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ISSN: 1413-8123
cecilia@claves.fiocruz.br
Associação Brasileira de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva
Brasil
Colombo Pauleto, Adriana Regina; Toralles Pereira, Maria Lucia; Goldfarb Cyrino, Eliana
Saúde bucal: uma revisão crítica sobre programações educativas para escolares
Ciência & Saúde Coletiva, vol. 9, núm. 1, 2004, pp. 121-130
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Rio de Janeiro, Brasil
ARTIGO ARTICLE
programações educativas para escolares
Abstract The Brazilian epidemiological situa- Resumo Em saúde bucal, a situação epidemio-
tion in oral health is still serious due to inappro- lógica brasileira ainda é grave devido às condições
priate social and economic conditions of the pop- sociais e econômicas da população, à pequena
ulation; the small amount of investment com- parcela de investimentos que a área recebe em re-
pared to the total amount of SUS; and lack of in- lação ao total do SUS e à falta de informação so-
formation about basic health cares. Although the bre os cuidados básicos de saúde. Embora a odon-
dentistry sector seems to be very developed re- tologia se mostre muito desenvolvida em tecnolo-
garding technology, it does not meet significantly gia, não responde em níveis significativos às de-
the population demand for oral health. In accor- mandas dos problemas de saúde bucal da popula-
dance to this fact, oral health education has been ção. Nesse contexto, a educação em saúde bucal
required every day more, with regard to the low tem sido cada vez mais requisitada, considerando
costs and the possibilities of odontologycal impact o baixo custo e as possibilidades de impacto odon-
on public and collective scope. The main reason tológico no âmbito público e coletivo. A impor-
1 Programa de
for this study was the importance of preventive tância de práticas preventivas e educativas em
Pós-Graduação em Saúde and educative actions in oral health, aiming dif- saúde bucal nos levou a realizar este estudo,
Coletiva, Faculdade ferent odontologycal programmes by means of re- apontando diferentes programas odontológicos,
de Medicina de Botucatu, view studies, to analyse their proposals, method- mediante estudo de revisão, para analisá-los em
Universidade Estadual
Paulista. Rua Sérvio Túlio ologies, possibilities and limitations, seeking to suas propostas, metodologias, possibilidades e li-
Carrijo Coube 3-33/31, consider the theme focusing in educative aspects mitações, visando refletir sobre o tema com foco
bloco A, Jd. Infante Dom that still challenge oral health programmes. In the nos aspectos educativos que ainda desafiam os
Henrique, 17044-490,
Bauru SP. analysed programmes were identified four ten- programas de saúde bucal. Identificaram-se qua-
adrianapauleto@hotmail.com dencies. The study pointed out the necessity of re- tro tendências nos programas analisados. O estu-
2 Departamento
think the educative actions. do apontou para a necessidade de se repensar as
de Educação. Programa
de Pós-Graduação em Key words Educative programmes, Oral health, práticas educativas.
Saúde Coletiva, Faculdade Health programmes, Education in health Palavras-chave Programas educativos, Saúde
de Medicina de Botucatu, bucal, Programas em saúde, Educação em saúde
Universidade Estadual
Paulista.
3 Departamento de Saúde
Pública. Faculdade
de Medicina de Botucatu,
Universidade Estadual
Paulista.
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Pauleto, A. R. C. et al.
servados na realidade brasileira, além do limi- loca para a prática profissional da odontologia
tado acesso da população aos serviços disponí- (produção de conhecimento, produção de ser-
veis e do isolamento entre si das entidades que viços e desenvolvimento de recursos humanos)
atuam nessa área (Brasil, 1989). está baseado no estabelecimento de uma atua-
Procurando dar uma resposta correta a essa ção responsável na luta pela conquista dos ob-
situação, a Divisão Nacional de Saúde Bucal, jetivos que incluem a liberdade, os direitos e
órgão da Secretaria Nacional e a Coordenado- deveres individuais e coletivos, tendo em vista
ria de Supervisão e auditoria de Odontologia alcançar a máxima plenitude de qualidade de
do Inamps elaboraram, em 1989, a Política Na- vida (Brasil, 1993).
cional de Saúde Bucal. As prioridades dessa po- Nas últimas décadas, foi grande o desen-
lítica são definidas segundo os grupos popula- volvimento de produção, distribuição e consu-
cionais, tipos de serviços, danos, recursos hu- mo de uma quantidade enorme de bens e ser-
manos, modalidades de organização e financia- viços relativos à problemática da saúde bucal.
