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A Antropologia Médica: Um ensaio de Revisão da Literatura sobre os Conceitos e

Campos de Acção

Medical Anthropology: A literature Review essay on Concepts and Fields of Action

Eleutério Machava, Jerónimo Bernardino, Laura Zita, Patrícia Langa

Machava, E; Jerónimo, B; Zita, L. & Langa, P. (2022). A Antropologia Médica: Um


ensaio de Revisao de Literatura sobre os Conceitos e Campos de Acção. Saúde
Pública.UCM-Maputo

Introdução

O presente ensaio de revisão bibliográfica visa sistematizar e integrar todos os

conhecimentos desenvolvidos e disponibilizados pelos investigadores no campo da

antropologia médica e seus campos de acção.

A antropologia médica estuda a forma como as pessoas, em diferentes culturas e

grupos sociais, explicam as causas dos problemas de saúde, os tipos de tratamento

nos quais elas acreditam e a quem recorrem quando adoecem (Hall, 1984). Ela

também é o estudo de como essas crenças e práticas relacionam-se com as alterações

biológicas, psicológicas e sociais no organismo humano, tanto na saúde quanto na

doença (Hall, 1984).

Por outro lado, A cultura pode ser definida como aquele complexo integral que

inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer outras

capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade

(Tylor, 1871). Pode ser definida também como sistemas de idéias compartilhadas,

sistemas de conceitos e regras e significados que subjazem e são expressos nas

maneiras como os seres humanos vivem (Keesing & Strathern, 1998).

A partir das definições, pode-se ver que a cultura é um conjunto de orientações

(explícitas/implícitas) que os indivíduos herdam como membros de uma sociedade

particular, as quais lhes dizem como ver o mundo, como experimentá-lo

emocionalmente e como se comportar em relação a outras pessoas, às forças

sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural.


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Metodologia

O presente ensaio de revisão bibliográfica foi materializado seguindo todas as fases

de uma uma pesquisa bibliográfica expressiva e efidedigna (identificação de fontes

certas, a consulta das fontes seleccionadas e o registo as informaçoões úteis)

realizada nos seguintes artigos: Elementos Conceituais e Metodólogicos para uma

abordagem da saúde e da Doença (Uchoa & Vidal, 1994); Abrangência da

Antropologia Médica (Helman, 1994); Interdisciplinaridade da Antropologia

(Sevalho & Castiel, 1998) e Saúde e doença em Moçambique de (Granjo, 2009). Em

súmula, os artigos seleccionados abordam conceitos de antropologia médica e sua

evolução histórica, cultura e desigualdades em saúde assim como a

interdisciplinaridade entre as ciências sociais. São também evidenciados subsídios

sobre saúde e doença em Moçambique e os princiapais modelos explicativos de

saúde desenvolvidos e suas implicações para o processo de cura. As buscas foram

através das seguintes palavras-chave: Antropologia, Antropologia Médica, Campos

de Acção da Antropologia Médica e Antropologia Médica em Moçambique.

A interdisciplinaridade da epidemiologia e antropologia médica

A antropologia é uma área de conhecimento que se complementa com diversas áreas

de estudo, especialmente das ciências sociais. Contudo, vários estudos enfatizam a

interração entre a antropologia, epidemiologia e até com a sociologia, dado que não

basta estudar os hábitos e costumes das comunidades sem portanto entender como

as mesmas interragem.

A initerdisciplinaridade entre a antropologia e a epidemiologia surge num primeiro

momento como uma necessidade individual, motivada pela curiosidade e desejo de

“enriquecer-se com novos enfoques”, e do “gosto pela combinação de perspectivas”,

e num segundo momento , como prática colectiva, regida pela aberturaao diálogo,

trabalho em equipa, “sendo dependente da capacidade técnica dos pesquisadores

envolvidos em lidar com questões inerentes a disciplinaridade” (Japiassu, 1976).


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Para além de pontos convergentes descritos por (Japiassu, 1976), a antropologia e a

epidemiologia também apresentam algus pontos divergentes. Enquanto a

epidemiologia é fundamentada por bases quantitativas (ciências duras) de base

experimental e estatística, a antropologia continua a se preocupar com a

interpretação e situaçao da saúde e doença no contexto histórico e cultural asim

como assimilá-los como parte da expriência dos seres humanos (Soares, 1994).

