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PSICOLOGIA DA REABILITAÇÃO

Aspectos históricos da reabilitação: Num passado recente os hospitais eram orientados


no sentido da especialização e dentro do conceito restrito a cura. O hospital não restituía o
paciente, de modo a estabelecer bem-estar de sua família e de seu grupo social. A reabilita-
ção nasce a partir da necessidade do trabalho integral voltado para o paciente, e assim criou-
se à quarta função da medicina, depois da promoção, prevenção e do tratamento médico
propriamente dito. O interesse mundial pela Reabilitação ocorreu principalmente por qua-
tro acontecimentos históricos: as duas grandes guerras mundiais, processo acelerado de
urbanização e industrialização, favorecendo a propagação de epidemias e aumento de aci-
dentes de trabalho. Assim, nasce à necessidade de restituir essas pessoas, quanto às capaci-
dades individuais e sociais. No Brasil as instituições de atendimento a pessoas com defici-
ências, datam de períodos históricos diferentes e adotam modelos também diferentes de
acordo com as circunstâncias e agentes de sua constituição, bem como com o tipo de defici-
ência a que se destinam reabilitar.
Conceito: Reabilitação é um processo educativo e assistencial, multiprofissional, que prima
pela busca compartilhada do desenvolvimento das capacidades remanescentes, prevenção
do agravamento de incapacidades e do aparecimento de complicações. É compartilhada
porque envolve o paciente, o cuidador familiar e o profissional especialista em reabilitação.
Problematizando o conceito de deficiência a partir das noções de autonomia e nor-
malidade: O olhar ampliado sobre a deficiência retirando-a de uma descrição que a reduza
à doença. Para tanto, são apresentados os Modelos Médico e Social da Deficiência e proble-
matizamos os conceitos de autonomia e normalidade. A deficiência constitui um campo
crescente e heterogêneo de ativismo político e investigação no Brasil e no mundo. No final
dos anos sessenta, surgiram em diversos países ocidentais movimentos sociais que reivin-
dicavam os direitos de grupos específicos, como mulheres e negros e, neste contexto, a po-
litização das pessoas com deficiências ganhou força. Questão de direitos humanos e não
apenas biomédica. Apesar das conquistas sociais e dos avanços no que diz respeito aos di-
reitos que estão sendo assegurados aos deficientes nos parece importante manter e apri-
morar as críticas sobre os enfoques médico e social da deficiência. Em termos éticos e polí-
ticos, o sujeito com deficiência não deve ser ajustado à norma social, mas deve ter o direito
de normalizar por si mesmo sua própria vida de acordo com suas potencialidades.
Reabilitação, ética e técnica: O artigo baseia-se no trabalho com deficientes visuais num
contexto conhecido como “reabilitação integral”, que é caracterizada pela atuação de pro-
fissionais de diversas áreas em trabalho conjunto – neste caso, uma equipe interdisciplinar.
Os profissionais de diferentes áreas e especialidades têm de estabelecer algum tipo de par-
ceria em torno do trabalho de reabilitação. Há aspectos implicados em diferentes níveis:
educacional, de saúde (orgânica e psíquica), emocional, ocupacional, socioeconômico etc., o
que exige o trabalho de mais de um campo profissional. Assim, na reabilitação tomada como
um tipo de trabalho interdisciplinar, sempre haverá uma diversidade de técnicas e condutas
em diálogo. Faz necessário pensar uma conduta minimamente coerente entre os profissio-
nais, e que, afinal, diz respeito a coisas que não se esgotam numa discussão estritamente
técnica – há situações sociais, questões de ordem familiar ou econômica, escolhas, direcio-
namentos e condutas que são mais bem compreendidas no campo da ética, esta tomada
como uma radical condição humana, que nos posiciona ante o outro e nos impede de sermos
indiferentes a sua presença, seus apelos, “suas necessidades”.
Experiências da equipe de centro de reabilitação – o real trabalho como questão: A
Deficiência tornou-se parte da condição humana, uma vez que este é um termo amplo, que
aborda diversas formas de deficiência; e quase todas as pessoas terão algum tipo de defici-
ência temporária ou permanente em algum momento de suas vidas. O presente estudo apre-
senta um recorte de uma pesquisa que se focou não na deficiência em si, mas sim nos pro-
fissionais que atuam diretamente com pessoas deficientes físicas em um cenário institucio-
nal especifico - um Centro de Reabilitação. Discussão das principais questões éticas/bioéti-
cas que permeiam o cuidado ao deficiente a partir da experiência dos trabalhadores da
equipe de saúde de um centro de referência em reabilitação física. Buscando identificar a
intensidade e frequência de estresse dos participantes no desempenho das atividades diá-
rias no serviço.
Humanização e o processo de trabalho em reabilitação: Para (OMS), deficiência é a di-
minuição ou ausência da capacidade para a execução de atividades dentro da margem con-
siderada normal para as pessoas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012). Já o (IBGE)
a define como a ausência ou mau funcionamento de algum órgão ou Sistema (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012). Estatísticas com relação as pessoas que
estão em processo de reabilitação, os acidentes de trânsito representaram 49,45%. A des-
vantagem gerada pela deficiência dentro da coletividade, desde atividades mais simples,