mento do setor (Brasil, 1989). Narvai (1994) admite que, aproximadamente,
O texto constitucional que formula o Sistema 3,4 bilhões de dólares por ano são movimenta-
Único de Saúde (SUS), sua regulamentação, e ou- dos, incluindo, entre outros aspectos, a forma-
tros textos normativos constituem as bases legais ção e remuneração de recursos humanos odon-
para as ações de saúde bucal no SUS, propondo tológicos e o faturamento da indústria de ma-
seguir os mesmos princípios que regem a dimen- teriais, de equipamentos e de produtos de hi-
são macro da saúde, ou seja, um direito básico giene bucal. Analisando as propostas e as ações
acessível a todos os cidadãos, pautado na univer- relativas à prática odontológica no Brasil no
salidade, na eqüidade, na integralidade, compon- período de 1952-1992, o autor observou que
do um sistema descentralizado, hierarquizado em estas se caracterizavam por uma odontologia
diferentes níveis de complexidade, e que esteja re- de mercado, sob a influência político-ideológi-
gulado através do controle social (Silveira Filho). ca do projeto de sociedade neoliberal, apoiada
Conforme apontam Barros e Bertoldi (2002), na assistência odontológica individual, realiza-
dados da Pesquisa Nacional por Amostragem da no restrito ambiente clínico cirúrgico.
de Domicílios (PNAD), de 1998, realizada pelo Essa concepção exerce forte influência no
IBGE, revelam que a saúde bucal no Brasil tem desenvolvimento da ciência e da tecnologia em
recebido uma parcela escassa de recursos em re- saúde bucal, mas não responde, de modo signi-
lação ao total de investimentos do SUS. Do ficativo, aos problemas de saúde bucal da po-
ponto de vista do acesso aos serviços odontoló- pulação, porque se trata de uma prática de cus-
gicos, o SUS é um agente de grande importân- to alto e baixa cobertura, com enfoque, essen-
cia, porém com um papel proporcionalmente cialmente, curativo. Como observa Garrafa
pequeno: em 1998, revela a pesquisa, apenas (1993), trata-se de uma odontologia tecnica-
5,24% dos investimentos em saúde se destina- mente elogiável (pelo nível de qualidade e sofisti-
vam aos procedimentos odontológicos. cação inegavelmente alcançado nas diversas es-
As políticas de saúde bucal do SUS buscam pecialidades), cientificamente discutível (uma
favorecer a transformação da prática odontoló- vez que não tem demonstrado competência em
gica por meio da incorporação de pessoal auxi- expandir esta qualidade para a maioria da po-
liar, novas tecnologias e ações coletivas de saú- pulação) e socialmente caótica (pela inexistência
de, visando alterar suas características epide- de impacto social ante as iniciativas e programas
miológicas e obter impacto na cobertura da públicos e coletivos implementados).
população e na construção da cidadania. Para Dentro desse modelo, também Pinto (1992)
atingir essas metas, é imprescindível criar e in- observa que aproximadamente 2/3 dos traba-
centivar práticas comunitárias que possibilitem lhadores não têm no Brasil condições reais de se-
o crescimento da consciência sanitária e a mo- rem atendidos em clínicas privadas, nas quais se
bilização da sociedade civil em torno das ques- concentram 3/4 do tempo de trabalho ofertado
tões de saúde. pelos cirurgiões-dentistas.
Apesar de as conquistas do movimento sa- Contrapondo-se à odontologia de merca-
nitário brasileiro terem sido consolidadas par- do, Narvai (1994) aponta que muitas propostas
cialmente na atual Constituição, na prática, es- e ações foram e vêm sendo implementadas no
sas conquistas não têm sido concretizadas em Brasil com o propósito de impedir o predomí-
melhoria da qualidade de vida da população nio dessa visão na organização da assistência
brasileira. No Brasil, um dos desafios que se co- odontológica e do sistema de atenção à saúde
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Pauleto, A. R. C. et al.
bucal. São propostas que visam à maior apro- lho em saúde fundamentada no ideal da integra-
ximação com os determinantes do processo ção sanitária, para o que busca inspirar-se em
saúde-doença bucal, considerando as políticas tecnologias de base epidemiológica. Esse é o pon-
econômicas e sociais, especialmente as de saú- to de partida lógico para a estruturação dos pro-
de e educação, e manifestam explícita vincula- gramas de saúde. Ainda segundo Nemes et al.
