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Organizadoras

Míghian Danae Ferreira Nunes


Helen Santos Pinto
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
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Míghian Danae Ferreira Nunes
Helen Santos Pinto
(Organizadoras)
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NA ESCOLA SE BRINCA!
BRINCADEIRAS DAS
CRIANÇAS QUILOMBOLAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação: Designers da Editora CRV
Ilustrações e capa: Caio Zero (caiocrj@hotmail.com) e João Saldanha
(arteeducaecomunica@gmail.com)
Revisão: Revisa (revisafaleconosco@gmail.com)
Revisoras responsáveis: Amanda Trindade Martins da Silva e Lívia da Silva Blumetti

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506

ES74

Na escola se brinca! Brincadeiras das crianças quilombolas na educação infantil / Míghian


Danae Ferreira Nunes, Helen Santos Pinto (organizadoras). – Curitiba : CRV, 2022.
114 p.

Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-3246-4
ISBN Físico 978-65-251-3245-7
DOI 10.24824/978652513245.7

1. Educação 2. Educação infantil – quilombola I. Nunes, Míghian Danae Ferreira, org.


II. Pinto, Helen Santos, org. III. Título IV. Série.

2022-19185 CDD 370.111


CDU 37
Índice para catálogo sistemático
1. Educação infantil – 370.111

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2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Altair Alberto Fávero (UPF)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Andréia N. Militão (UEMS)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Anna Augusta Sampaio de Oliveira (UNESP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Barbara Coelho Neves (UFBA)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional
Carmen Tereza Velanga (UNIR) de Três de Febrero – Argentina)
Celso Conti (UFSCar) Diosnel Centurion (UNIDA – PY)
Cesar Gerónimo Tello (Univer .Nacional Eliane Rose Maio (UEM)
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Três de Febrero – Argentina) Elizeu Clementino de Souza (UNEB)


Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Fauston Negreiros (UFPI)
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Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Gláucia Maria dos Santos Jorge (UFOP)
Élsio José Corá (UFFS) Helder Buenos Aires de Carvalho (UFPI)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Ilma Passos A. Veiga (UNICEUB)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Inês Bragança (UERJ)
Gloria Fariñas León (Universidade José de Ribamar Sousa Pereira (UCB)
de La Havana – Cuba) Jussara Fraga Portugal (UNEB)
Guillermo Arias Beatón (Universidade Kilwangy Kya Kapitango-a-Samba (Unemat)
de La Havana – Cuba) Lourdes Helena da Silva (UFV)
Helmuth Krüger (UCP) Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira (UNIVASF)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Marcos Vinicius Francisco (UNOESTE)
João Adalberto Campato Junior (UNESP) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Josania Portela (UFPI) Maria Eurácia Barreto de Andrade (UFRB)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Míghian Danae Ferreira Nunes (UNILAB)
Lourdes Helena da Silva (UFV) Mohammed Elhajji (UFRJ)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US) Mônica Pereira dos Santos (UFRJ)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Najela Tavares Ujiie (UNESPAR)
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Nilson José Machado (USP)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG) Silvia Regina Canan (URI)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG) Sonia Maria Ferreira Koehler (UNISAL)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Suzana dos Santos Gomes (UFMG)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Vânia Alves Martins Chaigar (FURG)
Simone Rodrigues Pinto (UNB) Vera Lucia Gaspar (UDESC)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)

Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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Vovó Maria (mãe do pai) era negra; tia Terezinha é negra (irmã do
pai); Vovó Clotilde é negra (mãe da mãe); tia Ana é negra e tia Alberta,
também (irmãs da mãe). Minha mãe é negra, então eu sou negra.

Mariazinha, 5 anos, em entrevista a Petronilha Silva, em 2017.


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SUMÁRIO
PREFÁCIO ..................................................................................................... 11
Carla Cristina dos Santos de Jesus

PARTE I
“NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE...”
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 15
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Míghian Danae Nunes


Helen Santos Pinto

CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO: Escola Doutor Dorival Passos ........................................ 19
Aline de Assis Santos

CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO: Escola José de Aragão Bulcão ....................................... 21

CAPÍTULO 3
MUITO PRAZER: professoras autoras! ......................................................... 23

PARTE II
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: na escola se brinca!
APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 29

CAPÍTULO 4
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS......................................................................... 31
Aline de Assis Santos

CAPÍTULO 5
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS......................................................................... 39
Geisa das Neves Giraldez

CAPÍTULO 6
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS......................................................................... 49
Márcia Lúcia Anacleto de Souza

CAPÍTULO 7
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS......................................................................... 61
Roseli Felix de Santana
CAPÍTULO 8
PRÁTICA PEDAGÓGICA .............................................................................. 79
Aline Santos
Geisa Geraldez

CAPÍTULO 9
PRÁTICA PEDAGÓGICA .............................................................................. 81
Márcia Anacleto
Roseli Santana

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CAPÍTULO 10
PRÁTICA PEDAGÓGICA .............................................................................. 83
Míghian Danae
Helen Pinto

POSFÁCIO ..................................................................................................... 87
Nanci Rebouças Helena Franco

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 89

APÊNDICE A
FORMULÁRIO ENVIADO ÀS FAMÍLIAS/CRIANÇAS ATENDIDAS
PELAS ESCOLAS PARTÍCIPES DA PESQUISA ........................................ 93

APÊNDICE B
FORMULÁRIO ENVIADO ÀS PROFESSORAS E GESTORAS DAS
ESCOLAS PARTÍCIPES DA PESQUISA ..................................................... 97

APÊNDICE C
LISTA DE BRINCADEIRAS ELENCADAS PELAS CRIANÇAS DAS
ESCOLAS DORIVAL PASSOS E JOSÉ DE ARAGÃO BULCÃO ............. 101

APÊNDICE D
LISTA DE BRINCADEIRAS ELENCADAS PELAS PROFESSORAS
DAS ESCOLAS DORIVAL PASSOS E JOSÉ DE ARAGÃO BULCÃO .... 105

ÍNDICE REMISSIVO ....................................................................................111


PREFÁCIO
Na escola se brinca! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação
Infantil! Esse é um grito necessário, que mobiliza sentimentos para a percepção e a
promoção de infâncias brincantes, permeadas por identidades que, historicamente,
vêm sofrendo tentativas de silenciamento. Organizado e escrito por mulheres negras
pedagogas, este livro está arraigado na concepção de que o brincar é intrínseco a uma
infância potente, presente, viva!
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Apresentar brincadeiras situadas em nossa experiência ancestral africana repre-


senta o fortalecimento da nossa existência, é questão vital! É, também, uma decisão
política pautada na concepção de Ação Afirmativa, focada nas crianças negras qui-
lombolas, nos seus modos de ser, brincar e estar no mundo!
O trabalho é fruto de uma ciranda brincante, de mãos dadas com crianças,
adultos e idosos, ciranda cujo ritmo foi entoado pelas e pelos pequenas e pequenos,
pessoas que têm muito a nos ensinar sobre suas infâncias. Dessa forma, fomos con-
templadas com um riquíssimo acervo de produções brincantes de crianças e profes-
soras de instituições que atendem à Educação Infantil em comunidades quilombolas.
O livro potencializa a circularidade entre tradição oral e linguagem escrita
através do registro de brincadeiras perpassadas por gerações, a fim de manter viva
a memória da nossa ancestralidade negra a partir das presenças das crianças, impe-
trando diálogos entre tradição e contemporaneidade. O brincar, aqui, está centrado
no seu lugar de possibilitar que as crianças vivenciem suas infâncias de forma leve
e saudável, tenham o direito de experimentar múltiplas linguagens, possam ser pro-
tagonistas e experimentar conhecimentos lúdicos que mobilizem diversas sensações
e sentimentos ancorados nas formas de interagir consigo, com os outros e com todo
o universo, a partir do seu território físico e imaginário.
Cada brincadeira apresentada é fruto da pesquisa e escrita cuidadosa sobre os
objetivos de aprendizagem, propostas e dicas capazes de ampliar as possibilidades
da experimentação. Embora pareça óbvio, ainda precisamos mostrar que é possível
libertar as crianças da inércia das cadeiras da sala de aula, já que seus corpos brin-
cantes, em movimento, aprendem para além da folha de papel.
Nosso tempo de planejamento pedagógico precisa ser otimizado com a leitura
e o estudo de materiais como este, que está em suas mãos. Atuar na educação escolar
demanda a tomada cotidiana de decisões políticas, transgressoras, e não, por exem-
plo, a perda de tempo com a confecção de lembrancinhas para datas comemorativas
sem sentido!
Essa publicação é uma referência potente para que profissionais que caminham
com as crianças ampliem suas concepções brincantes, e, assim, tenham as suas práti-
cas pedagógicas permeadas pelos modos de brincar dos povos Africanos em África
e em diáspora pelo mundo.
Embora voltado para a Educação Infantil, este livro é um acervo necessário para
todas as pessoas que entendem que, como diz um provérbio africano, “é preciso uma
aldeia para se educar uma criança”. Nesse sentido, convidamos vocês, que convivem
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com crianças de várias faixas etárias (bebês, bem pequenas, pequenas e maiores),
sejam profissionais da educação, mobilizadoras/es culturais, familiares, vizinhas/os,
amigas/os, guardiões da cultura africana etc. Pessoas que entendem a potência do
brincar para as nossas crianças!
Na condição de mulher negra, pesquisadora, educadora das infâncias, mãe,
madrinha e tia de crianças, finalizo este prefácio com o sorriso e o sentimento de
felicidade daquela menina pequena, guardada em minha memória de infância, que
foi convidada pelos seus pares para participar de uma maravilhosa e inesquecível
brincadeira, na ciranda da nossa existência!

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Carla Cristina dos Santos de Jesus
Salvador, Bahia, abril de 2022
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PARTE I
“NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE...”
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INTRODUÇÃO
Estamos muito felizes em compartilhar este livro com vocês. Ele é fruto de
uma pesquisa aplicada em duas escolas quilombolas de Educação Infantil situadas no
Recôncavo Baiano, mais precisamente em Santo Amaro e São Francisco do Conde, e
vinculada ao projeto intitulado Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo
de jogos e brincadeiras africanas e afro-brasileiras, ganhador, em 2020, do Edital
Equidade Racial, pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
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(CEERT). Quando nos inscrevemos nesse edital, nossa intenção era colaborar com
a aplicação da alteração da Lei de Diretrizes e Bases (nº 9.394/96), de nº 10.639/03,
nas escolas, produzindo materiais pedagógicos que dessem subsídios a educadoras/
es no trabalho com a Lei. Objetivávamos participar, portanto, com reflexões sobre
processos curriculares desde a Educação Infantil, a partir de abordagens pedagógicas
inovadoras, que colocam as crianças que estudam nas escolas públicas brasileiras
no centro.
Este livro é a segunda produção coletiva dessa pesquisa aplicada. Na primeira
etapa do projeto, escrevemos, também coletivamente, o Catálogo de jogos e brin-
cadeiras africanas e afro-brasileiras1, publicado pela Aziza Editora. Nesse primeiro
momento, recolhemos oralmente jogos e brincadeiras africanas e afro-brasileiras
nos países da integração (a saber, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné
Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe), com mulheres e homens destes
países, de idades entre 40 e 60 anos. Esta foi uma ação realizada por estudantes da
Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), oriundos dos
países supracitados, que vivem em São Francisco do Conde, Bahia, e estudam no
campus dos Malês, pertencente à UNILAB.
Após esta primeira etapa e produção, nossa intenção era levar as/os estudantes
até às escolas quilombolas de Educação Infantil próximas ao território da universi-
dade, para que jogassem e brincassem com as crianças. Porém, devido à pandemia
da covid-19, que em 2021 fez com que as escolas permanecessem fechadas, não foi
possível realizarmos a interação entre os universitários e as crianças. Desse modo,
reorientamos nosso trabalho junto às escolas e alteramos esta etapa da pesquisa,
produzindo, assim, este livro.
Durante quase dois meses, professoras e crianças das escolas Dorival Passos
e José de Aragão Bulcão responderam a questionários virtuais sobre quais eram as
brincadeiras que jogavam e gostavam, na escola e fora dela. Realizada essa fase,
elaboramos um material digital contendo imagens e vídeos com as brincadeiras
apresentadas pelas crianças e pelas professoras, catalogamos e convidamos quatro
professoras, uma de cada escola e duas de Educação Infantil de outras localidades,
para criarem práticas pedagógicas relacionadas às brincadeiras contidas no material.
Muitas foram as intenções que orientaram a organização deste livro. Inicial-
mente, queríamos estimular a participação das crianças e professoras das comunidades

1 O livro está disponível em formato digital, pode ser baixado no site www.azizaeditora.com.br.
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através do questionário enviado às professoras e também às famílias, para que as


crianças respondessem. Frisamos que as famílias tiveram participação ativa na pro-
dução de todo o material, pois foram elas que conversaram com as crianças e, tam-
bém, nos enviaram fotos, vídeos e áudios dos pequenos brincando e respondendo
à pesquisa.
Este é, portanto, um livro feito a muitas mãos, como imaginamos que deve ser
uma Educação Infantil comprometida com a qualidade e com as crianças brasileiras.
Percebemos, assim, que nossa intenção de dar ouvidos ao que dizem as crianças
pôde ser concretizada quando as famílias e a escola foram convidadas para entrar

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nessa roda de conhecimento, o que nos mostra a importância do trabalho coletivo
na Educação Infantil.
Queríamos, ainda, com este livro, afirmar a importância da brincadeira na Edu-
cação Infantil, pois percebemos que, muitas vezes, esta prática tem sido vista como
inferior à aquisição da linguagem escrita, por exemplo. De acordo com Natália Cá:

jogos e brincadeiras têm sido importantes aliados da educação, no estímulo do


desenvolvimento cognitivo, da oralidade e da interação social da criança, pois
são as principais paixões e meios de interação na infância. Logo, reconhecemos
a importância destes na educação como ferramenta que contribui para o melhor
desenvolvimento da criança, seja dentro das práticas pedagógicas escolares, ou
quando presente dentro de uma determinada comunidade ou cultura, pois gera
possibilidades de ensino/aprendizagem dentro do espaço no qual a criança está
inserida (CÁ, 2020, p. 2).

Para nós, brincar e ter acesso ao letramento são igualmente importantes e cola-
boram para o desenvolvimento integral da criança. Não temos motivos, portanto,
para abrir mão da brincadeira na Educação Infantil. Ela é um importante lugar de
aprendizagem. Cá afirma que:

[...] segundo Hampatê Bâ, certos jogos infantis foram criados para transmitir
conhecimentos aos mais novos ao longo dos tempos. É uma forma também na
qual as crianças recebem ensinamentos dos mais velhos, conhecedores desses
jogos. Na mesma linha de raciocínio, Maranhão (2009, p. 48 apud SILVÉRIO et
al 2013, p. 67), afirma que os jogos para os africanos sempre estiveram ligados
à vida social, enquanto que, para Civita (1978, p.120 apud Idem) os jogos são
instrumentos de ensino e aprendizagem, utilizados como uma linguagem para a
transmissão de conhecimentos dentro da sociedade africana. Ou seja, a transmissão
desses jogos é feita oralmente de geração em geração (CÁ, 2020, p. 3).

Sendo assim, para além do interesse em apresentar a brincadeira como um lugar


de conhecimento e interação importante na vida de todas as pessoas (não apenas na
das crianças!), desejávamos muito dar a conhecer o modo de ser e fazer de crianças
e professoras que integram comunidades de instituições de Educação Infantil qui-
lombolas. Esse sempre foi um interesse fincado na certeza do quanto é importante
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 17

para nós, pessoas negras, nos percebemos presentes nos espaços onde estamos em
cor e corpo, e isso inclui a escola e, também, as crianças.
Muito embora este livro esteja interessado em colaborar com as práticas peda-
gógicas das professoras que todos os dias encontram as crianças nas instituições de
Educação Infantil brasileiras, ele não tem a pretensão de ser um manual de atividades.
É importante que as professoras possam a ele ter acesso para refletir sobre como as
brincadeiras podem se tornar aliadas na organização cotidiana das creches e pré-es-
colas. De modo simbólico, pensamos em oferecer 31 propostas de trabalho com as
crianças, aludindo a uma das unidades de tempo que temos em nosso ano letivo, a
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saber, o mês. Ao ter acesso às trinta e uma propostas, temos certeza de que as pro-
fessoras farão o melhor uso deste material, levando em consideração a realidade em
que vivem e as crianças que fazem parte da turma.
Boa leitura e esperamos que... se divirtam muito!

Míghian Danae Nunes


Helen Santos Pinto
São Francisco do Conde, Bahia, abril de 2022
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CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO: Escola
Doutor Dorival Passos
O quilombo (São Braz) é onde está a escola
A escola (Dr. Dorival Guimarães Passos), está no quilombo
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O nome que tem a escola


Pode até ser de um branco
Mas as vivências e narrativas
São dos remanescentes do quilombo

Aline de Assis Santos

A escola Dr. Dorival Guimarães Passos foi inaugurada no dia 11 de janeiro de


1992, pela Secretária de Educação e Cultura Eliana Maria Vasconcelos Menezes,
com o apoio do Deputado Genebaldo Correia. Única escola de Educação Infantil em
São Braz, o seu nome é uma homenagem a um santamarense que dedicou a vida ao
cumprimento das leis, ao fortalecimento da educação e à valorização do esporte. Par-
ceiro de Cosme de Farias e Edgar Matta, Dorival Guimarães Passos foi um influente
jurista na sociedade penal brasileira. Além disso, colaborou com a implementação
do Tribunal Regional do Trabalho em Salvador, Bahia, foi Secretário de Educação
da Bahia, defensor da memória e história de negros santamarenses, a exemplo de
Teodoro Sampaio, e fundou o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o time de futebol
Guarani, Campeão Profissional de Futebol em 1949.
Situada no quilombo de São Braz, a escola Dorival Passos tem funcionárias/os e
estudantes cujas vivências estão inseridas em um contexto histórico que abarca Santo
Amaro, no Recôncavo Baiano, e o ser quilombola. O Recôncavo, que esteve inserido
no nefasto contexto da colonização europeia, foi responsável pelo fluxo econômico
do Brasil e da Europa nos idos do século XVI, com a presença de negras/os vindas/
os de diferentes regiões do continente africano. Para uma melhor compreensão sobre
o local onde está situada a escola Dorival Passos, é fundamental sabermos que:

O Recôncavo conferiu a Salvador sua existência e estimulou a colonização e o


desenvolvimento do sertão; seus senhores de engenho dominaram a vida eco-
nômica e política da capitania por toda sua história. Falar da Bahia era falar do
Recôncavo, e este foi sempre sinônimo de engenhos, açúcar e escravos (SCH-
WARTZ, 1988, p. 79).

