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MEDICINA LEGAL E FORENSE


Antropologia forense
É a reconstrução da biografia biológica do indivíduo a partir dos seus restos ósseos
Determinação da espécie – peso dos ossos, densidade, índice medular, com Rx, Hx e imunologia –
animais têm ossos mais densos, canal medular mais amplo e mais longo, osso trabecular é mais
compacto; uso dos caninos e pré-molares para distinguir humanos de outros animais
Determinação das afinidades populacionais (raça) – a mais difícil, sem tradução a nível genético; o
melhor é usar o crânio
Determinação do sexo – só preciso após puberdade:
 Nos homens – queixo mais largo e quadrado; sulco digástrico mais marcado; epífises mais
salientes e robustas; diáfises mais compridas
 Nas mulheres – a pélvis tem sulco pré-auricular e ângulo subpúbico é maior
Determinação da estatura – método anatómico ou matemático
Determinação da idade – até aos 20-25 anos é fácil, pela rigorosa cronologia do desenvolvimento
ósseo; depois só temos intervalos alargados; usa-se ossos (núcleos de ossificação, encerramento das
metáfises, metamorfoses degenerativas, encerramento das suturas cranianas) e dentes (dentições de
leite, definitiva, e desgaste)
Determinar fatores de individualização (ID positiva) – fatores anatómicos e patológicos
Determinar a data da morte – métodos morfológicos, biológicos (entomologia forense (avaliar a fauna
presente no cadáver sugere o tempo de morte), avaliação de mtDNA) e pelo carbono-14
Exclusão de violência – asfixia, traumatismo, toxicidade

Autópsias médico-legais
As autópsias médico‑legais são realizadas por um médico perito coadjuvado por um auxiliar de
perícias tanatológicas. Havendo fundadas suspeitas de crime doloso, as autópsias médico‑legais
realizadas em comarca de outra área são obrigatoriamente executadas por dois médicos peritos,
coadjuvados por um auxiliar de perícias tanatológicas

Exame médico-legal: exame do local, da documentação, do vestuário, externo e interno do


cadáver, ECDs (toxicológicos, criminalística, biológicos, Hx, microbiológicos, radiológicos)

Autópsia médico-legal Autópsia anatomopatológica


Casos com interesse judicial, morte violenta ou Investigar a causa de morte, as alterações nos
causa de morte desconhecida tecidos pelo processo mórbido e como tais
alterações provocavam os sintomas funcionais
manifestados em vida
Esclarecimento da causa de morte e Exame interno do cadáver e a sua relação com
circunstâncias em que ocorreu (terceiros, a sua elementos clínicos
identificação e o seu grau de responsabilidade)
DD entre morte natural e morte violenta, entre Necessário consentimento dos familiares
homicídio/suicídio/acidente
1 médico + 1 ajudante (ou 2 médicos + 1 Geralmente cadáveres íntegros e em bom estado

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ajudante se crime doloso) de conservação


Cadáveres íntegros, em bom estado de Pode ter como objetivos controlo de qualidade,
conservação, bem como mutilados, em avaliação do Dx clínico, etc
decomposição ou apenas restos cadavéricos

Objetivos da autópsia médico-legal


 Gerais – DD entre morte natural/violenta, entre homicídio/suicídio/acidente (autópsia,
exame do local, infos complementares), natureza do instrumento que provocou as
lesões, qualificação dos ferimentos, qual a região atingida, distância entre agressor e
vítima, adequação entre instrumento e região atingida, e sinais de violência (nº e tipo
de lesões)
o Só o magistrado, e não o médico, é que deve resolver o problema da intenção
da morte
 Específicos – cronotanatognose, DD morte rápida/lenta, ID da vítima e agressor,
cronologia dos ferimentos (pre or post-mortem), posição entre agressor e vítima,
influência alcoólica, distância do disparo, deslocação cadavérica

Qualificação dos ferimentos:


 Causa adequada – pode levar à morte, mas sobreviveria se tratado a tempo
 Causa necessária – causa sempre morte (ex.: decapitação)
 Causa ocasional – por si só não levava a morte, mas nas circunstâncias em que a vítima
se encontrava, tornou-se mortal
 Concausas – lesões concorrentes com a ofensa para a determinação da morte (pré-
existentes, concomitantes ou supervenientes)

Morte violenta:
 Homicídio: carta de despedida com letra diferente, sinais de luta, lesões de defesa,
sinais de violência objetivada, entrada forçada, ausência de arma no local, desordem
no vestuário
 Suicídio: ausência de sinais de luta, ausência de lesões de defesa nem de lesões
traumáticas, aquisição recente de arma, ausência de desordem no vestuário e local
 Acidente: ausência de lesões de defesa, antecedentes irrelevantes, informação
testemunhal compatível com esta etiologia, exame do vestuário e local em
conformidade, ausência de vestígios de outrem

Organização médico-legal
INML, sediado em Coimbra, criado em 2000
Competências dos gabinetes ML – realizar autópsias ML, ID cadáveres, embalsamentos
respeitantes aos óbitos ocorridos nas comarcas integradas na sua área de atuação; realizar exames e
perícias para descrição e avaliação do dano psicofísico, no âmbito do direito penal, civil e do trabalho
O conselho superior de ML não tem por função autorizar os diversos esquemas de
colaboração pedagógica entre os institutos de ML e as universidades ou escolas superiores, em
especial no que concerne ao ensino pós-graduado de ML

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Tortura (pela convenção das Nações Unidas)


Causar dor ou sofrimento físico e/ou psíquico severo
Responsabilidade estatal (consentimento ou aquiescência de autoridades estatais
Intenção; aplicada com um objetivo específico (confissão, obtenção de informação, punição,
intimidação, discriminação…)
Situação de impotência, de falta de proteção da vítima, que se encontra completamente em
poder do torturador (especialmente durante a detenção)

Tanatologia
Estudo do cadáver, da morte e da sua causa; necro-identificação; tb pode determinar
idade dos vivos
Necro-identificação:
 Vertente morfológica – mais fácil e acessível, descreve indivíduo, identificação
positiva
 Vertente genética – mais difícil, é mais para exclusão
 Podem ser feitas por:
o Método reconstrutivo – por recolha no próprio cadáver – permite desenhar
perfil de indivíduo – fatores genéricos de identificação
o Método comparativo – compara o perfil do desconhecido com os elementos
conhecidos em relação a um determinado suspeito – fatores
individualizantes de identificação – permite identificação positiva
Processo de necro-identificação em cadáver recente:
 Exame geral – traços fisionómicos, sexo, idade aparente, peso (cuidado com a
putrefação), estatura, pelos, cor (cuidado, a córnea opacifica), cicatrizes,
malformações, tatuagens, espólio (roua e acessórios encontrados com o cadáver)
 Exame odontológico forense – esmalte é o tecido mais resistente do corpo, resiste à
carbonização; dentição é única de cada um; comparar dentição com exames ante-
mortem
 Dactiloscopia – são perenes, inalteráveis, únicas de cada um, bem conservadas nos
cadáveres, mesmo em estados avançados de putrefação
 Exames radiológicos – características individuais; morfologia dos seios nasais (bastante
individualizada); desenvolvimento dentário (até aos 14 anos); pontos de ossificação

Lesões
1. Lesões modeladas/figuradas
Escoriações, erosões ou contusões superficiais que reproduzem a forma do agente que as
produziu. Permite Dx específico do agente traumático. Ex.: rasto de pneus, forma de ferradura,
estigmas ungueais (escoriações elípticas), mordeduras, estrias longitudinais (arrasto nos acidentes de
viação)
Mordedura – dois arcos interrompidos, opostos, rodeados por equimoses

2. Lesões contusas – agressão à paulada

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Lesões produzidas por instrumentos contundentes, duros, de superfície plana ou romba


(objetos, partes do corpo humano, superfícies de embate) e que atuam sobre o organismo por
intermédio de uma força viva mais ou menos considerável. Em regra, o uso de instrumentos
contundentes revela que não houve intenção prévia do agressor.

Tipos de superfície contundente


Superfícies de embate – solo, paredes, peças de mobiliário (…)
Estes tipos de instrumentos podem originar diferentes lesões corporais, de acordo com as
características do instrumento e com a violência do traumatismo.
 Erosão/escoriação
 Deslocamento subcutâneo
 Contusão superficial
 Ferida contusa
 Contusão profunda
 Fratura

As três primeiras:
 Não apresentam solução de continuidade da pele
 Sem grande importância clínica
 Têm uma enorme importância em termos médico-legais, devendo ser corretamente
estudadas, descritas e interpretadas.
 Dão-nos informações valiosas, muitas vezes indispensáveis, para a resolução de casos
judiciais, tais como a produção vital ou post-mortem dos ferimentos, a direção e, por
vezes, o sentido do traumatismo, a ocorrência de luta, a forma do instrumento que as
produziu, etc...

Escoriação/ erosão
Traumatismo de pequena intensidade que atua tangencialmente à pele, sem produzir solução
de continuidade. A ação tangencial faz com que fiquem pontas levantadas na parte terminal do atrito
=> permite estabelecer sentido do movimento
Erosão – se a lesão se limita à epiderme
Escoriação se a derme também está lesada

Do ponto de vista topográfico, as erosões/ escoriações são mais frequentes em áreas


descobertas e/ou acessíveis.
Ex.: escoriações produzidas pelas unhas no decurso de sufocação (caracteristicamente à volta
da boa e do nariz), de estrangulamento manual (no pescoço) ou no caso de crimes sexuais.

Deslocamento subcutâneo
Aqui o traumatismo age tangencialmente sobre a pele, mas com maior intensidade embora
também não produzindo solução de continuidade.

Contusão superficial

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É o resultado de um traumatismo contundente que atua verticalmente, sem solução de


continuidade
Nestas lesões, existe rotura dos vasos com extravasamento de sangue que infiltra os tecidos.
Equimose (vulgar nódoa negra)
OU
Coleção de sangue em cavidade neoformada
 Hematoma (galo)
 A sua coloração vai variando com o decorrer do tempo, desde a sua formação até ao seu
desaparecimento completo (8 a 15 dias).
 Inicialmente invisíveis (1º dia), tornam-se vermelho-violáceo, depois azulado, esverdeado,
amarelado e depois desaparece (na conjuntiva e leito ungueal há apenas uma cor que se
atenua até desaparecer)
 A evolução da cor de uma contusão superficial não nos fornece dados precisos sobre o seu
tempo de evolução, antes nos dá uma noção de evolução. Havendo múltiplas lesões com
colorações distintas podemos afirmar que as agressões se sucederam durante vários dias,
ou não.
 DD com equimoses resultantes de processos patológicos, livores, manchas cianóticas e
manchas de putrefação
o Distingue-se dos livores por não estar em zonas de declive e por sangue estar
aderente (não é lavável)
Importante nas situações de maus-tratos.

Nas pessoas idosas há maior fragilidade capilar e ficam com hematomas mais facilmente.
Se o traumatismo ocorre à distância da região em que aparecem as lesões, não se deve falar
em equimose, mas sim infiltração sanguínea.

A quantidade de sangue extravasada depende não só do próprio traumatismo, mas também


das características locais (como a riqueza de vascularização) e características gerais do indivíduo
(como a existência de perturbações hemostáticas).

 Equimose – em que a infiltração dos tecidos ocorre de forma laminar


 Equimoma – equimose mais extensa
 Petéquia – infiltrados punctiformes
 Sugilação – ou equimose de sucção (chupão)
 Hematomas

Feridas contusas
Traumatismo vertical, violento, que produz solução de continuidade; bordos irregulares e
pontes tecidulares a unir os bordos (pequenos vasos e delicadas fibras)

Contusão profunda
Produzida por um traumatismo de grande intensidade, com infiltração hemorrágica em
profundidade, no plano muscular e/ou visceral

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No plano muscular, a infiltração pode ocorrer por contusão direta ou por infiltração
hemorrágica a partir de um foco de fratura vizinho.
A contusão visceral surge com mais frequência em órgãos maciços (cérebro, fígado, baço, rins)

Fraturas
Resultado de um traumatismo violento que dá origem a uma solução de continuidade do osso.
Devem ser abertos todos os focos de fratura existentes num cadáver (para ver se há contusões ou
secção medular)

Feridas por armas brancas


Geralmente indicam uma intenção prévia por parte do agressor
Instrumentos que, manejados manualmente, lesam a superfície cutânea.

Instrumentos perfurantes
Comprimento > diâmetro
Quanto ao orifício de entrada: se for instrumento fino, causa apenas ponto avermelhado, se
grosso o suficiente para ultrapassar a capacidade elástica da pele forma OE com orla de contusão (e
raramente há orla de contusão)
Quanto ao trajeto: se for ferimento vital apresenta infiltração sanguínea

Instrumentos cortantes
Instrumentos providos de uma lâmina. Aspeto fusiforme, linear, limpa com bordos regulares e
sem contusão. Cauda inicial (de ataque) e final (de saída, mais comprida e menos profunda)
Faca actua por deslizamento, não por perfuração.

