadores que acompanham os programas.

Quanto maior o público de um canal ou programa, mais caro a emissora pode


cobrar pelos espaços publicitários. É assim que funciona, e é inegável que as
redações sofram pressão para elevar o número de telespectadores (BISTANE;
BACELLAR, 2008, p. 80).

O Ibope realiza pesquisas nas principais capitais brasileiras para saber, por
amostragem, a quantidade de pessoas que assistem aos canais e identificar
características do público, como sexo, faixa etária, renda. Assim, as emissoras
podem acompanhar o desempenho da sua programação e da concorrência.
A capacidade de monitorar o número de telespectadores dos canais a cada
minuto alterou a estratégia das emissoras na guerra por audiência.

A audiência interfere, inclusive, na linha editorial. Se determinado telejornal


perde público, é necessário trazer de volta essas pessoas. Nessa tarefa, o Ibope
colabora realizando, sob encomenda, as pesquisas qualitativas. Simplificando:
reúne-se um grupo de pessoas que têm o perfil do telespectador do telejornal.
Elas assistem a algumas edições, informam sobre o que gostaram e o que de-
sejariam ver, e também os assuntos pelos quais se interessam. Baseado nesses
dados, o editor-chefe pode orientar as pautas para atender às expectativas. O
ideal é conquistar o público com um produto bem acabado, com informação de
qualidade — de preferência, exclusiva (BISTANE; BACELLAR, 2008, p. 80).

Segundo Bistane e Bacellar (2008), essa competição entre as emissoras


gerou distorções pois é difícil se reinventar, ter criatividade e inovar. Para não
correr riscos, alguns canais repetem fórmulas e copiam outros programas.
Telejornalismo na TV aberta 9

Como exemplo disso temos o sensacionalismo. Como vimos na seção anterior,


existem alguns programas na TV aberta que apresentam apelo emocional,
pretendendo chocar o público, como Brasil Urgente, da Band, Balanço Geral
e Cidade Alerta, da Record, e Alerta Nacional, da Rede TV!. O telejornalismo
sensacionalista foge dos padrões convencionais do jornalismo e tem um ca-
ráter popular, exacerbando emoções, usando uma linguagem extremamente
coloquial e investindo em jargões.

Em 1991, o programa Aqui Agora estreou no SBT com o slogan “O telejornalismo


brilhante que mostra a vida como ela é”. Foi criado com a função de melhorar os
índices de audiência da emissora e atingiu o objetivo. Inovou o formato na televisão
com reportagens com poucos cortes e pouca edição, em um plano sequência. O
telejornal também tinha uma abordagem sensacionalista, com forte apelo emocional,
apresentando imagens chocantes.

Também nesta luta pela audiência, pode-se perceber o uso do infoteni-


mento. Esse conteúdo é caracterizado pela união entre a informação e o
entretenimento. Reality shows, talk shows, programas e séries humorísticas
fazem parte dessa categoria. No telejornalismo, esse conteúdo é encontrado
no jornalismo esportivo, com reportagens leves e divertidas. Também integra
matérias mais informais em outros formatos de telejornal. Esses mecanismos
são utilizados para atrair a audiência.
Em relação ao mercado publicitário, deve-se identificar o público-alvo
para não correr riscos, de modo a investir em publicidade nos programas
que atendam um nicho ligado aos seus produtos. A programação, conjunto
de programas de uma rede de televisão, define o horário da transmissão de
cada programa.
É estipulado um horário fixo para cada gênero televisivo todos os dias,
buscando criar um hábito no telespectador de assistir ao mesmo programa em
determinado horário. Para determinar o horário de exibição de cada programa,
é feita uma análise dos índices de audiência.

Além dos fatores ligados à audiência e ao público-alvo, outra razão muito


importante para a programação de uma rede é a de que um programa ou o
conjunto de programas constrói a imagem da própria emissora de televisão. O
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aumento do número de programas de determinado gênero na mesma emissora


promove uma imagem que torna a rede conhecida pelo público quando este
escolhe seus programas favoritos (SOUZA, 2015, p. 56).