Falar sobre esse território nos direciona a rememorar as diferentes religiões que
existiram e existem nele, principalmente as de matriz africana. É lembrar que o Recôn-
cavo é de muitos ritmos, como o samba chula e o samba de roda, e de uma culinária diver-
sificada, na qual predomina o dendê, óleo de palma originário da África. O Recôncavo é,
20

também, um lugar de formação socioadministrativa histórica secular, de vilas importantes


como Cachoeira, Itaparica, Maragogipe e Nazaré; do marcante movimento marítimo
fluvial e abastecedor, utilizado, no período colonial, respectivamente, para a condução
de escravizadas/os para o trabalho nos engenhos e para fornecimento de alimentos, na
maioria das vezes para subsistência dos/as moradores/as da capital Salvador.
Indígenas, ibéricos/as, africanos/as e seus descendentes, presentes no Recôncavo,
deram origem a povoados, vilas e, posteriormente, a cidades como a de Santo Amaro.
Registros históricos apontam que o surgimento da cidade de Santo Amaro ocorreu na
segunda metade do século XVI. Devido a relativa autonomia econômica em 1727,

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Santo Amaro foi elevada à categoria de vila, e em 1837, à categoria de cidade.
Era a Patativa, a região de Santo Amaro onde se localizavam alguns engenhos,
cujo principal foi o do Conde. Se havia engenhos, havia escravizadas/os. A esse res-
peito, de acordo com Pierre Verger (2002), o Brasil recebeu diferentes grupos de
escravizadas/os, a exemplo dos que chegaram no período do ciclo da Guiné, na segunda
metade do século XVI, dos de Angola, no século XVII, dos do ciclo da Costa da Mina,
nos três primeiros quartos do século XVIII, e dos da baía do Benin, entre 1770 e 1850.
Devido ao contexto colonial do Recôncavo, muitos das/os escravizadas/os que vieram
para a Bahia e para o Brasil estavam inseridas/os nos numerosos engenhos que existiam
em Santo Amaro. Além do Conde, existiam os engenhos de Marapé, Santa Catarina,
Banguela, Novo, Penha, São Braz, Papagaio, Capanema, Santo Antonio, Timbó, São
Cosme, Urupi, Vitória, Peraunas, Roncador, Subaé, Jericó, Pilar, Brejo, Pedras, Pitinga,
Sergi, Pitanga, Casumba, Malembá, Rio Fundo, São Bento Buranhém e Catacumba.
São Braz foi um engenho corrente e moente, ou seja, que funcionava com todas
as fábricas e estruturas. Registros históricos indicam que ele pertenceu ao Coronel
Antonio Gomes de Sá, em 1787, à Baronesa do Rio Fundo, ao menos até a primeira
metade do século XX, e a João Clímaco, no período republicano, mas provavelmente
não mais como engenho. É importante ressaltar que João Clímaco foi o nome dado
à primeira escola de São Braz, fundada em 1969, que atendia ao público do Ensino
Fundamental I e ao da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente essa escola
está em ruínas. Ser a primeira escola da localidade atendendo somente aos segmentos
citados, nos permite questionar se a Educação Infantil no município de Santo Amaro
era alvo de debate na segunda metade do século XX.
A afirmação de si mesmo enquanto quilombola significa, para cada habitantes
de São Braz, compreender-se como parte de um grupo que produz de forma coletiva.
Essa produção dinâmica, constante e cíclica perpassa pela escola quilombola, situada
no quilombo. Perpassa também pela noção de territorialidade, memória coletiva,
oralidade, práticas culturais, línguas reminiscentes, festejos, tecnologias e formas
de produzir o trabalho.
Considerando o contexto local, as vivências da gente do quilombo, as legislações
escolares vigentes e as crianças originárias das famílias da comunidade, a escola
Dr. Dorival Guimarães Passos apoiou o projeto Nô bá brinca, vamos brincar, ahi
tlangui? Catálogo de jogos e brincadeiras africanas e afro-brasileiras, ratificando
seu compromisso com o desenvolvimento da educação de crianças afrodescendentes
e quilombolas da localidade.
CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO: Escola
José de Aragão Bulcão
A Escola José de Aragão Bulcão é uma unidade de Educação Infantil da rede
pública do Município de São Francisco do Conde, Bahia, situada no Distrito do
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Monte Recôncavo, na Rua do Prédio s/nº, cuja comunidade está certificada como
remanescente quilombola desde 2009. O prédio escolar funciona desde 1970, mas
somente a partir de 2002 a referida escola iniciou o seu trabalho com o segmento de
Educação Infantil. A escola, antes, se chamava Cardeal da Silva, em homenagem ao
Cardeal Dom Augusto Álvaro da Silva, 22º Arcebispo da Bahia. Por Dom Augusto
ser um homem de fé, a primeira escola do Monte Recôncavo recebeu o seu nome.
José de Aragão Bulcão entrou em cena quando, em 2002, tornou-se um conhe-
cido vereador. Filho do casal Joaquim e Flora, José de Aragão foi dono de algumas
propriedades, era considerado um homem prestativo, sobretudo na área da saúde, e
de confiança do prefeito. No tempo em que a população montense se tornou mais
numerosa e ficou evidente a necessidade da abertura de mais escolas, o vereador José
de Aragão Bulcão faleceu. O prefeito da cidade, por considerá-lo muito, achou por
bem homenageá-lo, dando o nome dele a uma escola estadual desativada. A Escola
Cardeal da Silva passou, assim, a se chamar Escola José de Aragão Bulcão (EJAB) e
foi municipalizada, sendo mantida pela prefeitura através da Secretaria de Educação,
que arcou com a reforma, aquisição de materiais didáticos, fardamento e funciona-
mento. Por ter realizado a reforma, a prefeitura suspendeu o atendimento ao Ensino
Fundamental, passando a atender ao segmento de Educação Infantil.
A EJAB se integra ao sistema municipal de ensino e segue as orientações da
Secretaria Municipal de Educação. Nela, a criança é compreendida como um ser em
constante amadurecimento, capaz de expressar seus sentimentos e emoções, de se
deslocar com destreza progressiva no espaço, andar, correr, pular, etc., apropriando-
-se progressivamente da imagem global de seu corpo, conhecendo e identificando
seus segmentos e elementos, desenvolvendo cada vez mais uma atitude de interesse
e cuidado com o próprio corpo, que aprende, interage, se comunica, se identifica e
identifica o outro. Inserida neste contexto, essa unidade escolar busca, em sua proposta
pedagógica, contemplar os princípios éticos do trabalho pedagógico, integrando os
aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos, sociais, históricos e
culturais que envolvem o ato de educar e cuidar das crianças da pré-escola.
Apesar de estarmos numa comunidade quilombola, ainda não há iniciativas
político-pedagógicas concretas presentes, no dia a dia da escola, no que diz respeito
ao reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura da própria comu-
nidade. Vemos, também, que a desvalorização da cultura do lugar afeta até mesmo
a escolha do nome da escola, que não se deu a partir da valorização das pessoas da
comunidade, que são as protagonistas da luta política pela manutenção dos direitos
22

conquistados até agora. Estamos, neste momento, reformulando nosso Projeto Polí-
tico Pedagógico (PPP) a fim de inserir um novo pensar pedagógico que contemple
e legitime as questões históricas, étnicas, políticas, sociais e culturais da população
afro-brasileira e as especificações da comunidade do Monte Recôncavo.
Atualmente, a equipe gestora é composta por: uma diretora, Karine Oliveira
Ribeiro; duas vice-diretoras, Ana Patrícia Gregório dos Santos e Marly de Lima
Alves Lima; uma secretária, Dislene Gregório de Matos Oliveira; e dois agente
administrativos, Milton Sérgio Mota da Conceição e Norma Sueli Batista Santana.
Para atender às necessidades pedagógicas, a escola conta com uma coordenadora,

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Alessandra de Souza Xavier Chaves. Para desenvolver o trabalho com as crianças,
atuam quatro professoras efetivas, Andreza Dantas Pereira dos Santos, Francielle
Silva Caetano, Roseli Felix de Santana e Valdesira dos Santos Silva. Todas elas têm
formação superior em Pedagogia e pós-graduação na área. Há, ainda, um professor de
Libras, Ramon Costa Maia, uma professora de Educação Especial, Thaiane do Amaral
Fernandes, e mais quatro agentes de apoio da Educação Infantil, Daniel Gomes de
Souza Junior, Débora Góis Batista, Joira Lopes Rios e Itana Reis de Jesus, todas/os
com formação em Pedagogia, também. Outras/os funcionárias/os compõem a unidade
escolar, são elas/eles as/os auxiliares de serviços gerais, merendeiras e guardas, que
trabalham na manutenção do espaço. Esse grupo de trabalhadoras/es é vinculado a
uma empresa terceirizada que presta serviços à escola.
A EJAB comporta em média 80 alunos, distribuídos nos turnos matutino e
vespertino. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (nº 9394/1994), a creche é
a instituição que atende às crianças de 0 a 3 anos, e a pré-escola, às de 4 a 5 anos.
Porém, por falta de uma creche na comunidade quilombola e de estruturação da rede
municipal de ensino, as crianças de 3 anos também integram o quadro de alunos da
pré-escola na EJAB.
A EJAB continua atendendo à comunidade escolar do Monte com muita dedi-
cação e amor, mesmo diante das dificuldades no suporte a uma geração que vive
numa era totalmente digital e tendo passado por um duro período de pandemia. As/
os profissionais envolvidas/os na tarefa de manter o bom andamento das atividades
educativas com excelência não param. A gestão da escola tem feito várias solicitações
junto à Secretaria de Educação (SEDUC), pedindo a reestruturação física da unidade
de ensino, visto que esta não possui estrutura para atender às necessidades e demandas
da comunidade escolar. Desejamos que as inúmeras dificuldades e carências não sejam
obstáculos ao nosso objetivo maior, que é o de formar um indivíduo único e global.
Para conhecer mais o nosso quilombo, indicamos a leitura do livro A gente
já nasceu quilombola e não sabia! Histórias do Monte Recôncavo, organizado por
Maricelia Santos e Carlos Guerola (2021).
CAPÍTULO 3
MUITO PRAZER: professoras autoras!
Antes de passarmos às práticas propriamente ditas, importa que conheçamos
um pouco as professoras que tornaram esta publicação possível.

Figura 1 – Aline de Assis Santos


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Fonte: Acervo pessoal.

Aline de Assis Santos é uma mulher negra cuja trajetória familiar sempre foi de
superação. É filha de ex-empregada doméstica e atual pedagoga santamarense com
ex-pescador valenciano, que mesmo sendo portador de uma doença degenerativa
progressiva, voltou a estudar e concluiu o Ensino Médio. “Ter me tornado Mestra
em Educação e Contemporaneidade, pedagoga e historiadora reflete a força e perse-
verança das famílias negras brasileiras”, afirma Aline.
24

Figura 2 – Geisa das Neves Giraldez

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Fonte: Acervo pessoal.

Geisa das Neves Giraldez é “escutadora de crianças”, graduada em Pedagogia


pela PUC-Rio, especialista em Letramentos e Práticas Educacionais pelo Cefet-RJ,
Mestra em Arte e Cultura Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), e integrante do grupo de pesquisa Estudos Culturais em Educação e
Arte (IM/UFRRJ – IA/UERJ). Também é membro do Coletivo Docente Antirracista
Agbalá, composto por professores da Secretaria Municipal de Educação do Rio de
Janeiro, (SME/RJ), rede de ensino na qual é professora.

Figura 3 – Márcia Lúcia Anacleto de Souza

Fonte: Acervo pessoal.


NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 25

Márcia Lúcia Anacleto de Souza é pedagoga, mestre e doutora em Educação


pela UNICAMP. É professora e gestora na Educação Infantil do município de Cam-
pinas, São Paulo. Pesquisa as temáticas da educação quilombola, educação escolar
quilombola, infâncias quilombolas e relações étnico-raciais. Integra os grupos de
pesquisa CRIEI (UFSCar Sorocaba) e LAROYÊ (UNIFESP Guarulhos) e atua na
formação docente inicial e continuada.

Figura 4 – Roseli Felix de Santana


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Fonte: Acervo pessoal.

Roseli Felix de Santana é licenciada em Pedagogia pelo Centro Universitário


Jorge Amado, em Salvador, Bahia, e pós-graduada em Educação Infantil pela Facul-
dade de Educação São Luís, em Jaboticabal, São Paulo. É professora da Educação
Infantil e atua na rede pública de ensino da cidade de São Francisco do Conde, Bahia,
há 5 anos.
Bom, agora é a hora de finalmente falarmos sobre as práticas trazidas por
elas. Vamos lá!
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PARTE II
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
na escola se brinca!
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APRESENTAÇÃO
Nas páginas a seguir, as professoras que acabamos de conhecer irão nos apre-
sentar práticas pedagógicas baseadas nas brincadeiras aprendidas com as crianças
e professoras das escolas parceiras da nossa pesquisa aplicada, intitulada Nô bá
brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo de jogos e brincadeiras africanas e
afro-brasileiras, que carinhosamente passamos a chamar pela expressão crioula Nô
bá brinca, cujo significado é “vamos brincar”, no crioulo de Guiné Bissau.
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Escolhemos chamar as atividades aqui compartilhadas de “práticas pedagógicas”


porque compreendemos que, na Educação Infantil, não organizamos aulas expositivas
e direcionadas, como costumamos ver no ensino fundamental. As ações desenvolvidas
pelas professoras estão conectadas com o dia a dia das crianças nas creches e escolas,
o que confere um sentido mais dinâmico ao que acontece nas turmas.

Oliveira (2011) corrobora essa ideia ao enfatizar que a organização curricular


deve ser assegurada por práticas pedagógicas que permitam às crianças explorar,
brincar, interagir e sentir-se seguras no ambiente educativo. Para tanto, as propos-
tas pedagógicas precisam valorizar a construção da identidade de cada criança,
reconhecendo-a como participante ativa no processo social, o que implica com-
preender que trabalhar com os pequenos exige do professor uma postura dinâmica
e flexível (DOMINICO et al., 2020, p. 8).

Tais práticas ensejam teorias que foram mobilizadas a todo momento, a partir
das observações e estudos feitos pelas professoras que as escreveram, em conjunto
com as informações oferecidas pelas famílias e professoras das escolas. Elas foram
pensadas com o intuito de atender às especificidades de cada turma e escola e serem
realizadas com materiais acessíveis para a maior parte das instituições de Educação
Infantil brasileiras.
Para que as práticas pedagógicas sejam desenvolvidas a contento por qualquer
pessoa que deseje realizá-las, o guia sobre cada uma delas buscou ser o mais didático
possível. Tais guias são compostos pelas seguintes seções:

a) Objetivos de aprendizagem: elenca os objetivos visados pela prática,


importantes para o desenvolvimento das competências e habilidades
necessárias no processo de ensino e aprendizagem das crianças;
b) Justificativa: traz os argumentos que reforçam a importância da prática
pedagógica, apontando seus aspectos positivos;
c) Recursos: lista os materiais necessários à realização da prática;
d) Desenvolvimento da proposta: apresenta o conteúdo da prática pedagógica
e como ela deve ser realizada;
e) Dicas: aponta sugestões para situações específicas, vividas por professoras/
es da Educação Infantil em suas turmas;
30

f) Adaptação/inclusão: apresenta possíveis inclusões ou adaptações da ideia


inicial da prática pensadas pelas professoras, com o intuito de alcançar a
realidade das crianças presentes em diversos centros de Educação Infan-
til brasileiros.

Desejamos que os saberes aqui partilhados auxiliem professoras/es no cotidiano


das salas de aula, proporcionando a reflexão sobre o brincar na rotina da Educação
Infantil e a importância de repensar práticas pedagógicas a partir do contexto e rea-
lidade das crianças, reconhecendo-as como participantes ativas no processo social e

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transformando o aprendizado em algo divertido e significativo.
Entendemos que estas ações contribuem com a valorização da construção da
identidade social positiva das crianças negras e quilombolas, partindo do pressuposto
de que as práticas foram pensadas a partir de brincadeiras que compõem o contexto
cultural e social de crianças e professoras quilombolas.
CAPÍTULO 4
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Aline de Assis Santos

4.1 Contação de história: minha rua era assim!


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Objetivos de aprendizagem

• Transmitir ensinamentos e memórias da cultura através da con-


tação da história da localidade/comunidade do/a leitor/a ou de
outras localidades/comunidades;
• Registrar, por meio de desenhos, as histórias ouvidas;
• Manusear imagens, artefatos e documentos compartilhados pelas/os mais
velhas/os, que tratem da história local.

Justificativa

A contação de histórias na Educação Infantil é de suma importância para o estí-


mulo da imaginação e apropriação de palavras, bem como para o desenvolvimento
físico, emocional e socioafetivo das crianças. A prática auxilia a/o educanda/o a
construir e valorizar identidades culturais via memória oral.
Nas comunidades quilombolas, o respeito à ancestralidade se configura como
uma pertença e, desde muito cedo, as crianças aprendem a tomar a benção, cumpri-
mentar as/os mais velhas/os e ouvir o que elas/eles têm a contar. Com a contação de
histórias podemos abordar diferentes campos de experiência da vida cotidiana das/os
educandas/os. Aqui, através do reconhecimento da rua em que moram, trabalhamos
a identidade.

Recursos

Fotografias; desenhos; folhas de papel ofício; lápis de cor; giz de cera; depoi-
mentos das/os mais velhas/os que residiram ou residem na rua onde a criança mora.

Desenvolvimento da proposta

Solicite às crianças que coletem, com o apoio de familiares, fotos, desenhos,


depoimentos orais ou escritos, artefatos etc., a respeito da rua em que moram. É
importante que haja uma foto ou, pelo menos, o nome do/a morador/a mais antigo/a
que atuou como fonte. Esses elementos podem ser agrupados por rua, se houver
crianças que morem na mesma rua.
32

Com as crianças sentadas em roda, faça a contação da história, sempre usando


frases que contenham o nome do/a morador/a mais antigo/a que forneceu os dados,
por exemplo: “Sr. Zulu me contou que a rua em que (nome da criança) mora era
assim”. Conte a história utilizando as imagens, depoimentos e registros obtidos
pelas crianças.
Durante a prática, entregue às crianças a imagem do/a morador/a e os demais
registros, para que possam tocá-los e vê-los de perto. Observe atentamente as reações
das/os pequenas/os, o modo como manuseiam os objetos e os possíveis comentários
que farão a respeito.

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Ao final, oferte a cada uma delas uma folha de papel ofício, a fim de que trans-
formem em desenho o que ouviram e viram na hora da historinha.

4.2 Dançando ao som do samba de roda

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer a história do samba de roda;


• Identificar musicistas, cantadores/cantadoras e sambadores/sambadei-
ras locais;
• Conhecer e perceber o ritmo no próprio corpo e nas canções;
• Descobrir a dança realizada em grupos de samba das comunidades qui-
lombolas como uma nova possibilidade de linguagem corporal;
• Exercitar a criatividade, imaginação e expressividade através de coreo-
grafias elaboradas e/ou improvisadas pelas próprias crianças;
• Reproduzir gestos e movimentos realizados pelos colegas de sala.

Justificativa

Através da dança, a pessoa pode descobrir seu próprio corpo, desenvolvendo


e ampliando seus movimentos, interagindo com o ambiente e expressando senti-
mentos e ideias. A respeito das relações inter-raciais e interétnicas e do convívio
social, dançar possibilita que as crianças colaborem e interajam umas com as outras.
A dança sempre está associada à música e ao ritmo que evidencie a cultura de uma
dada comunidade.
Dentre os ritmos possíveis de serem trabalhados na Educação Infantil, desta-
camos o Samba, que tem sua origem na cultura africana, perpassando a história da
África e a do Brasil.

Recursos

Livro de historinha sobre o samba; imagens de tocadores de samba, de samba-


dores e sambadeiras; aparelho de som; CD com músicas de sambas para as crianças;
vídeos com sambas para as crianças.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 33

Desenvolvimento da proposta

Esta atividade acontece, do começo ao fim, com as crianças organizadas em


roda. Conte a história do samba por meio de uma historinha, ou, se estiver em uma
comunidade onde haja grupos de samba, de uma história do samba da comunidade,
apresentando imagens das/os personagens locais.
Concluída a contação, reproduza um vídeo ou toque um CD de sambas e peça
aos pequenos/as que dancem do jeito que souberem. Em seguida, indique uma criança
de cada vez para fazer um movimento que as demais deverão repetir.
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Por fim, estimule a continuidade da dança no ritmo do samba, permitindo que


as crianças se deem as mãos, batam palmas e movam o corpo à vontade.

Dica

Se possível, apresente os vídeos 100 anos de samba: uma viagem pela histó-
ria (2018) e Mart’nália – Samba para as Crianças – Batuque na cozinha (2011),
disponíveis no YouTube.

4.3 As folhas da minha comunidade

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer as folhas existentes na comunidade e suas denominações;


• Identificar variados usos das folhas;
• Explorar movimentos de preensão e manipulação.

Justificativa

Uma das mais importantes características dos territórios quilombolas é a pre-


sença de vegetação nativa e de folhas originárias de plantações, nos quintais das
casas e jardins da comunidade, feitas pelos ancestrais ou contemporâneos. Essas
folhas são empregadas para diferentes fins, como a alimentação, ornamentação de
ambientes, rezas e banhos.
Utilizar as folhas para apreciação, manuseio e pintura auxiliará a criança a
desenvolver ou aprimorar os movimentos de preensão e manipulação, bem como
a atenção e a coordenação motora fina, através do respeito ao limite do traçado do
desenho que será pintado.

Recursos

Folhas coletadas pelas crianças; papel ofício; tinta guache; giz de cera; pincel.
34

Desenvolvimento da proposta

Encaminhe para a casa da criança uma solicitação de coleta de um a dois tipos


de folhas, acompanhada de uma ficha a ser preenchida com o nome popular da folha
e a forma como ela é comumente utilizada pela comunidade.
Com as crianças organizadas em roda, apresente as folhas e leia, em voz alta, os
nomes, cores e finalidades que elas têm. Peça, em seguida, que as crianças peguem
as folhas das quais mais gostaram.
Inicie o momento de pintura e prensa das folhas utilizando o papel ofício. A

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criança deve usar uma das folhas por ela coletada.

