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Patologia Geral

Prof°: Dr. Mário Assunção


mario_sousavet@hotmail.com
UM BREVE RESUMO DA HISTÓRIA

 Se existe vida, então existe também doença! O conflito

saúde x enfermidade sempre existiu, para toda espécie de

ser vivo. Na pré história, o homem parecia agir

instintivamente, como os animais, no tratamento de suas

enfermidades. Assim, é comum achar pinturas rupestres

de homens das cavernas lambendo suas feridas, ou

bebendo muita água e ficando nas proximidades de

fogueiras quando se tinha febre...


Com o desenvolvimento da inteligência, alguns começaram a se destacar entre
as tribos, utilizando empiricamente ervas, raízes, tecidos animais, ruídos e
mesmo procedimentos "cirúrgicos" (a 4.000 a.C. já existia trepanação craniana,
com cicatrização), para "afastar os maus espíritos" das doenças [daí a
designação comum de "sacerdotes" ou "feiticeiros"]. A doença era tida então
como um reflexo da ira dos deuses...
No Egito dos
Faraós, a mais de
5.000 anos,
desenvolveu-se a
técnica de
embalsamento,
permitindo os
primeiros estudos
anatômicos das
doenças. Assim, em
1900 a.C. no
chamado "Papiro
de Kahum" já havia
referências a`
pequenas cirurgias
e outras
terapêuticas...
Na Grécia, entre
460 a 355 a.C.
Hipócrates de Cós,
considerado ainda
hoje como o "Pai da
Medicina", criou a
célebre "Teoria
Humoral da
Enfermidade", com
base na aparência
externa do indivíduo
e correlacionando
causas e efeitos,
ainda que
empiricamente.
Posteriormente
Galeno contribuiu e
difundiu tal doutrina,
que persistiu até o
início do
Renascimento
Nessa mesma
Roma antiga ,
entre 42 a.C. e 37
d.C. viveu
Cornelius Celsus,
que descreveu os
4 sinais cardeais
da inflamação
["Signa
inflammationis
quatror sunt:
Rubor et Tumor,
cum Calor et
Dolor"],
redescobertos em
1443 pelo Papa
Nicolas V.
• Na idade média, a Inquisição tratou de atrasar o desenvolvimento
científico. Houve total desinteresse na arte, literatura e medicina. .
• Nessa época era comum ver epilépticos serem "tratados a`
porretadas", para espantar os maus espíritos... Poucos conseguiram
estudar a vida e sair ilesos dos tribunais da inquisição"...
• Muitos foram queimados em praça pública, acusados de bruxaria ou
de violar a alma de cadáveres...
Em Florença na Itália, em 1502, Antonio Benivieni realizou
20 necropsias procurando determinar a "causa mortis" e
explicar sintomas.

• Em Verona, em 1546, o monge e médico Girolamo


Fracastorio (1483-1553) descreveu a aftosa bovina
e lançou a teoria da contagiosidade (em "De
contagione").
Entre 1514 e 1564,
Andreas Vesalius
revolucionou a anatomia,
procurando associar
função com estrutura
anatômica. Publicou
"Tabulae anatomica sex"
em 1538 e "De humani
corporis fabrica" em 1543.
Aos 30 anos foi forçado a
abandonar a cátedra de
anatomia em Pádua e,
mais tarde, foi condenado
pela inquisição à uma
peregrinação a Jerusalem,
morrendo no caminho.
O Renascimento marcou a
perda das superstições e
dos medos!
Acabou a Inquisição e fazer
necropsia largou de ser
violação da alma do
cadáver!
Com isto a patologia evoluiu
bastante. Houve intenso
desenvolvimento científico e
o aparecimento de inúmeros
livros e periódicos...
Robert Hooke, estudando a cebola, criou o microscópio e batizou a
unidade fundamental dos tecidos com o nome de "célula" [pequena cela
onde ficavam presos estruturas como o núcleo e o citoplasma...].

Em 1628, William Harvey (1578-1657), descrevia o


sistema circulatório ("Exercitatio anatomica de
motu cordis et sanguinea in animalibus").
• No início do século XVIII, Giovanni Baptista Morgagni (1682-1771)
começou a correlacionar alterações orgânicas constatadas a` necropsia
com sintomas das doenças. Suas anotações lhe valeram a publicação de 2
importantes obras:

• "Adversaria anatomica" e

"De sedibus et causis morborum per anatomen indagatis", esta última


publicada em 1750, descrevendo, discutindo e comentando cerca de 700
necropsias, além do título de "Pai da Anatomia Patológica".
 John Hunter (1728-1793) introduziu a reprodução experimental das
doenças, daí o título de "Pai da Patologia Experimental" [obs.: morreu
de sífilis, adquirida segundo consta, em seu laboratório...].