As principais redes nacionais comerciais na TV aberta, líderes de audiência,


que produzem telejornalismo em diferentes formatos são Band, Globo, Record,
Rede TV! e SBT. Acompanhe no Quadro 1 os espaços de telejornalismo
nacional dessas emissoras.

Quadro 1. Telejornais das emissoras de maior audiência da televisão brasileira

Horário Band Globo Record Rede TV! SBT

1º Jornal Hora Um Fala Brasil Primeiro


3h45 4h 8h45 Impacto
6h
Manhã
Bora Brasil Bom dia
8h Brasil
8h30

Brasil Jornal Hoje


Tarde Urgente 13h25
16h

Jornal da Jornal Cidade Alerta SBT Brasil


Band Nacional Alerta Nacional 19h45
19h20 20h30 18h 18h

Band Jornal da Jornal da Rede TV


Noite Notícias Globo Record News
22h 0h04 19h45 19h30

Jornal da Leitura
Noite Dinâmica
23h40 0h
Quadro baseado na programação divulgada nos sites das emissoras em junho de 2020. A progra-
mação pode sofrer alterações.

Na programação da maioria dessas emissoras, atualmente, podemos per-


ceber a nova tendência de apresentar um telejornal durante a madrugada. O
primeiro telejornal da programação é voltado para a prestação de serviço, com
informações sobre o clima, o trânsito e antecipação do que pode ser assunto
Telejornalismo na TV aberta 11

ao longo do dia. Essa tendência está associada à rotina dos trabalhadores de


grandes centros que moram longe do seu local de trabalho, precisam acordar
cada vez mais cedo e não tinham um telejornal sendo transmitido no horário
em que estavam se preparando para sair de casa.
A programação nacional se divide, de modo geral, seguindo um telejornal
no início da manhã, outro próximo ao meio-dia, um jornal da noite e por
último, uma edição no fim do dia, que busca contextualizar os principais fatos
ocorridos e veiculados ao longo da programação.

3 A grande reportagem na televisão


Desde o início dos anos 2000, a presença das grandes reportagens aumentou
na televisão brasileira. Esse conteúdo é visto em programas especializados e
nos telejornais. A grande reportagem na televisão não se caracteriza apenas
por ter mais tempo do que as matérias tradicionais no telejornalismo. Também
chamada de reportagem especial, destaca-se pelo tratamento do material.

O que torna uma reportagem especial é o tratamento muito mais primoroso,


tanto de conteúdo quanto de plástico. Ela nos permite aprofundar assuntos
de interesse público, que podem estar retratados em uma única reportagem
ou em uma série. Até o fim da década de 1990, essa modalidade do telejor-
nalismo estava um tanto quanto esquecida, seja pelo custo, pela escassez de
profissionais aptos ou pela análise de que “o algo mais” não era tão necessário
(CARVALHO et al., 2010, p. 21).

As reportagens especiais não ficam na cobertura pontual de fatos fragmen-


tados e pouco aprofundados. Pelo contrário: com poucas regras e construções
definidas, abordam a realidade de forma complexa e por diferentes ângulos.
Segundo Degl’iesposti (2009), o aspecto autoral dessas reportagens também
as diferencia. Traçam diagnósticos e prognósticos da realidade ou fenômenos.
Apresentam ações criativas, narrativas humanizadas e aprofundamento de
questões. Com as imagens, é possível explorar cenários, situações, captar
gestos e emoções.

Embora a televisão trabalhe com planos superficiais, nada impede, no tecer


da grande-reportagem, a captação de gestos, emoções, olhares que a distin-
guem do convencional. Nesse caso, repórter ou âncora falam de frente para
as câmeras e com cenário ao fundo, muito comum nos noticiários. Na repor-
tagem, a contextualização permite abordar melhor as questões conflituais.
A recuperação da memória em torno dos antecedentes do fato, as correla-
12 Telejornalismo na TV aberta

ções e entrevistas para subsidiar o telespectador são outros procedimentos


que permitem fugir ao lugar comum, tecendo os nexos do acontecimento
(DEGL’IESPOSTI, 2009, p. 107).

