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Medicina Legal (Sebenta Raquel Barroso 14/15)

Autópsias médico-legais

• Diferenças entre a autópsia médico-legal e autópsia anátomo-


clinica:

Autópsia médico-legal Autópsia anátomo-clinica


→ Casos com interesse judicial (crime, → Para investigar a causa da morte
acidente de trabalho ou de viação), (natural), quais as alterações
casos de morte violenta ou quando a provocadas por diversos órgãos e
causa da morte é desconhecida tecidos por um determinado
processo mórbido e como tais
alterações poderão ter provocado
os sintomas funcionais
manifestados em vida
→ Esclarecimento da causa de morte → Centrada no exame interno do
e das circunstâncias que a rodearam, cadáver e sua relação com
nomeadamente da eventual elementos clínicos
intervenção de terceiros, sua
identificação e do seu grau de
responsabilidade
→ Importante o diagnóstico → Consentimento dos familiares é
diferencial entre morte natural/morte necessário
violenta, entre
homicídio/suicídio/acidente
→ Feita por um médico + ajudante → Geralmente são cadáveres
(dois médicos + ajudante, se for crime íntegros e em bom estado de
doloso) conservação
→ Cadáveres íntegros, em bom → Pode ter como objetivos:
estado de conservação, com controlo de qualidade, avaliação da
mutações em decomposição ou validade e necessidade dos
apenas restos cadavéricos procedimentos diagnósticos
adotados, avaliação do diagnóstico
clínico.

• Objetivos da autópsia médico-legal

A. Objetivos Gerais:
1. Diagnóstico diferencial entre morte natural/morte violenta
2. Diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio, acidente
(autópsia + exame do local + informações complementares)
3. Natureza do instrumento que produziu as lesões
4. Qualificação dos ferimentos em causa adequada ou ocasional de
morte
5. Problema da intenção de matar (não compete ao médico, mas
sim ao magistrado). O Perito não é obrigado a pronunciar-se.
Deve, no entanto, avaliar aspetos como qual a região atingida
(se vital ou não), se existe ou não sinais de violência (número e
tipo das lesões), a distância entre o agressor e a vítima e a
adequação entre o instrumento utilizado e a região atingida.

B. Objetivos específicos
1. Cronotanatognose (cronologia da morte)
2. Diagnóstico diferencial entre morte rápida e morte lenta
(quanto tempo sobreviveu?)
3. Identificação da vítima e/ou do agressor
4. Cronologia dos ferimentos (produzidos antes ou depois da
morte?)
5. Posição entre agressor e vítima
6. Eventual influência alcoólica
7. Distância do disparo
8. Houve deslocação do cadáver?

• Capítulos do exame médico-legal

1. Exame do local
2. Exame da documentação
3. Exame do vestuário
4. Exame externo do cadáver
5. Exame interno do cadáver
6. Exames complementares (toxicológicos, de criminalística, biológicos,
histológicos, microbiológicos e radiológicos)

• Qualificação dos ferimentos

- Causa adequada: pode levar à morte, mas sobreviveria, se tratado a tempo


- Causa necessária: causa inevitavelmente a morte em todo e qualquer.
individuo e sobre quaisquer condições (ex: decapitação).
- Causa ocasional: por si só não é responsável pela morte, mas no caso
particular da vítima, determinadas circunstâncias fizeram com que a ofensa
fosse mortal.
- Concausas: lesões concorrentes com a ofensa para a determinação da morte
(pré-existentes, concomitantes, ou supervenientes).
Organização médico-legal do País

INML (instituto nacional de medicina legal):

Criado em 2000, com o objetivo de harmonizar as perícias médico-legais,


rentabilizar os recursos tecnológicos e humanos e coordenar os serviços médico-
legais.
Tem sede em Coimbra, delegações em Coimbra, Porto e Lisboa e 31 gabinetes
médico-legais em hospitais de todo o País.
Atribuições: Colaborar com o sistema de administração e justiça, realizando
exames e perícias médico legais que lhe foram solicitados, bem como prestar-lhes
apoio técnico e laboratorial especializado, prestar serviços a entidades públicas e
privadas, bem com a particulares; Promover o ensino, formação e investigação no
âmbito da medicina legal e de outras ciências forenses.
Órgãos Executivos: conselho diretivo, conselho médico-legal, conselho nacional
do internato complementar de medicina legal e comissão de fiscalização.
Órgão Consultivo: conselho nacional de medicina legal

Competência dos gabinetes médico-legais:

Realizar autópsias médico-legais, identificação de cadáveres e embalsamentos


respeitantes aos óbitos ocorridos nas Comarcas integradas na sua área de
atuação.
Realizar exames e perícias em pessoas para descrição e avaliação dos danos
provocados na integridade psicofísica, no âmbito do direito penal, civil e do
trabalho.

Competência do conselho médico-legal:

Pronunciar-se sobre questões técnicas de natureza pericial, que sejam


suscitadas pelas delegações do INML.
Acompanhar e avaliara a atividade pericial desenvolvida.
Avaliar casos de negligência médica.

Queimaduras – Aspetos médico-legais

• Distinção entre queimaduras por diversos agentes

A. Aspetos térmicos:
1. Chamas e materiais inflamados – queimaduras amplas, extensas,
de superfície irregular e mal delimitadas. Presença de diferentes
graus de queimadura. Pêlos e cabelos queimados e
carbonizados. Direção de baixo para cima (+ queimado em
cima). Respeitam os lugares apertados pela roupa.
2. Gases a temperaturas elevadas – queimaduras muito extensas,
mas pouco profundas, com limites mal definidos. Não atingem
as zonas cobertas por vestuário. Pêlos e cabelos queimados e
carbonizados. Possibilidade de lesão das vias aéreas superiores
(queimadura → edema → asfixia)
3. Vapores a temperaturas elevadas – queimaduras muito extensas
de grau pouco elevado. Aspeto no cadáver de escara branca e
mole. Pêlos e cabelos não afetados. Nas zonas cobertas com
roupa, a queimadura é mais grave (a roupa absorve o vapor
quente e prolonga o tempo da exposição).
4. Líquidos quentes – queimaduras mais ou menos extensas, de
profundidade variável, com sulcos ou goteiras de direção
descendente. Zonas recobertas por vestuário em lesões mais
profundas. Pêlos e cabelos conservados.
5. Sólidos ao rubro – queimaduras limitadas que traduzem a forma
do agente. Profundidade variável, dependendo da temperatura
e do tempo de contacto. Possíveis infiltrações da pele da
sustância fundida. Pêlos e cabelos não carbonizados, mas
retorcidos sobre o seu eixo e desorganizados.
6. Calor radiante – queimaduras de qualquer grau associadas a
alterações bioquímicas e metabólicas geralmente responsáveis
pela morte.

B. Aspetos Químicos:
1. Queimaduras de grau uniforme com sulcos ou goteiras. Se
ingeridos causam escaras na boca e lábios. Grau depende da
concentração do produto.
2. Ácidos: escaras secas, brancas e depois, negras se ácido
sulfúrico, amarelas se ácido nítrico, cinzentas se clorídrico
(elementos histológicos mal curados, mas conservados +
dilatação sanguínea e linfática).
3. Bases: escaras moles, translúcidas e húmidas que depois se
tornam saponosas (elementos histológicos bem curados +
contração vascular + glóbulos vermelhos destruídos +
desfiguração do núcleo celular).
4. Sais: escaras brancas e moles.
5. Gases Bélicos: fictenas (bolhas).

C. Eletricidade:
1. Marca elétrica: reproduz forma do agente condutor,
consistência fina, cor branco-amarelada, bordos salientes,
centro deprimido, indolor, pêlos retorcidos.
2. Metalizações: impregnação superficial de partículas metálicas do
condutor; desaparecem após 4 a 5 dias.
3. Se por raio: raízes dendríticas de Lischtenberg
4. Descarga na cabeça: morte por inibição dos centros nervosos da
respiração.
5. Descarga mão-mão: morte por paralisia dos músculos
respiratórios.
6. Descarga mão-pé: morte por fibrilhação ventricular.

De que depende a gravidade das queimaduras?

- Extensão.
- Profundida.
- Localização (+ grave na face, mãos e períneo).
- Estado de saúde anterior e idade da vítima.

Graus das queimaduras:

- 1º Grau: lesões superficiais localizadas à epiderme causam eritema (por


vasodilatação local), muito dolorosas não são habitualmente visíveis no
cadáver.
- 2º Grau: destruição da epiderme e derme; formação de flictenas (bolhas) –
rompem frequentemente antes da morte – placa apergaminhada de coloração
amarela e negra, onde é visível a rede vascular.
- 3º Grau: destruição total da pele, formação de uma escara com aspeto
branco-acinzentado e apergaminhado no cadáver. No vivo, não cicatriza por si,
pois todas as estruturas dérmicas foram destruídas.
- 4º Grau (só no cadáver): destruição total dos tecidos com atingimento do
plano muscular.
- Carbonização

Datação das queimaduras no vivo:

- Menos de 36h: com turnefacção e edema considerável; sem pus.


- Mais de 36h e alguns dias: pus por baixo das crostas ou à superfície;
desaparecimento da vermelhidão inflamatória que rodeava a lesão.
- Mais de uma semana: crostas superficiais desprendem-se.
- Duas semanas: superfície vermelha de granulação, livre de crostas.
Morte por carbonização – características do cadáver: objetivos
particulares da autópsia em casos de queimaduras:

A. Hábito externo do cadáver


1. Redução do volume do cadáver por condensação dos tecidos
2. Posição de pugilista por contração muscular devido ao calor
3. Expressão de riso sardónico
4. Pele seca, coloração negra e ressoando à percussão
5. Soluções de continuidade da superfície cadavérica sobretudo a
nível das pregas de flexão (devidas à retração da pele)
6. Zonas cutâneas indemnes em locais apertados por roupa
7. Carbonização ou desaparecimento dos pêlos e cabelos
8. Eventual abertura das cavidades com saída das vísceras
9. Amputações espontâneas a nível dos membros
10. Alteração da coloração da iris (fica azulada) por coagulação do
cristalino.

B. Hábito interno do cadáver


1. Vísceras conservadas, mas com diminuição de peso (se não
houve rotura das cavidades)
2. Fraturas ósseas (extremidades, tórax e crânio)
3. Hematoma epidural disseminado (artefacto por ação do calor)
4. Depósitos de gordura nos vasos pulmonares por liquefação da
gordura subcutânea (pelo calor) e entrada em circulação.

C. Objetivos particulares da autópsia


1. Identificação do cadáver (se carbonizado)
2. Diagnóstico do caráter vital da queimadura (ocorreu antes ou
depois da morte) – se o cadáver carbonizado for encontrado
sozinho, fazer sempre raio-x pois a carbonização pode ocultar o
crime.
3. Etiologia ML (suicídio, homicídio ou acidente)
4. Extensão da superfície queimada, grau/profundidade, agente
etiológico
5. Determinação da causa de morte

Morte por queimadura:

✓ Morte rápida: por efeitos diretos da queimadura (choque


hipovolémico…)
✓ Morte Tardia: por efeito direto da queimadura, mas com sobrevivência
de algumas horas ou mesmo dias; possível observação de úlcera de
stress.
✓ Morte diferida: após vários dias de sobrevivência, geralmente como
consequência de infeções secundárias.

Possíveis causas da morte num foco de incêndio

1. Ação da temperatura muito elevada


2. Queimadura
3. Lesões traumáticas concomitantes (ex: queda → traumatismo craniano)
4. Irritação por gases inalados → edema da glote → asfixia
5. Intoxicação por CO (dióxido de carbono) ou outros gases contidos no
fumo
6. Causas naturais

Diagnóstico diferencial das queimaduras in vivo/post mortem

Afirmação de que a vítima se encontrava viva antes da queimadura:


1. Presença de produtos de combustão (negro de fumo ou cinzas) nas vias
respiratórias profundas e digestivas
2. Queimadura da base da língua, epiglote, faringe ou laringe
3. Teor de carboxihemoglobina superior a 10 % em sangue colhido do coração e
vasos profundos
4. Carbonização vascular a nível das escaras (sangue coagulado)

Lesões por arma de fogo e explosivos

• Elementos que integram o disparo:


✓ Pólvora – da sua explosão resultam: gases da explosão, chama, negro de
fumo e grãos de pólvora incombusta (podem funcionar como projeteis).
✓ Taco (só nos disparos de caçadeira): normalmente incendeia-se e
desaparece, mas nos disparos a curta distância pode ser encontrado
dentro do corpo da vítima.
✓ Projétil: pode ser único (bala) ou múltiplo (grãos de chumbo)

• Elementos determinantes do aspeto da lesão por arma de fogo:


✓ Distância do disparo
✓ Tipo de projétil, tipo de arma e sua potência (projétil único ou múltiplo,
presença ou não de taco)
✓ Localização da ferida
✓ Incidência direta e indireta (ricochete). Ângulo de entrada.
✓ Extensão e tipo de tecido a atravessar
✓ Natureza e qualidade da pólvora (chama, gases de explosão, negro de
fumo, pólvora incombusta).

• Objetivos/problemas da autópsia:

1. Etiologia ML (suicídio, homicídio, acidente)


2. Intensão de matar vítima e agressor
3. Diagnóstico diferencial do orifício de entrada/orifício de saída
4. Distância e direção do disparo (posições relativas à vítima e ao agressor)
5. Distância do trajeto da bala na vítima
6. Identificação da arma que disparou – balística

• Elementos constituintes da ferida por arma de fogo

A. Ferida de bala
➢ Orifício de entrada:
▪ Geralmente único (pode haver exceções)
▪ Geralmente arredondado ou oval (pode ser estrelado nos
disparos de cano encostado, linear nos disparos de longa
distância ou circular se dado no cadáver)
▪ Dimensões geralmente menores que o tamanho da bala,
mas dependem da distância e força com que atinge a pele
(maior nos disparos a curta distância)
▪ Tatuagens: não existem nos de longa distância ou com
cana encostado
- Orla de contusão – elemento característico do
orifício de entrada (existe sempre), é geralmente circular
ou em meia-lua, é estreita, enegrecida e apergaminhada
- Tatuagem propriamente dita:
1. Queimadura → se disparo a 5cm
2. Orla de negro de fumo → falsa
tatuagem porque é lavável, se o
disparo for a 5cm
3. Orla de depósito de pólvora
incombusta → verdadeira
tatuagem; disparo a 30 cm
➢ Trajeto:
▪ Pode ser único ou múltiplo (se as balas se fragmentarem)
▪ Pode ser retilíneo ou não (se houver ricochete por bater
no osso)
▪ O interior enche-se de sangue

➢ Orifício de saída:
▪ Nem sempre existe e tem forma e tamanho muito
variáveis (pode mesmo ser múltiplo se a bala se
fragmentar ou se atravessar o osso partindo em múltiplos
pedaços que passam também a funcionar como projéteis)
▪ Não tem orla de contusão (a não ser se a bala embater em
algum sítio e voltar a bater na ferida → se o orifício de
saída estiver encostado a qualquer coisa dura)
▪ Bordos: evertidos com exteriorização de tecido adiposo

B. Ferida de caçadeira:
➢ Orifício de entrada:
▪ Geralmente múltiplo
▪ Se o tiro for dado a curta distância (menos de 1cm) os
chumbos não dispersam e atuam como projétil único →
orifício de entrada irregular e de grandes dimensões com
destruição acentuada dos tecidos subjacentes

• Discussão da direção do disparo:

Ter em conta:
1. Forma da tatuagem
2. Forma da orla de contusão
3. Trajeto
o Se for difícil distinguir orifício de entrada de orifício de saída (porque não se
vê orla de contusão) deve pesquisar-se a presença de restos de vestuário ou
produtos de decomposição da pólvora.
o No crânio: o orifício de entrada provoca maior destruição da tábua interna,
o orifício de saída provoca mais destruição da tábua externa.

• Discussão da distância do disparo:

A. Feridas de bala
➢ Disparo de cano encostado: forma estrelada do orifício de
entrada porque os gases penetram sobre a pele e causam o seu
rebentamento, paredes enegrecidas, pode deixar marca da arma;
deve fazer-se a determinação de enxofre, nitritos e nitratos
(produtos de decomposição da pólvora)
➢ Disparo à queima-roupa: (conceito teórico) disparo ao alcance da
chama, queima a roupa e pode mesmo queimar o orifício de
entrada.
➢ Disparo de curta distância: (60 a 70 cm)
▪ Curta distância próxima → contusão + negro de fumo
▪ Curta distância remota → contusão + orla de grãos de
pólvora
▪ Disparo de longa distância (mais de 70cm)
▪ Só tem orla de contusão, não há tatuagens

B. Feridas de caçadeira
➢ Disparos de curta distância: presença de elementos de tatuagem
➢ Disparos de longa distância:
▪ 1 a 5 metros → só cabeça
▪ 5 a 10 metros → cabeça + pescoço
▪ 10 a 15 metros → cabeça + pescoço + tórax
▪ 15 a 25 metros → cabeça + pescoço + tórax + abdómen

• Discussão da natureza do disparo

- Exame do local
- Exame da arma (armas de ocasião são a favor de suicídio)
- Exame de cadáver (suicida retira a roupa, vestígios de pólvora na mão
da vítima se suicídio, número de orifício de entrada, localização e
distância, espasmo cadavérico – a mão que empunhava a arma fica na
mesma posição)

• Causas de lesão por explosão


1. Lesões por ação mecânica do próprio explosivo e da metralha (fraturas,
feridas, mutilações)
2. Pela ação térmica (queimaduras)
3. Pela ação química
4. Pela onda de choque (blast injury)
– Efeitos de pulverização → rebentamento dos alvéolos pulmonares
– Efeitos de explosão → rebentamento de vísceras ocas
– Onda de pressão → rutura da membrana do tímpano
• Reações de Guttman e Brucina
Ambas pesquisam pólvora por meios químicos (detetores inespecíficos de
nitratos e nitritos); Guttman dá cor azul esverdeada e Brucina cor vermelho-
alaranjado.

Tanatologia

• Definição:

Estudo do cadáver para determinação da causa de morte e estudo das questões


que rodeiam a morte. Permite sobretudo a identificação de cadáveres (necro-
identificação). Pode também fazer identificação no vivo (ex: determinar a idade).

