ENTREVISTA
1 -Professor, a partir de sua experiência, o senhor pode instituições residenciais para idosos, muitas vezes se inserem em
Neste módulo 1, o curso
Cuidados básicos com a saúde
bucal de idosos entrevista o
Professor Doutor Rodrigo Jose
Mariño, Dentista, Pesquisador
do Oral Health Cooperative
Research Centre (OH-CRC), e
professor Associado da
University of Melbourne,
Austrália.
Para maiores informações acesse:
www.e-dentalez.com/sitio/
oral-health-promotion
nos dizer algo sobre o processo de envelhecimento em um ambiente de cuidados de saúde em desvantagem. Eles têm
uma perspectiva global? Este processo tem mudado ao má saúde oral e enfrentam obstáculos significativos para acessar
longo das décadas? E o que você pensa sobre o cuidado os serviços odontológicos. Eles geralmente são farmacologica-
com a saúde bucal por parte das pessoas idosas? mente comprometidos e dependentes de outras pessoas para hi-
giene oral diária. 1,2 Deste modo, os idosos formam um grupo de
O século 21 é caracterizado por várias tendências risco especial para doenças bucais que necessitam de intervenção
emergentes, incluindo a globalização, o envelhecimento oportuna. Há também evidências das relações dinâmicas e com-
da população, e um mundo em rápida mudança tecnoló- plexas entre a saúde bucal e saúde geral dos idosos. Várias doen-
gica. Há evidência para estas tendências na maioria dos ças orais compartilham fatores de risco com doenças crônicas,
países, tanto os desenvolvidos como em desenvolvimen- que são de suma importância na população idosa. Além disso, do-
to. Em relação à saúde bucal hoje, mais do que nunca, os enças bucais podem agravar doenças gerais subjacentes e compli-
idosos estão mantendo seus dentes naturais, e melho- car o seu quadro favorável. Mas investigação é necessária, a fim
rias no estado de saúde bucal vão continuar a acontecer de melhorar a saúde bucal deste grupo da população. Sem esse
no futuro. conhecimento e compreensão, a concepção de intervenções de
A população idosa constitui um grupo diversificado saúde oral que respondam às preocupações específicas dos
com necessidades de tratamento odontológico variadas idosos é um desafio.
e complexas. Isso confirma a dificuldade de abordar Pesquisas futuras devem também testar intervenções que
todos os grupos da população podendo certos grupos serão capazes de lidar com fatores modificáveis e não modificá-
populacionais, como por exemplo, as minorias étnicas e veis, incluindo barreiras sócio-econômicas e culturais. QUALQUER
grupos indígenas, migrantes e refugiados recentes, INTERVENÇÃO, PARA SER BEM SUCEDIDA COM IDOSOS, DEVE
aqueles que vivem em comunidades rurais ou aqueles SER ACEITÁVEL, CULTURALMENTE E LINGUISTICAMENTE SEN-
com problemas de saúde incomuns ou desafiadores, não SÍVEIS, E FACILMENTE ADOTADA.
serem contemplados. Além disso, aqueles que vivem em
2- Na sua opinião, você acha que a transição demográfica e epide-
milógica vem sendo contextualizadas nas políticas públicas de cui-
dados com a saúde?
Os dados disponíveis indicam que muitos países estão no meio de
uma transição epidemiológica em saúde bucal, vindo de altas taxas
de edentulismo e perda do dente em direção à manutenção de dentes
naturais. Assim, os adultos estão a entrar em idades mais avançadas
e a manter mais dentes naturais e com prevalência menor de cárie
em relação ao histórico de populações anteriores.
O objetivo de um sistema de saúde é melhorar a saúde de todas as
pessoas que vivem na sociedade, apesar das diferenças de condições
sócio-econômicas ou culturais. O acesso aos serviços de saúde bucal
é fundamental, uma vez que foi demonstrado que o uso de serviços
odontológicos de saúde tende a diminuir após a aposentadoria.3 Para-
lelo a este aspecto, existe também um declínio nas condições de
saúde bucal em populações idosas.4 Estas tendências e o envelheci-
mento da população têm impactos sobre os serviços de atenção à
saúde bucal. Eles irão, sem dúvida, colocar maior pressão sobre o sis-
tema público de saúde no futuro. Isso, também, indica que deve ser
dada atenção às capacitações da força de trabalho para lidar, no
futuro, com essas demandas de uma população em envelhecimento.
A ênfase da política do governo é a promoção da boa saúde e de
experiências positivas de envelhecimento na vida. Se a boa saúde
geral, e, uma qualidade de vida satisfatória são dependentes para manu-
tenção da saúde bucal, então, as políticas precisam ser implementadas
para que os serviços de cuidados de saúde bucal e os programas e serviços
de prevenção se tornem acessíveis e disponíveis para a população em en-
velhecimento.
