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REVISTA ESPAÇO DA SOPHIA - Nº 26 - MAIO/2009 – MENSAL – ANO II

Antropologia e saúde

Juliano Luis Borges


Silas Antônio Juvêncio de Freitas Filho

Resumo
Este trabalho visa compreender a abrangência da antropologia médica, a qual
consiste nos modos de interpretar e conceber saúde e doença em diferentes
contextos interculturais. Seu campo de estudo é de suma importância para a análise
e intervenção na área da saúde, pois estabelece uma estreita relação entre as
práticas culturais e as formas adequadas de atenção a indivíduos e comunidades.
Pôde-se concluir que a antropologia médica busca unir conceitos ou mesmo
incentivar os laços entre conhecimento científico e aspectos culturais, no sentido de
entender a multiplicidade de fatores envolvidos em processos de saúde e doença.
Nesse sentido, os aspectos culturais devem ser levados em consideração na
prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças.

Palavras-Chave: antropologia médica, cultura, saúde, doença.

Abstract
The purpose of this paper is to comprehend the broadness of the medical
anthropology, which consists in the ways to interpret and conceive health and
disease in inter-cultural contexts. This field of study is of great importance for
analysis and intervention in the health area, for it establishes a close relationship
between the cultural practices and the adequate care to the people and the
community. It was possible to conclude that the medical anthropology tries to join
concepts or even encourage the bonds between scientific knowledge and cultural
aspects in a way to understand the numerous factors concerning processes of health
and disease. Therefore, the cultural aspects must be taken into consideration in
preventing, diagnosing, and treating diseases.

Key words: medical anthropology; culture; health; disease.

Introdução
Este estudo tem como tema a abrangência da antropologia médica, definida
por Helmam (2003) como a maneira com que as diferentes culturas reagem ao

Doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e
docente da Universidade de Cuiabá (UNIC-Campus Tangará da Serra).
Acadêmico do 4º semestre do Curso de Odontologia da Universidade de Cuiabá (UNIC-Campus
Beira Rio).
enfrentar o estado de doença ou mesmo o estado de saúde; a quem as pessoas
recorrem quando estão em processo doentio; a quem elas atribuem causas de uma
doença; a crença no tratamento e na prevenção. Esse campo de análise relaciona
conceitos biológicos e antropológicos para explicar a doença e a saúde.
Este estudo tem como objetivo compreender o conceito antropologia médica
e o que ela estuda; analisar a sua importância para a área de saúde, bem como
conhecer alguns casos que exemplificam as diferentes concepções culturais de
doença e saúde.
É necessário compreender a antropologia médica para que esta possa ser
aplicada no tratamento de doenças ou até mesmo para entender o estado de saúde
de indivíduos inseridos em diferentes grupos sociais. Na área de saúde, ter noções
desse ramo da antropologia é de extrema importância ao profissional no momento
em que ele entra em contato com seus pacientes.
O estudo da antropologia contribui não só para este profissional, como
também para os outros envolvidos na área da saúde, para entenderem
determinados casos, dando espaço para que os aspectos culturais de seus
pacientes sejam levados em consideração, e haja assim uma troca de informações,
uma comunicação de dois mundos diferentes e complementares (profissional e
paciente) que levem ao êxito na intervenção clínica.

Conceitos básicos
Um dos conceitos fundamentais para a compreensão da importância da
antropologia médica é o de cultura. “[...] cultura diz respeito à humanidade como um
todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos
humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram,
logo  se  constata  a  sua  grande  variação”  (SANTOS,  1994.  p.  08).
Além de ser múltipla, a cultura também é histórica, ou seja, ela se transforma
ao longo do tempo, incorporando novos elementos pertencentes às inovações
econômicas, políticas, tecnológicas, éticas e biomédicas que a sociedade produz.

[...] cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica
é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar
comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental
para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas
diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro
do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem
para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do
porvir (LARAIA, 2007, p. 101).

A  cultura  é  “a  vida  total  de  um  povo,  a  herança  social  que  o  indivíduo  adquire  
de seu grupo ou pode ser considerada a parte do ambiente que o próprio homem
criou”  (OLIVEIRA, 2001, p. 135).
O estudo da cultura pertence ao universo analítico da antropologia e suas
diversas ramificações. “A   antropologia   – do   grego   ‘estudo do homem’ tem sido
chamada ‘a mais científica das humanidades e a mais humana das ciências’”  
(KEESING, 1997 apud HELMAM, 2003, p. 11).