• Necro-identificação:

A. Vertente Morfológica: mais fácil e acessível, baseia-se na descrição do


indivíduo, permite a identificação positiva.
B. Vertente Genética: mais difícil, menos acessível, permite mais facilmente a
exclusão (comparando o ADN do suspeito com o dos seus familiares).
Tanto numa como noutra, a necro-identificação pode ser feita por:
✓ Método reconstrutivo: a partir dos dados recolhidos no próprio
cadáver → fatores genéticos de identificação → permite desenhar
o perfil do individuo.
✓ Método comparativo: compara o perfil do desconhecido com os
elementos conhecidos em relação a um determinado suspeito →
fatores individualizantes de identificação → permite identificação
positiva.

• Como se processa a necro-identificação em cadáver recente ou


fresco?

A. Exame geral: traços fisionómicos, sexo, idade aparente, peso (cuidado


que fenómenos putrefativos alteram o peso), estatura, sistema piloso,
caraterísticas cromáticas (cuidado que a córnea fica opacificada nos
cadáveres), sinais particulares (ex: cicatrizes ou malformações),
tatuagens, espólio (roupas e objetos encontrados com o cadáver).
B. Exame buco-dentário: odontologia forense
- O esmalte é o tecido mais resistente do corpo, resistindo mesmo
à carbonização, e além disso não há duas pessoas com a mesma
dentição.
- Para comparar a dentição da vítima serão necessários exames
ante-mortem.

C. Dactiloscopia: estudo das impressões digitais


- São devidas à presença na pele das pontas dos dedos de uma
série de cristas e sulcos cuja distribuição relativa forma imagens
características de cada pessoa.
- Elementos da impressão digital → linhas (basilares, marginais e
nucleares), entre as linhas desenham-se triângulos chamados
delta.
- Características das impressões digitais que as tornam bons meio
de identificação → perenidade (duram toda a vida),
inalterabilidade, variabilidade, possibilidade de classificação e
arquivo, mantêm-se bem conservadas no cadáver (mesmo em
estado avançado de putrefação).

D. Exames Radiológicos:
- Identificação individual → lesões traumáticas, cirurgias,
patologia óssea, corpos estranhos (ex: balas), morfologia dos seios
frontais (bastante individualizada).
- Determinação da idade → desenvolvimento dentário (até aos 14
anos), pontos de ossificação (mão, punho, cotovelo, coluna
lombar, bacia).

Antropologia Forense

É a reconstrução da biografia biológica de um individuo a partir dos seus


restos ósseos. As finalidades do exame de antropologia forense são:
estabelecer a identidade do sujeito, determinar a causa ou circunstâncias
da morte e documentar os factos ocorridos antes, durante e depois da
morte.

• Como se processa o exame de antropologia forense?


1. Determinação da espécie:
✓ Determinação do peso dos ossos, da densidade óssea e do indicie
medular. Fazer radiologia, histologia, imunologia (os ossos de
animais são mais pesados, mais densos, têm canal medular mais
amplo e mais longo e o trabeculado do osso esponjoso é mais
compacto).
2. Estabelecer os fatores genéricos da identificação:
✓ Determinação das afinidades populacionais: raça → é a tarefa
mais difícil e menos precisa. Não tem tradução a nível genético,
só a nível morfológico. O crânio é a melhor parte do esqueleto
para determinar as afinidades populacionais.
✓ Determinação do sexo → baseada na morfologia óssea
determinada pelas caraterísticas sexuais secundárias (só é preciso
no individuo pós-puberal). Analisar crânio (no masculino o queixo
é mais largo e quadrado e o sulco digástrico é mais marcado),
ossos longos (no masculino as epífises são mais salientes e
robustas e as diáfises são mais compridas) e a pélvis (no feminino
existe sulco pré-auricular e o angulo sub-pubiano é maior).
✓ Determinação da estrutura: método anatómico ou matemático
(tabelas)
✓ Determinação da idade → até 20-25 anos, a determinação da
idade é fácil porque as alterações ósseas seguem uma cronologia
rigorosa (a partir daí só obtemos intervalos muito alargados).
Usam-se tanto parâmetros ósseos (aparição dos núcleos de
ossificação, encerramento das metáfises, metamorfoses
degenerativas e encerramento das suturas cranianas) como
dentários (cronologia da dentição definitiva e desgaste).
3. Determinar fatores de individualização (identificação positiva):
✓ Fatores de individualização: fatores anatómicos (ex: morfologia
dos seios frontais, perda de dentes) e patológicos → são sempre
necessários dados ante-mortem.
✓ Traumatismos, patologia osteo-articular, lado
dominante/hábitos, sinais particulares, comparação radiográfica
e fotográfica, reconstrução facial, marcadores genéticos.
4. Determinar a data da morte:
✓ Métodos morfológicos, biológicos (entomologia forense e
avaliação de DNA mitocondrial) e químicos (carbono14).
5. Concluir sobre as circunstâncias da morte (essencial exclusão de
violência).

Sinais de certeza de morte:

• Fenómenos cadavéricos imediatos:


1. Arrefecimento
2. Desidratação
3. Rigidez
4. Livores
5. Coagulação sanguínea intravascular e intracardíaca
• Fenómenos cadavéricos tardios:
A. Destrutivos
- Autólise
- Putrefação
B. Conservativos
- Saponificação
- Mumificação

• Sinais positivos de morte:


1. Sem movimentos inspiratórios
2. Sem batimentos cardíacos
3. Sem mobilidade espontânea
4. Ausência de reflexos
5. EEG (eletroencefalograma) e ECG (eletrocardiograma) isoelétricos
6. Sem resposta à dor
7. Silêncio auscultatório
8. Sem pulsos nem TA (tensão arterial)

• Arrefecimento cadavérico:
É o sinal mais útil para determinar o intervalo post-mortem nas primeiras 24h.
Resulta do facto da produção do calor corporal cessar após a morte. Inicia-se pelos pés,
mãos e cara (estão frios duas horas após a morte), depois alastra para as extremidades,
tórax e dorso. As últimas áreas a arrefecer são o abdómen, as axilas e o pescoço.
▪ Tacto → após 2h estão frias as áreas descobertas (face, pés e mãos), após
4h-5h as regiões cobertas e ao fim de cerca de 12h dá-se o arrefecimento
completo.
▪ Termómetro → verifica-se que o arrefecimento só está completo após 24h
✓ I período (3h-4h) → arrefecimento linear, temperatura baixa até
0,5◦C/h
✓ II período (6h-10h) → temperatura diminui cerca de 1◦C/h
✓ III período → até ao equilíbrio entre temperatura corporal e
ambiente
Temperatura post-mortem = 36,9 e temperatura rectal ÷ 0,8
Nota: casos excepcionais → hipertermia post-mortem → morte por tétano ou por
intoxicação por estricnina (aumento da produção muscular de calor), excessiva atividade
bacteriana.

• Fatores de variação de arrefecimento cadavérico:


1. Causa da morte (arrefecimento mais rápido nas doenças crónicas,
hemorragias e grandes queimaduras, e mais lento nas doenças agudas e
sufocação)
2. Posição do corpo
3. Idade (mais rápido nas crianças)
4. Peso e estatura (mais rápido nos magros)
5. Estado de nutrição (mais rápido nos mal nutridos)
6. Presença ou não de vestuário
7. Fatores ambientais (temperatura, humidade, e ventilação)

• Rigidez cadavérica:
✓ Mecanismo → coagulação do plasma muscular associada á desidratação,
aumento do ácido láctico e desaparecimento do ATP
✓ Evolução:
1º → Flacidez inicial
2º → Rigidez impossível de vencer, tem início às 2h-4h, é completa
às 6h-12h, atinge intensidade máxima às 13h-24h e desaparece às
36h; primeiro nos músculos lisos e depois nos músculos estriados
esqueléticos (1º da face)
3º → Flacidez secundária (a rigidez não reaparece).

→ Nas crianças e velhos é precoce, pouco acentuada e de pouca duração. Nos adultos é
tardia, intensa e prolongada. Em casos de hemorragias crónicas ou atrofias musculares
é tardia, pouco acentuada e de curta duração.

• Espasmo cadavérico:
Variante da rigidez que ocorre imediatamente após a morte sem ser precedido de
fase de flacidez. Pode ser localizada (ex: mão que segura a arma) ou mais raramente
generalizado. Ocorre sobretudo em processos convulsivantes/processos centrais
(hemorragias centrais), feridas por armas de fogo ou asfixias mecânicas. Se generalizado
deve atender-se à expressão da vítima, pois pode ajudar a determinar a etiologia
médico-legal.

• Desidratação cadavérica:

1. Perda de peso (constante mas só apreciável em recém nascidos e


crianças pequenas)
2. Zonas de pele delgada (escroto e pé) e zonas que sofreram de lesão
imediatamente antes ou após a morte sofrem de desidratação muito
rápida → placas apergaminhadas: placas amarelas, secas, duras,
espessas, com consistência e textura de pergaminho onde se vê a rede
vascular (zonas de pele fina → escroto e pé); zonas escoriadas.
3. Desidratação das mucosas (lábios dos recém-nascidos e vulva de
mulheres de pouca idade)
4. Opacificação da córnea (após 45m em olhos abertos, 24h se fechados)
5. Mancha esclerótica de Sommer-Larcher (só se os olhos ficarem abertos)
6. Afundamento e amolecimento do globo ocular

• Livores:
✓ Cerca de 15m e 3h após a morte
✓ Morte → cessa a força propulsora do coração → sangue deposita-se nas
zonas de declive. O aspeto e a intensidade dependem da fluidez do sangue,
que é condicionada pela estrutura corporal, posição do corpo, temperatura
ambiente e idade da vítima.
✓ Hemorragia severa interna ou externa → não há livores.
✓ Zonas apertada por roupa e de apoio → capilares colapsam → não há livores.
✓ Livores carmim se intoxicação por CO; esverdeados se por ácido cianídrico.
✓ Evolução:
- Até ás 6h → móveis (1º local onde surgem → lóbulo da orelha)
- Entre as 6h e as 12h → semimóveis
- Após as 12h → fixos

• Livores paradoxais e Hipóstases viscerais. O que são?


✓ Livores paradoxais → em regiões que não são de declive, acompanhados
de petéquias hemorrágicas; em asfixias mecânicas ou em enfarte do
miocárdio
✓ Hipóstases viscerais → livores nas porções inferiores das vísceras

• Diagnóstico diferencial livores/equimoses


✓ Livores geralmente localizadas em zonas de declive
✓ Incisão com bisturi:
- Livores → gotículas de sangue laváveis
- Equimoses → sangue fortemente aderente aos tecidos, não lavável.

• Diagnóstico diferencial trombos vitais/coágulos post mortem:

Trombos vitais Post mortem


Acinzentados Vermelho vivo
Estriados Lisos, brilhantes
Oclusão total do vaso Oclusão parcial do vaso
Duros Elásticos
Aderentes Não aderentes

• Dificuldades da autópsia em casos de putrefação:


1. Dificuldades de identificação
2. Impossibilita docimasias (FN e FP)
3. Pode mascarar ferimentos ou lesões
4. Simula equimoses (liquefaz os coágulos das equimoses mascarando
sinais vitais)
5. Prejudica exame Hipertensão Pulmonar
6. Produz alcaloides cadavéricos → reações cruzadas nas análises; destrói
tóxicos (exceto arsénio)
7. Impossibilidade de determinar taxa de alcoolémia

• Processos destrutivos do cadáver


A. Autólise:
– Fenómenos intracelulares por ação enzimática (processos de demolição
celular)
– Estômago e Esófago → resistentes; Pâncreas e Cérebro → sensíveis
B. Putrefação:
– Processo de fermentação pútrida de origem bacteriana
I. Fase Cromática: vários dias
→ Hb reage com ácido sulfídrico = sulfohemoglobina
(verde) → 24h após a morte (cadáver não refrigerado) →
mancha verde, geralmente na FID (afogados) → pescoço,
fetos → face tórax, em zonas cutâneas (perto de lesões
internas ou em redor de lesões gangrenosas (???plásicas)
II. Fase enfisematosa (dias - 2 semanas):
→ Gases produzidos por bactérias → acumulação no
tecido celular subcutâneo → distensão do corpo (cabeça
incha → exoftalmia → procidência da língua → distensão
tórax e abdómen → distensão dos genitais (prolapso
uterino nas mulheres) → rede venosa torna-se aparente.
III. Fase coliquativa ou de liquefação (8-10 meses):
→ Pele começa a desagregar-se → bolhas subcutâneas
com liquido escuro → pelos e unhas caem → gases
escapam-se (diminui o volume)
IV. Fase esquelética (2-3 anos)
→ Partes moles do cadáver desaparecem
• Processos conservativos do cadáver:
A. Naturais:
- Corificação/congelação → cadáveres que morrem congelados
- Saponificação: (sobretudo em crianças)
✓ Obesidade + humidade + falta de ventilação → formação
de adipocera (cor branca quando se forma em água, +
amarela em terra húmida)
✓ Só atinge a superfície corporal, não as vísceras
✓ Recente: untuosa e modelável; Antiga: dura, seca e
quebradiça.

- Mumificação:

▪ Magreza + boa ventilação + temperaturas elevadas


(deserto) → dessecação rápida do cadáver → diminuição
do volume do cadáver por perda de água.
B. Artificiais:
- Embalsamento
- Refrigeração

Certificados de óbito e atestados

• Verificação do óbito:
▪ Feita pelo médico que chegar primeiro junto do cadáver, ou por aquele
que seguia o doente no momento da morte (ex: no hospital) e verificar
que houve cessação irreversível das funções do tronco cerebral.
▪ O que deve figurar:
1. Identificação possível do falecido e o modo como se obteve
2. Local, data e hora da verificação
3. Informação clínica ou observações eventualmente úteis
4. Identificação do médico e o seu nº de célula da Ordem dos
Médicos
▪ Feita em papel timbrado (se no ambulatório) ou no processo clínico
▪ Necessária a presença de 2 médicos em casos de sustentação artificial
das funções cardio-circulatórias e respiratórias.

• Certificado de óbito:
▪ Modelo nº 1725 ou 1725-A (fetos mortos (> maior) de 22 semanas e
recém nascidos (< menor) de 28 dias)
▪ Expressamente referido:
1. Identificação completa do falecido
2. Causa da morte
3. Distinguir causa de morte/mecanismo de morte, e outros
estados mórbidos, fatores ou estados fisiológicos que
contribuíram para o falecimento (parte II)
a) Causa direta
b) Causa intermédia
c) Causa básica
4. Intervalo de tempo decorrido entre o começo da doença
e a morte
5. Elementos que fundamentam a causa de morte
(laboratoriais e autópticos)
6. Circunstâncias da morte (local, data e hora, assistência
médica)
7. Observações
8. Identificação do médico (nome legível e nº de célula da
Ordem dos Médicos)

• Certificação de óbito/Verificação de óbito:


A. Ato único:
▪ Morte no domicílio, com assistência médica e conhecimento da
causa de morte → admitir sempre ainda que remota a hipótese
de morte não natural → exame de hábito externo é obrigatório.
▪ Morte num estabelecimento de saúde e o médico assistente
tenha chegado a diagnóstico seguro da causa da morte
B. Atos distintos: (verificação pelo médico → autópsia → certificado pelo
perito)
▪ Morte violenta
▪ Morte ignorada
▪ Morte súbita ou em curso improvável para a doença de que
padecia

• Atestados médicos:
▪ Atestado por doença
▪ Atestado para assistência a familiares
▪ Atestado de robustez (psíquica e física)

Nota: Indicar sempre a data de início, os impedimentos e o tempo provável de


incapacidade que determina. Não deve especificar a patologia de que o doente padece,
a não ser por pedido expresso deste. Nos atestados de robustez, é essencial mencionar
sempre a função que a pessoa vai desempenhar (e para a qual precisa do atestado).
Falsas declarações são puníveis com pena de prisão ou com pena de multa.

Lesões contusas e feridas por armas brancas


• Lesões modeladas ou figuradas:

Escoriações, erosões ou contusões superficiais que reproduzem a forma do agente


que as produziu. É o único caso em que se pode fazer o diagnóstico específico do agente
traumático.

▪ Lesões que reproduzem o rasto de pneus


▪ Lesões em forma de ferradura: tacão
▪ Escoriações elíticas que reproduzem a forma da unha (estigmas
ungueais)
▪ Mordeduras → existem as particularidades da arcada dentária do
autor, como a falta de dentes.
▪ Estrias longitudinais → lesões de arrasto (nos acidentes de viação)

A. Lesões contusas:
▪ Causadas por instrumentos contundentes, duros, de superfície plana
ou romba (objetos, partes do corpo humano ou superfícies de
embate). Em regra, a utilização de instrumentos contundentes revela
que não houve intenção prévia do agressor.
1. Escoriação/Erosão → Traumatismos de pequena intensidade,
que atua tangencialmente à pele sem produzir solução de
continuidade. A erosão só atinge a epiderme; a escoriação
atinge também a derme. A ação tangencial faz com que
fiquem pontas levantadas na parte terminal do atrito (permite
estabelecer o sentido do movimento).
2. Descolamento subcutâneo → Traumatismo mais intenso,
tangencial. Também não há solução de continuidade da pele.
3. Contusão superficial → Traumatismo contundente que atua
verticalmente, mas não produz solução de continuidade.
a) Equimose → rutura vascular → sangue infiltra
tecidos em toalha
b) Equimoma → equimose mais extensa
c) Hematoma → sangue fica coletado (tumefação)
d) Evolução: 1º dia são invisíveis → vermelho
violáceo → azulado → esverdeado →
amarelado → desaparece (na conjuntiva e no
leito ungueal, há apenas uma cor que se atenua
até desaparecer).
e) Diagnóstico Diferencial: equimoses resultantes
de processos patológicos, livores, manchas
cianóticas e manchas de putrefação.
4. Feridas contusas → traumatismo vertical, violento, que produz
solução de continuidade; tem bordos irregulares e pontes
tecidulares a unir os bordos (pequenos vasos e delicadas
fibras)
5. Contusão profunda → traumatismo de grande intensidade →
infiltração hemorrágica em profundidade, no plano muscular
e/ou visceral.
6. Fratura → traumatismo violento que deu origem a uma
solução de continuidade do osso. Devem ser abertos todos os
focos de fratura existentes num cadáver (para ver se há
contusões ou secções medulares).

