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22.

º Curso de Licenciatura em Enfermagem


Unidade Curricular Socio-Antropologia da Saúde
Professor António Geraldo Manso Calha

Relatório final

Alice Maria Cruz de Monteiro Braga, n. º20961 da turma A2

Fevereiro
2021
Índice

1-QUESTÃO 1 ...................................................................................................................................... 3
1.1-FUNCIONALISMO......................................................................................................................... 3
1.2-TEORIA DO CONFLITO E ANÁLISE DA SAÚDE ................................................................... 4
1.3-INTERACIONISMO SIMBÓLICO E SAÚDE ............................................................................. 5
2-QUESTÃO N.º 2................................................................................................................................ 6
3-QUESTÃO N.º 3................................................................................................................................ 7
4-BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 10

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1-QUESTÃO 1

A abordagem sociológica da saúde e da doença pode ser resumida em três


teorias.

1.1-FUNCIONALISMO

Émile Durkheim, nascido a 1858 e falecido a 1917, dedicou parte da sua vida ao
ramo da sociologia. Desenvolveu a teoria do funcionalismo tendo por base argumentos
da seleção nacional, adaptação e sobrevivência na sociedade. Desenvolveu a sua teoria
em dois trabalhos, a análise da religião e a análise do crime. Na análise da religião,
argumenta que os ritos e mitos criados ao longo da história da humanidade, refletem as
necessidades humanas. Na análise do crime, reflete que o mesmo é um integrante nas
sociedades saudáveis.

Com o desenvolvimento da teoria funcionalista, Durkheim deixa um grande


contributo na análise do fenómeno saúde/doença. Durkheim tenta distinguir o biológico
do patológico. No sentido biológico, o normal é entendido como aquilo que não é
patológico, ou seja, aquilo que é considerado saudável, que não prejudica a vida do ser
vivo. No sentido patológico, é qualquer fenómeno cuja existência coloque em risco a
existência de determinado grupo. Durkheim comprova que deve existir uma distinção
entre saúde e doença e que esta distinção seria desejável para a sociedade.

[...] tanto para as sociedades como para os


indivíduos, a saúde é boa e desejável,
enquanto a doença é algo ruim e que deve
ser evitado. Se encontrarmos, portanto, um
critério objetivo, inerente aos fatos mesmos,
que nos permita distinguir cientificamente a
saúde da doença nas diversas ordens de
fenómenos sociais, a ciência será capaz de
esclarecer a prática, sem deixar de ser fiel ao
seu próprio método (Durkheim, As regras do
método sociológico)

“As condições da saúde e da doença não


podem ser definidas in abstracto e de
maneira absoluta. [...] É preciso renunciar a
esse hábito, ainda muito difundido, de julgar
uma instituição, uma prática, uma máxima
moral, como se elas fossem boas ou más em
si mesmas e por si mesmas, para todos os
tipos sociais indistintamente” (Durkheim, As
regras do método sociológico).

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Baseado na teoria funcionalista de Durkheim, o sociólogo Talcott Parsons (1952)
chamou a atenção para o facto de a doença ter uma dimensão social para além da
individual. Definiu assim o papel do doente baseado em três vertentes. A pessoa doente
não é pessoalmente responsável por estar doente. A pessoa doente tem certos direitos
e privilégios, incluindo o afastamento de algumas responsabilidades. Deve dedicar-se a
recuperar a saúde. Para ocupar o papel de doente, as pessoas devem receber a
confirmação de um profissional médico, que torne legitima a alegação de doença da
pessoa.

“Ainda que a experiência da doença seja


individual, o doente tem de aprender o que a
sociedade espera dele enquanto doente.
Quando as normas comportamentais
relacionadas com a doença não são
seguidas corre-se o risco de se ser
estigmatizado.” (Talcott Parsons)

Mais tarde Freidson (1970) identificou três versões do papel de


doente, que correspondem a tipos e graus diferentes de doença:

• O papel de doente condicional, que se aplica a pessoas que


sofrem de uma condição temporária, da qual podem recuperar.
• O papel de doente incondicional legítimo, refere-se a
indivíduos que sofrem de doenças crónicas e/ou incuráveis.
• O papel de doente ilegítimo, que ocorre quando o indivíduo
sofre de uma doença ou condição que é condenada. O
indivíduo pode ter algum grau de responsabilidade pela
doença.