A expansão de programas que visam atender à comunidade ajudaria a
aumentar o número de idosos que cuidam de suas necessidades de saúde
bucal. Ao fazer isso, diminuiriam as desigualdades em saúde bucal. Isto irá
resultar na melhoria da função oral, saúde e qualidade de vida dessa popu-
lação. Ainda assim, serviços de saúde bucal para idosos são baseados no
tratamento e pouquíssimas atividades de promoção da saúde bucal estão
disponíveis à essa população em específico.
Para o futuro dos sistemas que ofertam cuidados em saúde, é impor-
tante determinar o estado de saúde bucal e as necessidades de saúde
bucal, e ENTENDER NÃO SÓ O PADRÃO DE SAÚDE E DOENÇA DAS PES-
SOAS, MAS TAMBÉM A SUA VISÃO DE MUNDO E OS SISTEMAS DE VALO-
RES, e mais particularmente as suas metas relativas aos cuidados de
saúde.
Uma deficiência significativa nos sistemas de cuidados em saúde bucal
na atualidade, é a incapacidade de aproveitar as inovações das tecnologias
online e de educação à distância para influenciar os idosos a prevenção e
tratamento da saúde bucal. Isso também é impactado pela escassez de in-
formações e de pesquisas informando práticas de saúde bucal na vida
adulta e identificando formas inovadoras de usar o eletronic-health(e-heal-
th) e o mobile-health(m-health) para tornar os programas de preven-
ção, intervenção e cuidado mais acessíveis.
A Teleodontologia tem o potencial de ser altamente eficaz para me-
lhorar o diagnóstico precoce e o encaminhamento dos pacientes, que
de outra forma poderiam não receber os cuidados. Um exame suges-
tivo de diagnóstico pode ser realizado por um assistente de Telesaú-
de, que procura o auxílio de um dentista num local distante, reduzin-
do assim a necessidade de um dentista viajar para instalações de cui-
dados de saúde, e assim se obtém uma resposta rápida a partir de
um dentista.5
3-E quanto à Austrália? O senhor pode nos dizer algo sobre o enve-
lhecimento populacional e a saúde bucal dos idosos em seu país?
De acordo com o censo de 2012, 14,2% da população Australiana
era composta de pessoas com 65 anos ou mais.6 Dados demográfi-
cos, mostram que a população rural e do interior da Austrália pos-
suem um crescimento proporcionalmente mais rápido de idosos, que
em regiões metropolitanas, seguidos de uma desigual e injusta distri-
buição geográfica de profissionais da saúde.7,8 Por exemplo, idosos vi-
vendo na área rural e áreas remotas usam serviços de saúde bucal
ofertados apenas para alivio da dor.9
Relatos na Australia10 indicam que o cuidado odontológico ofereci-
do às regiões metropolitanas é naturalmente preventivo, em oposi-
ção aos serviços nas áreas rurais, que são mais voltados para a colocação
de dentaduras. Pacientes das áreas rurais também são três vezes mais
propensos a não ter nenhum dente natural em comparação com as popula-
ções das áreas metropolitanas. Este fato pode ser um indicativo de dife-
rentes atitudes frente ao conceito de saúde, mas é mais possível que seja
pela falta de acesso ao serviço de cuidados odontológicos para essa popu-
lação.4
Melhores compreensões sobre os fatores relacionados com a saúde
bucal de idosos são importantes desafios para os profissionais da saúde
bucal e sociedade em geral. No entanto, apesar da ótima documentação do
perfil do envelhecimento da população australiana e das repetidas chama-
das para avaliação geriátrica,11,12 tem havido pouco progresso direcionados
para as necessidades de saúde bucal de idosos moradores de áreas rurais, e
poucos progresso com programas de saúde especialmente desenvolvidos
para melhorar a saúde bucal dessas populações. No entanto, esforços cres-
centes devem ser direcionados para identificar o desenvolvimento de mo-
delos baseados na comunidade para encorajar idosos para melhorar e
manter sua saúde bucal11, e para visar à efetividade econômica desses pro-
gramas.
4- Dentro do que foi dito, o senhor acha que a internet (acesso on-line
para formação/informação) é uma importante ferramenta para desen-
volver cuidados com a saúde bucal de idosos? Como a internet pode ser
útil?