Dica

Caso necessário, ofereça às crianças desenhos impressos de folhas variadas.

4.4 Plantando o que a comunidade dá

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer técnicas de plantio;


• Otimizar o equilíbrio e movimentação das crianças;
• Observar as ações das crianças no aprimoramento do desenvolvi-
mento cognitivo.

Justificativa

O cultivo para a subsistência e preservação das espécies vegetais das comu-


nidades quilombolas se configura como forma de respeito às tradições e heranças
dos antepassados. Para além do respeito à história local, plantar representa uma
ação voltada para a sustentabilidade, o que, consequentemente, nos leva a pensar
a coletividade.
Dessa forma, tal prática se constitui como um modo de ensinar à criança a valo-
rizar a história ancestral a partir do conhecimento das espécies que são cultivadas na
sua comunidade. Ensina, também, a respeitar a natureza por meio do acompanhamento
do processo de crescimento da planta, cuidado que cria a noção de responsabilidade
e a consciência da necessidade de preservação do meio ambiente.

Recursos

Semente de feijão verde, ou de outro feijão acessível à comunidade; algodão;


copo descartável.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 35

Desenvolvimento da proposta

Explique à criança o processo de plantio e as etapas do desenvolvimento da


planta. Juntas/os, coloquem o algodão umedecido no copo descartável e a semente
de feijão. Todos os dias, assim que a criança chegar à escola, oriente-a a umedecer
o algodão. Após a germinação, permita que ela leve a plantinha para casa, a fim de
que possa acompanhar o processo de crescimento.

4.5 Amarelinha do quilombo


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Objetivos de aprendizagem

• Desenvolver a consciência corporal e o equilíbrio ao pular com os dois


pés ou com um pé só;
• Respeitar regras de jogos e brincadeiras;
• Contar de 1 até 10.

Justificativa

Pular amarelinha é uma brincadeira que envolve o estímulo ao pular, se movi-


mentar e equilibrar. Em comunidades quilombolas, ela remete, sempre, à concepção
de coletividade, parceria e união, elementos que nos direcionam a refletir acerca da
filosofia Ubuntu. Tratar bem o próximo, aceitar e respeitar o semelhante devem ser
regras primordiais para viver em sociedade. Por esta razão, a prática da amarelinha,
aqui, está focada em proporcionar a parceria entre as crianças.

Recursos

Giz de cera; fita crepe; fita isolante; giz de quadro.

Desenvolvimento da proposta

Explique às crianças a seguinte regra: fazendo referência à filosofia Ubuntu,


elas devem pular a amarelinha juntas, de mãos dadas, até chegarem à casa final,
que aqui não se chama céu, mas, sim, amor ao próximo. Caso a dupla solte as mãos
durante o trajeto, deve voltar ao início e recomeçar. Ao chegar à casa final, a dupla
troca um abraço.
Risque no chão cinco pares quadrados, retangulares ou circulares, e numere-os.
Em voz alta, para que as crianças ouçam, conte os números de um até dez. Inicie
a brincadeira.
36

Dica

Se o número de crianças da turma for ímpar, convide um/a colega de outra turma.

4.6 Pula círculos no chão

Objetivos de aprendizagem

• Incentivar as crianças a pularem em círculos;

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• Desenvolver lateralidade através do pular de frente e lateralmente;
• Aprimorar a agilidade e flexibilidade da criança ao dar saltos e pulos.

Justificativa

Os círculos têm fundamental importância para a sociedade africana, sobretudo


se levarmos em conta o conceito de Sankofa, que trata de circularidade e da impor-
tância do retorno ao passado. Na Educação Infantil, brincadeiras com movimentos
do corpo e círculos possibilitam o desenvolvimento e aprimoramento da coordenação
motora, lateralidade ao pular de um lado para o outro e agilidade.

Recursos

Bambolês coloridos; giz colorido ou um material riscante acessível, como peda-


ços de carvão vegetal, ou de cacos de telha e de blocos de construção.

Desenvolvimento da proposta

Com as crianças organizadas em roda, explique que a brincadeira consiste


em pular nos círculos, que podem ser dispostos (caso sejam usados bambolês) ou
riscados (caso sejam usados giz ou pedaços de telha ou de carvão) um em frente ao
outro, ou lado a lado. Demonstre os movimentos que devem ser feitos nos círculos
e, posteriormente, observe a mobilidade e reações das crianças ao realizarem os
movimentos sugeridos.

Dica

Se for possível, toque uma música que fale sobre círculos.

4.7 Brincar de correr: caçada às cores

Objetivos de aprendizagem

• Desenvolver a força muscular;


NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 37

• Estimular a formação óssea da criança;


• Aperfeiçoar a coordenação motora ampla;
• Dialogar com as crianças sobre a diversidade de cores da pele humana;
• Refletir acerca da importância do respeito às diferenças.

Justificativa

Correr é uma atividade desenvolvida de forma natural pelas crianças, desde que
não possuam limitações motoras. Na Educação Infantil, correr pode ser uma ação
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lúdica ou competitiva. Direcionar o ato de correr para uma ação lúdica possibilitará
ao/à educador/a observar as habilidades que as crianças já estão desenvolvendo no
estágio de aprendizado em que se encontram.

Recurso

Uma área ampla e livre de obstáculos, onde seja possível correr com segurança.

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda e reproduza um vídeo cuja temática seja a diver-


sidade de cores da pele humana. Após a exibição, enfatize as cores vistas, espalhe
pelo ambiente diferentes elementos com tais cores e dê um comando para que as
crianças corram e encontrem o elemento de uma determinada cor.

Dica

Se desejar, use o vídeo com a historinha Menino de Todas as Cores (2003),


disponível no YouTube.
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CAPÍTULO 5
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Geisa das Neves Giraldez

5.1 Bolinha de Sabão


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Objetivos de aprendizagem

• Aprender modos de ser e estar no mundo a partir da sabedoria africana;


• Perceber a respiração como ferramenta de bem-estar;
• Desenvolver brinquedos com elementos da natureza.

Justificativa

A respiração é a rainha do corpo.


(Provérbio iorubá)

A sabedoria africana ensina sobre variados modos de ser e estar no mundo. O


provérbio iorubá supracitado, por exemplo, nos mostra a respiração como função vital
organizadora do organismo humano. Estar confortável no próprio corpo é fundamental
para o bem-estar e a capacidade de aprender. Respirar adequadamente tranquiliza,
harmoniza e faz bem à saúde; uma respiração consciente proporciona maior concen-
tração e foco e acalma em momentos de irritação e tristeza, constituindo-se, assim,
como uma tecnologia de bem viver.
Mas como falar sobre respiração consciente a crianças bem pequenas? A
bolinha de sabão presta grande auxílio nesta tarefa, pois fazê-la exige, de forma
lúdica, um sofisticado exercício de respiração. A brincadeira opera na sensibilidade
e na concentração, a fim de que haja força e delicadeza suficientes para formar
as bolinhas.
E aqui, nesta proposta, vamos brincar de conhecer a respiração consciente de
uma maneira muito interessante: fazendo bolinhas de sabão com galhos de mamona.
Transformar um galho de mamona em canudo é um momento em que as crianças
suspiram e se encantam com as possibilidades da natureza.
A mamona é uma espécie comum em restingas, beiras de estrada, florestas
e cerrados. Ela está presente em diversas paisagens e regiões do nosso país, e nos
oferece recursos que são concebidos como tradicionais brinquedos da natureza: suas
bolinhas cheias de espinhos e, conforme já vimos, seus galhos vazados.
40

Recursos

Cabos de mamona ou canudos de papel; água; detergente ou sabonete


líquido; copos.

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda e fale a respeito do movimento de aspirar e soprar


e do povo Iorubá (lembrando ser este o povo que nos ensina que a respiração é uma

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rainha capaz de acalmar o corpo).
Uma sugestão interessante: peça às crianças que, no momento de fazer as boli-
nhas, brinquem de cheirar a flor e assoprar a vela, e que prestem atenção a como se
sentem depois (se se sentem, por exemplo, mais calmas, ou se ficam com vontade
de deitar ou desenhar). “E depois de assoprar, dá vontade de fazer o quê?” Importa
esmiuçar sensações e possibilidades a partir da fala das crianças acerca dos efeitos
da respiração consciente.
Agora, as crianças irão, finalmente, brincar de respirar com a beleza das boli-
nhas de sabão. Oriente-as no corte dos galhos de mamona e no preparo da mistura
da água com o sabão líquido.

Dicas

• A proposta pode ser enriquecida com histórias sobre sentimentos, como


aquelas contadas pelos livros O Menino Nito, de Sonia Rosa (2016), e
Quando Sinto Que Sinto, de Lázaro Ramos (2019). Essas são opções de
literatura que falam sobre o sentir.
• Localize a Nigéria no mapa, país onde vive a maior parte do povo Iorubá.
Também faça referência a itans, lendas da mitologia Iorubá. Para isso,
você pode contar também com o auxílio do livro Omo Obá, de Kiusam
de Oliveira (2009).

5.2 Cozideira, cozinhar é uma brincadeira

Objetivos de aprendizagem

• Ampliar o repertório de sabores;


• Conhecer a partir dos sentidos;
• Experienciar a transformação dos alimentos;
• Fazer uso social da leitura e escrita;
• Trabalhar medidas e quantidades;
• Trabalhar a coordenação motora por meio do preparo dos alimentos;
• Ampliar o conhecimento de mundo a partir das palavras pesquisadas.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 41

Justificativa

Cozinhar é uma atividade que mobiliza diversos conhecimentos, como o dos


pesos, medidas e origem dos alimentos, do preparo dos pratos, da nutrição do corpo
e da química que transforma cru em cozido, gerando novas texturas, cores e odores.
É um modo encantador de aprender a respeito de processo, tempo e multiplicidade
de perspectivas. A comida nutre, conta sobre memórias afetivas, tem nome e modos
de preparo diversos, que variam de acordo com a região onde é apreciada, exige o
conhecimento de medidas e suas receitas carregam o uso social da escrita. Cozinhar,
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portanto, permite caminhar por diversos saberes e é um delicioso modo de aprender a


partir da multiplicidade presente na escrita, na matemática e na história do alimento.

Recursos

Tapioca; leite; açúcar; coco; chá de hibisco; laranja; essência de baunilha; hor-
telã; mapa-múndi; internet.

Proposta de desenvolvimento

Prepare com as crianças um cuscuz de tapioca e uma bebida típica do Senegal,


de belíssima cor, chamada jus de bissap, feita com chá de hibisco, laranja, hortelã e
essência de baunilha. Organize as/os pequenas/os em roda, apresente o mapa-múndi e
pergunte-lhes o que sabem sobre os lugares que os mapas mostram, o que já ouviram
e viram a respeito. Ouça atentamente as impressões compartilhadas por elas/eles.
No segundo momento, fale a respeito das palavras viajantes (palavras como
acarajé, vatapá e cuscuz), apresente os ingredientes do cuscuz, revele a origem do
nome deste alimento e aponte, no mapa, a região de onde ele veio. Por fim, aponte
também o Senegal, país em que jus de bissap é consumido, e oriente o preparo desta
bebida e o do cuscuz de um modo que as crianças possam ter alguma autonomia
para cozinhar.

Dica

Escrever a receita e buscar o nome de alguns dos ingredientes em embalagens


pode ser bem divertido. Tente!

Ampliação

Proponha às crianças uma pesquisa sobre o hibisco, a fim de que descubram,


entre outras possibilidades, quais são as cores de suas flores e os benefícios do chá
dessa planta para a saúde.
42

5.3 Paleta da natureza

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer modos de estar no mundo a partir de povos do rio Omo;


• Conhecer a partir dos sentidos;
• Experienciar a transformação da terra;
• Trabalhar a coordenação motora fina.

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Justificativa

A pintura é uma das expressões mais antigas de que temos registro. É uma
atividade que desenvolve a motricidade das crianças, pois exige que elas encontrem
equilíbrio entre o manuseio do corpo firme do pincel e o deslizar das pontas macias
de pelos, no papel. Isso proporciona um sofisticado exercício que alterna força e
delicadeza. Divertidamente, a criança cria mundos com o pincel e trabalha a própria
coordenação motora.

Recursos

Cola branca; terra de várias tonalidades; prendedores; pincéis; água; papéis;


fotografias de crianças dos povos do Rio Omo, na Etiópia.

Proposta de desenvolvimento

Espalhe pelo espaço fotografias, viradas para baixo, de crianças dos povos do
Rio Omo, Etiópia. É possível encontrar muitas imagens na internet, nas quais as
crianças aparecem adornadas com recursos naturais como argila, flores e galhos.
Elas são uma inspiração muito interessante para a produção de tintas naturais.
Ao som de alguma música, peça aos pequenos/as que circulem pelo espaço e
virem as fotografias para cima. É importante que haja um tempo para o encan-
tamento com as imagens e para que os detalhes e materiais retratados sejam
atentamente observados.
Depois, com as crianças organizadas em roda, comece uma conversa sobre os
adornos vistos nas crianças fotografadas e pergunte para elas se sabem o material
de que são feitos. Por fim, proponha a confecção de tintas naturais, feitas de terra.
Aproveite a diversidade de tons de terra e pinte livremente, explorando a textura e
pigmentação desse elemento da natureza.

Dicas

• Para produzir as tintas, misture a cola branca com água e adicione, aos
poucos, a terra.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 43

• É possível criar tonalidades a partir de gema de ovo, colorau, curry


e açafrão.

Ampliação

Folhas e flores também estão presentes na ornamentação dos povos do rio Omo.
Considere, então, propor a confecção de carimbos feitos delas como mais um modo
de explorar as possibilidades artísticas oferecidas pelos elementos da natureza.
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5.4 Roda de canto

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer ritmos musicais;


• Ampliar o repertório de palavras;
• Conhecer a história de artistas negras/os.

Justificativa

O desenvolvimento da linguagem verbal se beneficia e amplia com o uso da


música e do canto como brincadeiras. Os sons e ritmos musicais fazem com que as
crianças aprendam, de modo lúdico, novas palavras.

Recursos

Voz; letras das canções Areia (1998) e Canto II (1982); biografia das cantoras
Dona Selma do Coco e Clementina de Jesus.

Proposta de desenvolvimento

Organize as crianças em roda, nos moldes das/os cantadoras/es tradicionais


do jongo e da capoeira, cante um trecho da canção e peça a elas que respondam e
repitam, a fim de que aprendam a letra de modo tradicional. Use duas canções: Areia,
de Dona Selma do Coco, e Canto II, de Clementina de Jesus. Apresente as cantoras
à turma por meio de fotos e da contação da biografia de cada uma delas.

Areia
(Selma do Coco)
Lá no mar tem areia
(areia)
Areia no mar
(areia)
Que Areia boa
(areia)
44

Pra gente peneirar


Quando eu pensava que era um
(era um babado só)
Quando eu pensava que era dois
(era um babado só)
Quando eu pensava que era três
(era um babado só)
Quando eu pensava que era quatro
(era um babado só)
Quando eu pensava que era um

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(era um babado só)
Quando eu pensava que era dois
(era um babado só)
Quando eu pensava que era três
(era um babado só)
Quando eu pensava que era quatro
(era um babado só)

Canto II
(Clementina de Jesus)
Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino
Parente de quiçamba na cacunda
Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai
Ô parente, pro quilombo do dumbá (x2)
Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino
Parente de quiçamba na cacunda
Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai
Ô parente, pro quilombo do dumbá (x2)
Ê, chora, chora gongo, ê dévera, chora gongo chora
Ê, chora, chora gongo, ê cambada, chora gongo chora
Muriquinho piquinino, muriquinho piquinino
Parente de quiçamba na cacunda
Purugunta aonde vai, purugunta aonde vai
Ô parente, pro quilombo do dumbá (x2)
Ê, chora, chora gongo, ê dévera, chora gongo chora
Ê, chora, chora gongo, ê cambada, chora gongo chora

Dica

Quando julgar oportuno, crie cartazes com as letras das cantigas. Sempre que
usá-los, aponte para os versos enquanto canta e convide as crianças para a cantoria.
O intuito, aqui, é o de que elas exercitem a prática de relacionar o que é falado com
o que está escrito, mobilizando o que já conhecem do sistema de escrita.

Ampliação

Pesquise, com a turma, o modo como o ritmo coco é dançado.


NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 45

5.5 Brincar de Roda

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

• Conhecer ritmos musicais;


• Ampliar o repertório de palavras;
• Ampliar a consciência do próprio corpo.

Justificativa
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As brincadeiras de roda orientam, são parte da cultura brasileira e um dos nos-


sos patrimônios imateriais. Elas constituem uma das marcas da infância e um modo
de aprender através do corpo. É interessante destacar, ainda, que são brincadeiras
que têm forte influência africana, presente na forma circular e no ritmo das cantigas
entoadas durante a sua prática.

Recurso

Um corpo animado!

Proposta de desenvolvimento

Organize as crianças em roda, nos moldes das/os cantadoras/es tradicionais do


jongo e da capoeira, e cante, com elas, um trecho da canção. Peça que respondam e
repitam o movimento e a canção; a música é animada e convida as crianças a mexer
com todo o corpo. Use os dois brinquedos cantados a seguir; um deles, Pipoca (2020),
está disponível no YouTube.

Canção de domínio popular


Mexa os olhos como Merici (mexer os olhos para um lado e para o outro)
1, 2 merici
Mexa a cabeça como Merici (mexer a cabeça de um lado e para o outro)
1, 2 merici
Mexa os braços como Merici (mexer os braços para cima e para baixo)
1, 2 merici
Mexa o bumbum como Merici (mexer o quadril para um lado e para o outro)
1, 2 merici
Mexa as pernas como Merici (balançar as pernas para frente)
1,2 merici
Mexa o corpo todo como Merici (mexer o corpo todo pulando)
1, 2 merici
46

Pipoca
(Domínio popular)
Uma pipoca falando na panela
Outra pipoca começa a responder
Aí começa um grande falatório
E ninguém conseguem se entender
É um tal de ploc, ploc, ploc,
É um tal de ploc, ploc, ploc (durante o ploc pular feito pipoca)

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5.6 Fazer comidinha

Objetivos de aprendizagem

• Desenvolver brinquedos com elementos da natureza;


• Desenvolver a motricidade;
• Ampliar o contato com a natureza;
• Estimular a imaginação com a criação de pratos;
• Desenvolver a coordenação motora fina a manipulação dos ingredientes
das receitas;
• Usar socialmente a leitura e escrita com o registro das receitas;
• Escutar as crianças.

Justificativa

É comum vermos as crianças brincando de fazer comidinhas e festas. Essa pode


ser uma oportunidade de elaborar o cotidiano a partir da dramatização.
A brincadeira com comidinha proporciona experiências diversificadas para as
crianças através do contato com odores, cores e texturas. A prática é um dos ofícios
da infância. Quem nunca assoprou um bolo de “mentirinha” a pedido de uma criança?

Recursos

Terra; água; sementes; folhas; galhos; cascas; flores; potes plásticos; celular ou
câmera para registros; um caderno; lápis.

Desenvolvimento da proposta

Em um espaço ao ar livre, peça às crianças que preparem, nos potes plásticos,


“refeições” com as folhas, sementes e terra. Em seguida, sirva o banquete e registre
os pratos fotografando-os e anotando a receita de cada um deles em um caderno.
Aproveite o momento de escrita das receitas para registrar, também, as percep-
ções de mundo tidas pelas crianças a partir das suas invenções culinárias.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 47

5.7 Corrida: quem vai ser o Usain Bolt?

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer os limites do corpo;


• Exercitar habilidades motoras;
• Conhecer personalidades negras da diáspora;
• Desenvolver a coordenação motora.
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Justificativa

A corrida é uma das atividades favoritas das crianças. Elas se sentem convidadas
a correr quando estão em espaços amplos, divertindo-se com as possibilidades do
corpo, com o exercício de frear, desviar e equilibrar. Alguns dos benefícios da prática
à saúde das/os pequenas/os são o fortalecimento da musculatura, desenvolvimento
da flexibilidade e aperfeiçoamento da coordenação motora.
Além disso, trabalhar essa brincadeira cria a oportunidade de apresentar às
crianças alguns dos grandes ídolos negros do esporte, como o atleta jamaicano
Usain Bolt.

Recursos

Espaço para correr; celular ou uma câmera para fazer registros.