1.2-TEORIA DO CONFLITO E ANÁLISE DA SAÚDE

Karl Marx, nascido a 1818 e falecido a 1883, desenvolveu a teoria do conflito. Segundo
esta teoria, as desigualdades sociais condicionam a qualidade de saúde e de cuidados.
Pessoas inseridas em meios sociais desfavorecidos têm maior probabilidade de
adoecer e de receber cuidados de saúde inadequados. Marx identificou que as
principais causas das desigualdades em saúde são os recursos ambientais e
constrangimentos (alojamento, ambiente, trabalho…), os aspetos psicossociais
(ansiedade, depressão…), o acesso aos cuidados de saúde, a exposição aos agentes

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patogénicos ou carcinogénicos, a adoção de comportamentos de risco e situações de
stress.

Na saúde coletiva, é o conhecimento da


epidemiologia crítica que instrumentaliza a
apreensão de manifestações desiguais de
saúde/doença dos sujeitos, por meio de
quantificação das condições materiais de
reprodução social, que permitem a
construção de perfis epidemiológicos
(Cassia Soares, Marxismo como referencial
teórico-metodológico em saúde coletiva).

1.3-INTERACIONISMO SIMBÓLICO E SAÚDE

Max Weber, nascido a 1864 e falecido a 1920, desenvolveu a teoria do


interacionismo simbólico utilizando métodos qualitativos e quantitativos. Para os
interacionistas simbólicos a saúde e a doença são construções sociais, ou seja, uma
determinada condição física ou mental é considerada normal ou patológica quando tem
legitimidade profissional.

A abordagem interacionista é criticada com base do facto de se ignorar muitos


estados patológicos têm como base uma realidade objetiva. As patologias existem e
colocam vidas em risco, independentemente da apreciação da sociedade. Apesar
destas falhas, o interacionismo simbólico lembra-nos que a saúde e a doença têm uma
realidade subjetiva e objetiva.

Este diagnóstico é reservado para um desvio


na sexualidade que não é sintomática com
sintomas mais intensos, como
esquizofrênica e reações obsessivas. O
termo inclui a maioria dos casos
anteriormente classificados como
“personalidade psicopata com sexualidade
patológica. "O diagnóstico especificará o tipo
de comportamento patológico, como
homossexualidade, travestismo, pedofilia,
fetichismo e sadismo sexual (incluindo
violação, agressão sexual, mutilação).
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders-I 1952)

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2-QUESTÃO N.º 2

“Existem vários fatores que podem influenciar o contexto de saúde na


comunidade. Fatores como o local de residência, o meio ambiente envolvente, o estilo
de vida, a genética, a educação, o nível socioeconómico ou a rede social de
apoio”. (Serviço Nacional de Saúde, SNS)

Destes fatores, é importante destacar os estilos de vida por exemplo, a


alimentação, a atividade física, o sono, a gestão de stress ou tabagismo. Representam
um importante papel na promoção de saúde. “A obtenção de ganhos em saúde pela
adoção de estilos de vida saudável surge como uma oportunidade de influenciar
positivamente a saúde, sobretudo no que respeita às doenças crónicas não
transmissíveis” (Serviço Nacional de Saúde, SNS).

Os estilos de vida determinam a qualidade de vida, ou seja, se o indivíduo


apresenta as condições necessárias para o seu bem-estar. Influência a saúde, os
pensamentos e as atitudes da comunidade. Desta forma, os estilos de vida e a saúde
estabelecem uma relação de dependência. A saúde, depende diretamente do estilo de
vida que cada indivíduo leva. Para que haja saúde, devemos optar pelas práticas mais
saudáveis. Quando estas práticas não são cuidadas, o risco de aparecimento de
doenças aumenta.

