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O GLOBO • SEGUNDO CADERNO• PÁGINA 12 - Edição:23/10/2010 - Impresso: 22/10/2010 - 01: 30 h AZUL MAGENTA PRETO

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12 Sábado, 23 de outubro de 2010
OGLOBO

ARNALDO
BLOCH
O Palha chegou mansinho na festa na casa do cusou o cigarrim, fazendo-se de educado, o sonso.

OPalha
Henry, um dos endereços mais plugados da - Não, obrigado, cidadão - arrotou, blasé, ace-
cidade. nando com um gesto de moderação romano.
- Esse é baiano. Do bom - dizia o Palha O Palha não se moveu. Manteve o braço estendido
com aquela cara de mineiro, ao oferecer o cigarrim, com o cigarrim e só resolveu falar quando não tinha
que o pessoal aceitava na educação. mais jeito.
O cigarrim do Palha estava numa pior, mofado, bi- - Mas... Proquê?
cho-grilo-velho-da-seca. Mas, como diz o ditado, de - É.que eu não quero tirar o gostinho do meu cu-
graça até elefante. E o Palha foi passando seu cigar- bano - disparou.
rim de mão em mão. Pra não dizer que não falei de folhas O cubano do Henry era o que havia de mais fino no
O Palha tinha uns olhos arregalados, um bigode de circuito. Fino é modo de dizer. Conteúdo. Fino e raro.
Zé.Bonitinho, um chapéu de Amigo da Onça, umas Henry só sacava do bolso o cubano em noites como
bochechas de Wilson Grey. aquela, quando o facho era posto em perspectiva.
Numa festa como aquela, cheia de gente corada, - Mas... Nem uma provadinha?
alta, banhada, cheirando a perfume de manipulação, - E vou tirar o gostinho do cubano?
poderia passar despercebido ou ser expulso. - Vai de baiano.
Mas o Palha tinha uma coisa que mexia, e não era - Baiano uma figa. Isso é da paraíba.
só a gentileza. - Olha, baiano não é mesmo, mas da Paraíba tam-
- Olha lá o paraíba - comentou o Henry, que ti- bém não é. t de Minas. Naquela área do Gulmarães.
nha uma lancha onde lanchava muita gente. - Que área do Guimarães?
- t. Mas eu entendo o que certas mulheres veem - Ah, é de fronteira. Umainvenção.
nele- mandou a Lindinha, franzindo os olhos e mo- Deslumbrada com a ascensão do Palha, Lindinha
vendo os lábios como se fosse estalar a língua. se meteu.
- E o que é que eJasveem no paraíba, Lindinha? - t tipo assim um blend, Henry. Um blend baiano
- Olha lá pro paraíba. Mas olha bem. de Minas.
- Tõ olhando. -Blend é a puta-que-o-pariu. Não vou provar esse
- Entendeu? arremedo de cigarro.
- Entender o quê? Todos se voltaram para Henry. Inclusive o papa-
- Olha direitinho, Henry. gaio, empunhando. como os outros, seu cigarrim e
O fato é que o cigarrim do Palha, em poucos mi- soltando, na santa fumaça da indignação, o grito que
nutos, tornou-se o grande bafo da festa. Não era a estava engasgado no seio da tribo.
multiplicação do pão, mas dava um caldo. Não era a -Henry!
multiplicação do vinho, mas batia bola de groselha. -Henry!
Quando todos os convidados, os penetras, os gar- -Henry!
çons, a cozinheira, o papagaio e o porteiro já esta- Só então o Palha recolheu o cigarrim. Acenou para
vam abastecidos, o Palha foi até o Henry, único que o Henry, dono da festa, dono da casa, dono da lancha
ainda não tinha aceitado o cigarrim. onde lanchava todo mundo, dono do mundo. E todo
O Henry era conhecido no circuito por ter os me- o mundo acenou de volta para o Palha, e quando o
lhores cigarros. Com ele não tinha cigarrim. Era de Palha já estava à porta, um lamento encheu o salão,
charuto pra cima. O charutão do Henry, segundo o e do lamento se fez a fúria.
pessoal da lancha, parecia uma pira olímpica. Um -Palha!
vulcão altivo na noite da mulherada. - Vejam, o Palha!
Só na alta madrugada o charuto do Henry se ex- - Ele é o Palha!
tinguia. Era o sinal de que a festa estava no fim. Não - O Palha não é palhaço1
precisava nem piorar a música. O galo já havia can- Empalado no cubano e posteriormente empalha-
tado. Mas no sábado seguinte, a pira renascia das do, Henry foi oferecido em sacrlficlo, rito fundador
cinzas, e, ao meio-dia, apontava para o infinito. da aurora de uma nova tribo, sob o cetro do Palha.
Roído de ciúmes, afrontado pela ousadia quieta
desse tal de Palha, Henry, yuppie-rei da parada, re- E-maíl:amaldo@oglobo.com.!>r

OPererê
deZiraldo
chega
aos50com
fôlego
novo
Saci dos quadrinhos ganha reedições, série para celular e longa dirigido por Marcos Magalhães, fundador do Anima Mundi