ção a projetos sociais em que a saúde tem rele- (1996), a programação em saúde articula ins-
vância pública, com prioridade pelo Estado e trumentos de trabalho dirigidos a indivíduos, en-
pela sociedade. Referindo-se a esse movimen- tre eles a assistência médica individual, a instru-
to, Botazzo (1994) afirma: A saúde bucal coleti- mentos diretamente dirigidos a coletivos, objeti-
va deve direcionar-se para o social como o lugar vando potencializar a efetividade epidemiológica
de produção das doenças bucais e aí organizar de todos os instrumentos.
tecnologias que visem não a “cura” do paciente No caso específico da programação em saú-
naquela relação individual-biológica... mas sim de bucal, em nosso país, pode-se perceber a
a diminuição e o controle sobre os processos mór- existência de diversas formulações, algumas
bidos tomados em sua dimensão coletiva. voltadas a ações coletivas, outras mais centra-
Propostas com o foco no coletivo ainda re- das no atendimento clínico individual e muitas
presentam um desafio ao campo da odontolo- focadas na assistência à criança. Estudo realiza-
gia, tanto pelo fato de a formação na área diri- do em Botucatu, por Cyrino (1994), aponta
gir-se para o individual, quanto pelo fato de que muitas vezes essas programações em saúde
apenas uma pequena parte do investimento bucal estão descoladas ou desarticuladas de
feito em ciência e tecnologia dirigir-se aos pro- uma programação maior voltada à população-
blemas de saúde bucal com relevância para a alvo, com ações educativas e preventivas.
saúde pública. A existência de programas odontológicos
Nesse contexto, a educação em saúde, como com diferentes abordagens, nem sempre claras
prática social voltada para o coletivo, represen- quanto às concepções de saúde, de conheci-
ta uma importante possibilidade de ampliar a mento e de práticas comunicacionais que utili-
atuação das práticas de promoção da saúde bu- zam, motivou realizar este estudo e analisar
cal no espaço público. Soares (1988) aponta abordagens de programas desenvolvidos em
que muitas medidas preventivas permitem saúde bucal no Brasil, nos últimos dez anos,
combater a cárie e a doença periodontal. A hi- para compreendê-los criticamente, em suas
giene bucal, fluoração e alimentação não-ca- possibilidades e limitações.
riogênica constituem medidas eficazes para fa-
zer frente aos problemas bucais. Mas, para que
tenham êxito, precisam fundamentar-se em Objetivo
programas educativos.
O objetivo deste trabalho foi rever os principais
programas educativos em saúde bucal, visando
Programas em saúde pública desenvolver uma reflexão crítica sobre o tema,
tendo em vista contribuir para a elaboração de
Uma política, designada Programação, foi a for- novos programas educativos na área de odon-
ma específica como a saúde pública de São Paulo tologia. Além disso, buscamos trazer para o es-
se engajou nesse movimento, propondo a amplia- paço de discussão alguns aspectos pedagógicos
ção e diversificação da assistência médica na rede que têm desafiado as práticas de educação em
de centros de saúde, antes restrita a algumas saúde: problematização do cuidado com a saú-
doenças infecciosas e a atividades higienistas e de bucal; aprendizagem significativa; constru-
preventivas como o pré-natal. A proposta da Pro- ção de conhecimento emancipatório; autono-
gramação buscou realizar essa ampliação de mo- mia em relação aos cuidados com a saúde; di-
do que a assistência médica fosse um dos meios reito à informação e cidadania.
do trabalho definido epidemiologicamente (Ne-
mes et al. 1996).
As práticas programáticas constituem a for- Metodologia
ma de organizar o trabalho coletivo no serviço
de assistência à saúde. Trata-se de uma revisão bibliográfica sobre
A ação programática em saúde pode ser defi- programas em saúde bucal desenvolvidos em
nida como uma proposição de organizar o traba- âmbito nacional, especialmente no Estado de
12
São Paulo, tendo como referência o período de balho coletivo e na participação ativa dos dife-
1992 a 2001. O tema “programação em saúde rentes sujeitos envolvidos no trabalho preven-
bucal” foi levantado em bases de dados e bi- tivo (equipe escolar e equipe de saúde), bus-
bliotecas da área da saúde. Dedalus (Banco de cando construir uma rede de parcerias e inte-
dados bibliográficos da USP); Bireme (Biblio- grar o tema “saúde bucal” na grade curricular
teca virtual da saúde); LILACS (Literatura La- da escola para viabilizar a continuidade do tra-
tino-Americana e do Caribe em Ciências da balho educativo e a consolidação do programa
Saúde) e BBO (Bibliografia Brasileira de – uma das condições necessárias para garantir
Odontologia). o impacto do trabalho coletivo. Concluíram
O material levantado (23 referências na ba- que é possível a realização de programas edu-
se Dedalus, 13 na BBO e 11 na LILACS) e sele- cativos eficazes na escola, desde que toda a es-
cionado para o trabalho foi organizado de mo- cola esteja envolvida e motivada.