Instrumentos corto-perfurantes
OE limpo, linear e fusiforme. Podem existir contusões ou escoriações.
Trajeto único ou múltiplo, perpendicular ou oblíquo

Instrumentos corto-contundentes
Ex.: machado, pá
DD com feridas cortantes – bordos mais irregulares e com orla de contusão. Atingem planos
mais profundos, podem causar fratura e não tem cauda
DD com feridas contusas – não têm pontes tecidulares a unir os bordos e atingem estruturas
mais profundas

1. Problemas médico-legais das armas brancas


1.1. Origem vital ou post-mortem
 Carácter vital: crosta, retração da pele, pus, hemorragia externa ou interna, embolia
gasosa em feridas que atingem veias do pescoço, infiltração sanguínea
 Carácter post-mortem: apergaminhadas

1.2. Etiologia médico-legal

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Suicídio – locais vitais, feridas compatíveis com o gesto da vítima, feridas de ensaio (pouco
profundas e junto à ferida vital), vestuário poupado
Homicídio – feridas múltiplas e graves, locais pouco compatíveis com gestos do próprio,
vestuário danificado (pesquisar dedadas de sangue também)
Lesões de defesa, por exemplo feridas na palma da mão ou bordo ulnar do braço
Por exemplo, no exame do local a existência de sinais de luta (móveis desarrumados, objectos
partidos…)

1.3. Identificação da arma


1.4. Cronologia dos ferimentos
1.5. Posição relativa agressor/vítima
1.6. Violência das lesões (avaliar nº e profundidade das lesões e grau de destruição)

Lesões por arma de fogo e explosivo


Elementos que integram o disparo:
 Projétil – único (bala) ou múltiplo (grãos de chumbo)
 Taco – só nas caçadeiras; normalmente incendeia-se e desaparece, só a curta distância se
pode encontrar no corpo da vítima
 Pólvora – da sua explosão resulta gases, chama, negro de fumo e grãos de pólvora não
combusta (pode funcionar como projétil)
A autópsia tem como objetivos adicionais a distância, direção e trajeto do disparo, bem como a
balística
Ferida de bala:
 Entrada – geralmente única, arredondada ou oval, menor que tamanho da bala (aumenta se
curta distância)
o Estrelada se cano encostado
o Linear se longa distância
o Circular se no cadáver
o Tatuagem (não existe na longa distância ou cano encostado – exceto a orla de
contusão)
 Orla de contusão – existe sempre, circular ou meia lua, estreita, enegrecida e
apergaminhada no cadáver
 Queimadura – se disparo a 5 cm
 Orla de negro de fumo – lavável; se disparo a 15 cm
 Orla de depósito de pólvora incombusta – disparo a 30 cm
 Trajeto – único ou múltiplo, reto ou não, pode ter sangue no interior
 Saída – nem sempre existe, forma e tamanha variáveis; pode ser múltiplo (bala fragmenta-se
ou pedaços de osso); só tem orla de contusão se bala voltar a entrar; bordos evertidos com
exposição de tecido adiposo
Ferida de caçadeira:
 Entrada – geralmente múltipla; se curta distância (< 1m), os chumbos não dispersam – projétil
único => orifício de entrada irregular, grande com destruição acentuada dos tecidos
subjacentes

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Ferida por explosão:


 Lesões pela ação mecânica do próprio explosivo e da metralha (fraturas, feridas, mutilações),
queimaduras, ação química e pela onda de choque:
o Pulverização – rebenta alvéolos pulmonares
o Explosão – rebenta vísceras ocas
o Onda de pressão – rutura da membrana do tímpano

Direção do disparo:
 Ter em conta forma da tatuagem, da orla de contusão e do trajeto
 Se for difícil distinguir entrada da saída, pesquisar presença de restos de vestuário ou produtos
da decomposição da pólvora – característicos da entrada!
o No crânio, orifício de entrada destrói mais tábua interna, enquanto saída destrói mais a
tábua externa

Distância do disparo:
 Nas feridas de bala
o Cano encostado – entrada estrelada (gases entram na pele e rebentam-na), paredes
negras, determinar produtos da pólvora
o Queima-roupa (teórico, 5 cm) – ao alcance da chama => queima a roupa e pode
queimar orifício de entrada
o Curta distância (60 a 70 cm) – orla de contusão com tatuagens (negro de fumo se
próxima, depósitos de pólvora se remota)
o Longa distância (> 70 cm) – só orla de contusão, sem tatuagens
 Nas feridas de caçadeira
o Curta distância – tem tatuagens
o Longa distância – afeta várias partes do corpo pelos grãos de chumbo que se dispersam
(> 1 m)
 1 a 5 m – só cabeça
 5 a 10 m – cabeça e pescoço
 10 a 15 m – cabeça, pescoço e tórax
 15 a 25 m – cabeça, pescoço, tórax e abdómen
Natureza do disparo (homicídio, suicídio, acidente):
 Exame do local, arma (armas de ocasião favorecem suicídio) e do cadáver:
o Suicida retira a roupa, tem pólvora na mão
o Ver nº de entradas, localização e distância
o Espasmo cadavérico – mão que empunha a arma fica na mesma posição
 ECDs – Rx, pólvora, resíduos de fumo
o Reações de Guttman e Brucina
 Pesquisa pólvora por deteção de nitratos e nitritos: Guttman – azul; Brucina –
vermelho

Traumatismos cranioencefálicos
Lesão de tecidos moles – contusões, equimoses, hematomas, feridas, escalpe (arrancar couro
cabeludo); pode complicar para hemorragia, infeção, tromboflebite

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Fraturas cranianas
 Perfurantes (raras), cortantes, corto-contundentes, contundentes, por arma de fogo
 Complicações imediatas: hematoma, hemorragia externa ou intracraniana
 Complicações tardias: infeção, lesões neurológicas, perda de LCE
Lesões intracranianas
 Por compressão, fratura, traumatismo torácico (causa apneia, que leva a hipoxia
cerebral), movimentos de aceleração e desaceleração (lesões vasculares, mecanismo
de contragolpe)
 Comoção cerebral (com perda transitória de consciência nuclear), contusão (perda de
consciência > 6 h), laceração (cicatrização pode originar focos epiléticos), edema (HIC –
focos de contusão), lesão axonal difusa, hidrocefalia aguda traumática, hemorragias
cerebrais (mais frequente é a HSA)
 Complicações – coma, infeção, síndrome pós-concussional
 Sequelas – psicose, paresia espástica, afasia, epilepsia, perturbação neurótica

Traumatismos da coluna vertebral

Fraturas – sobretudo cervical e torácica; por compressão, flexão ou extensão exagerada,


torção ou pancada direta
Lesões medulares – contusão ou secção medular; pode levar a alterações respiratórias,
hipertermia e tetraplegia (se cervical); disreflexia autonómica (acima de T6; hipertensão paroxística,
cefaleias, hipersudorese, bradicardia, alterações cognitivas por vezes), paraplegia (se lesão torácica
superior); paraplegia, alteração do controlo dos esfíncteres (se lesão torácico-lombar)

Traumatismos do pescoço

Lesões por compressão, por arma branca ou arma de fogo. Se houver solução de continuidade
da traqueia pode originar enfisema, embolia gasosa ou asfixia

Traumatismos do tórax

Fraturas das costelas e esterno, lesões cardíacas (contusões, lacerações, feridas, rotura, lesões
dos grandes vasos), lesões pulmonares (feridas ou arrancamentos em traumas violentos)

Traumatismos abdominais

Lesões da parede (equimoses, hematomas, erosões, feridas), lesões ósseas, lesões viscerais
(baço, fígado, estômago, pâncreas, rim), lesões genitourinárias (mais nos homens)

Traumatismos das extremidades

Lesões dos tecidos moles, ósseas, de vasos e nervos, embolia gorda (rotura de tecido adiposo
da MO + rutura de veias)

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Autópsias nas situações de suspeita de gravidez ou aborto


Aborto
Código Penal – Capítulo II – dos crimes contra a vida intra-uterina
Art. 142º (interrupção da gravidez não punível – até às 10 semanas, ou IMG (até às 24
semanas))
Lei 6/84 de 11 de Maio – art. 3º - escusa de médico; direito à objecção de consciência

Morte espontânea ou provocada do produto da conceção dentro do ventre materno em


qualquer idade da gravidez, antes do início do trabalho de parto.

Fase embrionária – 12 semanas


Depois deixa de ser embrião  feto  12/16 semanas até ao final = 40 semanas

Embrião = produto da conceção até serem formados os órgãos. O que afeta a fase embrionária
pode, portanto, afetar a formação dos órgãos.
Na fase de feto já tem os órgãos e vai crescer – se houver interrupção, há um “nascimento”
(viável ou não fora do ventre materno).

Há uns anos era pouco provável que com menos de 28 semanas sobrevivesse. Hoje, com 20
semanas consegue-se que o bebé cresça e seja viável.
Mas do ponto de vista médico-legal é em qualquer idade da gravidez.

Numa autópsia encontrar mulher grávida é um achado da autópsia. Uma das lesões que a
vítima pode sofrer é a interrupção da gravidez.
Descreve-se o achado como se fosse um fígado ou outro órgão, uma vez que não chegou a
nascer. Não tem entidade jurídica. Não se faz funeral à parte.
Durante o parto e após o parto = infanticídio.

1. Aborto provocado
1ª fase – exercício violento, quedas voluntárias, duches vaginais
2ª fase – substâncias tóxicas (aloés, açafrão, absinto, camomila)
3ª fase – procedimentos mecânicos ou genitais diretos

Evolução – depende das condições de assepsia, se houve profilaxia AB, do tempo de gravidez e
do estado físico e psicológico da mãe
Aborto simples: sintomas premonitórios (mal-estar, vómitos, debilidade, lipotimias) => dor =>
hemorragia => expulsão
Aborto complicado: pode haver morte súbita por inibição reflexa
 Acidentes imediatos (choque, hemorragia, embolia gasosa, gorda)
 Acidentes de Dx posterior (retenção de instrumentos, lesões no feto,
desprendimentos, ruturas, escaras, lesões perfurantes)

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 Complicações tardias (infeções, enfarte hemorrágico uterino, IR, hemorragias,


aderências, amenorreia, esterilidade, problemas psicológicos)

Diagnóstico de aborto e tempo de gestação – idade possível de gravidez; sinais de gravidez


(pigmentação auréola e da linha branca abdominal, colostro, estrias, coloração da mucosa
vulvovaginal, aumento do volume uterino, corpo lúteo ovárico, hCG positiva

Exclusão de origem patológica ou acidental – malformações uterinas, neoplasias, infeções,


doenças endócrinos ou cardiovasculares, hábitos
 Rutura uterina espontânea
 Morte natural do feto in utero – pode ocorrer:
 Reabsorção do feto nos três primeiros meses
 Mumificação do 3º ao 5º mês
 Maceração a partir do 5º mês

Comprovação de aborto e deteção da causa – antecedentes, evolução clínica, presença do


tóxico ou instrumento usado, ferimentos sugestivos na mulher ou feto, exame do local

Rutura uterina espontânea – ocorre geralmente numa gravidez de termo, sem lesões traumáticas
noutros órgãos da mulher e feto; grande solução de continuidade no útero com atingimento do colo e
debilidade anterior da parede

Infanticídio – mão que mata filho durante ou logo após o parto, punida com pena de prisão de 1 a 5
anos; requer exame ML – exame local, autópsia ML do RN

Características do RN de termo:
 Maturidade morfológica – cabelos > 2 cm, unhas visíveis para além da polpa, genitais
externos, pavilhões auriculares
 Parâmetros métrico-ponderais – comprimento total 50 cm; comprimento do pé 9 cm;
perímetro cefálico 35 cm; idade gestacional em dias = comprimento (cm) x 5,6 – de
Balthazard e Dervieux
 Estado de ossificação – ponto de ossificação de Béclard (na extremidade distal do fémur,
visível a partir das 34-36 semanas; diâmetro de 6 mm no recém-nascido de termo;
vermelho, lenticular, muito resistente a putrefação; sinal de Billard – tabiques
interalvelares bem desenhados nos RN de termo
 Estado visceral, Hx dos órgão e tecidos, sinais BQ

Dx de nascimento com vida:


 Estabelecimento da respiração pulmonar
 Abolição da circulação fetal
 Alimentos no tubo digestivo, corpos estranhos na via aérea
 Testemunhas que relatam choro; exame local (hemorragias); RN limpo e cuidado;
violências letais evidentes
 Docimasias

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o Descritivas do pulmão –se cor-de-rosa, maciços, não arejados, bem encaixados nos
sulcos parietais, é pq nunca respiraram
o Hidrostática – se pulmões flutuarem em água é pq já respirou; muitos falsos
positivos devido a putrefação
o Hx pulmonar – mais seguro
o GI – se flutuarem em água, é porque RN já comeu; se nasceu morto, não há flora
intestinal
o Falsos negativos – vida sem respiração, etc
o Falsos positivos – respiração sem vida, etc

Manchas de Tardieu – podem ocorrem em qq situação em que tenha havido sofrimento fetal,
não implica infanticídio obrigatoriamente; ponteado hemorrágico nas serosas pulmonares e
petéquias hemorrágicas no timo

Causas de morte materno-fetais:


 Complicações maternas – infeção, hemorragia, CID, embolia gasosa, gorda ou
amniótica, inibição reflexa, eclâmpsia
 Morte natural do feto
o In utero – infeção materna, intoxicação materna, alterações ovulares/fetais
(cromossomopatias)
o Durante o parto – asfixias, compressão da cabeça, hemorragia do cordão
o Pós-parto – onfalorragia, asfixia acidental, parto surpresa

Se o cordão der a volta ao pescoço, não pode morrer por asfixia nos pulmões, morre, de facto,
por asfixia, porque não recebe ar através dos vasos sanguíneos do cordão umbilical.

Verificação e certificação do óbito

A verificação e certificado do óbito são da competência do médico e qualquer médico inscrito


na Ordem dos médicos (tal como dentária) deverá estar habilitado a fazê-lo.