[...] A antropologia não é senão um certo olhar, um enfoque, que consiste


em: (a) o estudo do homem inteiro; (b) o estudo do homem em todas as
sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as
épocas (LAPLANTINE, 1999, p. 16).

Laplantine (1999) afirma que um dos campos de análise da antropologia é a


antropologia social, a qual enfatiza as dimensões sociais da vida humana, abrange a
união das instituições (família, moral e religião) como forma de integração. Também
é de relevância destacar neste estudo a antropologia cultural que corresponde ao
comportamento do próprio indivíduo, tornando-o autônomo/ independente da sua
própria forma de se expressar (símbolos, ideias e significados).
De acordo com Laplantine (1999), ambas ramificações (social e cultural)
estão ligadas à sociologia comparativa na qual estuda a sociedade humana
contemporânea e seus sistemas culturais.
Atesta Helmam (2003) que a principal diferença entre as duas áreas da
antropologia é que a social dá ênfase na forma dos grupos se organizarem e a
cultural é a de como vêem o mundo que habitam.

A Antropologia Médica
A abordagem antropológica contempla uma amplitude de áreas ou campos
de análise. Isso se deve pela necessidade de adentrar em certas especificidades,
para melhor compreensão dos fenômenos culturais. Essa divisão meramente teórica
não reduz a complementaridade da antropologia com outras áreas do conhecimento
ligadas à multiplicidade da vida social.
Desde muito cedo que os antropólogos, ao realizarem os seus trabalhos de
campo, se depararam com fenómenos culturais relacionados com as
dimensões biológicas do homem. [...] As tradições e costumes ligados ao
nascimento, à transição para a vida adulta, à reprodução, à doença ou à
morte são apenas alguns exemplos que podemos enumerar. Para além do
recurso às ciências médicas para explicar estes fenómenos, o antropólogo
verificou   que   os   contornos   dos   ‘comportamentos   de   doença’   diferiam  
substancialmente de sociedade para sociedade. Estas curiosidades
antropológicas, que mais tarde foram partilhadas pelos profissionais de
saúde, legitimaram decisivamente a aproximação entre a antropologia e a
medicina (ABREU, 2003, p. 83).

A relação entre a antropologia e a medicina permite a análise da influência


cultural em processos de saúde e doença, relacionados a práticas cotidianas, rituais
e tradicionais em diferentes sociedades e, também, na mesma sociedade.

A antropologia médica aborda as maneiras pelas quais as pessoas em


diferentes culturas e grupos sociais, explicam as causas dos problemas de
saúde. Relacionam-se também, aos tipos de tratamento nos quais as
pessoas acreditam e aos indivíduos a quem recorrem quando, de fato,
adoecem. A antropologia médica é, também, o estudo de como essas
crenças e práticas relacionam-se as mudanças biológicas, psicológicas e
sociais do organismo humano, tanto na saúde quanto na doença (HELMAM,
2003, p. 11).

Foster e Anderson (1978) citado por Helmam (2003, p. 15) afirmam que a
antropologia médica ou antropologia da saúde:

É uma disciplina biocultural, preocupada tanto com os aspectos biológicos


quanto com os aspectos sócio-culturais do comportamento humano e
especialmente, com os modos pelos quais eles interagem no decorrer da
história humana de modo a influenciar a saúde e a doença.