Campos de acção da antropologia

A antropologia, como campo de estudo, apresenta vários ramos (Keesing &

Strathern, 1998):

a) A antropologia Biológica (Antropologia física): que dedica-se ao estudo do

homem enquanto ser biológico, abordando as relações entre natureza e

cultura na constituição do ser humano; a variação dos carácteres biológicos do

homem no espaço e em tempos determinados, e a influência dos fatores

culturais no desenvolvimento do indivíduo.

b) Antropologia Pré-histórica (Arqueologia): estuda o homem através dos

vestígios materiais encontrados no solo ou em inscrições rupestres, buscando

construir interpretações sobre sistemas sócioculturais já desaparecidos.

c) Antropologia Linguística: estuda a linguagem enquanto simbolo da cultura e

transmissão da tradição.

d) Antropologia Social ou Cultural, ou Etnologia: aqui o homem é entendido

enquanto membro de uma cultura e sociedades específicas. Este é o campo de

maior abrangência da antropologia, já que diz respeito a tudo o que constitui

uma sociedade: seus modos de produção económica, suas técnicas, sua

organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, sua religião, sua

arte, etc. Trata-se de compreender o homem na intersecção de sua vida sócio-

cultural, ou seja, na forma como tais aspectos interagem entre si conformando

uma totalidade, a qual pode ser investigada pelo antropólogo.


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Saúde e doença em Moçambique

Existem vários modelos explicativos para a abordagem antropológica da saúde e

doença. No entanto, em Moçambique predomina o modelo explicatico “Familiar”

proposto por (Kleinman, 1980), onde as concepções de saúde são formadas pelas

seguintes formas de pensar e agir:

a) Ausência do acaso (nenhum acontecimento indesejável se limita a ser

natural): nenhuma doença e morte é concebida como “natural,” ainda que se

considere as suas razões materiais imediatas.

b) Presença de duas lógicas para explicar o inforúnio: segundo este sistema de

interpretação as doenças e os acidentes não envolvem uma mas antes, duas

diferentes lógicas e relação de casualidade.

Tipos de explicação
AVC (Trombose) Modelo familiar Modelo dos profissionais de
saúde
Lógica das Como “Secou uma parte Desartria ;
relações aconteceu do corpo”. Afasia; Hemipaséria.
causais ?
(Biomedicina)
Porque Porque foi Factores genéticos;
Lógica da aconteceu enfeitiçado. História Familiar de Hipertensão.
origem do ? Complicação da Hipertensão
Falta de
infortúnio Arterial frequente em pacientes
protecção dos
(Medicina Porque
antepassados por mal seguidos (que abandonam a
tradicional ) àquela
omissão das suas medicação).
pessoa?
responsabilidade
s para com
eles ;etc.
Exemplo: Saúde e doença na perspectiva do modelo familiar de Kleinman

Relação do texto com a Saúde Pública

Os conhecimentos adquiridos na antropologia médica fornecem evidências para a

reformulação de Programas de Saúde adequados a realidade sóciocultural das

comunidades, com o objectivo de melhorar a saúde da população.

Conclusão
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A antropologia médica tem uma relação de complementaridade com as outras

ciências sociais e em especial com a epidemiologia. Apesar da clara convergência

desses campos de estuso, ainda existem desafios visto que, a epideiologia e a

antropologia observam os contextos de saúde e doença em perspectivas divergentes.

No contexto moçambicano as concepções predominantes de saúde e doença entre a

população foram desenvolvidas com base no Modelo explicavo familiar que

fundamenta a existência de duas lógicas para explicar o processo de doença, sendo

que a biomedicina limita-se a explicar “como aconteceu” o infortúnio e a medicina

tradicional a explicar porquê e porque aconteceu àquela pessoa.

Em geral, a concepção da saúde e doença na antropologia médica vai além da

biomedicina, ou seja, reconhece-se a necessidade de tomar em consideração os

valores, atitudes e crenças, agústias, medos, sofrimentos e cultura de uma população

no momento de elaborar estratégias de promoção de saúde.

Refereências bibliográficas

 Granjo, P. (2009). Saúde e doença em Moçambique. Saúde e sociedade, 18, 567-


581.
 Hall, E. T. (1984). The Dance of Life. Surbiton: Anchor Press, pp. 230-31.
 Helman, C. G. (1994). Cultura, saúde e doença. Artmed Editora;
 Japiassu, H. (1976). Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro:
Imago.
 Keesing, R.M., Strathern, A.J. (1998). Cultural Anthropology: A
Contemporary Perspective, 3rd edn. London: Harcourt Brace.
 Kleinman, A., 1980. Patients and Healers in the Context of Cultures. An
Exploration of Boderland between Anthropology and Psychiatry. Berkeley/Los
Angeles: California.
 Sevalho, G.; Castiel, L. D. (1998). Epidemiologia e antropologia médica: a
possível in (ter) disciplinaridade. Alves C, Rabelo MA, organizadores.
Antropologia da saúde: traçando identidade e explorando fronteiras. Rio de Janeiro:
Relumé-Dumará, 47-69.
 Soares, L.E.(1994). O rigor da indisciplina. Rio de Janeiro: Ed Relume-Dumará
 Tylor, E. (1871). Primitive Culture: Research into the Development of Mythology,
Philosophy, Religion, Art, and Custum. New York: J. P. Putnam’s Sons.
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 Uchôa, E.; Vidal, J. M. (1994). Antropologia médica: elementos conceituais e


metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença. Cadernos de Saúde
Pública, 10, 497-504.

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