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PATOLOGIA VISCERAL VETERINÁRIA

1. Técnicas de Necroscopia

A necropsia é um método de valor inestimável e, às vezes, o único para chegar-se ao


diagnóstico das doenças em Medicina Veterinária. O estabelecimento da rotina do uso da
necropsia na prática veterinária proporciona um meio contínuo de aperfeiçoamento
profissional, permitindo a compreensão dos dados clínicos quando comparados às lesões
“post-mortem”.
O necropsia é a secção do cadáver/abrir o animal para a verificação das lesões
que determinam a perda da higidez para estabelecer uma “causa mortis”. O exame
necroscópico tem a finalidade de: diagnosticar lesões e estabelecer a “causa mortis”, confirmar
um diagnóstico clínico e verificar o efeito de uma terapêutica (adequado? eficaz?).
Tipos:

 Necropsia completa: se abre todo o animal independente da suspeita clínica;


 Necropsia parcial: só abre o local da suspeita;
 Verificação de óbito (VO): abertura de todo o corpo que morre (mais utilizado
em humanos);
 Necropsia cosmética: necrópsiaparcial, abrindo o mínimo possível, talvez
porque o proprietário quer de volta;
 Necropsia com finalidade médico-legal: animal que passa por um processo
jurídico. Tem que ser provado a ‘causa morte”;

Requisitos Importantes:

 Ficha de identificação do animal+histórico – informações de suspeita, agiliza


o diagnóstico;
 Informação do horário da morte/momento de realização da necrópsia –
para saber como foi conservado ( fresco (sem alteração cadavérica) ?
Refrigerado (retarda alterações cadavéricas)? Congelado?) se as alterações
foram antimorte ou pós morte;
 Caracterização da morte: fenômenos abióticos imediatos – animal morto
cessa atividade cerebral, respiratória e circulatória;

1.1 Exame Necroscópico

Cada serviço de Patologia tem sua própria técnica de necropsia: variante de uma das
quatro técnicas básicas - de Virchow, Ghon, M. Letulle e de Rokitansky.

• Virchow: os órgãos são retirados um a um e examinados posteriormente.


• Ghon: a evisceração se dá através de monoblocos de órgãos anatomicamente/ou
funcionalmente relacionados.
• M. Letulle: o conteúdo das cavidades torácica e abdominal é retirado em um só
monobloco.
• Rokitansky: os órgãos são retirados isoladamente após terem sido abertos e
examinados "in situ".

1.2 Exame necroscópico de animais

Sequência de Procedimentos :
1. Exame externo: caracterização do animal – identificação (espécie, raça, sexo,
idade, peso, coloração), pelagem e pele, orificios naturais 1 (mucosas – olhos, narinas, boca,
pavilhão auricular, ânus e genitais), condição nutricional, corpos estranhos, ectoparasitas;
2. Abertura de cavidades: incisão mento-pubiana da pele e musculatura, abertura de
cavidades;
3. Retirada de conjuntos: vísceras - verificar posição, tamanho, coloração,
consistência, superfície externa e superfície de corte.
1º Conjunto: língua, faringe, tonsilas, esôfago, laringe, traquéia, tireóides,
paratireóides, timo, pulmões, coração;
2º Conjunto: epíploo e baço:
3º Conjunto: intestinos;
4º Conjunto: diafragma, fígado, vesícula biliar, estômago, duodeno (terço
inicial), pâncreas;
5º Conjunto: adrenais, rins, ureteres, bexiga, próstata, uretra, pênis, prepúcio,
bolsa escrotal, testículos, epidídimo/ovários, útero, vagina;
6º Conjunto: meninges, medula espinal, cérebro, cerebelo;
4. Exame dos órgãos;

1.3 Alterações cadavéricas

Ocorrem secundariamente à perda da atividade metabólica orgânica. A tanatologia é


o ramo da Patologia que estuda a morte, fornecendo os subsídios básicos para o ame
necroscópico. E a cronotanatognose é a caracterização do tempo de morte a partir da
observação do eventos cadavéricos.
“Morte é a ruptura do equilíbrio biológico, físico-químico indispensáveis para a
manutenção da vida, caracterizada pela cessação dos fenômenos vitais: função cerebral,
circulatória e respiratória”.

ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS

1
estruturas bilaterais, comparar sempre!
1.3.1 Fênomemos abióticos
 Imediatos (citados acima);
 Mediatos/ Consecutivos:
 Desidratação cadavérica: perda passiva de líquidos por
evaporação, identificável pela enoftalmia e pela perda da
elasticidade da pele;
 Resfriamento do cadáver (algor mortis): fim da atividade
metabólica, fim da produção de calor, início do
esfriamento. Primeiras 3h: perda muito pequena segue-se uma
perda de aproximadamente 1 grau por hora, tendendo a se
igualar com a temperatura ambiente;
 Manchas cadavéricas (livor mortis): em geral devem-se à
hemólise (impregnação hemoglobínica) e a ação de sulfetos de
hidrogênio de bactérias sobre a hemoglobina, gerando
nuances de azul, verde e púrpura.
 Hipostase: acomodação gravitacional do sangue para o
lado de decúbito do animal. É evidente em órgãos duplos.
Essas manchas aparecem com cerca de 2h após a morte,
tornando-se irreversíveis a partir de 10 a 12h;
 Rigidez cadavérica (rigor mortis): relaxamento muscular é um
evento ativo, com a redução progressiva dos estoques de ATP
ocorre a contração da musculatura do cadáver. Início em
aproximadamente 2-3h post-mortem pela musculatura da
pálpebra, cabeça e pescoço, membros posteriores e
cauda. O desaparecimento ocorre na mesma sequência,
devendo-se ao início do processo autolítico cadavérico, ao
redor de 24 a 48h. post-mortem. O aparecimento é
acelerado em processos infecciosos, quadros convulsivos e
em locais com temperatura ambiente elevada;