Uchôa e Vidal (1994) associam o estado de saúde de uma dada população


(ou indivíduo) ao seu modo de vida, ou seja, de acordo com os costumes, regras,
normas, valores e crenças desse povo – social e cultural. Diz ainda que para
reverter à situação permanente do estado de doença para o estado de saúde é
preciso que esse indivíduo ou essa população altere algumas questões no seu modo
de vida.
Para esclarecer sobre a ideia de uma disciplina biocultural, pode-se citar
como exemplo, a descoberta de uma doença genética transmitida por um gene
recessivo, que ocorre em algumas populações devido a sua preferência cultural. A
endogamia é um exemplo claro sobre o assunto. Pois, nos casamentos entre
pessoas da mesma família ou de grupos relacionados há uma certa prevalência das
crianças nascerem com certa doença. Logo, para diagnosticar a causa, entra em
ação duas vertentes: a da medicina – preocupada em tratar a doença ou buscar a
sua causa/cura, com base em teorias, no conhecimento cientifico ou em outros fatos
já ocorridos; e a da antropologia social – preocupada com os modos de
relacionamento (no caso, o matrimônio). Logo, a junção dessas duas vertentes:
biológica (médica) e antropológica forma a chamada disciplina biocultural (FOSTER;
ANDERSON, 1978 apud HELMAM, 2003).
Good & DelVecchio Good (1980) citados por Uchôa e Vidal (1994) dizem
que na maioria dos casos as informações culturais do indivíduo tem sido
consideradas irrelevantes, sem significado para o tratamento e prevenção das
doença. Mas Tylor et al. (1987) citado por Uchôa e Vidal (1994) dizem que nos
estudos recentes tem-se dado espaço aos aspectos culturais dos indivíduos para
tratar ou prevenir uma doença.
Como exemplo da participação dos aspectos culturais dos indivíduos na
utilização dos serviços de saúde podem ser citadas as campanhas de vacinação, em
que alguns povos não aceitam ou não compreendem o porquê de dar medicamentos
para uma criança visivelmente sadia, o porquê em horas após a medicação ela terá
febre, não entendem que isto será um benefício em longo prazo. Logo, essas
campanhas   de   vacinação   “[...] exigem que se levem em conta as particularidades
culturais   e   os   diferentes   processos   lógicos   predominantes   em   cada   contexto”
(UCHÔA; VIDAL, 1994, p. 499).
Fincham (1992 apud UCHÔA; VIDAL, 1994) afirma que os programas de
saúde pressupõem que a informação gera uma transformação automática dos
comportamentos das populações frente às doenças, ou seja, de acordo com que são
apresentados e esclarecidos os programas, eles passam a atuar/ mudar os modos
de vida (pensar e agir) desse povo em relação à doença.
De acordo com Helmam (2003, p. 15) os antropólogos afirmam que “[...]  em
todas as sociedades humanas, as crenças e as práticas relacionadas aos problemas
de saúde são um elemento  central  da  cultura”.

Muitas vezes, tais práticas relacionam-se às crenças sobre a origem de


infortúnios (acidentes, conflitos inter-pessoais, desastres naturais, quebras
da lavoura, roubo e perda), dos quais a doença é apenas uma das formas.
Em algumas sociedades, os infortúnios são atribuídos às forças
sobrenaturais, ou à retribuição divina ou à malevolência de um bruxo ou
feiticeiro. Não é possível entender como as pessoas reagem à doença, à
morte ou a outros infortúnios sem entender o tipo de cultura na qual
cresceram ou que adquiriram – isto é, sem entender um pouco da ‘lente’
através da qual elas enxergam e interpretam o mundo (HELMAM, 2003, p.
15).