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda e apresente a elas a biografia do atleta jamaicano


Usain Bolt, que tem como marca registrada um jeito muito espirituoso de ser. Para
guiar a brincadeira, use uma emblemática foto do atleta, em que ele aparece correndo
e sorrindo.
Inicie uma disputa entre grupos pequenos, de até cinco crianças, e oriente outra
criança a fazer os registros com o celular. Esta deve ficar a postos e pertinho da linha
de chegada, a fim de fazer o registro com o qual será possível apontar o vencedor,
que será aquela/e que, sorrindo, passar mais velozmente pela câmera, ultrapassando
a linha de chegada.

Dica

Bolt nasceu no país do Reggae e aparece sorrindo em fotografias tiradas instan-


tes antes de vencer as corridas, como se o jogo estivesse ganho. Essas informações
podem ser comentadas durante a conversa sobre a biografia do atleta.
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CAPÍTULO 6
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Márcia Lúcia Anacleto de Souza

6.1 Carrinho com lençol


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Objetivos de aprendizagem

• Estabelecer e/ou fortalecer as interações entre as crianças e entre elas e


os adultos;
• Proporcionar experiências que instiguem a imaginação por meio dos gestos
e do faz de conta;
• Fortalecer a confiança das crianças em sua própria autonomia;
• Explorar movimentos corporais e a expressão gestual e verbal.

Justificativa

As crianças dos Quilombos São Brás e Monte Recôncavo, na Bahia, realizam


uma brincadeira que atravessa povos e gerações: o carrinho com lençol. A criança,
sentada ou deitada em um lençol, ou em pedaço de tecido, é transportada por outra
ou por um adulto ao som de carros, caminhões, ônibus e outros meios de trans-
porte terrestre.
O carrinho proporciona o fortalecimento da confiança nas relações infantis
(da confiança da criança em si mesma e nas outras), e a possibilidade de explorar e
conhecer o mundo por meio das experiências motoras de puxar, deslocar-se no espaço,
constatar obstáculos e comparar pesos e volumes. É também uma brincadeira que
ressignifica o tecido pela imaginação, estimulando a criatividade e a comunicação
por meio da fala, da sonoridade e da gestualidade.

Recursos

Tecidos diversos, suficientemente grandes, nos quais a criança possa sentar ou


deitar e ser puxada sem o risco de cair ou sofrer um tombo.

Desenvolvimento da proposta

A brincadeira pode ser apresentada em diferentes tempos e espaços da rotina.


É importante que, antes de realizá-la, o espaço esteja livre de móveis ou objetos que
dificultem o deslocamento. Peça à criança que sente ou deite no tecido de modo a
50

deixar que uma parte dele fique livre, a fim de que seja utilizado para o deslocamento.
Cuidadosamente, puxe o tecido, transformando-o em um carrinho, e reproduza sons
parecidos com os de meios de transporte como carros, caminhões etc.
Durante a brincadeira, interaja com a criança por meio de um olhar confiante
e do diálogo acerca da experiência vivida. Finalizada a corrida, deixe os tecidos à
disposição das/os pequenas/os e observe suas brincadeiras livres.

Dica

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Monte uma caixa com tecidos de diferentes cores e texturas, que possam ser
manuseados à vontade pelas crianças em diferentes momentos lúdicos. Assim, além
de explorarem a brincadeira em si, poderão vivenciar novas experiências e expressar
saberes já adquiridos acerca do material.

6.2 Roda-roda de ontem e hoje

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer e valorizar histórias narradas sobre brincadeiras de roda, a partir


da própria família e comunidade quilombola;
• Ampliar as interações entre as crianças e entre elas e os adultos por meio
da oralidade, da musicalidade e do movimento expressivo-corporal;
• Apreciar experiências lúdicas sensoriais, expressivas e corporais na inte-
ração com a música e a dança;
• Conhecer e valorizar manifestações e tradições culturais afro-brasileiras.

Justificativa

Brincar de roda-roda proporciona às crianças importantes experiências corporais,


expressivas e sensoriais. A roda simboliza união, coletividade, busca de objetivos
comuns em horizontalidade e diálogo, e está muito presente nas brincadeiras das
crianças quilombolas, atravessando a história de muitos quilombos e da população
negra brasileira. Ela simboliza um importante valor civilizatório afro-brasileiro, a
circularidade, e se faz presente quando pessoas se reúnem para ouvir histórias, nas
rodas de capoeira, no samba de roda, no jongo e em festas populares.
Estar em roda é estar junto, em movimento, em escuta. Representa, também,
a possibilidade de ouvir e falar, reconhecer o outro e ser reconhecido, cantar histó-
rias, celebrar a vida. Brincar de roda é cantar, bater palmas, segurar a mão do outro,
movimentar-se, interagir. Trata-se de uma proposta pedagógica que alcança diferentes
espaços e momentos do cotidiano da Educação Infantil, aproximando crianças de
todas as idades, famílias e educadoras/es da escola.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 51

Desenvolvimento da proposta

Peça às crianças que proponham e demonstrem as brincadeiras de roda que já


conhecem. Amplie as possibilidades apresentadas por elas com o uso de cantigas
populares e letras de sambas de roda da comunidade a qual pertencem. Para a Roda-
-roda de ontem e hoje, envie um convite para a família de cada criança, a fim de que
algum familiar ou responsável compareça à escola e narre brincadeiras de sua própria
infância, dentre elas, de preferência, brincadeiras de roda.
Se possível for, propicie que as crianças e os adultos brinquem de roda juntos
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e, com a devida autorização, produza registros desse momento por meio de gravação
de vídeo ou áudio.

Dicas

• Leve instrumentos musicais para a roda, como pandeiro, reco-reco, agogô


e tambores.
• Partilhar narrativas das famílias acerca de suas experiências lúdicas é uma
forma de aprofundar o conhecimento das histórias das comunidades e
ampliar a interação e o diálogo entre escola, família e criança. Conhecer,
reconhecer e valorizar as brincadeiras que ocorrem nos quilombos, e que
perpassam o cotidiano das famílias das/os pequenas/os, contribui para a
garantia da qualidade da Educação Infantil. Sendo assim, pode ser muito
interessante produzir registros desses momentos. Com a devida autorização
das/os colaboradoras/es, faça fotografias, vídeos e áudios, para constituir
um portfólio de brincadeiras de roda conhecidas pela sua turma.
• Há dois vídeos disponíveis no YouTube que podem ser apresentados às
crianças, para que conheçam os ritmos das brincadeiras de roda do con-
tinente africano: Roda Africana (2013) e Samba de Roda do Recôncavo
Baiano (2018). A dimensão lúdica, os movimentos e sonoridade presentes
em ambos podem ampliar as propostas educativas.

6.3 Um brinquedo de girar: corrupio de papelão

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer e apropriar-se de brinquedos presentes em comunida-


des quilombolas;
• Ampliar as experiências de criação por meio da expressão plástica e manu-
seio de diferentes materiais;
• Fortalecer a confiança e a autonomia na produção artística e no brincar;
• Criar objetos lúdicos a partir de materiais diversos;
• Propiciar o manuseio de diferentes materiais com segurança e autonomia.
52

Justificativa

A prática de construir o próprio brinquedo faz parte da vida de muitas crian-


ças quilombolas, atravessa gerações e está presente nas memórias de adultos. Estes
recordam dos brinquedos que construíam a partir de elementos da natureza, como
gravetos, pedras, folhas, sobras de papéis, plásticos e embalagens. Crianças compar-
tilham com as/os mais velhas/os e educadoras/es com os quais convivem as etapas
de produção de seus brinquedos e como estes funcionam.
Construir objetos lúdicos é uma ação infantil que evidencia o quanto a criança é

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um sujeito social, protagonista de sua cultura. Além disso, nas instituições de Educa-
ção Infantil, define-se a importância do planejamento de tempo, espaços e materiais
que ofereçam às crianças a possibilidade de construir objetos brincantes, e vivenciar
expressões estéticas de culturas e grupos, como as das comunidades quilombolas.
Na brincadeira de corrupio, presente no cotidiano das crianças do Quilombo
Monte Recôncavo, aprendemos sobre sua elaboração, as habilidades exigidas no
manuseio dos materiais e do brinquedo, e sobre autonomia e confiança em si mesmo.
Preso em uma linha entrelaçada nos dedos das mãos, um quadrado de papel gira
sobre seu próprio eixo e surpreende a criança. É um brinquedo de girar e rodopiar,
cujo processo de construção é aprendido entre pares e em parceria com os adultos.
Por isso, proporciona momentos de troca e circularidade de saberes pautados na
oralidade e na memória do brincar.

Recursos

Tesoura; 1 m de barbante, aproximadamente; papel espesso ou papelão recor-


tados em formato de quadrados, medindo 10 cm x 10 cm; tintas coloridas, lápis de
cor e/ou giz de cera de cores variadas.

Desenvolvimento da proposta

Reúna as crianças em roda e dialogue com elas sobre brincadeiras e brinque-


dos que conhecem, a fim de criar uma lista de saberes acerca do brincar e, também,
apresentar o corrupio de papelão e propor a confecção deste brinquedo.
Entregue às crianças os quadrados de papelão e peça que pintem à vontade,
utilizando os recursos listados (caso utilizem tinta, é importante lembrar que devem
aguardar a secagem da pintura). No centro do papelão, faça um furo de diâmetro cor-
respondente ao espaço necessário para a inserção de dois fios do barbante. Introduza
as duas pontas do fio de barbante no orifício do papelão e, em seguida, prenda-os.
Posicione o papelão no centro dos dois fios de barbante amarrados. Em seguida,
insira os dedos das mãos entre dois fios de uma extremidade do corrupio, faça o
mesmo na outra extremidade. Abra os braços até que os fios estejam esticados e o
papelão ao centro. Reduza a abertura dos braços e gire o papelão sobre ele mesmo
(note que o fio de barbante se enrola). Em seguida, faça o movimento de abrir e fechar
os braços, observando que o fio encolhe e estica enquanto o papelão gira.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 53

Dicas

• É possível substituir o quadrado de papelão por tampinhas de alumínio


ou de garrafa PET.
• Esta atividade tem o potencial de levar à criação de projetos com as crian-
ças, envolvendo pesquisas que podem ser nomeadas como Brinquedos
que conhecemos, Brinquedos e Brincadeiras Tradicionais, Brinquedos
e Brincadeiras do Quilombo, Brinquedos e Brincadeiras Antigas. São
sugestões que preconizam a escuta das crianças e podem, ainda, envolver
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suas famílias e a comunidade, conforme o contexto de cada sala e turma.

6.4 Morto-vivo

Objetivos de aprendizagem

• Ampliar experiências expressivo-motoras por meio de gestos


e movimentos;
• Compreender regras estabelecidas em jogos de comando;
• Aprimorar a coordenação motora, a atenção e a concentração;
• Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura;
• Conhecer, reconhecer e valorizar brincadeiras presentes em comunida-
des quilombolas;
• Ampliar os saberes acerca de noções de deslocamento do corpo no espaço
(como alto, baixo, agachar, levantar, pular, saltar, girar).

Justificativa

As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil devem ter como


eixos orientadores interações e brincadeiras que promovam a ampliação de experiên-
cias sensitivas, corporais e expressivas, e situações de aprendizagem que potenciali-
zem a confiança e a participação das crianças em propostas individuais e coletivas.
A brincadeira Morto-Vivo, vivenciada pelas crianças dos quilombos São Brás
e Monte Recôncavo, propõe vivências coletivas a partir de regras previamente acor-
dadas e exercita a atenção e a coordenação motora segundo comandos anunciados.
Envolve jogo de acerto e erro, o que favorece a compreensão de aspectos da vida em
coletividade, tais como o comunitarismo, cooperatividade, participação e comunica-
ção (valores civilizatórios que organizam e atravessam a cultura e história de negros
e negras no Brasil e na diáspora).
Morto-Vivo é uma brincadeira de comandos que orientam os movimentos cor-
porais de seus participantes. As crianças quilombolas de Monte Recôncavo brincam
por meio de quatro movimentos, segundo os seguintes comandos: morto (agachar)!
Vivo (levantar)! Pipoquinha (pular)! Panela de pressão (girar o corpo)!
54

Desenvolvimento da proposta

Apresente os movimentos e reúna as crianças lado a lado e em fileiras, de um


modo que você possa vê-las. Inicie a brincadeira ensinando os comandos. A criança
que não segue os comandos deixa de participar, e a vitoriosa é aquela que permanece
na brincadeira até o fim.

Dicas

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• Comandos e movimentos corporais podem ser criados, apresentando novos
desafios às crianças, conforme aspectos presentes na cultura infantil e
na comunidade.
• Esta é uma proposta pedagógica que pode ser inserida em diferentes espa-
ços e tempos do cotidiano na Educação Infantil.

6.5 Capoeira

Objetivos de aprendizagem

• Reconhecer o próprio corpo, suas potencialidades e limites;


• Explorar movimentos e expressões corporais;
• Ampliar as interações entre crianças;
• Ampliar o repertório cultural afro-brasileiro;
• Conhecer aspectos culturais presentes na cultura local e nas comunida-
des quilombolas.

Justificativa

A Roda de Capoeira – inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão,


em 2008 – é um elemento estruturante de uma manifestação cultural, espaço e
tempo, onde se expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a
dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana
– notadamente banto – recriados no Brasil. Profundamente ritualizada, a roda de
capoeira congrega cantigas e movimentos que expressam uma visão de mundo,
uma hierarquia e um código de ética que são compartilhados pelo grupo. Na
roda de capoeira se batizam os iniciantes, se formam e se consagram os grandes
mestres, se transmitem e se reiteram práticas e valores afro-brasileiros (PORTAL
IPHAN, 2014, não paginado).

A capoeira na Educação Infantil é uma proposta pedagógica que articula as


experiências das crianças e da comunidade aos conhecimentos que fazem parte de
um patrimônio cultural da humanidade. Diz respeito a princípios éticos, estéticos e
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 55

políticos que priorizam o direito das crianças de conhecerem e valorizarem a história


e cultura africana e afro-brasileira.
A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira que envolve experiências
de conhecimento de si e do outro, a corporeidade, a ludicidade e o movimento. No
gingar do corpo, a criança brinca com movimentos de aproximação e distanciamento,
abaixar-se e levantar-se, sempre na relação com a música e a sonoridade de instru-
mentos musicais como o atabaque e o berimbau.
A capoeira é ritmo, musicalidade e oralidade, na interação e em coletivo. Sua
história aproxima memórias, o velho e o novo, a ancestralidade. Em muitos quilom-
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bos contemporâneos, como no Quilombo Monte Recôncavo, a ginga da capoeira


faz parte do cotidiano, reafirmando outras manifestações e tradições afro-brasileiras
e africanas, como o jongo, o maracatu, os sambas rurais e de terreiro, as congadas,
que devem ser parte dos currículos e propostas pedagógicas da Educação Infantil
(BRASIL, 2004).

Recursos

Folhas de papel sulfite ou cartolina; canetas hidrográficas de diversas cores;


cola; tesoura; revistas ou impressões conforme as palavras selecionadas.

Desenvolvimento das propostas

Aqui, temos duas propostas coordenadas. Primeiro, promova um diálogo entre as


crianças, famílias e comunidade, a fim de que troquem saberes. Organize as crianças
em roda e converse com elas sobre a capoeira: pergunte se têm na família alguém
que joga ou já jogou capoeira, se conhecem a luta e os instrumentos utilizados numa
roda de capoeira. Durante esse momento, pode ser muito interessante contar com o
auxílio, na explanação sobre o tema, de um membro da comunidade que conheça a
luta, e, ainda, tocar uma cantiga de capoeira ou exibir um vídeo que mostre a prática.
Depois, encaminhe às famílias uma pesquisa que levante os conhecimentos
que elas têm a respeito da capoeira, convidando-as a comparecem à escola e, assim,
compartilharem seus saberes e experiências. Pesquise na comunidade, ou na cidade,
grupos de capoeira, e busque junto a eles a possibilidade de visitarem a escola, para
apresentarem a história da capoeira, e apresentarem os movimentos, os instrumentos
e a musicalidade. Se possível, verifique junto à gestão escolar a possibilidade de
estender a recepção dos visitantes à toda a escola, com a apresentação de uma roda
de capoeira em um espaço amplo.
Por fim, dialogue com as crianças acerca dos saberes adquiridos a partir das
visitas e, atuando como um/a professor/a escriba, ou seja, como um/a professor/a
que escreve o que as crianças narram (RIGHETTO, 2007), elabore um texto coletivo
que possa ser transcrito e ilustrado pelas/os pequenas/os.
A segunda proposta é a confecção de um jogo da memória. A partir da vivência
da atividade anterior, peça às crianças que listem as palavras ouvidas na/s cantiga/s
56

de capoeira, os nomes dos instrumentos utilizados na roda e os movimentos corporais


realizados. O intuito, aqui, é registrar as palavras em uma folha de papel sulfite ou
cartolina. Depois, pesquise com as crianças o significado de cada palavra, e indague
sobre a forma como podem ser representadas através de desenhos feitos por elas,
ou por recortes de imagens de revistas ou de imagens impressas. Alguns exemplos
de palavras que podem ser utilizadas: berimbau, cabaça, agogô, pandeiro, capoeira,
mestre, ginga, cabeçada, aú, armada, maculelê, meia-lua, atabaque, pandeiro. Elabo-
rados os desenhos e obtidas as imagens, selecione aquelas que irão compor o jogo.

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Figura 1 – Instrumentos musicais

Fonte: Acervo Grupo Capoeira Artes das Gerais, de Campinas/SP.

Escreva cada palavra em dois recortes de papel de mesmo tamanho (a medida


pode ser 7 cm x 7 cm), e cole também as imagens selecionadas (duas vezes). Se
preferir, encape os cartões com fita adesiva transparente ou contact.
Agora, distribua os cartões em uma mesa ou no chão, com as imagens voltadas
para cima, a fim de que as crianças possam visualizá-las e memorizá-las por alguns
segundos. Em seguida, vire os cartões para baixo, para iniciar o jogo. É impor-
tante acompanhar as crianças nas primeiras vezes que jogarem, orientando-as sobre
as regras.

Dica

Para auxiliar a execução da prática, experimente exibir os vídeos Katakuntê


capoeira Sons dos instrumentos musicais (2017) e Contação de história, Capoeira
(2018), disponíveis no YouTube.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 57

6.6 Onde você mora?

Objetivos de aprendizagem

• Utilizar diferentes materiais explorando formas, cores, dimensões;


• Expressar-se por meio do desenho e da transformação de materiais;
• Ampliar processos de interação entre pares, a partir da cooperação no uso
de materiais e espaços, compartilhando ideias, anseios, discordâncias;
• Ampliar as formas de representação através das artes plásticas;
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• Conhecer e reconhecer diferentes realidades culturais e sociais.

Justificativa

A ideia de moradia na relação com um território mais amplo envolve proces-


sos educativos que são vividos em espaços de interação e sociabilidade diversos,
como a família e a escola. “Onde você mora?” Esta pergunta, feita às crianças e às
suas famílias desde sua matrícula nas instituições de Educação Infantil, conduz ao
conhecimento de uma pluralidade de realidades sociais e culturais atravessadas por
condicionantes sociais, étnico-raciais, culturais e territoriais. Revelam, também, laços
de parentesco e amizade, história de famílias e grupos.
As crianças elaboram a ideia de moradia atrelada a lugares que a circundam,
trajetos percorridos, à comunidade da qual são parte e às relações que estabelecem
com outras crianças e adultos em tais espaços. Elas explicitam, a seu modo, saberes
sobre o bairro e a cidade que podem ser ampliados com propostas educativas que
produzam comparações, relativizações, e novas indagações.
Nas comunidades quilombolas baianas São Brás, em Santo Amaro, e Monte
Recôncavo, em São Francisco do Conde, as crianças brincam de construir casas no
desenho e na pintura, na modelagem e no uso de caixas e papéis. Quando brincam de
casinha, representam papéis sociais, em busca do conhecimento da própria cultura, do
território e da sociedade abrangente; compreendendo onde moram, envolvem-se na
criação, na imaginação, no faz de conta, enquanto interagem a partir da cooperação,
participação e expressão de ideias e sentimentos.
Construir exige das crianças saberes e conhecimentos acerca de cores, texturas,
volumes, temperaturas, pesos e medidas dos materiais usados. Neste sentido, esta pro-
posta também amplia os saberes infantis no campo da tridimensionalidade, espaciali-
dade e possibilidades de transformação de materiais, segundo suas intencionalidades.

Recursos

Caixas de papel e de papelão de tamanhos variados; papéis coloridos; cola;


tesoura; tintas e pincéis; caneta hidrocor.
58

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda para uma conversa acerca de “Onde moramos?