Código deontológico da Ordem dos médicos

Art. 93º Deveres sanitários

“No exercício da sua profissão deve o médico cooperar com os serviços sanitários para defesa
da saúde pública, competindo-lhe designadamente (…) Verificar o óbito de pessoa a que tenha
prestado assistência médica”

Verificação do óbito: feita pelo médico que chegar primeiro junto do cadáver, ou por aquele
que seguia o doente no momento da morte, e verificar que houve cessação irreversível das funções
do tronco cerebral; feita em papel timbrado (se em ambulatório) ou no processo clínico; necessária a

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presença de 2 médicos em casos de sustentação artificial das funções cardiorrespiratórias. O médico


que verifica não pode estar associado a transplantes
 Quem chega em primeiro lugar?
o Se o indivíduo ainda não estava morto e foi acionado o INEM, os médicos da
emergência serão os primeiros.
o Quando o indivíduo é encontrado já cadáver, dependerá da autoridade policial,
que não tem formação nem sensibilidade, para chamar o médico indicado. Ex.:
delegado de saúde, mas esses são difíceis de contactar, quem é contactado é o
médico da medicina legal
 Como se deve verificar um óbito?
o Com base em critérios médicos, técnicos e científicos a definir pela OM (art.
3º/2) que devem se atualizados regularmente
o Estes critérios não foram ainda definidos
o Existe a declaração da OM com os critérios da morte cerebral
o Na prática é baseada nos conhecimentos / leges artis

Certificação do óbito: modelo 1725 ou 1725ª (este para fetos mortos > 22 semanas, exceto
IVG e IMG) e recém-nascidos < 28 dias); deve constar info completa, com a causa e mecanismos de
morte:
 Parte I
o Causa direta (a)
o Causa intermédia (b)
o Causa básica (c)
 Parte II – outros estados mórbidos, fatores e estados fisiológicos que contribuíram para
falecimento

Estas duas tarefas são um ato único quando há logo conhecimento da causa da morte: morte
no domicílio, com assistência médica e conhecimento da causa; morte num estabelecimento saúde e
o médico assistente tenha chegado a Dx seguro da causa da morte
São atos distintos em casos de morte violenta, morte ignorada ou morte súbita (ou em curso
improvável para a doença de que padecia); aqui a autópsia interpõe-se obrigatoriamente entre a
verificação e a certificação do óbito, esta já sendo feita por um perito médico-legal.

SINAIS DEVIDOS À CESSAÇÃO DAS FUNÇÕES VITAIS

Sinais negativos de vida (positivos de morte) – devem ser irreversíveis:


 Ausência de movimentos inspiratórios (ausência de sopro nasal)
 Ausência de batimentos cardíacos (durante 5 minutos nos 4 focos, ECG...)
 Ausência de resposta a estímulos dolorosos
 Ausência de pulso e TA
 Ausência de movimentos (imobilidade, flacidez, ausência de tónus muscular. a regra é a
flacidez imediata, mas pode acontecer que a pessoa fique na posição em que morreu)
 Ausência de reflexos

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 EEG e ECG isoelétricos

Excluir (simulações de morte):


 Hipotermia
 Intoxicação por fármacos depressores do SNC
 Alterações endócrinas ou metabólicas

1. Sinais de certeza de morte

Precoces:
 Livores – arroxeados; cerca de 15 min a 3 h após a morte; cessa força propulsora do
coração – sangue deposita-se nas zonas de declive; aspeto e intensidade dependem da
viscosidade do sangue
o Hemorragia severa interna ou externa – não há livores
o Zonas apertadas por roupa e de apoio – capilares colapsam – não há livores
o Cor carmim se intoxicação por CO; verdes se por ácido cianídrico
o Até às 6 h – móveis – aparecem 1º no lóbulo da orelha
o Entre as 6 e as 12 h – semimóveis
o Após 12 h – fixos
o Livores paradoxais – em regiões de não declive, com petéquias hemorrágicas (EAM,
asfixia mecânica)
o Hipostases viscerais – livores nas porções inferiores das vísceras
o Diferem das equimoses por estarem em declive, e à incisão com bisturi, nas
equimoses o sangue estar fortemente aderente aos tecidos e não ser lavável
 DD entre trombos vitais e coágulos post-mortem:
 Trombos vitais acinzentados, estriados, oclusão total do vaso, duros,
aderentes
 Coágulos post-mortem vermelho vivo, lisos, brilhantes, oclusão
parcial, elásticos, não aderentes
 Rigidez cadavérica – coagulação do plasma muscular, por desidratação, aumento de
lactato e menos ATP. Evolução:
o Flacidez inicial
o Rigidez inicial (2-4h), completa (6-12h), máxima (12-24h); primeiro mio liso, depois
estriados (1º é face); desaparece às 36h
o Flacidez secundária
o É precoce nas crianças e idosos, pouco acentuada e curta; nos adultos é tardia,
intensa e prolongada
o Se hemorragias crónicas ou atrofias musculares, é tardia, pouco acentuada e curta
o Espasmo cadavérico – variante da rigidez, logo após a morte, sem ser precedido de
flacidez; localizado, raramente generalizado
 Suicídio, processos convulsivos/hemorragias centrais, armas de fogo, asfixia
mecânica
 Se generalizado, atender à expressão da vítima – pode ajudar no DD ML

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 Arrefecimento – o mais útil para determinar intervalo post-mortem nas primeiras 24h. Pés,
mãos e cara estão frios 2h após morte. As últimas a arrefecer são abdómen, axilas e
pescoço; as regiões cobertas estão frias após 4 a 5h
o Tempo post-mortem = 36,9 – (temp retal/0,8)
 Como a temperatura ambiente e a massa corporal do indivíduo influenciam
o arrefecimento cadavérico, Hengsse elaborou um nomograma de simples
utilização que nos dá um fator corretivo do tempo post-mortem tendo em
conta os fatores, atrás descritos, que o influenciam
o Variações:
 Nas doenças crónicas, hemorragias e grandes queimaduras arrefecimento é
mais rápido; é mais lento nas doenças agudas e sufocação, bem como no
tétano e intoxicação por estricnina (aumenta produção calor pelo músculo,
por excesso de atividade bacteriana)
 É mais rápido em crianças, nos magros e em malnutridos
 Desidratação
o Perda de peso – constante, mas só apreciável em recém-nascidos e crianças
pequenas
o Zonas de pele delgada e zonas que sofreram lesão imediatamente antes ou depois
da morte sofrem desidratação mais rápida – placas apergaminhadas
o Mucosas – lábios dos recém-nascidos e vulva das crianças
o Opacificação da córnea (após 45 min em olhos abertos, 24 h se fechados)
o Mancha esclerótica de Sommer-Larcher (só se olhos ficarem abertos)
o Afundamento e amolecimento do globo ocular
 Coagulação intravascular e intracardíaca

Tardios:
 Destrutivos
o Autólise – ação enzimática – esófago e estômago resistentes, pâncreas e cérebro
sensíveis; SR é a mais precoce
o Putrefação – fermentação pútrida de origem bacteriana
 Fase cromática (vários dias) – Hb + ácido sulfídrico => sulfoHb (verde) – 24h
após a morte => mancha verde na FID, afogados no pescoço, fetos na face e
tórax e em zonas com lesões
 Fase enfisematosa (dias – 2 semanas) – gases das bactérias acumula no
subcutâneo – cabeça incha, exoftalmia, procidência da língua, distensão
torácica e abdominal, dos genitais (prolapso uterino), rede venosa torna-se
aparente
 Fase de liquefação/coliquativa (8 a 10 meses) – pele começa a desagregar-
se – bolhas subcutâneas com líquido escuro, pelos e unhas caem, gases
escapam
 Fase esquelética (2-3 anos) – partes moles do cadáver desaparecem
 Dificuldades na autópsia: impossibilita docimasias, pode mascarar lesões,
simula equimose, prejudica exames Hx, produz alcaloides cadavéricos,
impossibilita medição da alcoolémia

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 Conservativos
o Naturais
 Corificação/congelação
 Saponificação (sobretudo em crianças) – obesidade + humidade + falta de
ventilação => formação de adipocera; não atinge vísceras; recente: untuosa
e moldável; antiga: dura, seca e quebradiça; odor amoniacal intenso
inicialmente; não é evidente nos primeiros 3 meses; melhora ID corpo,
preservação e reconhecimento de lesões, mas não permite ver tempo post-
mortem
 Mumificação – magreza + boa ventilação + temperaturas elevadas =>
dessecação rápida do cadáver
o Artificiais – embalsamamento; refrigeração

2. Morte cerebral

Situação em que o indivíduo se encontra em coma profundo por lesão irreversível com
ausência de funções do SNC e com as restantes funções vitais mantidas por meios extraordinários de
suporte.

A sua certificação requer a demonstração

3. A verificação da morte cerebral

Relação de no mínimo dois conjuntos de provas com intervalo adequado à situação clínica e à
idade
Realização de ECDs, sempre que for considerado necessário
A execução das provas de morte cerebral por dois médicos especialistas (em neurologia,
neurocirurgiões ou com experiência de cuidados intensivos) (nenhum dos médicos que executa as
provas poderá pertencer a equipas envolvidas no transplante de órgãos ou tecidos e pelo menos um
não deverá pertencer à unidade ou serviço em que o doente esteja internado).

Critérios:
 Ausência na totalidade dos reflexos do tronco cerebral relevantes (já anteriormente
descritos), onde, no reflexo fotomotor, as pupilas deverão ter um diâmetro fixo, bem
como a realização da prova de apneia confirmativa da ausência de respiração
espontânea.
 Para verificar o diagnóstico de morte cerebral, é necessário que previamente se
conheça a causa e a irreversibilidade da situação clínica, que se constate a estabilidade
hemodinâmica do indivíduo e que se confirme a ausência de fatores que possam ser
responsabilizados pela supressão das funções do tronco cerebral (hipotermia,
alterações endócrino-metabólicas, depressores do SNC, bloqueadores
neuromusculares).

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4. Não esquecer
Mesmo que a morte seja uma consequência previsível na evolução de um estado mórbido
bem caracterizado e conhecido do médico, não exclui a obrigatoriedade do exame hábito externo do
cadáver (autópsia propriamente dita é feita por um exame do hábito externo: equimoses,
amputações... e depois é que se faz a análise do hábito interno).
Por outro lado, o médico deve conhecer as situações em que se encontra habilitado a
certificar o óbito e as que obrigam a autópsia médico-legal, facultando, nestes casos, a necessária
informação.
Ex.: deve fazer sempre um exame do hábito externo, porque pode acontecer que por exemplo
a família tenha querido antecipar o momento da morte, ou por eutanásia – mesmo nos cadáveres em
que o MP dispensa autópsia, tem de haver exame do hábito externo.

Acidentes de viação
Tipos de acidentes: colisão, despiste (com colisão ou queda), capotamento, atropelamento,
outros (explosão, colapso de via)

1. Causas gerais
Fator humano
Avarias mecânicas dos veículos
Condições das vias de circulação
Condições atmosféricas

Estas causas podem ser simultâneas, sendo sem dúvida a mais frequente o facto humano (80-
95%).

2. Gravidade das lesões


A vítima pode:
 Morrer imediatamente nos primeiros momentos – a causa da morte tem a ver
diretamente com as lesões sofridas no acidente.
 Morrer passados dias ou semanas – a causa da morte tem a ver com as complicações das
lesões sofridas no acidente (sobrevida – tempo que medeia a ocorrência do acidente e a
morte – será consequência do acidente, terá direito a indemnização?) A vítima que entra
viva no hospital e morre algum tempo depois não entra na estatística.
 Sobreviver – com ou sem consequências permanentes das lesões sofridas no acidente.

Lesões abertas ou visíveis – devido a impactos diretos


Lesões fechadas ou invisíveis – devido a movimentos bruscos dados pelas forças de aceleração
e desaceleração a que o corpo é submetido

Grande variedade de lesões consoante a variedade de veículos e o tipo de violência


30-40% das vítimas são politraumatizados
A posição da vítima no veículo é irrelevante na gravidade das lesões
Projeção da vítima para fora do veículo

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Encarceramento da vítima dentro do veículo

Lesões externas
Grande desproporção entre a gravidade aparente manifestada pelas lesões externas e a
gravidade das lesões internas. Violência extrema – extensas lacerações...

Lesões internas
Lesões craniomeningoencefálicas – fraturas, hemorragias, contusões, lacerações encefálicas, lesões
de contragolpe

Lesões medulares - podem não ser mortais – sequelas talvez das mais graves pela incapacidade
resultantes (tetraplegia e paraplegia). Efeito “chicote” nas lesões cervicais (cabeça faz hiperextensão
seguida de hiperflexão, o que lesa medula cervical

Lesões torácicas - fraturas da grelha costal, com/sem laceração de folheto parietal da pleura,
lacerações pulmonares, cardíacas, ruturas da aorta; pode complicar para hemo ou pneumotórax,
volet costal, broncopneumonia

Lesões abdominais e abdominopélvicas – lacerações do baço, fígado, rins, SR; fraturas da bacia
(hemorragia abundante)

Lesões dos membros – as dos MI são mais graves (fémur – hemorragia abundante)

3. Atropelamento
Lesões vão depender da massa, velocidade, tipo de rodado, estabilidade e manobralidade do
veículo atropelante. Atropelamento pode ser também por multidões.

Etiologia médico-legal – acidental – questões de responsabilidade civil e/ou criminal;


suicida/homicida – excecionais
Fases do atropelamento (podem não existir todas – atropelamento incompleto)
1) Contacto:
Pode não existir
A vítima pode ser projetada devido à onda expansiva criada pela massa do veículo em
movimento a alta velocidade
Lesões – cutâneas (feridas contusas, perfurantes), osteoarticulares
2) Queda:
Sobre a via ou sobre o próprio veículo (atropelamento misto)
Lesões – cutâneas, osteoarticulares, viscerais
3) Esmagamento:
Quando a vítima se encontra já deitada na via
Lesões – osteoarticulares e viscerais
4) Arrastamento

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Quando a vítima fica presa ao veículo


Lesões – escoriações típicas, por vezes incrustação de materiais do solo

A identificação das lesões como sendo devidas a atropelamento é difícil e até impossível
A identificação do veículo atropelante também é difícil – não há “lesões típicas” de certos
veículos.

A legislação preventiva abrange não só a condução rodoviária mas também o fabrico dos
veículos automóveis.