 François Marie Xavier Bichat (1771-1802) estudou a constituição


tecidual dos órgãos através de métodos físico- químicos, concluindo
existir cerca de 21 tecidos diferentes no ser humano. É, por isto,
considerada o "Pai da Histologia" e também a responsável pela
clássica divisão entre patologia geral e patologia especial.
Rudolph Virchow
(1821-1902),
considerado como o "Pai
da Histopatologia",
pelo batismo da maioria
dos termos ainda hoje
utilizados na prática
médica. Em 1858
escreveu "Die
Cellularpathologie"
(Patologia Celular) e
criou um periódico [em
1847] - "Arquivos de
Virchow", que
permanece até hoje
como um grande
periódico em patologia.
HISTÓRIA DA PATOLOGIA EM FASES

Didaticamente, a Patologia tem sua história dividida em fases. Estas nada mais
são do que a descrição dos conceitos utilizados para explicar a origem dos
estados de doença vigentes em um determinado intervalo de tempo e segundo
a corrente filosófica predominante.

A Fase Humoral (Idade Antiga - final da Idade Média)

O mecanismo da origem das doenças era explicado, nessa fase, pelo


desequilíbrio de humores. Os humores eram considerados os líquidos do
corpo, em particular, a água, o sangue e a linfa. Os deuses tinham o poder de
controlar esse desequilíbrio, bem como de restituir a normalidade do
organismo. Essa visão mítica de doença foi criada principalmente pela
civilização antiga grega.
A Fase Tecidual (séc. XVI-XVIII)

A Fase Tecidual enfatiza a estrutura e a organização dos tecidos. É nesse


período que se iniciam os primeiros estudos sobre as alterações morfológicas
teciduais e suas relações com os desequilíbrios funcionais

A Fase Celular (séc.XIX)

Com o predomínio da visão morfológica, somada à aplicação do microscópio


óptico às pesquisas médicas, segue-se a Fase Celular, período considerado
"inicial à Patologia Moderna". A preocupação com o estudo da célula,
principalmente de suas alterações morfológicas e funcionais, é determinante
na busca da origem de todo processo mórbido.
A Fase Ultracelular (séc. XX)

A Fase Ultracelular é a fase atual do pensamento conceitual sobre Patologia,


envolvendo conceitos sobre biologia molecular e sobre as organelas celulares.
Os avanços bioquímicos e a microscopia eletrônica facilitam o
desenvolvimento dessa linha de estudo.
1. O QUE É PATOLOGIA GERAL?

Os conceitos variam de acordo com o universo em questão.

Para o estudante,

A patologia deve ser encarada como uma introdução ao estudo


(gr. "logos") da doença (gr. "pathos"), abordando principalmente o
mecanismo de formação das doenças e também as causas, as
características macro e microscópicas e as conseqüências destas
sobre o organismo.

É importante (já que a compreensão do mecanismo de formação


das doenças é que vai ser a base para a boa prática clínica,
potenciando diagnósticos)
1. O QUE É PATOLOGIA GERAL?

Para o bom enfermeiro,

a patologia representa um meio de apoio e de


confirmação de diagnósticos.

Para o patologista

profissional treinado para reconhecer morfologicamente


as lesões, a patologia é o estudo das lesões decorrentes
das doenças
1. O QUE É PATOLOGIA GERAL?

Para o patologista

Mas para o bom patologista, mais que um objetivo, o


grande desafio é entender a doença (i.e., saber como e
por que determinadas lesões ocorrem em determinadas
circunstâncias, e quais as suas conseqüências.)

Isto explica por que muitas vezes um quadro patológico


muito ruim (para o paciente) desperta nos patologistas
exclamações com entusiasmo.
1. O QUE É PATOLOGIA GERAL?

Para o curso de Enfermagem,

a patologia é um importante elo entre as disciplinas


básicas (anatomia, histologia, embriologia, fisiologia,
microbiologia, bioquímica e parasitologia) e as
profissionalizantes (clínicas, praticas com os pacientes).
2. O QUE É DOENÇA ?

É uma alteração orgânica geralmente constatada a partir de alterações


na função [sintomas] de determinado órgão ou tecido, decorrentes de
alterações bioquímicas e morfológicas causadas por alguma agressão,
de tal maneira que se ultrapasse os limites de adaptação do organismo.