Onde vocês moram?”. Escute uma criança de cada vez e anote os relatos para o
desenvolvimento de outras temáticas apontadas a partir dos saberes, dúvidas e pré-
-concepções trazidas pelo grupo. Durante o papo, aborde a dimensão plural das
moradias, a proximidade, as relações de vizinhança, quais as pessoas que convivem
na mesma casa, as relações de parentesco.
Em seguida, proponha que façam desenhos de suas casas, utilizando papéis de

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tamanho A4 ou maiores, a fim de que possam se expressar livremente e explorar a
relação entre o desenho e a extensão da folha. Deixe as crianças à vontade para usa-
rem tintas e pincéis, caneta hidrocor, giz de cera e lápis de cor. Feitos os desenhos,
exponha-os em lugar que garanta a visibilidade não só das crianças da própria turma,
mas de toda a escola.
Para abordar a multiplicidade de moradias existentes, solicite às famílias que
enviem fotografias de suas casas, ou, ainda, colete imagens de revistas e sites. Procure
apresentar às crianças imagens que ilustram as diversas formas existentes de morar.
Pode ser interessante produzir um mural com as imagens obtidas e fixá-lo na parede
da sala, para que as crianças dialoguem sobre a pesquisa realizada e tragam novos
saberes e propostas de estudo.
Em seguida, proponha a construção de casas com caixas de diferentes tamanhos.
Para esta atividade, é importante acompanhar as crianças no manuseio dos materiais,
principalmente da tesoura. Esse é um momento oportuno para o conhecimento do
uso das cores primárias e secundárias, do seu uso na pintura das paredes das casas,
e também para abordar as dimensões das moradas construídas (grande e pequena,
maior e menor, leve e pesada).
Concluída esta etapa, faça uma exposição das produções numa área externa e
apresente, também, o mural de imagens. A exposição para toda a comunidade escolar
é importante para visibilizar o trabalho realizado.
Um ponto relevante da proposta é manter o registro do conjunto de saberes que
as crianças apresentaram sobre o tema, a fim de orientar os rumos do trabalho a partir
de seus interesses. Interessa, igualmente, oferecer outros materiais para a produção
artística tridimensional do grupo, tais como a mistura de terra e água, argila, massa
de modelar caseira, entre outros, favorecendo novas experiências criativas.

Dicas

• Uma proposta coletiva e a longo prazo, que pode contar com a participação
das famílias, é a construção de uma casinha da altura das crianças, feita de
caixinhas de leite. Veja como fazer no vídeo Projeto casinha com caixa
de leite (2017), disponível no YouTube.
• O livro Da minha janela (2019), de Otávio Júnior, é uma dica para sub-
sidiar a proposta. Apresenta casas concentradas em morros e aspectos
do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. É uma leitura que amplia o
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 59

estudo da diversidade de formas de morar e convida a olhar para ruas,


estabelecimentos, sedes de associações, estabelecimentos religiosos, áreas
de lazer e encontros. É possível, no caso de escolas quilombolas, propor
às crianças a representação do território em maquetes e murais que, a
partir dos relatos e observações do grupo infantil, tragam casas, quintais,
áreas de plantio, ruas e espaços de significado histórico. Aqui, adultos da
comunidade podem ser convidados a participar da proposta, colaborando
na indicação dos espaços existentes em parceria com as crianças.
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6.7 Pula papelão

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer, reconhecer e valorizar brincadeiras presentes em comunida-


des quilombolas;
• Ampliar a confiança e autonomia durante jogos e brincadeiras;
• Interagir e participar de brincadeiras coletivas;
• Explorar deslocamentos no espaço, como pular e saltar, e formas de
expressão corporal e rítmica;
• Apropriar-se de jogos e brincadeiras de sua cultura.

Justificativa

Pula-Papelão é uma brincadeira apresentada pelas crianças quilombolas do


Quilombo São Brás e Quilombo Monte Recôncavo, no ano de 2021. Como o nome
sugere, consiste em saltar toda vez que um/a jogador/a lança, em direção aos pés
da criança à sua frente, um quadrado de papelão. O objetivo é não deixar que o
papelão toque os pés, o que exige atenção e coordenação do corpo para pular no
momento certo.
Saltos, pulos, giros, são movimentos corporais livres que as crianças realizam
cotidianamente. Tratam-se de formas de expressão corporal e rítmica por meio das
quais a criança expõe a alegria da descoberta, e amplia o conhecimento de suas
potencialidades de maneira integral. Brincar de Pula-Papelão é ampliar a confiança
e a participação das crianças em uma proposta que articula o individual e o coletivo.
Uma criança que saltita com confiança ao brincar com outras aprende sobre si na
relação com a outra, na aceitação de regras previamente acordadas.

Recursos

Placas de papelão em formato quadrado (aproximadamente 20 cm x 20 cm).


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Desenvolvimento da proposta

Reúna as crianças em roda, em um local onde haja espaço suficiente para que
brinquem livres do risco de esbarrar em móveis ou objetos. Dialogue com elas sobre
as brincadeiras de pular já conhecidas. Produza um registro das brincadeiras descritas
para ampliar o repertório lúdico do grupo em momento posterior.
Escolha uma criança e demarque o lugar à sua frente, onde ela deve permane-
cer, considerando a distância necessária para o desafio de pular quando o papelão
for lançado. Inicie a brincadeira e, em seguida, proponha que elas brinquem umas

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com as outras.

Dicas

• O papelão pode ser colorido pelas crianças com o uso de tintas, canetas e
recortes de papéis coloridos.
• O registro de brincadeiras presentes na cultura lúdica infantil é uma forma
de conhecer os saberes que as crianças possuem a partir de vivências
anteriores. Um projeto envolvendo brincadeiras conhecidas por elas, e
também aquelas existentes na memória de seus familiares e da comuni-
dade, amplia as formas de acolhimento e participação de todos os sujeitos
que compõem o cotidiano da escola.
• O Projeto Território do Brincar (MEIRELLES, 2014) possui um amplo
repertório de brincadeiras existentes em diferentes regiões do Brasil, uma
delas é a brincadeira de pular corda.
CAPÍTULO 7
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Roseli Felix de Santana

7.1 Brincar de Bola


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Objetivos de aprendizagem

• Ampliar as possibilidades de movimento das crianças, contribuindo para


seu desenvolvimento, por meio do ato motor, através de atividades como
correr, chutar, lançar, jogar, passar, rolar e quicar a bola;
• Estimular o protagonismo, o direito de fazer escolhas durante as brinca-
deiras, expressando seus interesses e preferências;
• Desenvolver autonomia nas brincadeiras, nas interações/relações com os
outros, com os espaços e materiais.

Justificativa

Brincar com bola é excelente para o desenvolvimento infantil. A bola pode


ser usada desde os primeiros meses do bebê, pois ajuda a estimular vários tipos de
movimentos, como pegar, chutar, arremessar, passar o brinquedo de uma mão para
outra. Todas essas ações, além de serem divertidas, acabam estimulando o desenvol-
vimento dos sentidos e de habilidades motoras (fina e grossa).
Os bebês aprendem por meio da exploração sensorial, por isso, sempre que
tocam em um objeto e percebem que ele tem textura interessante e/ou fazem barulho,
desejam tocá-lo novamente. Oferecer bolas de cores, tamanhos e texturas diferentes,
ou, ainda, modelos que emitem sons, torna possível apurar ainda mais os sentidos
das crianças.

Recursos

Bolas de diferentes tamanhos e materiais (de pano, plástico, bola de tênis, de


basquete, de pingue-pongue etc.); um tatame ou tapete.

Desenvolvimento da proposta

Arrume o local onde será realizada a brincadeira: cubra o chão com um tatame
ou um tapete e ponha as bolas nele. Em seguida, organize o grupo de bebês próximo
às bolas, a fim de que eles se movimentem e brinquem livremente. Durante este
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momento, descreva as características das bolas, faça perguntas e dê comandos como:


“Quer a bola pequena ou a grande? Pegue a bola azul!”. Esteja sempre próximo das/
os pequenas/os, transmitindo-lhes segurança, respeite o tempo da brincadeira e de
cada bebê e preste auxílio no que for necessário.

Dica

Se na sala houver bebês bem pequenos, faça para eles bolinhas de meias
coloridas preenchidas com guizos. Coloque o guizo dentro da meia, enrole-a for-

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mando uma bolinha e costure-a, vedando muito bem para que os bebês não tenham
acesso ao guizo.

7.2 Brinquedos não estruturados

Objetivos de aprendizagem

• Favorecer a autonomia, criatividade e inventividade das crianças através


da oferta de vários objetos e materiais não estruturados;
• Promover estímulo tátil, visual e auditivo através da exploração de
tais materiais;
• Oportunizar brincadeiras individuais ou em grupo com brinquedos não
estruturados, para que a criança escolha seu papel no faz de conta, criado
ou não por ela, de forma livre e espontânea.

Justificativa

Brinquedos não estruturados são materiais variados que, através das intervenções
das crianças, podem se transformar numa infinidade de brincadeiras. Esses brinquedos
permitem um brincar livre, sem regras, gerando um ambiente favorável para criar e
construir à vontade, estimulando a criatividade, imaginação e autonomia das crian-
ças. Afinal, elas terão que manter o foco e a atenção para planejar e inventar, o que
proporciona o incremento dos estímulos sensoriais durante o uso dos materiais. Por
isso, é fundamental ampliar a exploração de brinquedos não estruturados ofertados
às crianças, pois eles estimulam o surgimento de diferentes habilidades.

Recursos

Cesto firme (de 35cm de diâmetro e aproximadamente 8cm de altura); molho


de chaves; prendedor de roupas; argolas grandes de cortinas; colher de pau; tampa
de panela; bases de rolos de papel higiênico; bolas (de tamanhos diversos); bucha
vegetal; sementes grandes típicas da região; escova de cerdas (novas); pedras
grandes sem pontas; pompons coloridos de lã; retalhos de tecidos (de diferen-
tes texturas); chocalhos; cabaças secas; rolhas; pentes de madeira ou de osso;
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apitos; carretéis; sinos; latas; caixas (de diferentes tamanhos); frutas como limão,
maçã, romã.

Desenvolvimento da proposta

Reorganize os móveis para que haja espaço suficiente para a brincadeira. Colo-
que os objetos em cestos e deixe que as crianças mexam neles à vontade, observando
atentamente como elas interagem com os objetos e apresentando-lhes algumas possi-
bilidades, como a de balançar para emitir sons, bater na tampa da panela com algum
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objeto, fazer a lata rolar, etc. É preciso permanecer onde as crianças brincam, mas
guardando uma distância devida, suficiente para acompanhar a brincadeira sem inter-
ferir nela, ação capaz de proporcionar aos pequenos/as a segurança e a autonomia
das quais tanto necessitam.

Observação

Todos os objetos devem ser resistentes a uma higienização diária, é preciso


mantê-los em bom estado e substituir aqueles que forem se deteriorando.

7.3 A minha comunidade, meu bairro, minha rua

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

• Ampliar as possibilidades de movimento das crianças através de atividades


como correr, pegar ou fugir;
• Oportunizar a compreensão de regras;
• Estimular o raciocínio estratégico;
• Exercitar deslocamentos rápidos, lentos, acelerados e desacelerados em
diferentes direções e espaços;
• Proporcionar a integração e a cooperação entre os brincantes;
• Favorecer a construção da identidade, estimulando noções de pertenci-
mento com o local onde moram;
• Identificar locais pontuais da comunidade;
• Estimular a oralidade.

Justificativa

As crianças constroem saberes através de experiências vivenciadas em diferentes


espaços. O território é um ambiente coletivo de aprendizagens e descobertas que,
quando utilizado como espaço educativo, oportuniza às crianças o conhecimento da
história do lugar em que vivem, das pessoas e seus hábitos, das manifestações típicas
locais, paisagens e edificações, gerando sentimentos de identificação e pertencimento.
A cultura local é um tema importante para as crianças, inspirando pesquisas e projetos.
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Ao propor a visitação e o registro fotográfico das ruas, prédios, igrejas, praças,


moradoras/es e aspectos curiosos da comunidade, será possível reunir um farto mate-
rial para investigação. Além disso, a rua pode ser usada como extensão da escola para
a realização de jogos e brincadeiras, principalmente as de corridas e perseguições,
como a brincadeira O/a Dono/a da Rua (ou Mãe da Rua, como também é conhecida),
que é muito simples e de poucas regras. Essa prazerosa brincadeira colabora para o
desenvolvimento da motricidade, atenção, rapidez e senso de direção das crianças.
Ela também participa do desenvolvimento cognitivo, pois pede que as/os pequenas/
os pensem em estratégias para escapar ou conseguir pegar as/os outras/os.

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Recurso

Giz.

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda e apresente o tema desta proposta, fazendo as


seguintes perguntas: vocês conhecem bem a comunidade onde moram? O que tem
na comunidade onde você mora? Quais lugares da sua comunidade você costuma
frequentar? Você brinca na sua rua? O que tem na sua rua? Destine um tempo para
que as crianças participem da roda de conversa e oriente essa participação, tentando
resolver possíveis divergências de opiniões. Depois, pergunte se conhecem a brinca-
deira Dono/a da Rua. Caso desconheçam, explique as regras e inicie a brincadeira.
Ao ar livre ou na sala, desenhe no chão duas linhas paralelas e distantes uma
da outra, cerca de 4 metros ou 4 passos, e realize a escolha da Mamãe da Rua por
meio de um sorteio. Depois, forme dois grupos. Cada grupo deverá se posicionar
atrás de uma das linhas e apenas uma criança, a mãe da rua, no meio. Todos têm que
atravessar a rua, para a calçada oposta, sem serem pegas pela mãe da rua. A criança
que for pega, passa a ajudá-la a capturar aquelas que tentam passar de um lado para
o outro. Vence quem ficar por último, sem ser pego.

Adaptação/inclusão

Será que a criança conhece cada cantinho de onde mora? Esta adaptação propõe
fotografar vários locais da comunidade onde a escola está inserida (tais como ruas,
paisagens, praça, monumentos, instituição e espaços de lazer) e desafiar as crianças a
descobrirem que lugar da sua comunidade está ali, representada naqueles pedacinhos
cheios de história, que precisam ser vistos. Transforme as fotos em adivinhas visuais.
Primeiro, selecione as melhores fotos e construa o texto das dicas. Depois, una texto
e fotos e monte as sequências de adivinhas.
Explique a atividade aos pequenos/as: conte que, a cada imagem exibida, uma
criança escolhida deve adivinhar onde fica o lugar retratado. Por fim, proponha que
fotografem suas ruas, enviem as fotos para você (que fará a impressão e uma nova
roda de conversa para a exposição) e relatem como foi a experiência.
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7.4 Brincar de Boneca/boneco

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

• Estimular a percepção de si e do outro, favorecendo a construção da diver-


sidade no grupo;
• Favorecer atitudes mais inclusivas e o respeito às diferenças;
• Incentivar os pais a participarem da vida escolar dos filhos, dando con-
tinuidade ao trabalho iniciado na escola através de cuidados ao boneco,
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que será levado para casa;


• Projetar emoções e sentimentos;
• Compartilhar, interagir e conviver com o outro;
• Estimular a construção do imaginário e da criatividade.

Justificativa

As/os bonecas/os fazem parte do importante grupo de brinquedos que contribui


para a construção da identidade e do imaginário das crianças. Brincar de boneca/o
está entre os jogos e brincadeiras de faz de conta nos quais as crianças procuram,
por meio das representação de diferentes papéis, compreender o mundo à sua volta.
É fundamental, portanto, que as/os bonecas/os reflitam a diversidade sociocultural
na qual as crianças estão inseridas, porque estar em contato com bonecas/os de
diferentes culturas, etnias e situações aumenta as chances de identificação simbólica
da criança com o objeto e suas oportunidades de desenvolvimento. Desse modo,
utilizar bonecas/os diversificadas/os nas atividades estimula o respeito às diferenças
e favorece atitudes inclusivas entre as crianças. É, também, uma maneira lúdica de
aproximar as/os pequenas/os de temas sociais importantes, como a discriminação e
o preconceito racial.
A inserção das/os bonecas/os diversificadas/os na sala de aula possibilita a
observação, pelo/a educador/a, das reações das crianças frente aos diferentes e aos
incluídos, e a identificação de visões equivocadas a respeito da imagem que as crian-
ças têm de si e dos outros, abrindo espaço à possibilidade de construção de repre-
sentações positivas.

Recursos

Bonecas/os negras/os.

Desenvolvimento da proposta

No primeiro momento, organize um espaço onde as crianças possam brincar à


vontade. Separe as/os bonecas/os e outros brinquedos (tais como roupinhas de bone-
ca/o, mamadeira, pente de cabelo, retalhos de tecidos etc.) que possam participar do
desenvolvimento da brincadeira. Em seguida, reúna as crianças e apresente a elas
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a/o nova/o amiguinha/o, pedindo que sugiram nomes para cada boneca/o. Importa,
aqui, mediar e atentar para as falas e questões suscitadas pela percepção das dife-
renças presentes nas/os bonecas/os, questionando as crianças de forma lúdica, na
perspectiva da diversidade.
Deixe as crianças brincarem livremente, observe-as e pergunte-se: quais atitudes
de cuidado demonstram ter? Elas relacionam, de alguma forma, os cuidados com as/
os bonecas/os consigo e com as/os colegas? Como as crianças expressam gestos e
movimentos da sua cultura ao cuidar do brinquedo? Quais conflitos se dão entre as
crianças durante a brincadeira? Elas utilizam alguma estratégia para resolvê-los de

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forma autônoma? Se sim, quais? Faça intervenções quando julgar necessário.

Dicas

• Visando ampliar as possibilidades de aprendizagem e criar uma relação


afetiva, avalie a possibilidade de oferecer uma oficina que ensine à criança
a construir e personificar a/o sua/seu própria/o boneca/o.
• Opte por uma matéria-prima de menor custo caso o valor do material
sugerido aqui esteja alto.
• Para facilitar ainda mais o trabalho, acompanhe o passo a passo ilustrado
para a confecção das/os bonecas/os presente no fim deste guia.
• A cola quente pode ser substituída por outra, como a de silicone, que seca
rápido e não oferece nenhum risco às crianças.

Adaptação/Ampliação

Proponha que as/os pequenas/os levem a/o boneca/o negra/o (que pode ser
chamada/o de sua/seu “nova/o colega”) para casa aos finais de semana, de modo a
aproximar as famílias do debate sobre o preconceito racial e a autoestima das crian-
ças negras. Essa prática pode criar um ambiente propício ao resgate da valorização
da identidade negra, e ampliar as possibilidades que as crianças têm de aprender a
lidar com os outros, respeitar as diferenças e conhecer mais sobre si mesmas e seus
responsáveis. Durante a semana as/os bonecas/os podem ser integradas/os à rotina
da escola e serem chamados pelos nomes dados pelas crianças.

Observações

Os moldes das roupas das/os bonecas/os devem ser feitos por você, e a pintura,
pelas crianças. Durante a confecção do cabelo, supervisione o uso da tesoura pelas
crianças e deixe a escolha dos fios a critério delas.
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 67

Figura 1 – Confecção de boneco

CONFECÇÃO DE BONECO
Materiais necessários:
Tesoura; lápis; tintas (marrom, preto, vermelha, branca, azul e verde); galhos secos; lã; pincéis; canetas
coloridas (opcional).
Como fazer um casal de bonecos
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1) Com a ajuda dos moldes, corte cada


parte duas vezes no papelão, com exce-
ção das pernas (10 cm), braços (8 cm) e
pescoço (5 cm), que devem ser feitos 2 ) Após cortar todos os
com galhos secos. 3) Sobreponha a outra parte
moldes, posicione e cole do vestido e cole.
os braços, as pernas e o
pescoço.

4) Em seguida, cole a cabeça


e os sapatos. 6) Escolha a tinta e pinte as partes
5) Para montar o boneco, siga o do corpo dos bonecos.
mesmo procedimento da cola-
gem da boneca.

7) Pinte as roupas com tintas ou


8) Faça os detalhes do rosto, como os olhos, o nariz e
canetinhas coloridas.
a boca.

Fonte: Arquivo pessoal da autora Roseli Felix.


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Figura 2 – Confecção de bonecos, segunda parte

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11) Para fazer o cabelo, vai precisar
9) O cabelo pode ser pintado, 10) Pode ser feito também de de um pedaço de papelão (12cm x
como o do boneco. lã, como o da boneca. 8cm). Enrole a lã no papelão confor-
me a imagem.