• Feridas por armas brancas

Geralmente indicam uma intenção prévia por parte do agressor.

▪ Instrumentos perfurantes: (comprimento > secção) → chaves de


fendas, espigões
✓ Orifício de entrada → se for fino: não ultrapassa
capacidade elástica da pele e apenas causa ponto
avermelhado; se grosso o suficiente para
ultrapassar a capacidade elástica forma orifício
entrada com orla de contusão (raramente há
orifício de saída → se sim, é mais pequena)
✓ Trajeto → se for ferimento vital apresenta
infiltração sanguínea
▪ Instrumentos cortantes: (com lâmina)
✓ Aspeto fusiforme, linear, limpa com bordos
regulares e sem contusão. Cauda inicial (de ataque)
e cauda final (de saída, mais comprida e menos
profunda)
▪ Instrumentos corto-perfurantes: (facas, tesouras)
✓ Orifício de entrada limpo, linear e fusiforme.
Podem existir contusões ou escoriações. Devido a
particularidades da arma, o orifício de entrada
pode ser mais irregular.
✓ Trajeto único ou múltiplo, perpendicular ou
oblíquo
▪ Instrumentos corto-contundentes: (pá e machado) → o efeito
cortante é coadjuvado pelo peso da arma.
✓ Diagnóstico diferencial com feridas cortantes →
bordos mais irregulares e com orla de contusão.
Atingem planos mais profundos, podem causar
fratura e não têm cauda.
✓ Diagnóstico diferencial →não têm pontes
tecidulares a unir os bordos e atingem estruturas
mais profundas.

• Armas Brancas – problemas médico-legais:


A. Origem vital ou post-mortem da ferida
1. Caráter vital → crosta, retração da pele, pus, hemorragia
externa ou interna, embolia gasosa em feridas que atingem
veias do pescoço.
B. Etiologia Médico-legal
1. Suicídio → locais de importância vital, feridas compatíveis com
o gesto da vítima, feridas de ensaio (pouco profundas, junto
da ferida vital), vestuário poupado.
2. Homicídio → feridas múltiplas e graves, locais pouco
compatíveis com gestos do próprio, vestuário danificado
(pesquisar dedadas de sangue)
3. Lesões de defesa → ex: feridas na palma da mão ou bordo
cubital do braço.
C. Identificação da arma (geralmente apenas se define o tipo de
instrumento)
D. Cronologia dos ferimentos em vida ou post-mortem
E. Posição relativa agressor/vítima pela direção e local da ferida
F. Violência das lesões (avaliar nº e profundidade das lesões e grau de
destruição)

Traumatismos
• Traumatismos cranioencefálicos:
A. Lesões de tecidos moles → couro cabeludo, pancada, contacto da cabeça
com superfície dura
1. Contusões, equimoses, hematomas, feridas, escalpe
2. Complicações → hemorragia, infeção, tromboflebite
B. Fraturas cranianas
1. Perfurantes (raras), cortantes, corto-contundentes,
contundentes, por arma de fogo
2. Complicações → imediatas: hematomas, hemorragias
externas ou intracranianas; tardias: infeções, lesões nervosas
ou perda de liquor.
C. Lesões intracranianas
1. Por compressão, fratura, traumatismo torácico (apneia →
hipoxia), movimentos de aceleração e desaceleração (lesões
vasculares, mecanismo de contragolpe)
2. Comoção cerebral (perda de consciência transitória),
contusão (perda de consciência > 6h), laceração (cicatrização
pode originar focos epiléticos), edema (aumento da pressão
craniana → focos de contusão), lesão axonal difusa,
hidrocefalia aguda traumática, hemorragias cerebrais (a mais
frequente é subaracnoídeia)
3. Complicações → coma, infeções, síndrome pós-confusional
4. Sequelas → psicoses, paralisia espástica, afasia, epilepsia,
neuroses.

• Traumatismos da coluna vertebral


A. Fraturas → sobretudo coluna cervical e dorso; por compressão, flexão ou
extensão exagerada, torção ou pancada direta.
B. Lesões medulares → contusão ou secção medular
1. Perturbações respiratórias, hiperpirexia e tetraplegia (lesão
cervical)
2. Miose + enoftalmia + ptose + paraplegia (lesão dorsal
superior)
3. Paraplegia + alteração do controlo dos esfíncteres (lesão
dorso-lombar)

• Traumatismos do pescoço

Lesões por compressão, por arma branca ou arma de fogo. Se houver solução de
continuidade da traqueia pode originar enfisema, embolia gasosa ou asfixia.

• Traumatismos do Tórax

Fraturas das costelas e esterno + lesões cardíacas (contusões, lacerações, feridas –


instrumentos perfurantes -, roturas por rebentamento, lesões dos grandes vasos) +
lesões pulmonares (feridas – arma de fogo ou branca - ou arrancamento em traumas
violentos).

• Traumatismos abdominais (abertos ou fechados)


▪ Lesões da parede abdominal (equimoses, hematomas, erosões,
feridas)
▪ Lesões ósseas (fraturas da pélvis ou da coluna)
▪ Lesões viscerais (sobretudo fígado, baço, estômago, intestinos,
pâncreas e rim)
▪ Lesões genito-urinárias (mais comuns no sexo masculino),
habitualmente por instrumentos cortantes ou contundentes;
agressões sexuais e manobras abortivas na mulher.

• Traumatismos das extremidades


▪ Lesões dos tecidos moles (contusões, feridas, hematomas)
▪ Lesões esqueléticas (fraturas)
▪ Lesão de vasos e nervos (paralisias, atrofias musculares ou
hemorragias)
▪ Embolia gorda (rotura de tecido adiposo da MO + rotura de veias.

Avaliação do dano corporal em direito do trabalho, direito penal e


direito civil
• Diferenças entre os 3 sistemas:

Direito Penal → apenas considera os danos à integridade corporal ou saúde da


vítima: o dano não é personalizado nem se valoriza em termos futuros.

Direito Civil → já entra em linha de conta com danos patrimoniais e danos não
patrimoniais; todo o dano é indemnizável; prevê danos futuros; o dano é personalizado
(pessoa como um todo); os processos difíceis de reabrir; custos suportados pela vítima.

Direito do Trabalho → vê a pessoa apenas como uma entidade produtiva (pode


ficar desfigurado, mas se puder trabalhar não tem direito a reparação); indemnização
apenas compensa a incapacidade de ganho; os danos futuros não são avaliados, dá-se
um valor de incapacidade no exato momento em que ocorreu, mas os processos podem
ser reabertos nos 10 anos seguintes (os custos não são suportados pela vítima).

• Reparação no Direito do Trabalho

Reparação quando houver acidentes dos quais resultam lesão corporal, capacidade
de ganho ou de trabalho. Os danos reparáveis apenas se referem à incapacidade para o
trabalho, tal como ele era no dia do acidente. O mesmo dano só pode ser reparado uma
vez, ou seja, quando ocorre um acidente após outro que tinha deixado incapacidade, já
não se contabiliza o dano partindo dos 100%, mas sim da capacidade resultante do 1º
acidente.
Nas doenças profissionais (diagnóstico diferencial com acidente de trabalho:
ocorrem insidiosamente) também pode haver o direito à reparação. No sistema
português aceitam-se como doenças profissionais aquelas referidas nas listas e outras
que sejam provadas medicamente.

As prestações de acidentes de trabalho e DP são irrecusáveis. Processo judicial é


gratuito para as vítimas ou familiares. Há favorecimento da vítima em relação à prova,
ou seja, lesões verificadas a seguir ao acidente de trabalho presumem-se dele (patrão é
quem tem que provar o contrário).

Para ser considerado acidente de trabalho, o doente não pode ter responsabilidade
na situação (transgredir regras essenciais ou não usar proteção que estava ao seu
dispor).

Reparação pode ser em capital (atribuído todo de uma vez) ou pensão (se
incapacidade > 30%).

• Tabelas de incapacidade

São pouco subjetivas, mas pouco adequadas, pois a incapacidade funcional não
deveria ser avaliada com base numa tabela, mas devia revelar de um procedimento
pluridisciplinar. São um mal necessário. Não têm valor absoluto (não fixar a taxa de
incapacidade, dizer “é fixável em x %), servem como referência e são um meio de
controlo da indisciplina. Promovem a uniformidade de critérios. Há necessidade de
justificar medicamente as taxas encontradas.

• Diagnóstico diferencial entre ofensa à integridade física


simples/grave (direito penal):
A. Ofensa à integridade física grave:
1. Quem ofender o corpo ou saúde de outra pessoa de forma a:
a) Privá-lo de importante órgão ou membro
b) Desfigurá-lo grave e permanentemente
c) Tirar-lhe ou afetar-lhe, de maneira grave, a capacidade
de trabalho ou as capacidades intelectuais, de
procriação, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os
sentidos ou a linguagem
d) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou
permanente
e) Provocar-lhe anomalia psíquica grave ou incurável
f) Provocar-lhe perigo para a vida
2. É punido com pena de prisão de 2 a 10 anos.
B. Ofensa à integridade física leve:
1. Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa (consequências
temporárias, incapacidade temporária para o trabalho) é punido
com prisão até 3 anos ou pena de multa (conceito obtido por
exclusão).
2. Pode haver dispensa de pena quando tiver havido lesões
recíprocas e se não se tiver provado qual dos contendores agiu
primeiro ou quando o agente tiver unicamente exercido retorsão
sobre o agressor.

• Como se processa a avaliação do dano corporal no Direito Penal?


✓ Exame direto
✓ Exame de Sanidade
✓ Exame documental (dispensa a presença do queixoso)

• Nexo de causalidades

Relação de imputabilidade entre um traumatismo e um dano.

▪ Baseia-se em pressupostos:
1. Adequação entre o tipo de lesões e a sua etiologia
2. O tipo de traumatismo e o tipo de lesões
3. A sede do traumatismo e a sede da lesão
4. A existência de continuidade sintomatológica
5. Adequação temporal entre o traumatismo, as lesões e as sequelas
6. Exclusão de pré-existência do dano ou de uma causa estranha
relativamente ao traumatismo.

• Doença com perigo para a vida:

Em Direito Penal, é critério para considerar grave uma ofensa à integridade. A


pessoa tem que ter tido um prognóstico grave.

Probabilidade concreta e presente do resultado letal, fundamentada em sinais e


sintomas de morte próxima, situações críticas e de prognóstico reservado, relacionadas
diretamente com a lesão resultante da ofensa.

• Danos patrimoniais/danos não patrimoniais


No Direito civil há reparação integral do dano, ou seja, todos os danos que a vítima
sofreu devem ser avaliados e reparados.

✓ Danos Patrimoniais → aqueles que têm referencial económico direto,


com tradução matemática (ex: custo de uma prótese, faltas ao trabalho)
✓ Danos não patrimoniais → aqueles relacionados com prejuízos sentidos,
experiência subjetiva, sem tradução monetária (ex: dor)

• Cura/Consolidação em Medicina Legal


▪ Cura, implica uma recuperação total sem sequelas
▪ Consolidação, implica estabilização da lesão, deixando sequelas e/ou
limitações. Período em que a lesão se fixa e toma um caráter
permanente, de tal forma que qualquer tratamento não é mais
necessário a não ser para evitar um agravamento (dado que não se
espera qualquer melhoria apreciável) e em que é possível apreciar um
dado prejuízo definitivo.

• Quantum doloris

Valorização da dor física resultante dos ferimentos, tratamentos e da dor


psicológica. Dois componentes: dores físicas, orgânicas, consecutivas à natureza do
trauma; e dores psicogénicas, dependentes da vítima (da sua estrutura física e psíquica,
idade, raça e cultura). É uma valorização duplamente subjetiva (observador e vítima).

▪ Fatores internos (subjetivos) → estado anterior, situação psíquica, raça,


idade, sexo.
▪ Fatores externos (objetivos) → características das lesões traumáticas
(natureza, gravidade, localização, extensão e profundidade),
modalidades de tratamento e evolução das lesões (nº e duração dos
internamentos, nº e natureza de exames complementares)
▪ Dor é avaliada por vários métodos (escalas binárias, escala de categorias,
analogias visuais e questionários) e incluídas num grau de 1 a 7.
▪ Quantum doloris só se avalia até à consolidação, a partir daí a dor entra
noutros parâmetros (IPP – incapacidade permanente parcial), dano
estético, prejuízo da afirmação pessoal. (A incapacidade pode ser geral
ou profissional e total ou parcial).

• Classificação do dano
▪ Dano certo (indemnizável) = dano atual + dano futuro
▪ Dano futuro → agravamento do dano existente que pode prever-se
como evolução comum ou habitual.
▪ Dano potencial → agravamento admissível, mas não provável. Evolução
esporádica, excecional ou imprevista. É hipotético. Se ocorrer, há
reabertura do processo.

• Dano estético
▪ Pertence à categoria dos danos permanentes. É subjetivo. Também tem
7 graus.
▪ Deve personalizar-se o dano: repercussão psicológica desse dano nessa
pessoa. Na avaliação tem que se ter em conta a localização do dano
estético, a repercussão com o indivíduo parado e se o dano se exacerba
com aos e gestos correntes do dia-a-dia.

• Prejuízo de afirmação pessoal

Diminuição ou privação das satisfações e dos prazeres da vida. Capacidade de ação


ligadas a atividades lúdicas, de lazer e de relacionamento social, pré-existentes ao
traumatismo que determinou o dano em apreço. Graus de 1 a 5.

Sexologia Forense
• Agressão sexual

Toda a atividade sexual na qual uma vítima é forçada ou constrangida a participar


por um determinado agressor, com ele próprio, consigo mesma ou com terceiros, contra
a sua vontade, por manipulação afetiva, física, material ou abuso de autoridade, de
maneira evidente ou não, seja o agressor conhecido ou não, haja ou não evidência de
lesão ou traumatismo físico ou emocional, e independentemente do sexo das pessoas
envolvidas.

• Urgências

Em Coimbra, Lisboa e Porto disponíveis 24h por dia.

▪ A fazer em casos de:


1. Agressões há menos de 72h
2. Agressões em que houve ejaculação e se a vítima não fez
higiene pessoal
3. Casos em que persiste ou houve dor ou hemorragia genital
(sinais de lesão)
4. Possibilidade de gravidez ou DST
5. Relato de uso excessivo de violência física

Nota: Crianças: 0 – 14 anos; Adolescentes: 14 – 16 anos.

• Exame médico-legal
1. Entrevista: (relato do delito e das circunstâncias que o rodeiam,
orienta o perito no exame físico e na recolha de amostras
biológicas; permite obter detalhes periféricos, avaliar o risco de
recidivas e fazer triagem de outros casos)
2. Exame do local: se possível
3. Exame do vestuário:
a) Roupa deve ser conservada em sacos de papel a 4◦C
b) Geralmente há mais restos biológicos na roupa do que
no próprio corpo
4. Exame corporal:
a) Exames são normalmente negativos porque:
i. Grande intervalo de tempo entre o abuso e o
exame
ii. Cicatrização rápida ou hímen complacente
iii. Tipo de ato sexual não invasivo (não gera lesões)
iv. Uso de preservativo/ausência de ejaculação
v. Lavagens frequentes da vítima.
5. Colheita de amostras biológicas (com zaragatoa sem meio de
cultura).

• Exame corporal
▪ Diagnóstico diferencial com doenças dermatológicas, congénitas,
adquiridas ou autoinfligidas
▪ Dar especial atenção a zonas de apoio, zonas suscetíveis (como a face),
zonas vitais e zonas de proteção e contenção.
▪ Exame geral → idade aparente, deformidades, peso/estatura, marcas de
imobilização forçada, lesões, manchas, desenvolvimento genital, sinais
de toxicodependência, marcas de dentes, lesões de defesa
▪ Avaliar a mucosa bucal (ao fim de 6/7h sémen desaparece da cavidade
oral)
▪ Exame perineal no sexo feminino (conclusões: presença/ausência de
sinais próprios de desfloramento, conclusão categórica de
desfloramento, hímen imperfurado)
▪ Exame perineal no sexo masculino
✓ Púbis
✓ Pénis (com e sem a glande descoberta)
✓ Escroto (da palpação, escoriações, hematomas)
✓ Orifício Anal

• Exame Perineal
A. No sexo feminino:
1. Caracteres sexuais secundários (avaliar estádios de Tanner –
baseia-se na observação dos pêlos púbicos e desenvolvimento
mamário)
2. Exame genital → face interna da coxa, púbis, grandes e pequenos
lábios, clitóris, uretra, região sub-uretral, vagina e colo do útero.
3. Exame do hímen → 2 peritos, vítima em posição ginecológica
i. Introduzir uma sonda de Foley → encher a sonda (10
cmᶟ) por trás do hímen → puxar suavemente
ii. Classificar hímen → forma, cor, altura, largura,
consistência (carnuda, tendinosa, cartilaginosa,
membranosa) e elasticidade (inserir 1 – crianças – ou 2
dedos → grande, média ou pequena)
1 típico → anular, semilunar, labiado
2 atípico → cribiforme, franjado, biperfurado
iii. Descrever com pormenor bordo livre → soluções de
continuidade

Traumáticas Congénitas

Atingem toda a altura Não atinge toda a altura

Bordos coaptáveis ou esquinados Sem bordos coadaptáveis

Posições assimétricas Simétricos

Nas zonas mais altas e de menor Bordos arredondados


espessura

Geralmente são múltiplas


iv. Desfloramento recente → bordos da laceração
desiguais, vermelhos, sangrentos, edemaciados e por
vezes com supuração.
v. Penetração com dedos → lesões nas porções
anteriores do hímen
vi. Penetração de crianças muito pequenas → cicatrização
muito intensa → cicatriz pode tapar todo o orifício
vaginal
4. Exame anal (toque retal)
i. Casos de abuso anal prolongado → apagamento
das pregas do orifício anal, diminuição da
pilosidade, diminuição do EAE, cicatrizes (em
casos muito violentos pode haver fístulas,
proctite ou hemorroides)
→ Lesões genitais graves: Lacerações perineais, lacerações do fundo de saco posterior
com hemorragia abundante, lacerações anais.
→ Lesões genitais ligeiras: contusões vaginais ou cervicais, rasgões himeniais discretos,
escoriações, edema, restos de corpos estranhos.
B. No sexo masculino: (muito pouco útil)
1. Exame do púbis
2. Exame do pénis (com e sem glande descoberta) → lesão do
orifício uretral ou freio prepucial, corpos estranhos, edema do
prepúcio ou pénis, presença de sangue
3. Exame do escroto → dor à palpação, hematomas ou feridas
4. Exame anal

• Carúnculas mirtiformes – o que são e interesse Médico-legal?