Cinto de segurança
Uso obrigatório
Reduziu em mais de 25% o número de mortos e feridos graves, ao diminuir o risco de projeção
das vítimas
Reduziu drasticamente o número de feridos leves, com lesões faciais (especialmente
oftalmológicas)
Os cintos de segurança podem produzir lesões graves, por vezes a morte
Podem impedir que a vítima saia do veículo com rapidez, no caso de incêndio.
Casuisticamente, os acidentes de viação seguidos de incêndio ou explosão são em número muito
inferior aos acidentes por colisão, despiste ou capotamento.

Air bag
Impedem as lesões devidas ao impacto direto dos ocupantes do veículo com o volante e/ou
com o tablier; impedem as lesões devidas à hiperflexão dos ocupantes; não impedem a saída rápida
da vítima do interior do veículo.

Capacetes de proteção
Nos países desenvolvidos, o número de veículos motorizados de duas rodas é inferior ao
número de veículos de quatro rodas.
Evita os impactos diretos, e consequentemente, as fraturas da abóbada craniana. No entanto,
não evita fraturas da base do crânio, nem lesões meningoencefálicas devidas às forças de aceleração
e desaceleração

Vulnerabilidade das crianças nos veículos motorizados


É uma questão de tal importância que obriga a legislação própria
Uma criança pequena (< 12 anos) nunca deve ocupar um lugar da frente do veículo, nem
sozinha nem ao colo de um adulto.
Acidentes banais, sem outras repercussões, podem causar lesões gravíssimas e mesmo a
morte da criança.
Os acidentes de viação são a primeira causa de morte previsível e evitável nas crianças
Numa criança, as lesões devidas a uma colisão frontal a 50 km/hora, equivale a uma queda do
terceiro andar.
Devem ocupar obrigatoriamente os lugares traseiros do veículo

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DEVEM UTILIZAR DEVIDAMENTE OS MEIOS DE PROTECÇÃO E SEGURANÇA apropriados.

Investigação forense em situações de desastres de massas

Situação que, resultante da mesma ocorrência, ocasiona um número de vítimas superior à


capacidade de resposta das instituições locais.
São cada vez mais frequentes

Importância social
Ressonância nos meios de comunicação social
Riscos para a saúde pública
Riscos para a ordem pública
Situação emocional dos familiares
Exigências das investigações policiais

Necessidades de coordenação dos diferentes organismos intervenientes


Necessidade de estratégias de atuação conjunta eficazes

 Abertos – não se conhecem as vítimas (terramotos, inundações, incêndios)


 Fechados – as vítimas são conhecidas (acidentes de transporte aéreo, naufrágios)

Objetivos da intervenção ML:


 ID das vítimas – o mais importante – pela antropologia e medicina dentária forense
 Determinação da causa de morte
 Determinação da data da morte
 Obrigatória autópsia ML: exame sumário do cadáver, pormenorizado nas key-victims
(aquelas que podem ter alguma responsabilidade pela situação); necessária
uniformização de técnica da autópsia, ECDs e relatórios periciais

Queimaduras

Por agentes térmicos:


 Chamas e materiais inflamados – amplas, extensas, irregulares, mal delimitadas;
diferentes graus de queimadura; pelos e cabelos queimados; direção de baixo para
cima; respeita roupa apertada
 Gases quentes – muito extensas, pouco profundas, mal definidas; não atingem zonas
cobertas por vestuário; pelos e cabelos queimados; possível lesão das VAS
(queimadura=>edema=>asfixia)
 Vapores quentes – muito extensas, pouco profundas; escara branca e mole no cadáver;
não afeta pelos e cabelos; afeta mais zonas com roupa (devido à água)
 Líquidos quentes – variavelmente extensas e profundas, com sulcos de direção
descendente (líquido a escorrer); zonas com vestuário têm lesão mais profunda; não
afeta pelos e cabelos

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 Sólidos ao rubro – limitadas, traduzem forma do agente; profundidade varia com


temperatura e tempo de contacto; possível incrustação da substância na pele; pelos e
cabelos apenas retorcidos e desorganizados
 Calor radiante – à distância, queimaduras variáveis, associadas a alt metabólicas e
bioquímicas, não é frequente conduzir a morte – causa ocasional

Por agentes químicos: queimaduras de grau uniforme, com sulcos; se ingeridos causam
escaras na boca e lábios; grau depende da concentração
 Ácidos – escaras secas brancas, e depois negras se sulfúrico, amarelas se nítrico,
cinzentas se clorídrico (Hx – conservados, dilatação sanguínea e linfática)
 Bases – escaras moles, translúcidas, húmidas, tornam-se saponosas (Hx – bem corados,
vasoconstrição, eritrólise, núcleos desfigurados)
 Sais – escaras brancas
 Gases bélicos – flictenas (bolhas)

Por eletricidade (não depende exclusivamente da voltagem)


 Marca elétrica de Jellinek – reproduz forma do objeto condutor; cor branca-amarelada,
consistência fina, incrustada na pele (bordos finos, centro deprimido), indolor, sem
inflamação, pelos retorcidos, profundidade variável
 Metalizações – impregnação superficial de partículas metálicas do condutor,
desparecem ao fim de 4 ou 5 dias (pele descama) – se morreu há mais de 5 dias, pode
não haver já vestígios da metalização
 Por raio – raízes dendríticas de Lischtenberg; morte por fulguração
 Descarga na cabeça – morte por inibição dos centros respiratórios
 Descarga mão-mão – morte por paresia respiratória
 Descarga mão-pé – morte por fibrilação ventricular

1.1.1. Gravidade das queimaduras depende de


(a) Extensão da queimadura – regra dos 9

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30 a 50% de supf corporal queimada – incompatível com a vida


Regra prática - % da área queimada + idade => se maior que 100% => risco de vida

(b) Localização da queimadura

(c) Profundidade da queimadura

(i) Queimaduras do primeiro grau (só epiderme)


Causam eritema por vasodilatação capilar local; muito dolorosas
Não são habitualmente visíveis no cadáver

(ii) Queimaduras do 2º grau (derme e epiderme)


Formação de vesículas ou flictenas – rompem frequentemente antes da morte formando-se
placa apergaminhada (coloração amarelo negra) onde é visível rede vascular

(iii) Terceiro grau (de toda a espessura da pele)


Forma escara branco-acinzentada e apergaminhada no cadáver. No vivo não cicatriza
espontaneamente

(iv) Queimaduras de 4º grau - carbonização


Só médico-legalmente consideradas – só no cadáver
Destruição total dos tecidos, atingindo plano muscular.

(d) Estado de saúde anterior da vítima

(e) Idade da vítima

1.2. Carbonização

1.2.1. Hábito externo


Redução do volume total do cadáver por condensação os tecidos
Atitude peculiar (posição de pugilista) – por contração muscular devido ao calor
Riso sardónico
Coloração negra do corpo com a pele seca e ressecando à percussão
Soluções de continuidade na superfície cadavérica sobretudo a nível das pregas de flexão. (a
própria carbonização provoca ferimentos – soluções de descontinuidade da pele).
Zonas cutâneas indemnes nos locais protegidos por roupa
Chamuscamento ou desaparecimento dos pêlos e cabelos
Eventual abertura das cavidades com saída das vísceras (é o própria calor que faz abrir o
abdómen, nomeadamente por combustão de gases)
Amputações espontâneas a nível dos membros
Alteração de coloração da íris (fica azul) por coagulação do cristalino.

1.2.2. Hábito interno

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Vísceras conservadas, quando não houve rotura das cavidades, mas com significativa
diminuição de peso
Fracturas ósseas (extremidades, tórax e crânio)
Hematoma epidural disseminado – por ação do calor
Depósitos de gordura nos vasos pulmonares por liquefação dos lípidos subcutâneos

A primeira coisa a fazer a um cadáver carbonizado encontrado sozinho é um Rx (suspeita


sempre de queimadura para ocultar crime)

Causa de morte num foco de incêndio:


 Ação da temperatura elevada
 Queimadura
 Lesões traumáticas concomitantes (ex.: queda)
 Espasmo da glote por irritação de gases inalados - asfixia
 Intoxicação por CO ou outros gases contidos no fumo
 Causas naturais

Provas de que a vítima estava viva antes da queimadura:


 Presença de produtos de combustão (negro de fumo ou cinzas) nas partes profundas
das vias respiratórias e digestivas
 Queimaduras da base da língua, epiglote, faringe e laringe
 Teor de carboxiemoglobina em sangue colhido no coração e vasos profundos superior
a 10%. (hemoglobina fixa melhor monóxido de carbono do que oxigénio)
 Carbonização vascular a nível das escaras (sangue coagulado)

1.2.3. Datação das queimaduras


Menos de 36 horas – sem pus, com tumefação e edema considerável
Mais de 36 horas a alguns dias – pus debaixo das crostas ou à superfície com desaparecimento
da vermelhidão inflamatória que rodeava a lesão
Mais de 1 semana – as crostas superficiais desprendem-se
Mais de duas semanas – superfície vermelha de granulação, livre de crostas

Mortes por queimadura:


 Morte rápida – por efeito directo da queimadura (choque hipovolémico...)
 Morte tardia – por efeito directo da queimadura mas com sobrevivência de algumas
horas ou poucos dias (morte habitualmente por choque ou toxémia. No cadáver
observam-se equimoses sub-serosas e nas mucosas, lesões renais precoces, congestão
visceral generalizada edema cerebral. Possibilidade de ulceração duodenal (úlcera de
Curling – provocada pela queimadura).
 Morte diferida – após vários dias de sobrevivência, como consequência de infecções
secundárias locais e gerais. Quadro habitual de insuficiência respiratória com
broncopneumonia, hemorragias intestinais e erosões do tubo digestivo insuficiência
renal e hepática.

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Avaliação do dano corporal

Direito penal – apenas considera os danos à integridade corporal ou saúde da vítima; o dano
não é personalizado nem se valoriza em termos futuros
Direito civil – já entra em linha de conta com danos patrimoniais e não patrimoniais; todo o
dano é indemnizável; prevê danos futuros (ao contrário do dano potencial, que por não ser certo, não
é contemplado na avaliação pericial); o dano é personalizado (pessoa como um todo); processos
difíceis de reabrir; custos suportados pela vítima
Direito do trabalho – vê a pessoa apenas como entidade produtiva (pode ficar desfigurado,
mas se puder trabalhar não tem direito a reparação); indemnização apenas compensa a incapacidade
de ganho; danos futuros não avaliados, dá-se um valor da incapacidade no exato momento; processos
podem ser reabertos nos 10 anos seguintes; custos não suportados pela vítima

Direito de trabalho
Reparação no direito de trabalho – quando houver acidentes dos quais resultam lesão
corporal, perturbação funcional ou doença quando se verifique a morte ou redução da capacidade de
ganho ou de trabalho. Danos reparáveis apenas se referem à incapacidade para o trabalho no
momento. O mesmo dano só pode ser reparado uma vez – quando ocorre outro acidente após o que
tinha deixado incapacidade, já não se contabiliza o dano partindo dos 100%, mas sim da capacidade
resultante do 1º acidente. Nas doenças profissionais (DD com acidente de trabalho: ocorrem
insidiosamente) também pode haver direito a recuperação – estão em listas e outras que sejam
provadas medicamente. As prestações de acidente de trabalho e doenças profissionais são
irrecusáveis – processo judicial é gratuito; há favorecimento da vítima em relação à prova (patrão é
que tem de provar o contrário). Para ser acidente, doente não pode ter responsabilidade na situação.
Reparação pode ser em capital (todo de uma vez, ou em pensão se incapacidade > 30%)
O relatório deve ser enviado no prazo de 30 dias

Tabelas nacionais de incapacidade (TNI) – objetivas, mas pouco adequadas – devia ser de um
procedimento pluridisciplinar – são um mal necessário. Não têm valor absoluto, servem como
referência e são um meio de controlo da indisciplina. Promovem uniformidade de critérios. Há
necessidade de justificar medicamente as taxas encontradas.
Os coeficientes de incapacidade previstos são bonificados, até ao limite da unidade,
com uma multiplicação pelo fator 1,5, segundo a fórmula IG + (IG × 0.5), se a vítima não for
reconvertível em relação ao posto de trabalho ou tiver 50 anos ou mais quando não tiver beneficiado
da aplicação desse fator.
Carácter redutor da regra de Balthazard (regra da capacidade restante) – o
politraumatizado com sequelas não sinérgicas está em desvantagem

Direito penal
DD entre ofensa à integridade física simples e grave:
Ofensa grave – privação de importante órgão ou membro; grave e permanente desfiguração;
tirar ou afetar capacidade trabalho, intelectual, de procriação e a possibilidade de uso do corpo,

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sentidos e linguagem; provocação de doença dolorosa ou permanente, anomalia psíquica grave ou


incurável, perigo de vida; Pena de prisão de 2 a 10 anos
Ofensa leve – consequências temporárias, incapacidade temporária de trabalho. Pena de
prisão até 3 anos, ou multa; pode haver dispensa da pena se lesões recíprocas ou não se tiver
provado qual dos contendores agiu primeiro ou quando o agente tiver unicamente exercido retorsão
sobre o agressor.