12) Após enrolar a lã, amar- 13) Retire a lã do papelão, passe co- Pode desenhar no próprio papelão ou-
re uma das extremidades. la na cabeça da boneca e cole o ca- tros modelos de cabelo e pintá-los, tam-
belo. bém.

Está pronto o casal de bonecos!

Fonte: Arquivo pessoal da autora Roseli Felix.


NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 69

Figura 3 – Moldes dos bonecos


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Fonte: Arquivo pessoal da autora Roseli Felix.


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Figura 4 – Moldes dos bonecos, segunda parte

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Fonte: Arquivo pessoal da autora Roseli Felix.


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7.5 Lagarta Pintada

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

• Conhecer diferentes gêneros orais e escritos;


• Escutar a história com atenção;
• Favorecer a ampliação do repertório oral e musical das crianças, através
das brincadeiras cantadas;
• Possibilitar, de forma prazerosa e divertida, a socialização e aproximação
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com os colegas através do contato físico;


• Estimular a coordenação motora e as noções de lateralidade;
• Explorar as possibilidades de rima e a percepção auditiva;
• Valorizar as brincadeiras tradicionais e a cultura popular.

Justificativa

A contação de histórias é um precioso e divertido meio através do qual as crian-


ças podem adquirir conhecimento e desenvolver a memória, concentração, raciocínio
e, principalmente, gosto pela leitura. Dessa maneira, usar a contação de história
para ensinar sobre a metamorfose da borboleta torna o aprendizado mais prazeroso
e mobiliza um importante recurso educativo. Indo além, pode, ainda, proporcionar
a interação das crianças com o ambiente ao redor, estimulando a investigação nos
jardins dos arredores da escola na busca pela existência de lagartas.
A Lagarta Pintada é uma brincadeira cantada, a verbalização ritmada é a base do
seu desenvolvimento, que pede habilidades das mãos e da voz. Brincadeira cantada
é uma excelente atividade para crianças, já que, desde bem pequenas, elas tendem a
ser interessadas por música. Participar de brincadeiras assim propicia experiências
divertidas com música e favorece a comunicação e desenvolvimento afetivo e cog-
nitivo. Além disso, pode desenvolver habilidades importantes, tais como atenção,
memória, linguagem, percepção auditiva e a coordenação motora. Por isso, é fun-
damental oportunizar vivências com a linguagem musical através de brincadeiras
cantadas para as crianças.

Desenvolvimento da proposta

Para dar início à atividade, conte às crianças a linda história escrita por Edvete
Machado (2012) sobre a lagarta que virou borboleta.

A lagarta
(Edvete da Cruz Machado)
Era uma lagarta,
Que a caminhar,
No verde galhinho
Foi procurar,
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Um bom lugarzinho
Para descansar.
Dormiu muito tempo
E assim fabricou,
Um fio bem longo
Onde se enrolou...
E quando acordou
Que bela surpresa
Virou borboleta
Foi uma beleza!

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Posteriormente, explique, de forma simples, como acontece o ciclo de vida da
borboleta, ou seja, as etapas da transformação da lagarta em borboleta, do nascimento
à metamorfose. Se for possível, ilustre esse momento exibindo imagens impressas ou
vídeos. Caso o local onde as crianças estudam tenha alguma área verde onde possam
fazer uma busca por lagartas e borboletas, experimente levá-las até ele e, de volta à
sala de aula, incentive que desenhem o que encontraram, para que essas produções
sejam, mais tarde, exibidas em cartazes em locais visíveis da escola.
Agora, faça algumas perguntas aos pequenos/as, como: vocês conhecem alguma
música ou brincadeira sobre lagarta? Conhecem a brincadeira lagarta pintada? Escute
atentamente as respostas e, em seguida, dê início à brincadeira.
Organize as crianças em roda e peça que coloquem as mãos para frente. Uma
delas vai tocando as mãos das outras, uma de cada vez, enquanto todos cantam a
música abaixo:

Lagarta pintada
(Domínio popular)
Lagarta pintada
Quem te pintou?
Foi uma velhinha
Que por aqui passou
No tempo da areia
Fazia Poeira
Pegue essa lagarta
Pela ponta da o-re-lha

Na última estrofe, a criança que teve a mão tocada deve tocar na orelha da
pessoa ao lado. A brincadeira acaba quando todas as crianças estão segurando as
orelhas umas das outras.

Observação

Considere que as crianças são diferentes, têm particularidades e sensações dis-


tintas. Algumas delas podem ser mais sensíveis e rejeitar o toque na orelha. Caso
isso aconteça, lembre-se que a Lagarta Pintada, como qualquer brincadeira, pode
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 73

ser adaptada. Sendo assim, ouça a criança e apresente a elas outras possibilidades
de participar da brincadeira.

7.6 Reutilizar brincando

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

• Favorecer a criatividade e livre criação das crianças através da oferta de


materiais que podem ser reutilizados;
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• Estimular a coordenação motora, noções espaciais e do equilíbrio;


• Proporcionar à criança o conhecimento de saberes ecologicamente reco-
mendáveis, ou seja, a formação de valores e atitudes que contribuam para
a preservação do meio ambiente;
• Promover o contato da criança com brinquedos tradicionais, reforçando
a importância da cultura popular;
• Compreender a importância da reciclagem e conhecer algumas de suas
técnicas e estratégias.

Justificativa

Preservar o meio ambiente é um dever de todas/os, por isso importa conver-


sarmos com as crianças sobre processos como reutilização, reciclagem e redução do
consumo de materiais não biodegradáveis. A proposta pedagógica aqui apresentada
tem a intenção de fazer com que as crianças atentem para a importância de adotar
atitudes que preservem o meio ambiente, e, assim, compreendam o quanto deter-
minadas ações podem provocar impacto positivo na comunidade onde moram e,
principalmente, no meio ambiente.
Nessa perspectiva, interessa lembrar que, mais importante do que reutilizar
materiais não biodegradáveis, tais como variados plásticos e metais, é reduzir o
consumo deles. Com essa ideia em mente, podem ser ministradas às crianças ofi-
cinas de reutilização de materiais, e uma delas pode ser a oficina para a confecção
do pé de lata.
Por ser feito de material reutilizável, o contato com o pé de lata pode despertar o
interesse por conhecer mais a respeito da preservação do meio ambiente. Além disso,
o processo de confecção desse brinquedo é, em si mesmo, uma atividade lúdica, que
estimula a criatividade de quem faz, gerando desafios cognitivos capazes de promo-
ver avanços no desenvolvimento. Já a brincadeira de andar com o pé desenvolve o
equilíbrio, a noção espacial e a coordenação motora.

Recursos

2 latas de achocolatado (ou outras parecidas com estas); 2 pedaços de corda de


náilon ou barbante com aproximadamente 1,20 m cada (o tamanho varia de acordo
com o tamanho da criança); durex colorido; tintas; pincéis.
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Desenvolvimento da proposta

Inicie com uma sondagem sobre as experiências das crianças com a reutilização
de materiais não biodegradáveis. Faça perguntas como: vocês já ouviram falar sobre
reutilização, reciclagem e redução, ou seja, os três R’s? Conhecem algum objeto
que tenha sido confeccionado com material reciclável? É possível reciclar tudo o
que existe? A partir disso, explique o que são os três Rs e porque as ações que eles
implicam são importantes para a preservação do meio ambiente. Se possível, converse
também acerca da coleta seletiva e de como fazê-la, ensinando que tal coleta facilita

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o descarte correto de resíduos e participa de ações de reciclagem.
Proponha às crianças que realizem uma atividade de coleta e separação de lixo,
na escola, após o horário do lanche, ou em casa, na comunidade onde moram. Oriente
a coleta de resíduos diversos, conforme foi apresentado em sala. Depois, forme uma
roda de conversa sobre os materiais coletados, para que as crianças indiquem quais
deles elas imaginam serem ou não recicláveis. Se a coleta for feita na escola, as/os
pequenas/os podem higienizar os materiais juntas/os; se não for, envie um bilhete
para as famílias, falando a respeito da coleta seletiva e de como ela deve ser feita.
Antes de iniciar a confecção do pé de lata, verifique se as latas estão limpas e em
bom estado, a fim de que não machuquem as crianças. Explique o que é o brinquedo
e informe quais são os materiais necessários para sua produção. As crianças podem
participar da confecção e do processo de decoração.
Primeiro, faça dois furos no fundo da lata, um em cada lado, deixando entre
eles espaço suficiente para encaixe do pé (caso a criança se ofereça para fazer o furo,
supervisione-a atentamente). Em seguida, passe a corda ou barbante pelos furinhos
e amarre as pontas que ficaram por dentro da lata. Para finalizar, coloque a tampa e
decore com durex colorido ou tinta.
Utilizar o pé de lata é muito fácil: a criança põe um pé em cada lata, segura o
barbante e anda. Peça a elas que caminhem atentamente, para evitar tropeços.

Adaptação/ampliação

Quando as crianças se tornarem habilidosas no uso do brinquedo, além de


caminharem pela escola, poderão experimentar outras formas de usar, como andar
para trás ou percorrer um caminho com obstáculos.

7.7 Brincar com o vento

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

• Brincar cotidianamente de diversas formas e com diferentes parceiros,


possibilitando o desenvolvimento da imaginação, criatividade, capacidades
emocionais, motoras e cognitivas;
• Explorar o espaço, ampliando movimentos corporais por meio de expe-
riências de deslocamento de si e dos objetos;
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 75

• Oportunizar à criança a percepção dos fenômenos da natureza (neste caso,


o vento), através do movimento do ar.

Justificativa

As crianças buscam explicações para os fenômenos que veem. Comprovar,


experimentalmente, a presença do vento através da cortina de folhas secas e da
pipa de sacola plástica é contribuir de uma maneira lúdica para a construção de
ideias sobre a existência do ar. Esses brinquedos fomentam a criatividade, inicia-
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tiva, capacidade de escolha das crianças e conscientização sobre a valorização do


meio ambiente.

Figura 5 – Cortina de folhas secas

Fonte: OGURA, 2018, não paginado.

A pipa é um brinquedo que pode ser construído com diversos materiais leves e
tem diferentes nomes de norte a sul do país, tais como papagaio, pandorga ou raia.
Empinar pipa é diversão garantida. Estimula a imaginação, desenvolve a criatividade,
promove o desenvolvimento do equilíbrio, noção espacial e consciência corporal,
além de possibilitar a percepção da existência do vento.
Confeccionar e usar esses brinquedos podem oportunizar experiências senso-
riais e motoras às crianças, que aprendem fazendo, sentindo e experimentando com
o corpo e o espaço.
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Recursos

1 sacola plástica; linha ou barbante; folhas secas; sementes (opcional); cordão


grosso; galho; linha de pesca transparente.

Desenvolvimento da proposta

Faça um passeio pelo entorno da escola, em um local com vegetação. Ao


longo do caminho, peça às crianças que prestem atenção aos movimentos ao redor

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e bata um papo com elas sobre o porquê de as folhas das árvores e as roupas no
varal balançarem. As crianças associarão os movimentos à ação do vento devido
às suas próprias experiências cotidianas. Convide-as a experienciar a ação do
vento com a confecção de objetos que comprovam a sua existência. Para isso,
peça que recolham folhas secas, caídas no chão, e um galho com o comprimento
de uma janela.
De volta à sala de aula, converse com as crianças sobre as impressões e
observações feitas por elas a respeito do ar e inicie a confecção da cortina de
folhas secas.

Figura 6 – Montagem do fio

Fonte: Arquivo da autora Roseli Felix.


NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 77

Use a linha de pesca para pendurar as folhas no galho de madeira. Primeiro,


corte um pedaço da linha com cerca de 1 m de comprimento. Em seguida, dê
um nó ao redor do caule da folha (veja a foto). Repita esse processo 4 vezes, em
intervalos de 15 cm, e prepare quantos fios achar necessário para formar a cortina.
Amarre as extremidades superiores dos fios ao galho e, por fim, prenda o cordão
no galho para pendurá-lo. Depois de pronta, pendure na janela da sala de aula e
levante as seguintes questões: para onde o vento está soprando? De que lado o
vento está vindo?
Feita a cortina, é dada a hora de pedir às crianças que tragam, na próxima aula,
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uma sacola plástica, para a confecção do segundo brinquedo: a pipa.


Inicie a atividade com um diálogo a respeito da origem da pipa e pergunte se
alguém já confeccionou e/ou brincou de empinar uma pipa. Em seguida, proponha
que todas/os façam, juntas/os, suas próprias pipas, utilizando as sacolas plásticas.
Para isso, corte um pedaço de linha ou barbante, de cerca de 60 cm de comprimento,
e amarre a linha nas duas alças de uma sacola de supermercado.
Siga com as crianças para a área externa, para um local onde todos possam correr
livremente. Ensine a como usar a pipa e deixe as crianças explorarem o brinquedo à
vontade, fazendo-o flutuar e descobrindo as manobras de que ele é capaz.

Dicas

• Para que as folhas durem por mais tempo, coloque-as entre duas toalhas
de papel e passe a ferro de cada lado, por alguns minutos, certificando-se
de que a temperatura não esteja muito alta.
• Você pode manter a cor natural das folhas ou tingi-las em tons de
sua preferência.
• Faça uma lista com outras brincadeiras que necessitem da presença do
vento (como o cata-vento, bolinhas de sabão, balão de ar, paraquedas de
plástico e biruta).
ATENÇÃO: Evite acidentes. Brinquem em um local aberto, amplo e livre de
redes elétricas e obstáculos verticais, como árvores e prédios.
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CAPÍTULO 8
PRÁTICA PEDAGÓGICA
Aline Santos
Geisa Geraldez
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8.1 Massinha de modelar

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer a história da bonequeira Isabel Cunha;


• Ampliar o repertório de conhecimento de artistas afro-brasileiras/os;
• Ampliar o imaginário artístico das crianças ao identificar esculturas de
bonecas/os negras/os como arte;
• Desenvolver a coordenação motora fina através da modelagem de bonecas/
os, tendo como base os trabalhos da bonequeira Isabel Cunha.

Justificativa

Brincadeiras com massa de modelar promovem o desenvolvimento de habilida-


des essenciais às crianças. Elas estimulam a coordenação motora fina, a criatividade,
a autoestima e a concentração. Modelar utilizando massa também desperta o viés
artístico. Dessa forma, ênfase pode ser dada à cultura local que, na prática em questão,
é desenvolvida por uma mulher, negra, mãe e dedicada aos ensinamentos sobre a arte
e a cultura existentes em Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha.

Recursos

Pesquisa da história de Isabel Cunha; imagens da artista e da arte por ela pro-
duzida (em vídeo ou impressa); massinha de modelar; palitos de picolé ou outros
que possam dar suporte para a montagem da escultura.

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda e conte a história da bonequeira Isabel Cunha.


Apresente Isabel como uma artista negra, mulher, que produz esculturas de pessoas;
mostre fotos dela e da região em que ela vive, destacando o fato de que se trata de um
lugar que conta com forte presença de pessoas afro-brasileiras e do tipo de trabalho
produzido por Isabel.
80

Em seguida, espalhe sobre uma mesa as imagens de trabalhos feitos por Isabel
Cunha, para que sirvam de fonte de inspiração para a produção de bonecas/os de
massinha pelas crianças.

Dica

Essa atividade pode ser desenvolvida com o uso de argila ou de massa de mode-
lar produzida pelas próprias crianças. Caso queiram produzir a massinha, utilize a
receita abaixo.

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Receita de massinha de modelar
Ingredientes
4 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de sal
1 ½ de água
1 colher de sopa de óleo
Corante de sua preferência (uso opcional).

Modo de fazer
Em um recipiente, coloque o óleo, a água e o sal. Misture esses ingredientes e
acrescente a farinha de trigo aos poucos, até formar uma massa homogênea. Em
seguida, acrescente o corante. Está pronta sua massinha de modelar.
CAPÍTULO 9
PRÁTICA PEDAGÓGICA
Márcia Anacleto
Roseli Santana
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9.1 Frutas e suas sementes: uma salada de frutas a partir da brincadeira


Escolhendo Melancia

Objetivos de aprendizagem

• Adquirir saberes e conhecimentos sobre cores, sabores, texturas e aromas


das frutas;
• Relativizar e comparar os tamanhos e formatos das frutas e suas sementes;
• Refletir acerca da importância de uma alimentação saudável;
• Compreender aspectos dos processos envolvidos no cultivo de plan-
tas frutíferas.

Justificativa

As crianças trazem consigo um conjunto de saberes e conhecimentos sobre as


experiências que vivenciam no mundo. Alguns deles envolvem a alimentação, que,
além de ser um direito da criança, deve ser ofertada com qualidade e em diálogo
com a cultura alimentar da comunidade das/os pequenas/os. No caso das frutas, um
conjunto de propostas pedagógicas pode ser realizado, envolvendo saberes a respeito
das características desses alimentos, como suas cores, sabores, formatos, sementes,
formas de plantio e o lugar de onde vêm.
Essas propostas estimulam a curiosidade infantil acerca do mundo físico, pro-
cessos de cultivo e transformações da natureza, e aprofundam conhecimentos sobre as
frutas existentes na região em que as crianças moram. Ampliam, também, a linguagem
sensorial e contribuem na aquisição de conhecimentos sobre a biodiversidade e a
sustentabilidade do planeta.
Outra contribuição consiste em mobilizar nas crianças o pensamento compara-
tivo, a relativização e a construção de novas possibilidades na linguagem matemática,
através da contagem, ordenação e relações quantitativas. Temática abrangente, pode
conduzir a momentos coletivos de degustação, registro de receitas e vivências de
plantio e cultivo, que introduzem as crianças em momentos lúdicos de trocas, favo-
recendo a linguagem oral, a argumentação e a elaboração de registros em desenhos
e pinturas, e/ou a escrita (professor/a escriba) de narrativas a partir das observações
e conclusões realizadas pela turma.
82

Recursos

Para a salada de frutas: frutas diversas; recipiente para a mistura das frutas picadas;
potes ou copos pequenos para uso individual, para servir cada criança; colheres; faca.
Para a coleção de sementes: papel metro; pincel atômico; fita adesiva; sacos
plásticos transparentes; etiquetas; giz de cera; folhas de papel ofício; tesoura.

Desenvolvimento das propostas

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Inicie com a prática Escolhendo Melancia, conhecida pelas crianças do qui-
lombo baiano Monte Recôncavo. Realize a atividade na sala de aula ou em um espaço
externo da escola.
Primeiro, escolha uma criança para ser aquela que indicará a melhor melancia.
Em seguida, peça às demais que deitem no chão, com a barriga virada para cima.
A criança a escolher a melancia deve dizer o momento em que todas as outras vão
estufar a barriga. Em seguida, ela toca em cada barriga para sentir aquela que está
mais estufada e, sendo assim, madura. Esta será a criança escolhida.
Finalizada a brincadeira, reúna as crianças sentadas, em roda, e explore com
elas as características e propriedades perceptíveis (cores, forma, tamanho e número
de sementes) da melancia e de outras frutas encontradas em sua região. Converse a
respeito da função das sementes e da diversidade de métodos de dispersão e plantio,
e, em seguida, faça uma lista com o nome das frutas preferidas da turma. Por fim,
proponha ao grupo a degustação de frutas a partir de uma salada a ser preparada por
elas. Esta será a segunda prática.
Ponha as frutas higienizadas e ainda com casca sobre a mesa, nomeie cada uma
delas e entregue-as nas mãos das crianças, para que possam manipulá-las (é imprescindí-
vel, aqui, que todas/os lavem bem as mãos antes de preparar e comer a salada). Após esse
período de exploração, convide as/os pequenas/os para que, com você, descasquem as
frutas, uma a uma. Pique-as e coloque-as em uma vasilha, cuidando para que as sementes
sejam separadas e dispostas em um prato ou guardanapo (reserve essas sementes para
observações posteriores). Misture as frutas e sirva, em copos, a todo grupo.
Agora é a vez de aprender com as sementes! Em uma roda de conversa, apre-
sente as sementes secas, separadas anteriormente, às crianças, de modo que todas
possam fazer uma primeira observação de suas características, semelhanças e dife-
renças. Proponha que identifiquem as frutas às quais pertencem. Em seguida, realize,
com elas, a classificação das sementes por cor, tamanho, textura e formato. Reunidas
as sementes semelhantes, coloque-as em sacos plásticos transparentes e anote numa
etiqueta o nome da fruta correspondente. Peça, também, que cada criança selecione
uma semente e fruta, a fim de representá-las através de um desenho, utilizando papel,
lápis de cor e giz de cera. Para finalizar, em um papel metro, cole os saquinhos com
as sementes devidamente identificadas.
E onde expor essa coleção de sementes? Sugira locais, para que as crianças
participem da escolha: pode ser feita a própria sala de aula ou um local onde haja
circulação de pessoas, facilitando, inclusive, a visitação pela comunidade.
CAPÍTULO 10
PRÁTICA PEDAGÓGICA
Míghian Danae
Helen Pinto
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10.1 Boneca de pano Abayomi

Objetivos de aprendizagem

• Conhecer a história da boneca Abayomi e um pouco da cultura iorubá;


• Desenvolver a motricidade fina das crianças a partir da confecção
das bonecas;
• Desenvolver a atenção, concentração e oralidade;
• Contribuir com a autoestima das crianças negras e na percepção da dife-
rença por parte das demais crianças para com bonecas negras;

Segundo Kauê Vieira:

para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros –
navio de pequeno porte que realizava o transporte de escravos entre África e
Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles cria-
vam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de
proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi,
termo que significa ‘Encontro precioso’ em yoruba, uma das maiores etnias do
continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa
do Marfim. Sem costura alguma (apenas nós ou tranças), as bonecas não possuem
demarcação de olho, nariz nem boca, isso para favorecer o reconhecimento das
múltiplas etnias africanas (VIEIRA, 2015, não paginado).