Lacerações do hímen em que existem retalhos com aspeto de
cristas/linguetas/tubérculos carnosos. São excrescências carnudas a que o hímen se
reduz após parto ou aborto mais ou menos tardio.

• Hímen complacente
Hímen que permite a introdução de 2 dedos (e logo do pénis) sem apresentar
soluções de continuidade traumáticas. Pode ter um ostíolo naturalmente largo,
entalhes congénitos que o possibilitem ou possuir elasticidade tal que não rompe com
a cópula.

• Sinais de desfloramento
▪ Demonstração de sémen na cavidade vaginal
▪ Demonstração de gravidez presente
▪ Sinais de parto prévio ou abortamento (OEC em fenda
transversal + sugilações (estrias) + carúnculas mirtiformes)
▪ Lacerações traumáticas do hímen
▪ Permeabilidade aos 2 dedos

Genética Forense
• Características dos marcadores genéticos
▪ Expressão genética regulada por um único locus
▪ Independentes das condições ambientais
▪ Presentes antes do nascimento e invariáveis durante toda a vida
▪ Apresentam polimorfismos
▪ ADN não codificante → tem mais mutações, diferentes de
indivíduo para indivíduo (mutações neste ADN não têm
consequências no fenótipo do indivíduo)

• Investigação biológica da paternidade


→ Reclamação da paternidade/Impugnação de paternidade
▪ Prova de paternidade: valor de 99,99% é o mínimo exigido
✓ Exclusão de 1ª ou 2ª ordem → se se concluir
exclusão, exame acabou
✓ Probabilidade de paternidade → se não se conclui
exclusão
▪ Exclusão de 1ª ordem: Aparece no filho alelo novo que não
existe na mãe nem no pretenso pai (probabilidade de erro
(mutação): 1/1 milhão a 1/1000, dependendo do marcador)
▪ Exclusão de 2ª ordem: O pretenso pai não transmite ao filho um
alelo que deveria transmitir (probabilidade de erro (alelo
silencioso ou ADN muito danificado): 1/1000)
▪ Conclusões:
✓ 1 exclusão de 1ª ordem ou 2 de 2ª ordem →
calcular probabilidade de paternidade sem ter em
conta os alelos que deram exclusão
✓ Nº superior de exclusões: provada a exclusão
✓ Nº inferior de exclusões: calcular probabilidade de
paternidade
✓ Nº elevado de exclusões, mas restantes, alelos
com elevada probabilidade de paternidade →
indivíduo pode não ser o pretenso pai, mas sim
um familiar próximo.

• Probabilidade de paternidade
Calcula-se com base no teorema de Bayes → probabilidade de o pretenso pai ser
o verdadeiro pai, quando comparado com um qualquer indivíduo escolhido ao acaso
da população de referência.
Equação de Essen Moller (X/X+Y, sendo X a probabilidade de o pretenso pai ser o
verdadeiro pai e Y a probabilidade de um indivíduo ao acaso ser o verdadeiro pai
(frequência do alelo na população geral)
Tradução verbal de Hummel
Nota: ADN mitocondrial não serve para estudos de paternidade (é herdado da
mãe). O ADN mitocondrial é muito resistente à degradação por isso é muitas vezes
usado para outros estudos forenses.

• Estudos e colheitas de manchas


→ Estudo da forma, disposição, constituição, cheiro, cor, localização, tamanho
e idade da mancha. Fotografar a mancha e marcar a sua localização. Observar o local
onde a mancha foi encontrada para ver se há outros vestígios.
→ Evitar a conspurcação da mancha (não falar, não tossir, não espirrar)

→ Enviar a peça inteira ou recortar um bocado do tecido que tem a mancha.


Secar o tecido para evitar a proliferação bacteriana e enviar em embalagem fechada
de papel. Manter em ambiente refrigerado e sempre sob cadeia de custódia (Polícia a
guardar o frigorífico).
→ Se não for possível enviar peça ou recorte, fazer colheita: se for absorvente
com algodão com água destilada, se não for absorvente raspar com um bisturi.

• Manchas de Sangue
→ Secar ao ar ou com ventoinha de ar frio → guardar em recipiente fechado
(sem ser de plástico) → conservar a 4◦C (máximo 2 dias) ou -20◦C (tempo superior)
▪ Reações a fazer:
✓ De orientação → colorimétricas, BQ, imunoeletroforese,
r. de Kastle-Meyer
✓ Diagnóstico diferencial animal/humano → histológicas
(difícil), imunológicas
✓ De certeza → provas microcristalográficas (a mais usa é a
r. Strzyzowksy)
✓ De identificação → grupo sanguíneo e tipagem de ADN

• Manchas de esperma
→ Colheita (vaginal, oral, anal, corpo todo) com zaragatoas → secar ao ar →
guardar em embalagens (não de plástico) → enviar ao laboratório → guardar a 4◦C
ou a -20◦C.
▪ Exames laboratoriais:
✓ De orientação → Luz de Wood, r. de Florence
(microcristalográfica)
✓ De certeza → Corin-Stokis, Marique, microcopia →
visualização de pelo menos um espermatozoide vivo
✓ Diagnóstico diferencial humano/animal → soro anti
esperma humano
• Valorização da prova em criminalística
Falácia da acusação → Possuem esse genótipo 1 em cada 100 pessoas tomadas
ao acaso e 99 não o possuem. Dado que o sujeito o possui, tem 99% de probabilidade
de ser culpado.
Falácia da defesa → Possuem esse genótipo 1% dos indivíduos. Em Coimbra, de
100mil habitantes, 1000 possuem-no. Se o delito foi cometido por um habitante de
Coimbra, o acusado tem a probabilidade de 1 em 1000 de ser culpado (0,1%).
LR (likelihood ratio) ou razão de probabilidade → LR = probabilidade da mancha
ser do suspeito/probabilidade da mancha ser de outro homem.

Violência Conjugal
• Perícia e relatório médico-legal:
1. Descrição do agregado familiar
2. Descrição do episódio de agressão que motivou a queixa
3. Antecedentes de violência na família
4. Outros elementos do agregado familiar (hábitos,
patologias)
5. Observação clínica (sintomatologia e exame físico)
6. Discussão (nexo de causalidade, consequências da
violência)
7. Conclusões (natureza do instrumento, tempo de doença,
consequências e necessidades da vítima)

• Papel do médico na urgência


▪ Tranquilizar e transmitir confiança à vítima
▪ Obter consentimento da vítima ou responsável pelo exame
▪ Chamar o médico legista se necessário
▪ Exame completo e sistematizado e fazer o relatório sobre o caso
▪ Informar os serviços judiciais e sociais, se necessário

Toxicologia
• Tóxico vs. Veneno
▪ Tóxico: todo o agente (químico ou físico) suscetível de gerar efeitos
nocivos sobre os seres vivos, alterando os equilíbrios orgânicos que se
sucedem normalmente.
▪ Veneno: substância tóxica empregue de maneira intencional.

• Fatores que influenciam a toxicidade


1. Doses e concentrações
a. Toma, dose (dose tóxica/dose letal e DT50/DL50),
latência, tempo letal.
2. Composição
3. Via de administração
4. Excreção
5. Estado de saúde
6. Idade (em idosos e crianças a função renal está perturbada)
7. Sexo
8. Variabilidade genética
9. Fatores ambientais (ritmo circadiano, temperatura, dieta)
10. Interações medicamentosas

• Fatores que influenciam a absorção


1. pH do meio
2. Motilidade intestinal (ex: diarreia é um mecanismo de defesa)
3. Vómitos
4. Flora intestinal (ciclo enterohepático → prolonga o tempo de
permanência)
5. Diluição
6. Ausência ou presença de alimentos
7. Propriedades físicas da substância
8. Idade do individuo

▪ As análises toxicológicas devem ser sempre feitas em sangue total e


não em soro, para que possa ser avaliada a forma livre do fármaco e a
forma ligada às proteínas plasmáticas. A forma livre é a única que é
capaz de atuar. Quando a quantidade de tóxico livre diminui, as
proteínas plasmáticas cedem tóxico para restabelecer o equilíbrio.
▪ Substâncias insolúveis: absorvidas e largamente excretadas pelos rins
▪ Substâncias lipossolúveis: reabsorvidas para o sangue a partir do
filtrado glomerular → necessitam sofrer metabolização (fase I:
oxidação + redução + hidrólise; fase II: conjugação com acido
glucorónio ou acetilação, metilação e conjugação com aa e sulfato)
antes de serem excretadas na urina.

• Fatores que influenciam a excreção renal


1. Estado funcional do rim
2. Idade do indivíduo
3. Natureza da substância (se estiver fortemente ligada às
proteínas é de difícil eliminação; ácidos e bases fracas sofrem
eliminação consoante o pH urinário).

▪ As colheitas são acondicionadas em contentores específicos (se para


compostos voláteis devem estar cheios, sem câmara de ar),
etiquetados, fechados e selados e mantidos ao abrigo da luz. Devem ser
acompanhados de requisição devidamente preenchida.

• Tipos de amostras
1. Sangue: + útil
2. Bílis: importante quando não há urina
3. Pulmão: nas suspeitas de tóxicos voláteis
4. Rins: intoxicações crónicas por metais
5. Fígado: importante quando não existe sangue
6. Cérebro: nos casos de morte por inalação de solventes
7. Cabelo: fornece dados toxicológicos de um intervalo muito
alargado de tempo
8. Humor vítreo: análise de álcool etílico; resistente à
contaminação bacteriana

• Intoxicação por CO
▪ O CO é incolor, inodoro, insípido, não irritante e tem densidade de 0,97
(difunde-se facilmente em ambientes fechados).
✓ Etiologia ML: acidental (a mais comum), criminal
(muito raro), suicídio (muito frequente). Liga-se à
hemoglobina → COHb
▪ A concentração de CO depende da quantidade de CO inspirado, da
ventilação alveolar por minuto, da ventilação endógena de CO e da
duração da exposição. COHb é reversível e dissociável.
▪ Autópsia: livores carmim + músculos vermelhos + hemorragias nas
meninges e córtex + sangue muito fluido e vermelho + face rosada +
intensa congestão visceral + edema carminado pulmonar (espuma
sanguinolenta) + edema cerebral.
▪ Dados laboratoriais: carboxihemoglobina (COHb) no sangue
(coeficiente de Grehart: COHb/Hb total → se + de 0,2, dá sintomas, se +
de 0,6, conduz à morte).
▪ Sintomas: cefaleias + vertigens + astenia intensa
• Intoxicação por ácido cianídrico (cianeto)
▪ A morte é mais rápida por inalação do eu por ingestão
▪ Etiologia ML: criminal (rara porque é difícil mascarar o sabor
amargo dos produtos cianogénicos), suicida, acidental
(frequentes após desinfeções).
▪ Autópsia: sangue fluido (sem coágulos) de cor arroxeada +
congestão visceral generalizada + forte odor a amêndoas
amargas (cheiro mais forte nos tecidos cerebrais).

• Etanol
▪ Absorção: estômago (20% e ID 80%).
▪ Eliminação: urina, suor e ar expirado (2% a 10%), sofre
metabolização (90% a 98%). 1mg de álcool por litro de ar
expirado é equivalente a 2,3g de álcool por litro de sangue.
▪ Colheitas para exame toxicológico de quantificação da TAS (taxa
de álcool no sangue):
✓ Vivo: volume de 10cc de sangue venoso, em tubo
apropriado e de volume igual ao da amostra
colhida, contendo anticoagulantes e conservantes
adequados.
✓ Cadáver: + do que uma amostra de 10cc de
sangue da veia femoral, em tubo apropriado e de
volume igual ao da amostra e contendo
conservante adequado.

• Cálculo retrospetivo da alcoolémia


▪ Não deve ser usado quando estão em causa limites legais, uma
vez que o cálculo não é muito correto. Fórmulas são apenas
aplicáveis na fase de eliminação.
C₀ = Ct + ẞt
C₀ → concentração de álcool extrapolada para a hora pretendida
Ct → concentração de álcool no momento da extração
ẞ → coeficiente de etiloxidação de álcool no sangue
T → período do tempo decorrido
ẞ (varia de 0,09 a 0,36g/L/h → variabilidade inter e intra-
individual
Consumidores moderados → 0,15; habituais → 0,19; excessivos
→ 0,22.
▪ Determinação de TAS no cadáver em hematomas não é
correta!!! O cálculo de TAS no cadáver nunca deve ser feito em
vasos centrais, deve ser feito em vasos periféricos, onde há
menos coágulos, logo a amostra para análise é mais homogénea.
Se não for possível obter sangue periférico, utiliza-se sangue
venoso central desde que o intervalo post mortem seja inferior a
18 horas, não haja fenómenos putrefativos, traumatismos
toraco-abdominais severos, aspiração de vómito ou presença de
etanol no conteúdo gástrico. CUIDADO, não desinfetar com
álcool!!! Só se faz a colheita se a autópsia ocorrer 24 horas após
a morte (devido a fenómenos de putrefação → destruição do
etanol preexistente e neoformado.
▪ Uma amostra alternativa é o humor vítreo. É facilmente obtido, é
resistente a fenómenos putrefativos ou trauma, é estável
quimicamente e fácil de processar analiticamente. A
possibilidade de contaminação por síntese post mortem é baixa.
TAS = concentração na amostra x taxa de conversão
(0,80)
▪ A urina também é uma boa alternativa. É facilmente obtida e em
grandes quantidades. Fácil de processar analiticamente.
Reduzida possibilidade de contaminação por síntese post
mortem. Serve simultaneamente para a pesquisa de outros
tóxicos.
TAS = concentração na amostra x taxa de conversão
(1,33)

DROGAS DE ABUSO
• Morfina
▪ Efeitos clínicos:
1. Depressão do Sistema Nervoso Central (SNC) – analgesia,
alterações de humor, confusão mental
2. Depressão dos centros respiratórios a nível cerebral
3. Miose
4. Diminuição do reflexo da tosse
5. Vasodilatação periférica, menor resistência periférica,
taquicardia (depois bradicardia)
6. GI: aumento do tónus, diminuição das contrações →
obstipação
▪ Toxico cinética: boa absorção tanto por via oral como IM, IV ou
SC. Distribuição rápida pelos órgãos com maior fluxo sanguíneo.
Metabolismo rápido no fígado e rins. Excreção sobretudo
urinária (na urina detetam-se níveis altos de morfina e níveis
baixos de codeína).
• Heroína
▪ Toxico cinética: vias de administração – IV, intra nasal, SC e
inalatória. Rapidamente metabolizada em morfina e excretada
na urina.
▪ Diagnóstico: exame do local da morte + informação
circunstancial + autópsia.
▪ Autópsia:
✓ Hábito externo: estigmas de punção recente +
cicatrizes atróficas + abcessos e úlceras +
tatuagens + mãos edemaciadas + fasceíte
necrosante + escoriações cutâneas
✓ Hábito interno: aspetos inespecíficos de asfixia +
edema e congestão + aumento característico dos
gânglios linfáticos.
✓ Na urina deteta-se 6-MAM (se não se detetar
pode mesmo assim ter havido consumo há mais
de 3h – 4h) ou níveis baixos de codeína associados
a níveis altos de morfina.
▪ Amostras biológicas a pedir: urina + sangue (melhor correlação
entre concentração e efeito tóxico) + cabelos + órgãos (muito
complexo e moroso, só quando não há sangue)
▪ Cuidados a ter: evitar alterações fraudulentas + recolha em
recipientes próprios + não adicionar conservantes + proteger da
luz (sobretudo LSD) + rotulação dos frascos
▪ Conclusões do relatório: morte relacionada com o consumo ou
morte por overdose.

• Anfetaminas
▪ Efeitos clínicos:
1. Euforia + intensidade + autoconfiança + maior
concentração + diminuição de fadiga
2. Pode causar delírios ou alucinações
3. Aumento da Tensão arterial + aumento ou
diminuição do ritmo cardíaco (arritmias)
4. Estimulação dos centros respiratórios
5. Diminuição do apetite e aumento do
metabolismo; inibem a fome e o sono
6. Em doses elevadas → convulsões → coma →
colapso circulatório
▪ Toxico cinética: concentração no fígado, pulmões e cérebro. É
metabolizada no figado e excretada por via urinária. A A e a MA
podem surgir no sangue em doentes parkinsónicos que tomam
selagina. Os achados na autópsia são escassos.

• Ecstasy e MDMA
▪ MDMA: forte aumento da tensão arterial e pode causar a morte em
conjunto com descompensações cardíacas, renais ou hepáticas.
▪ Ecstasy: MDMA e outros componentes em dosagens variadas →
taquicardias + aumento da temperatura corporal + transpiração
▪ Consumo frequente → taquicardia + náuseas + desmaios + dores
musculares. A longo prazo: ansiedade + depressão + ataques de pânico
+ agressividade + paranoia + alucinações + diminuição da capacidade
de concentração.