Avaliação do dano corporal em direito penal


Exame direto, exame de sanidade, exame documental (dispensa presença do queixoso)

Nexo de causalidade (imputabilidade médica)


Relação de imputabilidade entre traumatismo e dano. Baseia-se em pressupostos: adequação
entre tipo e etiologia das lesões; tipo e sede de lesão e traumatismo; existência de continuidade
sintomatológica; adequação temporal entre traumatismo, lesões e sequelas; exclusão de pré-
existência do dano ou de causa estranha ao traumatismo

Doença com perigo para a vida


É ofensa grave à integridade física. Pessoa tem de ter Px grave. Probabilidade concreta e
presente do resultado letal, fundamentada em sinais e sintomas de morte próxima, situações críticas
e de Px reservado, relacionadas diretamente com a lesão resultante da ofensa

Direito civil
Danos patrimoniais
Há reparação integral do dano.
Patrimoniais – aqueles que têm referencial económico direto, com tradução matemática
(custo de prótese, faltas ao trabalho, etc)
Não patrimoniais – relacionados com prejuízos sentidos, experiência subjetiva, sem tradução
monetária (dor, por exemplo)
O direito civil avalia a incapacidade geral e profissional que as lesões provocam

Cura/consolidação em ML
Cura – implica recuperação total, sem quaisquer sequelas
Consolidação – estabilização da lesão, deixando sequelas e/ou limitações. Lesão é fixa e
permanente, de tal forma que qq Tx não é mais necessário a não ser para evitar agravamento e em
que é possível apreciar um dado prejuízo definitivo.

Quantum doloris – dano temporário


Valorização da dor física resultante dos ferimentos e tratamentos, e da dor psicológica.
Valorização duplamente subjetiva (observador e vítima)
Fatores internos (subjetivos) – estado anterior, situação psíquica, raça, idade, sexo
Fatores externos (objetivos) – características das lesões, modalidades de tratamento e
evolução das lesões

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Quantum doloris é avaliada por vários métodos, e incluídas num grau de 1 (muito ligeiro) a 7
(muito importante)
O quantum doloris só se avalia até à consolidação, a partir daí a dor entra noutros parâmetros:
IPP (incapacidade permanente parcial), dano estético, prejuízo da afirmação pessoal

A incapacidade pode ser geral ou profissional, e total ou parcial

Classificação do dano
Dano certo – atual + futuro => indemnizável
Dano futuro
Dano potencial – agravamento admissível, mas não provável. É hipotético. Se ocorrer há
reabertura do processo
Dano estético – é permanente, subjetivo, também tem 7 graus, sendo o 7 o “muito
importante”. Deve personalizar-se o dano (repercussão psicológica dessa dano nessa pessoa). Deve
ter-se em conta na avaliação o local, a repercussão com o indivíduo parado e se o dano se exacerba
com atos e gestos correntes do dia-a-dia
Prejuízo de afirmação pessoal – diminuição ou privação das satisfações e prazeres da vida.
Graus de 1 a 5

O perito chamado a intervir em Processo penal pode ter um papel decisivo na averiguação da
existência de crime, mas também é fundamental para determinar a consequência jurídica derivada
desse comportamento. A prova pericial é um meio de prova. Tem lugar quando a prova ou apreciação
dos factos exigir especiais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos.

1.1.1. Órgão importante (órgão funcionalmente


relevante)

Conceito funcional de órgão (conceito médico-legal) – órgão entendido como parte


componente de um aparelho que contribui de modo especial para as funções desse aparelho, funções
essas necessárias ao normal funcionamento e equilíbrio do organismo. (Ex.: rim ou testículo –
funciona com o outro).

Desfiguração grave – alteração, em grau elevado, do aspecto, da figura, do ofendido.


(Ex.: valor atribuído a uma cicatriz em direito civil de uma cicatriz é em função da pessoa; e
que uma cicatriz de 2 cm de uma pessoa, discreta não tem qualquer importância; se for um modelo
fotográfico)

1.1.2. Relatório de avaliação do dano corporal em


direito penal
Informação não é vinculativa
“O examinado refere...”

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A descrição das lesões deve ser exaustiva e minuciosa.


Não fazer explorações que magoem o examinado.
Não levantar pensos para não interferir com a normal evolução das lesões.
Após verificação e descrição das lesões, por vezes há necessidade de pedir exames
complementares ou consultas de determinada especialidade para melhor avaliar das consequências
resultantes de determinada ofensa corporal. (ex. pessoa que diz que não ouve)
Indicar os dias de doença e dias de impossibilidade de trabalho

1.1.3. Presunção da intenção de matar

O perito apenas se deve pronunciar se a região que foi atingida aloja órgãos essenciais à vida,
e se tal agressão foi com instrumento que, pela sua natureza e pela violência de actuação, o tornavam
apto e adequado a produzir lesões mortais.

O perito fornece à Justiça os elementos objectivos colhidos na perícia, cabendo inequivocamente ao


Juiz e só a ele, na posse da totalidade...

Genética forense – criminalística e identificação

Características dos marcadores genéticos – regulados por um único locus, independente do


ambiente, presentes congenitamente e invariáveis durante toda a vida, apresentam polimorfismos,
são DNA não codificante repetitivo em tandem

Investigação biológica da paternidade – reclamação ou impugnação de paternidade;


pode usar-se DNA da mãe, filho, pai e familiares
Prova de paternidade: exclusão de 1ª ou 2ª ordem – se se concluir exclusão exame acaba!;
probabilidade de paternidade se não se conclui exclusão
Exclusão de 1ª ordem – aparece no filho alelo novo que não existe na mãe nem no pretenso
pai (probabilidade de erro 1 em 1 milhão a 1 a 1000, por mutação)
Exclusão de 2ª ordem – pretenso pai não transmite ao filho o alelo que deveria transmitir
(probabilidade de erro 1 em 1000, por alelo silencioso ou DNA muito danificado)
Conclusões:
 1 exclusão de 1ª ordem ou 2 de 2ª ordem => calcular probabilidade de paternidade
sem ter em conta os alelos que deram exclusão
 Nº superior de exclusões – está provada a exclusão
 Nº inferior – calcular probabilidade de paternidade
 Nº elevado de exclusões, mas restantes alelos com elevada probabilidade de
paternidade – indivíduo pode não ser o pretenso pai, mas si um familiar próximo
Probabilidade de paternidade – com base no Teorema de Bayes, calcula-se p de pretenso pai
ser o verdadeiro, comparado a qq indivíduo ao acaso da população de referência
Equação de Essen-Moller: X / (X+Y), sendo X p de pretenso pai ser o verdadeiro, e Y p
de um indivíduo ao acaso ser verdadeiro pai (frequência do alelo na população geral)

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Predicados verbais de Hummel:


 Se p = [10;50] % => indefinida
 P = [50;80] % => paternidade duvidosa
 P = [80;90] % => indícios de paternidade
 P = [90;95] % => paternidade provável
 P = [95;99] % => paternidade muito provável
 P = [99;99,73] % => paternidade extremamente provável
 P > 99,73 % => paternidade praticamente provada
 A probabilidade na paternidade estabelecida é de 99,99%

O mtDNA não serve para estudos de paternidade, é herdado da mãe (bom para testes de
maternidade). É muito resistente à degradação, por isso é muito usado noutros estudos forenses.
Características vantajosas, nomeadamente quando há ossadas muito antigas, material biológico
muito degradado, porque é um tipo de ADN circular, de dimensões pequenas – último recurso
quando não são possíveis marcadores autossómicos.

Criminalística biológica
Exame do local, da vítima e do agressor.
Tipos de vestígios mais frequentes:
 Manchas de sangue
 Manchas de esperma
 Pelos
 Saliva
 Dentes
 Outras manchas

Cada vez com menos material biológico é possível fazer identificação.

1. Colheitas
Estudo da forma, disposição, constituição, cheiro, cor, local, tamanho e idade da mancha.
Fotografar e marcar localização. Observar local para ver se há mais vestígios
Evitar conspurcação da mancha (não falar, tossir, espirrar)
Enviar a peça inteira ou recortar um bocado do tecido que tem a mancha. Secá-lo com ar frio
para evitar proliferação bacteriana e enviar em embalagem fechada de papel, refrigerado e sempre
sob cadeia de custódia
Se não for possível enviar peça ou recorte, colher: com algodão e água destilada se
absorvente, raspar com bisturi se se não absorvente

Manchas de sangue – possível usar durante anos; conservar a 4ºC (máx 2 dias) ou -20ºC.
Reações a fazer:
 De orientação – colorimétricas, BQ, imunoeletroforese, Kastle-Meyer (fenolftaleína
reage na presença de Hb)
 DD animal/hmano – Hx (difícil), imunológicas

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 De certeza – provas microcristalográficas (+ usada é de Strzyzowsky)


 De identificação – grupo sanguíneo e tipagem de DNA
Manchas de esperma – possível usar durante anos; conservar a 4ºC ou -20ºC. Exames:
 De orientação – luz de Wood, reação de Florence (microcristalografia)
 De certeza – visualização de pelo menos um espermatozoide vivo
 DD humano/animal – soro anti-esperma humano

2. Colheitas no cadáver

Cabeça – colheitas a nível boca/dentes


Mordeduras
Mãos – proteção dos vestígios
Períneo: penteado da região púbica, colheita de pelos para comparação, colheitas vaginais e
anais
Colheitas no cadáver exumado
Músculo
Próstata
Dentes, pelos ou cabelos
Ossos longos

Possibilidades de utilização
Esperma da cavidade bucal: horas
Esperma da cavidade vaginal: horas
Manchas de sangue: anos
Manchas de esperma: anos

Valorização da prova em criminalística


Falácia da acusação - possuem este genótipo uma em cada 100 pessoas tomadas ao acaso, e
99 não possuem. Dado que o suspeito o possui, tem 99% de probabilidade de ser culpado
Falácia da defesa – possuem este genótipo 1% dos indivíduos. Por exemplo, em Coimbra, de
100 000, 1000 possuem o genótipo. Se o delito for cometido por um desses, há p de 0,1% de ser
culpado.
Teve de se arranjar outra forma de apresentar:

2.1. Likelihood Ratio


Probabilidade da mancha ser do suspeito / probabilidade da mancha ser de um outro
indivíduo
Escala de Evett:
 1 a 33 – fraca
 33 a 100 – moderada
 100 a 330 – boa
 330 a 1000 – forte
 > 1000 – muito forte

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CROMOSSOMA Y
Tem várias sequências repetitivas, muito específicas – funciona como o mtDNA, mas na parte
masculina
Porque identifica material masculino, se houver dois alelos, é porque houve dois violadores,
por exemplo – serve para exclusão do suspeito em crimes sexuais
Não se deve fazer cálculo de likelihood-ratio nem teste de paternidade com este DNA

Morte súbita

As mortes de causa natural são com grande frequência objeto de autópsia médico-legal;

A morte súbita ou inesperada é sempre um processo mórbido imprevisto, aparentemente de


causa natural, que pode levantar suspeitas de morte violenta. Afeta indivíduos aparentemente sãos
ou com doença conhecida que não fizesse prever tal desfecho. Sobretudo nos homens na sexta ou
sétima década de vida, inverno, à noite ou madrugada. OMS estabeleceu os limites temporais que nos
permitem definir a morte súbita: oscilam entre 1 e 24 horas. Conceito independente do resultado da
autópsia!

Quando mais tempo decorre entre o início dos sintomas premonitórios e a morte maior é a
probabilidade de o clínico fazer um diagnóstico que possibilite a emissão de uma certidão de óbito;

Morte súbita – sistema cardiovascular


Frequência iguala o conjunto das outras causas
 Coronariopatias => aterosclerose coronária => anoxia => arritmias => FV; às primeiras 12 h
não há sinais macroscópicos – necessária Hx
 Cardiopatia hipertensiva => HTA detetada ou não previamente => arritmia => FV
 Cardiomiopatias – mais comum: cardiomiopatia hipertrófica (jovens após exercício) =>
arritmias; sem alteração na autópsia
 Valvulopatias – estenose aórtica => hipertrofia VE => extrassístoles => arritmia
 Miocardite – origem viral – fazer estudo Hx
 Malformações congénitas – raramente causa morte súbita
 Roturas vasculares – o mais comum é a rutura de aneurisma da aorta (fácil Dx) =>
tamponamento cardíaco ou hemorragia interna

Morte súbita – sistema nervoso central


 Hemorragia intracraniana – rutura de aneurisma da ACI e cerebral anterior; não fixar em
formol!
 Processos tromboembólicos (AVC)

Morte súbita – aparelho cardiovascular


 Tromboembolia da artéria pulmonar – DD entre trombo (aderente, não lavável, tal como
equimose) e coágulo post-mortem (húmido liso, desfaz-se com pressão, não aderente,
lavável); trombos vindos das veias dos MI ou da AD por fibrilação auricular

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 Epiglotite aguda por H. infuenza – edema da glote => asfixia


 Pneumotórax espontâneo – geralmente são valvulares => hipertensivos

Morte súbita – sistemas digestivo, endócrino e genital


 Hemorragia digestiva – mtas vezes por rutura de varizes esofágicas (cirrose)
 Diabetes
 Hemorragia supra-renal bilateral (sépsis fulminante)
 Gravidez ectópica
 Embolia de líquido amniótico – em descolamentos da placenta

Atitude ML na morte súbita – fazer exame macroscópico do cadáver, exame Hx e BQ; se não
derem indicações da causa de morte => autópsia negativa ou branca => fazer investigação
toxicológica

Morte por inibição – morte súbita (falência cardíaca aguda neurogénica) que ocorre em
indivíduos que não têm antecedentes patológicos (na maioria das vezes) – resulta da paragem
definitiva cardíaca ou respiratória, por excitação nervosa - Dx de exclusão (autópsia branca ou com
sinais específicos)
A função cardiovascular pode alterar-se de forma reflexa através do sistema nervoso
autónomo nas seguintes situações:
1. Emoção- emoções fortes têm efeitos inibitórios (parassimpáticos), enquanto medo pode
causar estimulação simpática
2. Variação da pressão nos seios carotídeos - pode causar intensa estimulação
parassimpática.
3. Excitação dos nervos viscerais

Morte por estimulação simpática


O aumento da irritabilidade do músculo cardíaco pode originar arritmias com
extrassístoles que podem conduzir a FV.
Nas autópsias, em muitas situações, é possível demonstrar a existência de cardiopatia pré-
existente, embora desconhecida. A nível pulmonar aparece edema e congestão, podendo
observar-se petéquias múltiplas na pleura.