 O paralelo com "defeito na TV ou no carro" é aceitável, apenas diferindo


em aqui se tratar de alteração em um ser vivo, i.e. envolver muito mais
variáveis, algumas das quais imensuráveis. Assim, o estudo das
doenças não é uma ciência exata, precisa-se portanto saber
interpretar os achados, não somente memorizar esquemas,
circuitos e decisões.
3. COMO SE ESTUDA PATOLOGIA?

Didaticamente, e para efeito de currículos escolares,


a patologia é dividida em 2 disciplinas:

1. Patologia Geral - que estuda os fundamentos


das doenças e objetiva a compreensão e a
classificação das lesões básicas que determinam e
que são determinadas pelas mesmas.

2. Patologia de órgãos e sistemas - que estuda


as características de cada doença, de acordo
com o órgão e sistema acometido.
3. COMO SE ESTUDA PATOLOGIA?

De acordo com a ênfase dado a determinado aspecto, a


patologia pode ser subclassificada em:

• 1. Etiologia - Parte da patologia que se atém às causas das


lesões;

• 2. Patogenia - Parte da patologia que se atém ao mecanismo de


formação das lesões;
3. COMO SE ESTUDA PATOLOGIA?

• 3. Morfopatologia - que por sua vez se subdivide em :

• Anatomia Patológica - Parte da patologia que estuda as


características macroscópicas das lesões

• Histopatologia - Parte da patologia que estuda as características


microscópicas das lesões

• Fisiopatologia - Parte da patologia que se dedica ao estudo das


alterações da função de órgãos lesados
4. COMO ELE TRABALHA?

Da mesma maneira que um fisioterapeuta usa eletroestimulador,


bolssa com gelo, bolsa de água quente, o patologista também utiliza
de um instrumental.

Basicamente este se compõem de :

Mala (e técnica) de necropsia + olhos treinados e atentos.

O importante não é olhar simplesmente, mas sim enxergar!

Microscópio óptico + lâminas de tecidos lesados + olhos treinados e atentos.


5. COMO ELE TRABALHA?

É importante lembrar que o microscópio não é uma "Bola de


Cristal" e que o patologista não é nenhum "mago".

• Existem sempre várias limitações, que vão desde problemas na colheita e


processamento do material até a presença de lesões ainda pouco expressivas ou
subcelulares.

• Exatamente estas limitações é que explicam a existência de virologistas,


sorologistas, toxicologistas, como também o desenvolvimento de técnicas cada vez
mais sofisticadas para atender a necessidade de diagnósticos.
Newton já dizia: "A cada ação corresponde uma reação!" O organismo
também obedece essa lei natural. Assim, a cada agressão, o organismo
reage. Estas reações, no entanto, vão depender da intensidade e da
persistência da agressão e da resistência do local agredido.
6. AGENTES AGRESSIVOS OU ETIOLÓGICOS:

Qualquer agente que determine reações anormais na célula, podendo levar à


perda da capacidade de compensação e gerar alterações bioquímicas,
fisiológicas e morfológicas.

A lesão bioquímica precede a lesão fisiológica que precede a lesão morfológica

Classificação

Intrínsecos:

Extrínsecos:
5. AGENTES AGRESSIVOS OU ETIOLÓGICOS:

 Classificação:

 Intrínsecos:

Modificações no genoma, na hereditariedade e na embriogênese

Erros metabólicos inatos

Disfunções imunológicas (autoimunidade; hipersensibilidades;


imunossupressão);

Distúrbios circulatórios

Disendocrinias (uma neoplasia de glândulas endócrinas)

Distúrbios nervosos e psíquicos

Envelhecimento
6. AGENTES AGRESSIVOS OU ETIOLÓGICOS:

 Classificação:

Extrínsecos:

Físicos:

Temperatura; eletricidade; radiações; sons e ultrasons; magnetismo, gravidade e


pressão.

Químicos:
6. AGENTES AGRESSIVOS OU ETIOLÓGICOS:

 Classificação:

Extrínsecos:

Infecciosos:

Agentes Infecciosos
Agressão Defesa Adaptação Lesão
6. O QUE FAZ UM PATOLOGISTA ?
O patologista definitivamente não é:
"aquele cirurgião que não deu certo!"
"o cirurgião do além!"
"aquele que descobre tudo, mas só depois que o paciente já morreu!"
"aquele cujos pacientes nunca reclamam!"

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