• Cocaína
▪ Efeitos clínicos: midríase + vasoconstrição + hipertensão + taquicardia +
aumento da temperatura corporal + euforia + hiperatividade + anorexia
+ excitação sexual
1ª fase → agitação psicomotora + euforia + aumento da energia e
autoconfiança + diminuição das inibições
2ª fase → convulsões + taquicardia + HTA + cianose + dispneia
3ª fase → depressão do SNC → paralisia muscular + cianose + paragem
cardiocirculatória → coma e morte (overdose)
▪ Diagnóstico de intoxicação: midríase + lesões traumáticas devido a
convulsões + perfuração do septo nasal + sinais de funções venosas
recentes + queratite + erosões do esmalte + queimaduras superficiais,
híperqueratose e escurecimento palmar
▪ Consumo recente: deteção de cocaína na urina + alta concentração de
cocaína no tecido pulmonar + níveis altos de cocaína no sangue ou
saliva
▪ Consumo não recente: níveis baixos de cocaína no sangue e cérebro e
níveis altos de BE na urina e sangue

• Canabinóides
▪ Efeitos clínicos: euforia + relaxamento + diminuição de inibições +
intensificação das perceções sensoriais + apatia + sonolência +
depressão + ansiedade ou mesmo pânico. Pode causar cefaleias,
vómitos, suores, fotofobia, conjuntivite, imunodepressão, alteração da
espermatogénese e risco do cancro do pulmão 3 vezes superior ao do
tabaco.
▪ Complicações: delírio de perseguição, perturbações cognitivas,
fashbacks, confusão → excretado na bílis (faz ciclo entero-hepático) e na
urina (até 30 dias)

• LSD
▪ Efeitos clínicos: pensamento rápido e extraordinária lucidez + alterações
da perceção + taquicardia + HTA + hipertermia + suores + tremores
(pode surgir angústia)
▪ Complicações: reações psicóticas agudas + reações agudas de pânico +
flashbacks + possibilidade de uma Bad Trip → eliminado
preferencialmente pela bílis, mas também pela urina.

INTOXICAÇÕES MEDICAMENTOSAS

✓ Pesquisar não só o medicamento suspeito, mas também os seus


metabolitos activos.

• Etiologia ML:

▪ Acidental – muito frequente


▪ Suicídio – 90% dos caos de intoxicação grave
▪ Homicídio – difícil administrar a dose letal sem que a vítima se
aperceba

• Ansiolíticos/Benzodiazepinas :

✓ São geralmente seguros e têm pouco potencial de abuso. São pouco


tóxicos e em caso de overdose e de dose letal é muito superior à
terapêutica. Causam dependência física e psíquica. No entanto, se
associados a álcool e opiáceos podem causar morte.
✓ Farmacocinética: administrados por via oral, parentérica ou rectal.
Distribuição rápida, atravessamento facilmente das barreiras HE e placentar
?. Sofrem intensa metabolização hepática.
✓ Dose excessiva: sedação + sonolência + diplopia + ataxia + confusão
mental + depressão respiratória + diminuição da TA
✓ Geralmente tem evolução benigna. Pode haver casos de depressão
respiratória grave e mesmo coma. BZD de acção curta e por via IV pode
causar porte

• Sedativos e hipnóticos – Barbitúricos

✓ Produzem acentuada dependência física, desenvolvem elevada


tolerância e têm margem terapêutica limitada (dose letal não é muito
superior à terapêutica) – menor uso
✓ Farmacocinética: administração oral, absorção rápida, metabolização
hepática
✓ Dose Excessiva: diminuição da coordenação motora + alterações de
percepção + raciocínio deficiente + desinibição + euforia
✓ Sobredosagem:
▪ 1ª fase: pré – comatosa, com embriaguez e sonolência marcadas.
▪ 2º fase: comatosa, com bradipneia e hipotermia.
▪ Fase terminal. Alterações circulatórias e morte por colapso ou
complicações pulmonares em 12 a 16h.

Barbitúricos + álcool + opiáceos = depressão respiratória fatal

• Antidepressivos:

✓ IMAO: Menor eficácia e maior toxicidade se comparados com os


triciclos, menor uso
✓ Farmacocinética: Absorção GI rápida, distribuição rápida e grande
ligação às proteínas plasmáticas, metabolização hepática e
eliminação renal
✓ < 20mg/Kg- baixa mortalidade; 35- letal média; >50 – quase sempre
mortal
✓ Quadro Clínico:
1. Excitação neuromuscular: hipertonia muscular + hiperreflexia
+ convulsões + hipertermia + midríase + HTA + taquicardia +
suor
2. Colapso do SNC e cardio – circulatório: hipotensão +
hipotermia + depressão respiratória + coma
3. Período de complicações: hemólise, rabdomiólise, edema
pulm
• Neurolépticos:

✓ Quadro clinico: depressão do SNC, hipotensão e hipotermia


graves, convulsões e fenómenos extrapiramidais, morte por
efeitos cardíacos (taquicardia, fibrilação, ventricular e alterações
electrocardiográficas)
✓ Clinica da intoxicação aguda: rigidez e espasmos n«musculares +
agitação ou depressão + taquicardia + hipertermia + …

• Antioiréticos:

✓ AAS:
▪ Etiologia ML: acidental, sobretudo em crianças (AAS- ácido
salicílico)
▪ Intoxicação aguda: alterações metabólicas + sintomas GI+
alterações do SNC (cefaleias, desorientação, alucinações,
convulsões e coma), alterações hematológicas, renais
(IRA), pulmonares e hepáticas.
▪ Intoxicação crónica: agitação, problemas de visão e
audição, gastrites, HD ocultas, úlceras pépticas,
hipoglicemia, diminuição do colesterol, aumento do ácido
úrico, reacções alérgicas (asma, urticária ou eczema),
alterações renais (necrose e nefrite papilar).
✓ Paracetamol:
▪ Cerca de 8%: metabolização →metabolito intermédio
muito tóxico, em condições normais é conjugado e
eliminado pela urina→ se em doses altas a conjugação
não é suficiente para eliminar todo o tóxico→necrose
dos hepatócitos.
▪ Quadro clínico: náuseas, vómitos, dor abdominal
(poucas horas), sinais de hepatotoxicidade (12 a 36h),
icterícia (3º ou 4º dia); quadro de insuficiência hepática
com alteração da consciência, confusão, hipoglicémia e
hiperventilação.

• Antipiléticos:

✓ Carbamazepina: (intoxicação aguda) distúrbios neurológicos


por depressão do SNC, casos graves podem evoluir com
convulsões, coma e paragem respiratórias.
✓ Fenitoína: náuseas, vómitos, disartria, abolição transitória das
respostas oculares (raramente coma)→intoxicação não é
mortal
✓ Primidona: acção depressão do SNC, disartria, hipotensão
(rara), depressão respiratória, desinibição do comportamento,
cristais brancos e resplandecentes na urina.

PESTICIDAS

✓ Odor intenso a xilol + aumento dos níveis de Acha → por organofosforados


✓ Etiologia ML:
▪ Acidental: profissionais agrícolas, alimentos não lavados
▪ Suicídio: cada vez mais frequentes (fácil aquisição)
▪ Envenenamento criminal: pouco frequentes

• Pesticidas organofosforados:

▪ Bem absorvidos por via cutânea, digestiva e respiratória (quase


instantâneo).
▪ Inibem irreversivelmente as acetilcolinesterases; acumulação de altos
níveis de Ach nas sinapses; prolongamento excessivo do seu efeito;
aumento da excitabilidade; paralisia neuromuscular e depressão central
▪ Sintomatologia:
1. Fase Muscarínica (parassimpático mimética)
a) Micose, visão turva
b) Aumento de peristaltismo, vómitos
c) Broncoconstruição, mais secreções, alteração da
respiração
d) Tosse, bradicardia
2. Síndrome neurológico: ansiedade, ataxia, depressão SNC
3. Fase nicotínica
a) Caibras, mialgias, paralisia muscular, TA fugaz
b) Pode evoluir para fase convulsiva tipo epileptiforme
▪ Exame ML de intoxicação por organofosforadas:
A. Hábito externo:
1) Odor intenso a xilol
2) Cianose, livores arroxeados (pode escorrer sangue da
boca)
3) Rigidez cadavérica acentuada
A. Hábito interno:
1) Sufusões sanguíneas pericárdicas, pleurais e gástricas
2) Congestão visceral (conteúdo gástrico pode cheirar a
solvente)
3) Pulmões mais volumosos e consistentes que normal
(broncorreia intensa)
4) Pulmão com focos hemorrágicos parenquimatosos
dispersos
5) VAS e ramificações brônquicas com mucosidade
rosada e abundante
✓ Não há lesões histológicas específicas. Há lesões vasculares nos
pulmões, lesões degenerativas no fígado e rins e lesões
necróticas no encéfalo.
✓ Por vezes pode detectar-se paranitrofenol na urina
✓ Não se acumulam no tecido adiposo.

• Pesticidas organoclorados:

✓ Os pesticidas organoclorados (já fora de circulação) acumulam-se


no tecido adiposo. Se houver uma dieta brusca há libertação dos
lípidos para a corrente sanguínea → intoxicação (não tem
antídotos, DDT é o menos perigosos, dialdrin o mais perigoso)
✓ Na intoxicação por organoclorados primeiro há sintomas de
agressão hepática e nervosa e depois surge o Síndrome GI, depois
neurológico e finalmente coma.
✓ Intoxicações crónicas: adormecimento das extremidades, anemia
ligeira, diminuição de peso, dermatoses e reacções de
hipersensibilidade, disfunção hepática e renal

• Pesticidas Carbamatos:

✓ Também inibem colinesterases, mas reversivelmente e com


menor intensidade
✓ Absorção: pulmões, GI e pele.
✓ Metabolização: fígado
✓ Eliminação: urina
✓ Dificilmente passam a barreira HE, por isso têm poucos efeitos a
nível do SNC
✓ Intoxicação (dura menos de 24h): irritação cutânea e mucosa,
visão turva, náuseas e vómitos, cólicas abdominais, cefaleias,
dispneia

• Paraquato:

✓ Geralmente envolvido em suicídios ou acidentes com crianças.


✓ Absorção sobretudo por via oral e cutânea (não há absorção
pulmonar).
✓ Distribuição sobretudo para o pulmão e rim. Não sofre
metabolização. Excreção renal.
✓ Mecanismos de acção:
▪ Acção cáustica directa (na pele ou mucosa GI)
▪ Menor síntese de AG’S (diminuição surfactante pulmonar,
diminuição da antitripsina, diminuição da
hidroxiprolina (aumento do colagénio)→fibrose e
densificação pulmonar
✓ Quadro clínico:
▪ Ulcerações e irritação cutâneas
▪ Acção cáustica no tracto GI
▪ Irritação, edema e hemorragias das vias aéreas superiores
▪ Forma sobre aguda (>50mh/kg) → falência multiorgânica
(máximo 72h sobrevivência) →edema pulmonar,
insuficiência renal, cardíaca, hepática e supra-renal
▪ Forma aguda (20-50mg/kg) → (70 dias de sobrevivência)
lesão GI → lesão hépato-renal (2º-5º dia) →lesão
pulmonar (após uma semana)
▪ Forma subaguda (< 20mg/hg) →quadro tóxico acentuado
▪ Forma crónica: parkinsonismo

• Análise toxicológica de vísceras - como e quando:

✓ Em casos de suspeita prévia de morte por intoxicação (morte


súbita sem relação com o estado de saúde prévio, morte
relacionada com alimentos/bebida, morte de várias pessoas,
contexto criminal) ou em casos em que a suspeita é levantada
pela própria autópsia (autópsia branca ou com aspectos
sugestivos de envenenamento).
✓ Usar 9 recipientes apropriados, evitando espaços mortos dentro
do frasco.
✓ Frascos lavados, hermeticamente fechados, selados e rotulados.
Retirar para análise:
1) Esófago, estômago e seu conteúdo
2) ID, IG e seu conteúdo
3) Fígado, vesícula biliar, pâncreas, baço
4) Pulmões
5) Coração
6) Rins, bexiga, urina
7) Encéfalo, medula
8) Músculos
9) Sangue (veia femoral. Profunda, VCI)
✓ Colheita de fluidos: sangue (sempre 2 amostras em locais diferentes),
humor vítreo (2ml por punção de cada olho), urina (100ml por
punção) e bílis. Podem ainda colher-se cabelos (50 a 100 por
arrancamento) e unhas.
✓ Não adicionar qualquer produto conservante e manter a 4◦C

MORTE SÚBTA NO ADULTO

• Morte súbita- conceito:

✓ Processo mórbido imprevisto, aparentemente de causa natural, mas


de patologia imprevista que pode levantar suspeitas de morte
violenta. Tem carácter inesperado e afecta indivíduos sãos ( ou
aparentemente sãos) ou com doença conhecida, mas que não
fizesse prever tal desfecho. Sobretudo no sexo masculino, no
Inverno e à noite ou madrugada.
✓ Segundo a OMS o intervalo temporal que define morte súbita varia
entre 1 e 24h - conceito independente do resultado da autópsia!

• Morte súbita relacionada com o sistema cardiovascular:

✓ Frequência que iguala o conjunto de outras causas1


1. Coronariopatias: aterosclerose coronária, anoxia, arritmias,
fibrilação ventricular (macroscopicamente – 1ªs 12h – não há
sinais →essencial histologia)
2. Cardiopatia hipertensiva: HTA (detectada ou não em vida),
arritmia, FV
3. Valvulopatias: estenose aórtica, hipertrofia VE, extra-sístoles,
arritmia
4. Miocardite: de origem virosa (fazer estudo histopatológico)
5. Malformações congénitas (raramente)
6. Roturas vasculares: a comum – rotura de aneurisma aórtico
(diagnóstico fácil)
• Morte súbita relacionada com o SNC:

1. Hemorragia intra – craniana (rotura de aneurisma - não fixar em


formal)
2. Processo tromboembólico (AVC): obstrução vascular por coágulo ou
ateroma

• Morte súbita relacionada com o aparelho respiratório:

1. Tromboembolia da artéria pulmonar (DD entre trombo – cilíndrico,


seco, rugoso, vermelho – acinzentado, friável, aderente, forma
irregular – e coágulo post – mortem - húmido, liso, desfaz-se com a
pressão, não aderente)→ trombos provenientes das veias dos
membros inferiores ou da AD por fibrilação
2. Epiglotite aguda por H influenzas: edema de glote, asfixia
3. Pneumotórax espontâneo (geralmente são vasculares, hipertensivos)

• Morte súbita relacionada com o sistema digestivo, endócrino e


genital:

1. Hemorragia digestiva (muitas vezes por ruptura de varizes esofágicas)


2. Diabetes (raro, porque actualmente há poucos casos não
diagnosticados)
3. Hemorragia supra – renal bilateral (sepses fulminante)
4. Ruptura de gravidez ectópica
5. Embolia por líquido amniótico (em descolamentos da placenta)
• Atitude ML em situações de morte súbita:

✓ Exame macroscópico do cadáver


✓ Exame histopatológico e bioquímico
✓ Se estes exames não forneceram indicações sobre a causa da morte
→autópsia negativa ou branca →fazer investigação toxicológica.

• Morte por inibição:

✓ Morte súbita (falência cardíaca aguda neurogénica) que acontece num


individuo, que na maioria dos casos não tem antecedentes patológicos. Morte
que resulta da paragem definitiva de função vital (cardíaca ou respiratória) por
excitação nervosa.
✓ Diagnóstico de exclusão (autópsia branca ou com sinais inespecíficos)!
✓ Pode resultar de:
1) Aplicação de força construtiva no pescoço – excitação directa do nervo
vago (nervo inibitório)
2) Pequenas intervenções: punção pleural, colocação de sonda vesical
3) Golpes na laringe, tórax, abdómen, genitais: excitação de terminações
nervosas em zonas reflexógenas.

ASFIXIAS MECÂNICAS

• Asfixias Mecânicas:
1) Compressão externa do pescoço (enforcamento, eganadura,
estrangulamento)
2) Por sufocação
3) Por submersão (afogamento)

• Asfixias por compressão externa do pescoço - estrangulamento:

✓ Constrição violenta do pescoço por meio de laço devida a acção


independente dda do peso do corpo. Se suicídio, tem de haver forma de
manter a pressão depois da inconsciência. Se homicídio surhem
manchas escuras em torno dos olhos.
✓ Mecanismos da morte: Anóxia anóxica, Anóxia encefálica e inibição
reflexa
✓ Sinais externos:
▪ Sulco à roda do pescoço (geralmente múltiplo, mole, completo,
profundidade uniforme e direcção horizontal)
▪ Face tumefacta, avermelhada e violácea, cianose das orelhas
▪ Língua entre as arcadas dentárias
▪ Hemorragias auriculares (com ou sem rotura do tímpano)
▪ Sufusões sanguíneas nos lábios, conjuntivas, face e pescoço
▪ Homicídio: estigmas ungueais, equimoses/ escoriações junto do
sulco ou dispersas por todo o corpo (lesões provocadas pela
resistência da vítima)
✓ Sinais internos:
▪ Hemorragia sub – cutânea e muscular do pescoço, equimoses e
fracturas do aparelho laríngeo, espuma nos brônquios, laringe e
traqueia, sangue fluido e escuro, congestão visceral e sufusões
sanguíneas (não há lesões vertebrais).