Morte por estimulação parassimpática


Pode resultar de:
 Aplicação de força constritiva no pescoço – excitação direta do vago (nervo inibitório)
 Pequenas intervenções (punção pleural, colocação de sonda vesical)
 Golpes na laringe, tórax, abdómen, genitais (excitação de terminações nervosas em
zonas reflexógenas)

A intervenção médica pericial nos abusos de menores, idosos


e mulheres

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Violência – uso intencional de força física ou poder, real ou sob a forma de ameaça, contra o
próprio, outra pessoa, um grupo ou comunidade, que resulta ou tem um elevado potencial de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação

O abuso pode ser físico, sexual, psocológico/emocional, por negligência e abuso


financeiro/material. Os maus-tratos são crime público. A maior parte dos sinais ou sintomas não são
patognómicos de determinado tipo de abuso. Os médicos raramente reportam situações de abuso,
apesar de ocuparem a posição ideal para o fazerem

Fraturas muito sugestivas de abuso de menores:


 Craniana bilateral e complexa
 Costais, vertebrais, subluxação
 Extremidade externa da clavícula
 Escápula
 Metafisárias
 Dos dedos em lactentes
 Simultâneas em diferentes idades

Shaken-baby syndrome – ausência de lesão externa da cabeça, mas lesões meningoencefálicas


graves (HSA ou subdural, hemorragia retiniana, lesão axonal difusa), fraturas de costelas, vértebras,
ossos longos

Achados físicos preocupantes na violência contra idosos:


 Lesões múltiplas em locais atípicos (face medial de membros, palma e planta, couro
cabeludo, pavilhão auricular, nádegas)
 Lesões no nariz e região temporal
 Equimoses peri-orbitárias
 Lesões orais
 Abrasões nos punhos e tornozelos
 Fraturas não tratadas e em locais atípicos
 Úlceras de decúbito em localizações atípicas ou com aspeto de ausência de Tx
adequado
 Queimaduras

Violência doméstica – quem, de modo reiterado ou não, infligir maus-tratos físicos ou


psíquicos, incluindo castigos corporais, privações de liberdade e ofensas sexuais:
a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge
b) A pessoa de outro ou mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido
uma relação de namoro ou análogo à dos cônjuges, ainda que sem coabitação
c) A progenitor de descendente comum em 1º grau
d) A pessoa particularmente indefesa (idade, deficiência, doença, gravidez, dependência
económica) que com o agente coabite

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Pena de prisão de 1 a 5 anos, salvo se prática do facto contra menor (2 a 5 anos) ou se


ocorrer ofensa à integridade física grave (2 a 8 anos) ou morte (3 a 10 anos), podendo
haver lugar a penas acessórias

Perícias de natureza sexual


Agressões sexuais e perícias de natureza sexual
50 a 90% dos casos de agressões sexuais não são objeto de queixa judicial. A acusação pode
ser falsa em 5 a 10% dos casos
Agressões sexuais
Toda a actividade sexual na qual uma vítima é forçada ou constrangida a participar por um
determinado agressor, com ele próprio, consigo mesma ou com uma terceira pessoa, contra a sua
vontade, por manipulação afetiva, física, material ou abuso de autoridade, de maneira evidente ou
não, seja o agressor conhecido ou não, haja ou não evidência de lesão ou traumatismo físico ou
emocional, e independentemente do sexo das pessoas envolvidas.

Os estudos casuísticos baseiam-se nas denúncias efetuadas, pelo que a sua verdadeira
incidência permanece desconhecida.

Exame ML
 Entrevista, exame do local se possível
 Exame do vestuário – roupa deve ser conservada em sacos de papel a 4ºC; geralmente
há mais restos biológicos na roupa que no corpo
 Exame corporal – geralmente negativos porque:
o Grande intervalo de tempo entre abuso e exame
o Cicatrização rápida ou hímen complacente
o Ato sexual não invasivo (não causa lesões)
o Uso de preservativo/ausência de ejaculação
o Lavagens frequentes das vítimas
 Colheita das amostras biológicas (com zaragatoa sem meio de cultura)
Exame corporal:
 DD com doenças dermatológicas, congénitas, adquiridas ou autoinfligidas
 Especial atenção a zonas de apoio, zonas suscetíveis (face), zonas vitais e zonas de
proteção e contenção
 Exame geral
 Avaliar mucosa bucal (ao fim de 6/7 h sémen desaparece da cavidade oral)
 Exame perineal masculino – púbis, pénis (com e sem glande descoberta; lesão do
meato urinário ou freio, corpos estranhos, edema do pénis ou prepúcio, sangue),
escroto (dor à palpação, hematomas, feridas), anal
 Exame perineal feminino
o Caracteres sexuais secundários (avaliar estádios pubertários de Tanner)
o Exame genital – com face interna coxa, púbis, lábios, clitóris, uretra e região
sub-uretral, vagina e colo do útero

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o Exame do hímen (2 peritos, vítima em posição ginecológica)


 Introduzir sonda de Foley, enchê-la com 10 cm3 por trás do hímen e
puxar suavemente
 Classificar hímen
 Típico – anular, semilunar, labiado
 Atípico – cribiforme, franjado, biperfurado
 Descrever soluções de continuidade no bordo livre
 Traumáticas – atingem toda a altura, bordos coaptáveis ou
esquinados, posições assimétricas, nas zonas mais altas e de
menor espessura, geralmente múltiplas
 Desfloramento recente – bordos da laceração desiguais, vermelhos,
sangrantes, edemaciados e por vezes com supuração
 Penetração com dedos – lesões nas porções anteriores do hímen
 Penetração de crianças muito pequenas – cicatrização muito intensa,
pode tapar todo o orifício vaginal
 Indica penetração vaginal – equimose, laceração
o Exame anal (ao toque retal) – se abuso prolongado => apagamento das pregas,
menor pilosidade, menor tónus EAE, cicatrizes; em casos muito violentos pode
haver fístulas, proctite ou hemorroidas

Carúnculos mirtiformes – interesse na ML – lacerações do hímen em que existem retalhos com


aspeto de cristas/linguetas/tubérculos carnosos. São excrescências carnudas a que o hímen se reduz
após parto ou aborto +- tardio

Hímen complacente – permite introdução de 2 dedos, logo, do pénis, sem apresentar soluções
de continuidade traumáticas. Pode ter ostíolo naturalmente largo, entalhes congénitos que o
possibilitem ou possuir elasticidade tal que não rompe com a cópula

Sinais de desfloramento – sémen na cavidade vaginal, gravidez presente, parto prévio ou


aborto (orifício endocervical em fenda transversal + estrias + carúnculos mirtiformes), lacerações
traumáticas do hímen, permeabilidade aos 2 dedos se hímen não complacente

Entidades requisitantes de exame médico-legal:


 Unidades de saúde
 Vítima
 Policiais
 Judiciárias
Desde há algum tempo permite-se que as pessoas podem apresentar queixa a posteriori - são
investigadas primeiramente nos serviços de medicina legal e depois é que intentam uma causa.

Urgências médico-legais
Em Coimbra, Lisboa e Porto, 24h por dia
 Agressões ocorridas há menos de 72 horas independentemente do tipo de actividade
sexual referida;

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 Agressões em que tenha ocorrido ejaculação, desde que a vítima não tenha feito
higiene pessoal;
 Casos em que persista ou tenha existido hemorragia ou dor genital;
 Possibilidade de uma gravidez em curso ou de ter contraído uma IST;
 Relato de uso excessivo de violência física.
Para ML: crianças – 0 aos 14 anos; adolescentes – 14 aos 16 anos

Lesões genitais graves (violentas): lacerações perineais, do fundo de saco posterior com
hemorragia abundante e anais
Lesões genitais ligeiras: contusões vaginais ou cervicais, rasgões himeniais discretos,
escoriações, edema, restos de corpos estranhos

Informações à vítima para preservação de vestígios


Não mudar de roupa nem a lavar
Conservar pensos higiénicos, tampões, preservativos, etc...
Se mudou de roupa conservar a que usava na ocorrência
Não tomar banho nem lavar qualquer parte do corpo

ETANOL
Absorção: 20% estômago, 80% ID. Eliminação pela urina, suor e ar expirado (2 a 10%). 90 a 98% é
metabolizado.
1 mg de etanol por L de ar expirado (TAE) = 2,3 g por L de sangue (TAS)
Colheitas para exame toxicológico de quantificação da TAS:
 Vivo – volume de 10 cm3 de sangue venoso, em tubo de igual volume com anticoagulantes e
conservantes
 Cadáver – mais do que 1 amostra de 10 cm3 da veia femoral, em tubo de igual volume com
conservante adequado

Cálculo retrospetivo da alcoolémia: não deve ser usado quando estão em causa limites legais, pois
cálculo não é muito correto (devido a β). Apenas aplicável na fase de eliminação.
C0 = C(t) + β , onde C0 – concentração de álcool para a hora pretendida; C(t) – concentração no
momento da extração; β – coeficiente de oxidação do etanol no sangue (varia de 0,09 a 0,36 g L-1 h-1,
intra e inter-individualmente; consumidores moderados – 0,15; consumidores habituais – 0,19;
consumidores excessivos – 0,22)

Antes do início da colheita pela veia, deve ser feita laqueação, de forma ao sangue não voltar
para trás.

A determinação da TAS no cadáver em hematomas não é correta! Deve ser feito em vasos
periféricos, e se tal não for possível, em vasos centrais, desde que intervalo post-mortem < 18 h, não
haja putrefação, trauma toraco-abdominal severo, aspiração de vómito ou presença de etanol no
conteúdo gástrico.

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Pode haver perda ou síntese post-mortem de etanol (por microrganismos, por exemplo).
A difusão passiva do álcool presente no conteúdo estomacal ou nas vias respiratórias
contaminada que poderá estar por aspiração de vômitos continua após a morte. A dosagem alcoólica
efetuada no sangue colhido do coração ou da cavidade torácica, poderá estar aumentada em relação
ao valor real dessa medida. Consequentemente, a concentração do álcool desses locais poderá ser
significativamente maior do que aquela contida no sangue colhido de veias periféricas. A produção
endógena de etanol ocorre pela ação de microrganismos sobre substratos endógenos principalmente
glicose e lactato. Temperaturas elevadas do meio externo, severa hiperglicemia terminal, septicemia,
lesões corporais produzidas por instrumentos perfurantes, cortantes, contundentes etc., representam
condições férteis para a síntese post-mortem de etanol; mutilação do corpo, como ocorre em
acidentes aeronáuticos, tem um elevado risco de produção de álcool, porque expõe os órgãos do
cadáver à contaminação pelos microrganismos do meio ambiente.

Cuidado para não desinfetar com álcool!


Uma amostra alternativa é o humor vítreo – é resistente a putrefação, trauma, estável quimicamente
e fácil de processar analiticamente. A possibilidade de contaminação por síntese de etanol post-
mortem é baixa. Aqui, TAS = [etanol]humor vítreo x 0,80 (taxa de conversão).
É uma amostra de eleição em caso de ausência de sangue: para ter ideia se se estaria
em fase de absorção ou eliminação – se a relação for superior a 1 seria fase de absorção, inferior a 1
eliminação.
A urina também é uma boa alternativa. Tem baixa possibilidade de contaminação por síntese post-
mortem. Serve simultaneamente para a pesquisa de outros tóxicos. Aqui, TAS = [etanol]urina x 1,33
A análise à MO é morosa e difícil. Tem taxa de conversão mais pequena, por ser altamente
vascularizada e bem protegida.

O tribunal, sabendo que foi encontrado um corpo há uma semana, em estado de putrefação,
não deve pedir exame de alcoolémia.

Critérios para a determinação de síntese post-mortem ou ingestão ante-mortem:


 Etanol positivo em sangue e negativo no humor vítreo e urina muito provavelmente é
endógeno
 Quando múltiplos fluidos do mesmo cadáver são analisados e o etanol é identificado
em alguns deles numa distribuição atípica, podemos estar diante de produção post-
mortem
 Presença de outros compostos voláteis na análise que, via de regra, são produzidos
pelos microrganismos juntamente com o etanol, poderia sugerir álcool endógeno mas
não é critério isolado
 Percentagem muito pequena do etanol ingerido (< 0,5%) é conjugado no fígado com o
glucoronato e excretada pelas vias urinárias. É um marcador específico da ingestão de
etanol
 O consumo de etanol pode alterar a concentração de 2 principais metabolitos da
serotonina

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 Gama-glutamiltransferase (GGT) – presente no fígado, tem a sua atividade induzida


pelo consumo de etanol

Amostras devem ser armazenados convenientemente – estojos que obedecem a cadeia de


custódia; estojos sem selo – amostras não serão analisadas, a não ser que dentro dos estojos esteja
termo de responsabilidade de quem tenha partido o selo, do médico – a responsabilidade não é do
médico-legal.

Toxicologia
Tóxico – todo o agente suscetível de gerar efeitos nocivos sobre os seres vivos, alterando os
equilíbrios orgânicos que se sucedem normalmente
Veneno – substância tóxica empregue de maneira intencional

Fatores que influenciam toxicidade – DT50, DL50, latência, tempo letal, função renal (idosos,
crianças)…
Fatores que influenciam absorção – pH do meio, motilidade intestinal (diarreia é mecanismo
de defesa), vómitos, flora intestinal (ciclo entero-hepático prolonga tempo de permanência), diluição,
presença de alimentos, idade

As análises toxicológicas devem ser sempre feitas em sangue total e não em soro – para poder
ser avaliada a forma livre (a única capaz de atuar) do tóxico e a sua ligação às proteínas plasmáticas

Substâncias hidrossolúveis – absorvidas e largamente excretadas pelo rim


Substâncias lipossolúveis – reabsorvidas para o sangue pelo filtrado glomerular; necessitam de
metabolização hepática fase I e II para serem excretadas pela urina

Excreção renal – depende da funcionalidade do rim, da idade; se tóxico fortemente ligado às


proteínas, é de difícil eliminação; ácidos e bases fracas sofrem eliminação dependendo do pH urinário

Colheitas são acondicionadas em contentores específicos (para voláteis, não deve haver
câmara de ar), etiquetados, fechados e selados, mantidos ao abrigo da luz. Acompanhados de
requisição previamente preenchida.