do a permitir identificar categorias de atuação
programática na área da saúde bucal.
Programas voltados à prevenção com
flúor e práticas educativas pontuais
Resultados
Para trabalhar com a prevenção da cárie dentá-
Embora nem todos os programas estudados ria e da inflamação gengival, Milori et al.
possam ser considerados efetivamente progra- (1994) avaliaram 90 crianças de 7 a 9 anos de
mas em saúde bucal pelo caráter pontual, a re- idade, de ambos os sexos, do ensino fundamen-
visão bibliográfica sobre o tema permitiu iden- tal. Realizaram exames clínicos aplicando os
tificar quatro tendências: ações curativas e pre- critérios dos índices de gengivite (IG) e de pla-
ventivas com práticas educativas; ações preven- ca bacteriana (IPL), apenas nos dentes perma-
tivas com bochechos fluorados e práticas edu- nentes. As crianças foram divididas aleatoria-
cativas pontuais; práticas educativas com foco mente em três grupos distintos, recebendo di-
na informação e no uso de recursos mobiliza- ferentes tratamentos. No grupo 1, as crianças
dores; prevenção e práticas educativas de cons- receberam tratamento educativo e preventivo
cientização. (aula de educação sanitária sobre placa dentá-
ria bacteriana e inflamação gengival, aplicação
tópica de flúor gel e escovação dentária super-
Programas voltados ao tratamento visionada a cada 15 dias); no grupo 2, recebe-
curativo, prevenção e educação ram apenas educação sanitária, apoiada em pa-
lestras pontuais, orientações fundamentadas
A literatura sobre o tema mostra muitos estu- em normas de conduta; e no grupo 3, apenas
dos descrevendo programas educativos e pre- tratamento preventivo (aplicação tópica de
ventivos associados a tratamentos curativos flúor gel e escovação supervisionada a cada 15
(Sawazaki e Nakama, 1997; Takahashi e Ursi, dias). Comparando os resultados dos índices
1997). Gonçalves e Silva (1992) elaboraram um de gengivite e placa bacteriana obtidos após oi-
plano de ação educativo no Centro Educacio- to meses, os escolares do grupo 1, seguidos dos
nal de Palhoça, em Santa Catarina (regime de do grupo 3, foram os mais beneficiados pelos
internato, semi-internato e externato), abor- programas propostos.
dando aspectos educativos, preventivos e cura- Os resultados apresentados por Milori et al.
tivos, porque não havia no local nenhuma ati- (1994) confirmam a ineficácia das palestras e
vidade direcionada à promoção de saúde bu- orientações pontuais. Embora apontem as prá-
cal. O tratamento curativo foi realizado priori- ticas de prevenção apoiadas na aplicação de
zando as necessidades epidemiológicas: inicial- flúor associadas ao controle mecânico da placa
mente os primeiros molares permanentes, se- dentária como ações de maior impacto, as prá-
guidos dos pré-molares, molares decíduos e in- ticas educativas desenvolvidas nesse programa,
cisivos e caninos permanentes. Paralelamente a apoiadas na simples transmissão de informa-
esse atendimento, foram realizadas atividades ções com base na abordagem higienista (anco-
preventivas como: escovação supervisionada, rada no paradigma comportamentalista), não
bochechos com solução fluorada e evidencia- expressam qualquer preocupação com a pro-
ção de placa bacteriana. A abordagem do pro- blematização da saúde bucal para o grupo po-
grama de saúde bucal esteve ancorada no tra- pulacional enfocado nem com a busca de estra-
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Pauleto, A. R. C. et al.