• Asfixias por compressão externa do pescoço – enforcamento:

✓ Suspensão completa (corpo totalmente suspenso no ar) ou incompleta


(mais frequente) do corpo a partir de um ponto fixo, por meio de laço
que constringe o pescoço. Pode ser típico (nó só na nuca) ou atípico (nó
sobre o mento ou parte lateral do pescoço), simétrico ou assimétrico,
cabeça pendente para o lado contrário ao nó (retirar o cadáver sempre
som a corda ao pescoço).
✓ Mecanismos de morte:
▪ Anóxia anóxica (oclusão da via aérea por retropulsão da língua)
▪ Anóxia encefálica (compromisso vascular)
▪ Inibição reflexa (paragem cardíaca: excitação seja carotídeo ou
vago)
▪ Lesão medular (quando existe queda livre do corpo)
✓ Sinais externos:
▪ Sulco à roda do pescoço (fundo apergaminhado por desidratação,
habitualmente incompleto, profundidade máxima do lado oposto
ao nó
▪ Face pálida e cianose na zona do laço
▪ Espuma na boca e fossas nasais (também laringe e traqueia –
exame interno)
▪ Língua entre as arcadas dentárias ou projectada para fora (pode ter
lesões traumáticas (dentes) ou estar negra (desidratada)
▪ Hemorragias auriculares (com ou sem rotura do tímpano) e nasais
▪ Sufusões sanguíneas nos lábios, conjuntivas e pescoço
▪ Livores cadavéricos em relação com a atitude (posição) do corpo
▪ Esperma no meato urinário
✓ Constrição do rolo vasculo – nervoso: simétrico – face pálida; assimétrico –
face cianosada (sangue chega por uma das caróticas, mas não sai por colapso
das jugulares)
✓ Falsos sulcos: naturais (pouco profundos, moles, desaparecem com extensão
da cabeça, RN e obesos; artificiais (pouco profundos, moles, epiderme intacta,
gravatas) patológicos (dermatoses), putrefactivos (distensão do corpo→ sulco
na gravata)
✓ Sinais internos:
▪ Linha argentina (prateada), sufusões sanguíneas subcutâneas por
dificuldades de retorno venoso, hemorragias e rupturas musculares
▪ Sinal de Martin: infiltrações hemorrágicas (muscular e adventícia
vascular)
▪ Sinal de Amussar: lacerações de túnica interna das carótidas (sinal de
Otto nas jugulares internas)
▪ Fracturas do osso hióide e aparelho laríngeo
▪ Equimose retro faríngea e ruptura de ligamentos
▪ Ponteado hemorrágico na face interna palpebral (também no
estrangulamento)

• Asfixias por compressão externa do pescoço – esganadura:

✓ Constrição do pescoço por uma ou duas mãos (só pode ser homicídio)
✓ Sinais externos:
▪ Estigmas ungueais no pescoço, congestão ou cianose da face e orelhas
▪ Petéquias nas conjuntivas, lábios e exoftalmia
▪ Espuma na boca e narinas, língua entre as arcadas dentárias
▪ Lesões traumáticas resultantes
✓ Sinais internos:
▪ Hemorragia das partes moles do pescoço, hemorragias e fracturas do
aparelho laríngeo, fractura da traqueia, lesões das caróticas
▪ Espuma nos brônquios, laringe e traqueia
▪ Congestão visceral, sufusões sanguíneas
▪ Sangue fluido e escuro

• Asfixias mecânicas por sufocação:


1. Oclusão dos orifícios respiratórios
a) Morte por anóxia anóxica (mais comum), inibição reflexa ou
inalação de solventes
b) Sinais gerais de asfixia (sangue fluido e escuro, congestão
visceral generalizada, sufusões sanguíneas) ou patologia
sugestiva de possível crise epiléptica
2. Oclusão interna das vias respiratórias
a) Intromissão do corpo estranho (o corpo estranho pode ser
menor que o diâmetro da via – obstrução por edema) ou
soterramento
b) Morte por anóxia anóxica ou reflexo vagal inibitório
c) Sinais gerais asfíxicos, corpo estranho ou sinais de soterramento
3. Compressão externa toraco-abdominal
a) Máscara equimótica, abundantes hemorragias, petéquias na
pele da face, pálpebras e conjuntivas, Oto e rinorragia, lesões
traumáticas torácicas ou abdominais
4. Permanência do corpo em espaço confinado
a) Morte por anóxia anóxica
b) Sinais gerais asfíxicos, humidade do vestuário e pele, lesões
traumáticas de lesões, lesões nas unhas e defecações no local

• Asfixias por submersão:

✓ Submersão: paragem da respiração, hipercapnia, inspiração involuntária,


entrada de água para o pulmão
✓ Mecanismos da morte:
▪ Anóxia cerebral irreversível
▪ Alterações electrolíticas
▪ Água doce: hipervolémia, hemólise, aumento do K +
▪ Água salgada: hemoconcentração e edema pulmonar, sangue mais
viscoso, anóxia do miocárdio
▪ Laringospasmo (10 – 15%): pulmões dilatados e crepitantes, mas secos
▪ Inibição cardíaca reflexa (estímulo vagal por entada rápida de água na
laringe)
✓ Sinais internos:
▪ Espuma traqueobrônquica e pequenos corpos estranhos nas vias
aéreas
▪ Pulmões com grande aumento de volume, crepitação à palpação e
congestão acentuada.
▪ Petéquias na pleura (manchas de Paltauf)
▪ Hemorragias do ouvido interno por rebentamento
▪ Acentuada congestão hepática
▪ Sinais gerais asfíxicos: cianose, sangue fluido, congestão cerebral e
vascular
▪ Sinais vitais: água no duodeno ou estômago

• Acidentes de viação:

✓ Tipos de acidente:
1. Colisão
2. Despiste (depois de colisão ou queda)
3. Capotamento
4. Atropelamento

✓ Lesões internas por acidente de viação:


1. Lesões crânio-meningo- encefálicas
a) Fracturas, hemorragias, contusões e lacerações
encefálicas e lesões de contragolpe
2. Lesões raqui-medulares
3. Lesões torácicas
a) Fracturas, lacerações pulmonares ou cardíacas, roturas
da aorta
b) Complicações: hemo ou pneumotórax, volet costal,
broncopneumonia
4. Lesões abdominais:
a) Mais frequentes: lacerações do fígado, baço, rins e
supra-renais
5. Lesões abdomino-pélvicas (fracturas da bacia)
6. Lesões dos membros (as dos inferiores são mais grave)

• Atropelamento:
✓ Lesões na vítima vão depender da massa, velocidade, tipo de rdado,
estabilidade e manobrabilidade do veículo atropelante.
✓ Fases do atropelamento:
1. Contacto: pode não existir, a vítima pode ser só projectada
devido à onda expansiva criada pela massa do veículo em
movimento, a alta velocidade.
2. Queda (sobre a via ou o próprio veículo): pode ocorrer
atropelamento misto
3. Esmagamento: quando a vítima se encontra já deitada na via
(comprida pelo próprio veículo contra o solo ou outro
obstáculo)
4. Arrastamento: quando a vítima fica presa ao veículo
✓ Lesões por atropelamento:
1. Contacto: lesões cutâneas (feridas contusas, perfurantes) e
osteoarticulares
2. Queda: lesões cutâneas (contusões, feridas contusas),
osteoarticulares (fracturas, luxações) e viscerais (laceração
de órgãos maciços)
3. Esmagamento: lesões osteoarticulares (esmagamento de
ossos) e viscerais (ruptura das vísceras ocas, laceração e
fragmentação de órgãos maciços)
4. Arrastamento: escoriações típicas, por vezes incrustação de
matérias do solo
✓ Capacetes de protecção não evitam fracturas de base do crânio
nem lesões neningo- encefálicas devidas às forças de aceleração e
desaceleração dadas pela velocidade.

INVESTIGAÇÃO FORENSE EM SITUAÇÕES DE DESASTRES DE MASSAS

✓ Desastres em massas:
▪ Abertos: não se conhece o número de vítimas (saber
quando se deve parar de procurar)
▪ Fechados: o número e a identidade das vítimas são
conhecidos
✓ Objectivos da intervenção da ML:
▪ Identificação das vítimas (o mais importante)
▪ Determinação da causa de morte
▪ Determinação da data (momento) da morte
✓ A autópsia ML é obrigatória:
▪ Exame sumário do cadáver
▪ Exame pormenorizado nas key – victims (aquelas que
podem ter alguma responsabilidade na situação)
▪ Necessária uniformização de técnica da autópsia, exames
complementares e relatórios perícias.

• Causas da Morte Materno - fetais:


✓ Complicações maternas:
▪ Infecciosas (locais – sistémicas), tétano, perfurações
▪ Hemorragia, CID
▪ Embolia gasosa, gorda ou por líquido amniótico
▪ Morte por inibição reflexa
▪ Eclâmpsia

✓ Morte natural do feto:


▪ In utero: infecções maternas (retenção ou expulsão),
intoxicações maternas, alterações ovulares/fetais
(malformações ou anomalias cromossómicas)
▪ Durante o parto: adfixias (interrupção prematura da
circulação placentar, descolamento placentar),
compressão da cabeça, hemorragia do cordão.
▪ Após o parto: onfalorragia, asfixia acidental, parto surpresa

PSIQUIATRIA FORENSE

✓ Um indivíduo para ser julgado como criminosos deve possuir


inteligência, liberdade e vontade próprias, que o tornem
responsável pelos seus actos.

• Inimputabilidade:

✓ Menores de 16 anos são penalmente inimputáveis


✓ Doentes com anomalias psíquicas que os tornem incapazes de
avaliar a ilicitude dos actos que cometem (inimputabilidade não é
excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada pelo
próprio agente com a intenção de cometer o acto)
✓ A inimputabilidade é para um determinado acto específico, não é
para toda a vida!
✓ Distúrbios afectivos e distúrbios da personalidade não são
geralmente considerados inimputáveis (psicóticos já são).

• Perigosidade:
✓ Não é um diagnóstico nem representa prognóstico, é uma
previsão, baseada em indícios médico- psicológicos, legais
(antecedentes judiciais) e socias (factores do meio).
✓ A opinião do perito deve ser sempre reservada até que se
verifique a resposta terapêutica. A afirmação de que o indivíduo não é
perigoso, não significará que ele uma dia, em certas circunstâncias, não
o pssa a vir a ser). Segundo o legislador (artigo 91º CP) todo o
inimputável será considerado perigoso quando é de esperar que a
venha a cometer outros factos típicos graves.

• Internamentos psiquiátricos:
1. Indivíduo que ainda não cometeu crime, mas a lei antecipa-se –
internamento preventivo: permite começar o tratamento mais cedo e
impede que o doente passe todo o tempo do processo e julgamento
num estabelecimento prisional normal, o que poderia agravar a sua
patologia.
2. Indivíduo cometeu o crime e por razões psiquiátricas cumpre a sua
pena num estabelecimento de saúde mental com medidas de
segurança.
3. Quando houver fundado receio que venha a cometer outros crimes
graves
4. Internamento superior a 3 anos quando tiver praticado homicídio
5. De 2 em 2 anos a situação do doente é revista
6. Quase sempre em regime aberto (excepções: primeiros 4 ou 5 dias de
internamento, graves alterações do estado de consciência, risco de
suicídio ou situações de agitação psico-motora grave ou a gravidade
auto e hétero dirigida.
ORGANIZAÇÃO MÉDICO-LEGAL

1. Os serviços médico-legais:

✓ Médico-legal
✓ Tanatologia Forense
✓ Toxicologia Forense
✓ Genética e Biologia Forense
✓ Anatomia Patológica Forense
✓ Psiquiatria forense

2. Conselho Superior de Medicina Legal. Composição e funções

✓ Coordena as actividades dos IML, dos Gabinetes e dos Peritos


✓ Emite pareceres sobre as reformas a empreender no sistema médico-
legal
✓ Propõe ao ministério os preços dos exames e remunerações dos peritos
médicos

3. Organização da Medicina Legal

✓ Instituto Nacional de Medicina Legal: tem 3 delegações (Coimbra, criada


em 2001, Lisboa e Porto.
▪ Coopera com tribunais e entidades que intervêm no sistema de
administração da justiça - realização de exames e perícias
médico-legais e apoio técnico e laboratorial.
▪ Prestam serviço a entidades públicas, privadas e particulares.
▪ Órgão consultivo: Conselho Nacional de Medicina Legal
▪ Órgãos executivos: Conselho directivo; conselho médico-legal;
conselho do internato complementar; conselho de fiscalização.

4. Gabinetes Médico-Legais: competências

✓ Realização das autópsias médico-legais respeitantes aos óbitos


ocorridos nas comarcas integradas na sua área de actuação, bem como
a identificação de cadáveres e execução de embalsamentos;
✓ Realização de exames e perícias em pessoas, para descrição e avaliação
dos danos no âmbito do direito penal, civil e do trabalho.
✓ No fundo têm a função médico-legal e tanatológica em cada comarca.

Autópsia Médico-Legal

1. Indicações Obrigatórias

✓ Morte violenta (suicídio, homicídio ou acidente);


✓ Causa da morte;
✓ Apenas suspeita da causa de morte;
✓ Morte sem assistência médica

2. Objectivos gerais de autópsia médico-legal

✓ Diagnóstico diferencial entre morte natural e violenta;


✓ Diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio e acidente;
✓ Natureza do instrumento causador das lesões;
✓ Lesões de causa adequada ou ocasional

3. Objectivos particulares da autópsia médico-legal

✓ Identificação do cadáver (agressor);


✓ Cronotanatogose (morte rápida vs lenta)
✓ Posição entre agressor e vítima;
✓ Tempo de sobrevida após produção das lesões;
✓ Ferimentos vitais e post-mortem;
✓ Eventual influência alcoólica;
✓ Distância do disparo;
✓ Deslocamento do cadáver

4. Distinga causa ocasional de causa adequada e de causa necessária

✓ Causa Ocasional: a lesão traumática identificada no cadáver não é, por


si só, responsável pela morte.
✓ Causa Adequada: A lesão traumática identificada no cadáver pode ter
levado à morte, mas o indivíduo teria sobrevivido se fosse tratado a
tempo.
✓ Causa necessária: a lesão traumática identificada no cadáver levou
inevitavelmente à sua morte.

5. Intenção de matar – posição do perito

✓ A problemática da intenção de matar não faz parte das conclusões do


relatório médico-legal. No entanto, o perito deve-se pronunciar em
relção a algumas características que, caso existam, podem ajudar o
magistrado a decidir, como é o caso de:
▪ Indicar se a região atingida é vulgarmente conhecida como sendo a
de um órgão essencial à vida;
▪ Indicar a natureza, características, números de ferimentos e se tudo
isto é favorável à hipótese de intenção;
▪ Indicar se os ferimentos são produzidos com violência;
▪ Indicar se o instrumento utilizado é adequado para produzir lesões
mortais;
▪ Indicar se existem, sinais de disparo a curta distância.

6. Capítulos do exame médico-legal

1) Exame do local
2) Autópsia (exames internos e externos)
3) Exames complementares (toxicológicos, criminalística,
biológicos, psicológicos, microbiológicos e radiológicos)
4) Relatório: preâmbulo, identificações, dados complementares,
estado actual, discussão e conclusão (vestuário)

7. Importância da autópsica no pescoço

✓ Acesso a:
▪ Região cervical;
▪ Faringe, laringe, língua;
▪ Rolo vásculo – nervoso;
▪ Cartilagens tiroideias;
▪ Osso tiróide
✓ Logo, a sua observação pode ser útil com asfixias mecânicas (verificação
de lesões medulares, fracturas do osso tiróide, sufusões sanguíneas,
hemorragias, etc) ou em queimaduras para avaliar se foi in vivo
(produtos de combustão nas vias respiratórias profundas e queimaduras
de base da língua, faringe e laringe).

8. Mumificação. Características. Factores favorecedores

✓ É a dissecção rápida do cadáver (o volume diminui por desidratação)


✓ Factores favorecedores:
▪ Local menos elevado;
▪ Boa ventilação:
▪ Ambiente seco;
▪ Pessoas magras;
▪ Crianças

9. Saponificação. Características. Factores favorecedores

✓ É a formação de uma camada gordurosa e viscosa que atinge


unicamente a superfície do corpo e não as vísceras.
✓ É devido à formação de adipocera :
▪ Recente: untosa, viscosa, deixa-se modelar, corta-se com uma
faca;
▪ Antiga: dura, seca, quebradiça, desfaz-se como queijo duro.
✓ Factores favorecedores: obesidade, ambiente húmido, pouca
ventilação.

10. Fenómenos de desidratação. Importância médico-legal.

✓ Desidratação cadavérica é um sinal de certeza de morte;


✓ Perda de peso (apreciável na criança);
✓ Apergaminho cutâneo das áreas escorridas e da pele delgada;
✓ Desidratação das mucosas (lábios dos recém- nascidos e vulva das
crianças de pouca idade)
✓ Opacificação da córnea;
✓ Mancha esclerótica se Sommer-Laracher (quando o cadáver permanece
de olhos abertos);
✓ Afundamento do globo ocular.

11. Placas apergaminhadas e importância médico-legal

✓ Podem ser fruto de desidratação cadavérica de áreas escoriadas ou de


bolhas subcutâneas (flictenas) que romperam e caracterizam-se por
áreas amareladas, secas, duras, com consistência e aspecto de
pergaminho e com visualização de rede vascular.

QUEIMADURAS

1. Diagnóstico Diferencial entre queimaduras em vivo e post-mortem

✓ Nas queimaduras em vivo verifica-se:


▪ A presença de produtos de combustão nas vias respiratórias
profundas e digestivas
▪ Queimadura de base da língua, laringe e faringe
▪ Níveis de carboxihemoglobina superiores a 10%

2. Morte por Carbonização. Sinais

✓ Externos:
▪ Redução do volume do cadáver
▪ Posição de pugilista
▪ Coloração negra da pele
▪ Pele seca, ressoando à percussão
▪ Soluções de continuidade ao nível das pregas
▪ Locais protegidos por roupa são menos afectados
▪ Chamuscamento de pêlos
▪ Pode haver esventrações
▪ Amputações espontâneas dos membros na união do 1/3
superior aos 3/3 inferiores
▪ Coagulação do cristalino

✓ Internos:
▪ Vísceras cozidas e desidratadas (menos peso)
▪ Fracturas ósseas
▪ Hematoma epidural disseminado
▪ Gotas de calo nos vasos pulmonares (com o calor a gordura do
tecido celular subcutâneo liquefaz-se e entra para a circulação,
embolizando nos vasos pulmonares)

3. Objectivos particulares na autópsia das queimaduras

✓ Diagnosticar a realidade das queimaduras


✓ Diagnosticar a extensão das queimaduras
✓ Diagnosticar o agente etiológico das queimaduras
✓ Diagnosticar se a causa da morte foi a queimadura
✓ Diagnóstico do carácter vital das queimaduras

4. Artefactos produzidos na carbonização que podem levantar dificuldades ao


perito de Medicina Legal

✓ Posição de pugilista – simula posição de defesa


✓ Soluções de continuidade da pele por retracção – podem parecer lesões
provocadas objectos cortantes
✓ Amputações espontâneas ou fracturas ósseas – podem simular violência
ou homicídio.
✓ Hematoma epidural disseminado por acção do calor – pode sugerir
outras causas de morte
✓ Gostas de gordura nos vãos pulmonares por liquefacção da gordura do
tecido celular subcutâneo pelo calor – pode simular embolia gorda como causa
de morte.