Muito embora esta história não possa ser confirmada completamente, Vieira
relata que, para algumas artesãs negras, é a partir dela que começam a produzir a
boneca, em diferentes contextos. Lembremos, ainda, de Lena Martins, educadora
popular e militante do Movimento das Mulheres, que liderou a confecção das bone-
cas no Brasil no fim dos anos 1980, ao mesmo tempo em que o Movimento Negro
organizava uma marcha para lembrar os 100 anos da abolição. Lena afirma que,
apesar de não conhecer a história tal como contam, em 1988 foi criada, no Rio de
Janeiro, a Cooperativa Abayomi, plataforma fundamental para o fortalecimento da
autoestima e reconhecimento da identidade afro-brasileira.
Entendemos que a confecção de bonecas negras a partir destes marcadores histó-
ricos pode colaborar tanto na ampliação de repertório cultural das crianças de Educação
Infantil, quanto na construção de uma autoestima positiva para as crianças negras.
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Recursos

Tecido preto; tecido colorido; tesoura.

Desenvolvimento da proposta

Organize as crianças em roda e conte a história da boneca Abayomi em suas


várias versões, conforme visto anteriormente, na justificativa. Enquanto conta, con-
feccione a boneca com as crianças. Aproveite o momento para fazer, também, uma

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breve contextualização, falando sobre o continente africano: pergunte às crianças se
já ouviram falar da África, se sabem algo sobre o continente; conte-lhes que o conti-
nente é formado por 54 países, e que muitas coisas que existem nos países da África
são bem parecidas com aquelas que temos aqui, no Brasil, como a culinária e certos
costumes. A intenção, com isso, é promover uma imagem positiva do continente e
revelar o quanto o Brasil tem de África.
Para confeccionar a boneca, corte dois retângulos de tecido preto (um de 24 cm
x 12 cm, outro, de 24 cm x 5 cm) e um retângulo de tecido colorido (de 14 cm x 8
cm). Corte, ainda, duas tirinhas finas e coloridas. Pegue o retângulo maior e dê um
nó em uma das pontas, deixando um pequeno pedaço de tecido para cima. Dobre ao
meio a parte de baixo, que sobrou, e corte. Essas são as pernas da boneca. Dê um
nó na ponta de cada perninha. Agora, pegue o segundo retângulo preto (esse será o
braço da boneca), dobre ao meio no sentido do comprimento, coloque a tira por trás
da boneca e dê um nó logo abaixo da cabeça. Dê um nó na ponta de cada braço. Em
seguida, pegue o retângulo colorido, dobre ao meio duas vezes e corte a pontinha da
dobra. Por fim, vista a boneca e amarre uma fitinha na cintura e a outra na cabeça.

Figura 1 – Boneca Abayomi

Fonte: Portal Lunetas, Pinterest.


NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 85

Dicas

• O vídeo Como fazer boneca Abayomi (2020), disponível no YouTube,


pode ser de grande auxílio para a realização da proposta.
• Considere realizar uma oficina de confecção das bonecas com a participa-
ção das famílias, para que elas também aprendam mais sobre o repertório
cultural negro-africano.

Adaptação/inclusão
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É possível produzir Abayomis com diferentes características, respeitando, assim,


aquela que é a marca principal da boneca: sua origem negra. Essa adaptação busca
ampliar os modelos de Abayomis existentes, incluindo, por exemplo, bonecas negras
com deficiência. Outras sugestões podem ser acordadas com as crianças, levando em
conta características do grupo que está confeccionando as bonecas.
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POSFÁCIO
Nanci Rebouças Helena Franco

O saber é uma luz que existe no homem. É a herança de tudo


aquilo que nossos ancestrais puderam conhecer e que se
encontra latente em tudo que nos transmitiram, assim como o
baobá já existe em potencial em sua semente (BÂ, 2003).
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Na escola se brinca! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação


Infantil é um livro em forma de amor que re-afirma a importância das brincadeiras
no processo de construção de conhecimento das crianças e, consequentemente, no
seu desenvolvimento integral. Escrito a muitas mãos (crianças e suas famílias, pro-
fessoras/pesquisadoras), apresentou o resultado de uma pesquisa aplicada nas Escolas
Dorival Passos e Escola José de Aragão Bulcão, o que evidencia a importância da
articulação entre universidades e escolas de Educação Básica, bem como do trabalho
coletivo, ancorado no valor civilizatório afro-brasileiro da cooperatividade, como nos
ensina Azoilda Trindade (2010, p. 35): “A cultura negra, a cultura afro-brasileira, é
cultura do plural, do coletivo, da cooperação. Não sobreviveríamos se não tivéssemos
a capacidade da cooperação, do compartilhar, de se ocupar com o outro”.
Nessa tentativa de “se ocupar com o outro”, ou melhor, com outra/s (porque o
universo docente da Educação Infantil é majoritariamente feminino), o livro com-
partilha propostas de trabalho elaboradas a partir de brincadeiras vivenciadas por
crianças quilombolas, e que podem contribuir na prática pedagógica de professoras
de crianças, especialmente as de Educação Infantil. Apesar disso, as autoras deixam
explícito que o livro apresenta sugestões que podem e devem ser revisitadas, levando
em consideração as realidades vivenciadas e as especificidades das/os pequenas/os.
O texto coloca a/s criança/s na centralidade da discussão, ao reconhecê-las como
produtoras e sistematizadoras de conhecimento, e isso inclui os modos de brincar
enquanto herança dos povos africanos em África e recriados em diáspora. Foram
elas que contaram sobre as suas histórias, memórias e experiências de ser criança
negra, e também sobre as suas brincadeiras (as que brincavam e jogavam na escola,
em casa e em todos os lugares, porque brincadeira é coisa séria e pode acontecer em
qualquer lugar). E isso ficou evidente na pandemia da covid-19, que instaurou a pior
crise sanitária do século e escancarou a desigualdade social vivida no Brasil, cenário
este em que as crianças se reinventaram no espaços das suas casas a fim de preservar
os laços com a escola e vivenciar brincadeiras possíveis.
Brincar é viver plenamente, é um direito da criança! Brincar potencializa a
valorização dos nossos corpos negros e suas expressões! Na brincadeira, aciona-
mos a memória, ancestralidade, circularidade, corporeidade, musicalidade e outros
valores civilizatórios afro-brasileiros que mostram que construímos outras formas
de ser e de estar no mundo. E essas formas precisam trazer para a brincadeira “bases
88

éticas de valorização da vida, dos direitos humanos e da diversidade”, como bem diz
Patrícia Santana (2010), entendendo que, enquanto se cuida e educa as crianças, a
afetividade precisa fazer morada nos espaços das creches e escolas, compartilhando
patrimônios culturais das matrizes que entraram na formação do povo brasileiro (e
aqui destacamos a matriz africana).
O livro me remeteu à minha própria história enquanto uma criança/mulher
preta, nascida e criada na periferia de Salvador, oriunda de escolas e universidades
públicas. Li o livro rindo e também me emocionando, à medida que minhas memórias
de infância iam sendo acionadas. Lugares, pessoas, cheiros, sensações... Vivenciei

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a maioria das brincadeiras relatadas! Me vi ouvindo histórias contadas pelos meus
mais velhos, como Bisa Helena, Tia Dete, Vó Berna, Sr. Roque, D. Maria; dançando
samba-de-roda (e lembrando da Makota Valdina, quando ela afirmava que samba
era festa de se comemorar tudo); plantando tomate, capim-santo e outros na frente
da minha casa; sendo rezada com as plantas da minha comunidade, por D. Carmem
ou D. Alice; brincando de bolinha de sabão com canudo feito de mamona; fazendo
cozinhados de caroço de jaca e outras tantas coisas com Italma, com Eneida; can-
tando nas brincadeiras de roda “Eu sou rica, rica, rica, de marré desci”; Morto Vivo,
Capoeira, Corrupio, Brincadeira de boneca, de escola (eu sempre era a Diretora),
Lagarta Pintada, Pé de lata com os meus irmãos Nilson e Nelson, Pipa, Massinha
de modelar... e outras tantas brincadeiras que embalaram a minha infância e que as
crianças continuam brincando! Para tanto, basta que elas aprendam com os seus mais
velhos, com os seus parentes.
Na escola se brinca! nos convida a conhecer o que mulheres negras pedago-
gas, professoras/pesquisadoras construíram ao longo da pandemia da covid-19. O
material produzido certamente nos faz repensar nossas práticas pedagógicas, e nos
permite refletir sobre a possibilidade concreta de construir práticas amorosas que, ao
acessar um patrimônio cultural que é plural, colabore no processo de construção da
identidade étnico-racial de crianças negras e, consequentemente, nos seus processos
de construção de conhecimento. E que isso nos permita, enquanto pessoas negras,
viver a nossa humanidade.
Termino reiterando o que disse no início: Na escola se brinca! Brincadeiras
das crianças quilombolas na Educação Infantil é um livro em forma de amor. Que
esse amor nos transforme! Aprendamos com bell hooks (não paginado): “Quando
conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros
olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor.
O amor cura”.
REFERÊNCIAS
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min). Publicado pelo canal Escola Eleva. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=YCNNEoDGOdI. Acesso em: 30 abr. 2022.

A RODA vai começar. [S. l.: s. n.], 2012. 1 vídeo (1 min 51 s). Publicado pelo canal
Eduardo Gavião. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=d937tDfjfoA.
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Acesso em: 30 abr. 2022.

AREIA. Intérprete: Dona Selma do Coco. Compositores: S. do Coco e Z. In: MINHA


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BÂ, Amadou Hampate. A tradução viva. In: KI-ZERBO, Joseph. História geral da
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BÂ, Amadou Hampate. Amkouell, o Menino Fula. São Paulo: Palas Athena: Casa
das Áfricas, 2003.

BRANDÃO, Ana Paula. Modos de interagir. Rio de Janeiro: Fundação Roberto


Marinho, 2006. E-book. (Coleção A Cor da Cultura). Disponível em: https://www.
geledes.org.br/wp-content/uploads/2011/06/Caderno3_ModosDeInteragir.pdf. Acesso
em: 30 abr. 2022.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étni-


co-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
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BRASIL. Lei nº 9.394/96 de 20 de novembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e


Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [2009]. [Lei
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CÁ, Natália Ernesto. Kuma ku nó pudi aprendi na djugos ku brincadeiras de


Guiné-Bissau: possiblidades de ensino/aprendizagem. 2020. Trabalho de Conclu-
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Malês, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, São
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SAMBA DE RODA recôncavo.autosave. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (45 min 38 s).
Publicado pelo canal Angelo Barreto. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=PD-UEzDDptg. Acesso em: 30 abr. 2022.
92

SANTANA, Patrícia Maria de Souza. Energia Vital – “Um abraço negro”: afeto, cui-
dado e acolhimento na Educação Infantil. In: BRANDÃO, Ana Paula; TRINDADE,
Azoilda Loretto da (org.). Modos de brincar: caderno de atividades, saberes e fazeres.
Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2010. p. 17-22. E-book. Disponível em:
MODOSBRINCAR-WEB-CORRIGIDA.pdf. Acesso em: 30 abr. 2022.

SANTOS, Aline de Assis. Ancestralidade e história no Recôncavo Baiano: cons-


trução do conhecimento ancestral no povoado de São Braz, em Santo Amaro. 2014.
Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade) – Departamento de

Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização


Educação I, Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2014.

SANTOS, Maricelia; GUEROLA, Carlos. A gente já nasceu quilombola e não


sabia! Histórias do Monte Recôncavo. Salvador: Ed. dos Autores, 2021. E-book.
Disponível em: A gente já nasceu quilombola e não sabia: Histórias do Monte Recôn-
cavo by Carlos Maroto Guerola & Maricelia Conceição dos Santos. Acesso em: 30
abr. 2022.

SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: Engenhos e Escravos na Sociedade


Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. Crianças negras: entre a assimilação e a negri-


tude. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v. 9, n. 2, p. 161-187, 2015.
DOI: http://dx.doi.org/10.14244/198271991137. Disponível em: http://www.reveduc.
ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/1137/408. Acesso em: 30 abr. 2022.

TRINDADE, Azoilda Loretto da. Valores civilizatórios afro-brasileiros e Educação


Infantil: uma contribuição afro-brasileira. In: BRANDÃO, Ana Paula; TRINDADE,
Azoilda Loretto da (org.). Modos de brincar: caderno de atividades, saberes e fazeres.
Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2010, p. 17-22. E-book. Disponível em:
MODOSBRINCAR-WEB-CORRIGIDA.pdf. Acesso em: 30 abr. 2022.

UMA PIPOCA NA PANELA, chegou mais uma pra conversar... | Pipoca | Música
Infantil. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (2 min 51 s). Publicado pelo canal Mundo de
Creche. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wXC9ojEtXFw. Acesso
em: 30 abr. 2022.

VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo: do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a


Bahia de Todos os Santos, dos séculos XVII ao XIX. 4. ed. Salvador: Corrupio, 2002.

VIEIRA, Kauê. Bonecas Abayomi: Símbolo de resistência, tradição e poder feminino.


Afreaka, São Paulo. Disponível em: http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-aba-
yomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/. Acesso em: 16 set. 2021.
APÊNDICE A2
FORMULÁRIO ENVIADO ÀS FAMÍLIAS/
CRIANÇAS ATENDIDAS PELAS
ESCOLAS PARTÍCIPES DA PESQUISA
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização

Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo de jogos e brincadeiras


africanas e afro-brasileiras: Fase II

Mensagem introdutória
Olá!
Antes de tudo, agradecemos a sua colaboração com nossa pesquisa. Nesta fase,
temos como objetivo a realização da pesquisa com crianças das escolas José de
Aragão Bulcão (São Francisco do Conde) e Doutor Dorival Passos (Santo Amaro)
sobre suas brincadeiras favoritas, para a produção de um guia pedagógico acerca de
brincadeiras na/de escola.
Não existem respostas certas ou erradas para este formulário.
Ele ficará aberto até o dia 30 de outubro de 2021.
Obrigada pela sua participação!
Coordenadora – Míghian Danae Ferreira Nunes
Assistente de Pesquisa – Hellen Santos Pinto
_____________________________________

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Mães, Pais ou


Responsáveis legais

A/o sua/seu filha/filho está sendo convidada/o a participar do projeto de pesquisa


Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo de jogos e brincadeiras africa-
nas e afro-brasileiras, submetido ao Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades (CEERT) e à Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB, Malês – BA), cuja pesquisadora responsável é a doutora
Míghian Danae Ferreira Nunes.
O objetivo do projeto é recolher informações das crianças que frequentam as
escolas de Educação Infantil José de Aragão Bulcão (Monte Recôncavo, São Fran-
cisco do Conde, BA) e Dorival Passos (São Brás, Santo Amaro, BA), informações
sobre as brincadeiras das quais mais gostam e mais brincam na escola, e produzir um
guia pedagógico capaz de auxiliar a contínua efetivação da Lei 10.639/03 no Brasil,
preferencialmente na etapa básica da Educação Infantil.

2 Informações pessoais sobre a coordenação da pesquisa que foram disponibilizadas às famílias foram
omitidas nestes anexos.
94

A/o sua/seu filha/filho está sendo convidada/o porque são estudantes das escolas
participantes, e ninguém melhor para falar sobre suas experiências brincantes do que
as próprias crianças!
O/a Sr/a. tem a plena liberdade de recusar a participação da/do sua/seu filha/
filho, ou mesmo de retirar o consentimento dado em qualquer fase da pesquisa, sem
sofrer penalização alguma.
Caso aceite, a participação da/do sua/seu filha/filho consiste em relatar as
suas brincadeiras favoritas, que serão adicionadas ao questionário por vocês, pais
e/ou responsáveis. As crianças também podem desenhar as brincadeiras ou gravar

Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização


vídeos brincando.
Solicitamos, ainda, a sua autorização para que o material e informações obti-
dos possam ser utilizados em aulas, seminários, congressos, palestras ou periódi-
cos científicos.
A participação de vocês é muito importante para nós, porque contribui para o
conhecimento acadêmico-científico nas áreas da educação, das relações étnico-raciais
e da integração lusófona. Com as descrições das brincadeiras, você colabora com a
produção de conhecimento sobre a área da Educação Infantil, ludicidade e, também,
para a implementação da Lei 10639/03.
Você aceita participar da II fase da pesquisa do projeto NÔ BA BRINCA,
VAMOS BRINCAR, AHI TLHANGUI: CATÁLOGO DE JOGOS E BRINCADEI-
RAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS?
( ) Sim
( ) Não

__________________________________________

Termo de Assentimento Livre e Esclarecido para ser lido para as


crianças

Olá, tudo bem? Estamos te convidando para participar do projeto de pesquisa Nô


bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo de jogos e brincadeiras africanas
e afro-brasileiras. Este projeto é coordenado por Míghian Danae, uma professora da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB,
Malês – BA).
Essa pesquisa vai acontecer da seguinte forma: gostaríamos que vocês nos
dissessem quais são as brincadeiras que mais gostam e brincam na escola. Depois
de contar tudo para alguém (que irá escrever e enviar à sua professora), você pode
desenhar ou pintar as brincadeiras, pode até mesmo gravar um vídeo ou tirar fotos
brincando, se você quiser!
Entendemos que esta pode ser a primeira vez que você é convidado para par-
ticipar de uma pesquisa, então é importante que você saiba que, caso sinta alguma
dificuldade ou vergonha, conte o que está sentindo ao seu responsável ou à professora,
para que nos avisem. Também se acontecer de você não querer mais participar do
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 95

projeto, por qualquer motivo, saiba que não haverá problema, basta pedir que seu
responsável ou professora nos comunique.
É importante que você saiba que sua participação irá ajudar na melhoria da
educação, pois vamos fazer um livro com as brincadeiras que vocês mais gostam e
brincam nas escolas, para que outras crianças conheçam e possam brincar, também.
Se você tiver alguma dúvida, pode nos perguntar ou pedir que seu responsável
entre em contato pelo seguinte endereço ou telefone: Av. Juvenal Eugênio Queiroz,
s/n – Centro, São Francisco do Conde – BA, 43900-000, Telefone: (71) 991121178.
Também pode contatar o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desi-
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gualdades (CEERT), com tel: (11)96306-5749 e e-mail: contato@ceert.org.br.

______________________________________

Perguntas do formulário

Esta seção é muito importante, nela estão as perguntas que devem ser feitas
diretamente às crianças. Pedimos, então, que leia as questões para elas. Reserve
algo entre 20-30 minutos para esse momento, você realmente precisará de algum
tempo. Se quiser ler, voltar e responder depois, tudo bem! Se quiser escrever em
outro arquivo e, depois, copiar para este formulário, fique à vontade também. Saiba
que você não conseguirá voltar ao formulário se deixá-lo pela metade; sendo assim,
pedimos que responda a todas às perguntas em um único acesso. Caso você necessite
de mais espaço para escrever, notifique-nos por e-mail (escreva para mighiandanae@
unilab.edu.br ou para hellensantos002@gmail.com), para que possamos te atender.
Lembramos que você é livre para responder apenas às perguntas de seu interesse.
Obrigada pela sua participação!