Também pode apresentar aspectos do jornalismo literário, pois possuem


dados, informações, estímulos visuais. O repórter mostra ângulos do mesmo fato,
valorizados pelas cenas, imagens, pelo trabalho de observação e pela linguagem
atrativa. O programa Profissão Repórter da Rede Globo explora o mundo das
reportagens especiais com aspectos do jornalismo literário como o foco em
personagens da vida real. As matérias exploram o aspecto humano, o cotidiano
em determinados locais, mostram o lado emotivo e integram esses personagens
em grandes cenários, sendo usados como exemplos de grandes problemas sociais
ou situações enfrentadas no País. Além disso, mostra os bastidores da notícia,
revela como são feitas as escolhas das pautas e a edição do conteúdo captado.
Esse é um diferencial em relação ao telejornalismo tradicional.
Nos telejornais, as grandes reportagens podem ser apresentadas em séries,
que exibem reportagens especiais e possuem maior aprofundamento e mais
tempo de matéria. Com um espaço maior, as reportagens apresentam texto
mais elaborado e edição mais trabalhada, explorando as imagens com mais
qualidade. Geralmente, são realizadas por repórteres experientes, como foi
o trabalho de Sandra Passarinho na Rede Globo, onde atuou por 50 anos até
encerrar a sua carreira em 2019.

Confira, no site G1, a série de reportagens especiais apresentadas nos 50 anos do Jornal
Nacional em 2019.

Outro programa especializado em grandes reportagens é o Globo Repórter,


da Rede Globo. Criado em 1973, apresenta conteúdo especial sobre atualidades,
saúde, ciência, natureza, aventura e curiosidades de destinos turísticos no Brasil
e exterior. Os temas são explorados com uma riqueza de imagens, dados e
pesquisas científicas. A revista semanal, Fantástico, também é um programa
da Rede Globo que se propõe a exibir reportagens especiais e quadros variados,
como humor, esportes e entretenimento, desde 1973. O programa possui tradição
em desenvolver reportagens investigativas com a denúncia de crimes.
Telejornalismo na TV aberta 13

O programa Conexão Repórter, do SBT, exibido a partir de 2010, busca


transmitir grandes reportagens feitas também pelo apresentador do programa
Roberto Cabrini. Já na Rede Record, é exibido o Câmera Record, programa
dedicado a grandes reportagens e documentários. Desde 2008, apresenta temas
investigativos, viagens e curiosidades.
Criado em 2004, o Domingo Espetacular, da Rede Record, que se denomina
uma revista eletrônica semanal, divulga fatos curiosos, denúncias, matérias
sobre comportamento e turismo. Além disso faz um panorama geral dos fatos
que marcaram a semana e possui um quadro chamado “A grande reportagem”,
que debate assuntos polêmicos que repercutiram nas redes sociais.
A grande reportagem na TV aberta, portanto, é apresentada com reportagens
e séries especiais nos telejornais e está presente em programas especializados.
As maiores emissoras do País mantêm na sua programação pelo menos um
programa voltado às reportagens especiais, aprofundando assuntos e debates de
forma mais complexa que as reportagens factuais apresentadas no jornalismo
diário. O diferencial da televisão em relação aos outros veículos é explorar
as imagens, os sons, as emoções e as falas dos personagens e entrevistados.

BISTANE, L.; BACELLAR, L. Jornalismo de TV. São Paulo: Contexto, 2008.


BROWN, A. Cinco maneiras em que o Coronavírus está mudando nossos hábitos de con-
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www.kantaribopemedia.com/cinco-maneiras-em-que-o-coronavirus-esta-mudando-
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14 Telejornalismo na TV aberta

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WOLTON, D. Elogio do grande público: uma teoria crítica da televisão. São Paulo: Ática,
2006.

Leituras recomendadas
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA — IBGE. Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua — PNAD: acesso à Internet e à televisão e posse de
telefone móvel celular para uso pessoal 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101631_informativo.pdf. Acesso
em: 27 jul. 2020.
REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JORNALISM. Digital News Report 2020. Oxford:
Reuters Institute, 2020. Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/sites/
default/files/2020-06/DNR_2020_FINAL.pdf. Acesso em: 27 jul. 2020.
Telejornalismo na TV aberta 15

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