5. Queimaduras eléctricas. Características.

✓ Marca eléctrica:
▪ Reproduz a forma do objecto condutor
▪ Coloração branco- amarelada
▪ Pode ter a dimensão de uma cabeça de alfinete
▪ Não há inflamação
▪ Indolor (destrói terminais nervosos)
▪ Pêlos torcidos sobre o seu eixo
▪ Profundidade variável
✓ Metalizações:
▪ Impregnação superficial da pele por partículas metálicas
provenientes do condutor (desaparecem 4 a 5 dias depois
por descamação da pele)
▪ Raízes detríticas de Lischetenberg – quando a morte é por
fulguração (raio) as lesões parecem as raízes de um
arbusto

✓ Nota: Descarga
▪ Cabeça: inibição de centros respiratórios
▪ Mão – mão: paralisa músculos respiratórios
▪ Mão – pé: fibrilação ventricular

6. O que fazer em caso de morte por queimadura

✓ Diagnóstico da realidade das queimaduras: extensão, profundidade,


datação
✓ Diagnóstico etiológico da queimadura
✓ Analisar se a queimadura foi post – mortem ou in vivo

→ Para tudo isto é necessário proceder à autópsia médico-legal e respectivos


exames complementares de diagnóstico, nunca esquecendo o raio – x em
caso de morte por carbonização para excluir o suspeito de homicídio
ocultado.

ARMAS DE FOGO

1. Elementos determinantes da lesão causada por armas de fogo

✓ Orifício de entrada
✓ Trajecto
✓ Orifício de saída

2. Distinga orifício de entrada de orifício de saída

✓ Orifício de entrada:
▪ Geralmente único
▪ Geralmente circular (pode ser estrelado ou linear)
▪ Menor que o diâmetro da bala
▪ Sempre com a orla de contusão
▪ Com tatuagem (que altera a forma de apresentação
conforme a distância do disparo)
▪ No crânio, lesa menos a tábua interna

✓ Orifício de saída:
▪ Nem sempre existe
▪ Forma e tamanho variam muito
▪ Não tem orla de contusão (a não ser que a bala encontre
um obstáculo à saída, ex: pessoas encostada à parede)
▪ Bordos invertidos
▪ Aspecto circular ou oval
▪ Pode ser múltipla
▪ No crânio, lesa mais a tábua interna

3. Elementos determinantes do aspecto da lesão causada por armas de fogo

✓ Orifício de entrada:
▪ Forma:
o Disparo curto – estrelado
o Disparo longínquo – linear
o Disparo intermédio – circular
o Disparo pós – mortem – ovar
▪ Número:
o Geralmente único
o Múltiplo quando é tiro de caçadeira
▪ Dimensões:
o Menor que o diâmetro do projéctil
o Maior nos disparos mais curtos
▪ Tatuagens:
o Queimadura – disparo a menos de 5 cm
o Negro de fumo - disparo a menos de 15 cm
▪ Orla de pólvora – disparo a menos de 30 cm

→Distâncias pouco fiáveis; considerar-se que só há


tatuagens nos disparos a curta distância

✓ Ferida da bala:
▪ Atípicas:
o Contusões – bala morta, não penetrou
o Erosão – bala de raspão
o Em fundo – de saco - bala penetra pouco e cai
o Estrelado – disparo encostado
▪ Trajecto:
o Ajuda a encontrar o projéctil (se existir) e avaliar
órgãos afectados

✓ Orifício de saída:
▪ Se for múltiplo: bala atravessou osso e fragmentou

4. Sinais de disparo a curta distância

✓ Orifício de entrada estrelado;


✓ Dimensões grandes do orifício de entrada;
✓ Orla de contusão;
✓ Tatuagem no orifício de entrada;
✓ Sinais de Werkgautner: escoriações que mostram o desenho da região
atingida, lesões de queimadura, negro de fumo ou particulares de
pólvora (tatuagem)

5. Objectivos e problemas de autópsia em casa de ferimento provocado por


projéctil

1) Determinar a distância do disparo:


- se o disparo for a mais de um metro é homicídio
- ver aspecto do orifício de entrada

2) Direcção do disparo:
- o trajecto percorrido com estilete pode ajudar
- no crânio, a tábua mais afectada
3) Natureza do disparo:
- exame do local
- tipo de arma (arma artesanal – suicídio)
- exame do cadáver

6. Reacção de a Guttman e Brucina


TANATOLOGIA FORENSE

1. Rigidez cadavérica/ espasmo cadavérica. Definição, distinção e interesse em


medicina legal

✓ Rigidez:
▪ Ocorre devido à administração muscular, ao aumento do
ácido láctido coagulação plasmática;
▪ É sempre precedido e seguido de flacidez;
▪ É sinal de certeza de morte
✓ Espasmo:
▪ É uma contracção muscular generalizada ou localizada
que fixa a vítima no momento da morte;
▪ Não é precedido por flacidez;
▪ É importante para avaliar a circunstância da morte.

2. Dificuldades da autópsia em caso de putrefacção

✓ Dificuldade em descobrir causa de morte (vísceras desfeitas, podres,


análises toxicológicas, sanguíneas e microbiológicas já não se podem
fazer).
✓ Dificuldades em identificar o cadáver (cara desfeita, gases, alteração da
cor da pele. DNA só resiste nos dentes).

3. Sinais de ausência de vida: ausência de respiração


4. Sinais de certeza de morte

✓ Arrefecimento
✓ Desidratação
✓ Rigidez
✓ Livores
✓ Putrefacção

5. Diagnóstico Diferencial entre ferimentos vitais e post – mortem


✓ Depende da situação:
▪ Se for traumatismo, as infiltrações musculares ocorrem quando a
lesão é vital;
▪ Nas queimaduras post – mortem não ocorre inalação de
produtos de combustão, queimadura da língua, faringe e laringe
e carboxihemoglobina inferior a 10%;
▪ Nos disparos de armas de fofo, o orifício de entrada é circular in
vivo e oval post – mortem.
▪ Sinais vitais de uma ferida:
o Crosta
o Retracção da pele
o Pus
o Hemorragia interna e externa
o Embolia gasosa em ferida que atingem veias do
pescoço

6. Diagnóstico diferencial entre livores equimoses

✓ Realizando uma incisão na área e lavando abundantemente o tecido


subcutâneo, na equimose o sangue não desaparece porque está
aderente; no livor o sangue sai.
▪ Livores:
o Acumulação de sangue não circulante em vasos cutâneos
o Fenómeno mecânico, mais visível nas zonas de declive
o Cor: roxa (pode se carmim se houver intoxicação com
monóxido de carbono, e verde se houver envenenamento)

▪ Equimose:
o Resulta de um traumatismo contundente sem solução de
continuidade; há ruptura de vasos com extravasamento de
sangue que infiltra os tecidos.
o Cor: não é constante e correlaciona-se comas alterações de
hemoglobina azul, verde, amarela; desaparece.

7. Diagnóstico Diferencial entre coágulos vitais e post- mortem

✓ Coágulo in vivo: cilíndrico, seco, rugoso, vermelho- acinzentado, fiável


e aderentemente encravado de forma irregular;
✓ Coágulo post- mortem : húmido, liso, desfaz-se coma pressão, não
aderente.
8. Processo de conservação natural do cadáver

✓ Mumificação;
✓ Saponificação;
✓ Congelação

CERTIFICADO DE ÓBITO

1. Condições necessárias para passar um certificado de óbito

✓ Verificar óbito:
▪ Sinais negativos de vida por intervalo de tempo necessário
▪ Sinais de certeza de morte
✓ Só se pode dizer que o indivíduo está morto quando há cessação das
funções do tronco cerebral de modo irreversível
✓ Quem verifica o óbito é o médico responsável pelo doente no
momento da morte ou, se não houver acompanhamento médico, o
primeiro a chegar.
✓ Na verificação do óbito é necessário constar a identificação do possível
falecido, bem como o modo como esta se obteve; o local, a data e a
hora de identificação; as informações clínicas relevantes e a
identificação do médico (numero da cédula da ordem dos médicos) e
assinatura.
✓ Como não há formulários clínicos se a morte ocorreu num
estabelecimento de saúde publico.
✓ Para o certificado de óbito já existem impressos próprios que devem
ser todos preenchidos pelo médico, e onde deve constar a causa
directa, básica e intermédia de morte, bem como o intervalo decorrido
entre o começo da doença e morte; elementos que fundamentem a
causa de morte; circunstâncias da morte e identificação do médico.

ARMAS BRANCAS

1. Lesões modeladas. Noção:


São lesões que reproduzem por completo o desenho do instrumento
que as produziu.
Acontece, por exemplo, em queimaduras por objecto incandescente,
atropelamentos (marcas de pneus), sulco de enforcamento (corda),
traumatismos contundentes, estigmas ungueais, etc.

2. Instrumentos de agressão – tipos

✓ Contundentes: pau, dentes, copo, veículo, água (super fina)


✓ Perfurantes: chaves de fendas, espigões
✓ Cortantes: facas, vidro cortado, placas
✓ Corto – contundentes: copo de vidro (inteiro/partido), machado
(cabo/lâmina)

OFENSAS CORPORAIS EM DIREITO PENAL, CIVIL E DO TRABALHO

1. Direito Penal. Em 7/6 a vítima refere agressões. Em 12/6 há vestígios de


lesões equimósica amarela. Conclusões.

✓ Conclusões do relatório de avaliação do dano corporal no âmbito do


Direito Penal:
▪ Data de cura/consolidação
▪ Tipo de doença e instrumento
▪ Tempo de doença
▪ Resultaram ou não consequências permanentes
▪ Resultou ou não perigo para a vida
▪ Propor ou não medidas psicossociais
✓ Neste caso, apenas se poderia estimar o tempo de doença se bem que a
consolidação ainda não se deu mas está preste (equimose amarela
quase a desaparecer).
✓ Nexo de causalidade – pressupostos:
▪ Adequação temporal
▪ Adequação etiológica
▪ Adequação de localização
▪ Continuidade sistematológica
▪ Exclusão de pré-dano
✓ As vítimas nem sempre apresentam queixa no momento da agressão,
sendo que, muitas vezes, muitos sinais já desapareceram aquando da
perícia. É muito importante que no estabelecimento de saúde que o
acolheu seja feita a descrição minuciosa de todas as lesões que a
vítima apresentava, pois é muitas vezes nesse relatório perito se vais
basear.

2. Doença com perigo para a vida

✓ A doença com perigo para a vida é um dos pressupostos que está no


artigo 144º do código penal e que se engloba num dos pressupostos
para afirmar que houve ofensa à integridade física grave.
✓ O estabelecimento deste critério é com base numa probabilidade
concreta e presente do resultado letal fundamentada em sinais e
sintomas de morte próxima, situações críticas e de prognóstico
reservado, relacionadas directamente com a lesão resultante da
ofensa.
✓ Esta avaliação é habitualmente baseada na história de urgência
hospitalar.

3. Incapacidade permanente em Direito Civil. Pontos possíveis

✓ Incapacidade permanente é toda aquela sequela que permanece, após


a consolidação do trauma e que não é temporária.
✓ A incapacidade permanente pode ser geral ou apenas do trabalho e
pode ser total ou parcial.
✓ Existem tabelas para avaliar a incapacidade permanente em forma de
percentagem como forma de objectivar as indemnizações a receber.
✓ Ao analisar a incapacidade permanente, o perito deverá chegar a duas
conclusões:
▪ Qual o grau em % da incapacidade
▪ Ajustar essa capacidade ao exercício da profissão do sujeito
(compatível: exige esforços suplementares; impeditiva mas
compatível com outras da mesma área: impeditiva)

4. Capítulos do relatório pericial: necessidade ou desnecessidade de discussão

✓ Relatório:
▪ Preâmbulo
▪ Informação
▪ Dados complementares
▪ Estado actual
▪ Discussão
▪ Conclusão
✓ A discussão é parte fundamental no relatório, pois fundamenta as
conclusões, explica se há nexo de causalidade ou não e ainda estabelece
os motivos de classificação do dano estético.
✓ Não esquecer que. Em Direito Civil, o individuo é visto como um todo, e,
como tal, analisa-se danos nem sempre muito objectiveis como a dor
(psíquica, física, mental), dano estético e prejuízo de afirmação pessoal.
✓ A discussão também é um óptimo meio para o perito se pronunciar
sobre danos futuros e danos potenciais.

5. Fases do relatório em Direito Civil

a) Preâmbulo – introdução sumária ao caso


b) Informações - em nome e identificação do indivíduo
c) Dados complementares – história na versão do indivíduo
d) Estado actual - queixas, exame objectivo e exames complementares
e) Discussão – nexo de causalidade, data de consolidação, quantum
doloris, dano estético, dano futuro potencial, prejuízo na afirmação
pessoal.
f) Conclusão

6. A possibilidade de avaliação do dano eventual (futuro e potencial) em Direito


Civil

✓ O dano futuro é aquele agravamento que pode prever-se como facto, e


o dono potencial é uma hipótese admissível, mas não provável, de
agravamento fisiopatológico do dano actual existente.
✓ Sendo assim, o dano futuro é mais fácil de avaliar do que o potencial.
✓ Em direito civil como os encargos do processo estão a cargo do sujeito e
a reaberturas são difíceis opta-se por, no momento do julgamento, ter
em conta o dano actual e o dano futuro.

7. Ofensas corporais: simples vs graves

✓ Artigo 43º do Código penal: ofensas leves


a) É necessário queixa
b) Critérios de exclusão em relação ao 44º - punição até 3 anos ou
pena de multa.
✓ Artigo 144º do código penal: ofensas graves
a) Privação do órgão importantes
b) Desfiguração grave e permanente
c) Tirar ou afectar gravemente a capacidade de trabalho,
intelectual, procriação, ou a possibilidade de utilizar o corpo,
sentidos e linguagem.
d) Doença dolosa ou permanente
e) Anomalia psíquica grave ou incurável
f) Perigo para a vida – punição de 2 a 10 anos

8. Desfigurar grave e permanentemente. Localize e dê significado.

✓ A desfiguração grave e permanente é um dos pressupostos presentes


no art. 144º do código penal no que diz respeito à inclusão de ofensa à
integridade física grave.
✓ Entende-se por desfiguração grave e alteração, em grave, em grau
elevado, do aspecto e figura do ofendido (rosto e corpo em conjunto).

9. Quantum Doloris. Noção e avaliação.

✓ É a valorização da dor física e psicológicas resultante não só dos


ferimentos, mas também pelos tratamentos.
✓ A sua avaliação é um pouco subjectiva e depende de:
▪ Factores internos: estado anterior; situação psíquica; factor
étnico; sexo
▪ Factores externos: característica da lesão; modalidade do
tratamento; evolução das lesões.
✓ Actualmente quantifica-se a dor numa escala de 0 a 7, sendo que o
perito deve explicar, na discussão, as razões que justificam, no seu
entender, a inclusão do caso naquele determinado grau de escala.

10. Valorização do dano estético em Medicina Legal

✓ O dono estético é subjectivo, pois o impacto psicológico por cada


vítima difere consoante a susceptibilidades pessoais.
✓ Para além disso, o dano estético pode ser patrimonial, quando à
pessoa em questão tem uma profissão em que é necessário ter-se uma
figura agradável.
✓ Na avaliação do dano estético (como dano permanente após
consolidação) tem-se em coma: localização; avaliação estática;
avaliação dinâmica.
✓ A escala utilizada é a mesma que para o quantum doloris e o
procedimento na discussão também é o mesmo.
✓ De notar que o dano estético só é avaliado em Direito Civil
(eventualmente em penal se houver desfiguração grave e
permanente).

11. Tabelas de incapacidade e peritagem médico-legal

✓ Actualmente existe uma tabela com percentagens para uma avaliação


objectiva da incapacidade. Esta tabela deve ser somente um guia para o
perito que deve, pelo seu juízo, avaliar a incapacidade e justificar a sua
decisão na discussão do relatório.
✓ De notar que, em Portugal, por “preguiça” legislativa existia a mesma
tabela por incapacidades em Direito Civil e em Direito do Trabalho, o
que não é o mais correcto.

12. Prejuízo na afirmação pessoal. Situe e comente.

✓ É a diminuição ou privação das satisfações ou dos prazeres da vida. É o


reflexo do prejuízo funcional existente nas capacidades de acção ligadas
a actividades lúdicas, de lazer e de relacionamento social.
✓ É avaliado, em Direito Civil com justificação na discussão do relatório.

13. Características actualmente contemplados na lei de acidentes de trabalho que


beneficiam o sinistrado.

✓ Sistema misto: aceita-se a doença que está na lista e outras que possam
ser provadas
✓ Considera-se que a lesão é proveniente do trabalho sendo que a
entidade patronal tem que provar que não.
✓ Processo judicial gratuito
✓ Obrigatoriedade de participação de acidentes de trabalho e doenças de
trabalho
✓ Entidade patronal é obrigado a ter seguro contra riscos no trabalho
✓ Incapacidade for superior a 30% dá direito a pensão
✓ Prestações irrenunciáveis – para não serem sujeitos a chantagens pelo
entidade patronal.

SEXOLOGIA FORENSE
1. Em que consiste o exame himenial?

✓ Para se observar o hímen deve-se introduzir no orifício himenial uma


sonda de Foley e enche-la com cerca de 10cm3. Ao puxar a sonda em
direcção ao operador, o hímen dica distendido sobre o balão da sonda
(agora insuflado), o que permite ao perito observar os bordos e as
lesões. (Nota: são necessários 2 peritos para a tracção dos grande lábios
para fora e para trás).
✓ Após o reconhecimento do hímen, este deve ser classificado quanto à:
▪ Forma: típica ou atípica
▪ Altura e largura: medir as zonas de maior ou menor dimensão
indicando os quadrantes em que se situam
▪ Consistência: carnudo, tendinosa, cartilaginosa, membranosa
▪ Elasticidade: média, pequena e grande
✓ Deve-se também descrever, com pormenores, o bordo livre do lúmen:
aspecto geral, dureza, regularidade, irregularidade, cristas,
desdobramentos, lesões de continuidade.
✓ Se existirem lesões de continuidade no lúmen, estas devem ser
diferenciadas em traumáticas e congénitas, embora o diagnóstico
diferencial nem sempre seja fácil.
✓ As lesões traumáticas são normalmente assimétricas, localizadas em
locais altos do hímen, em pontos de menor espessura e elasticidade,
vão até ao bordo de inserção do lúmen e os bordos são confiáveis.
✓ Pelo contrário, nas lesões congénitas, as lesões são simétricas, não
muitos altos e os bordos são arredondados e não coaftáveis.
✓ Para avaliar a permeabilidade de ostíolo, deve-se ensaiar, suavemente,
a introdução dos dedos indicador e médio juntos, sendo que na criança
apenas se utiliza um dedo.