Tipos de amostras: sangue (a mais útil), bílis (qdo não há urina), pulmão (nos tóxicos voláteis),
rins (intoxicação crónica por metal), fígado (qdo não há sangue, ou qdo são pesticidas), cérebro (nos
casos de morte por inalação de solventes), cabelo (fornece dados toxicológicos de um intervalo muito
alargado de tempo), humor vítreo (análise de etanol qdo não há sangue; resistente à contaminação
bacteriana)

Intoxicação por CO
CO é incolor, inodoro, insípido, não irritante e densidade 0,97 (difunde-se facilmente em
ambientes fechados)
Etiologia ML: acidental (a + comum), suicídio (muito frequente), criminal (muito raro)

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Liga-se à Hb com mais afinidade que O2 => carboxiemoglobina (ligação reversível e dissociável)
Na autópsia: livores carmim + tecidos vermelhos (pela HbCO) + hemorragias nas meninges e
córtex + sangue muito fluído e vermelho + face rosada + intensa congestão visceral + edema
carminado pulmonar (espuma sanguinolenta) + edema cerebral
Dados laboratoriais – coeficiente de Grehart para a HbCO: se > 0,2 é sintomática; se > 0,6
conduz à morte
Sintomas: cefaleias, vertigens, astenia intensa

Intoxicação por cianeto


A morte é mais rápida por inalação do que por ingestão
Etiologia ML: acidental (frequente após desinfeções), suicida, criminal (raro porque é difícil
mascarar o sabor amargo dos produtos cianogénicos – amêndoas amargas)
Autópsia – sangue fluído, sem coágulos, arroxeado + congestão visceral generalizada + forte
odor a amêndoas amargas (mais forte nos tecidos encefálicos), livores verdes

INML não faz análise a animais, só se houver suspeita de intoxicação

(a) Análises particulares


Antes primeiro apresentava-se queixa e depois era aberto processo;
Agora é só preciso levar análises de que se suspeita e o pagamento é feito pelo próprio, com a
possibilidade de apresentar queixa e no tribunal passam ser também indemnizados;

Drogas de abuso

Morfina – opioide, depressão do SNC, depressão respiratória central, miose, antitússica, obstipante,
vasodilatadora periférica, taquicardia com bradicardia reflexa. Excreção sobretudo urinária –
detetam-se altos níveis de morfina e baixos de codeína

Heroína – 6-monoacetilmorfina (6-MAM); rapidamente metabolizada em morfina e excretada na


urina.
Diagnóstico – exame do local da morte + info circunstancial + autópsia
Autópsia – hábito externo (estigmas de punção recente, cicatrizes atróficas, abcessos, úlceras,
mãos edemaciadas, fasciite necrosante, escoriações cutâneas), hábito interno (aspetos inespecíficos
de asfixia, edema e congestão, aumento característico dos gg linfáticos)
Na urina deteta-se 6-MAM até 3-4 dias, ou níveis baixos de codeína com altos de morfina
Amostras a pedir – urina + sangue (o melhor); cabelos e órgãos (complexo e moroso, só qdo
não há sangue)
Cuidados a ter – não adicionar conservantes, proteger da luz (sobretudo se for LSD)

Anfetaminas – euforia, aumento da concentração, diminuição da fadiga; delírios ou alucinações;


hipertensoras, pró-arrítmicas, inibe a fome e sono; em doses elevadas – convulsões, coma, colapso
circulatório. Concentra-se no fígado, pulmões e cérebro. Excreção via urina. Achados na autópsia são
escassos. A anfetamina e a metanfetamina podem surgir no sangue de parkinsónicos a tomar
selegilina.

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Ecstasy – MDMA com outros componentes; taquicardia, hipertensora, aumento da temperatura,


sudorese, pode causar a morte se descompensações cardíacas, renais ou hepáticas. Consumo
frequente a longo prazo: ansiedade, depressão, pânico, agressividade, paranoia, alucinações,
diminuição da concentração

Cocaína – inibidor da MAO e da recaptação das monoaminas - tem efeitos simpático-like; 1ª fase
(euforia, confiança, desinibição), 2ª fase (convulsões, taquicardia, HTA, cianose, dispneia), 3ª fase (
depressão SNC), morte por overdose
Dx de intoxicação – midríase + lesões traumáticas por convulsões + perfuração do septo nasal
+ sinais de punção recentes + queratite + erosões do esmalte + queimaduras superficiais,
hiperqueratose, escurecimento palmar
Consumo recente – cocaína na urina + alta [] no pulmão + alta [] no sangue ou saliva
Consumo não recente – baixa cocaína no sangue e cérebro, e altos de benzoilecgonina (BE) na
urina e sangue

Canabinoides – euforia, relaxamento, desinibição, intensificação das perceções sensoriais, apatia,


sono, depressão, ansiedade, cefaleias, vómitos, suores, fotofobia, conjuntivite, imunodepressão,
alteração da espermatogénese. Pode complicar para delírio de perseguição, perturbações cognitivas,
flashbacks, confusão. Excretado na bílis (ciclo entero-hepático) e na urina (até 30 dias)

LSD – pensamento rápido e extraordinária lucidez, alterações da perceção, taquicardia, HTA,


hipertermia, suores, tremores, angústia. Pode complicar para reações psicóticas agudas, reações
agudas de pânico, flashbacks, possibilidade de bad trip. Excretado preferencialmente pela bílis, mas
também pela urina.

Intoxicações medicamentosas
Pesquisar não só o medicamento suspeito, mas também os seus metabolitos ativos
Etiologia ML – acidental (mto frequente), suicído (90% dos casos de intoxicação grave), homicídio
(difícil administrar a dose letal sem que a vítima se aperceba)

Ansiolíticos – os mais detetados nas intoxicações; geralmente seguros, pouco potencial de abuso;
dose letal muito superior à terapêutica; causam dependência física e psíquica; se associados a álcool e
opioides podem causar morte; passam BHE e barreira placentar; intensa metabolização hepática; BZD
de ação curta e i.v. pode causar morte

Barbitúricos – acentuada dependência física, elevada tolerância, margem terapêutica estreita;


sobredosagem: 1ª fase – pré-coma, embriaguez e sono, 2ª fase – coma, bradipneia e hipotermia, fase
terminal – alterações circulatórias e morte por colapso ou complicações pulmonares em 12 a 16 h;
barbitúricos + álcool + opioides= depressão respiratória fatal

Antidepressivos - > 50 mg Kg-1 – quase sempre mortal; hipertonia, hiper-reflexia, convulsões,


hipertermia, midríase, HTA, taquicardia, suor; colapso do SNC (hipotensão, hipotermia, depressão
respiratória, coma); complicações: hemólise, rabdomiólise, edema pulmonar

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Neurolépticos – rigidez, espasmos, agitação ou depressão, taquicardia, hipertermia; depressão SNC,


hipotensão e hipotermia graves, convulsões e fenómenos extrapiramidais; morte por efeitos
cardíacos (taquicardia, FV, alterações ECG)

AAS – acidental, sobretudo em crianças; alt metabólicas, sintomas GI, alt SNC, alt hematológicas, IR
aguda, alt pulmonares e hepáticas; intoxicação crónica leva a agitação, problemas de visão e audição,
gastrite, hemorragia digestiva oculta, úlcera péptica, hipoglicémia, alergia, necrose e nefrite papilar
do rim

Paracetamol – metabolito intermediário muito tóxico (NAPQI), que em doses altas de paracetamol, a
taxa de metabolização pelo fígado não é suficiente para o metabolizar – necrose dos hepatócitos;
náuseas, vómitos, dor abdominal, sinais de hepatotoxicidade (12 a 36 h), icterícia (3º ou 4º dia);
insuficiência hepática, com alt consciência, confusão, hipoglicémia e hiperventilação

Anticonvulsivantes – carbamazepina (intoxicação aguda, depressão do SNC; casos graves podem


evoluir para convulsões, coma e paragem respiratória); fenitoína (náuseas, vómitos, disartria, ataxia,
abolição transitória das respostas oculares, raramente coma; intoxicação não é mortal); primidona
(depressão SNC; cristais brancos e resplandecentes na urina)

Pesticidas
Etiologia ML – acidental (profissões agrícolas, alimentos não lavados); suicídio (cada vez mais
frequentes, pela fácil aquisição); homicídio (pouco frequente)

Organofosforados – absorção quase instantânea; inibição irreversível da acetilcolinesterase => Alta


Ach => aumenta excitabilidade => paresia neuromuscular e depressão central
 Fase muscarínica (parassimpaticomimética) – miose, visão turva, vómitos, aumento da
motilidade intestinal, broncoconstrição, tosse bradicardia
 Síndrome neurológica – ansiedade, ataxia, depressão SNC
 Fase nicotínica – cãibras, mialgias, paresia muscular, tensão arterial fugaz; pode evoluir para
fase convulsiva tipo epileptiforme
 Exame ML
o Hábito externo – odor intenso a xilol, cianose, livores arroxeados, pode escorrer
sangue da boca, rigidez cadavérica aumentada
o Hábito interno – sufusões sanguíneas pericárdicas, pleurais e gástricas, congestão
visceral, conteúdo gástrico pode cheirar a solvente, broncorreia intensa (pulmões
maiores q normal, com focos hemorrágicos dispersos
o Pode detetar-se paranitrofenol na urina; não se acumulam no tecido adiposo

Carbamatos – inibem reversivelmente colinesterases; poucos efeitos no SNC (difícil passar BHE);
intoxicação dura menos de 24 h)
Organoclorados – DDT – menos perigoso, dialdrin – mais perigoso; fora do mercado; agressão
hepática, nervosa, GI, coma

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Paraquato – geralmente envolvido em suicídio ou acidentes com crianças; sem absorção pulmonar
nem metabolização; excreção renal; ação cáustica direta, fibrose e densificação pulmonar, edema e
hemorragias das VAS; se crónica – parkinsonismo; forma sobreaguda – falência multiorgânica (máx 72
h sobrevivência)

Análise toxicológica de vísceras – como e quando


Em casos de suspeita prévia de morte por intoxicação (morte súbita sem relação com estado de saúde
prévio; morte relacionada com comida/bebida; morte de várias pessoas; contexto criminal) ou em
casos em que a suspeita é levantada pela própria autópsia (autópsia branca ou aspetos sugestivos de
envenenamento). Usar 9 recipientes, evitar espaços mortos no frasco e retirar dos órgãos todos e
sangue da veia femoral profunda ou VCI (2 amostras em 2 locais diferentes). Pode tirar-se também
cabelos e unhas. Não adicionar conservante e manter a 4ºC

Colheita, acondicionamento e envio de amostras...


Cadeia de custódia – consiste em evitar a deturpação e manter inviolável uma amostra
relevante para o estudo médico-legal, desde que é recolhida até ser analisada e armazenada, uma vez
que os dados dela recolhidos implicações judiciais e na resolução do caso.
NÃO É PRECISO CARTA PRECATÓRIA (carta de um juiz de uma comarca para outro de outra
comarca – horizontal, sem hierarquia)

Violência conjugal

Perícia e relatório ML:


 Descrição do agregado familiar
 Descrição do episódio de agressão que motivou a queixa
 Antecedentes de violência na família
 Hábitos e patologias de outros elementos do agregado
 Sintomatologia e exame físico
 Ver nexo de causalidade e consequências da violência
 Concluir sobre natureza do instrumento, tempo de doença, consequências e
necessidades da vítima

Asfixias mecânicas

Compressão externa do pescoço


Estrangulamento – por laço, independente do peso do corpo (ou então era enforcamento). Pode ser
suicídio, se arranjar maneira de manter a pressão depois da inconsciência. Se homicídio, surgem
manchas escuras em torno dos olhos.
Mecanismo de morte – oclusão da via aérea, anoxia encefálica e inibição reflexa

Sinais externos: sulco à volta do pescoço, abaixo da cartilagem laríngea; face tumefacta,
avermelhada, cianose das orelhas, língua entre arcadas dentárias, hemorragias auriculares (com ou

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sem rutura do tímpano), sufusões sanguíneas nos lábios, conjuntivas, face e pescoço. Se homicídio –
estigmas ungueais + equimoses/escoriações junto do sulco ou dispersas por todo o corpo

Sinais internos: hemorragia subcutânea e muscular do pescoço, equimoses e fraturas do


aparelho laríngeo, espuma nos brônquios, laringe e traqueia, sangue fluído e escuro, congestão
visceral e sufusões sanguíneas; sem lesões vertebrais

Constrição do feixe vasculonervoso do pescoço: se simétrica => face pálida; se assimétrica => face
cianosada, por sangue lá chegar mas não conseguir sair por colapso das jugulares

Enforcamento – suspensão completa ou incompleta (mais frequente) do corpo a partir de um ponto


fixo, por laço que constringe pescoço. Típico – nó sobre a nuca; atípico – nó sobre o mento, nó na
parte lateral do pescoço => cabeça fica pendente para o lado oposto ao nó. Retirar o cadáver sempre
com a corda no pescoço
Mecanismo de morte – anoxia anóxica (oclusão da via aérea por retropulsão da língua), anoxia
encefálica, inibição reflexa, lesão medular (se queda livre do corpo)

Sinais externos: sulco à volta do pescoço, face pálida e cianose perioral, espuma na boca e nariz,
língua entre arcadas ou propulsionada (pode ter lesões traumáticas ou estar negra por desidratação),
hemorragias auriculares com ou sem rutura do tímpano, hemorragias nasais, sufusões labiais,
conjuntiva e pescoço, livores cadavéricos, esperma no meato urinário (devido à fase de excitação
cortical e medular da asfixia, ocorre na última respiração possível)

