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Programa de Mestrado em Saúde Coletiva – ISC/UFBA

Disciplina: Teorias sociais


Aluna: Kaline Lemos Silva
Módulo 3

De que maneira as abordagens mais contemporâneas subvertem os modos de


compreender processos de saúde e doença?

Na área da saúde, a abordagem sistêmica teve como principal representante o sociólogo


Parsons, seus estudos contribuíram para o entendimento das determinações sócio-culturais da
enfermidade, fazendo uma contraposição a visão biologicista, e forneceu subsídio para a
concepção de “sistema médico”. Estabeleceu-se assim, a dicotomia entre biomedicina e as
ciências sociais, a primeira deveria se ocupar com a compreensão da dimensão orgânica da
doença e a segunda com a concepção simbólica e cultural deste fenômeno.

Good e Kleinman conceberam o conceito de “modelos explicativos da doença” para


fazer referência aos conhecimentos e valores que são construídos socialmente pelos diferentes
“sistemas de cuidados à saúde”. Para Kleinman, a estrutura desses sistemas é composta por três
grandes arenas: profissional, “folk” e o popular. A primeira diz respeito às práticas e saberes que
são constituídas por um conhecimento científico. “Folk” refere-se às atividades de tratamento e
cura desenvolvidas por grupos religiosos. Popular é o setor composto pelos “leigos” e constitui o
mais importante, por se concentrar a maioria dos nossos saberes e práticas cotidianas que estão
relacionadas ao fenômeno saúde-doença.

Os teóricos dos modelos explicativos tendem muitas vezes a explicar os conhecimentos e


crenças que os indivíduos têm sobre questões de saúde e doença em termos de estruturas
cognitivas. Assim, priorizam as representações e não propriamente as experiências que os atores
sociais têm sobre o mundo em que vivem.

A subversão na maneira como as abordagens sistêmicas compreendem o processo saúde-


doença, está na perspectiva de construção do conhecimento sociológico capaz de apreender
regularidades (estruturas, sistemas de relações) independentemente das vontades ou consciências
individuais.
As teorias sociais contemporâneas concebem que as realidades biológica e social se
constituem mutuamente na relação entre elas. Para compreender a realidade deve-se entender a
relação entre a ação do indivíduo e a estrutura social.

Para a fenomenologia, a experiência não se resume à capacidade humana de representar o


mundo por meio de processos cognitivos. A operação primordial de significação é que o
expresso não existe separadamente da expressão e, como tal, é “encarnada” (embodiment), ou
seja, é um fenômeno sensível ao corpo (e não uma mera questão de “subjetividade”). Dessa
forma, três aspectos são fundamentais: corpo, compreensão e intersubjetividade.

As novas abordagens ontológicas partem do pressuposto de que para manter a integração


do organismo é necessário coerência na relação entre o corpo, o sistema social e o ambiente em
que está situado (lugar, tempo). A manutenção dessa integração corporal é produzida pelas
práticas.

Na área da saúde, não se trata de acrescentar a dimensão social ao biológico, nem incluir
o biológico como uma categoria de análise, mas sim entender as tramas de como a natureza e a
cultura vão se articulando nas práticas. São unidades dinâmicas sempre a se fazer no curso da
experiência. Da mesma forma que não existe o corpo integrado, também não existe essa
realidade integrada da doença. O modo como se concebe a doença é fruto da realidade das
práticas, é produzida em práticas concretas.

Referências

ALVES, Paulo César. A fenomenologia e as abordagens sistêmicas nos estudos sócio-


antropológicos da doença: breve revisão crítica. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n.
8, p. 1547-1554, Aug. 2006.

ALVES, Paulo César. A teoria sociológica contemporânea: da superdeterminação pela teoria à


historicidade. Sociedade e Estado. [on line]. 2010, vol. 25, n. 1, PP. 15-31.

SOUZA, Iara M. A noção de ontologias múltiplas e suas consequências políticas. ILHA:


Revista de Antropologia, v.17, n.2, p.49-73, 2015.

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