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Antropologia e saúde
Resumo
Este trabalho visa compreender a abrangência da antropologia médica, a qual
consiste nos modos de interpretar e conceber saúde e doença em diferentes
contextos interculturais. Seu campo de estudo é de suma importância para a análise
e intervenção na área da saúde, pois estabelece uma estreita relação entre as
práticas culturais e as formas adequadas de atenção a indivíduos e comunidades.
Pôde-se concluir que a antropologia médica busca unir conceitos ou mesmo
incentivar os laços entre conhecimento científico e aspectos culturais, no sentido de
entender a multiplicidade de fatores envolvidos em processos de saúde e doença.
Nesse sentido, os aspectos culturais devem ser levados em consideração na
prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças.
Abstract
The purpose of this paper is to comprehend the broadness of the medical
anthropology, which consists in the ways to interpret and conceive health and
disease in inter-cultural contexts. This field of study is of great importance for
analysis and intervention in the health area, for it establishes a close relationship
between the cultural practices and the adequate care to the people and the
community. It was possible to conclude that the medical anthropology tries to join
concepts or even encourage the bonds between scientific knowledge and cultural
aspects in a way to understand the numerous factors concerning processes of health
and disease. Therefore, the cultural aspects must be taken into consideration in
preventing, diagnosing, and treating diseases.
Introdução
Este estudo tem como tema a abrangência da antropologia médica, definida
por Helmam (2003) como a maneira com que as diferentes culturas reagem ao
Doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e
docente da Universidade de Cuiabá (UNIC-Campus Tangará da Serra).
Acadêmico do 4º semestre do Curso de Odontologia da Universidade de Cuiabá (UNIC-Campus
Beira Rio).
enfrentar o estado de doença ou mesmo o estado de saúde; a quem as pessoas
recorrem quando estão em processo doentio; a quem elas atribuem causas de uma
doença; a crença no tratamento e na prevenção. Esse campo de análise relaciona
conceitos biológicos e antropológicos para explicar a doença e a saúde.
Este estudo tem como objetivo compreender o conceito antropologia médica
e o que ela estuda; analisar a sua importância para a área de saúde, bem como
conhecer alguns casos que exemplificam as diferentes concepções culturais de
doença e saúde.
É necessário compreender a antropologia médica para que esta possa ser
aplicada no tratamento de doenças ou até mesmo para entender o estado de saúde
de indivíduos inseridos em diferentes grupos sociais. Na área de saúde, ter noções
desse ramo da antropologia é de extrema importância ao profissional no momento
em que ele entra em contato com seus pacientes.
O estudo da antropologia contribui não só para este profissional, como
também para os outros envolvidos na área da saúde, para entenderem
determinados casos, dando espaço para que os aspectos culturais de seus
pacientes sejam levados em consideração, e haja assim uma troca de informações,
uma comunicação de dois mundos diferentes e complementares (profissional e
paciente) que levem ao êxito na intervenção clínica.
Conceitos básicos
Um dos conceitos fundamentais para a compreensão da importância da
antropologia médica é o de cultura. “[...] cultura diz respeito à humanidade como um
todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos
humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram,
logo se constata a sua grande variação” (SANTOS, 1994. p. 08).
Além de ser múltipla, a cultura também é histórica, ou seja, ela se transforma
ao longo do tempo, incorporando novos elementos pertencentes às inovações
econômicas, políticas, tecnológicas, éticas e biomédicas que a sociedade produz.
[...] cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica
é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar
comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental
para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas
diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro
do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem
para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do
porvir (LARAIA, 2007, p. 101).
A cultura é “a vida total de um povo, a herança social que o indivíduo adquire
de seu grupo ou pode ser considerada a parte do ambiente que o próprio homem
criou” (OLIVEIRA, 2001, p. 135).
O estudo da cultura pertence ao universo analítico da antropologia e suas
diversas ramificações. “A antropologia – do grego ‘estudo do homem’ tem sido
chamada ‘a mais científica das humanidades e a mais humana das ciências’”
(KEESING, 1997 apud HELMAM, 2003, p. 11).
A Antropologia Médica
A abordagem antropológica contempla uma amplitude de áreas ou campos
de análise. Isso se deve pela necessidade de adentrar em certas especificidades,
para melhor compreensão dos fenômenos culturais. Essa divisão meramente teórica
não reduz a complementaridade da antropologia com outras áreas do conhecimento
ligadas à multiplicidade da vida social.
Desde muito cedo que os antropólogos, ao realizarem os seus trabalhos de
campo, se depararam com fenómenos culturais relacionados com as
dimensões biológicas do homem. [...] As tradições e costumes ligados ao
nascimento, à transição para a vida adulta, à reprodução, à doença ou à
morte são apenas alguns exemplos que podemos enumerar. Para além do
recurso às ciências médicas para explicar estes fenómenos, o antropólogo
verificou que os contornos dos ‘comportamentos de doença’ diferiam
substancialmente de sociedade para sociedade. Estas curiosidades
antropológicas, que mais tarde foram partilhadas pelos profissionais de
saúde, legitimaram decisivamente a aproximação entre a antropologia e a
medicina (ABREU, 2003, p. 83).
Foster e Anderson (1978) citado por Helmam (2003, p. 15) afirmam que a
antropologia médica ou antropologia da saúde:
Considerações finais
Pode-se concluir que a antropologia médica tem como intuito estreitar os
laços ou as relações entre o campo científico e os valores culturais na comunicação
em saúde, ou seja, entender doença e/ou saúde, buscando conciliar ou mesmo unir
conceitos científicos e conceitos culturais de acordo com o tipo de cultura e grupo
social.
No mundo ocidental, a verdade sobre saúde e doença é explicada pela
ciência, mas em outras localidades é obtida através dos ensinamentos tradicionais;
do que a pessoa adquire ao longo da vida com a família e com a comunidade.
Entretanto, esta realidade está sendo mudada, pois aspectos culturais são tão
importantes quanto os conhecimentos científicos, uma vez que estes últimos não
explicam tudo, não esclarecem nem desvendam todos os mistérios da vida. Os
conceitos culturais necessitam ganhar espaço, tanto para poder compreender a
causa, tanto para o tratamento e a prevenção da doença.
Por fim, é possível compreender que o espaço (lugar) e o tempo influenciam
no modo das pessoas ou comunidades concebem uma dada doença, ou entendem
o estado de saúde e mudanças do corpo. Estes fatores (espaço e tempo) também
influenciam no modo de tratar e apontar as causas de uma doença; visão esta
proporcionada pelo conhecimento antropológico, que aborda em uma perspectiva
multicultural as diferentes perspectivas de saúde e doença.
Referências bibliográficas
HELMAM, Cecil G. Cultura, Saúde e Doença. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia.1 ed. São Paulo: Brasiliense s.a.,
1999.
SANTOS, José Luiz. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção
Primeiros Passos)