Sinais internos: linha argentina (prateada), sufusões sanguíneas subcutâneas, hemorragias e ruturas
musculares; Sinal de Martin – infiltrações hemorrágicas do músculo e adventícia muscular; sinal de
Amussat – lacerações da túnica interna das carótidas (sinal de Otto se jugulares internas); fratura do
hioide e aparelho laríngeo, equimose retrofaríngea e rutura de ligamentos, ponteado hemorrágico na
face interna palpebral (também no estrangulamento)

DD com estrangulamento com laço – pelas características do sulco existente no pescoço e nas lesões
observadas internamente a este nível

Falsos sulcos – em lesões dermatológicas (dermatose), em obesos (gravatas) e em recém-nascidos

Esganadura – constrição do pescoço por uma ou duas mãos – é sempre homicídio


Sinais externos: estigmas ungueais no pescoço, congestão ou cianose da face e orelhas, petéquias nas
conjuntivas, lábios, exoftalmia, espuma na boca e narinas, língua entre arcadas, lesões traumáticas
resultantes
Sinais internos: hemorragia das partes moles do pescoço, hemorragias e fraturas do aparelho
laríngeo, fratura da traqueia, lesões das carótidas, espuma nos brônquios, laringe e traqueia,
congestão visceral, sufusões sanguíneas, sangue fluído e escuro

Sufocação

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Oclusão dos orifícios respiratórios – morte por anoxia anóxica (mais comum), inibição reflexa,
inalação se solventes; sinais gerais de asfixia (sangue fluído e escuro, congestão visceral generalizada,
sufusões) ou patologia sugestiva de possível crise epilética

Oclusão interna das vias respiratórias – corpo estranho (pode ser de menor diâmetro, causa edema),
morte por anoxia anóxica ou inibição reflexa, sinais gerais asfíxicos, corpo estranho ou sinais de
soterramento

Compressão externa toraco-abdominal – máscara equimótica + hemorragias abundantes, petéquias


na pele da face, pálpebras e conjuntivas + oto e rinorragia + lesões traumáticas

Permanência em espaço confinado – morte por anoxia anóxica; sinais gerais de asfixia + humidade do
vestuário e pele, lesões traumáticas de defesa + lesões nas unhas + defecações no local

Submersão
Paragem da respiração => hipercapnia => inspiração involuntária de água => anoxia
Mecanismo de morte: anoxia cerebral irreversível, alterações eletrolíticas (água doce – hipervolemia,
hemólise, hipercaliémia; água salgada – hemoconcentração, edema pulmonar, anoxia miocárdica);
laringospasmo (10 a 15%) – pulmões dilatados e crepitantes, mas secos; inibição cardíaca reflexa
(estímulo vagal por entrada rápida de água na laringe)

Sinais externos: livores claros, sem localização definida, maceração cutânea, cútis anserina (pele de
galinha – rigidez cadavérica), cogumelo de espuma

Sinais internos: espuma traqueobrônquica, pequenos corpos estranhos, pulmões dilatados e


crepitantes, congestão acentuada, petéquias na pleura (manchas de Paltauf), hemorragia do ouvido
interno por rebentamento, congestão hepática acentuada, sinais gerais asfíxicos, água no duodeno ou
estômago

Psiquiatria forense

Um indivíduo, para ser julgado como criminoso, deve possuir inteligência, liberdade e vontade
próprias, que o tornem responsável pelos seus atos

Inimputabilidade:
 Menores de 16 anos
 Doentes com anomalias psíquicas, que os tornem incapazes de avaliar a ilicitude dos atos que
cometem – não é excluída inimputabilidade mesmo que a anomalia psíquica tenha sido
provocada pelo próprio de modo a poder cometer o ato licitamente
o Perturbações afetivas e de personalidade não são inimputáveis, mas as psicóticas já
são
 É para um ato específico, e não para toda a vida

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Cuidado com a possibilidade de simulação (incentivos externos, temporária, sintomas repetidos,


antissociais, desejam testes benignos)

Perigosidade – não é um Dx nem Px; é uma previsão, baseada em indícios médico-psicológicos, legais
(antecedentes judiciais) e sociais (fatores do meio). A opinião do perito deve ser sempre reservada
até que se verifique a resposta Tx. Segundo a legislação, todo o inimputável será considerado
perigoso quando é de esperar que venha a cometer outros fatores típicos graves

Internamentos psiquiátricos:
 Indivíduo que ainda não cometeu crime, mas a lei antecipa-se com internamento preventivo
 Indivíduo que cometeu crime e por razões psiquiátricas cumpre a pena num estabelecimento
de saúde mental com medidas de segurança
 Quando houver fundado receio que venha a cometer outros crimes graves
 Internamento superir a 3 anos caso tenha praticado homicídio
 De 2 em 2 anos situação do doente é revista
 Quase sempre em regime aberto
o Exceções: primeiros 4 ou 5 dias, graves alterações do estado de consciência, risco de
suicídio, agitação psicomotora grave, agressividade auto e hetero dirigida)

DIREITO MÉDICO
Normas de preenchimento de alguns documentos médicos

Atestado médico
 Por doença
 Para assistência a familiares
 De robustez (psíquica e física)
Indicar sempre data de ínicio, os impedimentos e o tempo provável de incapacidade que
determina. Nos atestados de robustez, é essencial mencionar sempre a função que a pessoa
vai desempenhar

O atestado não deve especificar o mal de que o doente sofre, salvo por solicitação expressa
deste, devendo o médico fazer constar o condicionalismo previsto.

Os atestados que se destinam a justificação de faltas por doença de funcionários públicos ou


agentes têm um regime particular.

É considerada falta deontológica a emissão de atestados de complacência ou relatórios – é


punível também por lei, com pena de prisão ou multa.

Receitas - de acordo com o art. 96º do CDOM as receitas devem ser redigidas em língua portuguesa,
manuscritas a tinta com letra bem legível, ou dactilografadas de forma bem percetível, sem
abreviaturas não consagradas e devidamente datadas.

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Perícias médico-legais
Perito – deve ter sólida preparação médica, conhecimentos jurídicos, domínio da peritagem ML
Poderão ser realizadas, por indicação do INML, em serviço de saúde.

Perícias urgentes – 1 perito em serviço de escala em cada delegação e gabinete ML, desde que
haja nº de peritos suficiente para assegurar período de prevenção
Denúncia de crimes – delegações e gabinetes ML devem remetê-las o mais rapidamente
possível ao MP, podendo praticar atos cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de
prova, procedendo ao exame, colheita preservação de vestígios, sem prejuízo das competências legais
da autoridade policial à qual competir a investigação, sempre que necessário
Responsabilidade – são autónomos e são responsáveis pelos atos por si efetuados; são obrigados
a respeitar normas, modelos e metodologias periciais
Obrigatoriedade de sujeição a exames – sempre que se mostrar necessário ao inquérito ou à
instrução de qualquer processo, e desde que ordenado pela autoridade judiciária competente nos termos
da lei

Denúncia de crimes
Tramitação do processo penal: inicia-se com a aquisição da notícia da prática de crime => abertura da
fase de inquérito => MP deduz acusação se provas suficientes (com posterior julgamento e decisão
de absolvição ou condenação), ou profere despacho de arquivamento
Princípio da oficialidade – iniciativa de investigar infração e decisão de a submeter a julgamento
competem a entidade pública, estadual (MP). Tem desvios, devido aos tipos de crime
Existem 3 tipos legais de crimes:
 Públicos – basta notícia do crime para MP exercer ação penal, independentemente da vontade do
ofendido; denúncia destes crimes é obrigatória; são eles: violência doméstica, maus-tratos, crimes
sexuais contra menores
 Semipúblicos – o ofendido tem de apresentar queixa (não é de denúncia obrigatória), mas é o MP
que deduz a acusação; são eles: atos sexuais com adolescentes (14 aos 16 anos) com abuso de
inexperiência, crimes sexuais contra maiores – quando um destes crimes resulta em suicídio ou
morte da vítima, passa a ser considerado crime público
 Particulares – é necessário que a vítima se queixe (não é de denúncia obrigatória), se constituam
assistentes e deduzam acusação particular – é o assistente que decide, no fim do inquérito, sobre
a dedução da acusação; ofendido pode desistir da queixa
Conflito entre o dever de denúncia e o dever de guardar segredo profissional – critério de resolução
de conflito passará sempre por uma ponderação, caso a caso => sempre que a quebra do segredo
semostre justificada, segundo o princípio de prevalência do interesse preponderante, o tribunal pode
decidir que haja prestação de testemunho
Os serviços médico-legais intervêm:
 Mediante despacho da autoridade judiciária competente
 Mediante solicitação dos órgãos de polícia criminal

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 Receção de denúncia de crimes


 Procedimentos em crimes públicos
 Casos urgentes: princípio da receção imediata, realização de atos urgentes, preservar ou
documentar vestígios e outros sinais de prática de crime; melhor interesse da vítima, evitando
vitimação secundária

Os serviços de saúde e respetivos profissionais têm o seu papel na:


 Realização de exames clínicos de urgência e documentação das lesões
 Eventual recolha de vestígios ou produtos biológicos – com devida articulação com o INML
 Denúncia de crime

Responsabilidade penal do médico


Direito penal – visa a proteção dos bens jurídicos
O código penal reconhece que as intervenções médico-cirúrgicas não são ofensa à integridade
física. Intervenções ou Tx sem consentimento do doente são punidos com pena de prisão até 3 anos
ou com pena de multa

Homicídio por negligência – até 3 anos ou multa; se negligência grosseira => até 5 anos

De que modo se há de determinar a responsabilidade no caso de uma equipa médica?


 Princípio da divisão do trabalho – pode ser divisão vertical – há dever de controlo?
o O médico orientador deve fiscalizar o interno – não pode convocar princípio da
confiança; mas o interno é responsabilizado se violar o seu deve de cuidado
 Princípio da confiança – divisão de trabalho horizontal (cirurgião-anestesiologista)

Tipos legais de crime: homicídio por negligência, ofensa à integridade física por negligência,
intervenções médico-cirúrgicas arbitrárias, eutanásia, auxílio ao suicídio, aborto, violação de segredo
profissional, recusa de médico, atestado falso

Responsabilidade disciplinar do médico


Tipos: hierarquia contratual; hierarquia administrativa; corporativa

Deveres: leis gerais, código deontológico, estatuto da OM, estatuto disciplinar dos médicos,

Pilares:
 Poder disciplinar
 Infração disciplinar
o O médico que, por ação ou omissão, viola os deveres decorrentes da OM e/ou do
código deontológico
 Sanção disciplinar:
o Consequência da infração, adequada à finalidade da responsabilidade disciplinar,
adequada à gravidade do comportamento

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 Procedimento disciplinar

Princípios da culpa e da tipicidade relativa

O direito de instaurar procedimento disciplinar prescreve em 3 anos; este prazo pode ser
alargado caso a infração constitua um ilícito penal, sendo idêntico ao processo-crime se este
for superior

Estatuto disciplinar dos médicos:


 Penas disciplinares:
o Advertências – infrações leves
o Censura – infrações graves que não correspondam a pena de suspensão e
expulsão
o Suspensão até 5 anos
o Expulsão – infração que também constitua crime punível com pena de prisão >
3 anos; quando se verifique incompetência profissional notória; quando ocorra
encobrimento ou participação na violação de direitos da personalidade dos
doentes
 Penas acessórias
o Perda de honorários – apenas aplicável cumulativamente à pena de suspensão
o Publicidade da pena – publicada em órgãos de comunicação social
 Atos qualificados como graves
o Encobrimento do exercício ilegal da medicina, com pena de suspensão nunca
inferior a 2 anos
o Publicidade garantística ou enganosa
o Assédio sexual
 Circunstâncias agravantes especiais
o Atos que visem obtenção de lucros indevidos à custa dos doentes
o Atos que importunem prejuízo considerável de terceiros
o Reincidência (nova infração cometida antes de decorrido 1 ano sobre a data em
que tiver fechado o cumprimento da pena imposta por virtude da infração
anterior)

Responsabilidade civil do médico


Objetiva a responsabilidade médica, tanto do profissional como da instituição, pública ou
privada: tem o objetivo de ressarcir o lesado pelos danos patrimoniais e não patrimoniais, com efeito
preventivo e sancionatório (indemnização) – assim, deve existir um seguro de responsabilidade civil

Os profissionais de saúde em regime liberal devem ser titulares de seguro contra os riscos
decorrentes do exercício das suas funções
 Seguro de responsabilidade extracontratual (delitual ou aquiliano) (quando violação de
direitos absolutos ou da prática de certos actos que, embora lícitos, causam prejuízo a
outrem

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o Julgado em tribunais administrativos


o Ónus da prova – incumbe ao lesado provar a culpa do autor da lesão, salvo
havendo presunção legal de culpa
o Prescreve findos 3 anos, ou igual ao do processo-crime se for ilícito penal
 Seguro de responsabilidade contratual (quando há falha nas obrigações expressas no
contrato de prestação de serviços)
o Julgado em tribunais comuns
o Ónus da prova – incumbe ao devedor (médico) provar que a falta de
cumprimento ou cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa
sua
o Prescreve findos 20 anos
Situações em que não existe contrato – urgências e contrato nulo (ensaios clínicos, abortos)

Pressupostos gerais: o fator voluntário, o facto ilícito, o dano, o nexo de causalidade entre o
facto e o dano, a culpa.

Nos hospitais públicos:


 Danos causados por atos ilícitos com culpa leve – perante o lesado responde
exclusivamente o hospital
 Danos causados por atos ilícitos e culposos (com dolo ou culpa grave) – perante o
lesado responde solidariamente o hospital e o médico

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