Uma outra tendência para esse novo milênio e a disseminação de in-
formação sobre saúde via web. A explosão da Tecnologia da Informa-
ção (TI) transformou o comportamento das pessoas e as maneiras de
se informar sobre a saúde e procura por cuidados em saúde. Existe
um discernimento na revolução da TI levado pelos entusiastas que
procuram por serviços de saúde disponíveis pela internet e informa-
ções suportadas pelo rápido desenvolvimento da internet e da banda
larga.13
Apesar da noção popular de que idosos são grupos em desvantagem
para acessar e usar a Internet, existem muitos resultados positivos
relatados por idosos que são navegadores da inernet.14 Dentre essa
população que busca informação online, dois terços acreditam que a
internet contém informação confiável sobre saúde. Tem-se mostrado
que a internet pode ser utilizada como ferramenta para melhorar o
conhecimento das pessoas e contextos sobre diagnóstico, tratamen-
tos, opções de cuidado, e isso pode eventualmente se tornar um va-
lioso instrumento para a promoção da saúde dentre populações em
envelhecimento.15
As tecnologias estão se desenvolvendo para tornar a TI mais acessí-
vel e de fácil operação por pessoas idosas.16 Neste cenário, dissemina-
ção de informações sobre saúde por meio da Internet pode ser um ca-
minho inovador para promoção da saúde de pessoas idosas.17 Existem
muitos benefícios atribuídos ao uso deste caminho inovador: por
exemplo, intervenções online para promover saúde permitem que idosos
explorem a informação no seu tempo, com privacidade, e tenham a opor-
tunidade para serem auto suportados ao invés de serem apenas passivos
e dependentes. De forma oposta aos métodos convencionais de informa-
ção em saúde, como materiais impressos, sítios na internet permitem
atualizações e revisões frequentes. Materiais que são adaptados para
essas necessidades, simples, claro e informativo tem se mostrado mais
efetivo que conselhos em cuidados primários.18 Esses aspectos de material
para promoção de saúde permitem que as pessoas retornem aos mate-
riais informativos quando e onde eles necessitam de maneira a se adaptar
com sua utilidade.
De fato, sites sobre saúde estão entre os mais frequentemente acessados
na internet.19 Resultados de pesquisas sobre intervenções em saúde con-
duzidas com idosos indicou que a confiança dos participantes na busca de
informações sobre saúde através da Internet não foi associada com a sua
idade, nível de instrução, ou experiência prévia do uso de computadores ,
mas, opostamente, foi significativamente relacionada com a satisfação
com a intervenção.15,17 No entanto, existem disparidades sócio-econômicas
e regionais no acesso das famílias à computadores e Internet conhecido
como Divisor Digital.20
Além disso, existe uma preocupação em relação à utilização da Internet
como fonte de informação de saúde por idosos, uma vez que eles parecem
estar mais inclinados a confiar em prestadores de cuidados de saúde como
a principal fonte de informação sobre a saúde ou não têm conhecimento
da existência de sites de saúde. Certos pesquisadores sugerem que
os adultos mais velhos estarão dispostos a utilizar informações de
saúde na Internet se o treinamento e apoio adequados forem oferta-
dos.21-23
Dentro deste contexto, as experiências na promoção da saúde com
grupos de adultos mais velhos indicam que a sessões de aprendiza-
gem, seguido por material impresso ou on-line, parece melhor aten-
der às necessidades sociais e de aprendizagem de adultos mais
velhos. Somado a esse fato, a utilização dos recursos da comunidade
irão melhorar o custo efetividade das intervenções. A capacidade de
acessar e utilizar informações de saúde é uma habilidade fundamen-
tal que permite que as pessoas tomem decisões informadas que con-
tribuem para a manutenção de sua saúde.24 Mais importante que isso
é o fato que a internet permite acesso a informação e comunicação
com outras pessoas quando e no momento em que desejarem.25
A Faculdade de Odontologia da Universidade de Melbourne, desenvol-
veu um estudo para avaliar o impacto de um programa de promoção
de saúde com base na Internet para melhorar os conhecimentos dos
idosos moradores de Melbourne sobre saúde bucal, atitudes e práti-
cas, e autocuidado.26 O referido programa foi distribuído em bibliote-
cas e centros comunitários, orientados por educadores que apresen-
taram os participantes aos recursos multimídia e convidava-os a em-
penharem-se ativamente. Um kit promocional e instrução para uso
por pares educadores foi desenvolvido para permitir que os recursos
fossem reutilizados para além dessa fase.
Os seminários desse programa (e-ORHIS) foram avaliados em grupos de
idosos que responderam com alto grau de realização. O estudo demons-
trou que após as sessões educacionais, os grupos diferiram significativa-
mente nas áreas em que mudanças de curto prazo eram possíveis; conhe-
cimento em saúde bucal, atitudes e auto-eficácia e as indicações forneci-
das de mudança significativa, para incentivar o desenvolvimento e refina-
mentos. Além disso, este projeto alcançou capacitação dos idosos no
acesso a informações de saúde e em auto-capacitação através da utiliza-
ção das TI. A abordagem foi bem sucedida e amplamente aceitável para as
comunidades participantes, e, certamente, sustentável. A longo prazo,
esta abordagem representa uma intervenção promissora que visa aumen-
tar o controle dos participantes sobre a sua saúde bucal, que por sua vez
iria assegurar uma melhor qualidade de vida. As dez apresentações do
programa estão disponíveis no sitio apresentados no início da entrevista.
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