RodrigoFonseca ros D'Assunção, o Ota, já es-

A
creveram que Pererê nunca te-
o soprar a 78! velinha ve a mesma repercussão que
de seu bolo de aniver- "O Menino Maluquinho", cria-
sário, amanhã, Zíraldo do em 1980.Mesmo assim, ad-
vai compartilhar o "Pa- quiriu íâs ilustres.
rabéns pra você!" com Pererê, - Até Tom Jobim lia o Pe-
seu saci em versão HQ que che- rerê. Sérgio Ricardo ( cantor,
ga aos 50 anos neste mês na compositor e cineasta) é teste-
maior animação. Uteralmente. munha de que ele me contou
Amanhã também, uma festa em isso - brinca Ziraldo, que se
homenagema uma das mais cé- inspirou em amigos para
lebres criações do cartunista criar os colegas do saci: o ja-
mineiro, a partir das 13h no Oi buti Moacir, o coelho Geral-
Futuro de Ipanema (só para dinho, a onça Galileu, o tatu
convidados), marca o início da Pedro Vieira, o macaco Alan
preparação de um longa-metra- e a coruja Professor No-
gem animado sobre o persona- gueira. - O curumim Ti-
gem. Produzido por Juliana de ninin é baseado num me-
CarvaJhoe Tarcisio Vidigal, pro- nino que eu conheci num
dutor dos dois filmes da fran- Festival do Índio. Nós o le-
quia "O Menino Maluquinho", o vamos a uma churrascaria e
longa, orçado em cerca de R$ ele comeu até passar mal. Eu
7,5 milhões, terá direção de perguntei a ele: "Deve ser me-
Marcos Magalhães,um dos fun- lhor do que paca, né?"
dadores do Anima Mundi, pre-
miado em Cannes,em 1982,pe- Professora
maluquinhaà vista
lo desenho "Meow". No evento Tíninin é o eixo da trama
será lançado, ainda, um fac-sí- da animação de Marcos

''
mile da primeira edição do gibi Magalhães, centrada no
"Pererê'', de outubro de t960.O torneio chamado As Sete
fac-símile integra uma caixa da Provas do Guerreiro, no
editora Globo com três ãlbuns ZIRALDOentreos produtoresTarcisioVidigal e Julianade Carvalho qual o índio vai disputar
do Pererê. contra seu rival, Flecha
-Como o quadrinho já tem F'irme, com a ajuda do
muitos elementos cinemato- lançamento pelas novas mídias. pronta, com 32 páginas dese- Pererê. Em 2011, outra
Como Pererê,
gráficos, o filme do Pererê dis- Pai daquele que, como ele, é nhadas a lápis. No segundo nú- criação de Ziraldo vai existeaindao
pensa pirotecnias. Afinal, ele, aniversariante neste domln- mero, a revista já estava com ganhar as telas, no
de cara, já tem uma garantia: gão, Ziraldo conta que dese- uma tiragem de 150 mil ex:em- longa "Uma professora fatodeZiraldo
vai contar com a melhor dire- nhou o personagem em gibis piares. E vendia. Muito.. Mesmo muito maluquinha", de An-
ção de arte com que alguém da editora da revista "O Cru- assim, depois de uns 40 núme- dré Alves Pinto e César Ro- ter sidoum
poderia sonhar: o traço do 21- zelro" até 1964, pouco depois ros, em 1964,disseram que não drigues, que estreia em mar-
raldo - diz Magalhães, que do golpe militar. No lançamen- tinham mais interesse nela - ço, com Paola Oliveira no pa-
pioneiroem
estreia em longas após uma to, o herói de uma perna só foi lembra Zíraldo. - Pesou sobre pel central. abordar a
trajetória de três décadas de- saudado com um texto entu- isso uma conjuntura de fatores, - No cinema, o nome de Zí-
dic..?_dasà a_nlmaçâo slasmado da escritora Rachel tanto políticos, como o golpe, ral_do~~~e ~?rias, e não é s6 questão
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Uiretor ao curta documen- de (.Jueiroz ru quinze"). quanto econom1cos, uma vez pelos /UU mil pagantes conta-
tal "Zlraldo", de 1976, Vidl- - Nos anos 50, surgiu um que na época, enquanto a edít~ ecológica
bilizados pelos dois "O Meni- nas
gal, em parceria com Juliana,
desenvolve também uma sé-
projeto de nacionalização das
HQs. Na época, a revistinha da
ra pagava US$ l por um jogo de
fotolitos de HQs americanas, o
no Maluquinho". Ele tem mui-
ta credibilídade em diferentes
histórias
em
rie para celular com a Turma Luluzinha e do Bolinha vendia Pererê custava US$1O. ãreas da cultura por nunca ter quadrinhos
do Pererê, no formato mo- horrores, tipo uns LSOmil por Passaram-se l l anos até tratado criança como débil
tion comics, que consiste em mês. A oportunidade de apre- que o Pererê voltasse às ban- mental - diz Tarcísio Vidigal. brasileiras
animar cada quadrinho origi- sentarmos um personagem na- cas, numa linha de quadrinhos - Com o Pererê, existe ainda
nal de um gi bi. cional para "O Cruzeiro" veio da Editora Abril, iniciada em o fato de Ziraldo ter sido um
TarcisioVidigal,
produtor
- Este projeto faz parte de numa sexta-feira. Virei a noite 1975,que durou apenas dez pioneiro em abordar a ques-
um movimento para reJançaro trabalhando no fim de semanae, números. Pesquisadores co- tão ecológica nas histórias em
Pererê- diz Juliana - Um re- na segunda,apresentei a revista mo o cartunista Otacílio Bar- quadrinhos brasileiras.•
...J

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