Helmam (2003) também cita que ao tentar entender os modos de reação de


indivíduos frente à falta de saúde (doença), no caso a procura por uma assistência,
é preciso dar relevância aos aspectos culturais e sociais desses indivíduos, do meio
em que eles vivem e interagem.
Assim como é preciso conhecer a cultura de indivíduos para notar como eles
reagem frente à doença, morte, infortúnios e outros, de forma semelhante ou
diferente, é preciso conhecer a cultura desses indivíduos para ver como eles atribui
às causas de uma determinada doença e como a trata (UCHÔA; VIDAL, 1994).
Green (1992) citado por Uchôa e Vidal (1994, p. 499) afirma que “[...] a
causa principal das doenças sexualmente transmissíveis é, em várias sociedades
africanas, percebida como a violação de normas que governam os comportamentos
sexuais”.   Ainda   esclarece,   que   a   população   não   procura tratamento com os
médicos, mas sim com terapeutas tradicionais.
Num estudo realizado em Gana sobre percepções e práticas frente à
malária, foi mostrado que popularmente não se conhecia o termo malária, mas sim
“asra”  e  que  as  pessoas  não  associavam  o  vetor à doença, mas acreditavam que a
“asra”   era   causada   por   excessiva   exposição   ao   calor.   Não   acreditavam   na   cura   da  
doença pela medicina e as formas de prevenção eram pequenas, pois evitar o sol
seria algo quase impossível. A partir deste relato, tem-se noções mais amplas sobre
a abrangência da antropologia médica podendo observar que ela está presente
geralmente em quase todas as comunidades, ocupando lugar significativo na vida
humana (UCHÔA; VIDAL, 1994, p. 499).
Diante das diferentes formas de atribuir as causas e tratamento de uma
certa cultura a uma dada doença, verifica-se como exemplo um estudo realizado na
zona rural do Paquistão. Muitos desconheciam e rejeitavam a terapia de reidratação
oral (TRO), mesmo o país produzindo a solução (medicamento) desse tratamento
em alta escala. Muitas mães não sabiam como usar a solução de reidratação oral
(SRO) e muitas diziam que a diarréia era natural e não uma doença; era algo que já
se esperava pelo processo de dentição e crescimento. Ainda certas mães achavam
inviável interromper a diarréia, pois tinham medo do calor interno dos bebês se
espalhar para o cérebro, causando febre. Logo, conceituando a diarréia como uma
doença quente, essas mães davam ervas e mudavam a alimentação das crianças
para que a temperatura destas voltassem ao normal – tratamento com o frio.
Também diziam que remédios ocidentais eram quentes e inadequados, além de
crerem que o sal da solução de reidratação oral (SRO) ser prejudicial para quem
estava com diarréia (HELMAM, 2003).
Helmam (2003) afirma que os antropólogos estudam o homem de acordo
com a sua idade, ou melhor, em determinados períodos de sua vida, dando ênfase
tanto aos estágios biológicos quanto fatores culturais nestes envolvidos, além de
cada classe etária ter dimensões sociais e psicológicas profundas. Dá ênfase a dois
períodos da vida humana: a infância e a velhice.

Na construção da cultura da infância, tanto em casa como na escola, as


crianças não são apenas recipientes passivos do processo. Elas também
desenvolvem sua própria sabedoria e linguagem e contribuem para o
desenvolvimento de sua própria identidade (HELMAM, 2003, p. 17).

Helmam (2003, p. 18) esclarece que “[...] a importância do estudo


antropológico da infância vem crescendo devido às implicações de diversas
questões  sociais  para  a  saúde”.  Ele  cita  sobre  essas  questões,  o  que  normalmente  
acontece com crianças em países pobres, não-industrializados, que são: o trabalho
infantil, abusos e usos de diversas maneiras (físico, sexual, moral, em conflitos de
guerras), a prostituição, e o abandono que aumenta significativamente o número de
crianças sem um lar.
A ênfase ao estudo da velhice na antropologia é recente, isso devido ao
aumento do número de pessoas idosas em todo o mundo. O envelhecimento
biológico nem sempre acarreta envelhecimento social e psicológico. A idade relativa
à velhice varia de uma cultura para outra, assim como as atitudes em que algumas
sociedades consideram-se inadequadas para idosos, em outras é, especialmente,
normais; como, por exemplo, relações sexuais e o uso de roupas coloridas
(HELMAN, 2003).
Conforme Helmam (2003), nas sociedades industrializadas ocidentais o
idoso é tido como algo improdutivo, incapaz, desvalorizado. Isso ocorre por que
nessas sociedades dão-se valor ao raciocínio, ao cálculo, a capacidade de
compreensão, a retenção de dados, boa memória e agilidade. Consequentemente,
essas sociedades afirmam que idosos não possuem estas características, logo tem
uma queda marcante no status social.
As transformações que ocorrem na velhice, como, por exemplo, a demência,
em determinada sociedade não é vista como um problema em saúde pública é algo
considerado normal e compreensível do envelhecimento, mas, em outras
sociedades é vista como uma doença, considerada algo patológico. Outro exemplo,
é que em algumas sociedades os idosos são bem tratados pelos seus parentes, já
em outras são abandonados ou maltratados, pois velhas dementes correm o risco
de ser acusadas de bruxaria, podendo até serem condenadas à morte (HELMAM,
2003).
De acordo com Helmam (2003) alguns antropólogos se destinam a estudar a
antropologia médica aplicada clinicamente, ou seja, estão mais envolvidos na prática
clínica, em programas de educação em saúde voltados à prevenção e assistência
médica. Atuam como conscientizadores de colegas sobre a importância da cultura
no estado de saúde e doença ou como profissional de saúde ou terapeuta
trabalhando em sua área de saúde específica. Procuram melhorar a prestação de
serviços em saúde, analisando o indivíduo como um todo, com visão holística
(geral), e indo ao encontro disso – atuação prática.