estimular os sentidos visual e auditivo; ativida- decorrer do processo, essa placa, que era visível
de clínica de educação e higiene bucal, cujo e potencialmente patológica, decaiu para 12%
principal estímulo foi o cinestésico e tátil-mo- após a intervenção das instrutoras. Também
tor, além do estímulo auditivo e visual; e utili- chamou atenção a existência de manchas bran-
zação de recurso (o Robô-Dente) para traba- cas em 47% das superfícies examinadas. No de-
lhar informação, que foi centralizada no estí- correr do trabalho as manchas brancas ativas
mulo auditivo e visual, que, embora colabore diminuíram 7,4% e esse nível foi mantido até o
no processo de retenção de informações, não final do processo (quatro meses). Houve um
garante a consciência da necessidade do cuida- aumento das superfícies hígidas, devido ao uso
do com a saúde. Os autores do estudo consta- do flúor e controle de placa, sendo este manti-
taram que apesar de a proposta ter tido grande do durante os quatro meses. Os autores con-
aceitação, programas baseados no binômio cluem que, pela conscientização sobre a impor-
prevenção-educação precisam ser realizados tância da saúde bucal na vida das pessoas, a
com continuidade para que ganhem impacto. educação em relação aos métodos preventivos
Dinelli et al. (1998) desenvolveram progra- e a ênfase na motivação por meio de recursos
ma educativo em saúde bucal, com 90 alunos materiais e humanos, houve praticamente uma
do ensino fundamental da rede particular da reversão do quadro inicial.
cidade de Araraquara, apoiado na informação
e uso de recurso didático-pedagógico: o Robô-
Sorriso que transmitia, por gravação em fita Críticas ao recorte
cassete, mensagens educativas às crianças. Pelo dos programas estudados
estudo, concluíram que houve motivação, assi-
milação e retenção do conhecimento. Ressalta- Pinto (2000) ressalta que a educação em saúde
ram que o bom nível das respostas obtidas nas bucal (ESB) é uma ação importante do proces-
avaliações realizadas deveu-se, principalmente, so de promoção da saúde, exigindo caracterís-
às condições socioeconômico-culturais do gru- ticas específicas que envolvem práticas e co-
po de estudantes, que pertencia à rede particu- nhecimento. Contudo, ressalta que o conceito
lar de ensino. de educação em saúde bucal precisa ser am-
Embora mostrando dados de impacto rela- pliado para incluir, entre suas tarefas, o traba-
tivos ao aprendizado dos escolares com o pro- lho de conscientização com os grupos sociais
grama, a abordagem utilizada para trabalhar as com menor acesso aos programas de saúde
informações e avaliar esse impacto está nitida- odontológica. Invocando as propostas do edu-
mente ancorada em métodos preventivos mais cador Paulo Freire (1980), o autor traz o termo
tradicionais, apoiados em concepções de ensi- conscientização como estratégia que leva a
no-aprendizagem pautadas pela memorização uma aproximação crítica da realidade, valori-
de informações, o que se sabe hoje não ser sufi- zando o conhecimento como possibilidade de
ciente para transformar o conhecimento em al- autonomia para que cada sujeito possa criar
go significativo, capaz de concretizar-se em sua existência com o material que a vida lhe
práticas emancipatórias, geradoras de autono- oferece.
mia em relação aos próprios cuidados com a Falar de prática educativa em saúde bucal
saúde (Ayres, 2002). não é suficiente nem garante a qualidade do
trabalho de promoção da saúde e prevenção
das doenças. A educação, muitas vezes, chega
Programas voltados à prevenção de modo abstrato, descolada da realidade da
e práticas educativas de conscientização população. Como relata Freire (apud Pinto,
2000), é muito difícil aprender e reter conheci-
Gomes et al. (1993) observaram a necessidade mentos quando a preocupação maior é a sobrevi-
de utilizar práticas educativas conscientizado- vência e os educadores falam de coisas como Eva
ras. Participaram do projeto 40 crianças entre e as uvas, existindo homens que sabem muito
8 e 10 anos. O processo incluiu o exame clínico pouco de Eva e nunca comeram uvas.
para avaliar a condição de saúde bucal das Ainda que muitos programas venham apa-
crianças e práticas educativas de mobilização e recendo nos últimos anos, a educação em saú-
conscientização. Observaram que no início do de bucal ainda é um desafio: nem sempre con-
trabalho 60% dos dentes examinados apresen- segue ganhar sentido entre os grupos sociais
tavam placa bacteriana visível a olho nu. No desenvolvidos. A presença de programas sem a
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Pauleto, A. R. C. et al.
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