Rastreios científicos centrados na epidemiologia dos comportamentos de risco


associados a doenças crónicas não transmissíveis decretaram o estilo de vida como
tema prioritário no âmbito da saúde pública. Nas comunidades, devem existir práticas
saudáveis como o exercício físico e uma alimentação cuidada. Cabe aos profissionais
de saúde fazer uma sensibilização sobre os maus hábitos, de maneira a prevenir o
aparecimento de doenças.

Os estilos de vida são então definidos “como um conjunto de comportamentos


construídos por cada pessoa e, portanto, modificáveis individualmente, consoante as
escolhas de cada sujeito” (Madeira, F. B., Filgueira, D. A., Bosi, M. L. M., & Nogueira, J.
A. D. 2018). A nível das práticas cotidianas, os indivíduos são responsabilizados pelos
seus problemas de saúde.

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“Os principais desenvolvimentos dos estilos
de vida derivam do campo das ciências
humanas e sociais, tais como Sociologia e
Antropologia, a partir de referenciais como o
marxismo, a sociologia compreensiva de
Weber, a psicanálise e o culturalismo
antropológico americano.” (Madeira, F. B.,
Filgueira, D. A., Bosi, M. L. M., & Nogueira, J.
A. D. 2018)

3-QUESTÃO N.º 3

A criança de etnia cigana, recebeu uma pulseira verde no hospital. Esta pulseira
foi lhe dada com base na gravidade da sua condição e não com base na sua etnia.
Sendo que a pulseira verde significa pouca urgência, qualquer pessoa com pulseira
amarela, laranja ou vermelha, teria prioridade no atendimento.

Não podemos afirmar que ocorreu discriminação no momento de internamento


clínico para com a criança, por parte da equipa de saúde. A discriminação apenas ocorre
quando um dos enfermeiros generaliza que “Os ciganos só arranjam confusão”. “A
discriminação designa o comportamento dirigido contra os indivíduos visados pelo
preconceito” (Cazals-Ferré, M., & Rossi, P. 2007).

Por vezes, dentro de um hospital, encontram-se dificuldades baseadas na


diversidade cultural. Nos serviços de saúde é possível encontrar pessoas com as mais
variadas culturas, etnias e valores. Ocorrem assim problemas de comunicação
intercultural.

“Alguns usuários culturalmente diferentes


nunca beneficiaram de cuidados de sáude
em instituições de sáude tipo ocidental, e o
desconhecimento e não familiarização com
estas estruturas e cuidados de sáude leva-os
a reagir com desconfiança e estranhesa à
abordagem ocidental da doença e do
tratamento” (MAJUMDER et al.,2015; SAVIC
et al., 2015)

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A cultura é definida pelo conjunto de crenças, costumes, maneiras de pensar e
de agir próprios de uma sociedade humana. “A cultura é um bem coletivo no qual os
indivíduos participam segundo modalidades diferentes” (Demartis, Lucia 2006). As
culturas e as crenças definem cada um de nós como ser unitário. Cada individuo é um
conjunto de vivências, experiências, influencias e interações. Os cuidados de saúde
devem ser adaptados a todas as culturas. Têm de existir competências interculturais,
que permitam que haja uma comunicação adequada consoante a cultura e etnia.

Interação social é fator importante para que ocorra comunicação. Determina as


relações sociais desenvolvidas pelos indivíduos e grupos sociais. Trata-se de uma
condição indispensável para o desenvolvimento e constituição da sociedade. Por meio
dos processos interativos, o ser humano torna-se num ser sociável. Os seres humanos
desenvolvem a capacidade de comunicar, estabelecendo o contato social e relações,
que resultam em determinados comportamentos sociais. “Temos um sujeito que não é
passivamente moldado pelo meio, nem realiza suas aquisições assentado em recursos
exclusivamente individuais, mas sim um sujeito interativo que se constrói socialmente,
ao mesmo tempo que participa ativamente da construção do social.” (Maria Salete Fábio
Aranha 1993).