Kleinman (1980), inspirado em Geertz (1973), afirma que a cultura fornece


modelos   ‘de’   e   ‘para’ os comportamentos humanos relativos à saúde e a
doença. Segundo Kleinman, todas as atividades de cuidados em saúde são
respostas socialmente organizadas frente às doenças e podem ser
estudadas como um sistema cultural [...] (UCHÔA; VIDAL, 1994, p. 500).

Kleinman (1980) citado por Uchôa e Vidal (1994) elaborou o conceito de


modelo explicativo para estudar os traços cognitivos e os problemas de
comunicação associados às atividades de saúde. Ainda faz uma distinção entre
modelos explicativos dos profissionais e os modelos explicativos utilizados pelos
doentes e seus familiares.

Illness, o equivalente a   ‘perturbação’   é a forma como os indivíduos e os


membros de sua rede social percebem os sintomas, categorizam e dão
atributos a esses sintomas, experienciando-os, articulando esse sentimento
por meio de formas próprias de comportamento e percorrendo caminhos
específicos em busca da cura. [...] o indivíduo atribui significado a doença.
Por outro lado, o disease é a forma como a experiência da doença (illness)
é reinterpretada pelos profissionais de saúde à luz de seus modelos teóricos
e que os orienta em seu trabalho clínico (KLEINMAN, 1978, 1980, 1986
apud OLIVEIRA, 2002, p. 65).
Segundo Oliveira (2002, p. 65) além da comunicação, há a criação de
significados de ambos os lados e que a cultura dos dois grupos envolvidos sempre
estará presente. “[...]  Uma  relação que se estabelece entre serviços e usuários, [...]
pressupõe uma comunicação com duas vias de fluxo, encontro duas visões de
mundo diferentes, entre illness [...] e disease [...]”.

Considerações finais
Pode-se concluir que a antropologia médica tem como intuito estreitar os
laços ou as relações entre o campo científico e os valores culturais na comunicação
em saúde, ou seja, entender doença e/ou saúde, buscando conciliar ou mesmo unir
conceitos científicos e conceitos culturais de acordo com o tipo de cultura e grupo
social.
No mundo ocidental, a verdade sobre saúde e doença é explicada pela
ciência, mas em outras localidades é obtida através dos ensinamentos tradicionais;
do que a pessoa adquire ao longo da vida com a família e com a comunidade.
Entretanto, esta realidade está sendo mudada, pois aspectos culturais são tão
importantes quanto os conhecimentos científicos, uma vez que estes últimos não
explicam tudo, não esclarecem nem desvendam todos os mistérios da vida. Os
conceitos culturais necessitam ganhar espaço, tanto para poder compreender a
causa, tanto para o tratamento e a prevenção da doença.
Por fim, é possível compreender que o espaço (lugar) e o tempo influenciam
no modo das pessoas ou comunidades concebem uma dada doença, ou entendem
o estado de saúde e mudanças do corpo. Estes fatores (espaço e tempo) também
influenciam no modo de tratar e apontar as causas de uma doença; visão esta
proporcionada pelo conhecimento antropológico, que aborda em uma perspectiva
multicultural as diferentes perspectivas de saúde e doença.

Referências bibliográficas

ABREU. Wilson C. Saúde, Doença e Diversidade Cultural. Lisboa: Instituto Piaget,


2003.

HELMAM, Cecil G. Cultura, Saúde e Doença. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia.1 ed. São Paulo: Brasiliense s.a.,
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LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge


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OLIVEIRA, Francisco A. Antropologia nos serviços de saúde: integralidade, cultura e


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SANTOS, José Luiz. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção
Primeiros Passos)

UCHÔA, Elizabeth; VIDAL, Jean Michel. Antropologia Médica: elementos conceituais


e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença. Caderno de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 497-504, out/dez. 1994.

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