como a locomoção, o acesso em vias públicas, o vestir-se, alimentar- -se, entre outras, até as
mais complexas, como trabalhar etc. Cabe à sociedade prover, por meio de políticas públi-
cas, as condições necessárias para que os desiguais tenham as mesmas possibilidades de
viver com qualidade e dignidade. A Política Nacional de Humanização (PNH), criada em
2003, é uma prática social ampliadora dos vínculos de solidariedade e compartilhamento
de responsabilidades dos diversos atores sociais envolvidos no cuidado, nos espaços da ges-
tão, do cuidado e da formação de pessoas e coletividades. Preconiza a ampliação do objeto
de trabalho, o diálogo entre profissionais e destes com os usuários e familiares, com novas
interações. Tem como princípios a valorização das dimensões subjetiva e social, o fortaleci-
mento do trabalho em equipe e o protagonismo dos usuários, entre outras (BRASIL, 2010a).
Para realizar o cuidado a essas pessoas é necessário que os profissionais de saúde estejam
capacitados. Cada indivíduo responde de forma diferenciada, independente da gravidade de
sua condição. A reabilitação fornece às pessoas as ferramentas que necessitam para atingir
a independência e autodeterminação.
TRÊS EIXOS: PESSOA COM DEFICIÊNCIA → PROCESSO DE TRABALHO → HUMANIZA-
ÇÃO
A reabilitação da pessoa com deficiência é humanizada? Tal questionamento resultou
no objetivo de conhecer se o processo de trabalho num centro referência estadual em rea-
bilitação é humanizado. A partir de estratégia adequada para investigar o processo de tra-
balho em sua dinamicidade, utilizando variadas técnicas para acesso a fontes de evidências,
como documentos, entrevistas e observações. Com o objetivo de investigar a humanização
no processo de trabalho em reabilitação, foram elencadas categorias prévias: acolhimento,
clínica ampliada e compartilhada, práticas coletivas de gestão e avaliação da assistência.
Vivências do luto e seus estágios em pessoas amputadas: A amputação de um membro
corporal causa impactos na vida da pessoa envolvendo mudanças afetivas (tristeza, sensa-
ção do membro-fantasma e luto). O sujeito passa a sentir medo diante da nova imagem cor-
poral, receio de não ser aceito pelo o outro e as limitações da nova realidade devido a perda.
São fatores que causam imenso sofrimento para o sujeito, pois embora a amputação seja
algo ocorrido no corpo físico, há também questões psicológicas envolvidas, dessa maneira
o sucesso e o insucesso em lidar com a situação vai depender de fatores individuais, sociais,
apoio familiar, condição social, ou seja vai variar de caso para o caso. Na vivência de uma
amputação há alterações biopsicossociais, além de possuir estigmas referentes a deficiência
devido a perda do membro.
Sobre os estágios do luto: 1) negação e isolamento – defesa inicial ao se recusar a aceitar a
perda ou até mesmo falar sobre o assunto; 2) raiva – sentimento de raiva e ira como sinais
de agressão ao meio externo ou a si próprio para tentar compensar a perda; 3) negociação
– início da aceitação da perda ao tentar negociá-la e ter esperanças de procrastinar a morte;
4) depressão – compreensão da morte ou perda como uma certeza e tristeza em encarar a
real situação; 5) aceitação – aceita a questão da mortalidade ou das limitações, compreensão
da perda.
Sensação do membro fantasma e a dor no membro fantasma: Quando a perda de uma
parte do corpo é negada, é comum surgir relatos do membro fantasma, no qual o membro
perdido continua presente na vida do amputado através da sensação, é uma maneira de
restaurar a parte que falta. O membro fantasma é a relação entre o que se vê e sente no
corpo e o que é percebido no psiquismo. O membro fantasma acaba sendo efeito de uma
tentativa de readaptação da mente à ausência de uma parte do corpo que antes era com-
pleto, ou seja, uma representação do membro amputado no córtex cerebral, e consequente-
mente, a sensação corporal. A dor no membro também aparece, causando muito incômodo
e desconforto, que passa a ser frequente e persistir depois de anos.
Enfrentamento e adaptação de pacientes na amputação: O termo enfrentamento tem
sido empregado em psicologia da saúde referindo-se a forma como o indivíduo administra
uma situação adversa ou estressora. Apontou que os sujeitos que receberam preparo psico-
lógico utilizaram maior número de estratégias de enfrentamento adaptativos. Os estudos
apontam uma maior utilização do enfrentamento focalizado na resolução do problema e
uma menor utilização do enfrentamento focalizado na emoção.
A reconstrução dos contornos do eu – Um olhar psicanalítico sobre a amputação: A
amputação é um evento que fragiliza narcisicamente o sujeito. Não se trata apenas da perda
de um membro ou a perda da autonomia, mais uma perda da imagem corporal de si mesmo
e consequentemente um abalo em seu narcisismo. Colocando-os em contato constante com
suas fragilidades, pois se deparam com uma imagem de si e um modo de vida que não existe
mais. É preciso que o sujeito se reconheça nessa nova forma de vivenciar seu próprio corpo.
A relevância do psicólogo da reabilitação: A atuação da psicologia na equipe interdisci-
plinar é considerada importante para atuar com o paciente, sua rede de apoio e com a
equipe de saúde, visando a minimização de sofrimentos decorrentes da hospitalização, do
adoecimento e do procedimento cirúrgico, proporcionando desenvolvimento da autonomia
e corresponsabilização no processo de tratamento.

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