2. Noção de Hímen complacente

✓ O hímen é formado por tecidos conjuntivos com mais ou menos vasos


sanguíneos e maios ou menos fibras elásticas.
✓ O hímen está complacente quando pode permitir a cópula sem se
lacerar.

3. Comente a afirmação “ a vítima estava não desflorada”

✓ Num desfloramento recente há a verificação de presença de esperma


acima ou para lá do hímen, permeabilidade do ostíolo dois dedos e
laceração com bordos desiguais, vermelhos, sangrentos, edomaciados, e
por vezes, com supuração.
✓ Quando estes sinais não se verificam e o hímen está complacente,
dizemos que a vítima não está desflorada.
✓ O não desfloramento não implica a exclusão da hipótese de violação,
mas apenas exclusão da existência de penetração vaginal.

4. Sinais de desfloramento

✓ Presença de esperma acima ou para lá do hímen;


✓ Hímen com lacerações traumáticas, de bordos irregulares, desiguais,
vermelhos, sangrentos, e por vezes com edema e supuração
✓ Permeabilidade do ostíolo (dois dedos)

5. Diagnóstico diferencial entre congénito e laceração

✓ Entalhe congénito:
▪ Bordos arredondados;
▪ Bordos não coaftáveis;
▪ Simétricos;
▪ Não atinge toda altura
✓ Lacerações traumáticas:
▪ Atinge toda a altura;
▪ Assimétrica;
▪ Bordos coaftáveis;
▪ Atingem zonas mais altas, pontos menos espessos e elásticos;
Bordos vermelhos, sangrentos e edemaciados;
▪ Pode haver supuração;
▪ Cicatrização demora 5 a 8 dias;
▪ Pode haver infecção

6. Carúnculas mirtiformes: O que são e o seu interessa em Medicina Legal

7. Hímen imperfurado. Pode ter algum orifício?


✓ Sim. Existem hímenes não desflorados mas que têm mais do que 1
orifício, como é o caso do hímen cribriforme, franjado e biperfurado.

8. Hímenes – Classificação quanto à forma e elasticidade


✓ Forma:
▪ Típicos (alunar, semilunar, labiado)
▪ Atípico (cribriforme, franja, biperfurado)
✓ Elasticidade:
▪ Média, pequena e grande

9. Exame sexual – técnica e relatório

✓ A técnica do exame médico-legal em sexologia forense implica a


execução:
a) Interrogatório: onde figuram os factos identificativos da vítima e
descritivos sobre o acto da violação
b) Anamnese: durante o interrogatório faz-se uma breve anamnese
sobre:
▪ Antecedentes médicos;
▪ Última relação/menstruação
▪ Gravidez/métodos contraceptivos
c) Comportamento: é inquirido o tipo de comportamento
adoptado durante o acto.
d) Aspectos gerais: o perito deve analisar a vítima, nomeadamente
o estado do vestuário, a capacidade intelectual/física e idade
aparente, bem como sinais de toxicomania.
e) Exames a realizar:
▪ Local
▪ Vestuário
▪ Corporal (completo com especial atenção às zonas de
apoio, vitais, particularmente susceptíveis e de
protecção)
▪ Perineal
▪ Genital
▪ Hímen
▪ Ânus
Nota: os diversos aspectos observados são referenciados
considerando o seu posicionamento relativamente ao
mostrador do relógio (indicando a posição do exame:
genopeitoral ou decúbito, dorsal).
f) Colheitas:
▪ Ao longo do exame;
▪ Determinadas pelo historial e exame físico;
▪ Com o consentimento da vítima e/ou do tutor;
▪ Kits estandardizados, check-list;
▪ Usar luvas;
▪ Manter cadeia de custódio;
▪ Colheitos habituais: vestuário, manchas, cabelos, saliva,
raspado unhas, boca, dentes/zaragota endocervical,
exocervical, fundo do saco posterior.

✓ No relatório, o perito deve descrever pormenorizadamente tudo o que


vê e não se deve deixar dominar pela informação ou ambiente que
rodeia o caso.
✓ Ao perito compete:
▪ Estabelecer a realidade da agressão sexual;
▪ Estabelecer a ausência de consentimento (procurando qualquer
sinal de trauma);
▪ Descrever e colher evidências com interesse;
▪ Avaliar a existência de um eventual “estado anterior”

GENÉTICA FORENSE

1. Investigação da paternidade

✓ A investigação de parentesco é uma das áreas de genética forense (as


outras duas são a criminalística biológica e a identificação individual) e
pode ser pedida quer pelo tribunal ou por particulares, quer por
agrupamentos espirituais, quer psicólogos, quer físicos.
✓ A investigação do parentesco faz-se através de amostras de ADN
(normalmente pequenas amostras de sangue – manchas em papel – em
que se comparam os alelos do indivíduo e do parentesco par através do
numero de unidades repetitivas (VNTR´S) por sequenciação ou
identificação na electroforese).
✓ Os VNTR´S utilizados actualmente são microssatélites com mais ou
menos 3 a 4 bases cada.
✓ A investigação de parentesco também pode ser feita através dos
microssatélites do cromossoma Y, mas isto apenas serve para excluir o
suspeito, pois dentro da mesma família o Y é sempre igual
✓ Amostra de sangue:
▪ Pretenso pai falecido – restos cadavéricos
▪ Pretenso pai ausente – amostra de sangue dos familiares
▪ Casos de violação – amostras intra–uterinas.
2. Exclusão da paternidade. Regras. Significado. Importância e valor do
diagnóstico

✓ Existem dois tipos de exclusões:


▪ 1ª ordem: quando aparece no filho um alelo que não existia nem
na mãe nem no pai;
▪ 2ª ordem: quando o pretenso pai não transmite o alelo que
devia e o filho só tem alelos da mãe
✓ No princípio tipo de exclusão as 2 hipóteses explicativas: ou não é o pai
ou houve mutação (o que é muito raro).
✓ Na exclusão da segunda hipótese, ou não é o pai ou houve uma
anomalia nas transmissões dos genes (disosmia monoparental) que
também é muito rara.
✓ Este último tipo de exclusão pode, no entanto, sugerir, quando usamos
DNA muito danificado e a PCR só ampliou um alelo.
✓ Só se considera provada a exclusão quando há mais do que uma
exclusão de primeira ordem ou mais de duas de segunda ordem com
marcadores diferentes.
✓ Se não for provada a exclusão, calcula-se a probabilidade de
paternidade com base no teorema de Bayes (X/X+Y – sendo X a
probabilidade de o indivíduo ser pai e Y é a probabilidade de um
qualquer homem ser o pai.
3. Manchas de esperma. Diagnóstico.

✓ As manchas de esperma são um bom instrumento na área de


criminalista para identificar a agressão, nomeadamente crimes sexuais e
abusos de menores.
✓ Ao contrario do esperma da cavidade bucal ou vaginal, que so pode ser
itilizado após algumas horas após o crime, e DNA das manchas de esperma
permanece operável durante anos.
✓ As manchas secas devem-se raspar com bisturi e as húmidas absorvidas
com algodão embebido em água destilada.
✓ As amostras devem ser recolhidas com luvas secas e embaladas em
recipientes que não plástico.
✓ O estudo dos alelos da mancha por comparação aos do esperma do
suspeito permite ao perito chegar a uma conclusão (alelos não coincidem) ou a
uma coincidência (alelos coincidem).
✓ Se houver coincidência calcula-se o L.R. (Likelihood Ratio) a partir da
probabilidade da mancha ser do suspeito (X) e a frequência desse genótipo na
população (Y): L=X/Y.
✓ A escala de Evett traduz do LR num valor qualitativo.
✓ Também aqui, quanto mais raros forem os alelos em causa na
população de referência, maior é a probabilidade do suspeito ser o autor
daquela mancha.

4. Índice medular de pêlo. Importância.

✓ Quando não se tem a raiz do cabelo não se tem acesso ao DNA, logo um
modo grosseiro de comparação de cabelos é a verificação do índice
medular.
✓ É o que acorrer, por exemplo, nos penteados púbicos, nos crimes
sexuais em que se tenta identificar pêlos do suspeito.

5. Mancha de sangue. Diagnóstico médico-legal – raio X de orientação e de


certeza

✓ A mancha de sangue tanto serve para a investigação do parentesco


como para onvestigação no âmbito da criminalística.
✓ Nunca esquecer de tirar amostra da vítima para a sua identificação e
para sabermos se a amostra que está a ser estudada é do agressor e
não dela.
✓ NOTA: Colher sangue + EOTA (porque heparina inibe PCR) e guardar a –
4º para dois dias ou – 20º para tempo superior.

6. Raio –X de Florence

7. Procedimento prévio no estudo das manchas

✓ Deve ser descrito sobre a mancha:


▪ Onde foi colhida
▪ Forma
▪ Disposição
▪ Constituição
▪ Cheiro
▪ Cor
▪ Tamanho
▪ Idade
✓ A mancha deve ser fotografada (marcando a sua localização) e extraída
pelo perito:
▪ Se seca – raspar com um bisturi
▪ Se húmida – absorver com um algodão embebido em água
destilada
✓ Durante todo o procedimento deve-se usar luvas descartáveis.
✓ As peças húmidas devem ser colocadas em recipientes que não de
plástico (para evitar a humidade), fechadas, mantidas em baixa
temperatura e devidamente etiquetadas.
✓ O seu envio para o laboratório deve ser o mais rápido possível,
assegurando sempre a manutenção da cadeia de custódia.

8. Importância do ADN cromossómico, mitocondrial e do cromossoma Y

✓ ADN cromossómico: permite a identificação do cadáver na tanatologia


(por comparação); do agressor em criminalística; e do pretenso pai em
investigação de parentesco.
✓ ADN mitocondrial: apenas permite estudos de maternidade, pois são
apenas as mães que doam as mitocôndrias para o ovo - é útil na
investigação de corpos e inclusão em famílias - antropologia forense.
Como tem poucas dimensões e é muito resistente à degradação, é
muito importante que o material biológico está muito degradado –
Tanatologia.
✓ ADN do cromossoma Y: serve para exclusão do suspeito nomeadamente
em crimes sexuais. Não se pode fazer cálculo de LR nem de
probabilidade de paternidade com este ADN.

ASFIXIAS MECÂNICAS

1. Sinais gerais de uma asfixia mecânica

✓ Internos:
▪ Congestão visceral generalizada
▪ Sufusões sanguíneas
▪ Sangue fluido, escuro e sem coágulos
▪ Edema pulmonar
✓ Externos:
▪ Cianose ou palidez
▪ Sufusões sanguíneas na pele e mucosas

2. Asfixias mecânicas
✓ Típica:
▪ Esganadora
✓ Atípica:
▪ Por enforcamento (suspensão completa ou incompleta)
▪ Estrangulamento por laço
▪ Sufocação por submersão

3. Asfixias mecânicas por constrição do pescoço

✓ Enforcamento, estrangulamento por laço, esganadura

4. Diferenças entre sinais de morte por enforcamento e estrangulamento com


laço

✓ Enforcamento:
▪ Sulco único
▪ Fundo de sulco apergaminhado
▪ Sulco incompleto
▪ Sulco alto
▪ Profundidade variável (máxima oposta ao nó)
▪ Sulco em “V” invertido
▪ Pode ter lesões cervicais (e 2 e3) que levam à morte por lesão
medular
▪ Pode haver traumatismo dos grandes cornos da tiróide
▪ Face pálida ou cianose
▪ Livres em relação à posição

✓ Estrangulamento:
▪ Sulco duplo
▪ Fundo do sulco é mole
▪ Sulco completo
▪ Sulco abaixo da castilogentiroideia
▪ Profundidade uniforme
▪ Sulco horizontal
▪ Não há lesões cervicais
▪ Pode haver estigmas ungueais
▪ Pode haver exoftalmia
▪ Face tumefacta, avermelhada e violácea

5. Diagnóstico Diferencial entre manchas de Tardieu e Palteuf


✓ Palteuf: petéquias na pleura pulmonar, maiores e mais claras que as
habituais nas asfixias. E típico das asfixias por submersão.
✓ Tardieu: petéquias hemorrágicas no timo e nas serosas pulmonares que
resultam de sofrimento fetal (não implica obrigatoriamente
infanticídio).

6. Diagnóstico Diferencial do solvo por estrangulamento r por laço – ver


pergunta 4

PSIQUIATRIA FORENSE

1. Um dos objectivos da psiquiatria forense é concluir sobre a perigosidade.


Comente:
✓ Segundo a lei, todos os inimputáveis são considerados criminalmente
perigosos quando é de esperar que venham a cometer outros factos
típicos graves.
✓ A perigosidade não é um diagnóstico, nem um prognóstico. É um
conceito mais político-social que psiquiátrico, pelo que também não
deve ser o psiquiatra forense a determiná-lo.
✓ Ao perito é pedido que avalie uma série de parâmetros como
antecedentes relacionais, pessoais, familiares; estrutura da
personalidade, susceptibilidade perante o stress/humilhação;
oligofrenia; instabilidade emocional; epilepsia com alteração de
comportamento, esquizofrenia, etc.
✓ Com base na anomalia mental, na personalidade, no crime cometido e
no meio circundante, o magistrado decide acerca da perigosidade do
indivíduo, de modo a proceder ao internamento compulsivo em
estabelecimento psiquiátrico de cura, tratamento ou segurança durante
3 anos.
✓ Este internamento, mesmo que contra a vontade do doente visa
estabelecer a paz social e evitar o pânico e reinserir o individuo na
sociedade com o mínimo de encaminhamento e controle.

2. Perigosidade. Problema na peritagem médico-legal


Ver ponto 1
3. Perigosidade: conceito médico ou jurídico?

✓ Segundo a lei o individuo é inimputável quando:


▪ Menor de 16 anos
▪ Por razão psiquiátrica; a que é alheio, não se encontra na
capacidade de avaliar o acto cometido nem de se ter auto
determinado contra ele na altura em que o cometeu
▪ Por razão psiquiátrica, que não consegue controlar e não deve
ser censurado, tem capacidade de avaliar o acto diminuído bem
como autodeterminação limitada na altura em que o cometeu.
✓ A imputabilidade nega o pressuposto de culpabilidade e como tal os
inimputáveis não comprem pena ate porque não iriam entender o seu
sigm«nificado.
✓ Admite-se que seja perigoso todo o inimputável que possa vir a cometer
outros factos típicos graves.
✓ Quando o juiz decreta a perigosidade de um individuo, pode por lei
submete-lo a um internamento compulsivo em estabelecimento de
cura, segurança ou tratamento por 3 anos ou mais.
✓ Apesar de relacionados entre si, pois a perigosidade assenta num
pressuposto de inimputabilidade, meio circundante, crime,
personalidade e doença psiquiátrica; e o inimputável assenta, entre
outros, nos últimos dois referidos – acabam por também ser um pouco
antítese.
✓ Pois a inimputabilidade pode ser decretada pelo perito e a perigosidade
é um acto judicial.
✓ A inimputabilidade “alivia” o individuo de pena e a perigosidade “pesa”
sobre o individuo com o internamento compulsivo, que pode ser contra
a sua vontade.
✓ No entanto, a existência destes dois estados no código penal permite
estabelecer uma diferença entre indivíduo culpável e não culpável e
assegura um tratamento ao individuo doente para a sua própria
protecção e da sociedade.

4. Na esquizofrenia há sempre inimputabilidade. Comente.

✓ A inimputabilidade é para um acto específico e não para toda a vida.


✓ Não é por encontrarmos uma patologia que se vai considerar o
individuo como inimputável.
✓ O doente mental tem direitos mas também tem o dever de se
comprometer perante a sociedade que o tratou e ajudou, logo a
esquizofrenia não é sinónimo de inimputabilidade, possa embora ser
um factor que leve a decretar a inimputabilidade (quando não
controlado ou não diagnosticado, por exemplo).

MORTE SÚBITA

1. Conceito de Porte Súbita: É uma morte imprevista, aparentemente de causa


natural, mas de patologia desconhecida, habitualmente rápida que pode
acarretar uma suspeita de morte violenta longínqua mas admissível.

2. Morte por inibição e o seu enquadramento médico-legal


✓ A morte por inibição (falência cardíaca aguda neurogénica) é um dos
problemas mais controversos da medicina legal, dado que se trata de
uma morte súbita que acontece num indivíduo que, na maioria dos
casos, não tem nenhum antecedente patológico.
✓ É devido à estimulação simpática ou parassimpática devido a alterações
emocionais (simpatia ou parassimpática), variação da pressão nos eios
carotídeos (parassimpática) ou excitação dos nervos periféricos ou
viscerais (simpática ou parassimpática).
✓ Morte por estimulação simpática:
▪ Arritmia, extrassistoles, fibrilação ventricular
▪ Edema pulmonar
▪ Petéquias na pleura
✓ Morte por estimulação parassimpática:
▪ Resulta da força externa no pescoço, golpes, pequenas
intervenções ou distensões de órgãos ocos.
✓ O diagnóstico de morte por inibição é de exclusão, isto é, quando um
individuo morre de morte súbita, sem causa aparente e a autópsia detalhada
não revela a causa da morte pensamos em morte por inibição.

3. Morte súbita – principais causas:

✓ Sistema cardiovascular:
▪ Arteriosclerose
▪ Cardiopatia hipertensiva
▪ Cardiomiopatias (cardiomiopatia hipertrófica)
▪ Valvuloplastias (estenose aórtica)
▪ Miocardite
▪ Malformações congénitas
▪ Roturas vasculares – tamponamento cardíaco
▪ Mecanismo – arritmia – fibrilação ventricular – morte
✓ Sistema nervoso central:
▪ Hemorragia intracraniana
▪ AVC
✓ Aparelho respiratório:
▪ Tromboembolia de artéria pulmonar
▪ Epiglotite aguda por Haemophilus Intluenzae
▪ Pneumotórax espontâneo
✓ Aparelho digestivo:
▪ Hemorragia (varizes esofágicas)
✓ Sistema endócrino:
▪ Diabetes
▪ Hemorragia supra-renal bilateral
✓ Aparelho genital feminino:
▪ Gravidez ectópica
▪ Embolia do líquido amniótico

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