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NO PROCESSO SAÚDE -
DOENÇA
A relação sociedade-doença é múltipla: não
apenas pode a estrutura social ser causadora de
doenças, como a própria definição de “doença” é,
antes de tudo, cultural.
É evidente que os impactos sociais repercutem de
forma diferente em classes diferentes, e que essa
diferença será tanto maior quanto mais desigual
for uma dada sociedade. A forma como cada
indivíduo percebe e reage a esses impactos,
entretanto, dá-se pela interação desses aspectos
“externos”, vinculados à sua classe, com o conjunto
de representações internas de que dispõe para
lidar com cada situação específica.
Desde que Hans Seyle (1947, 1965) em 1936
utilizou pela primeira vez o termo “stress” em
Medicina, um grande número de pesquisas e
publicações foram produzidas dentro desta linha
de pensamento, pois a riqueza deste conceito e a
operacionalidade do modelo propiciaram o
descortinar de um grande horizonte.
As enfermidades – e isso ficará bastante evidente
naquelas que decorrem do processo de estresse
enquanto fenômeno humano – têm componentes
sócio- históricos e psicológicos que não podem ser
compreendidos sem ajuda de métodos adequados.
Gilberto Freire (1983), o ser humano “é um todo,
biológica, ecológica e socioculturalmente
determinado. E seu bem-estar – além de físico,
psicossocial – está dependente e relacionado a
situações que o envolvem como membro de um
grupo, em particular, e de uma comunidade e, mais
do que isso, de um sistema sociocultural em geral; e
não apenas de sua herança biológica ou de fatores
ecológicos”.
O ser humano está em constante movimento e a
todo momento surgem situações que exigem dele
uma solução. Este contínuo movimentar-se é
determinado, em parte, pelo conjunto das
necessidades inconscientes e pelas exigências da
cultura.
Pessoa, membro de um grupo social, é o ponto
inicial de uma unidade indivisível do qual as noções
de corpo e mente são abstraídas através de uma
estratégia metodológica, com o propósito de
estudá-las (Lipowski, 1984).
A tendência atual da Psicossomática de compreender
os processos de adoecer, não como um evento casual
na vida de uma pessoa, mas sim representando a
resposta de um sistema, de uma pessoa que vive em
uma sociedade. De uma pessoa que nessa sociedade
vive em relação recíproca com outros sistemas –
inclusive outras pessoas – e que é parte ativa de uma
microestrutura familiar inserida na macroestrutura social
e cultural, situada em determinado ambiente físico e
que procura resolver, do melhor modo possível, os
problemas da sua existências no mundo (Pontes).
No saber contemporâneo, podemos afirmar que o
homem é capaz de responder às ameaças
simbólicas decorrentes da interação social e não
apenas às ameaças concretas (biológicas, como os
microorganismos, e/ ou físicas e químicas).
O organismo, quando exposto a um esforço
desencadeado por um estímulo percebido como
ameaçador à homeostase, seja ele físico, químico,
biológico ou mesmo psicossocial, apresenta a
tendência de responder de forma uniforme e
inespecífica, anatômica e fisiologicamente,
respostas estas que constituem a Síndrome Geral
de Adaptação. (Seyle,1936)
ESTRESSORES PSICOSSOCIAIS
2. Ajuste passivo:
– é o mais comum e conduz à alienação, sentido sociológico do termo;
– o indivíduo passa a depreciar o trabalho e senti-lo como um peso e não
como fonte de satisfação. O objetivo torna-se apenas a remuneração de
condições físicas e higiênicas;
– o trabalho passa a ser sentido como desinteresante e não envolvente, que
passa a ser instrumentalizado de forma que as satisfações só são
encontradas fora do local de trabalho, em diferentes maneiras de consumo;
– absenteísmo;
– maior predisposição à doenças, pela falta de coerência social do sistema
em que o indivíduo está inserido e que atua como um agente estressor
psicossocial.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS),
saúde representa um completo bem-estar físico,
mental e social, e não apenas ausência de doença.
Dejours (1987), a partir desta definição, reforça o
fator processo para a dimensão saúde-doença e
não estado.
Eksterman (1986b) afirma que a saúde não é um
produto espontâneo da natureza.
Seligman Silva (1986), com relação ao trabalho,
afirma que saúde mental é um processo em que as
agressões dirigidas à mente pela vida laboral são
confrontadas pelas fontes de vitalidade e saúde
representadas pelas resistências de natureza
múltipla, individuais e coletivas, que funcionam
como preservadoras da identidade, dos valores e
da dignidade dos trabalhadores.
“Em um sistema social onde a grande maioria da
população dispõe apenas da sua força de trabalho
para garantir sua subsistência, o corpo é visto
fundamentalmente como instrumento de trabalho. E
a doença representa então uma dupla ameaça
tanto no sentido de afetar sua saúde, como sua
própria capacidade de produtividade”. Souza e
Veras