1. Quais suas brincadeiras preferidas?


2. Você poderia explicar as brincadeiras que você mais gosta brincar? Se
algumas delas tiverem regras, escreva-as aqui!
3. Quais brincadeiras você costuma brincar na escola?
4. Quais materiais ou objetos você costuma utilizar nas brincadeiras e nos
brinquedos que inventa?
5. Tem mais alguma coisa que você (criança, mãe, pai ou responsável legal)
gostaria de falar sobre esse tema?
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APÊNDICE B3
FORMULÁRIO ENVIADO ÀS
PROFESSORAS E GESTORAS DAS
ESCOLAS PARTÍCIPES DA PESQUISA
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Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo de jogos e brincadeiras


africanas e afro-brasileiras: Fase II

Mensagem introdutória
Olá!
Antes de tudo, agradecemos pela sua colaboração com nossa pesquisa. Nesta
fase, temos o objetivo de realizar a pesquisa com professoras de Educação Infantil
das escolas José de Aragão Bulcão (São Francisco do Conde) e Doutor Dorival
Passos (Santo Amaro), sobre suas brincadeiras favoritas, para produção de um guia
pedagógico sobre brincadeiras na/de escola.
Não existe resposta certa ou errada neste formulário. Ele ficará aberto até o dia
24 de agosto de 2021.
Obrigada pela sua participação!
Coordenadora – Míghian Danae Ferreira Nunes
Assistente de Pesquisa – Helen Pinto

_______________________________________________

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O/a Sr/a está sendo convidado/a a participar do projeto de pesquisa Nô bá


brinca, vamos brincar, ahi tlhangui? Catálogo de jogos e brincadeiras africanas
e afro-brasileiras, submetido ao Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades (CEERT) e à Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB, Malês – BA) pela pesquisadora e doutora Míghian Danae
Ferreira Nunes.
Nesta fase do projeto, nossa intenção é recolher informações das professo-
ras das escolas participantes, a saber, José de Aragão Bulcão (Monte Recôncavo,
São Francisco do Conde, BA) e Dorival Passos (São Brás, Santo Amaro, BA), de
modo a recuperar suas experiências brincantes e realizar a produção de um guia
pedagógico com jogos e brincadeiras de escola em territórios quilombolas. O inte-
resse deste trabalho é o de subsidiar a contínua implementação da Lei 10.639/03 no

3 Informações pessoais sobre a coordenação da pesquisa que foram disponibilizadas às professoras e gestoras
foram omitidas nestes anexos.
98

Brasil, preferencialmente na etapa básica da Educação Infantil, bem como realizar


formação continuada das/os professoras/es de Educação Infantil das redes muni-
cipais de São Francisco do Conde e Santo Amaro, Bahia, para disseminação de
materiais pedagógicos.
O/a senhor/a está sendo convidado/a a participar porque é professor/a e/ou
gestor/a das escolas participantes do projeto.
Caso aceite, deverá responder a um questionário a respeito de suas brincadeiras
favoritas, direcionado à produção de um guia pedagógico sobre brincadeiras na/de
escola. Como participante que estará conosco em todos os momentos da fase II da

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pesquisa, sua identidade será revelada nos materiais publicados a partir deste traba-
lho. Você irá figurar como um/a dos/as autores/as do guia pedagógico brevemente
descrito acima.
Solicitamos, ainda, a sua autorização para que o material e informações obti-
das possam ser utilizados em aulas, seminários, congressos, palestras ou periódi-
cos científicos.
A participação de vocês é muito importante para nós, porque contribui para o
conhecimento acadêmico-científico nas áreas da educação, das relações étnico-raciais
e da integração lusófona. Com as descrições das brincadeiras, você colabora com a
produção de conhecimento sobre a área da Educação Infantil, ludicidade e, também,
para a implementação da Lei 10639/03.
A senhora pode entrar em contato com a coordenadora do projeto:
Você aceita participar da II fase da pesquisa do projeto NÔ BA BRINCA, VAMOS
BRINCAR, AHI TLHANGUI: CATÁLOGO DE JOGOS E BRINCADEIRAS AFRI-
CANAS E AFRO-BRASILEIRAS?
( ) Sim
( ) Não

________________________________________

Perguntas do Formulário

Esta seção é muito importante. Reserve algo entre 20-30 minutos para respon-
dê-la, porque você precisará de algum tempo para acessar sua memória da época de
escola, de quando era criança. Se quiser ler, voltar e responder depois, tudo bem!
Se quiser escrever em outro arquivo e, depois, copiar para este formulário, fique à
vontade também. Saiba que você não conseguirá voltar ao formulário se deixá-lo
pela metade; sendo assim, pedimos que responda a todas às perguntas em um único
acesso. Caso você necessite de mais espaço para escrever, notifique-nos por e-mail
(escreva para mighiandanae@unilab.edu.br ou para hellensantos002@gmail.com),
para que possamos te atender. Lembramos que você é livre para responder apenas
às perguntas de seu interesse. Obrigada pela sua participação!
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 99

1. Você lembra das brincadeiras que você mais gostava de brincar quando
era criança?
2. Você poderia explicar as brincadeiras que você brincava? Se algumas delas
tiverem regras, escreva-as aqui!
3. Dessas brincadeiras, quais delas você vê as crianças brincando nos dias
de hoje na escola e/ou fora dela?
4. Você acha que, na Educação Infantil, é importante as crianças brincarem?
5. Você se recorda de brincadeiras que envolviam um maior contato com
a natureza e que você costumava brincar? Poderia descrevê-las? Elas
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não precisam ter regras ou ordem, podem ser brincadeiras como “contar
estrelas”, ou coisas parecidas.
6. Quais são as brincadeiras mais comuns no lugar onde vocês moram?
7. Quais os materiais e objetos costumava utilizar nas brincadeiras, ou para
a construção de brinquedos?
8. Você acha que as brincadeiras são importantes no processo de desenvol-
vimento das crianças? Por quê?
9. Você acha que os jogos e brincadeiras podem ser utilizados de forma
interdisciplinar no cotidiano da escola?

Se quiser enviar um desenho de algumas das brincadeiras que você brincava,


fique à vontade! Você pode anexar uma foto ou um desenho feito aqui mesmo,
do computador!
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APÊNDICE C
LISTA DE BRINCADEIRAS
ELENCADAS PELAS CRIANÇAS
DAS ESCOLAS DORIVAL PASSOS
E JOSÉ DE ARAGÃO BULCÃO
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Reunimos nestes apêndices as respostas das crianças e das professoras aos


formulários virtuais, apresentados nos apêndices A e B. As respostas não foram
editadas, elas foram reproduzidas aqui tal e qual as crianças (com a colaboração das
famílias) e as professoras responderam. Como nossa intenção é a de que este livro
possa ser utilizado como fonte de pesquisa para a realização de atividades pedagógicas
com crianças pequenas, decidimos deixar de fora brincadeiras que fazem menção à
violência física.
ESCOLAS Doutor Dorival Passos (São Braz, Santo Amaro, BA) e José de
Aragão Bulcão (Monte Recôncavo, São Francisco do Conde, BA).

Brincadeiras preferidas

• Adivinhas
• Amarelinha
• Balanço
• Barquinho de papel
• Bicicleta
• Bola
• Boneco
• Brincar com animais
• Brincar com mamãe e papai
• Brincar de boneca
• Brincar de skate
• Brincar na rua
• Brinquedos
• Caminhão
• Carro
• Casinha
• Cavalo de pau
• Construir casa
• Correr na areia da praia
• Correr na praça
• Corrida
102

• Cozinhar
• Empinar pipa
• Esconde-esconde
• Fantoche
• Fazer comidinha
• Jogar avião
• Jogar com os coleguinhas
• Jogar no celular
• Jogo da velha

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• Massa de modelar de farinha de trigo
• Massinha
• Patinete
• Pega-pega
• Congelou
• Pega-pega
• Pintar
• Plantar
• Plantar
• Pula-pula
• Pular corda
• Pular
• Roda-roda

Brincadeiras que costumam brincar na escola

• Bloquinhos
• Bola
• Boliche
• Boneca
• Brincar de roda
• Brinquedos
• Cantar músicas
• Cavalinhos de brinquedo
• Contar historinhas
• Correr
• Dançar
• Desenhar
• Esconde-esconde
• Fazer bolhas de sabão
• Massinha
• Morto vivo
• Peteca
• Pintar
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 103

• Recreio
• Roda de canto

Materiais/objetos que você costuma utilizar nas brincadeiras ou nos


brinquedos que inventa

• Barbante
• Barquinho de papel (usou papel, sucatas, materiais diversos para construir
um baú dos tesouros)
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• Blocos
• Bola
• Brincar de casinha ou tenda (usamos cobertas)
• Brinquedos de montar
• Cabo de vassoura que simula um cavalo
• Caderno de desenho
• Canetas coloridas
• Carrinho
• Cola
• Colherzinha
• Copo descartáveis
• Dinossauro
• Fantoche de caixas de remédio
• Fogãozinho
• Folhas
• Garrafa PET
• Gude
• Lápis de cor
• Livros
• Massinha
• Materiais disponíveis em casa
• Materiais recicláveis
• Na construção das casinhas (costuma-se usar água, areia, pedaços de
madeira, pedaços de blocos e pedras)
• No jogo da velha: usou tampas de refrigerante e um pedaço de madeira
• Panelinha
• Panelinha
• Papel
• Papel higiênico
• Papelão
• Pedrinhas
• Pião feito com CD
• Pincel
• Pipa
• Quilos de alimentos para montar torres
104

• Som
• Tampa de refrigerante
• Tampinha
• Tesoura
• Tintas

Explicando as brincadeiras

Amarelinha: “esse jogo é necessário ter duas ou mais pessoas participando,

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os participantes têm que fazer o desenho da amarelinha no chão com pedra, carvão
ou giz e nesse desenho colocar números para o participante começar a jogar... daí o
participante joga a pedrinha em uma das casinhas e começa a pular, não pode pular
onde está a pedrinha e não pode pisar fora da casinha.”
Bola: “tem várias regras, uma delas é que o/a jogador/a de linha não pode pegar
a bola de mão o goleiro não pode pegar a bola recuada com as mãos.”
Boneca: “geralmente a boneca é uma filha que deve ser cuidada.”
Brincar de cozinha: “fazer bolo, comidinha e dar para as bonecas, brincar de
bicicleta na rua com meu primo e brincar de massinha fazer bolinhas e outras formas.”
Carrinho: “bota o carrinho com corda e puxa.”
Carro: “construir pista.”
Cavalo de pau: “com uma cabeça de plástico da formação do rosto do cavalo,
ele bota o cabo de vassoura e amarra uma corda e sai pulando.”
Esconde-esconde (primeira versão): “a pessoa que bate a lata é quem chuta
a lata primeiro a pessoa que conto vai de novo.”
Esconde-esconde (segunda versão): “nessa brincadeira precisa ter duas ou mais
pessoas participando, uma das pessoas tapa o olho com uma venda ou as mãos, conta
até um certo número antes combinado com todos e enquanto isso as outras pessoas
tentam se esconder no lugar mais difícil de ser encontrado.”
Esconde-esconde (terceira versão): “todos se escondem em variados locais
dependendo do espaço no qual se passa a brincadeira é uma pessoa deve encontrar
todas. Quem se esconder pode conseguir bater ‘um dois três salve eu’ e se livrar de
ser o próximo a contar. A primeira pessoa encontrada que não conseguir se salvar
deve ser o próximo a contar. A última pessoa pode bater ‘um dois três salvos’ e salvar
todos os participantes obrigando quem estava procurando a continuar no posto. A
brincadeira pode ser adaptada, colocando alguém como ‘café com leite’, tirando o
‘um dois três salve todos’, entre outras questões.”
Jogar bola: “Tem que correr dos atacantes para fazer o gol.”
Pega-pega: “alguém é responsável por pegar tocar nas pessoas. Quem for pego
é o próximo a pegar. A brincadeira pode ou não ter vencedores.”
Pipa: “Com uma folha de papel faz uma dobradura em formato de triângulo
coloca na ponta uma linha e a rabada para voar.”
Pula corda: “umas das crianças pulam corda ao som de alguma cantiga que
geralmente envolve contagem. Ganha quem conseguir pular a corda mais vezes.”
Roda-roda: “monta-se uma roda de crianças que cantam cantigas como ciranda
cirandinha, atirei o pau no gato, samba lelê.”
APÊNDICE D
LISTA DE BRINCADEIRAS
ELENCADAS PELAS PROFESSORAS
DAS ESCOLAS DORIVAL PASSOS
E JOSÉ DE ARAGÃO BULCÃO
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ESCOLAS Doutor Dorival Passos (São Braz, Santo Amaro, BA) e José de
Aragão Bulcão (Monte Recôncavo, São Francisco do Conde, BA).

Brincadeiras preferidas

• Anelzinho
• Arraia (pipa)
• Balanço
• Baleado
• Bambolê
• Barra manteiga
• Bate lata
• Brincadeiras de roda
• Brincar de boneca
• Cama de gato
• Cantigas de roda
• Casinha
• Chicotinho queimado
• Corrida de saco
• Cozinhado
• Dono da rua
• Esconde-esconde
• Fazendinha
• Fazer comidinhas
• Forca
• Garrafão
• Jogar gude
• Jogo da velha
• Lagarta pintada
• Macaco ou amarelinha
• Melancia
• Pé-de-lata
• Pega-pega
106

• Perna de lata
• Peteca
• Picula
• Pular corda
• Pular elástico
• Sete pedras
• Seu lobo
• Três marinheiros
• Vídeo game

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Brincadeiras que envolvem contato com a natureza

• Fazer comidinha (usava folhas e flores no preparo)


• Subir em mangueiras para pegar mangas
• Tirar caju com vara
• Correr ao ar livre
• Contar estrelas
• Subir em árvores
• Construir cabanas no quintal com folhas grandes
• Fazendinha (quando montamos uma fazenda com o que achasse no quintal
como: pedras gravetos, frutas)
• Banho no rio
• Catar contas na praia
• Boca de forno
• Cozinhado (onde nos reuníamos para fazer um cozido, onde cada um
trazia uma verdura e cozinhamos no fogo de lenha feito por nós mesmos)

Brincadeiras que vê as crianças brincando nos dias de hoje na escola


e/ou fora dela

• Amarelinha
• Balanço
• Bola
• Chicotinho queimado
• Esconde-esconde
• Forca
• Passa anel
• Pega-pega
• Pegar “picula”
• Peteca
• Pular corda
• Sete pedrinhas
• Seu Lobo
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 107

Brincadeiras mais comuns no lugar onde vocês moram

• Amarelinha
• Baleado
• Corda
• Esconde-esconde
• Faz de conta
• Futebol
• Garrafão
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• Gude
• Pega-pega
• Pegar “picula”
• Peteca
• Polícia e ladrão
• Pula corda

Materiais/objetos que costumavam utilizar nas brincadeiras, ou para


a construção de brinquedos

• Anel
• Arame
• Barbantes
• Bolas
• Boneca de espiga de milho
• Boneca de pano
• Botão
• Carvão
• Chinelo
• Corda
• Corda
• Cordão
• Elástico
• Flores
• Folhas
• Garrafas pet
• Gude
• Lã
• Latas
• Massa de modelar
• Panelas
• Pano
• Pedras
• Saco de pano
108

• Sacos
• Sementes
• Vasilhas plásticas

Explicando as brincadeiras:

7 pedrinhas: “a brincadeira era organizada em duas equipes em lados opostos,


que lançavam a bola numa pilha de 7 pedras planas até derrubá-las. Feito isso, a
equipe adversária deveria correr atrás destes a fim de baleá-los, estes, por sua vez,

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tentam empilhar as pedras novamente, o jogo finaliza quando algum participante
consegue empilhar todas as pedras ou todos da equipe forem baleados.”
Bate lata: “uma versão do esconde-esconde, só que neste, a cada pessoa que é
desvendada, a criança bate a lata dizendo o nome e o esconderijo destes.”
Amarelinha: “o grupo decide quem vai começar. A criança começará o circuito
da amarelinha lançando a pedrinha na casa de número 1 pulando com um pé (nas
casas solitárias) ou dois pés (nas casas duplas) segundo a posição dos quadrados. O
objetivo é, sem pisar na casa onde está a pedrinha, que a criança percorra pulando
a amarelinha até o número 10, pegue a pedrinha e volte. Se a criança não conseguir
se equilibrar para pegar a pedrinha, será a vez do próximo jogador. Será vencedora
a criança que conseguir completar todo o percurso primeiro.”
Baleado: “é um tipo de queimada. Para brincar, o grupo é dividido em duas
equipes. As duas equipes tiram par ou ímpar para saber quem começa com a bola. O
objetivo é balear o time adversário. Quem for baleado sai da brincadeira. A brinca-
deira só termina quando todos os integrantes de uma das equipes forem baleados.”
Esconde-esconde: “uma pessoa contava e as outras se escondiam. O objetivo
era encontrar as pessoas. A última pessoa não encontrada poderia salvar todos os que
já haviam sido encontrados antes.”
Melancia: “Nessa brincadeira, um grupo de crianças representará as melancias
e, portanto, ficarão agachadas com as cabeças para baixo. Elas estarão espalhadas pelo
terreno. Uma delas será escolhida para representar o dono da plantação, responsável
por cuidar de suas frutas e ver quando as mesmas estão maduras.”
Pega-pega: “Uma criança é escolhida para ser a pegadora e as outras devem
fugir. Quando uma das crianças é pega, ela passa a ser a nova pegadora e assim
por diante”.
Sete Pedras: “Montávamos sete pedras e tínhamos que jogar uma bola, ou algo
e não derrubar, se derrubássemos tínhamos que correr para não ser pego. Daí era a
vez do outro. Isso se eu não estiver enganada.”
Pular Corda: “Tínhamos os passos para pular, alternando entre os dois ou
um pé e a intensidade, caso alguém errasse o que era ditado, dava a vez ao outro.”
Pular Elástico: “Era mais ou menos como pular corda, porém íamos colocando
o elástico em diferentes partes do corpo. Quem errasse o que era ditado para pular,
dava a vez ao outro.”
NA ESCOLA SE BRINCA! Brincadeiras das crianças quilombolas na Educação Infantil 109

Pular Elástico: “Pulávamos com os dois pés e se errasse na hora de pular perdia
a vez e dava a oportunidade para outra pessoa. O elástico ia subindo o corpo das duas
pessoas que estavam segurando (primeiro nos pés, depois no joelho, na cintura, no
pescoço e às vezes tinha o céu, que era elevar uma mão acima da cabeça e segurar
o elástico para a pessoa pular).”
Vídeo game: “Se você perdesse voltava ao início da fase ou do jogo.”
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ÍNDICE REMISSIVO
A
Autonomia 20, 41, 49, 51, 52, 59, 61, 62, 63

B
Bola 61, 62, 101, 102, 103, 104, 106, 108
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Brincadeira 3, 4, 11, 12, 15, 16, 17, 20, 29, 30, 35, 36, 39, 40, 43, 45, 46, 47,
49, 50, 51, 52, 53, 54, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 71, 72, 73, 77, 79, 81, 82,
87, 88, 89, 90, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108
Brincadeiras africanas 15, 20, 29, 93, 94, 97, 98
Brinquedo 39, 45, 46, 51, 52, 53, 61, 62, 65, 66, 73, 74, 75, 77, 95, 99, 101,
102, 103, 107

C
Capoeira 43, 45, 50, 54, 55, 56, 88, 90, 91
Confiança 21, 49, 51, 52, 53, 59
Contação 31, 32, 33, 43, 56, 71, 90

E
Educação Infantil 3, 4, 11, 15, 16, 17, 19, 20, 21, 22, 25, 27, 29, 30, 31, 32,
36, 37, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 57, 83, 87, 88, 90, 92, 93, 94, 97, 98, 99

H
História 19, 21, 31, 32, 33, 34, 41, 43, 50, 53, 55, 56, 57, 63, 64, 71, 79, 83,
84, 88, 89, 90, 91, 92
Histórias 22, 31, 40, 50, 51, 71, 87, 88, 91, 92

L
Lúdico 11, 43, 50, 51, 52, 60, 81

N
Nô bá brinca 15, 20, 29, 93, 94, 97

P
Pré-escola 21, 22
112

Q
Quilombo 19, 20, 22, 35, 44, 52, 53, 55, 59, 82
Quilombola 4, 19, 20, 21, 22, 25, 50, 92

S
Salvador 12, 19, 20, 25, 88, 91, 92
Samba 5, 19, 32, 33, 50, 51, 88, 89, 90, 91, 104

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SOBRE O LIVRO
Tiragem não comecializado
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)

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