Para além da capacidade de interagir com as pessoas que nos rodeiam, também
devemos possuir a capacidade de compreender os seus comportamentos.
“A perceção social é condição para a interação humana (Rodrigues 2007, p. 203)”. “O
processo preceptivo é permeado por variáveis que se intercalaram entre o momento da
estimulação sensorial e a tomada de consciência daquilo que foi responsável pela
estimulação. Estas variáveis influenciam em como as pessoas percebem determinado
comportamento” (LUZA, 2008).

“No que se refere à intersubjetividade,


coloca-se ênfase no processo de interação
dos agentes preceptivos, e não em
processos individuais de perceção do outro.
A perceção social que refere-se à perceção
do outro e com o outro, emerge do processo
dinâmico de interação com outrem, mais
precisamente, da interação social corpórea.”
(Fuchs & De Jaegher, 2009, p.470)

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A perceção social é um processo de
interpretação do comportamento das outras
pessoas; sendo entendida desta forma, ela
se dá em diferentes etapas. Na primeira
etapa, o comportamento do outro deve atingir
nossos sentidos, e para que isto aconteça,
eles devem estar funcionando corretamente,
além disso, é imprescindível que o ambiente
forneça as condições necessárias (fase pré-
psicológica do fenômeno preceptivo). A
segunda etapa acontece quando o
comportamento do outro já atingiu nossos
sentidos, a partir daí acontece a ação dos
nossos interesses, estes entendidos como
nossos “preconceitos, estereótipos, valores,
atitudes e ainda outros esquemas sociais”,
(fase psicológica do fenômeno preceptivo)
(RODRIGUES, 1996, p. 202)

Embora por vezes haja dificuldades na comunicação e na interação com


diferentes culturas, a integridade dos profissionais de saúde deve ser mantida. Neste
caso, quando a mãe da criança empurra a enfermeira, esta está a sofrer violência no
seu local de trabalho. “O fenómeno da violência contra os profissionais de saúde é
multifatorial, inserindo-se num problema estrutural e estratégico, que tem raízes em
fatores sociais, económicos, organizacionais e culturais e, desse modo, a violência
perpassa nas unidades de saúde.” (DGS 2015)

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4-BIBLIOGRAFIA

Madeira, F. B., Filgueira, D. A., Bosi, M. L. M., & Nogueira, J. A. D. (2018). Estilos
de vida, habitus e promoção da saúde: algumas aproximações. Saúde e Sociedade, 27,
106-115.

Portal Educação. Percepção social. Acedido a 11 de fevereiro de 2021 em:


https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/percepcao-
social/32179#

Verissimo, D. (2019). A perceção social à luz de uma conceção praxeologia da


intencionalidade. Acedido a 11 de fevereiro de 2021 em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
68672019000300009

Aranha, M. (1993). A interação social e o desenvolvimento humano. Acedido a 11 de


fevereiro de 2021 em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X1993000300004#not1Cima

Spínola, A., & Reis, A. (2017). Comunicação intercultural em saúde: contributos


para a formação e cuidados de enfermagem. Comunicação e Saúde-perspetivas
contemporâneas, 1, 207-218. Acedido a 11 de fevereiro de 2021:
https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/7872

DGS (2016) Violência contra profissionais de saúde – notificações on-line.


Lisboa: Direção Geral da Saúde. Acedido a 11 de fevereiro de 2021:
https://www.dgs.pt/documentos-e- 3 publicacoes/notificacao-on-line-de-violencia-
contra-profissionais-de-saude-relatorio-2015- pdf.aspx

Riutort, P. (1999). Primeiras lições de sociologia. Lisboa: Grádiva.

Demartis, Lucia (2006). Compêndio de sociologia. Lisboa: Edições 70.

Riutort, P. (1999). Primeiras lições de sociologia. Lisboa: Grádiva.

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