1.3.2 Fênomenos Transformativos/bióticos ( exceto autólise)


 Destrutivos:
 Autólise: degradação gradual das células. Um dos primeiros
sinais é o descolamento de mucosas. Período de aparecimento
varia de acordo com o tecido. É mais precoce no tecido
nervoso, pancreático, entérico, adrenal, hepático e mais tardia
na pele, cartilagem e ossos;
 Putrefação: deve-se à multiplicação e invasão bacteriana dos
tecidos. O microorganismo mais relacionado ao evento é o
Clostridium septicum. Passa por períodos:
1. De coloração: inicia-se no abdômen com
manchas esverdeada (sulfametahemoglobina) e embebição
biliar. A partir de 24h;
2. Gasoso: timpanismo abdominal por fermentação
bacteriana no intestino prolapso de reto/vagina, “posição de
lutador”(gás formado no interior de vasos acumulando-se
no interstício e subcutâneo), enfisema cadavérico (acúmulo
de gás no interior de vísceras, como fígado e baço). Odor
ofensivo devido à produção de aminas por bactérias, como a
cadaverina. Em geral em 48h;
3. Coliquativo: dissolução pútrida do cadáver, com
a perda progressiva de volume das partes moles. A partir de
72h;
4. Esqueletização: cadáver se reduz ao esqueleto. Mais
de 3anos para se completar Aqueles veterinários que
aproveitam todas as oportunidades para realizar necropsias se
tornarão mais capazes de realizar diagnósticos clínicos e
talvez serão capazes de ministrar tratamentos mais
precisos. Isso resultará em mais animais curados e melhor
profilaxia....
 Conservadores: mumificação, saponificação e calcificação

2. Princípios de necroscopia
 Técnicas:
o Praticidade;
o Reprodutibilidade;

 Condições Básicas:
o Local/Sala/Mesas/Instrumental/Vestimenta

3. Laudo necroscópico
Deve conter:
 achados anatomo-patológicos;
 moléstia principal;
 causa mortis/“atria mortis”;
 descrição histopatológica;

4. Descrição macroscópica de lesões


 Base para a identificação da doença
1) Diagnóstico
a. “Mapeamento da doença”;
b. Indícios do mecanismo de ação do patógeno;
c. Orientação para a colheita de amostras caso;

 Necessário exame complementar - parâmetros morfológicos:


a. Distribuição: arranjo espacial das lesões no órgão ou tecido;
Ex. aleatória, simétrica, focal, multifocal , miliar (Difusa com
tamanho de grão de alpiste – tendem a aumentar de tamanho),
multifocal acoalescente, segmental, difusa;
b. Delimitação
Ex. Bem delimitado, pobremente delimitado;
c. Superfície externa
Ex. Sobrelevada – fluido, gás, células, estroma , material
exógeno; Deprimida - necrose , trofia; Plana;
d. Tamanho
Ex. Lesões – homogêneo (evolução rápida, progressão
semelhante) ou heterogêneo (desigualdade temporal); Todo o
órgão - maior que o normal ou menor que o normal; Órgãos
pares; Órgãos dinâmicos – rapidamente dinâmico (seg., min./
pulmão, bexiga) ou moderadamente dinâmico (min. ou hrs
/baço, TGI, cérebro) ou lentamente dinâmico (dias meses /
coração, fígado, ln, o. Endócr.);
e. Formato
f. Cor: Natura, pigmentos específicos ou quantidade de sangue;
Vermelho ou vermelho enegrecido: acúmulo sangue,
hemoglobina;
Branco, cinzento ou amarelado: perda de sangue, necrose de
coagulação, fibrose, exsudato , hiperplasia, neoplasia;
Verde: presença de bile ou pigmentos biliares, necrose de
coagulação, inflamação eosinofílica, pneumonia aspirativa,
fungos pigmentados;
Verde – negro: pseudomelanose – associação bile + H 2S;
Negro – acastanhado : melanose , melanoma, fungos
pigmentados – cladosporia, curvularia; castanho –
hemossiderina, fungo pigmentado – drechslera;
g. Consistência
Ex. Crepitante (plástico bolha), macia, firme -> lipoma, dura ->
osteossarcoma, fluido difuso, fluido localizado -> abcesso
(seroso, serosanguinolento, serofibrinoso, quiloso, purulento);
h. Superfície de corte:
Ex. Amorfa, lamelar (estrias semelhante a cascas de cebola),
lobulada, sólida, cística
i. Extensão

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